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O EFEITO DE DISTANCIAMENTO EM A ÓPERA DOS TRÊS

VINTÉNS, DE BRECHT

Sandra Vanessa Versa Kleinhans da SILVA1


Lourdes Kaminski ALVES2

Resumo: As obras brechtianas revelam Abstract: The Brecht’s books and plays
o esforço em refletir de forma dialética reveal the effort to reflect dialectically
as relações entre a própria obra e a so- the relations between the work itself and
ciedade, sendo intensificadas pelo efeito the society, being intensified by the dis-
de distanciamento proposto por ele em tancing effect proposed by him in his
seu teatro épico. Neste artigo, objetiva- epic theatre. In this article, the objective
se refletir sobre o que é o efeito de dis- is to reflect about what is the distancing
tanciamento e como ele se apresenta na effect and how it is presented in Brecht's
peça teatral A Ópera dos Três Vinténs play The Threepenny Opera (1928). It is
(1928), de Brecht. Vale ressaltar que important to mention that this text oper-
este texto opera na constituição de uma ates in the constitution of a “minority
“consciência de minoria”, no qual o consciousness”, in which the character
personagem funciona como um veículo works as a vehicle of communication and
de comunicação e impulsiona a reflexão drives the critical reflection of the
crítica do leitor/público/plateia. A refle- reader/audience. The critical reflection
xão crítica está embasada nos estudos de is based on Brecht's studies on theater
Brecht sobre o teatro (1992,2005), Ana- (1992,2005), on Anatol Rosenfeld
tol Rosenfeld (1985), Gerd Alberto Bor- (1985), on Gerd Alberto Bornheim
nheim (1992), entre outros. (1992), among others.

Palavras-chave: teatro épico; efeito de Keywords: epic theatre; distancing ef-


distanciamento; Brecht. fect; Brecht.

Recebido em 15-09-2017
Aceito em 26-10-2017

I
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1
Mestranda no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras, Área de concentração: Linguagem e
Sociedade, da UNIOESTE - campus de Cascavel, sob orientação da profa. Dra. Lourdes Kaminski Alves.
Página

2
Pós-Doutora em Letras pela UFRJ (2014), coordenadora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu
em Letras, Área de concentração: Linguagem e Sociedade (Mestrado e Doutorado), da UNIOESTE - cam-
pus de Cascavel.

Revista Trama | Volume 14 | Número 31 | Ano 2018 | p. 85 – 95 | e-ISSN 1981-4674


Este artigo apresenta um estudo consegue adentrar no processo de imagi-
do texto dramatúrgico A Ópera dos Três nação do ser humano. E, segundo Peter
Vinténs (1928), de Brecht, objetivando- Szondi (2001, p.30), o teatro “não fala;
se refletir sobre o efeito de distancia- ele institui a conversação”.
mento – um dos elementos estéticos for- Estudos teórico-críticos acerca
mulados por Brecht – na construção da do gênero dramatúrgico, a exemplo de
peça. Para atender a este objetivo, bus- Bertolt Brecht (1992, 2005) e Gerd Al-
cou-se apoio na formulação teórica de berto Bornheim (1992), propõem as sub-
Anatol Rosenfeld (1985), Bertolt Brecht divisões: Teatro Dramático, Teatro
(1992, 2005), Gerd Alberto Bornheim Épico ou Dialético, com base no modus
(1992), entre outros. operandi da representação e da recepção.
As obras de Brecht tecem críticas A partir de então, estas formulações teó-
sociais intensificadas pelo efeito de ricas encontram ressonância nos estudos
distanciamento proposto por ele em seu de Anatol Rosenfeld (1985), Peter
teatro épico: teatro no qual este autor crê Szondi (2001), Renato Cohen (2002),
ser necessário demonstrar, não somente Hans-Thies Lehmann (2007, 2013),
as relações inter-humanas no palco, mas Jean-Pierre Sarrazac (2012), entre ou-
também as determinantes sociais dessas tros, com importantes desdobramentos
relações. para se pensar as práticas teatrais no Bra-
sil e no mundo.
Faz-se pertinente destacar que,
II para Cohen, o teatro é visto como o re-
lato de uma “época de ouro” (dos anos
De acordo com Margot Berthold 60), em especial, no concernente ao tea-
(2004, p.1), “o teatro é tão velho quanto tro experimental: o Oficina, a vinda do
a humanidade. A transformação numa Living Theatre e de Bob Wilson, os fes-
outra pessoa é uma das formas arquetípi- tivais e a presença de Victor Garcia, Jé-
cas da expressão humana”. Sendo assim, rome Savary, entre outros. Houve tam-
percebe-se como o teatro agrega a seu bém, com um determinado atraso e o cor-
processo uma série de elementos, a reto filtro (comum às informações que
exemplo do histórico, mitológico, psico- vêm de fora):
lógico, entre outros. Berthold ressalta,
ainda, a noção “arquetípica da expressão [...] a passagem de inúmeras “on-
humana”, ou seja, o homem historica- das” e estéticas; o movimento beat,
mente construiu uma série de mitos os a hippie generation e a contracul-
quais muitas vezes estão ligados à pró- tura, e mais recentemente o movi-
mento punk-new wave com todos
pria gênese da qual se entende por hu-
seus desdobramentos. Esse contato
mano. E, para Jung (1985, p.69), a ima- através de relatos, leituras e alguma
gem primordial (ou arquétipo) “é uma fi- observação despertava uma série de
gura – seja ela demônio, ser humano ou perguntas: como era esse processo
processo – que reaparece no decorrer da do Living Theatre de “viver” teatro
história, sempre que a imaginação cria- e não “representar” teatro — será
tiva for livremente expressa. É, portanto, que conseguiam realizar Artaud?
em primeiro lugar, uma figura mitoló- Que tipo de experiências Andy
gica”. Warhol fazia na sua fábrica? Como
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O dramaturgo constrói, por meio a antipsiquiatria e as técnicas orien-


