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Portaria Ministerial nº 476 de 15/03/01 – D.O.U. de 20.03.

01
CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

ANA MARIA SERRA DE OLIVEIRA


FABIANE CRISTIANE SILVA LIRA
NAIRA DANIELLE DA COSTA CORRÊA

O ALUNO SURDO NO ENSINO SUPERIOR: Barreiras e Desafios

SANTARÉM
2017
ANA MARIA SERRA DE OLIVEIRA
FABIANE CRISTIANE SILVA LIRA
NAIRA DANIELLE DA COSTA CORRÊA

O ALUNO SURDO NO ENSINO SUPERIOR: Barreiras e Desafios

Artigo apresentado ao Instituto Esperança de Ensino


Superior como requisito para obtenção do título de
Licenciatura em Pedagogia.

Orientadora:

_____________________________________________

SANTARÉM
2017
ANA MARIA SERRA DE OLIVEIRA
FABIANE CRISTIANE SILVA LIRA
NAIRA DANIELLE DA COSTA CORRÊA

O ALUNO SURDO NO ENSINO SUPERIOR: Barreiras e Desafios

Aprovado em: ___/___/___

Comissão Examinadora

__________________________________
Orientadora

__________________________________

Avaliador (a)

SANTARÉM
2017
O ALUNO SURDO NO ENSINO SUPERIOR: Barreiras e Desafios

Ana Maria Serra de Oliveira1


Fabiane Cristiane Silva Lira 1
Naira Danielle da Costa Corrêa1
Neuzivan Lima Ávila²

RESUMO

O presente artigo aborda a temática da inclusão do aluno surdo no Ensino Superior


tendo em vista conhecer a trajetória deste indivíduo no mundo acadêmico, bem
como as políticas públicas de inclusão de alunos surdos no Ensino Superior, a fim
de compreender as principais dificuldades encontradas pelo aluno surdo neste
contexto. Este artigo é resultado de pesquisa bibliográfica embasada na análise e
discussão de trabalhos dos principais autores voltados para esta temática, por meio
deste estudo, se verificou a dificuldade do aluno surdo. Portanto, o processo de
inclusão nas Instituições de Ensino Superior deve partir da sensibilização da
sociedade acadêmica sobre a importância da inclusão dos alunos com necessidade
educacionais especiais e neste estudo, em particular, ao aluno Surdo.

Palavras-chave: Inclusão, Ensino Superior, Surdo, Libras, Educação Especial.

ABSTRACT

This article addresses the theme of inclusion of the deaf student in Higher Education
in order to know the trajectory of this individual in the academic world, as well as the
public policies of inclusion of deaf students in Higher Education, in order to
understand the main difficulties encountered by the student deaf in this context. This
article is the result of bibliographical research based on the analysis and discussion
of the works of the main authors focused on this theme, through this study, it was
verified the difficulty of the deaf student. Therefore, the process of inclusion in Higher
Education Institutions should start from the awareness of the academic society about
the importance of the inclusion of students with special educational needs and in this
study, in particular, the Deaf student.

Keywords: Inclusion, Higher Education, Deaf, Pounds, Special Education.

1
Acadêmicas do 8° semestre do Curso de Pedagogia no Instituto Esperança de Ensino Superior (IESPES).
²Professora Mestre do Instituto Esperança de Ensino Superior (IESPES).
1. INTRODUÇÃO

