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muito além
da caixa cênica
A Realização Cenográfica
Contemporânea
na cidade de São Paulo
São Paulo
20 07
banca Examinadora
_______________________________
Prof (a). Dr (a).
_______________________________
Prof (a). Dr (a).
_______________________________
Prof. Dr. Luiz Fernando Ramos
Dedicatória
A m e u pa i e a o s m e u s f i l h o s
A G i a n n i R at t o
e seu claro coraç ão, p or sua franqueza ,
sempre a provo c ar meus pensamentos.
A E u d i n i r Fr ag a
que me recebeu como família e
me apresentou à v ida ac adêmic a .
A A d o l f o J a c k e l (t i o A d o l f o)
p or acredit ar em mim e nunc a
perder uma op or tunidade de me ajudar a crescer.
A Fl o r a e Ariel
Por fa zerem par te da minha v ida .
Agradecimentos
PALAVRAS CHAVES
C enogr afia , C enotécnica , R ealizacão C enogr áfica ,
Teatro , C inema
abstract
Key-words
S cenogr aphy – S cenotechnique - S cenogr aphic
P erformance theatre – C inema
Sumário
Introduç ão 10
Apêndice 175
José Antônio Gomes 176
Aníbal Marques 184
Ma x 190
Rodrigo Matheus 197
Gianni Rat to 204
Cy ro Del Nero 209
Marcos Pedroso 224
10
Introdução
Ratto, Gianni. Antitratado de Cenografia, Editora Senac, São Paulo, 1999. (pg.63)
E st a disser t aç ão é sobre o desenvol v imento
da realizaç ão cenográf ic a na cidade de S ão Paulo. Apesar
da enorme di ver sidade do teatro mo derno e da mistura de
inf luência s culturais presentes nos teatros da cidade, a origem
da forma do fa zer teatral paulist ano é ba sic amente européia .
O p onto de par tida referencial para o reconhecimento da
Cenograf ia Paulist ana é o Teatro do Pelop oneso e da península 11
Apenina . Isto acontece, ceno graf ic amente falando, p or três
v ia s principais: uma é espacial, pela imp osiç ão da relaç ão
front al de palco e platéia do teatro à It aliana , p ois é est a a
forma predominante na s c a sa s de espet áculos de S ão Paulo,
desde o começo do século X X até os dia s de hoje; a estétic a ,
pela grande inf luência da Pintura Ac adêmic a que permaneceu
p or muito temp o presente nos palcos da cidade na forma de
telões pint ados; e consequentemente, a forma de realizaç ão
técnic a result ante da relaç ão entre espaço e estétic a .
Não se deve perder de v ist a que a História não
é rigidamente di v idida em dat a s e acontecimentos p ontuais,
e sendo a ssim, evoc amos o seu c aráter dinâmico. Busc a-se
aqui falar de um grup o de técnic a s que se mo dif ic a conforme
o período histórico. E ste te x to não pretende apresent ar uma
v isão segment ada de um mundo teatral, no qual a s área s andam
em paralelo, ma s como o fo co é a Ceno graf ia , não será p ossí vel
deter-se em a spec tos imp or t antes como a Dramaturgia ou a
Interpret aç ão. E st a disser t aç ão trat a de conceitos, forma s e
técnic a s volt ada s à s ar tes v isuais cênic a s. Busc a-se ent ão, na
história antiga e na atual, dados sobre a s técnic a s de realizaç ão
cenográf ic a em S ão Paulo compreendendo -a como um sistema
aber to onde a idéia de seqüência c ausal é menos imp or t ante
do que a troc a de inf luência s mútua s entre so ciedade,
dramaturgia , encenaç ão, ceno graf ia e a sua realizaç ão. E ste
recor te procura est abelecer a utilizaç ão e eventual mo dif ic aç ão
deste sistema que é a c aixa cênic a e seu funcionamento, t anto
construti vo preparatório – cenotécnic a , pintura e c arpint aria 12
– como operacional – organizaç ão e mov iment aç ão da s peç a s
cenográf ic a s durante um espet áculo.
A seguir, serão est abelecidos os termos que
serão utilizados no presente te x to. A C e n o g r a f i a é a linguagem
narrati v a que resp onde graf ic amente a conceitos prop ostos
p or uma Dramaturgia . Para isso ela lanç a mão de elementos
plá sticos como cor, forma e te x tura . Eles aparecem sempre
aliados ao ritmo, considerado aqui, a dinâmic a do temp o.
Ela “corresp onde t anto a uma evoluç ão autônoma da estétic a
cênic a quanto a uma transformaç ão em profundidade da
compreensão do tex to e da sua represent aç ão” Ela não é um
coleti vo de cenários, ou tela s pint ada s, ou ainda sinônimo
Pavis, Patrice. Dicionário de Teatro. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1999. (pg.45)
de adorno e decoraç ão. Deste mo do, muit a s vezes, quando
for utilizado o termo C e n o g r a f i a ele p o derá est ar se referindo
a toda a área v isual do espet áculo, como a concepç ão de
f igurinos, iluminaç ão, adereços de cena e p or vezes, ao
próprio edif ício teatral. O termo C e n o t é c n i c a , que signif ic a
o conjunto de técnic a s e conhecimentos específ icos para a
construç ão de cenários, é ainda ligado aos conhecimentos
rena scentist a s e barrocos, onde os cenários eram ba sic amente
de madeira , papel, tecido e tint a . Deste mo do, para abranger a
complexidade da cenograf ia mo derna e de seus prof issionais,
est a disser t aç ão ser ve -se do termo R e a l i z a ç ã o C e n o g r á f i c a . Para
melhor compreensão será considerada uma di v isão dentro
da R e a l i z a ç ã o C e n o g r á f i c a : a C o n s t r u t i va , onde est á inserida
a marcenaria , serralheria , pintura , escultura entre outros; 13
e a O p e r a c i o n a l , (ou Maquinaria), que é a técnic a de criar
mov imentos cenográf icos. E st a última corresp onde à ânima
da Cenograf ia durante a funç ão teatral. O objeto result ante
da R e a l i z a ç ã o C e n o g r á f i c a é o C e n á r i o , o conjunto da s peç a s
cenográf ic a s.
E st a disser t aç ão est á organizada do seguinte
modo: O primeiro c apítulo acompanha os mov imentos teatrais
desde a Grécia Antiga até os renov adores cênicos da v irada
do século XIX para o X X , busc ando identif ic ar a formaç ão
da Caixa Cênic a à It aliana . No segundo c apítulo é descrit a ,
uma seleç ão de procedimentos de constr uç ão e operaç ão
cenográf icos utilizados dentro dos teatros á It aliana . E stes
dois c apítulos tem o objeti vo de situar o leitor, históric a e
tecnic amente, dentro deste volume de forma cúbic a , que veio
a ser o p onto de par tida de to do o pensamento espacial e
cênico da cenograf ia paulist ana contemp orânea . O terceiro
c apítulo busc a relacionar est a inf luência históric a e técnic a à
Cenograf ia pratic ada na cidade de S ão Paulo, desde a déc ada
de 20 até os anos 70. Por f im, reunindo dados históricos sobre
o teatro internacional e sua inf luência no teatro paulist ano,
e os dados técnicos de realizaç ão teatral, o quar to c apítulo
procura identif ic ar a s par ticularidades dos pro cedimentos
cenográf icos modernos paulist anos, da s déc ada s de 80 até os
dia s de hoje. Ap ós o c apítulo quatro, para auxílio da leitura
técnic a , foi inserido um glossário de termos sobre ceno graf ia
e cenotécnic a . Por último é apresent ado um apêndice com
entrev ist a s feit a s pela autora com prof issionais da área . 14
E st a fonte foi de suma imp or t ância para a compreensão
da Realizaç ão Cenográf ic a contemp orânea , uma vez que
os registros sobre o a ssunto são qua se ine xistentes. Os
critérios de escolha e de ordenaç ão da s entrev ist a s foram:
um cenotécnico (Pupe), um maquinist a (Pelé), um pintor de
ar te (Ma x), um Ar tist a que alia sse Circo e Teatro (Ro drigo
Matheus) e três cenógrafos com estilos e c amp os de trabalho
diferentes: Gianni Rat to, Cy ro Del Nero e Marcos Pedroso.
Todos com c arreira e reconhecimento público.
Além do Teatro pro curou-se o ap oio de outra s
área s cênic a s, como o Circo, o Cinema , e Eventos, que
preser v am e criam, mesmo que com um sistema diferente de
aplic aç ão, a s técnic a s tradicionais da Realizaç ão Ceno gráf ic a .
Ma s a ba se foi o Teatro, e apena s se lançou mão da consult a
a outra s área s quando se v iu nest a s, fo cos per tinentes à
R e a l i z a ç ã o C e n o g r á f i c a teatral e aos seus prof issionais. Os
exemplos cenográf icos apresent ados no c apítulo quatro,
foram eleitos pela relev ância de sua aplic aç ão técnic a e pela
familiaridade com c ada um dos pro cedimentos cit ados, uma
vez que todos eles fa zem par te da e xperiência prof issional
da autora . Aliados à s entrev ist a s formais contida s no f im
deste volume e à s conver sa s informais o corrida s durante os
processos de trabalhos eles, espelham a realidade do trabalho
técnico cenográf ico na cidade de S ão Paulo.
15
16
1- A Formação da Caixa Cênica
S istemas de R ealização C enogr áfica
“... Quem quer que crie novas convenções artísticas encontrou métodos de intercâmbio
entre pessoas no que diz respeito a assuntos que eram antes incomunicáveis. A capacidade de
fazer isto tem sido a base de toda a história da humanidade.” Prof.J.Z. Young, An Introduction to
the Study of man, 1971.
D’A mico , Silvio, Epoche del Teatro Italiano. Floreça: G.C.Sansoni Editore, 1954. (pg.25) IN:
R at to , Gianni. Antitratado de Cenografia. São Paulo: Ed. Senac, 1999. (p.126)
se, e com meritória imp or t ância , a funç ão do técnico e ar tesão
da Cenograf ia . Nest a ép o c a t ambém ti vemos a retomada dos
mov imentos cenográf icos feitos p or p olia s, roldana s e corda s,
recuperando a heranç a grega .
O conceito de Ceno graf ia e a f igura do cenó grafo
sempre existiram, ma s naquele temp o est av am diluída s
nos homens plurais daquela ép o c a . Eram ao mesmo temp o
Teatro Olímpico de Vicenza
Cenário arquitetos, engenheiros, matemáticos e escultores, que
lev aram seus estudos da s naus da s igreja s, pa ssando pelos
palácios nobres e burgueses, até o edif ício teatral. O maior
exemplo destes homens que temos conhecimento é Andréa
Palladio e seu Teatro Olímpico de V icenza . Ele foi feito nos
moldes dos teatros romanos clá ssicos, ma s em esc ala muito
menor, acrescido de um céu com nu vens pint ado no teto da 23
platéia . O teatro foi constr uído ap ós a sua mor te, pelo seu
f ilho Silla , segundo os desenhos deixados pelo pai. Hav ia
prev isto para o palco um cenário em per spec ti v a , para Édipo
Rei de Sófocles, construído em madeira e gesso represent ati vo
Teatro Olímpico de Vicenza da s sete rua s (v ia s) da cidade de Teba s, que foi realizado p or
Platéia
V incenzo Sc amozzi. E ste cenário, que era para ser prov isório,
não foi todav ia remov ido e est á surpreendentemente em pé
até hoje.
Ao longo da história são p oucos os registros
cenográf icos. Diferente da s palav ra s ou da s imagens pint ada s
a óleo, a conser v aç ão da s peç a s ceno gráf ic a s nunc a foi muito
fácil, primeiro pelo dif ícil arma zenamento da s mesma s em
Do grego téchne/ téchnikós – arte, ofício. Peculiar a uma determinada arte ou ofício
funç ão da s sua s prop orçõ es, e dep ois pelo natural desga ste
durante a s temp orada s. Desde a p opularizaç ão da foto graf ia
e mais t arde com a invenç ão do v ídeo, tornou-se mais fácil o
registro dos cenários. A imprensa , desde a e xistência do teatro
público e pago – aquele fora da s mansõ es e dos palácios –
t ambém foi de grande v alia p or c ausa da s descriçõ es contida s
em rep or t agens e crític a s. Ma s e xistiram S erlio (1475-1552) e
S abbatini (1548-1631). Foram eles os pioneiros no que diz
respeito aos registros volt ados apena s para a Ceno graf ia .
S abbatini foi autor do trat ado “ Pratica di Fabbricare Scene e
Macchine Nei Teatri ” , no qual ele descreveu a constr uç ão do
palco, altura de b oc a de cena , funcionamento de elev adores
p or meio de corda s e roldana s, a e xecuç ão de telõ es pint ados
e sua f ixaç ão, além de muitos outros pro cedimentos utilizados 24
nos teatros da ép oc a , e imp or t antes até hoje. Descreveu,
inclusi ve, plat aforma s giratória s deri v ada s dos periac tos
gregos. Serlio, p or sua vez, em 1545, publicou um trabalho,
que par tia dos estudos arquitetônicos de V itr u v io, rev istos e
reedit ados p or Leon B at tist a Alber ti, e alc anç av a a s realizaçõ es
do teatro de seu temp o. Neste li v ro ele sistematizou os três
tip os de Cenograf ia usados na ép o c a . Eram ela s: trágic a ,
cômic a e satíric a . Os dois são it alianos, e não p or ac a so.
Graç a s à t ardia unif ic aç ão da península , que manteve acesa
a competiç ão entre seus prósperos nobres, e ao espírito de
grandeza que busc av a a superaç ão entre eles, a It ália deteve
o maior desenvol v imento técnico e ar tístico nos séculos X V
e X V I, se comparado com outros países da Europa . E stes
senhores de terra s, ao serem escolhidos como anf itriõ es de
ministros e embaixadores de to da a Europa , recebiam-nos
com indescrití veis fest a s, replet a s de torneios e espet áculos
teatrais. E st a cultura teatral it aliana terá for te inf luência na
história do teatro paulist ano.
Ao longo do século X V I, diante da e xigência de um
Fig.(A). Maquinaria
espet áculo v isualmente grandioso, mais e mais a Cenotécnic a
se ref inou. Para esconder to da a transformaç ão dos cenários,
a cena foi se enclausurando em uma c aixa replet a de
instrumentos como rotunda s, v ara s, alç ap õ es, quar telada s e
cor tina s, a f im de criar c ada vez mais ilusõ es. Maiores seriam
a s marav ilha s v isuais, quanto mais escondidos esti vessem os
seus modos de realizaç ão. Como mágicos e seus tr uques,
os cenotécnicos e maquinist a s dest a ép o c a se tornaram 25
ilusionist a s. Foi uma ép o c a de grande inf luência da f ísic a e
da mec ânic a na encenaç ão, matéria s que p ossibilit aram a s
marav ilha s da maquinaria ceno gráf ic a: os chamados ' milagres
Fig.(B). Encenação teatrais' . Um b om exemplo é um cenário para Glória . A
f igura A represent a a estr utura da maquinaria que fa zia os
atores se mov iment arem conforme a cor tina se abria . E a
f igura B mostra a Ceno graf ia e os atores inseridos nela . O
desenvol v imento da s técnic a s foi t anto que chegou-se ao
ápice de execut ar verdadeira s bat alha s nav ais dentro e fora
da s c a sa s de teatro, relembrando os temp os romanos da s
Glória ou uma visão celestial na casa de ópera de São Salvador em Veneza, 1675, Paris,
Bibliothéque de l'Opéra
naumaquia s
10 R amos , Luiz Fernando. Texto do Programa do espetáculo Ser, ou Não Craig, São Paulo,
2000.
Mesmo com to da essa inov aç ão ceno gráf ic a , ainda
não se p odia prescindir da s técnic a s da Caixa Cênic a .
Craig imprimiu em sua s e xperiência s um longo
estudo sobre claros e escuros, cheios e v a zios, e sem tr uques
enganadores, desejav a um cenário de forma s e volumes em
mov imento, onde a s mudanç a s de cenário fossem integrada s
à encenaç ão. O sistema de v ara s paralela s de iluminaç ão foi
criado p or ele em 1900, num espaço improv isado de um grande
salão em Hampstead, no nor te de Londres para a encenaç ão
da ópera D ido e Eneas , de Purcell.
Diante destes fatos é p ossí vel traç ar uma linha
obser v ando o mov imento do espaço cênico e de sua Ceno graf ia:
A Grécia Antiga , em seu auge, manteve um espaço cênico
tecnic amente elab orado, repleto de máquina s e efeitos de 31
cena . E ste espaço público, mesmo adapt ado, foi preser v ado
pela Ci v ilizaç ão Romana . A Idade Média provo cou e xperiência s
em espaços não originados para a cena: naves de igreja s,
feira s li v res, pequenos teatros ambulantes, mantendo v i v a a
inventi v idade técnic a da Ceno graf ia . O Rena scimento fez o
ser v iço de resgat ar a s máquina s e técnic a s grega s esquecida s
durante o Feudalismo, aplic ando estes conhecimentos em
grandes fest a s promov ida s pela nobreza , que aconteciam
dentro de mansões e palácios. A so ciedade se reorganizou,
surgiram cla sses com t anto p o der e dinheiro quanto reis,
o que colocou o público diante de um novo edif ício teatral
convencionado para a cena , um teatro com bilheteria , um
teatro público. Dentro dele o espec t ador se organizou,
em platéia e frisa s. Dentro do palco to do o conhecimento
técnico adquirido ao longo da história foi aplic ado em um
novo sistema: a Caixa Pret a . Durante um longo perío do a
cena foi sendo mais e mais adereç ada , chegando à s raia s do
exagero durante o perío do B arro co. Até que se atingisse a
segunda met ade do século X X , os questionamentos cênicos
não lev av am em consideraç ão o edif ício teatral: a s mudanç a s
ocorreram apena s dentro do palco. Romantismo, Realismo,
Revoluções Cênic a s: estes mov imentos ar tistícos lapidaram
a s técnic a s da Caixa Cênic a à It aliana , e foi sob a inf luência
deste sistema que cresceu o teatro, amador e prof issional, na
cidade de S ão Paulo.
32
33
2- CAIXA CÊNICA à
Italiana
P rocedimentos
38
Q uarteladas :
39
O palco em
si é feito de peças móveis
de tábuas de madeira, não
muito dura, no tamanho de
2m x 1m, tendo como base
estruturas retangulares: são as
quar teladas que, se retiradas
da sua posição original no
nível do palco, permitem
acesso ao porão.
Pa i n é i s C e n o gr á f i c o s :
1-Pa i n e l d e t e l a :
É feito em tecido
grosso com uma bainha em
cima e outra em baixo, onde
são coloc ados sarrafos ou
c anos. Ele é preso p or corda s
na s v ara s de cenários, e no
chão é preso com pregos.
Na horizont al são coloc ada s
alguma s trav a s ex tra s para
mantê -lo estic ado.
2- C o r t i n a d o : 40
É um tecido solto
com cordinha s ou f itilhos para
ser amarrado diret amente na
v ara de cenário.
3/4 -Pa i n e l
armado:
É estruturado em
sarrafo revestido. Normalmente
é f ixado com tirantes ou
esquadros. Quando estes
painéis são muito grandes e não
e xigem mov iment aç ão durante
a funç ão eles são f ixados p or
uma corda que corre ao longo
da sua estrutura desde a ba se
até o urdimento.
E strutur a de Tr ainéis e Tapadeir as :
O trainel ou
ba stidor é uma estrutura feit a
em sarrafo revestida de tecido,
papel ou plá stico. A t apadeira
é a mesma estrutura revestida
em madeira . Normalmente
ele é ret angular ou quadrado,
ma s p ode a ssumir outra s
forma s. Para que este quadro
f ique bem f irme, ele recebe
dois mont antes na diagonal
(f ig. A-5/6) e pelo menos três
trav a s horizont ais (travessa s)
41
distribuída s pela sua altura .
Ele t ambém pode ser reforçado
com v ária s trav a s menores a
cada ângulo (f ig.E ). Nas f iguras
B ,C ,D temos outra s maneira s
de reforç ar os c antos. Para
facilit ar o manuseio dest a s
peç a s a primeira trav a é
coloc ada à altura de 80cm.
Ela tem t ambém um pé de 2
ou 3 centímetros de altura
que ajuda o manuseio e ev it a
o desga ste do tecido de
revestimento provoc ado pelo
atrito com o piso.
U nião :
E xistem alguma s
maneira s de unir esses painéis
para formar o fundo de uma
cenograf ia: com dobradiç a s,
obser v ando sempre que o
pino que une os dois lados
dev a ser móvel: exemplo
(1); com um tip o de mor sa ,
que no teatro é chamado de
sargento: exemplo (2); e com
o sistema de corda que ev it a 42
esc ada s e desloc amentos de
altura: exemplo (3). Neste
sistema uma corda é amarrada
no top o (c abeç a) do painel
e apena s com o mov imento
de v ai e vem da s mãos do
maquinist a s ela se prende
em ganchos (de madeira ou
met al (4) coloc ados ao longo
da s b orda s do painel, ao ser
amarrada na trave de baixo
une e ajust a a emenda dos
painéis
S istema de Fixação de Tr ainel :
A f ixaç ão pela
ba se de ba stidores, trainéis
e peç a s plana s de cenário é
feit a através de esquadros e
tirantes. Tirantes p odem ser
feitos apena s com uma ha ste
de ferro ou de madeira , f ixa
ou alongável. Nest a s peç a s
uma da s p ont a s tem um furo 43
(ou gancho) para ser f ixado
na trav a do cenário. Na outra
p ont a há um prego, ou gramp o
roseira , f ixos no piso do palco.
E squadro é um triângulo
ret ângulo, estruturado em
sarrafo, no qual um c ateto é
signif ic ati v amente maior que
o outro. O lado maior é f ixado
na peç a cenográf ic a , e o lado
menor f ic a em cont ato com
o chão. E ste p ode ser f ixado
com um prego ou com peso.
C ambotas :
44
É uma peç a
cur v a recor t ada em madeira
plana que ser ve de estrutura
para a construç ão de peç a s
cenográf ic a s cilíndric a s ou
esféric a s como coluna s e
c antos cur vos. Ao unir dua s,
ou mais c amb ot a s com ripa s,
cria-se a volumetria desejada .
Dep ois ela p ode ser revestida
de tela , tecido ou papel
conforme o c a so.
P r aticável :
45
Praticável é,
a rigor, todo material de
cenograf ia que possa ser usado
pelo ator. É mais comumente
usado ao nos referirmos a
pequenos tablados: estruturas
por sobre as quais o ator possa
andar.
S istema de Poléia :
Consiste em estrutura s
ret angulares, com trav a s
diagonais feit a s de sarrafo.
Coloc ada s na ver tic al e
46
trav ada s p or um piso modular
de madeira coloc ado na
horizont al, cria um volume
resistente apropriado para
c aminhar em cima . Muito
utilizado para pisos elev ados.
Desmont ado é leve de
transp or t ar e fácil de estoc ar.
Com a s mesma s p oléia s e
com o piso modular p ode -
se criar palcos de largura s
e profundidades diferentes.
Com os mesmos módulos de
piso, mudando apena s o jogo
de p oléia s p ode se obter
volumes de v ária s altura s.
E ncaixe :
47
O sistema de
enc aixe não é muito usado
na confecç ão de painéis
revestidos, ma s quando
a peç a cenográf ic a est a à
v ist a ou dela se exige maior
esforço e estrutura reforç ada
é preciso usá-lo. A seguir uma
t abela de tip os de enc aixe
em madeira .
A P erspectiva e os Telões P intados :
1- S i s t e m a d e e l e va ç ã o :
51
E x: Terremoto.
Toma-se um grup o de trainéis
pint ados com c a sa s em b oa s
condições ( A). Outro grup o
(B) são pint ados com a s
c a sa s dep ois do terremoto. O
gr up o A é coloc ado diante do
gr up oB . Quando se lev ant a o
conjunto de c a sa s A revela-
se a praç a destruída . Isso é
feito através de c ab os de aço
amarrados na s v ara s contra-
pesada s.
2- S i s t e m a d e d o br a d u r a :
E x: Comédia em
três atos. Cena- I: Aber tura
diante de um cenário de
cor tina . Cena- II: uma sala .
Cena- III: um jardim. A Cena-
I esconde a sala que já est a
mont ada . E ste cenário sai 52
p or iç amento, em v ara s
contrapesada s revelando a
sala da Cena- II. A próxima
mudanç a será feit a pi vot ando
a parede esquerda do cenário
(quar to) que na s sua s cost a s
já tem mont ado par te
do pergolado do jardim.
( jardim). À esquerda da cena
revela-se (em c amada s):
ba stidor da ár vore, cerc a com
est átua s, telão de fundo com
paisagem.
3-P e r i a c t o : ( p r i s m a g i r at ó r i o )
S ão plat aforma s
em formato de prisma que
coloc ada s ver tic almente (em
pé), em seqüência , sobre
um eixo giratório, permitem
a mudanç a rápida de até 53
três cenários (pint ados ou
em relevo). Na imagem uma
soluç ão de uso dest a s dessa s
peç a s prop ost a p or S abbatini
No ní vel do palco são
coloc ada s quatro plat aforma s
giratória s de 2 ou 3 metros
de diâmetro. Cada fa se é
revestida de tecido pint ado.
O cenário se complet a com
uma seqüência de telões de
fundo, conforme o tema da
cena .
4 - C a rr o s :
S ão plat aforma s 54
sobre roda s que contém toda
uma estrutura cenográf ic a .
No desenho A um exemplo
de palco com guia s: três
cena s est ão preparada s:
uma diret amente no piso do
palco que será desmont ada;
outra que será comp ost a pela
entrada dos c arros laterais; e
uma última complet a no c arro
do fundo. No desenho B , a s
três cena s já pront a s para o
início do espet áculo.
5 - Pa l c o G i r at ó r i o :
55
É uma plat aforma
circular mont ada sobre roda s
e f ixa num eixo central. Ela
p o de funcionar na dimensão
de um palco contendo
três cena s complet a s que
aparecem conforme o palco
gira conforme exemplo A .
E sse sistema p ode t ambém
ser usado em plat aforma s
menores que, como no
e xemplo E formam par tes do
cenário.
Porão
(ou Fosso do Palco)
A lçapão : 56
Aber tura em
qualquer par te do piso
do palco, normalmente
dissimulada aos olhos do
público. Ser ve para entrada s
e saída s de cena , t anto de
ar tist a s como de material
cenográf ico e para encenaç ão
de efeitos de apariç ão e
desapariç ão. O acesso do
ní vel do palco ao piso inferior
p o de ser feito p or esc ada s ou
elev adores.
E levadores :
57
Os elev adores
p o dem ser operados
manualmente ou p or contra-
peso, conforme o c a so.
M ovimento L ater al :
58
60
Todo este
complexo é feito para ser
p ossí vel o iç amento de peç a s
e pessoa s. E ste sistema é
chamado de contra-pesagem
ou manobra s. Ele é feito
p or c ab os de aço, corda s,
roldana s, pesos e v ara s.
Var as/A mericanas :
No urdimento já
est ão inst alada s e preparada s
uma série de v ara s de cenário 61
e v ara s de luz. E st a s v ara s
p o dem ser tub os únicos de
met al ou uma estrutura em
trav a chamada de americ ana s
que permitem maior esforço
e sustent aç ão de peso.
Eventualmente p odemos ter
est a s v ara s ou americ ana s em
madeira . Conforme o c a so o
cenário v ai preso diret amente
nela s ou ainda em uma outra
v ara menor que alc anç a a v ara
de cenário do teatro.
C ordas e C abos :
A s v ara s f ixa s
e americ ana s são presa s no
urdimento p or c ab os de aço,
ma s a s manobra s manuais,
mais leves, são feit a s com
corda s de sisal diret amente
(ou material sintético como 62
o nylon). A corda tem um
comp or t amento próprio. Para
conser v á-la é preciso obser v ar
alguma s regra s Por exemplo:
ela s devem ter presa em si
(per to da p ont a um saco
com areia (de 3 a 5kg), para
que quando pendurada s em
desc anso mantenham a corda
ret a , em tensão. Uma corda
deve ser guardada sempre
enrolada em volt a s de no
mínimo um metro.
Tr avas :
63
A seguir uma
t abela de tip os nós e trav a s
de ligaç ão entre v ara s e peç a s
de cenários.
N ós :
64
O nós são
ferrament a s de trabalho de
to do maquinist a . Os princípios
fundament ais dos nós são:
Devem ser p ossí veis de ser
feitos com uma únic a mão
e devem ser desfeitos da
mesma forma . Isso para que se
p ossa utilizar a corda muit a s
vezes sem nunc a cor t á-la em
pedaços.
G ornes , Roldanas e Talhas :
65
Gornes, roldana s
e t alha s (ou p olia s) são, junto
com as corda s, recur sos
bá sicos para a execuç ão de
manobra s.de iç amento.
M anobr as de Telas :
66
E xistem v ária s
maneira s de se recolher
um telão para o urdimento.
A seguir um desenho que
mostra os tip os de manobra s:
em primeira , em segunda e
em terceira .
Vestimenta da C aixa C ênica :
O Ciclorama é
um tecido branco estic ado
em forma de U, que ocupa o
fundo e par te da lateral do
teatro. Peç a f ixa da c aixa
68
cênic a t ambém ser ve para
neutralizar a cena , e sendo
branco, permite muitos
efeitos de luz e a sensaç ão
de profundidade. (estúdio/
fundo inf inito). Junto a est a
peç a normalmente se trabalha
com o ' fundo inf inito'. E st a é
uma peç a cur v a , ap oiada no
chão que ao ser pint ada e
coloc ada diante do ciclorama
ganha profundidade, p ois
elimina a sensaç ão v isual da
linha di v isória entre o piso e
a parede (telão) do fundo
S istemas de C ortina :
69
Todo teatro tem
um pano de b oc a ou cor tina
de b oc a . E st a é a cor tina que
est á loc alizada just amente
antes da b oc a de cena . Ela
ser ve para resguardar a cena
durante a entrada do público e
na s troc a s de cenário. Ma s a s
cor tina s são usada s t ambém
durante a funç ão como peç a
cenográf ic a . A seguir uma
seqüência de forma s de
aber tura de cor tina .
70
Acontecimentos
A seguir alguns e xemplos de uso da c aixa e de
efeitos ceno gráf icos:
Á gua :
No desenho
e xistem dois exemplos de
como fa zer c achoeira . Na
f igura A o efeito de água
c aindo é obtido com tecido 71
leve manchado de a zul que
gira em torno de rolos. Para
o efeito da espuma d’água ,
são costurada s, no tecido,
pequena s linha s de franja
branc a s em lugares espar sos.
Na f igura B a c achoeira é
feit a com água mesmo. Em
uma seqüência de c aixotes de
zinco vedados a água entra
p or uma mangueira em cima e
é escoada v ia outra mangueira
em baixo.
Vôos :
72
Dentro da c aixa
cênic a à it aliana , com o
sistema de contra-pesagem,
corda s, trilhos e roldana s
é p ossí vel fa zer muitos
mov imentos aéreos inclusi ve
o efeito de vôo.
N eve e C huva :
73
O desenho mostra
um sistema simples de dua s
v ara s unida s p or um tecido,
cuja met ade longitudinal
tem v ários furos. Ela s são
pendurados em dua s v ara s
paralela s maquinada s para
fa zer o mov imento ver tic al
que libera /est anc a a c aída de
papeis pic ados
B alanço :
O tema da 74
navegaç ão era comum nos
teatros de ópera a p onto de o
piso do palco ser substituído
pelo próprio barco v isto em
cor te. O desenho abaixo
mostra a mont agem para uma
encenaç ão de “Afric ana”. Vê -
se o barco adernado a direit a ,
e abaixo o sistema de p olia s
operado p or dois homens
que fa ziam o barco balanç ar
levemente de um lado para
outro.
C enário de G abinete :
75
O cenário de
gabinete é comp osto de
paredes laterais e de fundo,
frequentemente com teto.
Ele ser ve para represent ar
espaços internos como: sala s,
salões, cozinha s, cela s, gruta s
etc. Seu formato t ambém
p o de ser v ir para v aranda s e
jardins internos com telões
de defesa complet ando a
paisagem.
For a da C aixa P reta
O b s: t o d o s o s d e s e n h o s e i n f o r m a ç õ e s t é c n i c a s r e p r o d uzi d a s n e st e c a p í t u l o f a ze m p a r t e
d o s e g u i n t e l i v r o c o m t r a d u ç ã o d a a u t o r a : M e l l o, B r u n o. Tr a t t a t o d i S c e n o t e c n i c a . St a m p a
O f f i c i n e G r a f i c h e D e A g o st i n i – N o v a r a , 1993.
77
78
Varga s , Maria Thereza & M agaldi , Sábato. Cem Anos de Teatro em São Paulo. São Paulo:
Editora SENAC, 2000. (pg.22)
mais t arde, a Ac ademia de B ela s-Ar tes. Fora est a s, os mais
aba st ados fa ziam aula s par ticulares ou iam estudar na Europa .
Ma s além destes ar tist a s e xistia um outro prof issional: o
ar tíf ice. E ste era formado pelo Liceu de Ar tes e O f ícios. Para
ostent ar a for tuna acumulada na nov a terra , os imigrantes
ergueram palacetes mudando a c ara de S ão Paulo. Para que
estes palacetes pudessem ser constr uídos, o arquiteto Ramos
de A zevedo deu um novo impulso ao Liceu, e trouxe ar tesãos
da Europa para formar seu corp o do cente. “ Do Liceu sairão os
decoradores de paredes, os pintores de frisos, os escultores
de baixo e alto -relevos, os ent alhadores, os marceneiros,
os letrist a s – pintores de c ar t a zes, os tip ó grafos e os
ar tist a s gráf icos.” Por não haver uma escola que forma sse
seus técnicos realizadores, a Ceno graf ia paulist ana buscou 82
aper feiçoar a técnic a empíric a , v inda do trabalho nos palcos
do Rio de Janeiro e de S ão Paulo, nos cur sos do Liceu de Ar tes
e O f ícios.
Os cenários, ent ão, eram feitos ba sic amente
de trainéis de madeira com papel estic ado (ou pano) onde
eram pint ada s a s paisagens ou os espaços arquitetônicos.
Os espet áculos aconteciam em atos, e nos inter v alos destes
atos, a Cenograf ia era inteiramente transformada . E stes
painéis temáticos decorati vos eram tro c ados p or sistema de
roldana s e corda s contrapesada s v inda s desde o urdimento.