da produção teatral, sua representação tais entravam no processo dos hap-
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simbólica de mundo, logo, o drama, in- penings? E muitas outras perguntas


diferentemente de seu tempo e local, que, transportadas para o que se via

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no Brasil, abriam outras indagações: Para Rosenfeld, há duas razões
por que as outras artes alcançavam opositivas entre o teatro épico brechtiano
grandes progressos e o teatro conti- e o teatro aristotélico, sendo elas:
nuava tão estagnado? A prática do
teatro teria que ficar isolada das ou- Primeiro, o desejo de não apresentar
tras artes? Será que a única alterna- apenas relações inter-humanas indi-
tiva para a caretice era Brecht? (CO- viduais – objetivo essencial do
HEN, 2002, p. 20). drama rigoroso e da “peça bem
feita” – mas também as determinan-
O Teatro Dramático tem sua base tes sociais dessas relações. [...] A se-
nos pressupostos de Aristóteles e, de gunda razão liga-se ao intuito didá-
acordo com Bornheim (1992), a drama- tico do teatro brechtiano, à intenção
turgia fechada, ou aristotélica, “[...] de apresentar um “palco científico”
prende-se aos antigos preceitos: obedi- capaz de esclarecer o público sobre
ência básica às três unidades, mas com a sociedade e a necessidade de trans-
certa tolerância, atenção à velha exigên- formá-la; capaz ao mesmo tempo de
cia da causalidade no desenvolvimento ativar o público, de nele suscitar a
ação transformadora (ROSEN-
da ação, ao conflito e ao desenlace dessa FELD, 1985, p. 147-148).
mesma ação, [...]” (BORNHEIM, 1992,
p. 317), ao contrário desta modalidade de Salienta-se também que o teatro
teatro, encontra-se o Teatro Épico ou Di- épico desperta uma reflexão crítica e so-
alético, inaugurado por Brecht. cial, porque conforme Szondi e:
Ainda, o autor supracitado afirma
que o teatro épico se mostra como uma De acordo com Hegel, o drama mos-
forma de teatro extremamente rica de- tra somente o que o ato do herói se
vido à variedade e aos diversos elemen- objetiva a partir de sua subjetividade
tos dos quais dispõe: desde uma nova e o que se subjetiva a partir da objeti-
técnica de atuação e direção até uma vidade. Ao contrário, no teatro épico,
nova dramaturgia, na qual há as mais va- em correspondência com sua inten-
riadas “técnicas de palco, a música, o ção sociológica e científica, há uma
emprego de filmes, e outras coisas mais reflexão sobre a “infra-estrutura” so-
[...]” (BORNHEIM, 1992, p. 138). cial dos atos em sua alienação obje-
Cabe ressaltar que uma das carac- tiva (SZONDI, 2001, p. 136).
terísticas do teatro épico é a presença da
narrativa, na qual o autor atua também Brecht, ao inaugurar o teatro
como o narrador da história, divergindo épico, no qual há um engajamento social
totalmente do teatro aristotélico, pois de e uma desconstrução das características
acordo com Rosenfeld: clássicas e preestabelecidas pelo teatro
aristotélico, transpõe a teoria do teatro
O teatro épico mostra-se, logo, nar- épico para práticas teatrais reflexivas,
rativo; diverge totalmente do teatro por meio de ideias dramatúrgicas e pro-
dramático, no qual não havia um postas cênicas (pessoais ou emprestadas)
deus ex machina e ninguém contava que devem, ao mesmo tempo, isolar e
a história; as personagens a viviam, distanciar os elementos da encenação e
em vez de contá-la. O autor, no tea- do drama tradicionais e familiares ao pú-
tro épico, manipula a ação, faz saltar blico, “tirando-os do movimento abso-
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o tempo, seleciona os acontecimen- luto global que caracteriza o drama e


tos, cenas e lugares (ROSENFELD, convertendo-os em objetos épico-cêni-
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2009, p. 300). cos, isto é, “mostrados”. Daí Brecht