Desde a educação básica, o surdo tem enfrentado dificuldade para se


adequar aos conhecimentos escolares, devido às divergências linguísticas e a
dificuldade de acompanhar um currículo elaborado para os ouvintes, assim quando
chegam ao Ensino Superior não e diferente a essa realidade. Ao chegar na
faculdade o aluno surdo vai passar por várias barreiras e apresentar dificuldade para
dominar os conteúdos dados pelo professor. O processo da escolarização do aluno
surdo deve incluir uma parceria escola e família para trabalhar uma metodologia
com esse alunado e obter um bom desenvolvimento durante o seu curso.
Sabe-se que a educação do surdo no Brasil foi marcada por discursos e
práticas de ensino reguladas por uma cultura social que buscava a normatização e o
controle de sua população. Isto levou à negação da existência da comunidade
surda, da língua de sinais, além da identidade surda, como resultado de
experiências visuais que os determinavam como diferentes em relação aos ouvintes.
A educação ofertada aos surdos em nosso contexto educacional ainda é pautada
por concepções que levam em conta o ensino de uma única língua, ou seja, da
língua portuguesa como majoritária, a partir do ensino da sua gramática. A LIBRAS
é pouco valorizada nas escolas e em nossa sociedade, desfavorecendo o surdo em
seu desenvolvimento social e desempenho acadêmico. Atrelado a isso, a falta de
conhecimento e domínio de sua língua dificulta a interação nos mais variados
contextos sociais (SKLIAR, 2013). Deixar de considerar o surdo como deficiente
implicará reconhecer a importância da língua de sinais para o desenvolvimento
cognitivo, linguístico e educacional dos surdos. Por intermédio deste sistema
linguístico, eles conseguirão alcançar níveis mais elevados de ensino e de uso
efetivo de sua língua e da língua portuguesa visto que a quantidade de estudantes
com deficiência no Ensino Superior é considerada pequena no Brasil.
Dito de outro modo, o acesso à universidade pode dar ao surdo uma
visibilidade positiva em relação ao seu potencial acadêmico e, aliadas às
possibilidades de concluir este nível de ensino, tem contribuído para desfazer
estereótipos da sociedade em geral sobre a falta de capacidade para o exercício de
funções laborais mais elevadas (PERLIN, 2013). No contexto educacional, os
princípios filosóficos de educação de surdos revelam a importância do
reconhecimento da língua do surdo como sua marca constitutiva ao longo do tempo.
A partir destas constatações, situamos a educação bilíngue como uma possibilidade
atualmente desejada pela comunidade surda. Nesta proposta, a língua de sinais
deve ser usada nas escolas como primeira língua (L¹) e a língua portuguesa
entendida como a segunda língua (L²) (LACERDA; LODI, 2014)
A comunicação do surdo pode ser feita através dos sinais, de ruídos, de
imagens, da escrita, dos sons e da fala, segundo Quadros e Karnopp (2004 apud
HONORA, 2014, p.65) ‘‘a língua é um sistema padronizado de sinais/ sons
arbitrários, caracterizados pela estrutura dependente, criatividade, deslocamento,
dualidade e transmissão cultural. Isso é verdade para todas as línguas no mundo’’.
Diante do exposto, o presente artigo tem como objetivo analisar as principais
barreiras encontradas pelo aluno surdo no processo de inclusão no ensino superior,
bem como identificar as dificuldades encontradas pelo aluno surdo na sala de aula,
tanto no que tange ao ingresso quanto a permanência.

2. O ALUNO SURDO NO ENSINO SUPERIOR

O aluno surdo chega à instituição de ensino superior sem ter tido vivências
escolares significantes e de qualidade anteriormente e quando ingressa na
universidade, queixa-se da falta de ações inclusivas e fala da necessidade de
mudanças que ele mesmo, por vezes, desconhece. De acordo com Lacerda; Santos
(p. 48; 2014).

O ser surdo é aquele que apreende o mundo por meio de contatos visuais,
que é capaz de se apropriar da língua de sinais e da língua escrita e de
outras, de modo a propiciar seu pleno desenvolvimento cognitivo, cultural e
social. A língua de sinais permite ao ser surdo expressar seus sentimentos e
visões sobre o mundo, sobre significados, de forma mais completa e
acessível.

