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Revista de Arqueologia romana

Ano I - nº 3 - AGOSTO 2012

O Mausoléu romano da Quinta de bucelas


Bucelas, Loures
Castro de Chibanes Índice
(Serra do Louro, Palmela)
Editorial pág 4
Foto reportagem Por Raul Losada

Notícias  pág 6

Sabia Que... Uma Villa Romana ... pág 38

A Villa romana de Vale do Mouro pág 46

Quinta da Torrinha: uma necrópole de transição  pág 58

O Mausoleu da Quinta de Bucelas pág 74

Um Museu, uma peça... pág 84

O campo e a cidade: a villa rustica pág 86

Monumento epigráfico da Quinta de Santo Adrião pág 94


A Villa romana de Vale do Mouro
(Coriscada, Mêda)
Autor: Direcção e responsabilidade científica: António do A propósito de uma estela funerária romana de Vila Caiz pág 102
Nascimento Sá Coixão e Tony Silvino.

Os mosaicos, pinturas e elementos


Necrópole Romana da Quinta da arquitectónicos do Beco Da Cardosa em Alfama pág 116
Torrinha em Almada
Por: Vanessa Dias, CAA
Fotoreportagem - As escavações de Castro de Chibanes pág 126

“O campo e a cidade: a villa rustica” Thugga, uma cidade romana da África Nova  pág 136
Por: Maria de Jesus Duran Kremer

O mundo secreto dos tupperwares para muggles pág 146

pág. 2 pág. 3
ou a qualquer outra extensão de marca
Descobrir o nosso património Ficha Técnica PortugalRomano.com .
2. A PortugalRomano.com respeita os
Direcção:
D urante estas férias muitos são os
direitos e deveres constitucionais da

Editorial
Liberdade de Expressão e de Informação.
portugueses que por motivo da grave crise Director: Raul Losada
financeira que o país atravessa foram 3. A PortugalRomano.com rege-se por
Dir. Científica e Redactorial: Filomena
forçados a reduzir as despesas com o seu Barata critérios jornalísticos e científicos de Rigor
lazer anual. Dir. de Imagem e Arte: Miguel Rosenstok e Isenção, respeitando todas as opiniões
ou crenças.
Contudo, esta pode ser uma óptima
oportunidade para visitar os nossos Contactos: 4. Os jornalistas da PortugalRomano.
monumentos e locais arqueológicos, Do meu ponto de vista, o local está com comprometem-se a respeitar
perto das nossas casas, e muitas vezes excepcional, com um percurso de visita geral: portugal.romano@gmail.com escrupulosamente o código deontológico
desconhecidos. bem identificado e tem a possibilidade de de jornalistas e princípios éticos dos
realizar visitas guiadas garantidas pela especialistas da área da História e
Foi o caso do Mausoléu de Loures, de
que tivemos conhecimento através do
equipa de arqueologia do Tróia Resort. Colaboradores externos Arqueologia.
arqueólogo Guilherme Cardoso, e que se 5. Todos os textos e imagens veiculados
Pode ainda aproveitar para ver a exposição Amílcar Guerra
trata de um notável monumento funerário do principal acervo romano patente na Armando Redentor pela PortugalRomano.com em qualquer
romano, que nos prontificamos a visitar e recepção do Golfe de Tróia, e contemplar Carlos Fidalgo suporte são de autoria reconhecida.
apresentar nesta revista. a pintura mural cristã, com cruzes páteas Carlos Gonçalves 6. A PortugalRomano.com distingue,
César Figueiredo criteriosamente, as notícias do conteúdo
Um agradecimento especial ao nosso amigo latinas recuperada da parede de um Guilherme Cardoso
César Figueiredo que gentilmente lhe “deu antigo mausoléu ou pequena basílica Joaquina Soares opinativo, reservando-se o direito de
vida” através do seu desenho de ilustração descoberto na orla na orla do estuário do José Cabanilhas ordenar, interp- retar e relacionar os factos
arqueológica e de uma apresentação Sado ou o painel informativo na recepção Luís Sousa e acontecimentos.
do Aqualuz Suite Hotel, onde se destaco Maria de Jesus Duran Kremer
3D, ao Guilherme Cardoso que nos deu 7. A PortugalRomano.com compromete-
o Altar funerário dedicado a uma mulher Vanessa Dias
a conhecer o excepcional monumento se a respeitar o sigilo das suas fontes
Vasco Noronha Vieira
romano. Agradecemos ainda ao Museu de origem escrava, e descoberto junto de informação, quando solicitado, não
de Loures pelas facilidades concedidas na das ruínas romanas em finais de 2011.
admitindo, em nenhuma circunstância, a
elaboração do artigo através da consulta do
Recomendo uma visita, pois trata-se de quebra desse princípio.
trabalho publicado pela arqueóloga Florbela
uma excelente participação privada na Estatuto editorial 8. A PortugalRomano.com cumpre a Lei de
Estêvão.
manutenção e estudo de um monumento Imprensa e as orientações definidas neste
Entretanto, gostaria de referir que visitei nacional que foi durante muitos anos 1. A PortugalRomano.com é uma Estatuto Editorial e pela sua Direção.
durante o feriado de 15 de Agosto as votado ao abandono. publicação bimestral, podendo vir a
9. A PortugalRomano.com, na sua
Ruínas Romanas de Tróia, tendo ficado tornar-se mensal, que aborda várias
temáticas relacionadas com a Arqueologia revista, tem um Director, uma Direcção
muito satisfeito com a afluência de público
ao mesmo. O dia cinzento e chuvoso levou e a História, com especial ênfase para Científica e Redactorial e uma Direcção
Um abraço amigo e vamos descobrir
muitos visitantes da península de Tróia a a ocupação romana do actual território de Imagem e de Arte, podendo vir a
juntos o nosso Património.
outra actividade diferente do normal dia de português. Os princípios que aqui se sentir-se a necessidade de vir a ser criado
praia. Raul Losada descrevem também se aplicam ao site futuramente um Conselho editorial.
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Notícias
Museu de Conímbriga - Exposição de elementos arquitectónicos do período
Exposição sobre escavações em Conimbriga tem número permanente que se seguiu à invasão suévica.