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chamá-los “efeitos de distanciamento” ” que o distanciamento alcance seus obje-
(SZONDI, 2001, p. 136). tivos, pois ele será o principal intermedi-
Ressalta-se que um dos efeitos marcan- ário entre o texto e o espectador, impli-
tes desse teatro é o distanciamento épico, cando assim uma aproximação na qual o
no qual, para Brecht (apud Bornheim, “ator já não atua para si, num esplêndido
1992), “distanciar um acontecimento ou isolamento, fazendo de conta que o pú-
um caráter significa antes de tudo retirar blico não existe. O público instala-se efe-
do acontecimento ou do caráter aquilo tivamente na sala, e o ator orienta todo o
que parece o óbvio, o conhecido, o natu- seu trabalho para o espectador” (BOR-
ral, e lançar sobre eles o espanto e a curi- NHEIM, 1992, pp. 258-259), devendo
osidade” (BRECHT, tomo III, 101, apud tanto o ator como o espectador ser inte-
BORNHEIM, 1992, p. 243). gralmente ele mesmo.
Sob a ótica de Bornheim, quando Outra elaboração conceitual, de-
“se fala em distanciamento, logo se senvolvida por Brecht e igualmente im-
pensa no ator” (BORNHEIM, 1992, p. portante para se refletir sobre distancia-
247), contudo, tal autor lembra que: mentos, é o Gestus, o qual designa as re-
lações dos homens entre si, já que se-
[...] além do sistema de atuação, gundo Brecht:
deve-se ressaltar também, em se-
gundo lugar, a abrangência das téc- [...] por Gestus não se deve entender
nicas brechtianas, posto que o efeito a gesticulação; não se trata apenas
de distanciamento alastra-se e in- de movimentos de mão que subli-
forma a totalidade das partes que nham ou elucidam, trata-se, sim, de
compõem um espetáculo, e não ape- posturas gerais (Gesamthaltungen).
nas o desempenho do ator; temos em Uma língua é gestual quando ela
mãos um verdadeiro sistema dos dis- descansa sobre o Gestus, quando
tanciamentos, composto de diversas mostra determinadas posturas da-
partes que se encadeiam com suas quele que fala, que contrapõe o fa-
práticas em um todo unitário (BOR- lante a outras pessoas (BRECHT,
NHEIM, 1992, pp. 247-248). tomo III, 281, apud BORNHEIM,
1992, p. 281).
Desse modo, o efeito de distanci-
amento é um dos elementos fundamen- De acordo com Bornheim (1992),
tais na teoria do teatro épico brechtiano, no tocante à cena, aos elementos cênicos
para tanto é necessário trazer à tona que e à música, é necessário destacar que
este ocorrerá por meio do público, do para o efeito de distanciamento ocorrer,
ator, dos elementos cênicos, da música e precisa-se romper com a ideia de uma ce-
do diretor. nografia estática, pois “Brecht propõe
Para que tal efeito ocorra, é im- que o construtor de cena interfira na pró-
portante que o espectador também seja pria estrutura (Gerüst) da arquitetura te-
distanciado, ou seja, o público deve dei- atral – o que deve acontecer a propósito
xar de ser passivo (algo que ocorre no te- de cada montagem” (BORNHEIM,
atro tradicional aristotélico) e passar a ter 1992, p. 296), ou seja, Brecht desnuda o
uma postura ativa, “fazer com que ele ambiente, tira a decoração supérflua,
tome consciência da realidade em que torna o espaço mais versátil e flexível e a
vive” (BORNHEIM, 1992, p. 253) e agir música é disposta de maneira distinta ao
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de maneira crítica e reflexiva. teatro aristotélico, já que o “início de


Importante é a observação do ator uma canção coincidia com mudanças na
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funcionando como a peça central para iluminação, iluminava-se a orquestra e


