“Estávamos eu, como presidente da CONFENATA (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TEATRO
AMADOR), Sandro de Lima enquanto vice-presidente, reunidos com José Aparecido, governador do Distrito Federal, articulando a construção da Casa do Teatro Amador, quando o José disse “é isso que vocês querem?” Nos levou em uma sala do Palácio do Buriti e lá estava Oscar Niemeyer rabiscando um papel. Quase caí para trás!” (Miriam Vieira).
É assim que Miriam Vieira, 60 anos, mulher preta, moradora e atuante da
periferia de São Vicente, cidade do litoral de São Paulo, diretora, atriz e produtora cultural, narra com humor - e soltando uma grande gargalhada ao final-, uma das suas maiores contribuições para o teatro brasileiro. No próprio site de Niemeyer , que arquiva a parte inicial do projeto, a descrição é a seguinte: “Projeto solicitado em março de 1988 pelo presidente da CONFENATA - Confederação Nacional do Teatro Amador ao então governador de Brasília, José Aparecido de Oliveira”. O presidente no caso era uma mulher preta que junto a companheiros da luta pelas políticas públicas para a cultura reivindicaram ao então governador do DF um espaço que, para além de um teatro que quebrasse a lógica do palco italiano, servisse como alojamento para artistas que viessem se apresentar no território, bem como um espaço onde pudesse se arquivar parte da memória do teatro brasileiro. A gestão de Miriam enquanto presidente da CONFENATA foi de 1987 a 1989, ficando como vice-presidente de 1989 a 1991. Em articulação com o Governo do DF e com Carlos Miranda, à época presidente Instituto Nacional de Artes Cênicas (INACEN), e com o empresário Amador Aguiar, Miriam, seu vice Sandro de Lima, e os diretores da CONFENATA Nilson Rodrigues, Romildo Moreira -artistas que construíram suas carreiras fora do eixo Rio São Paulo) obtiveram esta grande vitória, sendo o teatro inaugurado em 1991 e hoje administrado pela própria FUNARTE. Para além da construção do teatro, hoje chamado Plínio Marcos, enquanto militou junto à CONFENATA, seja como presidente, vice-presidente, ou delegada regional, a confederação obteve outras vitórias relevantes. Percorreram o Brasil inteiro mapeando mais de cinco mil grupos atuantes na época, em pleno período de redemocratização do nosso país. Junto também ao INACEN articularam o primeiro edital público de fomento a encenação teatral, no início da década de noventa. 2. INÍCIO DA FORMAÇÃO DA ARTISTA, ARTE-EDUCADORA, MILITANTE, E GESTORA PÚBLICA.
Iniciou teatro na escola, e em encenações sacras na Igreja Católica, e nos
festejos populares feitos em seu bairro, na periferia de São Vicente, Miriam Vieira tem o seu início no teatro e na cultura popular. Entre 1973/1975 participou de peças montadas no Antigo Grupo Escolar Matteo Bei, escola municipal da prefeitura de São Vicente, e nas peças sacras realizadas pela Igreja Nossa Senhora Aparecida. No ano de 1976 ingressou no grupo de teatro Centauros, que ensaiava na Escola Estadual Margarida Pinho Rodrigues. No ano seguinte, apenas com 13 anos, despertou para a necessidade de articularem com a cena teatral da região, indo para a sua primeira reunião na antiga Federação Santista de Teatro (FESTA), que mapeava os grupos de teatro da região da Baixada Santista, tendo lideranças que a iniciaram na importante luta por políticas públicas voltadas para o teatro. Em toda a sua trajetória de 47 anos dedicados à cultura, em especial ao teatro, atuou em quatro diferentes esferas. 3. ARTISTA CRIADORA (ATRIZ, DIRETORA, PRODUTORA, DRAMATURGA)
Como artista criadora, contabiliza mais de 40 peças em seu currículo,