Eles deveriam aliar a má xima leveza - o que levou ao uso da
P r ado , Décio de Almeida. História Concisa do teatro Brasileiro 1570-1908. São Paulo:
Edusp,1999 (pg.104)
S ão Paulo - dois anos dep ois do Rio de Janeiro. Nest a c a sa de
espet áculo, ric amente constr uída como uma cópia reduzida
da c a sa de Ópera de Paris, acontecia o Teatro comercial, e
v igorav a em seus cenários a já descrit a técnic a de ilusionismo
v inda da s escola s ac adêmic a s de B ela s Ar tes da Europa . O tema
de sua Dramaturgia , inv ariavelmente, e xigia a repro duç ão f iel
de c a sa s burguesa s com sua s sala s e terraços. Nest a ép o c a a
concepç ão de Cenograf ia era muito próxima da decoraç ão. Era
costume a s c a sa s serem decorada s com murais de pintura s
realist a s e ilusionist a s, chegando a p onto de apresent ar,
“aqui e ali, p or t a s ou janela s falsa s pint ada s à per feiç ão, que
sempre enganav am os distraídos” . E st a s técnic a s de pintura
ac adêmic a foram transp or t ada s para o palco. A per spec ti v a
sozinha não ba st av a para a e xigência da ilusão pic tóric a .
Juntou-se a ela o trompe- l’oeil, que é a técnic a de sugerir 85
volumes e relevos através da pintura de luz e sombra , para
com isso busc ar profundidade e se aproximar ao má ximo da
realidade.
M our a , Carlos Eugênio Marcondes de & L emos , Carlos A. C., “Ambientação Ilusória”, in:
Retratos Quase Inocentes, (pg.61)
B able t, Denis. Les Décors de théatre de 1870 a 1914, Paris:C.N.R.S,1983. (pg.33)
Em 1924 a companhia do c ario c a Pro cópio
Ferreira fa z uma longa temp orada no Teatro Roy al lev ando 26
peç a s em 8 meses. E ste e xemplo nos lev a a crer que a s peç a s
cenográf ic a s eram reutilizada s de um espet áculo para o outro.
Como seria p ossí vel c arregar 26 pro duçõ es complet a s? Que
t amanho teria e que trabalho daria , mesmo para uma empresa
do p or te da de Procópio? Ma s ainda a ssim Pro cópio Ferreira
era um que se preocupav a especialmente com a Ceno graf ia . Ele
compreendia que a presenç a da s companhia s estrangeira s e do
Cinema - nest a ép oc a funcionav am 4 teatros e 16 cinema s na
cidade - com seu for te apelo v isual, só p o deria ser combatida
com uma Cenograf ia de qualidade. Apesar disto, e não c abe
aqui uma análise sobre dramaturgia ou interpret aç ão, será
p ossí vel arrisc ar que até ent ão não hav ia em S ão Paulo, uma 86
tradiç ão cenográf ic a imp or t ante, nem técnic a e nem ar tístic a .
Sempre foi tudo emprest ado e p ouco pensado para a realidade
ou cultura genuína da cidade. A formaç ão dos prof issionais
e técnicos bra sileiros natos era insípida . A Ceno graf ia era
realizada p or imigrantes que tra ziam na bagagem seus of ícios,
ou v inham com companhia s estrangeira s que e xcur sionav am
pelo Bra sil e ac abav am f ic ando.
Contudo na s palav ra s do cenó grafo Antonio
Paim , ainda que só com a funç ão de adorno, percebe -se que
a Cenograf ia começ av a a ganhar uma maior imp or t ância .
Antonio Paim Vieira (1895 – 1986) Em sua formação como artista gráfico trabalhou como
retratista e reconhecido ilustrador de revistas e propagandas. Foi editor gráfico . No teatro
trabalhou como figurinista e cenógrafo nas Companhias de Iracema de Alencar e de Procópio
Ferreira.
“ Em São Paulo trabalhavam nesta ép o ca
Rômulo Lombardi, H enrique Manzo, Juvenal Prado
e o autor deste dep oimento. Gostaria de ressaltar a
qualidade das obras que realizaram e , mais ainda, a
grande za de seus coraçõ es simples e generosos, sempre
disp ostos a conceder o auxílio que lhes era p edido. Cada
qual se dedicava a uma esp e cialidade: casa de camp o,
ambientes mo destos, salõ es, galerias, varandas, jardins
de inverno, etc . Q uanto a mim preferia os ambientes de
estilo, isto é , neste sentido pintei alguns para várias
companhias. Lembro - me de um gabinete estilo chinês,
to do revestido de xarão vermelho com cegonhas brancas
esvo açando sobre laranjeiras. Tamb ém elab orei cenários
fantásticos como sejam o interior de um coração, com
os resp e ctivos alojamentos para os nobres e baixos
sentimentos. Era e xigido que , ao abrir-se o velário10 , o
público se admirasse . Isto o predisp oria para a p e ça,
assim como a capa de um livro predisp õ e o público
para a compra.” 11
87
Comédia do Coração
13 L ima , Mariângela A. Imagens do Teatro Paulista. Imprensa Oficial do estado: Centro
Cultural São Paulo, 1985. (pg.132)
reagir. O ator ainda era o mentor da s companhia s, ma s agora
o seu trabalho deveria est ar la streado pela b oa Dramaturgia e
p or uma Cenograf ia de qualidade. Não p o diam mais se aceit ar
cenários soltos, realizados apena s p or hábito. A Ceno graf ia
deveria traduzir a intenç ão da encenaç ão.
O grande exemplo de v anguarda dest a ép o c a foi
Fláv io de Car v alho14 e seus e xperimentos ar tísticos. Em 1933,
ele fundou o Teatro da E xperiência , com a colab oraç ão do
ent ão cenógrafo e ‘ensaiador’ Osw aldo S ampaio15 . Adapt ado
em uma loja , o Teatro deveria ser um lab oratório de pesquisa
relati vo ao mundo da s idéia s: cenários, mo do de dicç ão,
mímic a , problema s de iluminaç ão, som etc. Para a inauguraç ão
deste espaço ele mesmo escreveu, ap ós pedidos fr ustrados a
dramaturgos, O Bailado do D eus M or to16 Já durante os ensaios 89
enfrentou problema s com a s autoridades. O depar t amento de
censura só liberou a peç a , apesar dos insistentes pedidos
pela s v ia s formais, ap ós um feliz encontro de Fláv io com o
próprio enc arregado da censura na s c alç ada s da delegacia .
O Bailado do Deus Morto
14 Flávio de Carvalho: Flávio Resende de Car valho (Amparo da Barra Mansa RJ 1899 - Valinhos
SP 1973). Pintor, desenhista, arquiteto, cenógrafo, decorador, escritor, teatrólogo, engenheiro.
Desenvolve atividades em várias áreas artísticas e intelectuais, freqüentemente de forma inovadora
e provocativa. retirado do link: http://w w w.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/
index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=677&cd_item=1&cd_idioma=28555 em
06/09/2007
15 Oswaldo Sampaio: Osvaldo Sampaio nasceu em São Paulo, capital. Estudou no Ginásio
de São Bento, Mackenzie Colege, até o terceiro ano de arquitetura. Como cenógrafo trabalha na
Companhia Brasileira de Comédia, Companhia Renato Viana. Em 1936 entra para a Companhia
Procópio Ferreira, onde durante doze anos exerce as funções de cenógrafo, contra-regra e diretor-
de-cena. Retirado do link: http://w w w.novomilenio.inf.br/cultura/cult063y.htm em 06/09/2007.
16 O Bailado do Deus Morto - De: Flavio de Car valho/ Direção, Cenografia e Figurinos: Flávio
de Car valho. São Paulo, 1933.
Diante da s pessoa s que pa ssav am na r ua , at arant ado e confuso
com a situaç ão e com o discur so entusia smado de Fláv io,
o delegado não teve mais como p ostergar e, ali mesmo se
pronunciou autorizando a estréia . Os atores usav am má sc ara s
de alumínio e túnic a s branc a s p or vezes realç ada s pela luz.
O cenário era uma coluna de alumínio ao fundo, ro deada de
tecido preto. Uma da s p ont a s de uma corrente era presa nest a
coluna , e a outra p ont a era presa no teto. Ela represent av a
a ligaç ão com os Deuses, que era desfeit a quando o elo se
rompia . Era um cenário sem qualquer tip o de telão pint ado.
O Bailado do D eus Mor to teve apena s três apresent açõ es.
Em 17 de novembro de 1933, quando deveria ter o corrido a
quar t a réplic a , foi interrompida pela p olícia , que proibiu a
apresent aç ão. Ap ós muit a resistência , não apena s a peç a foi 90
proibida , ma s t ambém o Teatro em si foi fechado.
E xistiram outra s iniciati v a s menos radic ais e
t ão imp or t antes quanto. Era comum que companhia s teatrais
c arioc a s f ic a ssem sediada s em S ão Paulo p or algum temp o,
ent ão no início da déc ada de 30 os palcos paulist anos
Amor
receberam D eus lhe Pague 17 da Cia . Pro cópio Ferreira e
Amor 18 produzido pela companhia de Dulcina de Moraes,
amba s Cenograf ia s de Henrique Manzo19 . A primeira , era
17 Deus lhe Pague - De: Joracy Camargo/ Montagem: Cia. Procópio Ferreira/ Cenografia:
Henrique Manzo. 1932.
18 Amor - De: Oduvaldo Vianna/ Montagem Cia Dulcina-Durães-Odilon/ Cenografia: Henrique
Manzo. São Paulo, 1933.
19 Henrique Manzo (1896-1984) Artista Plástico formado pelo Liceu de Artes e Ofícios de São
Paulo. Restaurador e Cenógrafo, exerceu esta profissão até 1950.
ainda em formato de gabinete 20 com a funç ão de ambient ar
o espaço, ma s o croqui mostrav a forma s fragment ada s de
uma decoraç ão Ar t- décot. Com móveis de linha s angulares
e pintura s de volumes geométricos, o cenário se remetia ao
design da moderna escola alemã B auhaus. Em Amor, Manzo
trabalha com a chamada 'cena simult ânea'. O espaço é di v idido
em dois andares com cinco palcos disp ostos, sendo o maior
deles um bar p osicionado no centro da aç ão.
20 Gabinete é um estilo de Cenografia que reproduz um ambiente fechado por exemplo,
uma sala ou um escritório. Ele é constituído por três paredes, uma ao fundo e duas laterais, com
janelas, portas e arcos conforme pedir a arquitetura por onde entram e saem os atores.
21 B e zerr a , Tânia T. Marcondes, Os Pintores-Cenógrafos e a Estética Ilusionista do Teatro
Paulista de 1900 a 1940, Tese de Mestrado, USP-ECA-CAC, 1999. (pg.44)
22 Santa Rosa: Tomás Santa Rosa Júnior (1909-1956). Nascido em João Pessoa (então chamada
de Parahyba) foi funcionário público, artista plástico, ilustrador e cenógrafo.
gráf ic a s. No Teatro, foi fundador de “Os Comediantes”, gr up o
de Teatro amador c arioc a que fomentou um novo pensamento
para o Teatro nacional. S ant a Rosa defendia veementemente
a integraç ão da Cenograf ia à s questõ es dramatúrgic a s e que
o espaço cênico deveria ser a materializaç ão de mundos em
luz e sombra , forma s e cores. Em sua s própria s palav ra s.
Em
1914 hav ia em S ão Paulo 16 teatros, ma s
muitos deles foram se transformando em sala s de cinema . Com
isso, em 1945 hav ia apena s três: o B oa V ist a 24 , o S ant ana 25 e
23 B ar sante , Cássio Emmanuel. A Vida Ilustrada de Tomas Santa Rosa. Rio de Janeiro:
Fundação Banco do Brasil: Bookmakers, 1993. (pág.31)
24 O teatro Boa Vista foi inaugurado em 1914, na Ladeira Porto Geral com entrada pela Rua
Boa Vista. Propriedade de O Estado de São Paulo. Projeto de Giulio Micheli
25 “O teatro Apolo surgiu em 1873 com o nome de Teatro Provisório Paulista. Dezoito anos
depois sofre uma reforma e passa a chamar-se Miner va. Com uma completa transformação
sofrida em 1984, ganhou a denominação de Apolo. Comprado mais tarde, juntamente com outras
construções vizinhas, pelo futuro conde romano Antonio Álvares Penteado, o Teatro Apolo foi
o Municipal. Foi justo nest a déc ada , quando o edif ício teatral
era t ão esc a sso, que eventos imp or t antes para a formaç ão
de um Teatro paulist ano aconteceram. No início dos anos 40
o G TE - Grup o de Teatro E xperiment al dirigido p or Alfredo
Mesquit a , e o G T U - Grup o de Teatro Uni ver sit ário, dirigido
p or Décio de Almeida Prado, deram o que falar na imprensa .
Cansados de uma mesmice - encenaçõ es que eram cópia s
de antiga s e superada s pro duçõ es européia s - estes gr up os
busc av am renov aç ão ar tístic a , como indic av a um te x to de
di v ulgaç ão sobre a s intençõ es do gr up o. Ma s estes ar tist a s
não tinham muito espaço nem no gosto do público, nem um
espaço no qual pudessem encenar.
93
“ [...] contribuir para a formação de um
Teatro nacional, que seja nacional tanto nas p e ças e
nos autores, como nos atores e cenógrafos, educando
para isso o gosto do público. N esse sentido pro curará
incentivar o apare cimento de teatrólogos nacionais.
Enquanto não houver para serem representadas b o as
p e ças de autores nacionais, serão levadas p e ças
estrangeiras, em traduçõ es cuidadosas e de preferência
escolhidas entre aquelas que não integrem o rep er tório
das companhias prof issionais de Teatro.” 26
demolido para dar lugar ao Teatro Santana. Na nova casa, entre as apresentações das companhias
líricas italianas e das revistas brasileiras, fizeram-se algumas sessões cinematográficas.” (http://
w w w.almanack.paulistano.nom.br/boavista.html, consultada em 28 de julho de 2007)
26 Varga s , Maria Thereza & M agaldi , Sábato. Cem Anos de Teatro em São Paulo. São Paulo:
Editora SENAC, 2000. (pg.176)
O Teatro c ario c a marcou presenç a no pro cesso
de formaç ão do Teatro prof issional paulist ano. Em 1944 o
grup o amador Os Comediantes fez uma temp orada no Teatro
Municipal de S ão Paulo. Escola de Maridos 27, de Moliére, Peléas
e Melisandra 28 de Maeterlinck, Um Capricho de Musset 29 e,
sobretudo, Vestido de Noiva 30 de Nelson Ro drigues, revelaram
a S ão Paulo uma nov a forma de conceber o espaço cênico.
Par tia-se dos signif ic ados embutidos no te x to, e não de uma
fórmula de cont ar história s. O olhar agora era dep osit ado
sobre a cena como um to do. Não est av a apena s na palav ra
falada e na s expressões do ator a resp onsabilidade de cont ar
a história . A iluminaç ão, a concepç ão espacial, a s soluçõ es
plá stic a s de cenário e f igurino t ambém fa ziam diferenç a . Na
prop ost a daquele grup o, a s ar tes v isuais da cena não eram 94
considerada s decoraç ão, e sim par te v it al da constr uç ão do
espet áculo. É bem verdade que isto se deve ao t alento de uma
geraç ão de ar tist a s dedic ada a criar um Teatro genuinamente
bra sileiro, ma s t ambém à s pesquisa s teatrais desenvol v ida s
na Europa tra zida s p or estrangeiros como Adolfo Celi, Aldo
Cal vo 31 entre outros.
27 Escola de Maridos – De: Molière/ Direção: Adacto Filho/ Cenografia: Tomás Santa Rosa
- Rio de Janeiro, 1943
28 Peléas e Melisandra – De: Maeterlinck/ Direção: Ziembinski/ Cenografia: Tomás Santa
Rosa - Rio de Janeiro, 1943.
29 Um Capricho – De: Musset/ Direção: Adacto Filho/ Cenografia: Agostinho Olavo - Rio de
Janeiro, 1943.
30 Vestido de Noiva - De: Nelson Rodrigues/ Direção: Ziembinski/ Cenografia: Tomás Santa
Rosa - Rio de Janeiro, 1943.
31 Aldo Calvo: (San Remo Itália 1906). Cenógrafo e figurinista. Arquiteto e cenógrafo de
Muitos ar tist a s c ario c a s encontraram em S ão
Paulo um c amp o fér til a ser arado, em contrap osiç ão à s
limit acões encontrada s no Rio de Janeiro. Ainda com resquícios
de costumes da ép oc a da cor te, o público da ent ão c apit al
do país, tinha um gosto teatral prov inciano e atra sado. Era
um público muito mais rígido no que concerne ao novo. A s
renov ações teatrais ocorrida s na v irada do século XIX na Europa
ainda não tinham chegado no Bra sil. Na déc ada de 40 ainda
lidáv amos com o cenário de gabinete, p onto, telõ es, sendo,
ainda , o ator principal o dono da companhia . S eus cenários
eram decorati vos, pint ados, e inv ariavelmente reutilizados
de uma peç a para outra . O público paulist ano f inalmente
identif ic av a e aceit av a a f igura do encenador, já p opular na
Europa , ma s ainda uma nov idade p or aqui. A dobradinha 95
do encenador Ziembinski e de S ant a Rosa marcou uma nov a
p ossibilidade para a Ceno graf ia bra sileira e paulist ana .
Vestido de Noiva, peç a ent ão inédit a de Nelson Ro drigues,
exigiu do cenógrafo e do diretor uma saída e xpressionist a
para o drama que pedia a encenaç ão em três dimensõ es:
Vestido de Noiva
realidade, alucinaç ão e memória . O espaço era di v ido em dois
andares, o que conferia liberdade de mov iment aç ão, em dois
planos diferentes, para a encenaç ão de uma trama que era
32 Espaço Cenográfico News, Ano I nº1, São Paulo, 1998, (pg.5)
genuinamente bra sileira , o mais imp or t ante para a direç ão
do TBC era a excelência de sua s mont agens. Tudo deveria ser
da maior qualidade: Dramaturgia , encenaç ão, Ceno graf ia etc.
Para isto mandou busc ar em seu país nat al prof issionais que
chegav am com a bagagem replet a de nov idades ar tístic a s.
Com est a f ilosof ia , o TBC mantinha elenco, ar tist a s e técnicos,
f ixos como uma companhia est ável, o que o impulsionou a
deixar de atuar de forma amadora e o obrigou a criar uma
empresa prof issional. Nest a ép o c a Adolfo Celi cunhou de
maneira diferente e mo derna o t alento já reconhecido dos
nossos ar tist a s amadores. Em not a no jornal O E st ado de S ão
Paulo surgiu a seguinte fra se:
33 Varga s , Maria Thereza & M agaldi , Sábato. Cem Anos de Teatro em São Paulo. São Paulo:
Editora SENAC, 2000. (pg.213)
Z ampari, o TBC mantinha of icina s de costura , marcenaria ,
cenotécnic a , contra-regragem e um depar t amento de efeitos
de luz. Todos os espet áculos que eram ali lev ados tinham
seus cenários, f igurinos e objetos de cena e xecut ados nest a s
of icina s. E st a infra- estrutura inédit a permitiu a continuidade
de pesquisa s e a qualidade de criaç ão e e xecuç ão da par te
v isual do espet áculo. O TBC não era apena s um teatro de
aluguel, como a maioria o é hoje, ma s um p ólo de pro duç ão
teatral na scido do sonho de ar tist a s amadores, ap oiado p or um
empreendedor que acredit av a que S ão Paulo merecia um Teatro
prof issional de qualidade. Era uma companhia permanente,
na qual c ada cenógrafo 34 realizav a seu trabalho integrado ao
grup o. Para isso mantinha-se no quadro de funcionários uma
excelente equipe de cenotécnicos. 98
Por ser a adapt aç ão de uma garagem, sem coxia
pela esquerda e com dua s coluna s no palco, este espaço de
encenaç ão não p odia ser considerado um mo delo da Caixa
Cênic a à it aliana , ma s era um espaço desaf iador para os
cenógrafos e cenotécnicos, que se v iram obrigados a colo c ar
toda a sua inventi v idade a ser v iço do espaço cênico, o que
ser v iu t ambém como propulsor para o desenvol v imento
da s técnic a s construti v a s e operacionais da realizaç ão
cenográf ic a . A sala mantinha a relaç ão front al, apena s com
platéia , e não comp or t av a o formato de frisa s e c amarotes.
Vale cit ar que Z ampari era dono t ambém da Vera Cr uz, uma
34 Alguns cenógrafos que trabalharam no TBC: Aldo Calvo, Bassano Vaccarini, Clóvis Graciano,
Cyro Del Nero e Gianni Ratto.
iniciati v a cinematográf ic a gigantesc a . Como industrial, era
a ssim que enxergav a o cinema . Por co erência não p o deria
fa zer diferente frente ao Teatro. Manteve, durante o temp o
em que esteve no comando da c a sa , a prop ost a de enc arar o
Teatro em S ão Paulo prof issionalmente, t anto no que dizia
respeito a qualidade ar tístic a como técnic a .
Mesmo sem grandes arroub os ou rompimentos
estéticos, cumprindo a prop ost a de tra zer a qualidade do
novo Teatro europeu para o Bra sil, a heranç a deixada pelo
TBC é inestimável. O trabalho de continuidade, mantendo
espet áculos em reper tório, e a e xigência de qualidade
comparada à s melhores companhia s do mundo, rompia
com a tradiç ão do improv isado, est abelecendo f inalmente
um Teatro ‘prof issional’ para a cidade de S ão Paulo. E ste 99
modo de fa zer teatral burilado, transformado p or ar tist a s
bra sileiros, foi difundido para fora de sua s inst alaçõ es através
de seus prof issionais, que trabalhav am t ambém para outra s
companhia s, ou fundav am a s sua s própria s, como é o c a so de
Maria Della Cost a e S andro Polloni com o Teatro Popular da s
Ar tes, de Tonia- Celi-Autran, de N ydia Licia e S érgio Cardoso
ou de Cacilda B ecker. E ste mov imento criou uma forç a p olític a
que tornou o Teatro Paulist ano v isí vel diante da s inst ância s
governament ais, que começ av am a compreender que est a
ar te não p oderia mais v i ver de mecenato. S eria preciso uma
p olític a cultural. Desde sua fundaç ão até o início da déc ada
de 60, o TBC cumpriu v ária s fa ses, com muitos perc alços
que lev aram ao seu declínio. Por ra zõ es ar tístic a s, so ciais e
econômic a s, ele não resistiu. Apesar de o edif ício teatral ainda
hoje funcionar à Rua Major Dio go, a S o ciedade Bra sileira de
Comédia não mais existe. O T BC como gr up o encerrou sua s
ati v idades em 1964, lev ando Vereda da Salvação 35 de Dia s
Gomes e dirigido p or Antunes Filho. Na s palav ra s do próprio
Z ampari, o TBC foi sem dú v ida a cellula mater do novo Teatro
paulist ano. Da produç ão ceno gráf ic a dest a ép o c a dest ac amos
a título de exemplo o espet áculo Ralé 36 .
A Cenograf ia de Tulio Cost a tinha uma elab orada
arquitetura cênic a . Ela fugia de telõ es e de simetria s, os
pés dos atores ganharam altura nos pratic áveis e esc ada s. A
sua comp osiç ão espacial impunha um cenário recor t ado que
emprest av a dramaticidade a encenaç ão.
Da s muit a s companhia s, de igual ou superior 100
qualidade ar tístic a surgida s em S ão Paulo, apena s uma era
comparável em estrutura ao TBC . Trat av a-se do Teatro Popular
de Ar te - TPA . S andro Polloni e Maria Della Cost a constr uíram
um teatro que lev av a o nome da atriz. Um teatro na Rua
Paim, com 400 b ons lugares. Um palco, sala de ensaios, bar
e saguão. Foi construído a dura s pena s uma vez que eles não
tinham a verba tot al do empreendimento. Foi lev ant ado um
empréstimo junto a uma imobiliária , f izeram um li v ro de ouro
para arrec adar verba , além de uma c ampanha de empréstimo
de mil cruzeiros a serem restituídos um ano ap ós a estréia . O
35 Vereda da Salvação - De: Jorge Andrade/ Direção: Antunes Filho/ Cenografia: Norman
West water. São Paulo, 1964.
36 Ralé - De: Máximo Gorki/ Direção: Flaminio Bollini/ Cenografia: Tulio Costa. São Paulo,
1951
TPA tinha em seu comando um pro dutor ousado e uma atriz
competente, que tinham em mãos o primeiro edif ício teatral
par ticular não adapt ado, ma s constr uído e pensado para f ins
teatrais. Descreve bem este esforço Décio de Almeida Prado
no preâmbulo da crític a do primeiro espet áculo da c a sa: O
Canto da Cotovia 37, de Anouilh.
37 O Canto da Cotovia - De: Jean Anouhil/ Direção e Cenografia: Gianni Ratto. São Paulo
1954.
38 Varga s , Maria Thereza & M agaldi , Sábato. Cem Anos de Teatro em São Paulo. São Paulo:
Editora SENAC, 2000. (pg.249)
39 Gianni Ratto: (Milão/1916 - São Paulo/2005) – Cenógrafo e Diretor de Teatro, fundou ao
lado de Paolo Grassi e de Giorgio Strehler o Piccolo Teatro de Milano. Veio para o Brasil, em 1954,
a convite de Sandro Polloni para dirigir a peça de inauguração de seu novo teatro. Desde então
dedicou sua carreira ao teatro brasileiro. Tem quatro livros editados:A Mochila do Mascate, uma
coletânea de escritos e fragmentos de memória. Editora Hucitec, 1996./ Antitratado de Cenografia
– Variações Sobre o Mesmo Tema. Editora Senac, 1999./ Crônicas Improváveis, ficção. Editora
Codex, 2002/ Noturnos, ficção. Editora Codex, 2005.
teatro, Com a Pulga Atrás da Orelha 4 0 , e A M oratória 41 . Ao
se desligar do grup o continuou no Bra sil: fez de S ão Paulo sua
cidade e do Bra sil o seu país. Sua c arreira é ar te inseparável
da História do Teatro e da Ceno graf ia Paulist ana .
A p a r t i r d o T B C , d o T PA , e d e s e u s
d e s d o b r a m e n t o s, f o r m o u - s e u m a n o v a g e r a ç ã o d e c e n ó g r a f o s
p r o p o n d o C e n o g r a f i a s q u e e x i g i a m q u a l i d a d e a r t íst i c a ,
c o n ce i t u a l e d e e xe c u ç ã o. Cr e s c i a o n ú m e r o d e e sp e t á c u l o s
e m c a r t a z p r o d uzi d o s e m S ã o P a u l o. P a r a a t e n d e r a e st a
demanda criou-se também uma geração de técnicos mais
b e m p r e p a r a d a n o s m o d o s d e c o n st r u ç ã o c e n o g r á f i c a e n o
f a ze r t e a t r a l, o u s ej a : t a m b é m s e t o r n a r a m p r o f i ssi o n a i s o s
n o ss o s e xe c u t o r e s cê n i c o s. O q u e é a f i n a l u m p r o f i ssi o n a l ? É
a n t e s d e t u d o a q u e l e q u e c o n s e g u e v i v e r d e s e u o f í c i o. D e st a
é p o c a p o d e m o s c i t a r p e l o m e n o s d o i s n o m e s: A r q u i m e d e s 102
R i b e i r o e J o s é A n t o n i o G o m e s - Pupe 42 .
43 José Renato: Renato José Pécora (São Paulo SP 1926). Diretor. Fundador e idealizador
do Teatro de Arena. No intuito de empenhar-se na experimentação do formato arena, articula
uma companhia que a realize, fundando o Teatro de Arena de São Paulo, em 1953. A primeira
montagem, sob sua direção, ocorre no Museu de Arte de São Paulo, Masp (ainda na Rua Sete de
Abril), com Esta Noite É Nossa, de Stafford Dickens. O pequeno repertório formado nos anos
subseqüentes apresenta-se em fábricas, clubes e escolas, até ser adaptada a sala que é sede
do empreendimento, na Rua Teodoro Baima, em 1955. Retirado do site: http://w w w.itaucultural.
org.br/aplicexternas/enciclopedia _teatro/index.cfm? fuseaction=personalidades_biograf ia&cd_
verbete=778 em 06/09/2007.
econômic a da história em quest ão. Por e xemplo: em Eles Não
usam Black Tie 44 , hav ia uma espécie de cerc a baixa , como
se a s paredes do barraco ti vessem sido cor t ada s para que o
público pudesse ver o que se pa ssav a lá dentro. Ela s eram não
apena s a di v isão dos espaços da cena , ma s a simplicidade da
moradia .
44 Eles Não Usam Black Tie - De: Gianfrancesco Guarnieri/ Direção: José Renato/ Cenografia:
não há registro. São Paulo, 1958.
45 Declaração de Flávio Império em entrevista cedida a Margo Milleret em 07 de abril de
1985, como parte integrante da sua dissertação de mestrado defendida na Universidade do Texas:
“Teatro Arena and the Developmennt of Brazil’s national Theater” 1986. Retirado do CD Room feito
por ocasião do projeto Cia. Livre Conta Arena 50 Anos
E st a s são a s palav ra s de Fláv io Império 46
descrevendo os princípios cênicos do Arena .
Em espaços de arena , ou semi-arena , onde o
público est á muito per to da aç ão, a pintura em per spec ti v a
não é o melhor recur so a ser utilizado. A e x trema proximidade
requer um recur so simb ólico. Nestes c a sos o f igurino e os
objetos de cena tomam para si uma imp or t ância muito grande
no que diz respeito a comunic abilidade da obra , como em
Arena Conta Zumbi 47, com f igurinos e Ceno graf ia atuais
e simplif ic ados, como comprov am a s palav ra s do próprio
cenógrafo:
46 Flávio Império: (1935-1985) – Pintor, cenógrafo, desenhista, escultor, ilustrador, figurinista,
diretor de arte, arquiteto e professor. Formado pela FAU/USP em 1961. A partir da década de
1960, produz cenários e figurinos para diversas peças teatrais, entre elas, Morte e Vida Severina,
de João Cabral de Melo Neto em 1960; Arena Conta Zumbi, de Gianfrancesco Guarnieri, em 1965;
Roda Viva, de Chico Buarque, em 1968; e A Falecida, de Nelson Rodrigues, em 1978. Em sua
extensa atividade docente, leciona na Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo
- E AD/USP, entre 1962 e 1966; na FAU/USP, entre 1962 e 1977 e em 1985; na Fundação Armando
Álvares Penteado - Faap, entre 1964 e 1967; e na Faculdade de Belas Artes de São Paulo, entre
1981 e 1985.
47 Arena Conta Zumbi – De: Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri/ Direção: Augusto Boal/
Cenografia Flávio Império/ São Paulo, 1967.
Arena Conta Tiradentes uma calça Le e crua (...). Ficou essa idéia de que a p e ça
se passava como se fosse na sala de visitas de uma
família burguesa e rica, contando a história do p ovo.
(...) O teatro era uma grande sala de visitas, onde se
contava unia história. Isso que f icou. E foi muito b em
re cebido p orque era muito b onito. Era simples e lindo.
Era enxuto e lindíssimo.” 48
53 Andorra – De: Max Frish/ Direção: José Celso Martinez Corrêa/ Cenografia: Flávio Império
– São Paulo, Teatro Oficina 1964.
54 Os Sertões - De Euclides da Cunha/ A Terra, Homem-1, Homem-2, A Luta-1, A Luta-2 Direção:
José Celso Martinez Corrêa. São Paulo, de 2001 a 2006.
No f im da déc ada de 60, V itor Garcia 55 veio a S ão
Paulo e encenou dois espet áculos de grande imp or t ância para
o Teatro e para a Cenograf ia . Cemitério de Automóveis 56 era
uma cena integrada , qua se sem limites. Com c arros empilhados
pela s paredes e c adeira s giratória s disp ost a s pelo espaço,
que era uma antiga garagem de automóveis transformada e
adapt ada para receber a encenaç ão.
55 Vitor Garcia: Vitor Garcia Tucumán (1934-1972), Argentino, diretor de teatro, notabilizou-se
pelo arrojo de suas montagens, no Brasil e na Europa. Veio para o Brasil em 1967, convidado pela
Ator\atriz e empresária Ruth Escobar.
56 Cemitério de Automóveis - De: Fernando Arrabal/ Direção e Cenografia: Vitor Garcia/ São
Paulo, 1968.
57 Retirado da Enciclopédia Itaú Cultural virtual, no dia 25/08/2007, no seguinte link: http://
w w w.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia _teatro/index.cfm?fuseaction=espetaculos_
biografia&cd_verbete=472
58 O Balcão - De Jean Genet/ Direção:Vitor Garcia Cenografia: Wladimir Pereira Cardoso/ São
Paulo,1969.
" D e zoito p esso as e eu trabalhamos durante
cinco meses, 20 horas p or dia, para realizar o cenário
de O balcão. To dos dormíamos no Teatro Ruth Escobar,
distribuídos até p elo teto [...].
D esde meu primeiro cenário, [...] eu tinha a
pre o cupação das soluçõ es ver ticais. Ali, dentro do palco
italiano, construí um edif ício de cinco andares." 59
59 Depoimento de Wladimir Pereira dos Santos in programa do espetáculo O Balcão, Teatro
Ruth Escobar, 1969.
60 M ostaço , Edelcio. O Balcão. Palco e Platéia, São Paulo, ano 1, n. 4, p. 49-54, dez. 1986.
pais não ia bem, os custos de pro duç ão aument ando p or dia ,
a falt a de subsídio do governo era uma const ante, e a censura
no enc alço do criador. Não era p ossí vel manter espet áculos
em reper tório. Por isso a pro duç ão teatral teve que ser
redesenhada , cor t ar custos. Jovens e ar tist a s, resistentes
a est a s dif iculdades, se dedic av am em conjunto a to da s a s
funções exigida s pelo espet áculo. Eram a s criaçõ es coleti v a s.
E st a foi uma ép oc a em que a s f igura s do cenó grafo tradicional
e de seus realizadores se diluíram: ti veram os limites de sua s
funções inv adidos pelo pro cesso de criaç ão coleti v a . A f igura
do cenógrafo era confundida com o gr up o, e muit a s vezes
não era possível separá-las de diretores, atores, pintores e
autores. Os jovens estudantes fa ziam um Teatro que exigia
pouca técnica e vir tuosismo estético. Mesmo que com caráter 113
mais despojado, e realizado pelos próprios integrantes do
grupo, a Cenograf ia sempre constou da composição cênica. O
que não mais se viu nas f ichas técnicas destes grupos foram os
nomes dos cenotécnicos e, principalmente, dos maquinistas.
Eram os casos de grupos como Vento For te, que tinha quase
a totalidade de sua visualidade desenvolvida pelo diretor Ilo
Krugli, ou do Pod de Minoga, em que seus integrantes assinavam
em conjunto seus cenários e f igurinos.