recorde de visitantes A primeira sala é dedicada aos variados Na quarta sala estão expostos objectos
aspectos da vida quotidiana. ligados à religião (pagã e cristã), às
superstições e ao culto dos mortos
A segunda sala do Museu evoca o fórum. praticados pelos habitantes de Conímbriga.
Ao centro, encontra-se a maqueta à
escala de 1/50 do que foi o santuário do O museu registou, entre Janeiro e Julho,
culto imperial construído durante o último um aumento de cerca de seis por cento no
quartel do séc. I. volume de público em relação ao mesmo
período do ano passado e um aumento de
A terceira sala evoca, através de algumas cerca de 20 por cento em relação a 2010.
esculturas, mosaicos e fragmentos de
estuques e frescos, o ambiente requintado Fonte: Museu de Conímbriga/ CNoticias
em que viviam as famílias mais ricas;
mostram-se ainda alguns bons exemplares Fotos: Museu de Conímbriga

reproduzidas a partir de negativos muito


Uma exposição fotográfica retrospetiva antigos, originalmente a preto e branco,
das escavações arqueológicas feitas em que integram o arquivo do museu.
Conímbriga, Condeixa-a-Nova, está a
ser um sucesso, tendo registado mais de
Os visitantes podem ainda ver algumas
12.600 visitantes desde Abril. 
imagens em três dimensões. A exposição
Intitulada “A memória das pedras: teve mais de mil visitantes só nos
retrospetiva fotográfica de Conímbriga primeiros cinco dias após a inauguração.
1930-1970”, a exposição, que estará patente Com curadoria de Virgílio Hipólito Correia,
até dia 31Agosto, foi inaugurada a 19 deAbril. diretor do Museu de Conímbriga, e de
Humberto Rendeiro, “A memória das
Feitas as contas, em média, o certame pedras” disponibiliza ainda um catálogo
tem recebido mais de 120 visitantes por digital, desvendando a forma como se
dia. A mostra integra 56 fotografias em trabalhava em arqueologia naquele
grande formato tiradas desde o início período e integra-se nas comemorações
das escavações na cidade romana, dos 50 anos do Museu de Conímbriga.
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Centro de Estudos do Endovélico
da promoção de um desenvolvimento
integrado capaz de aprofundar, valorizar
e divulgar o conhecimento sobre a
cultura local e regional em que se insere
o património, ao mesmo tempo em que
concretiza actividades e cria instrumentos
capazes de contribuir para a dinamização
do tecido social comunitário.
Alguns dos principais objectivos do Centro
são:
- Acompanhamento do processo de criação
do Centro Interpretativo do Endovélico,
espaço museológico dedicado a esta
divindade e a toda a cultura do concelho;
- Organização de um programa sistemático
de iniciativas e eventos culturais,
Projecto de desenvolvimento cultural, científicos e de lazer que sejam fonte de
mobilização social e coesão económico-
criado pela Câmara Municipal de
Alandroal, com o objectivo de promover e social, com destaque para um congresso
divulgar a dimensão patrimonial associada anual dedicado ao tema do Endovélico;
ao território concelhio que hoje se designa - Criação de um Centro de Documentação;
por “Terras do Endovélico”.
- Criação dos “Cadernos do Endovélico”,
O Centro será coordenado pela Professora publicação semestral dedicada à história,
Doutora Ana Paula Fitas e contará com a arqueologia e etnografia do concelho;