montadas sempre a partir de grupos localizados na região metropolitana da Baixada Santista, peças nestas em que atuou, dirigiu, produziu, escreveu dramaturgia, sendo artista de grande pluralidade criativa e técnica. Em 1986 fundou a Cia Pernilongos, junto Lucimara Martins, Naira Alonso, Claudio Fernandes, Sergio Guerreiro, tendo em sua história montagens como “Leila Baby” (1987), “A Maldição do Vale Negro” (1993), “Geração Trianon” (1999). Na Cia Pernilongos atuou como assistente de direção, atriz, e produtora, circulando com os espetáculos por diferentes festivais de teatro do Brasil, levando as peças produzidas na Baixada Santista para outros territórios. Com a Cia Teatral Cenicomania Miriam Vieira assina a direção de espetáculos há quase duas décadas com carreiras aclamadas pelo público da região, e também com circulação para além do território. “A Lei e o Rei” (2005), “Minha Nossa” (2009), “Reclame- uma história de amor” (2011), e “A Superfantástica Caixa de Brinquedos” (2022), são algumas das montagens assinadas pela mestra dentro da companhia. Em 2017 foi uma das fundadoras da Cia Cena Preta, para pensar o fazer teatral afrocentrado dentro da região da Baixada Santista. É diretora da intervenção teatral “Gritaram-me Negra” (2017/2018), do espetáculo “Benjamin - O Filho da Felicidade”, da Cia Trilha (2018/2019) e ainda em cartaz, e do monólogo “Quando mataram os meus” (2022/2023). 4. ARTE-EDUCADORA
Na formação de alunos dentro do teatro não é possível contabilizar quantos
artistas foram iniciados pela mestra. Durante os anos em que foi coordenadora do projeto Carlitos, na prefeitura de Santos/SP, também foi professora de teatro, dando aulas de iniciação teatral para alunos do nível fundamental das escolas municipais, dando aulas de teatro para centenas de jovens das regiões periféricas da cidade. Para além das aulas de teatro, os alunos tinham a experiência de passar pelo processo de montagem de espetáculos e pequenas temporadas de apresentação. Dentro do projeto dirigiu “Um sonho realizado” (1990), “Natureza de Papel- teatro de bonecos e animação” (1990), “Capitães de areia” (1991). Ministrou dezenas de oficinas, cursos e orientações artísticas durante todos estes anos em diferentes cidades da Baixada Santista. Foi orientadora do espetáculo “Rua da Amargura” da Cia Héteros de Teatro (2015), atuou como oficineira de Teatro das Oficinas Culturais Oswaldo Névola Filho de São Vicente (2015). No Projeto Evolução, do Teatro do Kaos, em Cubatão, também foi arte-educadora do curso de teatro da instituição. Em 2021 iniciou a formação em teatro de alunos da Fundação Settaport, dentro do projeto Jovem Cidadão para formação para o mercado de trabalho onde participam de atividades culturais no contraturno escolar, sendo arte-educadora do projeto até o momento. 5. MILITANTE PELOS TRABALHADORES DO TEATRO
Foi diretora e presidente da CONFENATA - Confederação Nacional de Teatro
Amador entre 1987/1989, e vice-presidente da mesma entre 1989/1991. Nos anos de 1985 a 1987 foi Secretária da Confederação de Teatro Amador do Estado de São Paulo (COTAESP). A entidade tinha 24 federações dentro do estado. Durante mais de dez anos consecutivos participou ativamente do Congresso de Teatro Amador do Estado de São Paulo, circulando pelo estado inteiro para articular nas lutas pela categoria. É, até hoje, militante atuante do Fórum do Interior, Litoral e Grande São Paulo (FLIGSP), organização de luta pelo desenvolvimento das Artes para além da capital paulista. Uma das grandes conquistas da organização foi o destino de 50% dos recursos do Programa de Ação Cultural (PROAC) para atividades culturais realizadas fora da capital. Em esferas regionais foi presidente da FESTA - Federação Santista de Teatro Amador (1989-1991). Um dos seus movimentos de articulação mais recentes, foi a fundação da Frente Ampla Pela Cultura da Baixada Santista, onde artistas de região se organizaram para enfrentar a luta por políticas públicas para o setor cultural durante todo o período da pandemia de COVID-19, articulando, inclusive, a abertura de conselhos municipais de cultura nas cidades que não os tinham, para que os artistas da região pudessem acessar os recursos da Lei Aldir Blanc I. Foram abertos ou em fase de regulamentação conselhos em cidades como Bertioga, Itanhaém, e Praia Grande. 