A par tir destas iniciativas - Arena, Of icina, e
espetáculos de criação coletiva - estabeleceu-se em São Paulo
a cultura de Teatro de Grupo. Ar tistas unidos em torno de uma
mesma estética e ética cênicas. Núcleos enxutos, nos quais
seus integrantes têm função def inida. Mesmo que realizem
espetáculos de grande por te, contratando elenco e técnicos
extras, a condução dos trabalhos do grupo, a médio e longo
pra zo, é feita por um núcleo f ixo e reduzido. É o caso dos:
Ornitorrinco, Parlapatões, Patifes & Paspalhões, Circo Mínimo,
Pia Fraus, L a Mínima, Cia. do L atão, Grupo XIX de Teatro, Cia.
do Feijão, Teatro da Ver tigem, Cia São Jorge de Variedades.
Se a década de 60 foi dif ícil para os nossos técnicos,
criados na iniciativa do Teatro prof issional dos anos 40 e 50, o
desfacelar das produções de reper tório, a estética simplif icada
dos novos grupos de Teatro, e a redução da utilização das
técnicas da Caixa Cênica tradicional, espalhou-os, durante a
déc ada de 70, p or di ver sa s área s além do Teatro: Cinema ,
Telev isão, Desf iles, Eventos.
114
4 -A Re aliz aç ão Cenogr áfic a
Contempor âne a Na Cidade de
São Paulo : 115
R oubine , J e an -J acque s . A Linguagem da Encenação Teatral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
1998. (pg. 121)
A linguagem ceno gráf ic a é ba seada em forma s,
cores, volumes, tex tura s e mov imentos. Um cenário não usa
palav ra s, não descreve: ele mostra . S em subter fúgios, a
Cenograf ia é cruel, não se tem como escondê -la , a não ser
apagando a s luzes. Utiliza-se de br ut alidade ou de leveza .
Ora é hermétic a , ora é irrit antemente óbv ia . A Ceno graf ia 116
melhor ser v irá à Dramaturgia , não imp or t ando a linguagem
utilizada , quanto mais e xpressar pla stic amente o conteúdo
de um espet áculo, quanto melhor dominar os elementos da
expressão gráf ic a: cor, te x tura e forma . S egundo Gianni Rat to
hoje em dia “a s ar tes plá stic a s e a s ar tes ceno gráf ic a s muit a s
vezes são feit a s como um f lash, como uma charge , e isto c ausa
o emp obrecimento da qualidade técnic a e estétic a .” A pressão
exercida p or par te do merc ado, para um result ado criati vo e
inov ador, não obst ante a pressa e a falt a de verba a que a
criaç ão e a realizaç ão são submetida s, é um a ssunto ba st ante
discutido, hoje em dia , entre os cenó grafos e f igurinist a s.
Quando se tem uma fórmula ou um padrão, como nos cenários
de telões, a v ariedade de técnic a s e pro cedimentos tem um
limite pré - est abelecido. Quando se fala de criar uma linguagem
a c ada mont agem, o pro cesso é outro. Para isso é preciso
adquirir ao longo da v ida uma bagagem técnic a e estétic a
ampla , e est ar disp osto a reinvent ar o sistema de e xecuç ão a
c ada vez. Isso toma temp o, e é preciso um desprendimento e
uma generosidade que nem sempre o merc ado est á disp osto
a banc ar. Qua se sempre o result ado dest a equaç ão é um
trabalho aquém da s p ossibilidades ar tístic a s, mesmo quando
se pensa no moderno teatro da Caixa Cênic a lev ado em palcos
à it aliana , onde há um controle satisfatório do ambiente.
Mesmo a ssim, é p ossí vel identif ic ar na Ceno graf ia mo derna
procedimentos novos e criati vos, bem como pro cedimentos
clá ssicos bem utilizados e adapt ados a realidade dos espaços
cênicos atuais. 117
C aixa C ênica
Trilogia Kafka - Um Processo, Uma Metamorfose e Praga – Direção: Gerald Thomas/ Cenografia:
Daniela Thomas – 1988.
The Flash and Crash Days – De Geraldo Thomas/ Direção: Gerald Thomas/ Cenografia:
Daniela Thomas - 1991
Rosco – empresa norte-americana com filial em São Paulo que desenvolve material para
Cenografia e iluminação cênica. Eles tem uma tela de filó, como uma rede muito fina e resistente
que é preparada sem costura, em grande largura e comprimento.
Don Juan - De Moliére – Direção: Moacir Chaves/ Cenografia: Daniela Thomas - (projetado e
construído em São Paulo) Estréia no Rio de Janeiro. 1996
teve sua estrutura muito parecida
com o sistema de p oléia s usado
para fa zer palcos e elev açõ es
de piso nos teatros dos séculos
X V III e XIX . Só a ssim, com peç a s
leves e desmont áveis é que foi
p ossí vel v iajar em turnê com o
espet áculo e apresent á-lo em
v ária s cidades do Bra sil. Da mesma forma em 1996, em uma
mont agem de Quar tett dirigida p or Gerald T homa s, hav ia um
cenário de grandes paredõ es desmont áveis
em pequena s peç a s de fácil manuseio. Eram
seis paredes laterais de 4m x 1,80m, dua s
t apadeira s para ac abamento front al de 4m 119
Quartett - Projeto
Desenhos Luciana Bueno x 2,20m, e um fundo de 6m x 12,20m. Ela s
eram di v idida s em peç a s de no má ximo 2,70m
x 1,22m unida s com parafusos pa ssantes e
b orb olet a s. Para f inalizar a estr utura c ada
parede recebia uma dupla de travessõ es que
ev it av a que os parafusos recebessem esforço
excessi vo. Coloc ado na ver tic al, ap oiado no chão, trav ado
pelos pés e pela c abeç a , ela s eram erguida s em conjunto. A s
menores p or três pessoa s, já a maior pedia sete pessoa s, ma s
a mont agem em si era p ossí vel ser feit a em dua s pessoa s.
E ste espet áculo teve a felicidade de v iajar muito pelo interior
Quarttet- De Heinner Muller – Direção: Gerald Thomas/ Cenografia: Luciana Bueno (Projetado
em São Paulo). Construção e estréia pelo Festival de Teatro de Curitiba. 1996.
do E st ado de S ão Paulo onde sempre encontrou técnicos
conhecedores dos procedimentos ceno gráf icos disp ostos a
ajudar a mont á-lo, uma vez que hav ia apena s uma pessoa
resp onsável pela Cenograf ia v iajando com a equipe.
Como v ários teatros em S ão Paulo não disp õ e
de urdimento, muitos dos cenários projet ados lev am em
consideraç ão apena s o piso para se estr uturar. Nem sempre
se p ode cont ar com p ontos de ap oio no
Don Juan - Cia. de Ópera Seca
teto. No espet áculo D on Juan , Desenhos Luciana Bueno
Don Juan. Texto de Otavio Frias Filho. Direção e Cenografia: Gerald Thomas. São Paulo,
1995.
do Interior , show da dupla ser t aneja Chit ã zinho & Xororó
(descrit a logo abaixo) ma s a s dimensõ es operístic a s do
cenário exigiram que a constr uç ão fosse realizada p or um
cenotécnico conhecedor dos pro cedimentos da Caixa Cênic a ,
o Pupe, e não p or um constr utor. Alguém com ' vo c abulário e
sint a xe' como disse Cy ro Del Nero em uma declaraç ão sobre
o a ssunto.
Em shows de estrada , que têm estr utura f inanceira
e de produç ão, chega-se ao cúmulo de lev ar a Caixa Cênic a
em si, e nela toda a estrutura de palco; aérea (para Ceno graf ia
e Iluminaç ão), coxia s e c amarins, ou seja: um teatro p or t átil
de dimensões consideráveis. Festa do Interior é um desses
c a sos. Optou-se p or um cenário pi vot ante que lembrav a o
sistema de periac tos gregos , ma s com dua s faces apena s. De 121
um lado a s t apadeira s colo c ada s na p osiç ão A , semi-aber t a s,
Festa do Interior - Maquete Eletrônica indic av am uma f lorest a , e na p osiç ão B , fechada s, formav am
um seqüência de c a sa em formato de U, que lembrav a uma
praç a de cidade do interior. E ste sistema foi desenvol v ido
especialmente para est a Ceno graf ia p or um maquinist a de
cinema chamado Pará . A s perna s foram estr uturada s em
tubular de alumínio para que f ic a ssem leves e resistentes.
O sistema de mov iment aç ão foi eletric amente comandado
p or um comput ador, que controlav a o temp o e a velo cidade
do giro. Um motor em c ada lado comandav a uma série de
roldana s unida s p or uma correia de b orracha .
Festa do Interior Show Musical Chitãozinho e Xororó – Direção: Ney Matogrosso/ Cenografia:
Luciana Bueno. São Paulo, 2002.
“ O construtor constrói e colo ca em cima do
palco as p e ças construídas. M onta as p e ças. Ponto
f inal. O cenoté cnico constrói e colo ca em cima do
palco, obser va o que resultou, acaricia o que fe z, f ica
até o último momento af inando o cenário, corrigindo,
dando - lhe to ques (...) até que a cor tina se abra. N o dia
seguinte volta para novas af inaçõ es.
Ele (o cenoté cnico) sab e o que p o de render a
Caixa Cênica e conhe ce “ manobras” cenoté cnicas que
tramam as combinaçõ es inf initas de efeitos (...). Ele
tem vo cabulário e sintaxe .”
silêncio da aç ão era
p ossí vel ou v ir o som do
motor, o que quebrav a
complet amente o clima
da cena . Para operar a s
v ara s mec ânic a s hav iam
dois a ssistentes, além
do técnico de palco da c a sa , que e xerciam a s funçõ es de
contra-regra , maquinist a e ainda fa ziam f iguraç ão. Dest a
maneira eles p odiam execut ar v ária s mudanç a s de cenário
à v ist a do público, complet amente integrados na aç ão do
espet áculo.
Quaff
Ma s est a peç a , como outra s pro duzida s pelo 123
mesmo grup o, não seguiu em temp orada , p ois seu custo de
mont agem e manutenç ão se tornou inv iável.
Outro b om e xemplo de aplic aç ão de mudanç a s
rápida s de cenário foi o espet áculo Quaf f 12 que Gianni Rat to
projetou para o palco do T BC . Eram três cenários: três cômo dos
que funcionav am um dentro do outro. S obre um trilho guia
inst alado no piso do palco, corriam dois c arros empurrados
p or maquinist a s, com peç a s de cenários mont ada s, que ao se
junt arem, formav am um pequena sala (1). A mov iment aç ão
dest a s peç a s era feit a durante a encenaç ão. E ste mesmo
sistema de troc a de cenários é feit a t ambém em grandes
12 Quaff (Letice and Louvage) – De Peter Shaffer/ Direção: José Renato/ Cenografia: Gianni
Ratto – São Paulo 1990.
palcos de festi v ais de músic a , para permitir a tro c a rápida
do equipamento da s banda s já pré -af inados e equalizados.
A diferenç a é que, neste c a so, to do esse sistema é acionado
eletric amente. O cenário projet ado p or Gianni Rat to tinha
sua estrutura toda feit a nos moldes clá ssicos de constr uç ão
cenográf ic a , como mostra a f igura ao lado: trainéis armados
em sarrafo com cober tura de madeira para a s peç a s f ixa s,
e de tecido para a s que e xigiam mov iment aç ão; travessa
de c abeç a para unir dois trainéis; c aixa de peso na ba se da
estrutura para equilibrar o peso durante a mov iment aç ão da
mesma; trav a s de ângulo e e xemplo de como estr uturar uma
aber tura em cur v a num painel.
O teatro Anchiet a recebeu t ambém um espet áculo
chamado Velhos Marinheiros 13 . Com estétic a limpa , hav ia 124
no palco uma s dua s dezena s de c aixotes leves e grandes.
O fundo do palco era neutro, o piso era de madeira . To da a
estrutura da encenaç ão est av a no fosso do palco. Os atores,
em mov imento coreografado, deslo c av am a s c aixa s criando
volumes cenográf icos. Vária s da s entrada s e saída s de cena
se fa ziam na ver tic al. E scondidos pelos c aixotes, v ia alç ap õ es
disfarç ados na s linha s da t ábua do chão, os atores se retirav am
da cena . Soluç ão simples e mágic a .
E ste recur so de surgir e desaparecer pelo chão
é t ambém muito usado p or Zé Celso14 , p ois a simb olo gia
13 Velhos Marinheiros – Inspirado na obra de Jorge Amado – Direção: Ulisses Cruz/ Cenografia:
São Paulo, 1985.
14 Zé Celso: José Celso Martinez Correa (Araraquara SP 1937). Diretor, autor e ator.
Destacado encenador da década de 60, inquieto e irreverente, líder do Teatro Oficina, uma das
que este mov imento suscit a é de v it al imp or t ância para sua
prop ost a ar tístic a . O teatro O f icina não
é um espaço cênico tradicional, ma s é
historic amente convencionado para a
cena . A ssim sendo, mesmo sem v ara s,
rotunda s ou bamb olina s, ele t ambém é
uma Caixa Cênic a , ou em melhor termo,
um corredor cênico. Sua maior qualidade
é, sem dú v ida , ser um espaço v i vo em
const ante transformaç ão, que acompanha a s necessidades da s
encenações ali prop ost a s. Sua última mo dif ic aç ão, comandada
p or Osv aldo Gabrielle15 , abriu abaixo do piso, em substituiç ão
a um pequeno fosso de p oucos metros quadrados, uma galeria
que permite aos atores surpreenderem o público em p ontos 125
inusit ados do teatro, efeito similar ao do sistema de alç ap õ es
e quar telada s da Caixa Cênic a à It aliana .
E como último e xemplo, a presenç a dos cenários
de gabinete ainda hoje nos palcos paulist anos. O espet áculo
companhias mais conectadas com o seu tempo. Encena espetáculos considerados antológicos,
tais como Pequenos Burgueses; O Rei da Vela; e Na Selva das Cidades. Nos anos 1970, vivencia
todas as experiências da contracultura, transformando-se em líder de uma comunidade teatral
e das montagens de suas criações coletivas. Ressurge nos anos 1990, numa nova organização
da companhia, propondo uma interação constante entre vida e teatro. Retirado do link: http://
w w w.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=personalidade
s_biografia&cd_verbete=776 em 09/09/2007.
15 Osvaldo Gabrielle: Nascido em Buenos Aires formou-se me artes plásticas. Desde os
dezesseis anos trabalhou jnto a importantes diretores do Teatro argentino, relizando máscaras,
cenografias e figurinos, dando sempre destaque especial ao Teatro de títeres. Em 1980 viaja para
o Brasil radicando-se em São Paulo.Em 1984 funda, e passa a dirigir o Grupo XPTO. Retirado do
link: http://w w w.grupoxpto.com.br/osvaldogabrieli.htm em 09/09/2002.
Insônia16 do grup o de teatro Le Plat du Jour, era to do pa ssado
num lab oratório improv isado no p orão de uma c a sa . A temátic a
era outra , diferente daquela da s comédia s de costumes
pa ssada s em c a sa s burguesa s: trat av a da loucura cômic a
e cruel de dua s crianç a s criada s dentro de um lab oratório.
A Dramaturgia pedia a sensaç ão de clausura . Foi criado
ent ão, um cenário em U comp osto de paredes de a zulejo em
per spec ti v a . Não hav ia janela , ma s apena s uma p or t a no fundo
que era mantida sempre fechada , e apesar de um inter v alo no
desenho da s paredes laterais, se alc anç av a , aliando encenaç ão
e Cenograf ia , uma cer t a sensaç ão claustrofóbic a .
126
Insônia
16 Insônia - De Alexandra Golik, Direção: Le Plat Du Jour e Alexandre Roit/ Cenografia: Luciana
Bueno. São Paulo, 2002.
E spaços N ão C onvencionados par a a C ena
S ão
muitos os gr up os de teatro est abelecidos
em S ão Paulo que pleiteiam um trabalho de continuidade, ma s
são raros os que tem o acompanhamento de alguém pensando
a ar te v isual do espet áculo. E st a seria sem dú v ida uma b oa
atitude para for t alecer nossos técnicos, ar tist a s e o próprio
Teatro: que cenógrafos e f igurinist a s erra ssem e acer t a ssem
junto a atores e diretores, e com isso desenvol vessem uma
linguagem própria . Marcos Pedroso é uma e xceç ão que
conf irma a regra , seja trabalhando com o Teatro da Ver tigem
ou com Cibele Forja z em Woy zeck. 127
Woyzeck – De Georg Büchner/ Direção: Cibele Forjaz/ Cenografia: Marcos Pedroso – São
Paulo, 2002.
Depoimento de Marcos Pedroso em entrevista a autora em 30/04/2002. .
Marcos tinha o conceito do espet áculo como
p onto de par tida para o desenho de sua Ceno graf ia . Materiais
eram trabalhados, e a par tir do pro cesso da compreensão
da s sua s natureza s, e da s p ossibilidades de relaç ão entre
Não Escrevi Isto
estes materiais e o conceito prop osto pela encenaç ão, é
que a Cenograf ia tomav a sua forma def initi v a . E ste mo do
de fa zer teatro demanda temp o, é sempre demorado. Foram
cinco meses em Woyzeck , e mais de um ano em Livro de Jó .
O cenógrafo e o técnico tinham que est ar disp oní veis para
descobrir, aprender e apreender juntos est a nov a relaç ão
entre ocupaç ão espacial, material e forma de realizaç ão.
Já Não Escrevi Isto , apesar de sua s grandes
prop orções, foi realizado em dois meses. Desenhada para um 128
espaço li v re de uma quadra de esp or tes do SE SC Pompéia , a
Não Escrevi Isto - Cenário da 'Rua'
Cenograf ia era comp ost a de 6 par tes que o público
percorria ao longo espet áculo. O cupav a 1200m 2
desde a sala de espera até a última cena . Hav ia um
sistema de est ações inspirado no Teatro Mediev al:
8 cenários disp ostos ao longo de uma c alç ada de
25m x 3,5m: os fundos de um rest aurante, uma
cruz, o interior de um rest aurante, a S ant a Ceia ,
os fundos do rest aurante reduzido, um cemitério,
um hospit al e uma esquina . Na seqüência do espet áculo a
Livro de Jó – Dramaturgia: Luiz Alberto de Abreu/ Direção: António Araújo/ Ambientação
Cenográfica: Marcos Pedroso – Grupo Teatro da Vertigem. São Paulo, 1995.
Não Escrevi Isto - Texto e Direção de Hugo Possolo/ Cenografia: Luciana Bueno . São Paulo,
1998.
arquibanc ada , com público
de no má ximo 80 pessoa s,
acompanhav a os atores. No f im
da rua, justamente no cenário da
esquina , a arquibanc ada sofria
um giro de 90 0 , revelando um
espaço de 120m 2 todo branco,
em contra ste com o clima
soturno do primeiro espaço.
Nele os atores av anç av am
sobre a arquibanc ada que se
desloc av a para trá s bem dev agar, dando a idéia de que a
Não Escrevi Isto aç ão empurrav a o público. To da a mov iment aç ão era feit a
p or dois contra-regra s, e para constr uir est a arquibanc ada 129
foi chamada uma empresa de engenharia que trabalhav a
com grandes estrutura s tubulares . O rest ante dos espaços
o espec t ador percorria a pé: uma Igreja Ev angélic a que se
transformav a em tribunal, um espaço onírico de pa ssagem
todo colorido que unia a igreja ao palco f inal, este limp o
de decoraç ão, deixando transparecer a arquitetura do lugar.
E st a mov iment aç ão desv ir tuav a a orient aç ão espacial do
público, que saia sem saber p or onde tinha entrado, e qual
seria a geograf ia do espaço percorrido. Isso era v ant ajoso,
p orque eles se entregav am com mais facilidade à história e
à v i vência teatral. A estr utura dramatúrgic a era teatral, ma s
a realizaç ão dest a Ceno graf ia , em termos de pro duç ão, se
aproximou muito da s realizaçõ es de eventos. Para e xecuç ão
Não Escrevi Isto da estrutura de madeira foi preciso recorrer a alguém que
ti vesse equipe e experiência em constr uç ão rápida e no lo c al.
O que garantiu a estétic a teatral foi o ac abamento. O gr up o
tinha a plá stic a de seus espet áculos ba seada em contra stes
de luz e cor, forma s for tes e essenciais cober t a s de muit a
tex tura . E ste conjunto eles chamav am de “ Teatro Sujo”. Para
adereços, pintura , revestimento e te x tura s, foi organizada
uma of icina de com 17 integrantes que e xecut aram to do o
trabalho.
Os trabalhos aqui cit ados tinham uma outra
c arac terístic a , que era a utilizaç ão de espaços não
convencionados para a cena . Com isso, não apena s materiais,
ma s o modo de operar o espet áculo, tinham que ser rev istos
a c ada mont agem, com o agrav ante de que a s funçõ es de 130
maquinaria (operaç ão da Ceno graf ia) e contra-regragem
(operaç ão dos objetos de cena) eram e xercida s, muit a s
vezes, pelos próprios atores. Também estes prof issionais,
maquinist a s e contra-regra s, deveriam ser criati vos e li v res
em seus inventos. Cabia ao cenó grafo e aos cenotécnicos
criarem forma s prátic a s de mont agem e operaç ão, p ossí veis
de serem execut ada s durante o espet áculo e até em cena
aber t a , fa zendo a ssim par te da encenaç ão.
C irco -Teatro
A
inf luência náutic a na s Ar tes Cênic a s aparece
t ambém num outro sistema ar tístico: o Circo. A imagem de um
circo se a ssemelha a uma nau emb orc ada , com seus ma stros
e ma st aréus espiados com c ab os, e sua s vela s no papel dos
'panos' que comp õem a lona . Os nós, a s laç ada s, os sistema s
de contrapeso e giro; muit a coisa est á preser v ada na s mãos
destes ar tist a s que hoje aliam antigos conhecimentos aos
modernos equipamentos v indos de área s como o alpinismo e
o para- quedismo e outros, como alega Ro drigo Matheus :
Rodrigo Matheus: Diretor, Ator e Circense. Formado em Artes Circenses pela Circo Escola
Picadeiro de São Paulo e Fool Time Circus Arts da Inglaterra, Rodrigo Matheus iniciou sua
carreira teatral em 1978 e sua carreira circense em 1985. Como professor de técnicas
circenses aplicadas ao teatro, além de várias oficinas ministradas pelo Brasil, Rodrigo Matheus
é professor convidado do Circus Space, de Londres, Circus Oz e Flying Fruit Flys da Austrália,
do Ballet da Cidade de São Paulo e da Escola Livre de Teatro de Santo André. Retirado
do link: http://www.circominimo.com.br/Gerais/rodrigo_port.htm em 07/09/2002.
Rodrigo Matheus em entrevista cedida a autora em março de 2002.
Formato Elisabetano de seus ar tist a s, que criam seus próprios números e são
ou Isabelino
resp onsáveis pelos seus 'aparelhos ' , gera a facilidade destes
em acumular e manter v i vos conhecimentos de operaç ão e
mont agem cênic a s, como a s técnic a s de ma stros, panos,
roldana s, vôos e nós. Ao olhar um circo, mesmo o mo derno
Cirque du Soleil, p odemos nos enganar e pensar que não há
Cenograf ia . A Cenograf ia do Circo é a o cupaç ão do espaço
global, que p ouc a s vezes é t ão bem aproveit ado. O Circo
ocupa o espaço tridimensionalmente. Aéreo, e com seu
piso em formato circular, encenar ali é qua se como encenar
dentro de uma esfera . Diferente do cub o front al da c aixa à
it aliana tradicional, que colo c a o público como espec t ador
de uma tela , a s manifest açõ es circenses busc am se colo c ar
no centro da encenaç ão, com o público ao seu redor, a ssim 132
Naumáquia e
Cenografia de como era o Teatro inglês do século X V I – Elisabet ano. Em
História de Pescador
História de Pescador , adapt aç ão li v re do li v ro 'O velho e
o Mar ', de Ernest Heming w ay, o palco era uma piscina onde
o prot agonist a navegav a em um pequeno b ote de f ibra de
v idro. A Natureza e a Prov idência Di v ina eram represent ada s
p or um grup o de circenses enc arapit ados em uma grossa e
pesada rede feit a de corda s e presa no teto, fa zendo a s vezes
de urdimento. A s paredes foram to da s revestida s de tecido
de malha elá stic a a zul (Lycra) e a s água s da piscina- cober t a
ganharam profundidade, p orque um enorme 'lençol' feito de
um grosso plá stico preto foi acomo dado no fundo, deixando
hav ia um mosquet ão ,
e o barulho result ante
dest a subida nos
História de Pescador fa zia ou v ir o som de
muitos c aranguejos
se afa st ando. E st a
era uma cena originalmente técnic a - os ar tist a s precisav am
ocupar sua s p osições na rede acima da piscina - ma s se tornav a
ex tremamente p oétic a e necessária para a narrati v a .
Peça metálica: elo com abertura e trava destinada a unir um ponto móvel a um ponto
de ancoragem (cordas, laço e argolas). Equipamento de segurança usado principalmente por
alpinistas e trabalhadores da construção civil.
Babel Em Babel , outro espet áculo da mesma equipe,
a premissa espacial foi diferente. Por três telõ es disp ostos
em U, imprimiu-se ao mesmo temp o, a sensaç ão interna e
ex terna de prédios urbanos. Pela luz
e pela transparência , o cenário se
transformav a . Ele foi projet ado para
ocupar qualquer espaço que pudesse
receber o tecido: um galpão, um teatro,
uma v iga . O mais imp or t ante era a
altura mínima de 8 metros. No trabalho
com o Circo, seja ocupando espaços
arquitetônicos específ icos, seja um sistema independente
p ossí vel de ser mont ado em lugares com p ouc a infra- estr utura
cênic a , f ic a ev idente a indisso ciável relaç ão entre técnic a e 134
ar te, entre técnic a e plá stic a .
A Rua
A Tela
12 R oubine , J e an -J acque s . A Linguagem da Encenação Teatral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
1998. (pg.121/122)
o Cinema , e fur tou deste a e xcelência . A cinemato graf ia
tem maior liberdade de comp osiç ão de imagem, e o olho da
c âmera , único e dinâmico, colo c a c ada espec t ador no 'lugar
do Rei', ampliando a s coxia s e permitindo que se esconda to da
maquinaria , todos os tr uques espet aculares da encenaç ão,
com muito mais propriedade do que o Teatro jamais fará .
Enquanto no Teatro temos uma convenç ão na
qual o público aceit a , num palco de 100m 2 , a represent aç ão
de uma v ila de 1000m 2 , na tela é realmente p ossí vel enganar
o espec t ador comum. Po demos nunc a saber se determinada
cena foi feit a em estúdio, pintura , chromakey 13 ou lo c aç ão. O
estúdio de grav aç ão e f ilmagem tem seu fundamento na Caixa
Cênic a à It aliana de formato mais barro co, e o Cinema e a
Telev isão, a s ar tes cênic a s da tela , utilizam o fundamento dos 138
inganni e milagres como ninguém. Um estúdio é pint ado de
Aplicação de cromakey
preto, rodeado p or um fundo inf inito equi v alente a perna s e
rotunda s, tem um for te grid em b oa altura no teto, e que permite
a inst alaç ão de todo tip o de luz e traquit ana s ceno gráf ic a s,
equi v alente a um urdimento. É como se trabalhá ssemos dentro
do palco com a cor tina fechada . A const ante mudanç a de
orient aç ão do olho do espec t ador através do cor te de cena ,
foco e enquadramento, reorient a t ambém a técnic a e seus
13 Toniett, Leandro, Análise de Algoritmos para Chroma-Key, Monografia, São Leopoldo -2000.
“Chroma-key é uma técnica de computação gráfica (na área de processamento de imagens) muito
utilizada em estúdios virtuais que é um processo de seleção de objetos (ou personagens) de uma
imagem, de forma a “eliminar” o fundo desta imagem (que deve ser de uma cor constante), para,
noutro momento, combinar uma outra imagem, chamada de imagem de fundo (background), a
fim de produzir uma nova cena. “Conceitualmente, a operação de chroma-key é simples: sobrepor
no foreground (imagem primeiro plano) o background (imagem de fundo), nos lugares onde o
foreground possui uma cor particular, conhecida como cor-chave (key color)”
prof issionais. No lugar de trabalhar em esc ala teatral, na qual
Cenário do Farol
Deserto do Atacama no estúdio/SP os cenários têm que ser feitos p or inteiro, no cinema p o de -
se trabalhar em esc ala foto gráf ic a , p o dendo ser constr uída s
apena s par tes dos cenários, p ois a c âmera permite escolher o
segmento dos atores e da cena a serem mostrados. No Teatro
a geograf ia da Dramaturgia deve ser igual a do desenho do
cenário, ou seja o cenário sempre est á p or inteiro, mesmo
que ele seja , uma par te de um objeto.
Estúdio São Paulo Em Unglauber 14 , espet áculo de Gerald T homa s,
hav ia a a sa de um av ião: p or mais que ela sugerisse a presenç a
do aeroplano p or inteiro, sabíamos que apena s a a sa est av a
efeti v amente construída ali. No Cinema a geo graf ia da
Dramaturgia p ode diferir complet amente do espaço cênico
Cenário do Farol
utilizado, de modo que f ic a muito dif ícil (ou imp ossí vel) para 139
no estúdio/SP
o espec t ador perceber a s mudanç a s de tip os de cená r io. A
ge o gr af ia p o de ser fr agment ada . No f ilme longa -metr agem
Acquária 15 , a s cena s e x ter na s de ma ior a mplitude for a m
f ilmada s no deser to do At ac a ma , no Chile, e a s cena s
Deserto do Atacama
e x ter na s de pla no mé dio for a m f ilmada s em uma tenda de
60m x 40m ada pt ada pa r a estúdio, lo c a lizada na cidade de
Va linhos, inter ior de S ão Paulo. A r uína de um fa r ol que
a pa r e ce no f ilme, foi r e gistr ada em dua s lo c açõ es difer entes:
no estúdio e no deser to. No pr imeir o, o fa r ol foi constr uído
16 Bia Pessoa: Artista plástica, formada em Geografia, atua como pintora de arte nas área de
cinema, publicidade, eventos e decoração.
do At ac ama foi conseguido colo c ando junto da mistura de
tint a , ma ssa e areia , a mic a em p ó17, em pedaços pequenos
e em lâmina s. Todo o revestimento da s paredes da s c a sa s
foi feito com uma mistura de c al, areia pigment ada e terra
de di ver sa s cores, que dav a o efeito de paredes de barro
seco e envelhecido. Para a ferr ugem foi utilizado ma ssa de
1 2
p ó de serragem pigment ado e cola . M a s m a i s i m p o r t a n t e
que a utilização de um m a t e r i a l i n c o m u m , é a d e s c o b e r t a
3
de sua utilização e a s i s t e m a t i z a ç ã o d e u m p r o c e d i m e n t o .
Vimos aqui uma repetiç ã o : c o m o n a ' b i b l i o t e c a ' d a T r i l o gi a
Processo de Kafka, a argamassa (ci m e n t c o l a ) f o i u t i l i z a d a d i r e t a m e n t e
pintura do interno
do farol.
para a obtenção do e f e i t o d e c o n c r e t o . C o m i s s o f o i
possível identificar um a t e n d ê n c i a . A p i n t u r a c e n o gr á f i c a
moderna buscou dar vo l u m e a p i n t u r a . O s o l h o s t r e i n a d o s 142
Interno do farol do espectador exigiram m a i s e l a b o r a ç ã o v i s u a l , e a t e x t u r a
trouxe a possibilidade d e u ma v o l u me t r i a f i n a , q u e s e b e m
iluminada, imprimiria v e r a c i d a d e a i m a g e m . E m t e m p o s
antigos, se resolveria o c a s o b u s c a n d o i m i t a r o r e v e s t i m e n t o
desejado através da pin t u r a , n o c a s o i m i t a n d o o c o n c r e t o .
A maior diferenç a da técnic a de Realizaç ão
Cenográf ic a construti v a do Teatro para o do Cinema é a leveza
e a praticidade de sua estr utura . No Teatro os cenários têm
uma v ida mais prolongada . Uma temp orada de Teatro, dura
143
E feitos C enogr áficos
18 Martão: Vagner Aparecido Martão: Bombeiro por profissão se envolveu no cinema fazendo
segurança de efeitos perigosos no set de filmagem cuidando para que ninguém se machucasse,
nem equipe, nem elenco nem o equipamento de câmera. Hoje, ele mesmo produz efeitos de fogo,
água e ainda trabalha com segurança corporal.
utilizado um equipamento comp osto p or b omba s, mangueira s
e sprinklers. O sistema de escoamento foi feito naturalmente:
a água saia do cenário e corria pela encost a sendo absor v ido
pela terra .
No teatro t ambém se usa água para fa zer chu v a ,
ma s num esquema diferente. Em Avenida D ropsie 19 , realizada
no palco do Teatro Popular do S esi, hav ia uma linha de chu v a
paralela a b oc a de cena . Ela funcionav a num esquema contínuo
de circuito de água: uma f ileira de quar telada s foi substituída
p or uma linha de piso em grade. Abaixo dela no fosso do palco,
hav ia uma piscina que arma zenav a a água , que era env iada ,
v ia b omba elétric a , para um c ano longitudinalmente furado,
loc alizado acima da b oc a de cena , que deixav a a chu v a c air,
e a ssim fechar o circuito quando alc anç av a a grade no piso 146
Ladrão de Frutas do palco. E sse é um sistema trabalhoso, imp ossí vel de ser
execut ado em teatros que não p ossuem fosso. Uma soluç ão
que apena s depende de urdimento, é
a chu v a de garrafa s PE T pic ada , como
aconteceu em Ladrão de Frutas 20
lev ado no palco do teatro Anchiet a , no
SE SC Consolaç ão. A Ceno graf ia tra zia
como represent aç ão de ár vores, uma
estrutura de c anos de met al e corda s:
um sobre palco aéreo. Em determinado
19 Avenida Dropsie – Direção e roteiro: Felipe Hirsh/ Cenografia: Daniela Thomas. São Paulo,
2005.
20 Ladrão de Frutas – Direção: Rodrigo Matheus. Cenografia: Liu
momento c aia uma chu v a . O sistema usado foi idêntico ao da
f igura ao lado. A diferenç a é que no lugar do papel pic ado
usado para parecer neve, foram usados pedacinhos de plá stico
recor t ados de garrafa s PE T. E ste material tem a c arac terístic a
Pantagruel de som, peso, volume e brilho de got a s de água , e quando
c aíam no chão ricocheteav am como pingos de chu v a .