colaboração de especialistas do Museu
Nacional de Arqueologia, do Instituto - Publicação da Carta Etnológica do
Alemão, da Universidade de Lisboa e Concelho;
da Universidade da Extremadura Ficará
instalado, numa primeira fase, no edifício - Desenvolvimento de um Serviço
da antiga Escola Primária de Alandroal, Educativo para a dinamização cultural e
recentemente recuperado pela autarquia. pedagógica da população escolar;

De carácter multidimensional, este - Preparação de uma candidatura do


Centro de Estudos irá desenvolver a sua património etno-arqueológico concelhio
actividade a partir do estudo associado a Património Europeu ou Património da
do património arqueológico e etnológico Humanidade.
do concelho de Alandroal, na perspectiva (Noticia Rádio Elvas)
pág. 8 pág. 9
Disponível está também um catálogo, da
autoria de Alexandra Gradim e João Luís
Cardoso, que faz a síntese de “ Dez anos
de trabalhos arqueológicos em Alcoutim.
Do Neolítico ao Romano”.

(Noticia: Câmara Municipal de Alcoutim)

EXPOSIÇÃO

“CUNHAR MOEDA PARA UM IMPÉRIO IMENSO”


O Museu de Arqueologia e Numismática 5000-620
Horário:
Vila Real

de Vila Real associou-se mais uma vez


Aberto todos os dias - 09h30>12h30,
à comemoração do Dia Internacional dos
Museus, em 2012 com a abertura ao 14h00>18h00
Núcleo Museológico do Castelo de Alcoutim: público da exposição “Cunhar moeda para Entrada gratuita
um Império imenso”.
Uma década de escavações arqueológica A partir do extenso espólio numismático
O Museu Espera pela vossa visita!
do Museu, aborda-se a dispersão
geográfica das casas da moeda imperiais,
locais de interesse, usos e costumes das responsáveis pela cunhagem de moeda
Locais e objectos impregnados de uma gentes locais. suficiente para todas as terras que o
memória milenar procuram transmitir Império Romano alcançou.
culturas e saberes que, num passeio Recentemente a Nerve, uma empresa de
mais ou menos longínquo, se cruzam no desing e musealização, foi responsável São 29 casas da moeda representadas,
território que é hoje Alcoutim. pela ampliação do Núcleo Arqueológico algumas com várias oficinas, cujo trabalho
de Alcoutim, criando uma nova área de também é explorado na exposição.
A estrutura, desta primeira amostra do exposição e uniformizando o grafismo de
potencial arqueológico que o concelho todo o núcleo. As actividades do Serviço Educativo,
encerra, teve como base a opção de associadas a esta exposição, estão já a
períodos históricos, tais como período Foi desenhado um novo expositor com uma ser divulgadas pelos estabelecimentos de
Neolitíco, Calcolitíco, Romano, Visigótico forma afunilada e com uma diferenciação ensino da região.
e Islâmico, relevantes na investigação cromática longitudinal que permite uma
arqueológica efectuada nas últimas melhor interpretação cronológica. A exposição decorre até ao próximo dia 8
décadas em Alcoutim. de Setembro
As várias aberturas para colocação de
Também poderá ser visionado, no auditório peças permitem interpretar cada conjunto Museu de Arqueologia e Numismática de
do castelo, um filme sobre o concelho de e de objectos enquadrando-os com os Vila Real
ficar a conhecer melhor a sua gastronomia, períodos arqueológicos adjacentes. Rua do Rossio
pág. 10 pág. 11
Revista