na tela de fundo apareciam os títulos de

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cada número cantado; além disso, os ato- Holthusen foi um dos acontecimentos
res (cantores) mudavam de posição em mais memoráveis da História da Cul-
cena. [...]” (BORNHEIM, 1992, p. 299). tura dos anos vinte” (PEIXOTO, 1979,
E, por fim, cabe também ao dire- p. 82, grifos do autor).
tor estudar três elementos para que o Na sua peça, Brecht narra a
efeito de distanciamento ocorra, sendo história de Macheath, chefe de um bando
eles: “[...] o texto, as peculiaridades da de ladrões de rua, conhecido pelo apelido
escrita do dramaturgo e o tempo em que de Mac Navalha. A peça mostra seu ca-
o texto foi composto [...]” (BORNHEIM, samento com Polly, filha de Peachum, o
1992, p. 303), a fim de que a história seja qual era conhecido como o Rei dos Men-
contada com riqueza de sentido e o es- digos, por controlar a mendicância em
pectador, o ator, os elementos cênicos, a Londres, visto que vestia os indivíduos
cena e a música se transformem em um como deficientes ou mendigos e os man-
todo unitário para a composição do dis- dava pedir esmolas; e também conta a
tanciamento épico brechtiano. sua amizade com Brown, o Tigre, chefe
Sendo assim, conforme Bor- de polícia. Enfim, descreve todo o ambi-
nheim, na dramaturgia não-aristotélica ente no qual vive o herói, entre mendi-
“[...] a ação se move com relativa liber- gos, ladrões e prostitutas. Por vingança
dade no espaço e no tempo, não dá tanta de seu sogro, as coisas quase acabam mal
atenção à casualidade, as cenas se suce- para ele, visto que Macheath é conde-
dem com independência e contigüidade nado à morte e caso não morresse uma
[...]” (BORNHEIM, 1992, p. 317). multidão de mendigos (miseráveis e pos-
O efeito de distanciamento, com- suidores de todas as doenças possíveis)
preendido como uma estratégia que se perturbaria as cerimônias de coroação da
realiza por meio do público, do ator, dos rainha. Desse modo, por puro amor à
elementos cênicos, da música e também ópera e contra todas as evidências, a rai-
do diretor e a ideia de Gestus, como in- nha acaba por perdoar o ladrão e a vin-
dicativo de determinadas posturas da- gança se frustra.
quele que fala, encontram-se nas peças De acordo com Peixoto (1979),
de teatro de Brecht. Portanto, de acordo “[...] como acentua Dort, a estreia foi um
com este autor, o teatro funciona como o triunfo que se espalhou pelo mundo e
local de conscientização e politização no ainda hoje parece não ter se esgotado”
qual a realidade social dos indivíduos (PEIXOTO, 1979, p. 82) e, “segundo
deve ser mostrada de modo a gerar a re- Dort, comparando ambas as peças é for-
flexão, a crítica, o espanto e, por fim, o çoso constatar que o texto inglês é mais
distanciamento épico. bem construído e possui uma eficácia
dramática mais segura” (PEIXOTO,
1979, pp. 83-84). Ao encontro das ideias
III de Peixoto (1979), Bornheim (1992) en-
fatiza que “da Ópera valem as palavras
Para Fernando Peixoto (1979), a de Bernardt Dort: “Brecht substitui a sá-
peça Ópera dos Três Vinténs pode ter tira imediata de Gay por uma sátira, uma
sido uma adaptação da peça Ópera dos crítica em segunda potência. Ele não atu-
Mendigos (1728), do autor inglês John alizou o original. Ao contrário, ele o ir-
Gay, e teve sua estreia no teatro Amm realizou” “(BORNHEIM, 1992, P. 167).
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Schiffbauerdamm, no dia 31 de agosto Bornheim (1992) salienta que


de 1928 (com a direção de Engel, ceno- tanto a ópera de Gay (1728) quanto a de
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grafia de Caspar Neher e música de Kurt Brecht (1928) tecem críticas sociais
Weill). Peixoto lembra que “segundo