Dos efeitos de cena ligados a corda s e roldana s,
os vôos são os que exigem mais forç a , sutileza de operaç ão
e seguranç a . Os teatros à It aliana foram inst alados em
profusão pelo Bra sil ma s o conhecimento de seu sistema e
a plena utilizaç ão criati v a de seus recur sos nunc a foi uma
norma , muito menos em S ão Paulo. Com e xceç ão de alguma s
iniciati v a s espet aculares, a norma da maquinaria do início do
século X X consistia em fa zer tro c a s de telõ es e abrir e fechar 147
Moby Dick cor tina s. Por t anto os conhecimentos mais complic ados nunc a
se f ixaram no elenco de pro cedimentos da Caixa Cênic a de
S ão Paulo. Quando o Teatro f inalmente se prof issionalizou e
começou a prop or uma criaç ão genuinamente paulist ana , os
teatros utilizados já não lev av am a tip olo gia tradicional do
teatro à It aliana o que fez com que estes conhecimentos se
perdessem de vez entre os realizadores teatrais. Por t anto o
que normalmente se vê é o iç amento de pessoa s, a 'lev it aç ão',
que exige apena s o sistema ver tic al de contrapesagem aliado
a um sistema de seguranç a , como se vê em uma da s cena s
f inais de Pantagruel. Hoje em dia quando uma encenaç ão
pede efeitos aéreos, é no Circo -Teatro que a pro duç ão v ai se
ap oiar. Em Moby D ick, da Cia . Circo Mínimo, hav ia um ator
que era arremessado para fora do barco:
22 Drácula: De Hamilton Deane e John Balderston / Direção: Gianni Ratto/ Cenografia: Gianni
Ratto e Isabel Sobral. São Paulo 1986.
um li v ro, ou a c abeç a de algum competente cenotécnico. Hoje
a Realizaç ão Cenográf ic a est á muito além da Caixa Cênic a ,
sobretudo aquela à It aliana . Ela est á disseminada p or to dos
os espaços cênicos da cidade e xigindo que o ar tist a e o
prof issional da área cenográf ic a permaneç am sempre atentos
e em cont ato com seus pares. O que não inv alida a necessidade
de uma sistematizaç ão deste conhecimento através do melhor
preparo de ba se dos nossos técnicos realizadores, que apena s
pelo t alento e pela per severanç a suprem a s lacuna s de sua
formaç ão.
149
150
considerações finais
D iante do estudo técnico e da identif ic aç ão
históric a comparati v a dos pro cedimentos ceno gráf icos
apresent ados neste tex to, é p ossí vel obser v ar os seguintes
comp or t amentos relati vos à Realizaç ão Ceno gráf ic a na cidade
de S ão Paulo: 151
A Realizaç ão Ceno gráf ic a Paulist ana p o de
ser sintetizada tomando -se p or referência três momentos
históricos: os cenários de tecido e papel a par tir de 1911,
os anos 40 e 50 marc ados pela tridimensionalidade de sua
produç ão, e os anos 60 e 70 com seu desp ojamento constr uti vo
c arac terístico.
Dos três momentos, o primeiro é o único que
c arrega em si a plenitude da tip olo gia da Caixa Cênic a à
It aliana , no que se refere aos sistema s de pro cedimentos
cenográf icos construti vo e operacional. A chegada da terceira
dimensão aos palcos do TBC nos anos 40, não foi c apa z de
preser v ar o sistema operacional da realizaç ão ceno gráf ic a
(maquinaria), já que o palco do teatro, como já mencionado
anteriormente, não era nem de per to um mo delo de Caixa
Cênic a à It aliana . A mais promissora prop ost a cênic a até
o momento - com sua pro duç ão ar tístic a e sua estr utura
técnic a prof issionalizada regulada s p or um ap or te ecônomico
sistemático - contribuiu principalmente para a mo dernizaç ão
do sistema construti vo de realizaç ão ceno gráf ic a paulist ano
(cenotécnic a). A contundência necessária à s encenaçõ es dos
anos 60 e 70, pediu uma nov a tip olo gia para o edif ício teatral,
c ada vez mais dist ante daquela que foi o nosso p onto de
par tida . Na construç ão de uma nov a prop ost a de encenaç ão,
utilizaram-se nov a s e par ticulares forma s de o cupaç ão do
espaço cênico, c ada uma dela s adequada à sua obra , recur sos
e métodos. E ssa contundência t ambém e xigiu a criaç ão de uma
Cenograf ia mais simb ólic a: mais conceito e menos cenário, 152
Glossário
de C enogr afia e C enotécnica1
A AAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
AMERICANA: Estrutura geralmente de madeira, feita em
forma de treliça, onde se penduram cenários ou cortinas.
ABRAÇADEIRA: Peça de metal em vários modelos para Normalmente ela tem um comprimento longo e uma lar-
fixação ou conexão de elementos e peças. Utilizados na gura aproximada de 30cm. Corresponde a uma vara, só
amarração de varas e outros equipamentos cenográfi- que estruturada para receber mais peso ou vencer grandes
cos. vãos.
ADERECISTA: Profissional que executa as peças decora- aplique: Peça aplicada sobre outra. Elemento ornamental
tivas e/ou os adereços cênicos do espetáculo. Faz escul- ou de decoração.
tura, entalhe, molde em gesso, bonecos etc.
APONTAR: Aponta-se um prego quando ele não é enterrado
ADEREÇOS: Acessórios cênicos de indumentária ou deco- até o fim. O prego fica com a cabeça uns 5mm para fora,
ração de cenários. Objetos de cena. facilitando a sua retirada quando necessário. Muito usado
quando o cenário ainda não está fixado, ou quando tem-se
AFINAÇÃO: Na cenotécnica é o ajuste das varas ou peças que montar e desmontar o cenário muitas vezes por se-
de vestimenta cênica para nivelamento de suas alturas e mana.
distâncias, geralmente efetuado através da correção do
comprimento de cordas ou cabos de aço, esticadores e ARARA: Uma estrutura feita em madeira ou metal, onde
alinhamento de cadarços ou barras. se colocam os cabides com os figurinos do espetáculo.
Normalmente ficam nos camarins ou nas coxias do palco. 155
ALABAÇA: Pedaço de madeira com cerca de 1m, usado Geralmente é feita com dois pés laterais ligados no alto por
para fazer a emenda de duas partes de um longo sarra- um cano ou madeira arredondada.
fo. Pode ser também a emenda de uma vara, uma ameri-
cana ou um elemento cênico. ARENA: Área central de forma circular, onde acontecem
espetáculos teatrais. Palco do teatro grego. Área central
ALÇAPÃO: Abertura do chão do palco, dissimulada coberta de areia, nos antigos circos romanos. Arena (pica-
aos olhos dos espectadores, para encenar efeitos de deiro): o espaço central do circo onde se exibem os artistas
aparição e desaparição de atores ou objetos cênicos. da companhia.
Alçapão: Espaço aberto em qualquer parte do piso do
palco que possibilita o uso do porão para entradas e ARQUIBANCADA RETRÁTIL: Estrutura telescópica com as-
saídas de cena, tanto de artistas como de material ce- sentos e encostos dobráveis, que pode ser recolhida até
nográfico. atingir a profundidade de uma fileira. Utilizada para organi-
zar as tipologias cênicas de uma sala multi-uso ou teatro
ALDRAVA: Tranqueta de metal com que se fecha a porta, black-box.
com dispositivo que permite abrir e fechar por fora. Um
tipo de tranca ou fechadura. ARQUIBANCADA: Estrutura onde são fixados assentos sim-
ples ou bancos para o público. Geralmente utilizadas em
AMARRAÇÃO: É a fixação final do cenário. Depois de o espaços alternativos e salas multi-uso.
cenário estar de pé, colocado no lugar, faz-se a amar-
ração, usando-se pedaços de sarrafo, esquadros, mãos ARQUITETURA CÊNICA: Estruturação e organização espa-
francesas etc., para que o cenário não balance. Mais cial interna do edifício teatral, relacionando diversas áreas
comum em cenários de gabinete. como cenotécnica, iluminação cênica e relação palco-
platéia. É toda arquitetura que se relaciona mais direta- ser executada em tecido como as demais bambolinas, mas
mente com o espetáculo. geralmente é uma peça rígida.
ASSOALHO: Pavimento de madeira que forma o piso do BAMBOLINA: Faixa de pano, normalmente preta, que,
palco. O piso do palco de teatro deve ser executado em seguida de uma série de outras situadas no interior da
madeira por alguns importantes motivos: facilidade de caixa cênica de um palco italiano, se une aos bastidores
implantação (fixação) do cenário, som, e estabilidade ou pernas, para completar o contorno do espaço cênico
dos atores. A madeira mais indicada para sua execução (mascaramento da cena). São as bambolinas que fazem o
é o freijó, geralmente montado em pranchas com en- acabamento na parte superior do palco, não permitindo
caixe macho-fêmea. que sejam visíveis para a platéia as varas de luz e demais
equipamentos.
AUDITÓRIO: Edifício projetado e equipado para atender
à realização de conferência ou eventos que não envol- bandeja de Breu: Caixa de madeira ou metal que
vam maquinaria cênica. Devem ser atendidas necessi- contém o breu para uso dos artistas, sobretudo circenses e
dades básicas de som e luz de acordo com os requisitos bailarinos.
específicos.
bandeja: Peça de madeira ou metal em forma de “U” que
serve de leito para os cabos elétricos que alimentam os
B BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB refletores.
barra de afinação: Barra de madeira ou metal usada 156
baguete: Peça de madeira ou metal, de perfil quad- para afinar e amarrar as cordas. Utilizada sempre com a
rado, para fixação ou arremate. barra de malaguetas.
bainha: Arremate das vestimentas do palco, e de telões BASTIDOR: Armação feita de madeira, forrada de tecido,
de cenários, sendo a bainha inferior em forma de bolsa, que pode ser disposta nas partes laterais do palco para es-
onde se introduz tubo, sarrafo ou corrente para seu tabelecer, junto com as bambolinas, a especialidade dese-
estiramento. jada para o palco. Podem substituir as pernas ou formar
com elas um conjunto para a definição das coxias. As vezes
balancinho: Estrutura em forma triangular, armada o bastidor também é usado como peça de cenografia, nas
em corda, madeira ou metal, suspensa por um só tiro composições de fundo ou paredes de cenários.
(corda ou cabo).
Batente: Peça de madeira ou metal, fixadas nas guias dos
BALCÕES: Níveis de assento para o público localizados carros de contrapeso, e que delimitam o percurso desses
acima da platéia. Geralmente são dispostos no fundo da carros.
sala. Podem avançar pelas paredes laterais até a boca de
cena, arranjo que é muito encontrado em teatros do tipo BIOMBO: Conjunto de dois ou mais painéis/tapadeiras mon-
ferradura. tados em ângulo, autoportantes.
BAMBOLINA MESTRA: Equivalente à primeira bambolina BOCA DE CENA: Abertura frontal do palco que delimita
do palco, é utilizada quando não é necessária ou possív- horizontal e verticalmente o espaço visual da cena. Recorte
el a instalação de um regulador horizontal junto à boca na parede frontal do palco, pode ser variada através do uso
de cena. Equivalente a um bastidor horizontal e pode de reguladores verticais e horizontais.
rama ou um canto de parede.
BONECO DE VARA: Boneco montado em varas, para per-
mitir movimentos. Espécie de fantoche. CANTONEIRA: Peça em madeira ou perfil metálico em
forma de L para reforçar quinas ou ajustar cantos de peças
BONECO: Figura de trapo, louça, madeira, plástico, de cenários.
papier-machet etc., que imita um ser humano. Muito
usado em teatro como adereço cênico. Termo também Capela: Refere-se ao fundo do palco. Nos palcos à italiana
usado para significar o modelo de um programa ou car- é muito comum.
taz.
CARPINTEIRO TEATRAL: Profissional que executa peças
BORBOLETA: Tipo de porca com duas aletas, com aperto cenográficas: portas, janelas, mobiliário, sanefas e demais
manual, usado em conjunto com parafusos passantes de objetos projetados pelo cenógrafo.
rosca. Facilita a montagem e desmontagem de peças do
cenário. CARRETILHA: Pequena roldana, em ferro, usada com cordas
para facilitar a subida ou decida de elementos cênicos.
C CCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCC Carrinho: Elemento que, usado num trilho, faz um carro
para o movimento de cortinas e comodins.
CABINE DE CONTROLE: Sala geralmente localizada ao Carro: Plataforma com rodízios para transporte de el-
fundo da platéia, onde são instalados os equipamentos ementos cênicos. 157
para controle dos sistemas de controle dos equipamen-
tos cenotécnicos, de iluminação cênica e sonorização. CATA-CABO: Uma peça geralmente de ferro, usada em pal-
cos giratórios. Essas peças são fixadas em toda a volta da
CAIXA CÊNICA: Volume do palco. A caixa onde se situam estrutura do giratório e servem para manter o cabo de aço
todas as estruturas do palco e os maquinismos cênicos. preso para puxar a estrutura quando ela roda. Geralmente
é uma cava ou uma ferragem em forma de ‘U’. Também ex-
Caixa de contrapeso: estrutura em metal, onde se istem as caixas de catacabos (elétricos), que normalmente
alojam os pesos, para a manobra balanceada. se situam nas varas de luz e recebem o cabo de alimen-
tação de força quando ela é levantada.
caixa de gorne: Pequena estrutura em madeira, onde
se aloja o gorne, com eixo, espaçador, laterais e base. Cavalete: Estrutura de madeira ou metal para suporte de
tampos ou pranchões.
caixa de ponto: Elemento em forma de caixa aberta
com teto curv, utilizada para ocultar o ponto ou repeti- CENÁRIO DE GABINETE: Nome dado geralmente a cenários
dor e projetar sua voz até os artistas em cena. realistas que possuem três ou mais paredes e reproduzem
quase sempre um interior de casa ou apartamento.
Calço ou cunha: Pedaço de madeira ou papelão que
serve para nivelar. É colocado sob praticáveis, painéis e CENÁRIO: Conjunto dos diversos materiais e efeitos
outros elementos. cênicos(telões, bambolinas, bastidores, móveis, adereços,
efeitos luminosos, projeções etc.) que serve para criar a
CAMBOTA: Um painel de madeira em forma curva, us- realidade visual ou a atmosfera dos espaços onde decorre a
ado muitas vezes para fazer as partes curvas do ciclo- ação dramática; cena, dispositivo cênico.
CENARISTA: O mesmo que cenógrafo. COMPENSADO: Chapa ou laminado de madeira. São feitos
com finas lâminas de madeira prensada, normalmente em
CENOGRAFIA: Arte e técnica de criar, projetar e dirigir número ímpar de lâminas, coladas entre si com um ade-
a execução de cenários para espetáculos de teatro, de sivo. Cada camada é colada de forma que a direção da grã
cinema, de televisão, de shows etc. esteja em ângulos retos em relação à camada adjacente,
o que se denomina laminação cruzada. São vendidos nas
CENÓGRAFO: Aquele que faz cenários, idealiza o espaço medidas de 220cmX160cm com espessura modular de 4 a
cênico. Cria, desenha, acompanha e orienta’ a monta- 20mm.
gem do projeto cenográfico.
concha acústica: Conjunto de painéis verticais e teto
CENOTÉCNICO: Aquele que domina a técnica de ex- que compõem uma caixa para a orquestra no palco. Na sua
ecutar e fazer funcionar cenários e demais dispositivos função acústica serve para a reflexão do som.
cênicos para espetáculos teatrais.
Contrapeso: Peça de metal com função de fazer o equilí-
chassis traineI: Esqueleto ou estrutura de um painel brio dos cenários e equipamentos de manobra.
ou bastidor.
CONTRA-PESO: Sistema usado em teatro para aliviar o peso
Chaveta: Pino de segurança de eixos. das varas que prendem cenários, cortinas, pernas ou bam-
bolinas. “Estava fácil subir e descer as varas: elas estavam
CICLORAMA: Grande tela semicircular, geralmente em contra-pesadas”. 158
cor clara, situada no fundo da cena e sobre a qual se
lançam as tonalidades luminosas de céu ou de infinito, CONTRA-REGRA: Elemento encarregado de cuidar dos
que se deseja obter. Nele também podem ser projetados cenários e objetos de cena, indicar as entradas e saídas dos
diapositivos ou filmes que se desenvolvem alternada atores, dirigir as movimentações dos maquinismos cênicos,
ou paralelamente à ação física dos atores. Ciclorama ou distribuir horários e informes.
infinito, fundo infinito, cúpula de horizonte. Hoje, mais
usual em televisão que em teatro, e muito utilizado em contra-regulador: Painel secundário que complemen-
ópera. Ciclorama: Grande tela com armação em for- ta o regulador para evitar vazamentos.
ma “U” aberto e que vai ao fundo do palco. Pode ser en-
contrado nas cores branco, pérola, cinza ou azul claro. CORDA COMPRIDA: Nome dado à corda mais distante de
onde estão sendo puxadas as manobras.
Cilindro: Elemento de madeira ou metal sempre com
altura maior que o diâmetro do círculo da base. CORDA CURTA: Nome dado à corda mais próxima do lugar
onde estão sendo puxadas as manobras.
COMER GATO: Termo usado pelos pintores de cenário,
quando alguma pequena área é esquecida de pintar e corda de manobra Tiro: Corda que passa pelos
fica visível ao público. Diz-se que o pintor ‘comeu um gornes e é amarrada à vara para manobra da cenografia e
gato’. A pintura precisa de um retoque. vestimenta.
Comodim: Telão que atende a muitas funções e que, corda de vaivém: Tipo de corda sem fim usada na
durante uma cena, permite que outra esteja montada maquinaria de cortinas e para movimentar o carro de con-
atrás. trapeso.
pano-de-boca para a obtenção de determinados efeitos
CORDA DO MEIO: Nome dado à corda que fica bem no cênicos. Pano rápido.
meio da vara ou gambiarra.
CORTINA: Peça, geralmente em tecido, que resguarda o
CORDA MEIO COMPRIDA: Nome dado à corda que fica palco. Abre e fecha lateralmente, ou sobe e desce por
entre a comprida e a do meio. mecanismo apropriado. Também chamada em teatro de
‘pano-de-boca’. Cortina: Refere-se a cortina de boca de
CORDA MEIO CURTA: Nome dado à corda que fica entre cena ou a uma cortina comum.
a curta e a do meio.
COXIA: Nos palcos de teatro, espaço situado atrás dos
CORDA DE MANOBRA: Cordas usadas para montar a bastidores. Pode ser ainda um assento móvel, normalmente
manobra que movimenta um cenário. Em geral são em com dobradiças, usado quando as poltronas normais já
número de 5, que prendem uma vara ou gambiarra ou estão ocupadas. Uma espécie de cadeira improvisada.
americana.
CUBO: Denominação, característica de teatro e televisão,
CORTINA A POLICHILENO: Cortina teatral, inteiriça, com dada a um praticável de lados iguais, totalmente fechado.
um tubo na extremidade inferior, e que se abre ao ser
levantada por duas cordas que a enrolam de baixo para cunha-palmeta: Pequena peça triangular de madeira
cima. com funções variadas.
CORTINA ALEMÃ: Cortina teatral inteiriça, atada na parte CUTELO: Pregar um sarrafo ‘de cutelo’ é pregá-lo de pé, no 159
superior a uma barra horizontal móvel, e que se eleva sentido da sua grossura. O sarrafo pode ser utilizado dei-
verticalmente para abrir a cena. tado ou de cutelo.
CORTINA CORTA FOGO: Cortina confeccionada em te-
cido anti-chamas para proteção contra incêndios. Uma
variação desse equipamento é a ‘porta corta fogo’, D DDDDDDDDDDDDDDDDDDD
elaborada em material rígido com os mesmos propósi-
tos. corta-fogo: Cortina de metal que separa a caixa
cônica da platéia em caso de incêndio. Desempenar: Recurso de montagem com corda ou cabo
para desempenar algum painel ou trilho empenado.
CORTINA DE BOCA: Cortina de boca de cena que cara-
cteristicamente se movimenta nos sentidos laterais, DISCO GIRATÓRIO: Elemento que possibilita a ampliação de
fechando ou abrindo nas mudanças de atos, encerra- possibilidades cênicas. Trata-se de um trecho de piso em
mentos ou aberturas das sessões. forma de disco apoiado sobre o palco ou embutido nele
(quando então é chamado de palco giratório). Pode consti-
CORTINA DE MANOBRA: Cortina leve, situada atrás do tuir-se de um único, grande, ou de dois ou três menores.
pano de boca e que é baixada quando uma troca rápida Não se aplica a qualquer projeto cenográfico. É próprio
de cenário deve ocorrer sem interromper o espetáculo para espetáculos com muitas mudanças de cena.
ou quando os atores, nas cenas de ligação, passam a
representar no proscênio, diante dela. EDIFÍCIO TEATRAL: A arquitetura do teatro na sua totali-
dade: palco, platéia, administração, saguão de entrada etc.
CORTINA RÁPIDA: Abertura ou fechamento súbito do Edifício construído especialmente para que existam con-
dições ideais na encenação de peças, musicais, óperas altura.
etc.
Espaçador: Peça de madeira ou metal para manter a
mesma distância entre quaisquer elementos.
E EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE
ESPAÇO CÊNICO: Espaço onde se dá a cena. Em teatros
tradicionais coincide com o palco; em espaços alternativos
Eixo: Barra metálica para giro dos gornes e roldanas. pode chegar a abranger toda a sala.
ELEVADORES: Divisões do piso do palco com movimen- Espelho: Plano vertical de material rígido que forra os
tação para cima e para baixo. Pode alcançar toda a lar- lados de praticáveis, escadas, plataformas etc.
gura ou comprimento do palco, ou apenas parte deles;
podem ser movimentadas juntas ou separadamente, ESQUADRO: Peça em madeira ou metal, própria para fix-
sempre com espaços certos de parada, formando de- ação de tapadeiras ou painéis. Um L em ângulo reto, onde
graus acima ou abaixo do nível normal do palco. O se fixa o lado maior da tapadeira e o lado menor no piso,
controle pode ser manual, elétrico, hidráulico etc. Exis- com pregos ou simplesmente com peso.
tem elevadores que, além de subir e descer, possibilitam
inclinação e montagem de rampas. Trata-se de mecan- Estaca: Elemento de madeira utilizado para amarração de
ismo próprio dos palcos dos grandes teatros. cordas.
Engradado: Caixa feita de ripas separadas. 160
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174
E spaço Cenográfico News e revistas como: Sipario, Quaderni di Teatro, Théâtre en Europe.
Cadernos de Teatro trazem artigos sobre cenografia, ou números dedicados inteiramente a este
assunto.
sítios virtuais
En cicl o p é dia de A r tes e Te atr o It aú Cultural: w w w.it au cultur a l.or g.b r
175
Apêndice
E n t r e v i s ta s
To das as entrevistas, com
e xce ção da do Pup e , foram captadas
em MiniDV - D igital Vide o
176
- Tem cená r i o que o ac a b a m ento é n osso. Ma s - E a malha tensi o nada? Q uando que co m e ço u-
até cer to p onto. Tem o utr os cená r i os que tem que se a usar?
cha ma r um p intor de a r te. E sse f ilm e a í ag or a d o
C a r a n dir u. É simp l es, cela , cela , cela . Ma s a c a deia - Ach o que 70. Tem a quela m o ç a ... A L oir a que
é to da esb ur ac a da , suja , sa i p e daço de c a n o, c a r a de tr a b a lha com uma s ma lha s b r a n c a s. E la C a mp e ã
detona d o... A í tem que ter essa m enina , a B ia (Pesso a ) nisso. É p r e cisa ter um a p r oveit a m ento da s coisa s d o
que tem lá a e quip e dela e f a z isso. Fizem os o utr o m er c a d o. A nti ga m ente a g ente n em sonhav a . Tu d o
f ilm e juntos lá em Ub atub a (D esmun d o). tinha c a r a de p int a d o. A p or t a ....tu d o desenha dinh o.
Ma l f a zia m escultur a .
- E quando tem a pli ca çã o de alguma co isa co m o
espuma o u algo assim, co m o faz? - En tã o é isso. M ui to o brigada.
A níbal M arques
PELÉ
E ntr ev ist a r e a liz a da em 03/10/20 02 - Vo cê estudo u a té que séri e?
N o P a l co d o Te atr o Muni cip a l de S ão P aul o
- E u comp l etei se gun d o gr au. E u tr a b a lhav a com o
P up e e estu dav a ao m esm o temp o. Ia cor r en d o, p e gav a
N O M E: A ní b a l Ma r ques - PE L É o tr em. E u estu dav a lá em M o gi da s Cr uzes.
PRO FI S S ÃO Cen oté cni co/M a quinist a
- E co m o fo i sua traje tó ria de po is do Pupe?
Tr a nscr i ç ão da Fit a
-Vo u te f a la r uma coisa: minha tr ajetór ia to da
envo l ve o P up e. E u entr ei na e quip e d o P up e e de lá
com e ço u a sur gir um r o l os n o te atr o, que m eu p a i já
tr a b a lhav a em te atr o. O p r im eir o te atr o que eu tr a b a lh ei
f oi o Muni cip a l...(r isos) Ó que h onr a! J á com e ç a r l o g o
- O Se u pai era cen o té cni co? a ssim. E u tinha 17 p r a 18 a n os. Sur giu uma v aga e
m eu p a i m e co l o co u a qui, n o te atr o muni cip a l (de S ão
- M eu p a i tr a b a lhav a em cin ema . E l e f a zia um P aul o). O P up e enten deu tu d o.
p o u co de tu d o, te atr o... ma s el e er a m esm o ma quinist a
de cin ema . Muito conh e ci d o p or a í. -Vo cê é empregado da pre fei tura desde aquela
épo ca?
- Co m o era o n o m e dele? 185
- D este 1078. S ó que ti ver a m uns a n os que eu
- B atu c a da . A p eli d o, n é. O n om e er a Ger a l d o sumi, f ui m e e xp a n dir ma is, f ui a p r en der ma is coisa .
Ma r ques. E l e é f a l e ci d o. Por que se a g ente f i c a p a r a d o só num lu ga r só, a in da
ma is qua n d o se é n ovo, não a p r en de. S e f i c a r p a r a d o
- E vo cê fo i trabalhar co m isso po r causa a qui dentr o d o Te atr o Muni cip a l a p esso a só a p r en de
dele? o que já vem p r onto. E isso não é l e ga l, a c a b e ç a não
desenvo l ve.
- Por c ausa del e. E l e m e co l o co u num estú di o de
cin ema , qua n d o eu tinha 12 a n os, p r a f a zer limp e z a , - E n essas saídas vo cê fo i fazer o que? Trabalhar
com o P up e. Foi on de eu com e cei a g ost a r. M eu p a i co m te a tro, cin ema...?
er a ma quinist a e o P up e er a cen oté cni co. Ma quinist a é
a quel e c a r a que op er a , cen oté cni co é o que constr ói, - Fui tr a b a lha r com sh o w. E m 1986, o u 87, eu f ui
que p õ e a c a b e ç a p a r a r o la r. A r esp onsa b ili da de é v iaja r com a R it a Le e, que o P up e m e cha m o u. T inha
del e de entr e ga r o tr a b a lh o n o dia . A í f ui a p r en den d o uma s tr a quit a na s, uma s ma quina r ia s que a b r ia m e
n o dia a dia . f e chav a m n o cená r i o dela . E nt ão o P up e f a l o u -:É o
Pel é. E u disse: Ta m os a í, n é? E u ent ão em f ér ia s, da qui
- Vo cê é de Sã o Paulo? d o Muni cip a l e não vo ltei ma is. E l es f i c a r a m l o u cos
a qui. Fi quei cin co a n os f or a . Fa zen d o Sh o w musi c a l e
-S o u de S ão P aul o, m eu p a i t a mb ém. f eir a t a mb ém. Tr a b a lha n d o com o P up e, com o Cy r o
del N er o, com o Felip e Cr escenti... S ão a s p esso a s que
eu tenh o ma is cont ato. E ultima m ente com o S er r oni. a coisa f un ci ona r.
E l e que f a z eu esc a p a r da qui de ve z em qua n d o.
- Co m o sã o as fun çõ es aqui n o M uni cipal?
- O que vo cê tem fei to co m ele?
- Tem o c a r g o de cen oté cni co, de ma quinist a de
- E u f iz ag or a ag or a um tr a b a lh o n o Co l é gi o S a nt a ch ef e de p a l co. O ma quinist a é a quel e que op er a o
Cr uz, f ui p r a Áf r i c a em setemb r o... esp et ácul o. Vem uma e quip e que constr ói o cená r i o.
Junto com o ma quinist a el es inst a la m a s coisa s e
- Vo cê fo i co m ele . E co m o fo i? o ma quinist a . D ep ois que entr e g o u a e quip e de
cen oté cni c a lav a a s mãos, v a i emb or a . O cen oté cni co
- A h. Foi uma e xp er iên cia . E m te atr o, cin ema , é o que constr ói.
tel ev isão a g ente t á semp r e a p r en den d o. Vo cê vê que
não tem cur so de cen oté cni co. Tem de Cen o gr af ia , de - A casa tem uma e quipe de cen o té cni ca?
Ilumina d or, de son op la st a . Ma s não tem de cen oté cni co
e ma quinist a . - Tem. A g ente constr ói. A e quip e é p e quena ma s
ag ente f a z os d ois. Com o já constr uím os óp er a s.
- Se tivesse vo cê teria fei to?
- Vo cê a cha que tem maquinistas fo ra do te a tro
- E u ter ia . Por que é l e ga l. A g ente semp r e a p r en de. muni cipal? Q uan tos maquinistas fo ra daqui sabem
S emp r e tem uma p esso a com uma c a b e ç a p r a isso. A o perar esta caixa to da. 186
g ente que acomp a nha r. E u ter ia f eito, e com o. I ch!
Tem que a p r en der, semp r e ma is. - Tem. Ma s tem p o u cos. Muito p o u cos. Dá p r a
cont a r n o de d o. Chi c ão d o Te atr o S ér gi o C a r d oso,
- M e fala um po uco das di feren ças o u T it ão que tr a b a lha com o P up e, Mir a n da que tr a b a lha
curi osidades n o trabalh o dessas áre as: cin ema, de fre elancer, (sil ên ci o) D enis... Pô, ag or a vo cê m e
te a tro e televisã o. p e g o u.
- E u ach o a ssim: S e eu não ti vesse f eito um p o u co - Po rque o perar esta maquina to da é o utra
de te atr o eu não entr a r ia n o cin ema ma s o contr a r i o histó ria, n é? Saber co n tra - pesagem, amarra çã o...
t a mb ém tem muit a coisa d o cin ema que m e aju d o u n o
te atr o. Tem coisa s que vo cê só f a z n o te atr o e o utr a s -...sa b er f a zer uma cor tina c a ir na h or a e to da s
só n o cin ema . Um ma quinist a de te atr o se p er de essa s tr a quit a na s ... é dif er ente. É o que eu di g o.
na ma quina r ia d o cin ema . E l e v a i numa tel ev isão ... O Cen oté cni co é quem constr ói, Ma quinist a é quem
el e f i c a p er di d o. E l e p o de ser um ma quinist a sup er op er a , quem f a z a s tr a quit a na s dentr o d o te atr o. A
p r of issi ona l, ma s é comp l et a m ente dif er ente. Tel ev isão m esma coisa dentr o da tel ev isão. Tem um ma quinist a
tem muit a te cn o l o gia . Tem o contr a - r e gr a t a mb ém. que só emp ur r a c a r r inh o (de c â m er a ). E l e t a lá p r a
Contr a - r e gr a , eu ach o, é tu d o i gua l. Ma s o ma quinist a isso. S e el e c a ir dentr o dum te atr o p r a f a zer o utr a
já é dif er ente. Por que tel ev isão é gr av aç ão, te atr o é coisa el e f i c a um p o u co p er di d o. Não que el e sa ib a
ao v i vo, tem ma is r esp onsa b ili da de. O p úb li co não ma s dif i cult a ma is.
quer sa b er se um c a r a b r i g o u com o utr o, el e quer ver
- Mas n o te a tro isso é m en os espe cí f i co, nã o? ser de con cr eto, el es f a zem de con cr eto m esm o. Vem
Po r e xemplo: vo cê sabe o perar e co nstruir, cer to? g ente de f or a e r e cla ma da s v a r a s. Os te atr os que
est ão sen d o constr uíd os p or a í são (a s v a r a s) de 50 0,
- É , eu p osso f a zer p or que já p e guei em tu d o. 70 0 quil os. H oje em dia qua l quer te atr inh o p e quen o
Ma s na minha op inião vo cê tem que com e ç a r de b a ixo. tem a s v a r a s (sup or t a n d o) com 30 0 quil os. Isso mu d o u
S e vo cê não so ub er um p o u co de tu d o vo cê não é muito. Fi co u tu d o muito ma is p esa d o, muit a r e a li da de
cen oté cni co. O cen oté cni co tem sa b er r eso l ver os e te atr o não é isso. Te atr o é uma f a nt a sia . Não é uma
p r ob l ema s, el e tem que ser comp l eto. coisa f a ls a .
- H o uve mui ta mudan ça de ma téria e ferram en tal - Na r aç a . Com o P up e. O P up e f a z uma coisa que
desde a épo ca que vo cê co m e ço u a trabalhar (co m p o u c a s p esso a s f a zem. E l e p õ e uma t a p a deir a e co la
12 an os) pra cá? Co isas que ajudaram. lá to da s p la nt a s. A í el e vem cha ma n d o, Pel é, f ula n o....
e v a i distr ib uin d o tr a b a lh o. H oje em dia o c a r a gua r da
- Não, tr a b a lha m os com a s m esma s coisa s. Muito a p la nt a n o b o lso e te dá um p e dacinh o de p a p el só
p el o contr a r i o, até com coisa s ma is p esa da s que é p r a vo cê f a zer a quil o. A ssim nin guém a p r en de. E l e
f er r o. Vem a í à s ve zes uma s constr u çõ es que a g ente, não sa b e o p or que da quil o.
p ó, não agüent a n em tir a r d o lu ga r. P r a vo cê ter uma
i déia; o Te atr o Muni cip a l el e tem 91 a n os, ach o. C a da - H oje deve ter gen te que vem trabalhar e nã o
v a r a de cená r i o que a g ente tem são (sup or t a m) 150 sabe ler plan ta, co m o vo cê faz?
quil os. Por que? Por que a nti ga m ente os cená r i os er a m
to d os f eitos de p a p el. A s úni c a s coisa s que er a m - E u ensin o. Com to d o p r a zer. Tenh o o ma i or
de ma deir a m esm o er a m on de a s p esso a s ia m sub ir p r a zer. Tem muito m o l e que que p r o cur a a g ente a qui.
o u uma ja n ela .... o r esto er a tu d o f a lso. E r a tu d o de Q ua n d o o tr a b a lh o é gr a n de eu cha m o g ente de f or a ,
p a p el. H oje em dia el es v ão f a zer um cená r i o, se ti ver ma s a ver b a é p o u c a . Ag or a m esm o vem seis p esso a s.
que ser de ma deir a , f a zem de ma deir a; se ti ver que É l e ga l p or que à s ve zes é g ente que já tr a b a lha n o
r a m o e quer se a p er f ei ço a r. H oje em dia o tr a b a lh o da cena e v a i c at a r a quil o a li. S e não ti ver lá , p r onto.
est á a p er t a d o. J á estr ag o u a cena e t á to d o mun d o toma n d o b r on c a .