Ano: I
Nº: 0

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Mais informações:
pag. 1

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pág. 12 pág. 13
No Cabeço das Fráguas, a 1.015 metros investigadora do Instituto Arqueológico
Escavações no Cabeço das Fráguas revelam de altitude, existiu um santuário onde Alemão, tem realizado, em conjunto
ocupação contemporânea com santuário lusitano se encontra uma inscrição rupestre que
descreve a oferenda de vários animais
com Thomas Schattner, escavações
arqueológicas naquele local.
a diversas divindades. Segundo os
A classificação pretende encontrar “uma
arqueólogos, “a intervenção deste ano teve
protecção legal que permita acautelar
como principal objectivo averiguar a área
melhor o sítio e propiciar a preservação e
habitacional, de modo a determinar não
valorização” dos “excepcionais vestígios”
só as suas características como também
existentes.
e, sobretudo, se a ocupação do povoado
foi ou não contemporânea da ocupação da O santuário
área de santuário, sobre a qual incidiram
as campanhas de escavação anteriores”. Situado a cerca de 15 km a sul da cidade
da Guarda, na Quinta de S. Domingos, o
O achado arqueológico foi dado a conhecer Cabeço das Fráguas é, com 1015 m de
pela primeira vez em 1943 pelo general altitude, um massivo afloramento granítico
João de Almeida e publicado em 1956 pelo que se destaca em toda a paisagem
investigador Adriano Vasco Rodrigues, envolvente e se assume como um sítio
descrevendo a oferenda de vários animais de excepcional importância no âmbito da
a diversas divindades e conjugando no arqueologia portuguesa.
mesmo texto o alfabeto latino e a chamada
língua lusitana. O seu carácter extraordinário prendesse
com a existência, no seu cume, de uma
Na mesma nota, Maria João Santos e inscrição rupestre em língua lusitana que
Thomas Schattner congratulam-se por, relata a celebração de um rito sacrificial
foto: Supersrtitio “finalmente”, ter sido aberto o processo análogo aos suovetaurilia romanos.
de classificação daquele “importante
Esta inscrição indica que se trata de um
II antes de Cristo) na região” referem os sítio arqueológico” por parte da
Escavações arqueológicas realizadas arqueólogos Maria João Santos e Thomas Direcção Regional de Cultura do Centro,
espaço de santuário, que a escavação
demonstrou ter sido utilizado desde o
este mês no Cabeço das Fráguas, na Schattner, numa nota enviada à agência “ficando assim, doravante, protegido
região da Guarda, revelaram a existência século VIII a.C. até ao final do século I da
Lusa. e eventualmente classificado como
de ocupação contemporânea com o nossa era.
Monumento Nacional”.
santuário lusitano ali existente, informaram As investigações no sítio arqueológico
A convergência, neste local, de fabricos
hoje os arqueólogos envolvidos na do Cabeço das Fráguas decorreram A classificação do sítio arqueológico irá
cerâmicos de diferente procedência,
investigação. entre 09 e 20 de Julho e contaram “fazer justiça à relevância científica e
por um lado; e o facto de dois dos mais
com a colaboração de estudantes das cultural que assume o Cabeço das Fráguas
importantes deuses indígenas invocados
“A equipa de arqueólogos pôde constatar Universidades de Lisboa, Porto e Coimbra. não só a nível regional, mas à escala de
na inscrição (Reve e Trebarune) terem
a existência de ocupação coetânea com A campanha de escavações foi realizada todo o Ocidente Peninsular”, consideram.
territórios que coincidem também nesta
o santuário, identificando várias novas pelo Instituto Arqueológico Alemão de O procedimento administrativo relativo
área, por outro lado, apontam este sítio
construções que ampliam o conhecimento, Madrid que, desde 2006, tem vindo a à classificação do Cabeço das Fráguas, como um importante centro cultual.
não só deste sítio em concreto, mas desenvolver um projecto de investigação como património de interesse público,
também do tipo de povoamento existente dedicado ao estudo deste sítio no âmbito foi aberto por proposta da arqueóloga Fonte: Lusa / Archport / Instituto
durante a I e II Idade do Ferro (séculos VI- da romanização dos santuários indígenas. Maria João Santos que, na qualidade de Arqueológico Alemão
pág. 14 pág. 15
antigo local de culto a divindades lusitanas, da Quinta de S. Domingos, na zona este
Romagem teatral ao Cabeço das Fráguas datado do séc. V a.C., é o destino desta
romagem teatral.
da freguesia de Benespera, no concelho
da Guarda. A altitude do cabeço é de 1015
metros; no seu topo existe um planalto
No topo do cabeço encontra-se uma
onde estavam implantadas as edificações
escavação arqueológica que prova a
existência de algumas edificações lusitanas religiosas. Em todas as portelas existem
possivelmente destinadas ao culto. A vestígios de muralhas.
consubstanciar essa mesma ideia está a