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muito demarcadas e com uma notória se- abismo entre a ópera e a sociedade, um
paração da classe alta e da classe baixa, vazio que levava a arte ao esquecimento.
em que o dinheiro sempre falará mais E é justamente em reação a esse esvazia-
alto, pois: mento que “Brecht pensa o seu trabalho:
a exigência, de um lado, de tornar visível
Ambas querem criticar as classes e atual o conteúdo da ópera, de maneira
mais elevadas, mostrando que a low a colocar o espectador como que dentro
class não passa de um ministro da de sua própria situação; e, de outro, a re-
high class: a inferior é a caricatura e novação formal, principalmente pela
a verdade superior. O berço do estilo
música” (BORNHEIM, 1992, p. 169).
e as boas maneiras mal conseguem
disfarçar o grande personagem, sem-
Para tanto, a Ópera dos Três Vin-
pre presente: o dinheiro, que compra téns suscita todos os elementos supraci-
tudo e desfaz qualquer barreira tados, a fim de gerar o efeito de distanci-
(BORNHEIM, 1992, p. 166). amento no espectador. Um dos aspectos
notórios desse efeito são as músicas pre-
Vale destacar que a Ópera dos sentes no decorrer da peça, pois elas ser-
Três Vinténs foi escrita com o intuito de vem como um introito/prólogo da temá-
criticar as óperas que dominavam a cena tica a ser explorada em cada ato, como
alemã, pois a crise da época se referia à uma preparação para a plateia compreen-
“crise da ópera”. E, segundo Bornheim der o que será tratado em cada parte da
(1992), a crise deve ser considerada a peça, com a finalidade de conseguir che-
partir de duas perspectivas, em que: gar ao efeito de distanciamento, ou seja,
entender do que se trata para então gerar
Uma prende-se ao próprio repertório a curiosidade e o estranhamento. Essas
operístico dos teatros, tanto alemão músicas aparecem algumas vezes no iní-
quanto estrangeiro, especialmente o cio de cada ato e/ou no decorrer destes,
italiano: mas, evidentemente, o sendo estas em estilos de moritat, can-
grande tema termina sempre sendo a ções e baladas.
‘obra de arte total’, de Wagner. Fal- Ressalta-se que a designação mo-
taria à ópera espírito de renovação e
ritat, conforme Teixeira Junior, tem o
adaptação aos novos tempos. Uma
outra perspectiva diz respeito a Ha-
significado de balada, em língua portu-
endel. Crescia na Alemanha a partir guesa, e é tradicionalmente ligada à can-
de 1920 um verdadeiro culto, com ção de um antigo cantor de rua, a qual
sabor de redescoberta, das óperas possui uma estrutura melódica e harmô-
haendelianas, que se sucediam de nica simples, ainda que seja cantada es-
modo crescente nos palcos alemães. pecificamente a um propósito e a uma si-
Se se pensar na situação da crise em tuação. Normalmente, este cantor apre-
que se encontrava a Alemanha da sentava narrativas diversificadas, sendo
época, talvez se possa compreender estas relacionadas a: crimes, sentimen-
melhor a contrapartida que a ela re- tos, fatos importantes, desastres naturais,
presentava esse fascínio por Haen-
dentre outros; Também se utilizava de
del: seu tom solene, hierático, de
um realejo – órgão de barril – e apresen-
coisas definitivamente estabeleci-
das, com sua galeria de heróis, reis, tava, em estandartes, imagens pintadas.
santos, como que a garantir, no abs- Destaca-se ainda que, até os anos vinte
trato, a vigência de uma ordem pe- do século vinte, esta balada era um tipo
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rene (BORNHEIM, 1992, p. 169). de apresentação comum no sul da Ale-


manha e hoje,
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Bornheim observa que devido a


todo esse panorama musical havia um

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ela está incorporada às pesquisas do Sua grana embolsa o Mackie,
teatro de rua voltadas para um res- Mas tu nada provarás. (BRECHT,
gate deste material histórico. Há, por 2004, p. 13).
exemplo, um grupo em Hofheim
(Alemanha), chamado Hofheimer O primeiro ato da peça inicia com
Moritatensänger 28 que procura tra- o coral matinal de Peachum, o qual co-
balhar com esta tradição, prestando munica claramente a crítica à sociedade
homenagem a diversos cantores e
capitalista e a religião sendo usada como
canções de rua, em especial Phillip
um meio de se conseguir dinheiro/esmo-
Keim (1808-1884), um famoso
‘cantor de jornal’ (Zeitungssänger), las por intermédio da exploração do sen-
cuja história marcou a introdução do timento de piedade daqueles que têm
realejo no trabalho destes cantores medo de enfrentar o “Juízo Final”, de
performáticos. Cego aos dezessete forma irônica:
anos, Keim recebe do duque de Nas-
sau um realejo de presente para au- Acorda, macaquinho cristão!
xiliá-lo (TEIXEIRA JÚNIOR, 2014, Começa a pecar salafrário!
p. 133). Tu não passas de um charlatão:
Ganharás do Senhor teu salário.
Logo no início da trama, isso fica
perceptível, pois seu prólogo é intitulado Vende a mulher e o irmão,
como a Moritat de Mac Navalha (tradu- Porque és um patife venal.
zida para o português como a Balada de Deus pra ti é uma bolha de sabão?
Tu verás no Juízo Final. (BRECHT,
Mac Navalha) por meio da qual é nar- 2004, p. 15).
rado um dos crimes cometidos por ele e
também a sua fama de bandido temido Esta música funciona como um
por todos e que ainda não pagou por seus introito do tema a ser tratado neste ato,
crimes, sendo esta cantada por um cantor no caso, a história do negócio do comer-
de feira, a qual diz: ciante Peachum, conhecido como o chefe
da mendicância, pois aliciava pedintes
Tubarão tem dentes fortes,
para trabalhar para ele, vestindo-os como
Que não tenta esconder;
Mackie tem uma navalha, mendigos e dizendo em que rua ficariam
Que ninguém consegue ver. para angariar esmolas, as quais seriam
repassadas a ele também.
Tubarão tem barbatanas, Além das músicas funcionando
Que de sangue rubras são; como introito, no decorrer de todos os
Mackie usa uma luva, atos, há a presença de diversas baladas e
Que esconde a vil ação. canções, as quais possuem a mesma fun-
cionalidade de pressupor o tema tratado
Nas londrinas águas verdes em cada ato da peça, ou seja, elas expli-
Some gente –– grande azar! citam o texto, tomando uma posição e
Não é cólera nem peste:
É o Navalha a rondar!
comunicando um comportamento, de
maneira crítica e esclarecedora. Isso
Num domingo ensolarado, exemplifica bem o esquema elaborado
Um cadáver jaz no chão –– por Brecht, no qual ele expõe as diferen-
E um homem dobra a esquina –– ças entre a ópera dramática e a ópera
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É o Navalha, o valentão. épica, sendo elas:


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Mosche Meier está sumido,


E outros tantos marajás:

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Ópera dramática O pescoço cheirando a loção,
Ópera épica E sabiam respeitar a dama,
a música serve Então, minha resposta foi: “não”.
ela é intermediária Eu fui distante e inacessível
a música intensifica o texto E mantive-me imparcial.
ela explicita o texto Certamente a lua brilhou a noite
a música afirma o texto toda,
ela pressupõe o texto E nas ondas balançou-se a canoa,
a música ilustra Nada mais além disso, afinal.
ela toma posição Sim, a gente deve negar-se,
a música pinta a situação. Deve manter frio o coração.
ela dá o comportamento. Tanta coisa pode acontecer à noite,
(BRECHT, tomo II, 188-9, apud Mas eu sempre respondo: “não”.
BORNHEIM, 1992, p. 179).
3
Dentro da mesma linha de racio- Mas um dia, e o dia estava azul,
cínio, Polly, filha do chefe da mendicân- Veio alguém, que não soube pedir:
cia Peachum, acaba se casando (contra a Pendurou seu chapéu atrás da porta,
vontade e escondida dos pais) com o E eu não pude mais resistir.
E como não era rico
chefe dos bandidos, Mac Navalha. E ela
Nem era amável,
conta aos pais o ocorrido por meio de Seu pescoço cheirando a sabão,
uma canção: E não soube respeitar a dama,
A resposta não foi mais: “não”.
1 Então, tornei-me acessível,
Outrora, ainda inocente E não permaneci imparcial.
–– Eu era inocente, podem crer! –– Certamente a lua brilhou a noite
Pensei: talvez, um dia, venha um toda,
cavalheiro, E nas ondas balançou-se a canoa,
Então, devo saber o que fazer. Tudo mais aconteceu, afinal.
Se ele for rico, Pois a gente não deve negar-se
Se for amável, E não deve manter frio o coração.
Com o pescoço cheirando a lo- Tanta coisa pode acontecer à noite,
ção, Quando a resposta não é “não”.
Se for bem-educado com a dama, (BRECHT, 2004, pp. 43-44).
Então, minha resposta será: “não”.
Pois a gente deve ser inacessível É, no mínimo paradoxal, a crítica
E manter-se imparcial. da senhora Peachum e do senhor Pea-
Certamente a lua brilha a noite chum à Mac Navalha, pois eles ficam in-
toda, dignados pela filha se casar com um ban-
E nas ondas se balança a canoa,
dido, quando, na verdade, a criaram para
Nada mais além disso, afinal.
Sim, a gente deve negar-se,
que se casasse com alguém rico e que a
Deve manter frio o coração. sustentasse com um estilo de vida melhor
Tanta coisa pode acontecer á noite, ao que lhe fora proporcionado até então.
Mas eu sempre respondo: “não”. Essas críticas se sobressaem nas seguin-
2 tes falas:
O primeiro veio de Kent ––
Um galante dos pés à cabeça; SENHORA PEACHUM –– Ca-
92

O outro tinha três navios no porto; sada? Primeiro, nós a cobrimos toda
O terceiro pegou fogo depressa. de vestidos e chapéus e luvas e som-
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Mas como eram ricos, brinhas, e depois que ela já nos saiu
E eram amáveis, tão cara quanto a um transatlântico,