6. GESTORA PÚBLICA Entre 1985/1986 trabalhou no gabinete do Vice prefeito Esmeraldo Tarquinio, aos 24 anos , e também na Delegacia Regional de Cultura, sendo uma das responsáveis pela primeira feira de Cultura Popular do Litoral Paulista, articulando apresentações de grupos de teatro, dança, música e artesãos de todo o litoral do estado. Entre 1989/ 1996 trabalhou como assessora do governo Thelma de Souza, e de seu sucessor Davi Capistrano ,, atuando na implementação e coordenação do Projeto Carlitos e depois foi coordenadora de artes cênicas do da Secretaria de Cultura de Santos um dos primeiros projetos de arte-educação do Brasil, onde artistas eram remunerados para ministrar oficinas de teatro, dança, música, capoeira, dança de rua e outras atividades culturais. Também neste período, em 1989, enquanto assessora atuou para a mobilização de artistas da região na conscientização pela necessidade da profissão obter o seu registro profissional, pela regulamentação dos profissionais das artes cênicas. Em 1.996 foi convidada a trabalhar na Secretaria de Cultura de São Vicente, ministrando oficinas em associação de bairros na periferia da cidade. Logo depois assume o cargo de Coordenadora do Departamento de Carnaval, onde organiza os desfiles de Escolas de Samba e os desfiles de blocos carnavalescos de rua. No ano de 2.006 vai trabalhar nas Oficinas Regionais Pagu - na Cadeia Velha de Santos onde além de fazer trabalho administrativo, ministra aulas de teatro em várias oficinas culturais na sede e nas cidades da Baixada Santista e Vale do Ribeira. Entre os anos de 2013 e 2015 foi Diretora de Eventos da Secretaria de Cultura de São Vicente, último cargo público que ocupou. MEMORIAL DESCRITIVO
1973/1975 - Participou de peças montadas no Antigo Grupo Escolar Matteo Bei, e
em peças sacras realizadas pela Igreja Nossa Senhora Aparecida. 1976 - Ingressou no grupo de teatro Centauros. 1977 - Pela primeira vez participou da reunião da antiga Federação Santista de Teatro (FESTA). 1978- Atriz no Grupo TEMO Teatro e Movimento, espetáculo “O Crime contra Amazônia ou o Brado da Ecologia”. 1979 - Atriz no espetáculo "Capitães da Areia" no Grupo TETRAPO - Teatro de Trabalho Popular. 1983 - Atriz no Espetáculo Flicts - da Cia Teatraria. 1985/1986 - trabalhou no gabinete do Vice prefeito Esmeraldo Tarquinio, e também na Delegacia Regional de Cultura. 1985/1987 - foi Secretária da Confederação de Teatro Amador do Estado de São Paulo (COTAESP). 1985/1987- Diretora da Regional Sudeste da CONFENATA. 1986 - Fundou a Cia Pernilongos Insolentes. 1987/1989 - Presidente da Confederação Nacional de Teatro Amador (CONFENATA). 1987 - Assistente de direção e produtora da peça “Leila Baby” (Cia Pernilongos Insolentes). 1988 - Diretora, atriz e produtora da peça “A Idade do Sonho” (Cia Pernilongos Insolentes). 1989- Diretora do espetáculo “Um Sonho realizado” (Projeto Carlitos). 1989/1991 - Vice-presidente da Confederação Nacional de Teatro Amador (CONFENATA). 1989/1991- Presidente da Federação Santista de Teatro Amador (FESTA). 1989/1996- Assessora da prefeita de Santos/SP Thelma de Souza e do seu sucessor Davi Capistrano, coordenadora do “Projeto Carlitos”, e coordenadora de artes cênicas do da Secretaria de Cultura do município. 1990 - Diretora do espetáculo “Natureza de Papel - teatro de bonecos e animação” (Projeto Carlitos). 1991- Diretora do espetáculo “Capitães da Areia” (Projeto Carlitos). 1992 - Atriz e produtora da peça “Viagem ao Coração da Cidade”(Cia Pernilongos Insolentes). 1993- Atriz e produtora da peça “A Maldição do Vale Negro”(Cia Pernilongos Insolentes). 1996 - Atriz e produtora da peça “Single Singer's Bar”(Cia Pernilongos Insolentes). 1996- Coordenadora do Departamento de Carnaval da prefeitura de São Vicente/SP. 1999 - Atriz e produtora da peça “Geração Trianon” (Cia Pernilongos Insolentes). 2003 - Diretora do espetáculo “Evangelho Segundo Zebedeu” (Cia Teatral Cenicomania). 2005 - Diretora do espetáculo “A Lei e o Rei” (Cia Teatral Cenicomania). 2009 - Diretora do espetáculo “Minha Nossa” (Cia Teatral Cenicomania). 2010/2011- Produtora e figurinista da Encenação Caminhos da Independência – município de Cubatão/SP.