“Laje da Moura”. Aí, a 1015 metros, terá


lugar o ritual de oferenda aos deuses que
Romagem teatral ao Cabeços das será partilhado por todos, actores e público,
Fráguas, no âmbito da iniciativa “Passos numa comunhão de memórias.” Refere a
à Volta da Memória”, um produção da sinopse divulgada pela Culturguarda.
Culturguarda para a autarquia guardense.
Esta produção tem coordenação geral existência de uma das únicas inscrições O acesso só é possível a pé mas esta
“A montanha sobe-se e os vales, antes de Américo Rodrigues e encenação de em língua lusitana escrita com caracteres visita é perfeitamente compensada pelo
caminhos, tornam-se horizontes aos olhos João Neca (igualmente autor do texto), latinos. Nas imediações do cabeço reencontro com o passado, com um
de todos. O Cabeço das Fráguas será com interpretação de António Rebelo, foram encontradas 20 aras religiosas património ímpar, com um bela e inebriante
transformado nesta migração de sensações. David Ribeiro, João Neca, João Pereira, contemporâneas dos lusitanos, o que se paisagem.
Da História à lenda. Do Teatro ao mito. Das Luís Teixeira, Marco Cruz, Nuno Rebelo e reveste da maior importância já que, por
palavras rigorosas às oníricas fantasias. As Pedro Sousa (actores do grupo de teatro comparação, em toda a província vizinha Uma interessante e original proposta a
personagens históricas e contemporâneas, “Gambozinos e Peobardos”, da Vela). de Salamanca, Espanha, apenas existem não perder, todos os sábados (até 22 de
divinas ou humanas, misturam-se nesta 18 aras. Setembro).
caminhada, serra acima, até à inscrição O Cabeço das Fráguas, sítio arqueológico
lusitana com caracteres latinos, a célebre de grande importância, referente a um O Cabeço das Fráguas Localiza-se junto Fonte: TMG/Correio da Guarda
pág. 16 pág. 17
Livro exposições

a história do Castelo de Leiria e da região


“As Tábuas de bronze de Vipasca”
importantes informações sobre a
O Museu Municipal de Aljustrel lançou o legislação romana no que se refere ao
livro As Tábuas de bronze de Vipasca, código de exploração das minas.
uma publicação da autarquia local e
da ADRAL que conta com o apoio do
programa “Atlanterra”, da União Europeia. 