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ela mesma se joga na sarjeta como Porém, ele também deve ser capaz de
um pepino podre. Você casou se relacionar com acontecimentos di-
mesmo? (BRECHT, 2004, p. 42). ferentes dos do argumento, portanto
não apenas atender ao argumento
PEACHUM –– Então, ela virou uma (BRECHT, 2004, p. 24).
fêmea de criminoso. Muito bonito.
Que beleza! (BRECHT, 2004, p. 44). De acordo com Bornheim (1992),
“o distanciamento recebe tratamentos es-
Nessa citação, nota-se o chefe da pecíficos na cenografia, na elaboração
mendicância e sua esposa criticando o dos elementos cênicos, no trabalho de di-
chefe dos bandidos, no entanto, ambos reção e em tudo o que concorre para a
pertencem a mesma classe social, low efetuação do espetáculo” (BORNHEIM,
class que serve à high class, estando to- 1992, p. 248), portanto, os elementos cê-
dos envoltos sob a necessidade de conse- nicos são de suma importância quando se
guir dinheiro a qualquer custo. Ou seja, fala em distanciamento épico. Sendo as-
nesta parte, comunica-se uma ácida crí- sim, além das músicas, do vestuário, dos
tica à sociedade capitalista e aos seus ví- gestos, há também a presença de letrei-
cios, porque conforme afirma Bornheim: ros, os quais auxiliam na criação do in-
troito/prólogo da cena, comunicando à
a low class não passa de um ministro plateia o tema a ser tratado naquele mo-
da high class: a inferior é a caricatura mento, e isso fica perceptível nesta parte
e a verdade superior. O berço do es- da peça:
tilo e as boas maneiras mal conse-
guem disfarçar o grande personagem,
Iluminação para canção: luz dourada.
sempre presente: o dinheiro, que
O órgão é iluminado. Do alto da cena
compra tudo e desfaz qualquer bar-
descem três refletores presos a uma
reira (BORNHEIM, 1992, p. 166).
barra. Nos letreiros lê-se: COM UMA
PEQUENA CANÇÃO, POLLY INSI-
Outro aspecto presente na peça, a NUA AOS PAIS SEU CASAMENTO
fim de gerar o distanciamento épico, são COM O LADRÃO MACHEATH
as observações para os atores, pois esses (BRECHT, 2004, pp. 42-43).
devem atuar narrando os acontecimentos
e não simplesmente os representando, Ou seja, esses elementos cênicos,
visto que essa é uma das principais ca- como por exemplo os letreiros anunciati-
racterísticas do teatro épico. Desse vos (de maneira distinta ao que ocorre no
modo, segundo Brecht: teatro aristotélico), levam à quebra da
quarta parede e ao efeito de distancia-
No que diz respeito à transmissão do mento.
enredo, o espectador não deve ser le- No final do enredo da peça, Mac
vado a trilhar o caminho da empatia, Navalha é condenado à forca, por meio
mas que se estabeleça uma comuni- de uma armação feita por seu sogro se-
cação entre o espectador e o ator, na
nhor Peachum. Entretanto, no momento
qual, apesar de toda a estranheza e de
todo o distanciamento, o ator em úl-
de sua execução, entra um arauto a ca-
tima instância se dirija diretamente ao valo, com um aviso, o qual mais uma vez
espectador. Assim, o ator deve narrar mostra uma sagaz crítica à sociedade
mais ao espectador sobre a persona- burguesa, visto que:
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gem a ser representada do que “está


em seu papel”. Claro que ele terá que BROWN –– Por motivo de sua co-
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assumir aquela atitude através da qual roação, Sua Majestade a Rainha or-
o acontecimento flui com facilidade. dena que o Capitão Macheath seja

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imediatamente libertado. Aplausos Ao se falar sobre a quarta parede,
entusiásticos. Ao mesmo tempo, ele vale lembrar que, conforme Xavier, foi
será elevado à categoria de nobre he- no século XVIII que
reditário –– júbilo –– e receberá o
castelo de Marmarel, bem como o teatro assumiu com mais rigor a
uma pensão de dez mil libras até o “quarta parede” e fez a miseem-
fim de sua vida. Aos casais de noi- scène se produzir como uma forma
vos aqui presentes, Sua Majestade de tableau que, tal como uma tela
transmite seus régios votos de felici- composta com cuidado pelo pintor,
dades. define um espaço contido em si
[...] mesmo, sugere um mundo autô-
PEACHUM –– Por isso, fiquem to- nomo de representação, totalmente
dos onde estão para cantar o coral separado da plateia. Como queria
dos mais pobres deste mundo, cuja Diderot, a ‘quarta parede’ significa
vida dura vocês representaram hoje, uma cena autobastante, absorvida
pois, a realidade, justamente o fim em si mesma, contida em seu pró-
deles é que é péssimo. Os reais arau- prio mundo, ignorando o olhar ex-
tos quase nunca aparecem, depois de terno a ela dirigido, evitando qual-
os pisados desta vida terem se levan- quer sinal de interesse pelo especta-
tado. Por isso, a iniquidade não de- dor, pois os atores estão “em outro
veria ser por demais perseguida mundo” (XAVIER, 2003, p.17).
(BRECHT, 2004, p. 107).
Logo, segundo Fialho (2016), a
Vale ressaltar que o arauto (o qual
quarta parede seria um limite virtual, o
entra para dar o recado) é a personagem
qual se transforma em uma janela para
Brown, chefe de polícia e amigo de Mac
outra realidade, distante e intocável. A
Navalha. E, antes de ser dado o aviso,
quebra da quarta parede ocorre quando
tem-se o coro para anunciar tal aconteci-
se ultrapassa esse limite, conseguindo fa-
mento, deste modo:
zer com que o ator e o público se perce-
CORO –– Escuta quem vem aí!
bam e interajam de forma direta, dei-
O real arauto a cavalo vem aí! xando-se de lado a ilusão do espectador
de ser somente um observador invisível
Briosamente montado, Brown apa- (ou ignorado) da ação cênica, culmi-
rece como arauto. (BRECHT, 2004, nando no efeito de distanciamento e na
p. 107). compreensão crítica da cena.