A inclusão do aluno com surdez deve acontecer desde a educação infantil


até a educação superior, garantindo-lhe, desde cedo, utilizar os recursos de que
necessita para superar as barreiras no processo educacional e usufruir seus direitos
escolares, exercendo sua cidadania, de acordo com os princípios constitucionais do
nosso país.
Se a educação é o melhor caminho para o crescimento intelectual e social
da humanidade, a parcela de estudantes surdos, ainda sofre em busca desse direito,
pois as práticas educacionais direcionadas a esses alunos não os possibilitam a
verdadeira inclusão educacional. Com isso, tornar o aprendizado produtivo não se
resume em providenciar apenas recursos pedagógicos destinados ao ensino do
aluno surdo, necessita-se, também, tornar acessível o correto uso destes que só é
possível através de profissionais realmente preparados para desempenhar esse
papel.
Portanto, a postura que o professor assumirá em sala de aula, frente ao
aluno surdo está ligada diretamente à sua formação acadêmica proporcionada pelas
instituições de ensino superior, elas têm como responsabilidade prover aos futuros
profissionais de educação, meios que possam ajudá-los, em sala de aula, perante as
diversas situações encontradas e cabe ao educador dar continuidade a esse
processo de formação voltado para as práticas educacionais inclusivas, após sua
graduação, assim, o professor conseguirá fornecer ao estudante surdo uma
educação de excelência.
No Brasil, a legislação que trata da inclusão de surdos em instituições de
ensino regulares (Brasil, 2003) estabelece que se deva oferecer, sempre que
necessário, um intérprete de Língua Brasileira de Sinais/Língua Portuguesa, e
recomenda flexibilidade na correção da escrita nas provas, de modo a valorizar o
conteúdo semântico. A falta desse profissional acaba afetando na dificuldade desses
educando com necessidades especiais em relação em ajudar ele para que consiga
assimilar os conteúdos que são trabalhados em sala de aula pelo professor ouvinte,
se as instituições cumprissem essa Lei muitos alunos surdos não teriam muitas
dificuldades de se comunicar.
Ainda existem muitos professores que não se preocupam em fazer
adaptações que favoreçam os alunos surdos, em repassar atividades que eles
possam assimilar o conteúdo que está sendo repassado. A Língua de Sinais é,
certamente, o principal meio de comunicação entre as pessoas com surdez.
Portanto faz- se necessário um envolvimento da comunidade escolar e sociedade
como um todo, para que haja sucesso na inclusão, no entanto se não tiver esse
consenso sempre vai ter o preconceito com as pessoas surdas. Todas essas
possíveis dificuldades devem ser consideradas para entender os desafios que os
jovens surdos enfrentam para se adaptar às exigências do mundo acadêmico, onde
se tem a minoria de alunos surdos no Ensino Superior.
Ter um profissional surdo ou com capacitação profissional entre os demais
professores na escola é de suma importância no processo de inclusão e aquisição
da Língua pelos Surdos, no planejamento de atividades e enfatizando o respeito às
condições peculiares dos Surdos do acesso ao mundo pela visão. A presença do
aluno Surdo em sala exige que o professor reconheça a necessidade da elaboração
de novas estratégias e métodos de ensino que sejam adequados à forma de
aprendizagem deste aluno, então cabe aos professores criar condições para que
este espaço promova transformações e avanços a fim de dar continuidade a um dos
objetivos das instituições de ensino ser um espaço que promove a inclusão escolar.
Segundo Oliveira (p. 30, 2010)

Sabe-se que para os surdos, o ensino deve ser baseado no campo visual e
não na audição, então ao trabalhar com o aluno surdo, devem-se usar
materiais que contemplem o visual, aprender a língua de sinais, colocar no
grupo de trabalho pessoas que tenham mais disponibilidade e paciência,
acreditar que o surdo tem capacidade de aprender como qualquer outro
aluno, aceitar sua escrita e lembrar que ele apenas tem dificuldade de se
comunicar.