2011 - Diretora do espetáculo “Reclame- uma história de amor” (Cia Teatral
Cenicomania).
2011- Produtora executiva da 30ª encenação da Vila de São Vicente, município de
São Vicente/SP.
2012- Produtora do I Festival de Estátua Viva de Santos, município de Santos/SP.
2012- Produtora da Paixão de Cristo de Cubatão, município de Cubatão/SP.
2012- Diretora e produtora de “As Rodriguianas” dentro do Festival Ibero Americano
de Teatro (Mirada).
2012- Produtora da Encenação da Vila de São Vicente, município de São
Vicente/SP.
2013/2016- Diretora de Eventos da Secretaria da Cultura de São Vicente.
2015- Diretora e Produtora do espetáculo “É Doce ou Salgado?” (Coletivo Sanatório Geral).
2015- Orientadora do espetáculo “Rua da Amargura” da Cia Héteros de Teatro.
2015- Oficineira de Teatro das Oficinas Culturais Oswaldo Névola Filho de São Vicente.
2017- Diretora e uma das fundadoras da Cia Cena Preta de Teatro.
2017/2018 - Diretora do espetáculo “Gritaram-me Negra”(Cia Cena Preta de Teatro).
2017/2018- Diretora de “Willian... e Nós…” (Coletivo Makesheke).
2018- Orientadora do Festival de Cenas teatrais (FESCETE) Categoria Monólogos.
2018- Diretora do espetáculo “IMPERATRIZES” (Teatro do Kaos).
2018/2019- Diretora do espetáculo “Benjamin - O Filho da Felicidade” (Cia Trilha de
Teatro). O espetáculo segue em cartaz.
2019 - Diretora do espetáculo “O Livro Proibido de Madalena”(Cia Pixotes &
Quixotes).
2020 - Diretora do Projeto “Caixola de Histórias “ (Teatro a Bordo).
2020/2021- Diretora do espetáculo “Willian... e Nós…”, versão on-line (Coletivo
Makesheke).
2021- Diretora do espetáculo “ O Tesouro na Bolsa” 2021 (Sobrado das Artes,
prefeitura de Santos/SP).
2021- Diretora do espetáculo “Caminhos da Independência” XVI - Solidário (Teatro
do Kaos).
2021- Diretora da Animação “Aninha e sua Fábrica de Brinquedos” (Sobrado das
Artes - prefeitura de Santos/SP).
2021- Diretora do espetáculo “Caminhos da Independência” XVII - Uma Revolução
Bárbara (Teatro do Kaos). 2021/2023- Professora de teatro de alunos da Fundação Settaport, dentro do projeto Jovem Cidadão para formação para o mercado de trabalho onde participam de atividades culturais no contraturno escolar, sendo arte-educadora do projeto até o momento.
2022 Orientadora do curso"Sensibilidade e Comunicação para o Teatro", para
SESC Santos/SP.
2022/2023- Diretora, produtora e dramaturga no monólogo “Quando mataram os