P r a tr a b a lha r em te atr o o c a r a tem que ser li ga d o. Não
- Em qual áre a vo cê gosta mais de trabalhar? dá p r a da r b ob eir a . Tem que p r est a r aten ç ão em tu d o.
P r in cip a lm ente p or se gur a n ç a .
- E u g osto ma is da quel e tr a b a lh o que co l o c a a
c a b e ç a p r a f un ci ona r. E u g osto d o tr a b a lh o que eu - Q ual a di feren ça en tre co nstruir o cenári o e
f aço. Da r esp onsa b ili da de que eu p e g o. Não imp or t a par ti cipar do espe tá culo.
on de. Não imp or t a a á r e a , p or que eu ach o que n o
f un d o não é t ão dif er ente a ssim. - E u ach o que p a r ti cip a r é ma is l e ga l. Por que
p a r ti cip a r d ob r a a sua aten ç ão. O cen oté cni co vem
- Se vo cê pre cisa de um pin to r tipo aqueles de com o p r ati c ável. Tu d o cer to, com o t av a na p la nt a .
telã o de an tigam en te quem vo cê chama? Ma s a í vem o dir etor e diz que v a i ter que mu da r,
p or que até a estr éia vo cê sa b e com o f un ci ona , n é?
- Chi! Ach o que não conh e ço n enhum. Tu d o m e xe. Q uem v a i f a zer a s a da p t açõ es? É quem
Sin cer a m ente. est á dentr o d o te atr o, são os ma quinist a s. O u seja
tem que est a r disp osto a mu da n ç a . Por que é dif er ente
- Tem alguém da e quipe que co nh e ce de cin ema . Cin ema vo cê desli ga a c â m er a e nin guém
serralh eria? f i c a muito b r avo ma s em te atr o não. Tem que a b r ir
o p a n o. Tu d o tem temp o. Gente sem p aciên cia e que 188
- Não. É tu d o na ma deir a . não g ost a de tr a b a lha r n o f im - de -sema na n em entr a
em te atr o.
- Q ual a di feren ça do marcen eiro para o
cen o té cni co? - Vo cê disse que nã o faz di feren ça mas e u a ch o
que faz. Vo cê gosta mais de te a tro que de televisã o
- O ma r cen eir o f a z m óveis. E l e constr ói m óveis. o u cin ema.
O S e o Os w a l d o m esm o. E l e é ma r cen eir o. Um dia el e
m e f a l o u: E u não g osto de f i c a r a qui, eu não g osto - Não, não. É que te atr o.... sei lá! Dá até a r r ep i o.
de te atr o. E p r a inf eli ci da de del e, um dia lá n o J o ão Por que é ao v i vo. A coisa tem r o la r, enten deu? Vo cê
C aet a n o, n o R i o (de J a n eir o) desp en co u uma v a r a de v ir a n oite essa s coisa s to da s. É l e ga l. Te atr o é l e ga l.
luz que b ateu na c a b e ç a del e e el e f i co u desacor da d o.
Foi um cor r e - cor r e da na d o. Te atr o te disso. Tem que D epoimentos .
ter muit a se gur a n ç a . Não é p or que vo cê f e z um cená r i o - Ach o que to d o te atr o dever ia p o der b ater
que vo cê p o de acha r que enten de de te atr o. p r e g o.
- O que ma is estr aga um p iso de te atr o é f it a de
- Fa la um p o u co da contr a - r e gr ag em. lin ó li o. Aquela f it a ROS CO
- Aqui to d os os f un ci oná r i os da cen oté cni c a f a zem
- A h. É uma ma r c a que ... o c a r a deixa a li n o c a nto tu d o. Aqui, n é? Ma s de uns a n os p r a c á nin guém quer
uma sa p atilha , uma vela o u um p a ninh o, nin guém ma is essa sep a r aç ão. E u so u ma quinist a eu tenh o que
p o de m e xer p or que o c a r a v a i sa ir cor r en d o uma h or a sa b er tu d o.
Tour no palco do T eatro M unicipal
M ax
E n t r e v i s ta re aliz ada em 30/0 4/02
- Q uem tinha na épo ca?
N O M E : Ma x
PRO FI S S ÃO: P intor de A r te - Na ép o c a só tinha o Por tina r i ( T VC ), o Ma n é
e… D ep ois c a da p r o dutor a tinha um p intor esp e cíf i co
Tr a nscr i ç ão da Fit a a ssim…f ixo, que só f a zia a quel e tr a b a lh o na c a sa .
Com o p or e xemp l o: e quip es de p intur a com o e xiste
h oje, na quela ép o c a não e xistia .
A í o c a r a p r e ciso u de p intor e cha m o u el e. E l e
ma is d o que de p r essa cor r eu atr á s d o Da r ci e de ma is
d ois ir mãos que eu tenh o. E f a l o u a ssim: Ó, eu tenh o
- S ó f iz uma p e ç a de te atr o, f oi a Ó p er a da A sma um tr a b a lh o p a r a vo cês f a zer em e é o se guinte… Por
com Ta l es P a n chacon e a L u cinha L ins, n o a nti ga Te atr o e xemp l o, com o se f osse h oje: um p intor de r esi dên cia
B r i ga deir o que ag or a é i gr eja da Uni ver sa l. ga nha R$ 40,0 0/50/60, dep en de. …vo cês v ão ga nha r
R$ 10 0,0 0 o dia .
- Co m o vo cê co m e ço u nisto. Há quan to tempo A í f izer a m o p r im eir o tr a b a lh o.
vo cê está …
- Pin tura simples , nã o era pin tura de ar te? !
- E u, f a z v inte e um a n os. Ma s já entr ei em
p ub li ci da de. S emp r e em cin ema . - Não, p intur a simp l es, “ma sse a r ” p a in el p int a r e 191
lixa r. A quest ão é que qua n d o a g ente entr o u, com o
- Vo cê trabalhava co m alguém? Co m o é que era n ós ér a m os p intor de r esi dên cia , já er a uma mão de
isso? ob r a qua lif i c a da , tu d o er a b em ac a b a d o. Coisa que em
cin ema não e xistia .
- Não, er a b a l conist a de p a da r ia . E u m or av a n o A mão de ob r a de cin ema er a a ssim: o c a r a
P a r a ná . O m eu ir mão, que é o Da r c y, el e er a p intor de ch e gav a na t a p a deir a e c at av a a s c a b e ç a s de p r e g os
r esi dên cia . lixav a e p int av a .
Na ép o c a ag ente tinha um cunha d o que da quel e E ssa mão de ob r a de “ma sse a r ” um p a in el inteir o,
tip o que b om de conver sa . Não sa b e tr a b a lha r n em c at a r com ma ssa p lá sti c a essa s coisa s to da s quem
na da … A í a mulh er del e f oi tr a b a lha r numa dest a s imp la nto u f oi o m eu p esso a l. For a m os m eus ir mãos.
p r o dutor a s, que er a a a nti ga Zé P into. E la f oi tr a b a lha r Por e xemp l o: qua n d o eu com e cei c a da um tinha uma
p a r a f i c a r f a zen d o c af é, f i c a r ser v in d o c af é. Numa ga mb ia r r a de luz na mão que er a p a r a tir a r to d os os
dest a s i da s e v in da s que el e ia lá b usc a r a mulh er (…) def eitos. E isso vei o p or que até ent ão el es tr a b a lhav a m
el e v iu que tinha ser v i ço de p intur a . só em r esi dên cia de b ac a na… Ma nsão de B a r ão d o
Com o el e semp r e f oi muito de lá b ia , el e ch e g o u C af é n o M or umb i …. A í er a m os m eus tr ês ir mãos que
p r o c a r a e f a l o u a ssim: E u tenh o um p esso a l m eu que er a m só ci os e el es ma n da r a m m e b usc a r, eu já tinha
f a z este tip o de tr a b a lh o. S e o Sr. p r e cisa r é só f a la r tr a b a lha d o com o aju da nte de p intur a a l guma s ve zes
comi g o. E numa dest a s o p r o dutor p r e ciso u de p intor, com el es.
que não tinha , p or que na ép o c a em que a g ente Na ép o c a n os d omina m os o m er c a d o e a s úni c a s
com e ço u, f oi em 82. dua s p r o dutor a s gr a n des que a ag ente não conse guiu
entr a r f or a m a L IN X S Film es e a T VC . Por que a T VC só e xistia a tint a a ó l e o. E a tint a a ó l e o… qua n d o a
tinha o Por tina r i que p int av a p r a el es e a L inxs tinha g ente com e ço u n em a tint a a ó l e o e xistia . Q ua n d o se
o Sr. Milton e o Ni v a l d o. Foi p a ssa n d o o temp o e com quer ia p int a r um p or t ão de f er r o ent ão o p intor tinha
a s di ver g ên cia s que v ão sur gin d o…H oje eu tenh o uma que comp r a r o ó l e o de linhaç a ,o p ó xa dr e z que é o
e quip e de p intur a , o m eu ir mão, que é o Da r ci , tem óxi d o de f er r o, tin gia esse ó l e o de linhaç a e ent ão el e
o utr a . Junt a n d o o vo lum e tr a b a lh o del e e o m eu dá comp r av a um p ó que ven dia na ép o c a que se cha mav a
ma is o u m en os 60 a 70 % d o m er c a d o. p ó se c a nte. Mistur av a tu d o e est a tint a dem or av a de
24 a 36h de se c ag em. D ep ois que in dustr ia liz a r a m
- E co m o é que fo i a passagem de pin tura de est a mistur a e ven dia m a tint a a ó l e o.
pare de para pin tura de ar te? Q ue e xiste até h oje n o m er c a d o. D ep ois vei o a
tint a esma lte que é ma is p r áti c a de se c ag em ma is
- O m eu ir mão, o Da r ci, el e é o m entor de tu d o. A r á p i da ma s a p intur a a ó l e o é muito ma is dur a d o ur a .
g ente o l ev a com o um gr a n de m estr e, p or que el e tem Um p or t ão p int a d o a ó l e o dur a de 5 a de z a n os sem
essa sensib ili da de. É com o eu f a l o: o b om p r of issi ona l p r e cisa r de r e - p intur a e um p int a d o a esma lte v ão
é a quel e um que de c a da tr ês p a lav r a s que um dir etor dur a r d ois a n os. E nt ão a r esistên cia é dif er ente.
de a r te f a la el e conse gue a bsor ver cin co. E o Da r ci el e E nt ão m eu ir mão é dest a ép o c a . Muit a coisa
tem isso. de a r te que a g ente f a z h oje el e a p r en deu com os
S e vo cê f a la r a ssim: Da r ci n ós v a m os f a zer esp a nh óis. E l e tr a b a lh o u com um esp a nh o l. E ssa
um b e co, tip o a m er i c a n o… el e nun c a f oi ao E st a d os imit aç ão de ma deir a que a g ente f a z, isso não e xistia
Uni d os ma s el e já sa b e o que vo cê quer f a zer e ao em cin ema . E l e a p r en deu com um esp a nh o l que f a zia 192
invés de f i c a r p er gunt a n d o o que o dir etor de a r te quer te atr o na E sp a nha e el e que f a zia est a imit aç ão de
f a zer el e já p a ssa a te of er e cer p r op ost a s da quil o que ma deir a . Ma s qua n d o el e ensin o u p r o m eu ir mão, er a
vo cê quer ia . E l e tem est a gr a n de f acili da de. E u tenh o f eito com ver niz f osco e óxi d o de f er r o se tin gia e f a zia
um p o u co, ma s não t a nto qua nto el e. E na ép o c a em a imit aç ão de ma deir a . A s p r im eir a s que a p a r e cer a m
que el e com e ço u não e xistia “self co l or ” em p ub li ci da de f oi m eu ir mão que p into u.
- Isso é n ovo na verdade nã o? D eve ter uns 6 - Mas en tã o co m o eles faziam? Co m madeira?
seis an os o uso de “ Sel fco lo r ”
- A ma deir a er a a ma deir a , não tinha a lter nati v a .
Q ua n d o el e com e ço u em r esi dên cia er a ép o c a que É com o el e diz: S e el e ti vesse escon di d o a té cni c a
o p intor tinha que f a zer a tint a , f a zer a ma ssa . de f a zer isso, t a l ve z h oje el e esti vesse r i co. Ma s com o
el e não se p r e o cup o u, p ois da m esma ma n eir a que el e
- Q uando que fo i isso? Já tinha tin ta la te x? a p r en deu isso com f acili da de el e ensin o u p a r a to d o
mun d o que est av a p or p er to e c a da um f a z de um
- Na dé c a da de 60. E o Da r ci p e g o u a in da a ép o c a jeito.
da têmp er a . E l e tinha que f a zer a ma ssa que é c a l,
g esso e “a l v a iag e ( ? )”, que h oje a ma ssa cor r i da o cup o u - Mas nã o é só a té cni ca , tem o talen to envo lvido
este esp aço. E a p li c av a na p a r e de. Uns a p li c av a m com nã o?
escov a , o utr os a p li c av a m ela lisa . T int a esma lte vei o
a p a r e cer na dé c a da de 70, dep ois de 75/76. Q ue ent ão - É , o r esult a d o d o tr a b a lh o mu da muito de um
p r of issi ona l p a r a o utr o. A ma n eir a que f aço f i c a de um dav a ma is cer to ( “ imp er m e a b iliz a a ma ssa cor r i da que
jeito, a que o o utr o f a z f i c a comp l et a m ente dif er ente. é muito p or osa…” )
Va i da sensib ili da de. E é n este f un d o de late x que se conse gue o tom
E nt ão, el e que tr o uxe …só que a ssim, el e f a la , da cor d o con cr eto. S e vo cê quiser f a zer um cim ento
c a da ve z el e se a p er f ei ço a ma is. E st a imit aç ão a g ente queima d o ver m elh o, é com est a m esma té cni c a d o
com e ço u com ver niz f osco, a í a g ente v iu que dem or av a con cr eto a p a r ente.
um p o u co, ent ão a g ente tento u acel er a r este p r o cesso
p a ssa n d o a usa r uma agua da de late x. E eu ao invés - Co m quan tas pesso as vo cê trabalha
da agua da de late x, p a ssei p a r a um ver niz acr í li co.
P a ssei a tin gir o ver niz, ent ão a imit aç ão já f i c av a H oje eu esto u com quinze dir eto. S e p r e cisa r
p r ont a . Até ent ão a g ente p a ssav a uma agua da f osc a , eu vo u cha ma n d o ma is. ( A p ós 11 de setemb r o até
dep ois v inha com o ver niz. É est a que a ma i or ia d os de zemb r o o tr a b a lh o diminuiu muito, ma is este a n o
p intor es usa m. E u h oje já sa í disto, já uso a agua da r e cup er o u b em)
de óxi d o de f er r o, que é a agua da de xa dr e z, que é O m eu ir mão tem 25 p esso a s tr a b a lha n d o com
a quela que eu f iz lá p r a vo cê. É só p ó xa dr e z e água el e.
sob r e a ma ssa . D ep ois eu uso um ver niz que é p r a da r
v i da na ma deir a . - Q uan tos an os o D arci tem?
E el e (Da r ci), que desenvo l veu t a mb ém a té cni c a
de má r m or e. Por que até ent ão os p intor es de a r te - Cin quent a e tr ês.
f a zia m imit aç ão de má r m or e com a r comp r imi d o. E l es 193
j o gav a m b a st a nte tip o de agua da de tint a e v inha m - E vo cê? ”
a ssop r a n d o (com o a r comp r imi d o), ent ão a água ia
f un din d o uma na o utr a . -Tr int a e Cin co n o sá b a d o. O gr a n de m entor de
E dep ois el e desenvo l veu est á o utr a com o tu d o é o Da r ci.
p in cel. Ma s muit a s coisa s a g ente v a i a p r en den d o com
(…) os p r óp r i os dir etor es de a r te. Tem muit a s coisa s que
vo cê, p or e xemp l o, a p r en deu na f acul da de e em li v r os
- E quando o dire to r de ar te pe de uma te x tura que eu nun c a ti ve acesso. E u tenh o só até 6ª sér ie.
n ova para vo cês? Co m o é o pro cesso. E ac a b ei c a in d o n est a p r of issão p or n e cessi da de.
Imagina: eu er a um b a l conist a de p a da r ia e ga nhav a
- Na r e a li da de a g ente m ei o que invent a . S e deu um sa lá r i o e m ei o p or m ês. Q ua n d o m e cha ma r a m lá
cer to já p a ssa p r a o utr o… v ir a m ei o que uma ma nia . d o P a r a ná , m eus ir mãos m e p agav a m m ei o sa lá r i o
Q ue n em essa d o con cr eto (P f iser) f oi o Da r ci que mínim o p or dia . E a í eu m e conscientizei. O u eu vo u
desenvo l veu isso. E u f a zia uma , ma s f a zia dir eto em a p r en der isso (p intur a ) o u eu esto u la sc a d o. Por que
cima da ma ssa não dav a f un d o e a l guma s f i c av a m muito eu não ia ter acesso a uma f acul da de t ão ce d o. Até
ma n cha da s. E u não sa b ia com o a m eniz a r isto. Um dia ent ão eu tinha que tr a b a lha r e aju da r a sustent a r a
eu est av a tr a b a lha n d o com el e e a g ente p r e cisav a de minha mãe, que na quela ép o c a a in da er a emp r e ga da
um “con cr eto”, eu disse que sa b ia f a zer um tip o. E l e d om ésti c a e m or av a com m eus d ois ir mãos m en or es.
p er gunto u se f i c av a b o a . E u disse que ma is o u m en os.
E nt ão el e v iu e disse que da n d o um f un d o de late x - Q uan tos an os vo cê tinha?
Q ua n d o, num cená r i o da Fláv ia (M or aes) el e m e
- E u tinha c ator ze. E p or c ausa dest a deter minaç ão p e diu um estu que ven e zia n o eu ach ei que el e est av a
eu p a ssei a ter um inter esse ma i or. f a la n d o esp a nh o l mistur a d o com in gl ês, que enten d o
m en os a in da .
- Mas vo cê gosta do que faz. Nã o gosta? A í el e f a l o u: É com o na C a p ela Sistina . A í é que
enten di m en os a in da .É a í el e (com p aciên cia ) f oi m e
- H oje sim. Até d ois a n os dep ois que eu c a sei eu ensina n d o um m onte de coisa . E eu h oje tenh o um
detest av a . m onte de li v r o de a r tes na minha c a sa dizen d o qua l
o p r o cesso que el es usa m, disto o u a quil o em a l guma
- E co m o vo cê co m e ço u a gostar? f acul da de lá na Fr a n ç a . Por que lá e xiste f acul da de de
p intur a de a r te, n é? E l eitur a p or li v r e e esp ont â n e a
- E st a é um e r esp ost a que eu não tenh o até h oje. vont a de. S o u cur i oso de sa b er com o são a s coisa s.
E u achav a este tr a b a lh o muito suj o. Achav a que não
er a p r a mim. E u dav a muito c a n o n o Da r ci qua n d o eu - Mas h oje , do al to dos se us 35 an os , pro f issi o nal
tr a b a lhav a com el e. Ch e gav a se x t a -f eir a eu sumia . E u re co nh e cido, se h o uvesse um curso ba cana de
ga nhav a muito dinh eir o na ép o c a…p r a um a d o l escente pin tura…?
n é? Com 16/17 a n os eu tir av a uma f a ixa , um p el o
o utr o, uns 40 sa lá r i os mínim os. - E u já ter ia f eito. E h oje a in da ser ia . S er ia muito
A í, eu dav a uma gr a na p r a minha mãe que eu inter essa nte… e não só a p r en der, muit a coisa que
já tinha tr a zi d o ela d o P a r a ná . E f or a isso a in da m e eu já sei eu ter ia a op or tuni da de de est a r p a ssa n d o 194
sob r av a muito dinh eir o. Até que eu discuti com m eu p a r a quem esti vesse f a zen d o o cur so comi g o. E ssa
ir mão la r guei tu d o e f ui tr a b a lha r em of i cina m e c â ni c a , f acili da de que eu tenh o de distin guir cor, de ch e ga r
f unila r ia . E f oi b om p or que a ma i or p a r te d o que eu numa cor…
sei h oje sob r e p intur a autom oti v a f oi de lá . D ep ois E tem muit a coisa de p intur a de a r te m esm o que
da of i cina que eu ac a b ei f i c a n d o só ci o (d ois a n os de eu a in da não sei. Ma s muit a coisa que a g ente a p r en de
tr a b a lh o) eu vo ltei a tr a b a lha r com o Da r ci, ma s f i quei com os dir etor es de a r te. O Da r ci, m esm o a p r en deu
só uns tr ês m eses com el e. Da í r eso l v i que eu tinha muit a coisa com a Da niela T h oma s.
que to c a r sozinh o. E u a p r en di muito com o Felip e ( Ta ssa r a ). A
f acili da de de p int a r, p or e xemp l o: um p iso g e om étr i co
- Q uan tos an os vo cê tinha n esta épo ca n o chão, eu tenh o gr aç a s ao Felip e. (…)
- Uns v inte e cin co a n os. A p a r tir disto eu com e cei - D esenh o té cni co vo cê nun ca estudo u?
a b usc a r inf or maç ão. Por e xemp l o: o que são cor es
p r imá r ia s, se cun dá r ia s e ter ciá r ia s? Fiz c a da str o na s - Não.
emp r esa s de tint a com o Su v inil, S ch er w illia ms e os
c at á l o g os com e ç a r a m a ch e ga r na minha c a sa… N est a - Mas vo cê lê plan ta?
ép o c a eu tr a b a lhav a com o Mir o, f otó gr af o. E l e é um
p ut a c a r a b ac a na . E l e v ia que tinha a nsie da de p or - Lei o.
conh e cim ento e com e ço u a m e tr a zer li v r os ensina n d o
coisa s com o p átina o u estu que ven e zia n o. - E isso vo cê fo i a prendendo trabalhando
também? cer t a p a r a vo cê) f oi um cen oté cni co, que já m or r eu
ach o. Com o r ao n om e del e? E r a n om e de a r tist a
- Sim. p lá sti co t a mb ém…? M a s o gr a nilite a g ente f a zia com
(…) a p en eir a e os p in g os f i c av a m to d os p or i gua l. E l e que
f a l o u p r a ag ente f a zer com o p in cel e com a tint a
- Even to é o m esm o pre ço que cin ema? ma is agua da que f i c av a ma is r e a l.
E tem coisa que ag ente invent a . O utr o dia eu
- Não. É m en os p or que se c a l cula a mão de ob r a esb ur a quei um r o l o f iz uma s tr ês agua da s de tint a s,
ma is b a r at a . Ma s na r e a li da de evento dá ma is dinh eir o p a ssei p r a lá , p a ssei p r a c á e f iz um gr a nito. Até
p or que é ma is r á p i d o. que f i co u b om. É ma is uma té cni c a p a r a a co l e ç ão de
ma nia s.
- Mais rá pido que cin ema? (…dir etor es de a r te.)
Ma s o Gr ub b er (C a r l os) f a la que na A r g entina é
- Sim. E não e xiste t a nt a qua li da de. É m en os uma dif i cul da de p a r a p int a r cená r i o, p or que lá quem
e xi g ente. A mão - de - ob r a é m en os qua lif i c a da . p int a a in da é o cen oté cni co.
O b r a sil eir o p o de não se r um p ovo estu da d o ma s
- Vo u co lo car vo cê pra fazer umas pe ças de é um p ovo inteli g ente. E l e a bsor ve tu d o muito r á p i d o.
te a tro E a m elh or ma n eir a de se v ir a r p a r a sob r ev i ver é essa .
Ha,ha… Eu a ch o ba cana. É in teressan te . E u a p r en di muito com a S of ie, que é f r a n cesa , estu d o u,
Tudo aquilo que sai do se u co tidian o é mui to f e z uma f acul da de de a r tes lá na Fr a n ç a . (…) 195
in teressan te . E com m eia dúzia de p a lav r a s, conver sa n d o com
Co m o a gen te nã o tem este pro f issi o nal em ela , vo cê conse gue tir a r a l gum tip o de té cni c a . E
te a tro, agen te n em pensa n este tipo de trabalh o. muit a s ve zes até ven d o ela tr a b a lha r.O M a r cos S achs:
O pre ço do pin to r de ar te é justo mas é mui to caro h oje eu f aço um céu com nu vens em p r of un di da de p or
para o o rçam en to da mai o r par te das pro duçõ es c ausa del e. E co ub e a el e a simp li ci da de de m e dizer
te a trais . com o er a . E l e não p r e cisav a ter f eito isso. E é a p ena s
f a zer a nu vem ao invés de com b r a n co p ur o com um
- É , à s ve zes e b em f ácil, ma s a g ente tem que v i o l et a b em cla r inh o. D ep ois eu vo lto com um b r a n co/
v a l or iz a r. E se eu não cob r a r vem o utr o e cob r a . b r a n co e com um p o u quinh o de p r eto. E é com isto
(…D iscur so luz L u, … O cen oté cni co de te atr o que p a r e ce que ela est á so lt a . E se f or só b r a n co não
tem uma e quip e de p intur a…) se conse gue nun c a desf o c á - la .
A quest ão destes cen oté cni cos que t a mb ém
f a zia m p intur a é que o m er c a d o com e ço u a f i c a r ma is - É que isto é té cni ca de pin tura m esm o. É a
e xi g ente e el es com e ç a r a m a não da r ma is cont a transferên cia desta té cni ca para o cenári o.
f i c a n d o só com a ma deir a e a di v i dir a f un ç ão com
p intor es esp e cia liz a d os. Q ua n d o a g ente entr o u muito - É.
cen oté cni co a a nti ga p int av a seu p r óp r i o cená r i o. É (…)
que p int a r er a só p intur a lisa . Não tinha te x tur a . Com o (… em som té cni c a de ma deir a . P r im eir o o f un d o
h oje que muitos cená r i os se r eso l vem na p intur a . que é o se gr e d o
A imit aç ão de gr a nilite (eu nun c a f iz n enhuma dep ois o ef eito.)
(Ma r cos S achs, Mir o, Felip e Ta ssa r a )
196
197
Rodrigo M atheus
E ntr ev ist a r e a liz a da em 03/20 02. enten der a s imag ens que eu v ia em cena . Com o que
a quil o m e b atia , com o m e em o ci onav a . E o cir co que
er a uma p a ixão já não m e atr a ia com o dia -a - dia . E u
N O M E Ro dr i g o M ath eus nun c a quis sa ir v iaja n d o em tr a ill er p el o inter i or d o
PRO FI S S ÃO D ir etor, Ator e Cir cense B r a sil.
203
204
G ianni R at to
E n t r e v i s ta re aliz ada em 28/03/20 02 diz: Tenh o cená r i o p a r a f a zer. Q ua is são. Uma sa la um
ja r dim, uma f onte, uma a r quitetur a r oma na , r uína s…
N O M E: Gia nni R at to E u tenh o 20, 30, 40 ,50 li v r os de cen o gr af ia vo cê v a i
PRO FI S S ÃO: Cen ó gr af o e D ir etor o lha n d o, el es são inteli g entes ma s não tem na da a ver
com a músi c a . E u m e l emb r o que qua n d o eu f iz …
Tr a s c r i ç ã o da F i ta E u ach o que a cen oté cni c a ela na sceu junto com os
gr e g os. J á hav ia cen o gr af ia té cni c a , a p a r ato té cni co,
sistema té cni co, p a r a r eso l ver p r ob l ema s de c a r áter
té cni co. P a r a p er mitir que a s tr ag é dia s de S óf o cl es, de
E ur íp i des etc p u dessem se ma nif est a r dentr o de uma
lin guag em “ te cn o l ó gi c a”. A te cn o l o gia da cen o gr af ia ,
- Te a tro a I taliana: a liá s d o te atr o, é f ilha dir et a da s a r tes ma r inh eir a s. O
b a r co é o p onto de p a r ti da que os gr e g os usa r a m p a r a
- O Te atr o a I t a lia na é a continuaç ão de uma coisa p o der em f a zer m ov im ent açõ es té cni c a s de cená r i os
velha que já m or r eu. O Úni co te atr o a I t a lia na que r esp eito, e de p er sonag ens de cená r i os vo a n d o n o a r. (S ó este
ma s sem n enhum m oti vo p a r a r ep etir h oje, é o te atr o a sp e c to já é uma tese). Sistema de cor da s, r o l da na s
de on de na sceu a cen o gr af ia . D e 150 0 p a r a dia nte. E st a m oitõ es, p esos e a p r esen ç a d o h om em en c a ixa da lá
c a r ga cr iati v a de descob er t a s té cni c a s f oi c a da ve z ma is dentr o.
sen d o p er tur b a da p or uma c a r ga de c a r áter r e a list a . A (O b a r co é um p a l co).
cen o gr af ia que na sce com o uma gr av ur a o u ent ão dentr o E st a cen o gr af ia de c a r áter té cni co, sob r e a qua l 205
de um p r ojeto gr a n di oso ch ei o de tr u ques, de inven çõ es, tem um li v r o esp e cíf i co, que f oi escr ito em 160 0. O n de
de “en ga n os” f oi se tr a nsf or ma n d o num instr um ento de tem to da s a s té cni c a s p a r a r eso l ver qua l quer p r ob l ema
imag em r e a lísti c a tent a n d o se a p r oxima r c a da ve z ma is té cni co dentr o de um te atr o, até o “ f a de lumin oso”.
da ver da de, da ver da de da dr a matur gia que est av a sen d o S a b b at ti (e di ç ão f r a n cesa da dé c a da de 40).
r ep r esent a d o… (sé c X I X ). O f a de sem el etr i ci da de? É a coisa ma is b est a d o
N o sé cul o X X f oi que com e ço u tu d o. Com e ço u um mun d o ma s que é r esult a d o da obser v aç ão coti dia na . D e
contr a …… Ma s a ver da de é que o r aci ona lism o d os r ep ente a s ma is b r ilha ntes i déia s são conse qüên cia da
a r tist a s, d os músi cos, r e g entes, etc . não se p r e o cup o u “maç ã de N e w ton”. O S a b b at tini p er ceb eu que atr avés
minima m ente com este a sp e c to deixa n d o que os d o mater ia l que se usav a , a p ossib ili da de dentr o de
esp et ácul os cor r esse sob a é gi de cor r et a da óp er a de um esp et ácul o de aum ent a r p r o gr essi v a m ente a luz.
muit a músi c a (ma s a qui est a m os de óp er a… que te atr o se (Com o é? ). E st á lá , l eia . S e vo cê não se inf or ma , se
f a zia n est a ép o c a ). E u ach o que def en d o a óp er a com muit a vo cê v a i a p ena s esp er a r o a lp iste que é j o ga d o a ssim
ser ie da de p a r tin d o d o p r in cíp i o que to d os os tema s que não se ch e ga lá nun c a . Não tem muitos li v r os sob r e
f or a m h er da d os f or a m p r o gr essi v a m ente sup er a d os. Os cen o gr af ia . Tem um que é o S onr el, que um li v r o sob r e
que não f or a m sup er a d os f i c a r a m n o dep ósito da r e aç ão. té cni c a s cen o gr áf i c a s que é b a st a nte inter essa nte que
E nt ão vo cê vê que tem cená r i os que f or a m f eitos há p o u cos é muito su cinto. E o o utr o é o d o B r un o M ell o, este
a n os atr á s que na scem velh os. Po de até ser um cená r i o li v r o r e gistr a to da a té cni c a , a te cn o l o gia in clusi v a ,
b onito, ma s se o p r in cíp i o é er r a d o, continua -se f a zen d o te atr a l até o com e ço d o sé cul o X X . E nt ão sa b en d o
uma inutili da de de cená r i o. E nt ão h oje a cen o gr af ia tem usa r… S ó que h oje este li v r o é sup er a d o, não se usa m
que te l ev a r a descob er t a d o â mag o da temáti c a . A l guém ma is a s té cni c a s. D e qua l quer f or ma semp r e se p o de
descob r ir inf or maçõ es muito p ositi v a s. (O b á si co de aconte ceu? E stes it a lia n os e p or tu gueses não ensina r a m
constr u ç ão a in da é muito usa d os dest a té cni c a ). Sim p esso a s…). Símil es f or ma r a m ma s aconte ce que h oje
, cla r o. ( Ac a b a m ento muito não ? ). O li v r o de 160 0 sob r o u um só. Q ue seja r e a lm ente b om, que conh e ç a
de S a b b at tini é muito imp or t a nte. Não é t a nto p ela s té cni c a etc . (P up e) E tem o f ilh o de um cen oté cni co.
so lu çõ es, p or que h oje se usa muito o tr i dim ensi ona l, “ Chima nsquinh o”. O p a i p a r o u de tr a b a lha r ma s o f ilh o
a s té cni c a s el étr i c a s, enf im to da s a s n ov a s té cni c a s r e ceb eu uma cer t a h er a n ç a de inf or maçõ es. E l e sa b e
( ? )…O p r óp r i o Svob o da def iniu té cni c a s c a r íssima s se m e xer n o p a l co de uma f or ma conveniente. M a s
que dep ois r e quer em uma instr um ent aç ão te cn o l ó gi c a têm p o u cos. Tem o Ma r ci o, que f oi tr a b a lha r comi g o.
v i o l ent a . E nt ão eu ach o que se l en d o deter mina d o li v r o E l e m e descob r iu e que eu o descob r i t a mb ém, que
se p o de a p r e en der cer t a inf or maç ão a p li c á - la e a mp liá - tr a b a lha muito com f er r o. M a deir a el e tr a b a lha ma is o u
la dep ois. Vo cê sa b e com o se co l o c a um p r e g o? m en os. M a s f i co u t ão estup i dif i c a d o de t a nt a b eb i da
que se p er deu. E m S ão P aul o vo cê não en contr a ma is
- I n clinado, para di f i cul tar que se so l te . nin guém que vo cê p ossa l ev a r p a r a f a zer um tr a b a lh o
junto.E o utr o é um senh or de uns 70 a n os , uma p esso a
- B r avo! E a c a b e ç a d o p r e g o deve semp r e f i c a r inteli g ente, p r of un da m ente conh e ce d or a . O P up e.