A autora enfatiza também que ao se comunicar com o surdo é necessário


falar de frente e usar frases curtas, com o tom de voz normal e articulando bem as
palavras, permitindo assim que ele faça a leitura labial, ser expressivo, demonstrar
seus sentimentos, não cutucar tocar delicadamente a pessoa e ao mudar de assunto
avisar e se notar que não está sendo compreendido, use outra forma de
comunicação; a escrita, desenhos e objetos. Possibilitar abertura para as
adaptações curriculares, auxiliando todo o sistema educacional a melhorar sua
metodologia para atender a todos sem distinção.
Segundo Lacerda; Santos (p. 237; 2014) “a inclusão escolar de alunos
surdos vem sendo discutida incessantemente, bem como a melhor maneira de
realizá-la de forma que o indivíduo tenha seus direitos assegurados”. Existe uma
extrema dificuldade de comunicação entre eles, desta forma laços sociais não são
estabelecidos, cada surdo precisa do acompanhamento de um intérprete para poder
estabelecer contato com professores e alunos, mais infelizmente não existe um
contato integral entre intérprete e surdo, assim dificultando a comunicação e as
relações pessoais destes, mas, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas esses
alunos conseguiram pequenos avanços na inclusão juntos aos intérpretes no meio
acadêmico.
Ao ingressar na faculdade pela primeira vez é comum que o aluno surdo
chegue sozinho ao local em que irá estudar se sinta solitário nos contatos e relações
com os colegas da turma, este aluno se acomoda na sala de aula como qualquer
aluno novo e espera a aula começar. Segundo Faini (p. 62; 2001)

O mundo universitário é, uma pequena escala, um retrato da comunidade


em que vivemos. Em geral, as pessoas não estão preparadas para aceitar e
entender nada que não seja padrão. Qualquer diferença faz de você um ser
à parte, um caso desconhecido. Tudo o que é desconhecido traz, de certa
maneira, medo. O famoso medo do desconhecido.

No entanto, se este aluno não teve nenhum contato prévio com a faculdade
e não houve providências no sentido de que pudesse ser apresentado aos
professores e contar com a presença de um intérprete da Língua Brasileira de
Sinais- LIBRAS, ele fica à espera de alguém que lhes comunique sua presença e
sua particularidade aos demais, então, percebe-se ai um grande desafio para a
instituição de ensino, ou seja, garantir a permanência desse aluno que se distinga
pela inclusão e não pela mera inserção física, ou seja, assegurar as condições de
acesso é primordial ao processo de inclusão, porém sua legitimação se concretiza
quando ocorre a devida garantia e efetivação de sua permanência.
No Brasil, com a promulgação da Constituição Federal (CF) de 1988, de fato
os direitos das pessoas com deficiência começaram a ser efetivados.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade. (BRASIL, 1988, p. 17)

Ainda em conformidade com a Constituição Federal de 1988, é dever do


Poder Público assegurar a todos os cidadãos o acesso à educação, possibilitando o
atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência,
preferencialmente, na rede regular de ensino, nos termos dos artigos 208, da
Constituição Federal (1988, p. 129):

O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:


I – Ensino fundamental e gratuito, assegurado, inclusive, sua oferta gratuita
para todos os que a ele não tiverem acesso na idade própria;
II – Progressiva universalização do ensino médio gratuito;
III – Atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino; [...]

A partir da Lei nº 10.436, de 2002, a LIBRAS foi reconhecida como meio legal
de comunicação e expressão, mas apenas a partir do Decreto nº 5.626 de 2005, que
a lei foi regulamentada. A presente lei tem como principal objetivo o reconhecimento
das LIBRAS como forma de garantia do direito à educação aos surdos.
Apesar das dificuldades percorridas pelo aluno surdo em sua vida acadêmica
existem leis que o amparam como a portaria n° 1.679 do Ministério da Educação
(MEC) de 1999 que busca “assegurar aos portadores de deficiência física e
sensorial condições básicas de acesso ao Ensino Superior”, representando um
avanço para a inclusão, neste caso, do aluno surdo. A citada Portaria dispõe em seu
artigo 2° alínea C, que para alunos com deficiência auditiva:

Compromisso formal da instituição de proporcionar, caso seja solicitada,


desde o acesso até a conclusão do curso: quando necessário intérprete de
língua de sinais/língua portuguesa, especialmente quando da realização de
provas ou sua revisão, complementando a avaliação expressa em texto
escrito ou quando este não tenha expressado o real conhecimento de aluno;
flexibilidade na correção das provas escritas, valorizando o conteúdo
semântico; aprendizado da língua portuguesa, principalmente na
modalidade escrita (para o uso do vocabulário pertinente às matérias do
curso em que o estudante estiver, matriculado); materiais de informações
aos professores para que se esclareça a especificidade linguística dos
surdos.