Trata-se de uma publicação de elevado


interesse patrimonial, não é um livro continuando até aos dias de hoje.
técnico, mas sim uma obra de divulgação O Castelo de Leiria recebe a partir
que, pela primeira vez, conta com a sua de hoje duas exposições: uma sobre a “Habitantes e Habitats-Pré e Proto-
versão latina traduzida para português, história a reconstrução do monumento e história na Bacia do Lis”
espanhol e francês. outra sobre a região desde desde a pré-
Exposição que apresenta sítios
história.
arqueológicos da região, enquadráveis na
A inauguração das duas exposições Pré e Proto-História, salientando-se que
Minas Romanas de Vipasca (Vipasca) marca a reposição de duas exposições em Leiria se tem revelado descobertas
que deram que falar em Leiria nos últimos arqueológicas de relevância no contexto
Durante a presença romana na Lusitânia
anos. nacional e internacional.
existiam diversas diversas explorações
mineiras, em Aljustrel, uma mina de cobre “Korrodi e o restauro do Castelo de A exposição abre com uma jazida de sílex,
localizava-se no povoado Vipascum ou Leiria” local de abastecimento de matéria-prima,
Vipasca. essencial para a vida quotidiana do homem
Nos Paços Novos do Castelo de Leiria, na pré-história. O percurso expositivo
A área mineira de Vipasca era administrada resulta de uma parceria da Casa Museu convida também a conhecer diversos
por um procurator et rationalium uicarius. João Soares e do Município, e pretende sítios arqueológicos com cronologias
Entre 1876 e 1906 encontraram-se as dar a conhecer as propostas do arquitecto desde o Paleolítico Inferior até à Idade do
placas de bronze contendo a legislação Ernesto Korrodi para o monumento. Ferro.
que vigorava no distrito à época de Adriano
(117-138 d.C.). A força das imagens fez nascer a vontade Destacam-se os sítios arqueológicos da
de recuperação do Castelo para o qual praia do Pedrógão, o Abrigo do Lagar
Os diversos serviços públicos de apenas se previa indiferença e ruína. Velho, local da descoberta do Menino do
Vipasca, como os banhos, constituíam É esse esforço que é documentado na Lapedo, e os contextos da Idade do Ferro
monopólios, que o procurator entregava exposição, com os seus impasses, glórias identificados no morro do castelo de Leiria.
a administradores privados mediante o e erros, esforço que se prolongou durante
pagamento de uma renda. um século, acompanhando as energias de O horário das visitas do Castelo e das
Korrodi entre 1894, data da sua chegada exposições é das 10 às 18 horas, todos
Estas excepcionais placas forneceram
à cidade e a sua morte em 1944, e foi os dias da semana.
pág. 18 pág. 19
PENICHE CONTINUA A INVESTIGAR AS SUAS ORIGENS ROMANAS

Vista do Forno 1 do complexo oleiro do Morraçal da Ajuda


Aspeto final da Lata de Cavala de Peniche
A presente equipa é constituída por nove
Pelo 15º ano consecutivo a Câmara elementos, entre os quais se encontram investigação, sabe-se hoje que Peniche conservas do concelho, promoveu em
Municipal de Peniche investe nos estudos estudantes de Licenciatura e de Mestrado
terá recebido, entre o final do século 2009 a produção de uma edição de latas
arqueológicos dos fornos romanos de de Arqueologia das Universidades de
I a. C e III da nossa era, um importante de conserva de sardinha, sob a chancela
cerâmica do Morraçal da Ajuda. Lisboa, Coimbra, Évora e Porto. Estudam- “Peniche, Há 2000 anos a produzir
se, nesta campanha, os materiais complexo industrial associado à produção
de conservas de peixe, utilizando espécies conservas”.
Esta olaria fundada na época de Augusto, recolhidos na casa romana resultantes da
1º imperador romano, por Lúcio Arvénio escavação realizada no verão de 2011. como a cavala e a sardinha. Esta produção
Durante o mês de Outubro, coincidindo
Rústico, terá funcionado até ao final do era envazada em contentores anfóricos e
com a realização do Rip Curl Pro Portugal
Este projecto arqueológico tem permitido comercializada por todo o império romano.
- Peniche, será apresentada uma nova
Alto Império, fabricando ânforas para conhecer e compreender pelo estudo dos
transporte de conservas de peixe e, edição, desta vez, dedicada à cavala de
vestígios de uma antiga olaria a vivência Evocando o passado conserveiro do
Peniche.
possivelmente, de algum vinho produzido do território concelhio durante a época concelho de Peniche, o Município, em
na então ilha de Peniche. romana. Através dos resultados desta colaboração com a maior fábrica de Fonte/Fotos: Câmara Municipal de Peniche
pág. 20 pág. 21
Faces da História
- ROMA -
Ecos do Império
Museu Municipal de Penamacor
Julho 2012 a Janeiro 2013
Busto de Pompeu, o Grande, voltado para a direita, entre um jarro (esquerda) e o littus (direita);

MAG.PIVS.IMP.ITER;

Neptuno com pé direito sobre uma proa, ladeado pelos irmãos Anapias e Amphimonus, com os
progenitores aos ombros; por baixo [PRAEF CLAS] ET.ORA[E] [MARIT EX S.C.].