2mm p a r a cima ... (p a r a p o der r etir a r r á p i d o e sem Cur itib a tinha um st af f muito b om, com os qua is
da n o). se p o dia tr a b a lha r. Re centem ente tr a b a lha n d o lá
en contr ei um p esso a l com uma vont a de de tr a b a lha r,
- Q uando vo cê co m e ço u a trabalhar n o B rasil? com uma a l e gr ia que eu nun c a v i na minha v i da , há não
ser muitos a n os a ntes. E u f iz tu d o que eu quer ia , com 206
- E m 54. uma a ssistên cia té cni c a b elíssima . Por ve zes um p o u co
in comp etente ma s que se sup er av a p ela de di c aç ão e
- Co m o é que vo cê en co n tro u a cen o té cni ca p ela vont a de de f a zer.
para trabalhar?
- Havia pro ce dim en tos ?
- E st áv a m os muito m elh or lá d o que h oje. E u
tinha e xcel entes cen oté cni cos de or i g em p or tu guesa - A quest ão não é o que. Os p r o cessos de f a zer
e it a lia na e a l guns ur u gua i os. E l es tr o uxer a m o um b a r co vo a r o u seja o que f or é muito ma is f ácil d o
conh e cim ento de uma te cn o l o gia cen o gr áf i c a até a que p a r e ce, só que p r e cisa ser muito b em f eito. Numa
dé c a da de 60. A p a r tir da í h o u ve uma “de c a lag em” o c a sião n o te atr o da Ma n ch ete, na p r a ia d o Fla m en g o.
p r o gr essi v a que h oje desconh e cem qua is são os Just a m ente com d ois p or tu gueses p r of un da m ente
p r o cessos de tr a b a lh o. E nt ão de r ep ente vo cê com o conh e ce d or es d o tr a b a lh o com ma deir a e a m e c â ni c a
aconte ceu n o esp et ácul o d o C a r uso. Um p e quen o d o esp et ácul o. E nt ão com eu el e eu conse gui f a zer
musi c a l que el e f e z. E l e p r e cisav a de um p r ati c ável, uma coisa que n or ma lm ente eu não conse guir ia f a zer
d ois o u tr ês de gr aus. Uma p e quena p lat af or ma p a r a com o utr os (em SP). E u f iz uma v i ga de 16 m etr os
tr ês p esso a s. Q ua n d o vei o o p r ati c ável el e er a f eito de de v ão li v r e, sem c a b os a p a r entes. Sub ia e descia .
f er r o so l da d o. Pesa díssim o. Pen dur a d o em d ois guin da stes. A estr utur a , isto é
P a l cos com uma qua nti da de de tr av a s inutilm ente. que é inter essa nte… Por que l ev a nt a r a l guma coisa ,
E xistem c á l cul os p a r a r e a liz a r est a s coisa s, p or tu d o b em. Ag or a , f a zer uma estr utur a que se se gur e
e xemp l o: esc a da r ia s vo a d or a s. (Ma s ent ão o que sem ento r t a r, c a r r e ga n d o cená r i os…isto não é coisa
muito f ácil. E nt ão n ós f izem os um sistema de v i ga s um cená r i o constr uíd o c a l cula d o. (…) A p er sp é c ti c a
entr elaç a da s. é uma f a lsi da de. É um a r r a nj o v isua l p a r a p er mitir
Imagina um p a r a l el epíp e d o sem la d os , a p ena s que vo cê desenh e não com a s m e di da s r e a is. (…) (a
os p er f is. A imag em im e diat a que se tem são 04 constr u ç ão é f eit a p a r a o t a ma nh o da b o c a de cena
la d os v a zi os (a p a r entem ente). Fa zem -se a s diag ona is ? ?!!!! – p esquisa r – enten der est a e quaç ão).
dentr o, ma s não é só isto. Os 4 la d os são escor a d os
ma s dentr o, em c a da â n gul o (f ace), e xiste uma cr uz - E quan to a Maquinista e Cen o té cni co?
que f ir ma t a nto num senti d o com o n o o utr o. E nt ão
er a qua se com o se f osse uma v i ga de con cr eto.(D e Sim e xiste uma hier a r quia . Hier a r quia de lavor o,
ma deir a , ela er a? ) Tu d o de Ma deir a . não de imp or t â n cia p or que é to d o mun d o i gua l.
E u f iz ag or a um esp et ácul o com o J or g e, Ur u gua i o. Cen ó gr af o – Cen ó gr af o Re a liz a d or - Cen oté cni cos e
E u f iz um desenh o que el e e xe cuto u muito b em. A Ma quinist a s – dir etor de p a l co que é r esp onsável p ela
v i da n o Te atr o d o Chi quinh o M e deir os. Feit a sob m ont ag em/desm ont ag em e e xe cu ç ão d o esp et ácul o.
en com en da (N ot a estr utur a de v i ga s em p er sp e c ti v a (… descr i ç ão d o p a l co de it a lia n o).
sem escor a , uma a p oia da na o utr a ) Te atr o d o R i o p e quen o e b onitinh o, com dua s
c a ixa s de água p or b a ixo, p a r a acústi c a . D ois
- A marcenaria to da os en caixes , a fo rma co m o ur dim entos, um p a r a ma quina r ia o utr o p a r a ma n ob r a s.
tra tar a madeira …. Isto se perde u bastan te , nã o? Foi destr uíd o.
- H oje en c a ixe é f eito a p ena s em deter mina d os - Em term os de a cabam en to ? Co m o o iso po r 207
c a sos. Ma s cen o gr af ia a nti ga , a ssim em 170 0/180 0 po r e xemplo?
er a tr a b a lha da to da p or esf or ço, f or ç a s n e gati v a s
e p ositi v a s (f ísi c a ). Té cni c a s de a l ç a p õ es são muito - O isop or se com e ço u a usa r em 65/70. E l e é um
imp or t a ntes p a r a não f a ze r um a m onto a d o de ma deir a el em ento inter essa nte ma s não def initi v a m ente, é um
qua n d o não p r e cisa . O sistema de contr a p eso t a mb ém mater ia l tr a nsitór i o, p er e cí vel, queb r a com f acili da de.
é muito imp or t a nte. Ma s p r in cip a lm ente que tip o de E l e tem que ser tr a b a lha d o com co la s esp e cia is e
cen o gr af ia vo cê quer enf r ent a r. r e cob er to e te ci d os e f il ós p a r a não estr aga r. E se
Um tip o de cen o gr af ia p i c tór i c a to da desenha da p r est a p r in cip a lm ente a escultur a s.
em p la n os p a r a l el os on de a p r e o cup aç ão é p er sp é c ti c a .
(o u tr i dim ensi ona l…) - Co la de peixe?
- Cen ó gra fos Re alizado res n o rmalm en te mais -Vo cê comp r a em t a b l etes, deixa em b a nh o - ma r ia
ligados a pin tura? e usa a ssim. É a co la sa p ateir o usa , é ma is b a r at a e
dá um ac a b a m ento cor de ma deir a natur a l. E xistem
E xistem. E u tr a b a lh ei muito com el es. Ó p er a é uma co la s p a r a p intur a s, é f eit a com r a sp ag em da p el e de
coisa sér ia , são cená r i os im ensos. E nt ão o p r o cesso de co elh o. P a r a têmp er a , guach e.
tr a nsf er ên cia d o desenh o… vo cê f a z um cr o qui em dua s
dim ensõ es. O Tema n o c a so é tr a nsf er ên cia de dua s - E o la te x? A base de bo rra cha
dim ensõ es p a r a a ter ceir a . E xiste um p r o cesso té cni co
que tr a nsp or t a um desenh o em dua s dim ensõ es p a r a Ma s não é t ão imp or t a nte uma co la o utr a . O
imp or t a nte é que c a da um p ossa f a zer o que quer.
E nt ão se en contr a um mater ia l que f un ci ona e não é
a p a r entem ente c at a l o ga d o el e p er ma n e ce.
FIN A L SE M GR AVAÇ ÃO
Cyro D el N ero
E n t r e v i s ta re aliz ada em 08/05/20 02 “ te atr o sacr o”.
Foi n essa i da de e n esse a mb iente que eu descob r i
N O M E: Cy r o D el N er o esse v ín cul o entr e os r itua is r eli gi osos e o Te atr o. Te atr o
PRO FI S S ÃO: Cen ó gr af o e magia , r itua is e xa mã s, etc . v ier a m dep ois. Os r itua is
m e inter essa r a m muito com o p r im ór di os da s litur gia s
Tr a s c r i ç ã o da F i ta r eli gi osa s, seja m p o liteíst a s com o m on oteíst a s.
O te atr o o ci dent a l tem sua or i g em em Atena s n os
r itos r eli gi osos, ma s t a l ve z o te atr o tenha el e m esm o,
da d o or i g em à s r eli gi õ es, muito a ntes d o te atr o da Áti c a .
É A ntonin A r t au d quem diz que o Te atr o não na sceu da s
r eli gi õ es, ma s a s r eli gi õ es é que na scer a m d o Te atr o.
- Q uando e co m o vo cê co m e ço u a fazer N o ter ceir o sé cul o a C . o Te atr o com e ç a a se tor na r
Cen o gra f ia? veícul o d o p o der r oma n o e tor na -se cir co sem te x tos
comp a r áveis aos te x tos gr e g os. S é cul os dep ois o Te atr o
- E u r e a lm ente com e cei a p ensa r Cen o gr af ia na tor tur a d or de cr ist ãos, est a r á p r oib i d o p el o p o der de
obser v aç ão d o culto r eli gi oso. E u ti ve um p a r ente, – imagin em! - um p agão, A la r i co. M a is t a r de o Te atr o
Rev. J osé del N er o, que deixo u de ser p a stor A n gli c a n o vo lt a r á p or so li cit aç ão da I gr eja . Na a lt a I da de M é dia o
p a ssa n d o a ser E p iscop a l, p or est a r, entr e muit a s Te atr o tem v ín cul os tot a is com a f é cr ist ã , ma s com e ç a
r a zõ es, a p a ixona d o p or uma litur gia que p ossuía a a bsor ver r eli gi õ es p agã s. S ão semp r e a s r eli gi õ es, até
ma is p omp a e cir cunst â n cia . E em sua de cisão sé cul os ma is t a r de. 210
p eso u muito el e ser um e xcel ente or ga nist a e vo cê A s or i g ens r eli gi osa s d o p a l co não desa p a r e cem
sa b e que na I gr eja Ref or ma da a litur gia musi c a l tem nun c a . Por e xemp l o: m esm o dia nte de um esp et ácul o
uma imp or t â n cia muito gr a n de, sob r etu d o a litur gia r uim há semp r e um m om ento n o qua l a s r a ízes r eli gi osa s
musi c a l. Vo cê sa b e da gr a n de z a da músi c a de B ach, d o te atr o sur g em e “desce” n o p a l co o espír ito d o Te atr o.
ob r a ma is imp or t a nte da litur gia luter a na . O p r óp r i o Há um clima r evela d or de que o p a l co é a in da um a lt a r e
L uter o er a um e xcel ente comp ositor, ten d o cr ia d o um o que se m ove n el e é um conjunto de sina is r eli gi osos.
magníf i co Hin o da Ref or ma , ma is t a r de usa d o com o E p osso, est a n d o n o Te atr o, qua n d o há uma p ausa ,
tema de c a nt at a s e sinf onia s de B ach e M en delssohn. um m om ento e x tr ema m ente sil en ci oso, a ma deir a d o
Aos 17/18 a n os, entr a n d o p a r a o seminá r i o p iso d o p a l co r a n g e qua se imp er cep ti velm ente e. o u ve -
p r esb iter ia n o – on de esti ve som ente um a n o - eu ti ve se cor t a n d o o sil en ci o, o lati d o de um c ão d o la d o de
um íntim o cont ato com a litur gia e sua s cir cunst â n cia s, f or a d o te atr o, na r ua , com o se f or a uma inter ven ç ão
ch eia s de gr a n de z a musi c a l, com seus cor a is e seus p r op osit a l, mági c a e cósmi c a . Aquel e lati d o na da tem
hin os. O f l or il é gi o musi c a l insp ir av a p omp a r ever ente a ver com o esp et ácul o, ma s so a com o um a n gustia nte
e n os f a zia m over dentr o da i gr eja , com r itos av iso, voz d o destin o; da m esma ma n eir a que so av a m os
c a nt a d os. gr itos de M e deia; o p ath os d o v a z a r de o lh os de É dip o; o
Ao contr á r i o da I gr eja C ató li c a , cuja s r a ízes la m ento n o sacr if íci o de If i g ênia , f ilha de Aga m êmn on; os
são in disf a r ç avelm ente o gr e g or ia n o e o a mb r osia n o d ob r es f ún eb r es d os sin os da I gr eja . E em um m om ento
que emp r est a m uma p r imiti v a e lin da r eli gi osi da de, com o esse , o u o utr os, a p a r ti cip aç ão d o Te atr o em na s
a litur gia musi c a l p r otest a nte p ossui uma tr a di ç ão r elaçõ es com deuses e h om ens.
b a r r o c a muito p r of un da p ossui d or a da p omp a de um A r evelaç ão d o conf lito é a essên cia d o env ir onm ent
mági co d o Te atr o. E f oi na em o ç ão e consi der aç ão eu e um ator d o A nf itr ião, B r un o, dissem os: n ós v a m os
desses a sp e c tos d o te atr o que eu com e cei. n essa . Isto aconte ceu numa S e gun da f eir a e o gr e g o
toma r ia um nav i o em S a ntos n o S á b a d o. D e ci di p a r tir
- Co m o co m e çar uma carreira te a tral? sem sa b er com o eu a r r a nja r ia dinh eir o p a r a comp r a r uma
p a ssag em – eu só quer ia uma p a ssag em de i da – p ois
- Q ua n d o m eus a lun os de Cen o gr af ia m e na quel e m om ento p a r tir p a r a a E ur op a er a uma r e a liz aç ão
p er gunt a m o que devem f a zer p a r a com e ç a r sua tot a l e, na quela i da de – v inte a n os - m eu sentim ento
c a r r eir a te atr a l, eu r e com en d o que entur m en -se. N o er a de que eu er a im or t a l, na da p o der ia m e mat a r n essa
com e ço f oi a ssim: um de n ós desenhav a , hav ia um que v iag em p a r a o desconh e ci d o. M eus a mi g os Os w a l d de
escr ev ia , o utr o a da p t av a te x tos p a r a tel ev isão. O utr o A n dr a de Filh o - e t a mb ém f ui a mi g o de seu p a i – ma is
que quer ia dir i gir Te atr o e a r r e gim ent av a ator es. A lf r e d o Vo lp i e Osór i o B or b a , m e aconselha r a m ir até o
É r a m os uma tur ma ao r e d or d os p és da est átua de B r á s p r o cur a r o Ci cill o Mat a r a z zo. E eu f ui e f ui r e ceb i d o
Min er v a na B ib li ote c a Muni cip a l Má r i o de A n dr a de. p or el e, quem im e diat a m ente m e p er gunto u:
E com e ç a m os timi da m ente a cr ia r e p r o duzir coisa s Q uem te ma n d o u a qui ?
que cha máv a m os p intur a , cená r i o, músi c a , te x tos... e E eu r esp on di:
ator es n os cer c av a m. - O Na n ô, o B or b a e o Vo lp i.
N o m ei o d o c a minh o sur giu, v in d o da Gr é cia , um E l e cha m o u a se cr et á r ia e or den o u:
dir etor te atr a l. Vei o dep ois de a l guma s e xp er iên cia s - Va b enn e. O lha: comp r a uma p a ssag em p r a el e ir
te atr a is n o n or te da Gr é cia , e quer ia conh e cer o emb or a p r a L isb o a .
B r a sil on de v i v ia um a mi g o de sua ci da de. A p r en deu E se v ir a n d o p r a mim: 211
p or tu guês r a p i da m ente e com e ço u a p r o duzir um Q ua n d o é?
esp et ácul o. Foi p a r a quem eu cr iei a cen o gr af ia de Sábado
A nf itr ião de P lauto. Q ua l o nav i o?
A ntes disso um de n ós quer ia dir i gir um O A na C .
esp et ácul o, f oi Fláv i o R a n g el, e di v i dia inten çõ es N o S á b a d o entr a m os n o nav i o e f om os p a r a
te atr a is com o utr o comp a nh eir o, o Zé quit a – A ntun es a E ur op a . O nze dia s dep ois descía m os em L isb o a ,
Filh o. O Fláv i o estr e o u sua c a r r eir a com D o Mun d o tomáv a m os o tr em (E xp r ess O r ient) e atr avessa m os
Na da S e Lev a de M oss & Ha r t e a cen o gr af ia er a minha e Por tu ga l, E sp a nha , Fr a n ç a , Iu g osláv ia , A lb â nia e ch e ga m os
minha estr éia t a mb ém. E st a m os em 1948. Com e ç a m os a Tessa l ôni c a , c a p it a l da Mace d ônia . Tr ês m eses dep ois
juntos: Ma n o el C a r l os, que h oje escr eve te x tos p a r a eu est av a em Atena s on de f ui a ssistente de Cen o gr af ia n o
a s n ovela s da Gl ob o e já a da p t av a te x tos liter á r i os esp et ácul o M e dé a com K atina P a xin o u, a quela esp a nh o la
p a r a a tel ev isão; os ator es ao n osso r e d or er a m Fá b i o d o f ilm e Por que os sin os d ob r a m e d ona de um gr a n de
S a b ag, C a r l os Z a r a , Fer na n da M onten e gr o e Fer na n d o vozeir ão tr ági co. S eu p ulmão a lim ent av a o p ath os. E u
Tor r es. D e suma imp or t â n cia p a r a n ós f oi a m ont ag em esti ve na ten da de sa ída d os ator es n o te atr o H er o des
de O C a nto da Cotov ia com Ma r ia della Cost a n o p a p el Át ti cus de Atena s, n os b a sti d or es da tr ag é dia gr e ga , na
de J o a na D’A r c sob a dir e ç ão de Gia nni R at to, que p r óp r ia Gr é cia . Foi uma p r of un da e xp er iên cia , sa ída d o
hav ia ch e ga d o ao B r a sil com o esp et ácul o C a r ossell o na da , sem na da ter f eito a ntes, sem r e a lm ente sa b er o que
Na p o lit a n o e ser v iu de f er m ento p a r a o gr up o. r e a lm ente si gnif i c av a o Te atr o. Foi m eu p r im eir o b a nh o
E m 1956 o dir etor gr e g o Zizos Cha r at sa r is na c au da l d o Te atr o. E ent ão ac a b o u um dinh eir o que eu
decla r ou que volt a r ia pa r a c a sa , a Gr écia . Imediat a mente hav ia ga nha d o em uma p e quena e xp osi ç ão de p intur a
f eit a em Tessa l ôni c a . E st av a c a sa d o em Atena s com de m o der ni da de e sob r etu d o de n ovos con ceitos de
uma m o ç a a l emã que eu hav ia conh e ci d o n o A na C e cen o gr af ia e o utr os a sp e c tos p lá sti cos d o esp et ácul o.
dep ois de tr ês m eses p a r tim os de tr em p a r a Stut tga r t, E l e m e a p a r e ceu um dia , so li cit a n d o uma
na A l ema nha , ci da de on de ela m or av a . Im e diat a m ente ma quete p a r a a óp er a R ienzi. A p r en di muito na o c a sião.
a r r a njei um emp r e g o na Ó p er a l o c a l e lá tr a b a lh ei até Ma s o que ma is ga nh ei del e, a l ém de p o der m e a p r of un da r
1959. na p r o du ç ão op er ísti c a , f oi a p r e cia r a multip li ci da de de
seus t a l entos. E l e cr iav a , dir i gia , en cenav a , cen o gr af av a ,
-Vo cê já era fo rmado? Fo rmado em que? iluminav a , desenhav a os costum es e a p ena s não r e gia a
Arqui te tura? or questr a .
Os costum es de R ienzi utiliz av a m – e f oi a
- Nun c a sentei em um b a n co esco la r a p ós o p r im eir a ve z que v i isso que cer t a m ente f oi um uso
se gun d o a n o d o giná si o e um a n o de seminá r i o. Há uma na sci d o na quel es a n os – esp uma de p lá sti co, p a r a da r
dé c a da atr á s f ui conv i da d o a ensina r na USP. Fi quei inter na m ente f or ma aos f i gur in os.
muito sur p r eso e dep ois de d ois a n os f ui conv i da d o
a p r est a r e xa m e p a r a titula r i da de de minha c a deir a , - Espuma de plásti co era iso po r?
p or S a b er N otór i o. A p esa r de est a r sen d o jul ga d o
p a r a ser P r of essor T itula r eu não tinha m estr a d o n em - Não. Cr ei o que já er a um comp osto e xp a n di d o
d o utor a d o. E m e tor n ei D o utor H on or is C ausa aos que p ossuía um c at a lisa d or. W iela n d m e p e dia ser v i ços
68 a n os. E st a é a su cint a descr i ç ão de m eu cur r ícul o semp r e m e p er gunt a n d o: Vo cê p o de f a zê - l o? Vo cê p o de
ac a dêmi co. f a zê - l o? D esenh ei det a lh es de di ver sa s óp er a s p a r a Fr au 212
D eixei o Te atr o em Stut tga r t em 59, e d ois a n os B auer e n o c a so de O R a p to n o S er r a lh o de M oz a r t, su g er i
dep ois lá ch e ga r ia a b r a sil eir a Má r cia Haydé e que f e z uma cen o gr af ia , entr e ga n d o - lh e uma ma quete. O m eu
uma c a r r eir a b r ilha nte com a cor e o gr af ia de Cr a nko. p r ojeto er a um p a l co com el em entos de a r quitetur a d o
E r a m dua s c a sa s de Te atr o: uma p a r a o te atr o liter á r i o M ei o - O r iente r evesti d os de t a p etes p er sa s. E r a uma i déia
e o utr a p a r a o te atr o lír i co. E eu, tr a b a lha n d o na c a sa ób v ia p a r a mim. E ntr et a nto teve um gr a n de su cesso e
d o te atr o lír i co co la b or av a com o o utr o te atr o, semp r e a in da c a r r e g o comi g o essa ma quete a p ós 45 a n os.
sob a dir e ç ão de uma cen ó gr af a a l emã de Ha mb ur g o, N o f ina l d os a n os 50 eu est av a na A l ema nha , c a sa d o
Fr au B auer- Ecs y. Fr au B auer er a esp e cia list a em e com d ois f ilh os, qua n d o r e ceb i um tel ef on ema de m eu
cen o gr af ia p a r a b a l ê e eu esti ve envo l v i d o com um L ag o a mi g o da B ib li ote c a Muni cip a l, C a r l os H enr i que E scob a r,
d os Cisn es r óse o e muito deli c a d o, ma s gr a n di oso, m e cont a n d o que est av a em P a r is, hav ia se c a sa d o com
que ela cen o gr af a r a . uma m o cinha e quer ia m e v isit a r na A l ema nha . Fui esp er a r
Um dia n os disser a m que o dir etor d os Festi v a is o tr em de P a r is na est aç ão de Stut tga r t. Q ua n d o o tr em
de B ay r euth, W iela n d Wagn er, v ir ia a Stut tga r t p a r a ch e g o u eu v i C a r lito sa ir de um v agão c a r r e ga n d o dua s
en cena r R ienzi, óp er a de seu avô R i cha r d Wagn er. ma la s p esa díssima s, to d o a r que a d o e na sua f r ente uma
A p ós a guer r a , dep ois de muito insistir el e conse guiu senh or a com um muito v isí vel c a saco de p el e de l e op a r d o
a autor iz aç ão da s tr op a s de o cup aç ão p a r a r e a b r ir o e v isi velm ente gr áv i da . E r a a “m o cinha” cha ma da Rute.
Festi v a l que hav ia si d o um ver da deir o a lt a r d o na zism o. Por t a nto, Rute E scob a r. Conv i vem os a l guma s sema na s
E f e z uma r ef or ma con ceit ua l d o m esm o. O con ceito e e ga nh ei uma a mi ga eter na , uma gr a n de a mi ga com a
o b r ilh o musi c a is de Wagn er continuav a m os m esm os, qua l conser vo uma a miz a de into c ável. Ruth a b r iu uma
ma s a vestim ent a d os esp et ácul os est av a m ch ei os ga l er ia de a r te em P a r is só p a r a p intor es b r a sil eir os.
Aju dei a de cor a r a l oja de p er f um es que se tor n o u Rute d o Cemitér i o de Autom óveis. A in da dur a nte os
ga l er ia e e xp us lá minha p intur a . P int av a muito a n os 60 eu cr iei os el em entos gr áf i cos, os au ditór i os de
n essa ép o c a a l ém de e xp or t a mb ém p intur a a nter i or m o da , os a nún ci os e e ditor ia is de m o da que inau gur a r a m
tr a zi da da Gr é cia . E sti ve di ver sa s ve zes em P a r is p a r a os eventos de m o da b r a sil eir a .
tr a b a lha r com a Rute, p esso a de uma en or m e cor ag em Fui cen ó gr af o e dir etor de a r te de v á r ia s tel ev isõ es
e xisten cia l, com o h oje to d os o sa b em. Fr a nz K r ajb er g, b r a sil eir a s. Fui o dir etor de a r te e cen ó gr af o f un da d or
e xp ôs l o g o em se gui da . da T V E xcelsi or a p a r tir de 1961 e n ela cr iei o p r im eir o
V isitei a In glater r a atr á s de p intur a s n o Nati ona l p r o gr a ma de comuni c aç ão v isua l p a r a uma emissor a
Ga l er y de um p intor d os a n os 50 que semp r e m e b r a sil eir a: qua n d o o tel e - esp e c t a d or p a ssav a p or
entusia sm o u: Ni co la s de St aël. E l e se sui ci da r ia inter v a l os da emissor a , r e conh e cia os gr af ism os da T V
en qua nto eu est av a a in da v isit a n d o sua s ob r a s em E xcelsi or.
P a r is. E ent ão ac a b o u o dinh eir o. E u hav ia ga nh o Fui cen ó gr af o p a r a a l guns p r o gr a ma s da Fa mí lia
muito dinh eir o – n ot a s gr a n des e b r a n c a s com a ef ígie Tr a p o na T V Re cor d, com o t a mb ém p a r a f esti v a is da
de L uter o - com a ven da de to da uma e xp osi ç ão de Músi c a Pop ula r B r a sil eir a e na p a ssag em d os a n os 60
p intur a s numa ga l er ia de Stut tga r t. Reso l v i vo lt a r p a r a os a n os 70 m e tr a nsf er i p a r a o R i o de J a n eir o on de
p a r a o B r a sil com mulh er e d ois f ilh os na sci d os f ui Cen ó gr af o e D ir etor de A r te da Re de Tup i e da Re de
na A l ema nha . Q ua n d o ch e guei n o f ina l de 59 m eu Gl ob o. N est a , f ui dir etor de a r te e cr ia d or de a b er tur a s e
gr up o de a mi g os da B ib li ote c a Muni cip a l est av a to d o v inh et a s, ten d o f eito a s p r im eir a s inter ven çõ es gr áf i c a s
est a b el e ci d o e n o dia se guinte eu er a o n ovo cen ó gr af o co l or i da s da T V b r a sil eir a . E cr ia d or d o p r im eir o v i de o -
d o T B C , Te atr o B r a sil eir o de Com é dia e seu dir etor er a clip da m esma . 213
o Fláv i o R a n g el, que m e conv i da r a . Fom os o últim o N o R i o de J a n eir o, a n os 70, cr iei a in da a cen o gr af ia
dir etor e o últim o cen ó gr af o d o T B C sob a simp atia de de sh o w s d o C a n e c ão, a l ém de cen o gr af ia p a r a E llis
seu p r op r iet á r i o, Fr a n co Z a mp a r i que n os contr at a r a . Re gina e Chi co A nísi o. Um destes sh o w s er a dir i gi d o p or
Cr ei o que a p ena s Ma r ia B on omi cr i o u a cen o gr af ia de m eu comp a nh eir o da B ib li ote c a Muni cip a l de S ão P aul o,
Juli o Césa r de Sha kesp e a r e a p ós minha sa i da . E Fláv i o Ma n o el C a r l os.
R a n g el f oi f a zer a sua c a r r eir a n o R i o de J a n eir o. D ur a nte seis a n os ti ve a e x tr aor diná r ia e xp er iên cia
Z a mp a r i hav ia ga sto dur a nte dua s dé c a da s, n o T B C da Gl ob o e d o R i o de J a n eir o. O R i o é in disp ensável p a r a
e na Comp a nhia Cin emato gr áf i c a Ver a Cr uz, to da a sua quem quer ga nha r um ver niz em sua s em o çõ es, em seu
f or tuna e a f or tuna de sua esp osa . Tr a b a lha m os muito estil o, em seu tr a b a lh o e, sob r etu d o na conv i vên cia
n o T B C e la n ç a m os o autor Gia nf r a n cesco Gua r nier i entr e huma n os. D e r ep ente f or a m m e b usc a r n o R i o de
( A S em ente) e te x tos da quel es que se cha mav a m D ia s J a n eir o p a r a vo lt a r a S ão P aul o e esto u a qui desde a s
Gom es (O P aga d or de P r om essa ) e J or g e A n dr a de ( A ultima s dé c a da s e há a l guns a n os atr á s f ui conv i da d o
E sc a da ). p ela USP p a r a tr a nsmitir o que sei e o que p o der ia ser
N os gl or i osos a n os 60 tr a b a lhei com o Te atr o, t a nto útil tr a nsmitir com o cen ó gr af o e cr ia d or de in dum ent á r ia
e a t a l p onto que os tij o linh os a nun cia n d o n os j or na is te atr a l.
os esp et ácul os te atr a is, tinha m in def e c ti velm ente m eu
n om e com o cen ó gr af o de de zena s de esp et ácul os. Os - Ago ra en tendo sua paixã o pela Gré cia: se u iníci o
cen ó gr af os dest a dé c a da sur gir a m em se gui da: Fláv i o fo i lá.
Imp ér i o (+) e W la dimir ( ? ) - que f oi ma r i d o de Ruth
E scob a r, em cuj o te atr o f e z O B a l c ão e na p r o du ç ão da - P a r a quem v i ve a l gum temp o na Gr é cia em cont ato
com sua histór ia e a r te e dep ois disso, f a zen d o de “en ga n os”. E l e tem vo c a b ulá r i o e sint a xe.
o c a minh o da histór ia , v a i p a r a a I t á lia – Fl or en ç a (*) P up e f a l e ceu em 31 de ag osto de 20 05
(que até ent ão eu não conh e cia ), Roma , Ven e z a - o E u já lh e disse que uma da s gr a n des contr ib ui çõ es
sentim ento é de que o Rena scim ento – o r ena scim ento p a r a a cen ote cnia f oi a ma r inha . O p a l co, vo cê sa b e, é um
d o huma nism o gr e g o – f oi r e a liz a d o p or e x tr aor diná r i os nav i o. To da a a ma r r aç ão quem n os ensin o u f oi a ma r inha .
a r tesãos. Ma s sente que a tr a nscen dên cia da cultur a e Co l o c a r um p eso n o centr o de um b a r co, er guen d o - o da
da a r te gr e ga é a gr a n de f onte insup er ável. ma r g em de um r i o, f oi um p r ob l ema p or muito temp o
D e vo lt a ao B r a sil tr a b a lh ei com di ver sos consi der a d o comp l e xo. Por que se co l o c a d o de um la d o d o
cen oté cni cos. O p r im eir o del es, f oi o A r chim e des b a r co, a ntes da inven ç ão da quilha , o p eso p o der ia v ir á -
R ib eir o. E l o g o em se gui da com o P up e (*) que ten d o l o e l ev a - l o ao f un d o. E nt ão f oi invent a d o um m e c a nism o
v i v i d o na Fr a n ç a tinha ti d o um cont ato p r of issi ona l p a r a c a r r e ga r p eso até o centr o d o b a r co. E sse m e c a nism o
com a Com è die Fr a n ç a ise. Os d ois cen oté cni cos er a m co la b or o u muito com a histór ia da a r quitetur a – o
e xemp l os de conh e cim ento e zel o p or seu of íci o. P a r ten on f oi constr uíd o com o auxí li o del e que l ev a nt av a
Na s dé c a da s de 60, 70 e 80 P up e f oi o m eu sua s p e dr a s. E essa té cni c a – cor da , contr a p eso, gr ua , -
cen oté cni co. Minha r elaç ão p r of issi ona l com o P up e tor n o u -se útil t a mb ém p a r a o Te atr o.
p o dia até ser – sem p r ejuízo – tel ef ôni c a . Po dia O nav i o d os sé cul os X V e X V I é uma soma de sistema s
descr ever o cená r i o que eu quer ia e qua n d o ia ver da c a ixa cêni c a: a s v a r a n da s de on de a s ma n ob r a s são
o que el e r e a lizo u tinha semp r e a sur p r esa de el e o r e gula da s; a s ma laguet a s n os b eir a is d o nav i o e na s
ter r e a liz a d o a in da m elh or e ma is d o que eu hav ia v a r a n da s cêni c a s on de a ma r r a m os com a s ma n ob r a s os
sonha d o. Por quê ? Por que P up e a ma o Te atr o. E l e não cená r i os susp ensos que são ver da deir a s vela s náuti c a s... 214
é um constr utor ci v il, el e é um cen oté cni co. É a ma r inha . Da í ser imp or t a nte um cen oté cni co que seja
t a mb ém um a r ma d or náuti co e um constr utor p a r a a s
- E qual é a di feren ça? ma n ob r a s, p a r a a s c ate g or ia s de n ós, p a r a os ga b a r itos
de ma deir a e te ci d os, p a r a a s f er r ag ens que f un ci ona m
- A dif er en ç a é... Ag or a m esm o esto u f a zen d o sem inter r omp er a aç ão d os ator es.
uma sér ie de quinze cená r i os p a r a um f esti v a l e m eu Por e xemp l o, “da r um vento n o cená r i o”. E st a é
cen oté cni co é o J or g e. E eu p er guntei a el e: uma e xp r essão da ma r inha qua n d o uma vela p r e cisa ser
- J or g e, vo cê v a i ser o constr utor o u o ajust a da ao cur so e ao vento. N o p a l co “da r um vento”
cen oté cni co? si gnif i c a esti c a r uma ma n ob r a o u so lt á - la p a r a “ li v r a r ”
Há uma dif er en ç a . O constr utor constr ói e co l o c a um el em ento susp enso e co l o c á - l o n o â n gul o cer to.
em cima d o p a l co a s p e ç a s constr uída s. M ont a a s E ntr e um constr utor de cená r i os e um cen oté cni co
p e ç a s. Ponto f ina l. O cen oté cni co constr ói e co l o c a em há uma dif er en ç a a b isma l. E ste é um h er deir o d os m ei os
cima d o p a l co, obser v a o que r esulto u, ac a r i cia o que e m éto d os ma is a nti g os d o Te atr o. A p r ov a de que os
f e z, f i c a até o últim o m om ento af ina n d o o cená r i o, m ei os cen oté cni cos são muito a nti g os aconte ce na quel e
cor r i gin d o, da n d o - lh e to ques e, – p er dão, la mb en d o a m om ento de gl ór ia p a r a o cen ó gr af o e seus a ssistentes
cr ia – até que a cor tina se a b r a . N o dia se guinte vo lt a da cen ote cnia , qua n d o a cen o gr af ia constr uída ch e ga ao
p a r a n ov a s af inaçõ es. e dif íci o te atr a l e sob e ao p a l co p a r a ser m ont a da .