Assim percebe-se que a ausência de uma língua comum entre o professor


ouvinte e o aluno surdo traz dificuldades na interação que ocorre na sala de aula: o
aluno surdo muitas vezes fica desmotivado, o que prejudica seu processo de
aprendizagem e quando há a presença de um intérprete educacional, embora
barreiras continuem presentes, acontecem importantes alterações que beneficiam o
aluno surdo.

2.1. As dificuldades encontradas pelo aluno surdo no Ensino Superior


O ingresso do aluno surdo no ensino superior, muitas vezes representa uma
conquista para o próprio surdo, o sentimento de frequentar o ensino superior
desperta a expectativa para novas chances de obter progresso nos estudos. Com a
implantação de uma educação inclusiva, e com o conhecimento dos surdos sobre
seus direitos de acessibilidade à educação, é natural que haja uma necessidade em
proporcionar o ingresso desses alunos nos cursos superiores, já que os surdos não
têm as mesmas possibilidades de acesso às instituições de ensino superior que os
demais indivíduos.
Embora muito significante, o ingresso é apenas o primeiro obstáculo
enfrentado quando se trata do Ensino Superior. Para os jovens em geral a
permanência é um dos maiores desafios, como aponta Sampaio:

O contexto universitário é desafiador para todos os jovens. Problemas de


adaptação à vida acadêmica e às obrigações que ela impõe conduzem
muitas vezes ao fracasso e ao abandono. Para conseguir assimilar as novas
informações e os novos conhecimentos, eles precisam contornar a falhas da
trajetória escolar anterior, como deficiências de linguagem, inadequação das
condições de estudo, falta de habilidades lógicas, problemas de
compreensão em leitura e dificuldade de produção de textos (SAMPAIO,
Santos, 2002 p.31)

O aluno com surdez no mundo dos ouvintes apresenta dificuldades em sua


comunicação, e para suprir essa dificuldade o surdo utiliza-se de uma língua própria,
a língua de Sinais, bem como nesse caso específico, também a oralidade. A Língua
Brasileira de Sinais (LIBRAS) é a língua materna dos surdos brasileiros e, como tal,
poderá ser aprendida por qualquer pessoa interessada pela comunicação com o
surdo. A inclusão destes alunos nas instituições de ensino tem gerado muita
polêmica entre os profissionais envolvidos nesse processo. É preciso enfatizar o
quanto é difícil à sobrevivência dos alunos surdos nos espaços acadêmicos e não
acadêmicos. Segundo Almeida (2015; p. 43)

Em um ensino inclusivo que vise a atender as necessidades dos alunos


surdos, faz-se necessário que os professores tenham conhecimento sobre
as particularidades das pessoas que não ouvem, compreendendo a forma
como esses entendem o mundo. Em nossa atuação profissional,
percebemos que algumas instituições superiores oferecem o serviço de
intérpretes, o que não supre as reais necessidades linguísticas dos surdos.
Ainda não existe uma política de fortalecimento da Língua de Sinais em
todos os espaços acadêmicos, e o currículo geralmente não é adaptado
para atender às necessidades desses alunos. Assim, eles ficam sozinhos no
meio dos outros, muitas vezes excluídos das informações mais básicas que
ocorrem nas universidades.
A maioria dos professores, infelizmente, não se sente preparado para
trabalhar com surdos e desconhecem as técnicas metodologias eficazes para a
educação destes alunos, com isso, muitos surdos têm sofrido com as constantes
reprovações ou ainda pior, muitos são aprovados sem saber ler ou escrever sequer
um bilhete.
Uma questão que é enfrentada pela maioria dos alunos, é o ingresso no
ensino superior, para os surdos essa questão fica ainda mais complicada devido sua
especificidade linguística, já que, em sua maioria, possuem a LIBRAS como primeira
língua e o Português na modalidade escrita como segunda língua, possuindo então,
necessidades específicas na realização e correção das provas de ingresso. De
acordo com Damázio; Ferreira (p. 47; 2010) “a educação das pessoas com surdez
não pode continuar sendo centrada nessa ou naquela língua, como ficou até agora,
mas deve levar-nos a compreender que o foco do fracasso escolar não está só
nessa questão, mas também na qualidade e eficiência das práticas pedagógicas”. A
inclusão não se traduz pela capacidade da instituição em dar respostas eficazes à
diferença de aprendizagem dos alunos.
Ela demanda que a instituição se transforme em espaço de trocas o qual
favoreça o ato de ensinar e de aprender, transformar a instituição de ensino significa
criar as condições para que todos participem do processo de construção do
conhecimento independente de suas características particulares. Segundo Damázio;
Ferreira (p. 48; 2010)