Encontra-se patente no Museu Possível cunhagem Siciliana, entre 42 e 40 a.C.


Municipal a exposição Faces da
História - ROMA - Ecos do Império, Descrição Histórica nos quais destacava que as suas proezas
navais resultavam do favor de Neptuno de
que poderá ser visitada até ao final de Quando o filho mais velho de Pompeu quem se intitulava “filho”, fazendo também
Janeiro de 2013. Magno, Cnaeus Pompeius, se instalou na louvor à devoção do pai (pietas). Sextus
Península Ibérica cunhou moeda que, com Pompeius foi finalmente derrotado por uma
A mostra, baseada no tesouro
variantes, visava reflectir a relação existente armada liderada por Marcus Agrippa na
monetário da Barroca do Ouro, muito
entre a Hispânia, personificada numa figura batalha naval de Naulochus (promontório,
mais do que a simples descrição
feminina, saudando Roma, e o poder do na Sicília), em Setembro de 36 a.C.. tendo
dos numismas, revela-se uma janela exército romano, representado pela imagem
aberta para o último século da sido executado por Marcus Titius, por ordem
de um legionário, sempre com o busto do
república romana. de Marco António no ano seguinte.
pai no anverso.
Caso não possa visitar a exposição in Sextus Pompeius pretenderia com esta
Após a morte de Cnaeus, na batalha de
loco, veja o catálogo online em cunhagem associar a vitória naval sobre
Munda (Hispânia), contra o exercito de
Salvidienus à proteção do Deus Neptuno, e
www.cm-penamacor.pt Júlio César, em 45 a.C., Sextus reconciliou-
o mito dos irmãos Amphinomos e Anapios,
se com Marcus Antonius, em 44 a.C., e
representado no reverso da moeda, relata
O tesouro monetário da barroca do recebeu por decreto senatorial o cargo
que estes carregaram os pais incapacitados
ouro, de que fazem parte as 57 moedas de Praefectus Classis et Orae Maritimae
às costas quando o vulcão do Monte Etna
de prata da colecção do Museu aqui (Prefeito da armada e das linhas costeiras),
entrou em erupção ameaçando Catana,
apresentadas, é um claro indício da mas no ano seguinte Octaviano conseguiu
facto que atrasou a sua fuga, mas quando a
relevância dessa extracção aurífera, que o Senado o declarasse inimigo público
lava os atingiu separou-se permitindo que a
assim como da mais que provável e proscrito.
família se salvasse; Sextus poderia querer
presença de legionários, geralmente reforçar com esta alegoria a imagem dos dois
Ainda assim, quando Octaviano enviou uma
pagos com boa moeda de prata. filhos de Pompeu, herdeiros e continuadores
armada ao seu encontro, em 42 a.C., Sextus
logrou obter uma grande vitória naval, ao largo da política do pai, enfrentando a ameaça
da Sicília, e começou a produzir numismas representada por Octaviano (Zarrow 2003).
pág. 22 pág. 23
Povoado Fortificado de Mesas do Castelinho, Almodôvar
Campanha de Escavações Arqueológicas
Por Amílcar Guerra
qual, infelizmente restam poucos vestígios,
Está a decorrer mais uma campanha uma vez que sucessivas destruições
de escavações em Mesas do Castelinho eliminaram quase todos os estratos que
(Almodôvar). Para os menos familiarizados lhe correspondiam.
com o sítio, esclarece-se que este local é
conhecido especialmente por um povoado Na presente campanha conclui-se um
fortificado de grandes dimensões cuja objectivo fixado há alguns anos de
ocupação se enquadra entre o séc. V a. C. perceber o urbanismo das ocupações mais
Denário em prata.
e o séc. II d. C. Configurado em fase pré- antigas, em particular o de fase romana
romana, o habitat foi remodelado no período republicana, mais monumental e que se
Busto de Octaviano, voltado para a direita; AVGVST à esquerda, IMP.CAESAR à direita; orla linear.
romano republicano, fase em que atingiu encontra particularmente bem conservado
Troféu ou capacete celtibérico, ladeado por estandarte e gládio, pénis duplo por cima; [P.CARIS]IVS, à esquerda, LEGPRO