E l e sa b e o que p o de r en der a c a ixa cêni c a e N este m om ento é inter r omp i da a aç ão de dir etor es e
conh e ce “ma n ob r a s” cen oté cni c a s que tr a ma m a s ator es que até ent ão se de di c a r a m à p a lav r a e ao temp o.
comb inaçõ es inf init a s de ef eitos e o que já se cha m o u Ch e ga com a cen o gr af ia , o esp aço. E ent ão dir etor es
e ator es e xp er im ent a m sua r elaç ão f ísi c a com o Da E ur op a eu tenh o r e gistr os v isua is de B ay r euth,
env ir onm ent d o conf lito te atr a l que até ent ão a p ena s p or e xemp l o. O A n el é h oje p ossui d or de cená r i os com
imaginav a m. E ntr a em cena uma contr ib ui ç ão esp acia l, te cn o l o gia s sen d o a in da e xp er im ent a da s lá . A ssim que
a mb ient a l, su g er in d o, cr ia n d o o â mb ito esp acia l da s W iela n d m or r eu em 68, seu ir mão a ssumiu o Festi v a l.
p a lav r a s. N o te atr o o conf lito é r ep r esent a d o com E ntr et a nto f oi imp ossí vel r ep etir o p or te a r tísti co de
p a lav r a s n o temp o e n o esp aço. W iela n d p or c ausa de f ator es histór i cos a p ós a S e gun da
P a r a quem não é um cen oté cni co te atr a l, ma s Guer r a Mun dia l e p el o a r tist a com o t a l ento multi -
a p ena s f oi contr at a d o p a r a constr uir um cená r i o, o discip lina r que el e p ossuía .
te atr o p o de ser ter r i velm ente a b or r e ci d o e a “r ep eti ç ão” Cr íti cos con ceitua d os de Ó p er a r euni d os, a p ont a r a m
contínua d o te x to, é uma tor tur a . W iela n d e Gust av M a hl er com o os gr a n des en cena d or es
Q ua n d o f iz cen o gr af ia p a r a a dir e ç ão de B ib i de Ó p er a da p r im eir a m et a de d o sé cul o. E não é na da
Fer r eir a , ela teve seus p r im eir os ensa i os n o p a l co com f ácil en cena r te atr o lír i co d omina n d o múltip l os e v a r ia d os
o cená r i o já m ont a d o. E não tenh o m e d o de que B ib i t a l entos, conser v a n d o a e qüi dist â n cia desses t a l entos, de
m e p r o cur e com m o dif i c açõ es dur a nte o p er ío d o d os t a l ma n eir a que - com o p ontos e qüi dist a ntes d o centr o
ensa i os, o u mu da n d o de i déia a r esp eito da cen o gr af ia de uma esf er a -, co la b or em na s m esma s m e di da s e sem
a c a da ensa i o. Não. B ib i não mu da de i déia p or que já a dema sia da ênf a se de uma p a r ti cip aç ão esp e cíf i c a .
n o p r im eir o ensa i o ela m e r evela to d os os p r ob l ema s E nt ão não ser á ir à Ó p er a só p or uma co ll or atur a , o u um
de sua dir e ç ão que, dep en den d o de m e di da s, p osi çõ es, cen ó gr af o, ma s p el o esp et ácul o tot a l que é a Ó p er a . E
cor es o u f un ci ona m ento, eu cor r ij o im e diat a m ente. a quel es cr íti cos a p ont a r a m num p er ío d o de cin qüent a
Af ina m os o cená r i o a p a r tir d o p r im eir o ensa i o. a n os d ois m om entos n os qua is a Ó p er a a l c a n ço u uma 215
Cont a m os semp r e, n ós a f a mí lia d o esp et ácul o, com en cenaç ão p ur a e sem r el evos p a r cia is: uma ve z em V iena
a f ir m e z a e a l o gísti c a da m ont ag em t ão lú ci da em com Gust av M a hl er en cena n d o M oz a r t ( A Flaut a Mági c a ) e
B ib i. o utr a ve z com W iela n d Wagn er en cena n d o em B er lim – e
É com humil da de que a cen o gr af ia ser ve aos não em B ay r euth – Ver di ( A i da ) – e não R i cha r d Wagn er.
p o et a s d o Te atr o. (se gun d o L o uis J o u vet). D ois esp et ácul os “esf ér i cos”. Uma en cenaç ão i de a l com a
humil da de com a qua l se ser ve aos p o et a s. Ma s em a l guma s
- E so bre o desenvo lvim en to dos ma teriais , o c a si õ es há a l guém com um t a l ento e x tr aor diná r i o, p a r a
vo l tando à espuma plásti ca de Wi eland Wagn er? O o qua l se cr ia um esp et ácul o e to d os os o utr os t a l entos
que vo cê sen te de mudan ça de 48 pra cá? p a r ti cip a ntes são a p ena s uma “esc a da” p a r a el e.
Q ue coisa ma r av ilh osa p r esen cia r a gl ór ia
- Muit a mu da n ç a , muitos mater ia is n ovos. B ay r euth de um esp et ácul o co l eti vo n o qua l to d os der a m muito
usa muito o f o g o f a lso. Mater ia is p lá sti cos, ef eitos, e r esult a r a m numa união co or dena da , estr utur a da ,
ef eitos de iluminaç ão a la ser e p r oje çõ es h o l o gr áf i c a s. en c a de a da e ha r m ôni c a . Result a em a p lausos v in d os de um
E ntr et a nto a matér ia tr a di ci ona l d o te atr o é a in da a tip o de r e g ozij o, de a l e gr ia p úb li c a . E n qua nto, p or o utr o
ma deir a . Constr uím os n os p a l cos com a ma deir a . la d o, o e x tr aor diná r i o a r tist a p r esti gia d o p el o el en co,
Não r esisto cont a r da sur p r esa de L aur en ce n os f a z sentir a sós com seu t a l ento n os emp r est a n d o
O li v ier qua n d o r e ceb eu a r ef or ma de seu escr itór i o em um entusia sm o de cer t a f or ma íntim o, so lit á r i o. É uma
Str at f or d - up - on - Avon e o en contr o u to d o em cer â mi c a em o ç ão com o utr a s r a izes.
e gr a nito. - Vo cês est ão l o u cos? O mater ia l d o Te atr o É p r e ciso l emb r a r que a Ó p er a na sceu de uma
é a ma deir a!!! aç ão entr e a mi g os. Um senh or conh e cia um a r tist a que
conh e cia um o utr o a r tist a de o utr a a r te que conh e cia W iela n d Wagn er o desenvo l veu e J osep h Svob o da o l evo u
o utr o a r tist a de a in da o utr a a r te... e a ssim f izer a m ao cúmul o com o auxí li o d os m ei os té cni cos d o or ga nism o
juntos uma ob r a – uma Ó p er a . que dir i giu p a r a o Instituto de Te atr o de P r aga .
Um p a r ti d o p lá sti co que W iela n d Wagn er tom o u E ntr et a nto os r e cur sos huma n os da cen o gr af ia , de
com o insp ir aç ão, tinha uma r elaç ão a l guma s ve zes p osse de n ovos mater ia is sub m eti d os a n ov a s v isõ es
a p ont a da em Ad o lp h e A p p ia , que f oi o espír ito de um d o esp aço cêni co, r esult a m b em se entr e gues na s
p er ío d o da histór ia da a r te: o r omâ ni co. O p er ío d o mãos de cen oté cni cos c a p a zes, os m emb r os humil des e
r omâ ni co não é o p er ío d o r oma n o, com o to d os o sa b em. in disp ensáveis da f a mí lia te atr a l. Na A l ema nha
É um p er ío d o que v a i d o sé cul o V III ao X II, p er ío d o p r é - entr áv a m os n o Te atr o à s sete h or a s da ma nhã , o que é um
g óti co, cuja a r quitetur a é p esa da e f eit a de a mp l os a bsur d o te atr a l p a r a uma a r te di onisíac a sup ost a m ente
esp aços on de m en os é ma is, e xp r essa n d o uma f or ç a n otur na . S enh or es r esp eit áveis a ssinav a m o p onto já
est áti c a , não dinâ mi c a , ma s ter mina n d o p or det a lha r com seus ja l e cos e gua r da - p ós, com o se esti vessem
em esp aços m en or es de sua cr iaç ão, linha s esculp i da s, entr a n d o numa f á b r i c a de m otor es o u numa te celag em.
distor ci da s, p a r a e xp r essa r em o ç ão r eli gi osa atr avés L á , a s tr a di çõ es d o tr a b a lh o na constr u ç ão e m ont ag em
de escultur a s bí b li c a s. Ma s a inf luên cia d o r omâ ni co d o p a l co é a l g o da ma i or ser ie da de. A discip lina r eina nte
em W iela n d, se ma nif est a em sua cen o gr af ia atr avés é um có di g o t ácito e ef i ciente.
desses gr a n des p la n os on de m en os det a lh es é ma is Uma n oite, já f un ci oná r i o d o Te atr o de Stut tga r t,
e xp r essão. dur a nte um esp et ácul o de Ó p er a que tinha a cr iaç ão da
E , natur a lm ente sua li ç ão de c a sa er a f eit a sob r e cen ó gr af a com quem eu tr a b a lhav a , m e senti autor iz a d o a
a ob r a de A p p ia . Tu d o o que este hav ia cr ia d o com o entr a r na coxia p a r a a p r e cia r o m ov im ento da c a ixa cêni c a 216
p r of et a da tr i dim ensi ona li da de cêni c a e da n ov a luz b em de p er to. O sil ên ci o e a or dem er a m imp r essi ona ntes,
( A p p ia é contemp or â n e o d o a p a r e cim ento da luz com to d os os envo l v i d os de gua r da - p ó, im óveis, até
el étr i c a ) A p p ia el e m esm o p o u co r e a lizo u em seu que num m ov im ento de da n ç a gr up os se r eunia m p a r a
temp o. E ntr et a nto, n o sé cul o X X muitos cen ó gr af os, uma aç ão, uma tr o c a de objetos o u a r e a liz aç ão de uma
conh e cen d o - e em sua ma i or ia m esm o desconh e cen d o ma n ob r a .
a ob r a de A p p ia -, f or a m inf luen cia d os p or sua s D e r ep ente, eu senti que b em ao m eu la d o hav ia
p r of e cia s sob r e a n ov a cen o gr af ia . A p p ia qua se um a l guém p a r a d o junto a mim. E el e m e disse sussur r a n d o
autist a , gag o, tími d o, h om osse xua l escon di d o n o - Vo cê não p o de est a r a qui. M a s ag or a não se m e xa até o
a r má r i o e com um en or m e sentim ento de culp a so cia l, p r óxim o inter v a l o, qua n d o sil en ci osa m ente vo cê v a i sa ir
ch e g o u a p r ojet a r p a r a o S c a la de Milão – a p e di d o de d o p a l co. D eu - m e um g el o e f i quei a li p la nt a d o e já não v ia
Tosc a nini – e não f oi até lá p a r a ver o que hav ia m f eito ma is na da , con dena d o a ser est átua . (r isos) N o inter v a l o
de seu p r ojeto. A p p ia em seu a sp e c to d o l or osa m ente dei n o p é desa p a r e cen d o. A or dem num te atr o eur op eu é
r omâ nti co é um p o u co o Va n Go gh da cen o gr af ia , a l g o sin e qua n on, em clima m oná sti co. A f i gur a que m e
ma s a in da a ssim, sua s te or ia s f or a m r a p i da m ente r ep r e en deu e m e deu a or dem f oi o p r óp r i o D r. S chaef f er,
a bsor v i da s. S ob r etu d o p or que est a s f or a m utiliz a da s dir etor d o Te atr o. Um p o u co em tom con descen dente p or
p or Gor d on Cr a i g, seu r ep r esent a nte t a l entoso.. eu ser um n e óf ito b r a silia n er.
Tu d o o que A p p ia sonh o u f oi sen d o r e a liz a d o n os O Te atr o eur op eu tem a estr utur a p a r a o r ep er tór i o,
a n os se guintes com auxí li o d o desenvo l v im ento da e n ós t a mb ém tínha m os até os últim os dia s d o T B C .
iluminaç ão te atr a l, da hi dr áuli c a , d o a r- comp r imi d o, E m Stut tga r t hav ia um esp et ácul o de Ó p er a dif er ente
d os m otor es e d os contr o l es- r em otos el etr ôni cos. a c a da n oite sen d o p or t a nto, um r ep er tór i o de seis
óp er a s acr esci d os d os esp et ácul os em p r ep a r aç ão. A senh or que f a zia a m ov im ent aç ão, que dav a or dens p a r a
c a da n oite f or r av a -se o p a l co inteir o com um n ovo a m ov im ent aç ão da cen o gr af ia , com mi cr of on e, f on es
l en ço l de te ci d o na cor so li cit a da p el o cen ó gr af o d o de o u v i d o... Isso na B ul gá r ia p ob r e e em cr ise. Gente
esp et ácul o. Na B ela Ad or m e ci da o te ci d o er a a zul, n o com dentes ma l tr at a d os, humil des, com seus tr ajes
C a r mina B ur a na er a ma r r o m, n o L a B oh èm e er a cinz a , d omin gueir os limp os e simp l es, ga nha n d o p o u quíssim o
etc . Ter mina da a r é cit a , na m esma n oite er a r etir a d o p el o seu tr a b a lh o... a ser v i ço d os p o et a s. E a quel e
o te ci d o. senh or est av a da n d o a p a r ti da d os m ov im entos, entr a da s
E há uma tr a di ç ão te atr a l f un da da p or estes e sa ída s da cen o gr af ia - l en d o um te x to musi c a l. O Ch ef e
gr a n des p r of issi ona is d o te atr o, f a mí lia s m esm o, Ma quinist a da n d o p a r ti da s da cen o gr af ia na n ot a cer t a!
p a r entescos entr e cen ó gr af os e cen oté cni cos, com o O que é in disp ensável: af ina l é uma óp er a musi c a l.
a ir ma n da de d os Ga lli - B ib b iena . D esde o sé cul o X V I E st a a f or maç ão cen oté cni c a cor r et a: um ma quinist a ch ef e
qua n d o a p ós a I da de M é dia , o te atr o sa iu da s r ua s que l ê n ot a s músi c a is. Não é um músi co que l ê p a r a el e.
e en contr o u n ovos e dif íci os te atr a is, essa s f a mí lia s E l e é a l guém da cen o gr af ia que sa b e o que e qua n d o.
p r of issi ona is se inst a la r a m. Tr a b a lha r em c a sa o u
m or a r na of i cina er a r e gr a em di ver sos of íci os. - E co m o é que nã o tem os mais este tipo de co isa
A p r im eir a ve z que f ui cha ma d o de “maestr o” f oi aqui? Já tivem os algum dia este tipo de co isa n o
em S óf ia na B ul gá r ia e f oi um ch ef e ma quinist a que, B rasil?
r ef er in d o -se a mim, disse:
- “ M aestr o, com o f a r em os com... ? ”. - Sim, já ti vem os a discip lina p r of issi ona l d o te atr o.
Foi qua n d o eu m e dei cont a de que “maestr o” B om, ag or a v a m os ver p or que não e xiste ma is e qua n d o 217
não er a um títul o musi c a l só p a r a r e g entes de e xistiu. E xistiu d o f ina l d o sé cul o X I X até o f ina l d os
or questr a s, ma s quer dizer a p ena s – m estr e, d on o de a n os 40 co m o te atr o de costum es ch e ga d o de Por tu ga l.
um conh e cim ento sup er i or, maestr ia . E dur a nte o qua r to centená r i o da ci da de de S ão P aul o n os
E qua n d o a b r im os p a r a o p úb li co o esp et ácul o O a n os 50 qua n d o f or a m conv i da d os cen ó gr af os it a lia n os
Gua r a ni, na n oite da estr éia , minutos a ntes de a b r ir em a v ir e o Z a mp a r i se aventur o u a cr ia r o Te atr o B r a sil eir o
a s cor tina s, eu f ui ver se n os b a sti d or es est av a tu d o de Com é dia na M aj or D i o g o. P a r a vo cê ter uma i déia d o
em or dem. E natur a lm ente, est av a tu d o em or dem. r ep er tór i o, da continui da de, d o zel o n o tr a b a lh o te atr a l,
E st av a ma is d o que em or dem: to d os os ma quinist a s a sa la d o p úb li co, o au ditór i o d o T B C , er a r ep int a d o a
est av a m de p a l etó e gr av at a . Vesti d os com o se f ossem c a da esp et ácul o n ovo. Os esp et ácul os dur av a m de tr ês
entr a r n o p a l co p a r a ser e m v istos p el o p úb li co. M a s a seis m eses, na ép o c a . E só hav ia um dia de desc a nso
não. Q uem sa b er ia de sua ga la? E r a uma h om enag em à da comp a nhia , que er a a se gun da -f eir a . N os o utr os dia s
n oite que el es m esm os hav ia m p r ep a r a d o. Não é isso hav ia esp et ácul o. E hav ia p úb li co p a r a isso e não hav ia
um r ito r eli gi oso, sacer d ot a l ? Aquel es h om ens est av a m con cor r ên cia , é cla r o. N ós ensa iáv a m os com costum es
p a r ti cip a n d o de um b a n quete de sua s v ir tu des sob a p a r a os ens a i os. Ma s n o dia da estr éia: ch e gav a m costum es
é gi de di onisíac a . n ovos cor r i gi d os de acor d o com a lter açõ es n e cessá r ia s
Fi quei muito com ov i d o dia nte da quel es h om ens de ci di da s n os ensa i os.
d o Te atr o, b úl ga r os ma l p ag os e t ão discip lina d os, Q ua n d o estr e av a um esp et ácul o n ós já est áv a m os
c a r r e ga n d o c a da um del es a s tr a di çõ es e a di gni da de p r ep a r a n d o um se gun d o esp et ácul o. Por t a nto não hav ia
d o Te atr o. E st av a tu d o f un ci ona n d o t ão b em que os um inter r e gn o on de vo cê dir ia:
mac acõ es e os ma r tel os desa p a r e cer a m. E hav ia um Não p o dem os conser v a r esse p esso a l, v a m os
desp e dir f ula n o e si cr a n o e qua n d o p r e cisa r m os del es um a r quiteto p a r a que el e cr ia sse uma v i ga tor na n d o
n ós os contr at a r em os n ov a m ente. a s co luna s disp ensáveis. E ela s f or a m r etir a da s. E u f ui
A r quim e des R ib eir o e Atí li o, seu a ssistente, o p r im eir o cen ó gr af o d o T B C a ter um p a l co li v r e de
er a m contr at a d os em r e gim e p er ma n ente. E u er a o co luna s.
cen ó gr af o e o Fláv i o er a o dir etor. E hav ia um r ep er tór i o Fr a nco Z a mp a r i v inha ver o ac a b a mento da ceno gr af ia ,
const a nte que p r e cisav a ser tr a b a lha d o p or n ós. Na da e v inha p or p r a zer. E u m e l emb r o que eu cr iei cen o gr af ia
n os af a st av a d o temp l o. p a r a Le on or de M en d on ç a na qua l a b o c a de cena em
seu esp aço tot a l tinha uma gr a n de gr a de de cor ati v a ,
- E a fo rma çã o desses cen o té cni cos , co m o era? sup ost a m ente de f er r o. E a í n ós tínha m os que p int a r est a
gr a de. É r a m os di ver sos numa tor r e com p lat af or ma s.
-A f or maç ão del es er a ter a p r en di d o p r im eir o com E o Z a mp a r i sent a d o na p latéia sil en ci osa m ente n os
os esp et ácul os p or tu gueses e dé c a da s dep ois com os obser v av a dur a nte h or a s. N o f ina l da p intur a da gr a de,
cen ó gr af os it a lia n os que v ier a m. D os p or tu gueses Z a mp a r i a in da sent a d o na p latéia , de gust a n d o seu a m or
el es h er da r a m o ma r tel o de or elha s l on ga s e c a b e ç a p ela r e a liz aç ão te atr a l, de cla r a inf a ntilm ente, com o um
qua dr a da , comp r a d o em Por tu ga l a in da dur a nte os m enin o:
a n os 50. E r a um distinti vo p r of issi ona l. H oje qua n d o - O Cy r o é o que p int a m elh or. Tem r itm o m elh or.
vej o ma quinist a s com ma r tel os comuns enr i que ci d os Tom ei com o dip l oma , não com o p intor de cená r i os,
p or um c a b o de b or r acha , imp or t a d os d os E st a d os ma s com o a l guém que com seu tr a b a lh o der a p r a zer
Uni d os, sinto que a l g o insó lito e estr a nh o est á a li f or a ao Z a mp a r i que v i v ia dentr o d o Te atr o deli cia n d o -se
de lu ga r. com a cr iaç ão, a m ont ag em, os ensa i os, a s discussõ es 218
Os dir etor es Ad o lf o Celli, L u cia n o S a l ce, o intel e c tua is entr e autor e dir etor. Z a mp a r i hav ia da d o
b el ga M aur i ce Va nn e au, ma is t a r de Gia nni R at to, o sua v i da ao Te atr o e tinha o p r a zer d o Te atr o. Foi uma
cen ó gr af o A l d o C a l vo, n o f ina l d os a n os qua r ent a e p er sona li da de úni c a na histór ia d o te atr o b r a sil eir o.
n os a n os 50, é que f or ma r a m, com sua discip lina e Ma s vo lt a n d o ao te atr o a l emão. E xiste atr á s de
e xi g ên cia os cen oté cni cos e os cen oté cni cos f or ma r a m to da est a p esquisa de mater ia is e f or ma s a e xp er iên cia
os ma quinist a s. O Atí li o, a ssistente d o cen oté cni co p e dag ó gi c a da B auhaus. Não f isi c a m ente, ma s com o seu
A r quim e des R ib eir o não deixav a el e se a b a ixa r p a r a espír ito. E xistiu uma p esquisa te atr a l na B auhaus em
p e ga r na da . E o p r óp r i o Atí li o or denav a: Weima r com o dep ois em Ulm, a p a r entem ente te ór i c a ,
Vo cê. O lha a í, c a iu o ma r tel o d o teu ch ef e. Vo cê com a of i cina cêni c a de Osk a r S chl emm er, com a s te or ia s
não v a i p e ga r? de A l e xa n der S cha w insk y, com a i de a liz aç ão de uma
E hav ia um ma quinist a que cor r ia . E r a uma esp é cie a r quitetur a te atr a l de Mies v a n der Roh e.
de co l é gi o, sa b e? E est a coisa de S chl emm er se de di c a r n ov a m ente
Q ua n d o eu ch e guei ao T B C o p a l co tinha dua s à ma r i on ete em lu ga r d o ator, em uma c a ixa cêni c a
co luna s n o m ei o del e, com o ma is t a r de en contr ei n o te ór i c a , que imp r essi on o u muito Gor d on Cr a i g.. E to da s
p a l co da FA A P. E a quela s co luna s er a m estr utur a is e a s e xp er iên cia s d o S chl emm er ti ver a m e continua m a ter
sustent av a m o p r é di o d o T B C que tinha tr ês a n da r es uma gr a n de inf luên cia n os h om ens d o te atr o. M a s a quil o
e um subso l o. E st a s co luna s sujeit a r a m p r ojetos que ma is p eso u na v isão da s e xp er iên cia s cêni c a s a l emã s
cen o gr áf i cos dur a nte uma dé c a da a se enf ia r em f oi essa c a p aci da de in dustr ia l e m etó di c a da A l ema nha .
n ela s e cr ia r em disf a r ces p a r a escon de - la s. P a r a a Fa zem -se coisa s ma r av ilh osa s lá , com a c a p aci da de que
ch e ga da d o Fláv i o e minha o Z a mp a r i r eso l veu cha ma r el es tem de f a zer a r te com l ó gi c a e r a z ão. P a r e ce que
quer em p r ov a r que os a r tist a s e p o et a s não p r e cisa m e or questr a s. A c a deir a que el e esco lhia er a semp r e na s
ter uma e xistên cia p o éti c a , ma s de tr a b a lh o p r im eir a s f ila s, na e x tr ema dir eit a , p or cont a da p osi ç ão
d os contr a b a ixos. Os contr a b a ixos f i c a m a li d o la d o
- E o que era desco ber to lá ch egava aqui de dir eito. E l e v iu muit a óp er a lá p or que hav ia um gr a n de
algum m o do? p úb li co it a lia n o p a r a ela em S ão P aul o, sob r etu d o n o
B r á s. A óp er a it a lia na er a tr a zi da ao B r a sil p a r a aten der
- A s inf or maçõ es a qui ch e ga m p ela s mãos de p e di d os de l eitor es d o j or na l Fa nf ula que er a o j or na l d os
p o u cos. it a lia n os e d os or ga nism os it a lia n os a qui, so cie da des de
E sto u m e l emb r a n d o de uma e xp er iên cia . A última mútu o so cor r o etc . V inha m comp a nhia s de óp er a it a lia na
ve z que esti ve em Roma f ui p r o cur a r a Stor ia D el Te atr o esp e cif i c a m ente p a r a uma gr a n de g er aç ão de imi gr a ntes.
D r a máti co d o Sil v i o D’A mi co. E u f ui p r o cur a r est a Isso até o f ina l d os a n os 40. Por c ausa da cr ise da guer r a
histór ia d o te atr o que a l guma s g er açõ es ven er a r a m, cessa r a m... f oi isso.
l emb r a n d o a in da que quem tem um e xemp la r na D ep ois dem o lir a m o Te atr o Co l omb o. E a s e xp li c açõ es
b ib li ote c a de sua sa la , é o P r of. D r. Cl óv is Ga r cia , E p a r a essa a bsur da dem o li ç ão são v á r ia s. N enhuma b o a .
o consult a . Comp r ei. Foi e dit a d o or i gina lm ente em Uma dela s er a a ur b a niz aç ão, ma s aconte ce que vo cê
quatr o vo lum es, ag or a r e duzi d o a d ois, o que já é v a i lá h oje e a p r aç a on de est av a o te atr o é um m er c a d o
si gnif i c ati vo. E u f ui atr á s deste li v r o p a r a sa b er o que p er sa . O utr a r a z ão p a r a a dem o li ç ão é a de que o est a d o
hav ia na c a b e ç a d os h om ens de te atr o e d os cen ó gr af os a r quitetôni co d o te atr o est av a muito ma l. P a r e ce que
it a lia n os. O autor deste li v r o é ob r a de um deus p a r a não conh e cia m r ef or ma , r est aur aç ão etc ... D em o lir é
os it a lia n os, e eu quer ia sa b er p or quê. ma is f ácil... é o p r o gr esso. E a óp er a tor n o u -se e xclusi v a 219
A p r ov a d os n ove de qua l quer histór ia d o te atr o, d o Te atr o Muni cip a l. E u v i ch e ga r os cená r i os da s
o u histór ia da cen o gr af ia é vo cê ir ao ín di ce on omá sti co comp a nhia s de óp er a it a lia na s. E u er a da comp a r cer ia da
p r o cur a r Ad o lp h e A p p ia . A p p ia é uma p r ov a de um tip o óp er a . Hav ia um f un ci oná r i o d o te atr o que n os deixav a
de conh e cim ento m o der n o e r e centem ente dat a d o d o entr a r gr atuit a m ente e em tr o c a f a zía m os f i gur aç ão
Te atr o. E el e não est av a lá n o D’A mi co. Não é estr a nh o na s óp er a s. E u m e l emb r o de ter si d o o cozinh eir o
isto? Ma s Gor d on Cr a i g vo cê acha semp r e. Gor d on da M a da m e B ut ter f l y. A minha tur minha sub ia lá p a r a
Cr a i g é o m o cinh o da cen o gr af ia d o sé cul o X X e A p p ia cima n o p o l eir o, n o p a r a íso, n o a nf ite atr o, p a r a ver os
o p r of et a desa p a r e ci d o. esp et ácul os e à s ve zes não v ía m os na da p or que a b o c a
E tem o utr o f ato cur i oso t a mb ém: esse há b ito de cena cor t av a a v isão p a r a quem est av a num lu ga r t ão
de di v i dir a cen o gr af ia n o B r a sil entr e os p r im eir os a lto. Q ua n d o a ssistía m os a um con cer to de or questr a
50 a n os d o sé cul o e os se gun d os 50 a n os. Isso se sinf ôni c a co l o c a da n o p a l co, p or e xemp l o, n ós a p ena s
deve ao se guinte: a co l ônia it a lia na er a f or tíssima n os deit áv a m os n o chão p a r a o u v ir. E r a uma delícia . M a s um
p r im eir os 50 a n os. E a p r esen ç a de it a lia n os n o te atr o esp et ácul o de Ma r cel Ma r ce au, L o uis J o u vet, J e a n L uis
m o der n o b r a sil eir o aconte ceu na p r im eir a m et a de d o B a r r ault, V itor i o Ga ssma n, etc ., n ós tínha m os que, já n o
sé cul o X X . M a s isso não di v i de o sé cul o se l emb r a r m os p r im eir o inter v a l o da r um jeito de descer p a r a os o utr os
que muitos de seus p r of issi ona is esti ver a m em aç ão a n da r es e sent a r em o utr o lu ga r on de p u déssem os ver.
dep ois de 1950. E v im os coisa s ma r av ilh osa s. Rub instein, B r a il ov sk y,
E u na sci n o cor aç ão d o B r á s, n o L a r g o da B ack haus, Kempf, Ro dzinsk y, e o utr os p ia nist a s. B a l és de
Con cór dia e a li hav ia um te atr o, o te atr o Co l omb o. M onte C a r l o, da Ó p er a de P a r is, e a m er i c a n os. O r questr a s
M eu avô to c av a contr a b a ixo e ia lá ver óp er a , te atr o eur op éia s, e muito te atr o.
Ma s t a mb ém acomp a nha m os dentr o d o p a l co
a s m ont ag ens da cen o gr af ia it a lia na . E ela , até os - Isso a té?
a n os 50, er a uma cen o gr af ia b i dim ensi ona l p int a da
em te ci d o. Ch e gav a enr o la da e os cen oté cni cos a s - A n os cin qüent a . Foi uma lá stima . A inf luên cia
entelav a m. E r a a velha cen o gr af ia op er ísti c a it a lia na . it a lia na n o B r a sil a n d o u p or a qui até cer to p onto. Até
Té cni c a s d o sé cul o X V II a in da utiliz a da s n o sé cul o X X . ch e ga r em o utr a s cultur a s. Ch e g o u a qui o te atr o b el ga ,
P a r a v iaja r a A m ér i c a d o Sul, S ão P aul o, R i o de J a n eir o com um e xcel ente esp et ácul o cha ma d o B a r r a b á s. E o
e B uen os A ir es. dir etor er a M aur i ce Va nn e au. E l e im e diat a m ente f oi
E A p p ia , que f oi quem p r op u gnav a o tr i dim ensi ona l contr at a d o p or Z a mp a r i. E eu já p er guntei a Va nn e au
na cen o gr af ia , já est av a m or to hav ia tr int a a n os e di ver sa s ve zes:
nin guém dentr o da óp er a it a lia na se dav a cont a da Va nn e au ,vo cê com to da est a p er sp e c ti v a p r of issi ona l
e xistên cia de sua ob r a? em seu p a ís, com a sua g er aç ão se inst a la n d o na B él gi c a ,
f a mí lia na B él gi c a , - p or que vo cê f i co u n o B r a sil ?
- B idim ensi o nal na ó pera: que é do sé culo Cy r o, em uma p a lav r a: mulh er es. (R isos)
X VI I I? O p r im eir o esp et ácul o que el e f e z a qui f oi C a sa
de Chá de L ua r de Ag osto e hav ia um jip e n o p a l co, já
-Sim o sé cul o da s gr a n des p intur a s cen o gr áf i c a s, usa d o na p r o du ç ão a m er i c a na . Foi uma l o u cur a . Nun c a
Fr a n ç a e I t á lia . se imagin o u f a zer uma cen o gr af ia de p r o du ç ão. Foi uma
Sim. E ssa s descob er t a s n ov a s sob r e a r evo lu ç ão, ma s el e v inha da B él gi c a e hav ia r e a liz a d o
tr i dim ensi ona li da de não são d o M e diter r â n e o. S ão d o cená r i os com el em entos p r o duzi d os.. D ep ois o utr os 220
n or te da E ur op a . A l ema nha , Suíç a , etc . Inf elizm ente, f izer a m isso t a mb ém.
n ós ga st a m os muito t a l ento a qui com p intor es de E a í eu ch e guei da E ur op a com a c a b e ç a ch eia de
cená r i os. O ir mão d o Giachier i, ch ef e da Cen o gr af ia d o te atr o a l emão e t a l... E f iz A S em ente d o Gia nf r a n cesco
Te atr o Muni cip a l, .... não m e l emb r o o p r im eir o n om e Gua r nier i, dir e ç ão d o Fláv i o. O cená r i o er a constituíd o
del e, cr ei o que é C a r l os.... er a o ch ef e de p intur a e de gr a n des cub os e gr a n des p ontes. Não hav ia na da
f a zia coisa s e x tr aor diná r ia s. E l e tr a b a lhav a lá em cima , p int a d o. E r a m vo lum es g er a n d o vo lum es. Foi um su cesso.
n o esp aço sob a cúp ula , que tem e xat a m ente o m esm o E r a ma r av ilh oso de ilumina r e er a com o se esti véssem os
t a ma nh o da p latéia e est á sob r e ela . E nt ão se esten dia ao a r li v r e, er a um esp et ácul o so cia l, e achav a m que er a
o te ci d o lá , qua dr i cula d o, e hav ia a a r te em c a r tõ es, “comuna”. D ep ois f iz A E sc a da de J or g e A n dr a de, f iz a
t a mb ém qua dr i cula da , e el es ia m r isc a n d o com c a r v ão m esma coisa , só que com p r o du ç ão, b a laústr es, esc a da s
o cená r i o. D ep ois o cená r i o tinha que ser p int a d o. etc .