Esta introdução, da entrada do


arauto por meio de um coro, é uma ca- IV
racterística da quebra da quarta parede
(um coro anunciando de maneira crítica Os elementos cênicos que rom-
e levando ao efeito de distanciamento), pem com uma cena estática, a exemplo
pois, por trás das citações supracitadas, das observações para os atores, a música
nota-se que a absolvição de Mac Navalha funcionando como um introito à temática
ocorre para não perturbar as cerimônias de cada cena/ato, a presença de letreiros
de coroação da rainha. Destarte, por anunciativos indica a quebra da quarta
amor à ópera e contra todas as evidên- parede. Tais elementos são característi-
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cias, a rainha acaba perdoando o chefe cos do teatro épico brechtiano e do efeito
dos ladrões e a vingança (arquitetada por de distanciamento, podendo ser encon-
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seu sogro) finda sem ser concretizada. trados em todas as peças teatrais do dra-
maturgo alemão, em especial na Ópera

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dos Três Vinténs, peça considerada por FIALHO, Clinton Davisson. Deadpool e a
alguns autores como um dos aconteci- Quarta Parede – Uma análise das Narrativas
mentos mais memoráveis no âmbito cul- de Metalinguagem. In: XXXIX Congresso
tural dos anos vinte. Brasileiro de Ciências da Comunicação,
Esta ópera comunica ácidas críti- 2016, São Paulo. Anais eletrônicos. Inter-
com, 2016. Disponível em: <http://portalin-
cas a todo um sistema de organização an- tercom.org.br/anais/nacional2016/resu-
corado no capitalismo e as suas mazelas mos/R11-1373-1.pdf> Acesso em: 19 ago.
sociais, principalmente com relação à so- 2017.
ciedade burguesa na qual os indivíduos, JUNG, Carl Gustav. O espírito na arte e na
segundo a ironia brechtiana, ou serão as- ciência. Trad. de Maria de Moraes Barros.
saltantes ou serão burgueses, e estarão Petrópolis: Vozes, 1985.
sempre em busca de dinheiro, indiferen- PEIXOTO, Fernando. Brecht: vida e obra.
temente do que terão de fazer para con- 3. Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979.
segui-lo. ROSENFELD, Anatol. O teatro épico. São
Distintamente ao teatro dramá- Paulo, Perspectiva, 1985.
SZONDI, Peter. Teoria do drama moderno
tico, em que havia uma empatia do es-
(1880-1950). Trad. Luiz Sérgio Rêpa. São
pectador até se chegar à catarse, o teatro Paulo, Cosac&Naif, 2001.
épico traz à tona o efeito de distancia- TEIXEIRA JÚNIOR, Geraldo Martins.
mento. Essa ideia gera no espectador Dramaturgia, gestus e música: estudos so-
uma reflexão crítica acerca dos aspectos bre a colaboração de Bertolt Brecht, Kurt
sociais comunicados no decorrer da Weill e Hanns Eisler, entre 1927 e 1932.
peça, não à identificação, mas à negação. 2014. 255 f. Tese (Doutorado em Artes Vi-
Este texto opera na constituição de uma suais) – Instituto de Artes da Universidade
“consciência de minoria”, em que o per- de Brasília, Brasília, 2014. Disponível em:
sonagem funciona como um veículo de <http://reposito-
comunicação e impulsiona a reflexão crí- rio.unb.br/bitstream/10482/18099/1/2014_
GeraldoMartinsTeixeiraJ%C3%BA-
tica do leitor/público/plateia.
nior.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2017.
Por fim, salienta-se que a peça XAVIER, Ismail (Org.). O olhar e a cena:
Ópera dos Três Vinténs, apesar de ter Melodrama, Hollywood, Cinema Novo,
sido escrita em 1928, expressa uma visão Nelson Rodrigues. São Paulo: Cosac &
crítica atualizada, com relação à socie- Naify, 2003.
dade atual: todos determinados a conse-
guir dinheiro, sejam esses sujeitos mar-
ginalizados ou burgueses.

Referências
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teatro. São Paulo: Perspectiva, 2004.
BRECHT, Bertolt. Estudos sobre teatro.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.
______. Teatro Completo. vol. 3. São
Paulo, 2004.
BORNHEIM, Gerd Alberto. Brecht: A es-
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tética do teatro. Rio de Janeiro: Graal, 1992.


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COHEN, Renato. Performance como lin-


guagem: criação de um tempo-espaço de ex-
perimentação. São Paulo: Perspectiva, 2002.

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