É necessário discutir que, mais do que uma língua, as pessoas com surdez
precisam de ambientes educacionais estimuladores, que desafiem o
pensamento o pensamento e exercitem a capacidade perceptivo-cognitiva.
Obviamente, precisam como as demais, de uma escola que explore suas
capacidades, em todos os sentidos.

Assim, é importante frisar que a perspectiva inclusiva rompe fronteiras,


territórios, quebra preconceitos e procura dar ao ser humano com surdez, amplas
possibilidades sociais e educacionais. Vale ressaltar que os alunos surdos sentem
dificuldades também em relação a como se dá a avaliação no ensino superior, já
que os textos são utilizados em sala de aula apresentam enunciados complexos, e
às vezes para esse aluno a compreensão não fica tão clara. Porque a problemática
do aluno surdo na faculdade em não possuir o domínio da língua portuguesa e ter
uma grafia com características diferentes, que são próprias da língua de sinais
remete a alguns professores sentirem dificuldades na correção das provas, essa
forma de avaliar deveria ser melhor pensada de acordo com as especificidades do
aluno surdo. (DÍAZ; BORDAS; GALVÃO; MIRANDA, 2009).
Daí então a importância de ter um interprete para fazer o acompanhamento
desse aluno, pois caberia a ele não somente dar acesso aos conteúdos
apresentados pelo professor, mas também auxiliá-lo na avaliação. Enfim, todas
essas dificuldades continuarão a ser encontradas por estes alunos enquanto as
instituições de ensino forem planejadas para ouvintes, sem considerar as
especificidades de outras culturas presentes na sociedade.
A Lei n. 12.319, de 1º de setembro de 2010, reconhece a profissão de tradutor
e intérprete da LIBRAS. Lembre-se que não é simplesmente a formação de
professores proficientes em LIBRAS que solucionará os problemas da educação de
surdos. Isso envolve também o reconhecimento dos aspectos didáticos e
metodológicos adaptados à cultura surda e à língua de sinais, que são diferentes de
uma aula destinada a alunos ouvintes. Segundo Lacerda; Santos (p. 53, 2014)

Educação inclusiva não significa apenas ofertar o acesso dos alunos às


escolas ou à língua, é necessário a formação profissional específica para se
trabalhar com esses alunos, e, também, saber lidar com as diferenças de
cada aluno e interagir de forma correta com cada um deles.