E l es tinha m gr a n des r é gua s n o chão com um c a b o a lto E u sei, é cla r o que f oi ma r av ilh oso est a r em a qui os
e um p in cel da p ont a de uma v a r a p a r a p int a r a quil o it a lia n os, ma s a l guns que não er a m it a lia n os t a mb ém
tu d o e o f a zia m de p é. D e ve z em qua n d o el es sub ia m f izer a m coisa s ma r av ilh osa s. Vei o da In glater r a um senh or
uma esc a da muito a lt a p a r a o lha r de cima p a r a ver o b r a sil eir o que dir i giu l on ga - m etr ag ens lá e cur t a s sob r e
r esult a d o da p intur a e o que tinha que ser cor r i gi d o, a S e gun da Guer r a . Tr a b a lhav a p a r a o e xér cito in gl ês, e se
etc . Ga st a r a m a n os f a zen d o isso, cená r i os p int a d os, cha mav a C av a l c a nti. E l e f e z a l guns d os m elh or es f ilm es
en qua nto a s te or ia s de A p p ia est av a m sen d o r e a liz a da s da Ver a Cr uz.
p el o mun d o inteir o. E l es não tinha m a m en or i déia da E nt ão e xistem dif er entes c a b e ç a s, a s d o n or te e a s
p r op ost a de uma cen o gr af ia tr i dim ensi ona l. d o sul da E ur op a e a mb os ensina r a m te atr o n o B r a sil.
E cla r o, m eu quer i d o Ziemb insk y o p atr on o d o n ovo de uma p e quena comp a nhia te atr a l, uma so cie da de de
te atr o b r a sil eir o, cr ia d or d o comp l e xo esp et ácul o de dua s o u tr ês p esso a s a sso cia da s que contr at a g ente
N elson Ro dr i gues, Vesti d o de N oi v a . D eu uma li ç ão ao r e d or... e qua n d o a temp or a da ac a b a , há que p a r a r
sob r e a f l e xib ili da de cr iati v a d os esp et ácul os, deu Zeit com a desp esa . M or r eu. M or r eu e não haver á esco la de
un d R aum ( Temp o e E sp aço) p a r a to d os n ós. S a nt a Rosa te atr o n o te atr o, nin guém v a i a p r en der na da . E o a m or
o ser v iu com o cen ó gr af o e deve ter se ma r av ilha d o d o te atr o?
com o b a nh o de lib er da de cêni c a que Ziemb insk y E u tinha tr a b a lha n d o comi g o um r a p a z
e xi giu del e. Ma s o imp or t a nte é que h oje est á to d o n or destin o, Vav á , um m enin o que eu cha mav a de d o utor
mun d o f a zen d o A p p ia o u qua l quer cen ó gr af o tor na - de v a r a n da . S e eu j o ga sse um p a p el n o chão o u p usesse
se o t at a r a n eto d o A p p ia , com o u sem o sa b er. Vo cê o p é num p onto d o p a l co, e el e esti vesse lá em cima n o
v a i ver e são vo lum es, p r ati c áveis, de gr aus, esc a da s ur dim ento, a 15 o u 20 m etr os de a ltur a e eu p e disse uma
de g ente que nun c a o u v iu f a la r em A p p ia . E est a m os ma n ob r a , uma cor da p a r a l ev a nt a r o cená r i o, a cor da
ag or a com a s n ov a s té cni c a s cen o gr áf i c a s f a zen d o um descia e xat a m ente n o m eu p é. Não é f ácil. E l e a n dav a
n e o - constr uti v ism o a p p ia n o p ela s esc a da s, p el o ur dim ento e p ela s v a r a n da s com uma
Q ua n d o aconte ceu o desa p a r e cim ento da cla sse sa n dá lia hav a ia na , ach o que er a um chin el o m esm o. E l e
de ma quinist a s d o te atr o? Por que os cen oté cni cos v i v ia ma is n o a r d o que em b a ixo. E l e er a o ma r inh eir o
que e xistia m, f ossem de inf luên cia it a lia na o u o utr a da gáve a d o b a r co, da s “ b uja r r ona s”. Não p o de haver
qua l quer, se diluír a m? H oje tem os o P up e e ma is um ma is f or maç ão de h om ens com o Vav á , f ilh o d o te atr o.
o u d ois. E tem um o utr o p r ob l ema , uma esco la de cen oté cni cos
Ua i. Por que não tem te atr o de r ep er tór i o. O cust a r á muito c a r o. Por que p a r a f a zer um cen oté cni co é 221
P up e é desp e di d o a c a da m ont ag em que el e f a z. E l e n e cessá r i o que se tenha um te atr o, uma en or m e of i cina ,
f a z uma m ont ag em ag or a , tr ês desf il es de m o da na mater ia is p a r a a constr u ç ão e um el en co que utilize o
sema na se guinte, é conv i da d o p a r a uma m ont ag em de que o cen oté cni co f a z. Não p o de haver uma esco la de
um evento, o só ci o del e não g ost a da s n ov a s r e gr a s cen oté cni c a . Não dá . O cen oté cni co só na sce de uma
d o te atr o e el e tem que f a zer sozinh o p or que a ma o comp a nhia de r ep er tór i o.
te atr o. S e h o u vesse uma comp a nhia de r ep er tór i o que
dissesse: P up e, qua nto vo cê quer p or m ês p a r a f i c a r - Aí en tã o tem os co nstruto res no lugar de
a qui ? Va m os p r o duzir um r ep er tór i o de p e ç a s te atr a is cen o té cni cos .
que se su ce der ão.
S a b e o que el e ent ão est a r ia f a zen d o, f or ma n d o? - É e xato. Pe ga o ma r cen eir o da esquina , o u um
Ma quinist a s, cen oté cni cos, a ssistentes etc . v izinh o c a r p inteir o, conv i da a quel e p intor de p a r e des...
um p r im o de minha v izinha que é muito c a p r i ch oso... e
- E po rque que nã o há mais te a tro de re per tó ri o? m or r eu a cen ote cnia .
É uma questã o f inan ceira? Nã o há mais este
dinh eiro? - E m o rre u m esm o? Vo cê a cha que nã o tem...?
- H oje é n e cessá r i o que haja n o el en co um a r tist a - M or r eu até na scer de n ovo. O Te atr o na sua histór ia
da tel ev isão, da Gl ob o o u o utr a emissor a , p a r a que o tem m or r i d o muit a s ve zes, não é? Fe cha d o, p r oib i d o,
esp et ácul o seja automati c a m ente di v ul ga d o. O te atr o de c a dente, def or ma d o, p er se gui d o. Ma s r e a p a r e ce.
é ven di d o p ela tel ev isão. É em g er a l uma ini ciati v a Q ua nto ma is vo cê cor t a r a gr a ma , ma is ela cr esce. S e
vo cê v i ver a l guma s g er açõ es vo cê ver á . É ma r av ilh oso ilumina r a l guma coisa só li da . Uma c a deir a
sozinha n o p a l co é uma síntese de histór ia e si gnif i c a d os.
- E a questã o dos ma teriais? Co m o é esta rela çã o Q ue a luz seja utiliz a da t ão p er f eit a m ente que insir a
co m as n ovas ma térias? seu discur so n o cor p o d o ator o u n o cená r i o de ma n eir a
imp er cep tí vel e ha r m oni osa . S em r uíd os.
- Mater ia is são os of er t a d os p el o m er c a d o e
tr a nsf or ma d os p or h om ens que f a zem o Te atr o. -E se insistir n este caminh o ch ega a o cin ema, que
Mater ia is são tr a nsf or ma d os em m et áf or a s dr a máti c a s já e xiste e nã o é te a tro.
p or h om ens de Te atr o de di c a d os aos p o et a s d o
Te atr o. - O u, com o f e z Svob o da – um cen ó gr af o ilustr e
- ch e ga n d o ao emp r e g o da luz e da óti c a com o na A
- Co m o vo cê sen te esta evo luçã o da têmpera L a nter na Mági c a em P r aga . Q ue é só p r oje ç ão c a sa da
para a tin ta lá te x , dos te cidos que era a penas com a aç ão d o ator. Por quê ? Por que é ma is p r ati co, ma is
algo dã o cru para os te cidos de malha e tc ...? b a r ato, ma is ilustr ati vo, é ma is entr etenim ento, ma s não
v a i f un d o. É m esm o um r ep etiti vo cin ema a r c a i co. Ma s
- É com o eu disse. Q ua l quer mater ia l é sup or te em a l guns m om entos, aconte ce ser mági co. Ach o que é
p a r a a m et a m or f ose cêni c a . O p er i g oso é, p or e xemp l o, isso.
a iluminaç ão h oje h er da da d os sh o w s de r o ck . Aquel e
núm er o im enso de r ef l etor es a p a r entes, v isí veis, - E so bre co isas mais mundanas ... ma teriais
co l o c a d os em contr a luz o u aos p és d os ator es. P a r a co m erciais que in f luen ciaram proje tos o u vi ce versa? 222
que? P a r a ev i den cia r o t a ma nh o d o b u d g et da p r o du ç ão?
E a cen o gr af ia se tor na r a p ena s a p r oje ç ão de sli des - A h! sim, f oi o que m e aconte ceu uma ve z, ma s
e v íde o? O K . Po de ser. Ma s com a s p r oje çõ es dever ia f oi em M o da . A p a r e ceu n o m er c a d o, e eu v i em um
v ir uma p ositi v a conf ir maç ão de sua f un ci ona li da de e a nún ci o, os tub os r e centem ente ch e ga d os de P VC . Com
p r op ósito. E u sinto o gr a n de p er i g o de os esp et ácul os o a p a r e cim ento da i déia de que to da a hi dr áuli c a ia ser
mu da r em de sin di c ato. E p er ten cer em ao sin di c ato d o m o dif i c a da e os c a n os de m et a l ia m ser substituíd os
v ir tua l, d o que dever ia ser e est a r a li, ma s vem os a l g o p or c a n os de p lá sti co, ia ser tu d o de P VC , mater ia l que
não con cer n ente, o utr a coisa , d o er sat z, d o substituto. in clusi ve, tinha uma v i da ma i or que a d o de m et a l. E
Va i p a ssa r p a r a a óti c a . E st á to d o mun d o a í p r o cur a n d o hav ia m tub os de 1 p o l e ga da . D e 2 p o l e ga da s, gr a n des
os r ef l etor es e p r ojetor es que f aç a m milagr es. Tu d o etc ...
v ir tua l com o uma p r oje ç ão cin emato gr áf i c a .. O que é E hav ia p a r a cen o gr af a r um desf il e de m o da - com
uma lá stima até que o r esult a d o atr avés d o g êni o de a s seis ma n e quins da R h o dia -, di v i di d o em qua dr os e
p o u cos se p r ove autênti co. o últim o del es er a: N oi v a s. E u p ensei na quel es tub os
b r a n cos: já sei o que eu vo u f a zer. Vo u comp r a r tub os
- Mas a cha que este tipo de co isa resul ta n o de dif er entes p o l e ga da s e vo u f a zer um gr a n de ór gão de
palco? c a nu d os.
E a ssim f oi. Contr at a m os o or ga nist a S a muel Ker r,
- Não, não r esult a n o p a l co, p el o se guinte: p or que a lu ga m os um ór gão el etr ôni co a p li c a d o à s estr utur a s de
a iluminaç ão é um el em ento líqui d o, tr a nsp a r ente que tub os de P VC que eu cr iei e el e to co u p a r a o desf il e da s
p r o cur a um cor p o p a r a der r a ma r-se, p a r a f a zer aur a . n oi v a s. O ór gão de c a nu d os de P VC er a o b ackgr o un d
d o desf il e. E de cer t a f or ma , dir etor es e cen ó gr af os - Vo cê a cha que a cen o gra f ia é só te a tral?
cr iati vos v ão à s f eir a s esp e cia liz a da s e descob r e
n ovos mater ia is. E u m esm o f aço isso. Ag or a m esm o eu - Não. Eu recebi um telefonema de uma pessoa
f iz um est a n de p a r a a FE I CO N – Feir a da Constr u ç ão que queria ter aulas comigo e perguntou se eu ensinava
e v i lá n os est a n des v izinh os mater ia is que eu nun c a cenografia para festinha infantil.
p ensei e xistir em. Po de ser que um dia eu os use em Cenografia é uma palavra espúria hoje. É uma palavra
cen o gr af ia . prostituída. E é muito interessante que o que justifica a sua
aplicação espúria fora dos palcos é o fato de ser a cenografia
- Q uais as mai o res di f i culdades en co n tradas na anterior ao teatro. Nos terreiros dos curandeiros mais antigos
re aliza çã o de cenári os? havia cenografia e teatralidade e não havia teatro. Depois
aquela cenografia de efeitos e magia foi não só absor vida,
- S em dú v i da a p r óp r ia c a ixa cêni c a , o p a r ti d o mas utilizada na sua essência, por um contexto religioso,
toma d o p el o p r op r iet á r i o d o te atr o p a r a o esp aço da ritualístico etc. Que é o primórdio do teatro. Hoje são mais
aç ão te atr a l n o e dif íci o te atr a l. É tr ági co en contr a r impor tantes as flores amarelas confeccionadas pelos presos
um p a l co que de p a l co só tem o seu p iso. S ob el e na da do Carandiru do que as peças de ar te Barroca cercadas por
e sob r e el e t a mb ém na da . S em p or ão p a r a a s f i gur a s elas. A mídia divulgou a cenografia da Exposição dos 500
te c tôni c a s e sem o ur dim ento p a r a os deuses. Muit a s anos e quem se interessava pela ar te barroca foi surpreendido
ve zes o p iso d o p a l co é de con cr eto e sob el e a l vena r ia . na sua visão, pelo fenômeno das flores de papel de sentido
É o p a l co de constr utor es ci v is e en g enh eir os. Não discutível, peça de marketing através da cenografia. Os
h o u ve um a r quiteto te atr a l o u cen ó gr af os que lh es estandes de feiras, por exemplo, podem ser tomados como 223
dissessem que a liter atur a te atr a l – 60 % dela – e xi g e uma criação cenográfica. Em geral não o são porque são
céus e inf er n os, e que m esm o o te atr o musi c a d o o u de criados por profissionais que usam exaustivamente materiais
entr etenim ento n e cessit a de esp aço p a r a ef eitos. industriais pré-montados. Não há nada de muito criativo.
S ão os p ob r es “ te atr os” - p a r a f est a s de f or matur a Eu só tenho feito estandes dramáticos, que tenham um
o u discur sos - que ma nif est a m f a lt a de inf or maç ão e elemento gráfico e teatral. Vitrines cenográficas. Houve um
cultur a cr iati v a .. momento nos anos 50 em São Paulo quando havia um rapaz
chamado Hans Goldhammer, que depois teve uma firma de
- Vo cê sabe ler plan tas e desenhar iluminação, deixando de fazer vitrines. Ele era casado com
te cni cam en te? uma menina muito interessante que foi para um kibutz em
Israel e que até então colaborava com ele. Ele fazia vitrines
- Q uem ma is m e tr ein o u nisso f oi o evento somente com dobraduras de papel. Aquilo naquele momento
constr uíd o, a de cor aç ão, a f eir a e o est a n de. E qua nto era muito interessante. Alto relevo, baixo relevo tudo com
ao desenh o té cni co semp r e o f iz p r e ce di d o de uma papel. Uma coisa tão criativa, tão nova. Era maravilhoso.
ma quete. E u dir ia que n o B r a sil f ui quem r e a lizo u Há cenografia para vitrines. Dna. Marjorie Prado dizia
o ma i or núm er o de p r ojetos em ma quetes. P r ojetos nos anos 20:
de e xp osi çõ es inter naci ona is, au ditór i os, est a n des, - Preciso ir embora para Paris, estou achando boas as
eventos, sh o w - r o oms, etc ...E h oje o desenh o té cni co vitrines de São Paulo. (risos).
est á e x tr ema m ente simp lif i c a d o p or sof ter s de Então a cenografia pode ser muita coisa. Cenografia é
comp ut a d or es o mundo todo, não é? Basta haver uma paixão, dois atores e
uma Cenografia que os ser virá com humildade.
224
M arcos P edroso
E n t r e v i s ta re aliz ada em 30/0 4/02 a g ente v a i ter a tr il o gia: O P a r a íso Per di d o, O L i v r o
de J ó e o A p o c a lipse.
N O M E: Ma r cos Pe dr oso P r o se gun d o sem estr e.
PRO FI S S ÃO: Cen ó gr af o, D ir etor de A r te, A r tist a D ep ois tu d o f oi se r a mif i c a n d o, a n da n d o m ei o
P lá sti co p a r a l el o: tr a b a lha r com te atr o, cin ema e a r tes
p lá sti c a s. Teve um p r im eir o m om ento que eu f i quei
muito envo l v i d o com o Te atr o. Da í f oi a f a se que
Tr a n s c r i ç ã o da F i ta se la r ga tu d o e v i ve -se de te atr o. Ao m esm o temp o
na á r e a de A r tes P lá sti c a s eu tr a b a lhav a com v i de o -
a r te. Isto m e li gav a de a l guma f or ma , com g ente
p r o duzin d o e tr a b a lha n d o com p ub li ci da de, cin ema e
cur t a s… eu tinha uma b o lsa em v íde o que eu ga nh ei
de uma f un daç ão, e eu l evei est a b o lsa p a r a est a c a sa:
“A r quitetur a de Imag ens”. E l es p r o duzia m os tr a b a lh os
- Fala um po uco de vo cê . Co m o vo cê co m e ço u ? p a r a a minha p esquisa . A í f ui conh e cen d o a s p esso a s
Q ual a sua fo rma çã o? e os c a minh os f or a m se enver e da n d o de uma ma n eir a
m ei o l o u c a que eu não conse guia enten der dir eito.
- E u so u a r tist a p lá sti co. Minha f or maç ão semp r e E u f aço p a r te de uma tur ma com o a C a r la C af f é,
f oi de a r tes p lá sti c a s. E u m e xi com isto desde semp r e. o C a ssi o … que é multi - m ei os de f or maç ão. Q ue já não
E u f a zia A r tes P lá sti c a s na EC A . Na quela ép o c a er a só est á ma is a r r a i ga da dentr o de uma tr a di ç ão d o te atr o. 225
li cen ciatur a ma s eu f iz m esm o a ssim, p or que a i déia E u m e f or m ei em 199 0. estu dei uma p a r te muito
er a ser a r tist a p lá sti co. te ór i c a da s A r te P lá sti c a s, com a A na Ter e z a Fa b r i,
Com o a g ente tinha que f a zer o “ b á si co” to d o ma s não er a o que eu quer ia . O m eu tr a b a lh o com o
mun d o junto: Te atr o, Músi c a , Cin ema e A r tes P lá sti c a s a r tist a p lá sti co f oi f i c a n d o muito p a r ti cula r, m ei o de
ac a b av a f i c a n d o to d o mun d o mistur a d o e a í vo cê v a i la d o é dil et a ntism o qua se.
conh e cen d o a s p esso a s. Por e xemp l o: o Tó ( A ntóni o E u tr a b a lh o b a si c a m ente em te atr o, cin ema e
…) que eu tr a b a lh o até h oje er a da minha tur ma . A p ub li ci da de t a mb ém. E u tr a b a lh ei na Film (P la n et)
Cib el e (Forja z) t a mb ém. Um m onte de g ente. N essa qua n d o o “ Gor d o” t av a l o c a d o lá . E l e e o M o a . D ep ois
h or a ent ão eu com e cei a f a zer cená r i o p r a te atr o, f ui p a r a Cia Ilustr a da e à s ve zes a in da r o la a l guma s
dir e ç ão de a r te p r os cur t a s da tur ma de cin ema , eu coisa s de com er cia l. A í vei o est a histór ia de eventos,
f a zia coisa s p r os sh o w s d os m eus a mi g os músi cos… que er a uma coisa l e ga l. Uma p ossib ili da de de gr a na .
Ma s o que p e g o u f oi o te atr o. E u tr a b a lh ei muito com
a Cib el e e com o A ntoni o, d o Te atr o da Ver ti g em. - Pensando na sua fo rma çã o e n o trabalh o em
várias árias co m o é a sua rela çã o co m o ma terial?
- O Te a tro da Ver tigem tem quan tos an os?
- A minha tur ma se f or m o u com uma g er aç ão
- E ste a n o el e est á comp l et a n d o 10 a n os. O f i cia l de p r of essor es muito con ceitua is, to d os el es: Re gina
a ssim, p or que o tr a b a lh o que se f a z com o A ntoni o e Sil veir a , C a r m ela , J a r dim, Juli o P la z a . L á na USP a in da
ma is a l guma s p esso a s vem a ntes. A g ente est á la n ç a n d o tinha m p r of essor es que v inha m da FAU. E u f a zia cur sos
ag or a um li v r o, v a i ter uma e xp osi ç ão e p ossi velm ente na FAU, na Fil osof ia , na Histór ia . E nt ão a g ente cir culav a
muito lá dentr o t a mb ém. O que ac a b o u aconte cen d o c a r a de f avela . E nt ão o cinz a e o ver m elh o da ter r a são
em r elaç ão aos mater ia is é que el es se tr a nsf or ma r a m a s ma r c a s que tr a duzem o espír ito d o esp et ácul o.
em muit a s té cni c a s dif er entes. E u tenh o uma f or maç ão
ma is con ceitua l m esm o. O p r ojeto er a ma is imp or t a nte - Mas este tipo de Te a tro sem proje to pré -
d o que de f or ma eu vo u e xe cut á - l o. de terminado, a o nde a cria çã o plásti ca vai sendo
co nstruída co m a en cena çã o pre cisa de tempo, nã o?
- E qual é o pro cesso de a char o ma terial e a Q uando estréia o Woy ze ck?
té cni ca cer ta para traduzir cada co n cei to?
- E m ag osto. É , são tr ês m eses de ensa i o.
- Cla r o, não e xiste conteú d o sem f or ma e n em
f or ma sem conteú d o. E ent ão se dá p eso ma is numa - E o trabalh o co m o Tó (An to ni o) imagin o, deva
coisa o u em o utr a . ser pare cido?
- Vo cê e xe cuta mui tos dos se us cenári os? - A h sim, é isso só que ma is p uxa d o. Por que lá é
um a n o e m ei o de tr a b a lh o. Aqui n o to d o v ão ser cin co
- Ach o que er a um c a minh o natur a l. Com o eu er a m eses.
a r tist a p lá sti co n o com e ço da f acul da de eu ga nhav a
gr a na f a zen d o a der e ços. Fiz muito a der e ço p r a - No trabalh o da “ Ver tigem” vo cê co m e ça
p ub li ci da de com o Ma r co L ima d o Ci da de Mu da . E u quando?
e xe cut av a muit a s coisa s p r a el es lá n o m eu atelier. E ste 226
emp ate com o mater ia l é in disso ciável. E st a p er gunt a - D esde o iníci o. A s p esso a s se r eún em com e ç a m
é estr a nha p or que eu não consi g o n em p ensa r sem o a f a la r o que p ensa m, da í a p a r e ce uma i déia comum.
mater ia l. É cla r o que p enso p r im eir o o que eu quer o E nt ão desen c a deia o p r o cesso que, p or e xemp l o, n o
f a zer ma s isso (a esco lha de mater ia l) já v a i v in d o A p o c a lipse f or a m a s of i cina s.
junto, b r ot a . D os mater ia is, que vo cê est á p er gunt a n d o. N o
tip o de tr a b a lh o que eu f aço com Te atr o… (Cla r o que
[…] eu f aço o utr a s coisa s. Ac a b ei de f a zer uma óp er a
com a C a r la que er a “p r ojeto”. Ma s é cla r o que vo cê
Woy ze c . Na p r im eir a m ont ag em n ós usáv a m os imp r e gna o que vo cê f a z d o que vo cê é. E qua n d o te
a quel es “p a l etes” (estr a d o p a r a b a se de emp ilha m ento cha ma m, já cha ma m p ensa n d o nisso.) S e p a r te de um
de c a ixa s).E r a m uns 2.50 0 p a l etes. J á ag or a , f izem os “p a r ti d o” de um “p r essup osto”, se tem uma s i déia s uns
uma l eitur a ma is tosc a e f om os p a r a r numa “o la r ia”. mater ia is (v a m os usa r f er r o p or que é v isua lm ente l eve,
Ch e ga m os ent ão n o tij o l o. Ma s não uma o la r ia a p esa r de f isi c a m ente p esa d o) ma s semp r e tent a n d o
r omâ nti c a d o sé cul o X V III, er a uma o la r ia m o der na , tr a duzir um con ceito, uma i déia . Não so u d o tip o que
ent ão o “ tij o l o b a ia n o” v ir o u matér ia p r ima d o cená r i o. invent a uma te x tur a o u uma cor e dep ois invent a uma
Os ator es ensa ia m com o tij o l o, invent a m coisa s utiliz aç ão p a r a ela . E u p a r to de uma n e cessi da de p a r a
com o tij o l o e com os mater ia is a n e xos: a p en eir a , dep ois vestí - la com a l guma coisa .
o c a r r inh o… E st a s açõ es v ão g er a n d o a n e cessi da de
de o utr a s coisa s: um b ur aco que tem ter r a , um o utr o - Mas a co n te ce a o co n trári o? D e vo cê a char
p o ç a d’água .[…] o tij o l o b a ia n o tr a zia t a mb ém a quela algum ma terial mui to in teressan te e guardar isso
na idéia e de re pen te surgir uma o po r tunidade de maç a r i co on de o con cr eto já est av a so lt a n d o e se tem
usá - lo? “a sensaç ão” de que é um p a p el de p a r e de muito velh o,
ma s o p úb li co não enten de dir eito o que er a . O T N T eu
- Sim, aconte ce muito.Isso vem da s a r tes p lá sti c a , t a mb ém usav a n o J ó e f oi uma coisa muito imp or t a nte.
de c at a d or de lixo. T inha uma ép o c a que eu sa ia com E r a n o H osp it a l M at a r a z zo e el e tinha uns ja n el õ es de
c a r r o e f i c av a c at a n d o coisa . – O lha que lin d o ! – ia v i dr o que deixav a o esp et ácul o muito e x ter i or iz a d o,
“entoxa n d o” n o c a r r o e b ot av a n o atelier. Fi c av a lá . p r a f or a . E er a um esp et ácul o que tinha a quela coisa
Vo cê sa b ia que a quil o tinha um p oten cia l. Não sa b ia onto l ó gi c a , p r a dentr o, clá ssi c a . Foi uma de cisão b em
p r a que er a . Uma h or a a p a r e cia a ser ventia . […] p r óxima da “ L uz”. E u f a lav a isso é muito dev a ssa d o…
E u esti ve f or a um temp o e qua n d o vo ltei o Tó já E nt ão co la m os T N T n o v i dr o, p or que não se vê f or a ,
est av a tr a b a lha n d o na i déia d o L i v r o de J ó. J á tinha é um dif usor p r a luz, escon deu o r ef l etor e cr i o u uma
a i déia de ser num h osp it a l. Na quela ép o c a eu tinha sensaç ão diáf a na m ei o estr a nh o, e que é um clima
tr a b a lh o (e ach o que to d o mun d o tinha ) que er a com cin emato gr áf i co t a mb ém. E é um mater ia l m ei o b est a
r a di o gr af ia s, e xa m es… E u ia a h osp it a is f a zia e xa m es até.
em mim, en d oscop ia s e gr av av a , e dit av a… A cen o gr af ia Co l ei com co la b r a n c a , com água!
d o Ver ti g em mistur a muito o con ceito de a mb iên cia , Ma s eu não tenh o U M mater ia l esp e cíf i co que eu
a i déia de cin ema de l o c aç ão, de inst a laç ão de a r tes di ga – a este eu semp r e r e cor r o – Ach o que não e xiste
p lá sti c a s com cen o gr af ia m esm o ( A p o c a lipse). A B o ate isso.
f oi f eit a , ela é to da fake , é cená r i o. Ma s vo cê tem que p r o cur a r sua tur ma . Por que tem
dir etor es muito dif er entes. Tem a quel es que quer em o 227
- Mas ela en caixa direi tinh o. Pare ce que esteve p r ojeto p r onto e – não m e a p or r inh e – (r isa da s).
sempre ali.
- E co m o é a sua e xperi ên cia n o cin ema?
- É , ma s n o Ver ti g em a i déia é essa . Por ma is
estr a mb óti co que seja tem p a r e cer que esteve a li a - I gua lzinha . E u f iz d ois f ilm es e os d ois p e dia m
eter ni da de inteir a . est a e xp er iên cia . Q ue f or a m “ O B i ch o de S ete C a b e ç a s”
O mater ia l na sce da n e cessi da de d o que se tem da L a is e o “ Ma da m e S at ã” da C a r in ( ? ). E stes f ilm es
a dizer. tr a zia m est a en er gia de con ceito. Q ue é vo cê se
Por e xemp l o a B o ate, eu p r e ciso que ela tenha a p e ga r ma is ao p r o ce dim ento g er a l. D e uma l ó gi c a
c a r a de velha . L á ag ente não usav a esses r e cur sos de d o f un ci ona m ento d o esp aço. O que é este esp aço,
te x t ur a s… E nt ão! E u não uso essa s té cni c a s te atr a is com o el e ch eir a , que cor el e tem e com o é que vo cê
clá ssi c a s. E u uso r e cur sos de a r tes p lá sti c a s, a r tif íci os v a i tr a duzir isto.
de cin ema . E u p r e ciso que est a p a r e de p a r e ç a usa da
ma s não f a lsa . A p esso a p o de enten der que eu f iz ma s - Mas n o cin ema, que é uma co isa mui to mai o r,
el e não p o de se sentir en ga na d o com o p or e xemp l o se vo cê tem trabalhar co m té cni cos? A mã o - de - o bra,
usa r té cni c a de esp onja . co m o é isso?
E u tenh o que tir a r d o senti d o del e uma ver da de.
Fa la n d o de um mater ia l: E u a d or o T N T. A p a r e de da - M a s m esm o n essa e xp er iên cia d o Te atr o, é a
B o ate er a to da f eit a del e. Foi tin gi d o, co la d o numa m esma coisa… E xat a m ente p or cir cula r p or m er c a d os
p a r e de que já er a “p o dr er a”, dep ois eu p a ssei um t ão dif er entes, p ub li ci da de, evento el es têm uma mão -
de - ob r a muito esp e cia liz a da . É a mão - de - ob r a ma is dentr o d o te atr o. M a s m esm o a ssim vo cê p er ceb e a
qua lif i c a da , a que a p r en de ma is r á p i d o, com b om ní vel té cni c a . Não é que o p úb li co não vê, el e entr a dentr o
de ac a b a m ento. Cla r o com uma té cni c a esp e cíf i c a p a r a de j o g o de conven çõ es on de el e a bstr a i que a quela
f a zer a quil o. Ma s eu p osso la n ç a r mão… S e eu p r e cisa r té cni c a est á quer en d o m e en ga na r que a quil o é uma
de dessa coisa ma is e xag er a da d o te atr o eu cha m o, p a r e de velha , que é um r e cur so usa d o n o te atr o. E
p or e xemp l o, o Ju vena l Ir en e, p or que isso c a b e a qui. “eu” (p úb li co) aceito este có di g o.
Tem um c a r a b ac a na n o R i o, o Zé, que eu tr a b a lh o. E l e
tem uma p ut a e xp er iên cia , tr a b a lh o u n o Muni cip a l, - Vo cê f inge que está falando a verdade e e u
é uma p ut a p intor de a r te, a der e cist a . E l e a p r en deu f injo que esto u a cre di tando.
f a zen d o Ó p er a , ma s f e z muito cin ema t a mb ém. N o R i o
de J a n eir o to d o mun d o tem essa s dua s f or maçõ es. - E xato. Ma s e xiste a vont a de de “en ga na r ”
Ma s eu g osto t a mb ém de usa r g ente que f a z de o esp e c t a d or de uma o utr a ma n eir a . Com o utr a s
ver da de. lin guag ens. Ta l ve z não en ga ná - l o, cont a r qua l é o
S e eu p r e cisa r de uma p a r e de de tij o l o eu cha m o se gr e d o. P a r a que el e (o p úb li co) p er ceb a: – E sto u a qui
um p e dr eir o. Cla r o que vo cê não v a i ga st a r uma p ut a dentr o, isto é uma f a nt a sia , ma s ela p er f eit a m ente
gr a na p r a uma coisa que não v a i a p a r e cer, ma s tem ver ossímil p r a r esistir à minha conv i vên cia com ela
cer t a s coisa s que não tem jeito. Tem o a r tif íci o da – E os mater ia is são muito imp or t a ntes p r a isto.
lin guag em, que é o m esm o que e xiste n o te atr o. S e In clusi ve eu semp r e acr e ditei “na ver da de” del es. S e
e xiste um “quinto p la n o” de f un d o vo cê não ga st a r…. eu quiser que a l guma coisa p a r e ç a f er r o eu vo u ter
A p esa r de eu não acr e dit a r nisto, eu tenh o que conf essa r que usa r f er r o. Há r a r a s e xce çõ es, se eu vo u f a zer 228
p r a vo cê. O o lh o d o esp e c t a d or é en c a nt a d o e c a da uma p a der ona lisa que é muito ma is b a r ato eu vo u
ve z ma is e xi g ente. O p é da quela m esa é imp or t a nte f a zê - la f a lsa , ma s vo u ter el em entos de f er r o. E xiste
p r a mim. – Nin guém v a i ver! – Va i ver. S e a m esa est á uma esp essur a , uma cer t a densi da de, a c a p aci da de d o
lá é p or que é p r a ela ser v ist a . S e a l guém o lha r o p é mater ia l de sup or t a r c a r ga… tu d o isso é intr ínse co ao
da quela m esa , numa v iag em, o u v in d o o te x to e não mater ia l.
acr e dit a r na quel e p é el e t a mb ém não v a i acr e dit a r n o For a m oito m eses de of i cina s n o C a r a n dir u,
te x to. e xa mina n d o c a da det a lh e. A s cela s dentr o, o b a nh eir o,
O u se a quel e p é não r ever b er a r o que est á sen d o os utensí li os..É p r e ciso a p r en der um uni ver so inteir o
dito, o u não ti ver uma r elaç ão X , seja qua l f or, com a p r a vo cê cop ia r.
aç ão, ent ão eu não esto u cont a n d o a m esma histór ia .
E nt ão tu d o é imp or t a nte: c a da det a lh e. Isso vem muito - Mas n em sempre o verdadeiro é drama túrgi co,
da e xp er iên cia com o Ver ti g em. L á tu d o é r e a l. nã o?
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Ficha Técnica
D i a gr a m a ç ã o 231
L u cia na B uen o e A l e xa n dr e Roit
Re visão
A l e xa n dr e Roit
C a pa
Fo lha de M a deir a ' B i cuí b a',
m ont a da em P a p el P a r a ná .
Revestim ento em Ver niz Autom oti vo
E xecuç ão
J osé de Go d oi e O linth o Ma la quia s
S etemb r o de 20 07