Pois a interação, por meio das relações sociais, é fundamental para o


processo de aquisição da linguagem e desenvolvimento humano em todos os seus
aspectos: cultural, emocional, cognitivo e social. O autor enfatiza centralmente a
aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com seu meio. Segundo ele, é
na troca com os outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando
conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a formação de
conhecimentos e da própria consciência. Para ele, a aprendizagem é fundamental
ao desenvolvimento dos processos internos na interação com outras pessoas.
Porém, apesar das conquistas políticas alcançadas, que foram abordadas
anteriormente, a realidade não condiz com o que se defende nos documentos
oficiais, embora muito significante, o ingresso é apenas o primeiro obstáculo
enfrentado pelo aluno surdo quando se trata do ensino superior, para muitos a
permanência é um dos maiores desafios. Segundo Quadros (2006, p.46) “A
educação dos ‘alunos com necessidades educativas especiais’ tem sido discutida,
na atualidade, com base na perspectiva da integração/inclusão”. Portanto, a
comunicação e a interação com o outro em língua de sinais são fundamentais para o
desenvolvimento e a aprendizagem do aluno surdo. De acordo com Lacerda; Santos
(p. 54, 2014):
Mesmo quando estudos acadêmicos, como o de Quadros, Skliar, Perlin,
Gotti e Campos, mostram que o não uso da língua de sinais como a língua
de instrução do aluno surdo causa sérios riscos à aprendizagem deste aluno
e à construção de sua identidade, o governo institui uma política de inclusão
em que não há uma pedagogia da diferença, impedindo o surdo de construir
sua identidade e subjetividade de forma a assegurar sua sobrevivência.

Assim, a inclusão social dos surdos tem sido um tema utilizado, com
frequência, tanto na área da educação básica, como na educação inclusiva.
Portanto, tem-se o ensino como a base da democracia e o alicerce fundamental para
a superação das desigualdades sociais. Por isso, é necessário que os espaços
destinados ao ensino permitam o livre acesso a todos. Segundo Damázio; Ferreira
(p. 56; 2010) “o maior desafio das políticas públicas inclusivas nas escolas
brasileiras é a construção desses ambientes propícios ao ensino dessa língua, com
metodologias de ensino adequadas, respeitando os ciclos do desenvolvimento e a
naturalidade na sua aquisição”. Porque, mesmo com toda a importância que a
educação possui na vida do homem e estando amparadas por lei, ainda, assim,
várias pessoas não possuem oportunidades de acesso a mesma. No meio escolar
deparamo-nos ainda com a falta de acesso que alguns alunos com necessidades
especiais possuem.
As dificuldades encontradas pelo aluno com surdez dentro dos sistemas
educacionais não se delimitam somente ao aprendizado, mas enquadra várias
outras dificuldades como o processo de inserção em sala de aula como esse aluno
surdo vai se comunicar com outros alunos ouvinte. Portanto as barreiras começam
pela própria linguagem, que não é criada de forma comum entre surdos e ouvintes,
dificultando essa comunicação, e a LIBRAS, ainda não é explorada em sua
totalidade dentro das instituições, mesmo porque não há interpretes para a
interlocução do surdo e o ouvinte. (DÍAZ; BORDAS; GALVÃO; MIRANDA, 2009).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante desse estudo pode-se percebe que a educação inclusiva do surdo no


ensino superior, deve ter um olhar compreensivo sobre o que é educação inclusiva e
a partir dessa perspectiva, o corpo docente deve desenvolver capacitações de
ensino de maneira íntegra, indo além das fronteiras didáticas.
Portanto, envolve muitas controversas em questão de aprimoramento, sobre
a qualificação e o desafio para os docentes que não estão adaptados para enfrentar
a realidade de trabalhar com a diversidade que existem nos dias de hoje. É
necessário que o docente tenha uma preparação especifica para atender o indivíduo
tornando-se, essencial na medida em que aumente a integração do aluno surdo
dentro da universidade, todos são capazes de aprender da mesma maneira
respeitando as diferenças que cada indivíduo apresenta.
Ao final deste artigo, percebe-se que a instituição que recebe o aluno surdo
deve oferecer cursos de capacitação para seus docentes, palestras para seus
acadêmicos, professores e funcionários acerca da cultura surda, e estar preparada
para receber esse aluno oferecendo condições para seu desenvolvimento no
processo de ensino aprendizagem, pois, acredita-se que uma regra fundamental que
deve ser respeitada é a do direito do surdo de ter como primeira língua a LIBRAS e
contato com outros surdos. (DÍAZ; BORDAS; GALVÃO; MIRANDA, 2009).
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avaliação de um programa de intervenção. Psicologia em Estudo, 2002, p. 31.

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