a sua maior dimensão e prosperidade, na plataforma inferior. Os trabalhos de
PR. À direita; bordo tendencialmente linear.
o que reflecte na qualidade das suas escavação decorrem na última das três
Cunhagem de Emérita (Mérida), entre 25 - 23 a.C.. Denário em prata.
construções e na abundância e riqueza ruas que estruturam o povoado desse
Busto de Octaviano, voltado para a direita; AVGVST à esquerda, IMP.CAESAR à direita; orla linear.
período, incidindo sobre os últimos estratos
Troféu ou capacete celtibérico, ladeado por estandarte e gládio, pénis duplo por cima; [P.CARIS]IVS, à esquerda, LEGPRO do seu espólio. No momento em que o
das áreas habitacionais e no espaço de
PR. À direita; bordo tendencialmente linear. processo ganhou uma maior dinâmica,
Cunhagem de Emérita (Mérida), entre 25 - 23 a.C.. passagem.
na sequência da política augustana de
reorganização territorial e administrativa, o Nesta campanha, todavia, a principal
Descrição Histórica alaudae e X gemina . povoado entrou em declínio, acabando por preocupação dos responsáveis pelos
Publius Carisius era filho de Titus Carisius. ser vítima, a prazo, das transformações trabalhos centra-se na consolidação
Cunhagem atribuída a Publius Carisius,
que se iniciam nessa fase. As populações das estruturas e na valorização do sítio,
legato propraetor de Octaviano na Hispânia, O motivo representado no reverso poderá
vão progressivamente abandonando o preparando-o para a sua apresentação
entre 26 e 22 a.C., onde desempenhou
importante papel militar na derrota dos estar associado às suas vitórias nas local, a qualidade do seu urbanismo e a aos visitantes. Procuramos encontrar uma
ástures a quem tomou a capital, Lancia guerras cantábricas. riqueza patenteada pelos materiais reflecte resposta e executar as soluções mais
(atualmente Villasbariego, na província de de forma eloquente estas alterações que adequadas para os grandes problemas de
Leon), e na posterior conquista do território culminam com o seu fim. conservação dos vestígios a descoberto:
das Astúrias transmontanas, ao comando as construções, geralmente em xisto
Mas Mesas do Castelinho possui ainda ligado por argila, revelam, ao longo do
de três legiões e outra forças auxiliares.
uma importante ocupação islâmica, que tempo alguma fragilidade, pelo que exigem
A sua presença naquele território deixou
marcas visíveis ainda hoje, nomeadamente Fonte: se situa em torno à passagem do I para o um contínuo cuidado de recuperação;
uma estrada que atravessa a cordilheira Câmara Municipal de Penamacor II milénio d. C. Como é frequente nestes as estruturas de taipa, relativamente
cantábrica conhecida por via Carisia, Catalogo da exposição contextos, os vestígios de ocupação abundantes, pela sua fragilidade, colocam
junto da qual se encontraram vestígios Ficha Técnica repartem-se por dois espaços: numa zona problemas ainda mais sérios. Apesar
do acampamento em que se alojaram as mais elevada situava-se uma fortificação destas limitações, esperamos em breve
Estudo e catalogação: Silvina Silvério
suas forças (Monte Curriechos). Quando (o “castelinho” que dá nome ao sítio em poder mostrar os resultados desta acção
a guer­ra cantábrica terminou, em 25 a.C., Produção: João Mateus, Pedro Reis que se sobrepõe e reaproveita algumas de consolidação de estruturas e de outras
Publius Carisius, fundou Emérita Augusta Concepção e direcção: Joaquim Nabais das estruturas romanas); numa plataforma iniciativas de valorização do sítio em que
com legionários licenciados das legiões V Design: Vitor gil inferior situava-se a área habitacional, da elas se inserem.
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Escavações Arqueológicas no Castro de Chibanes
por: Raul Losada

“chantier école” de Chibanes, conta ferro (III-II a.C.) devido ás suas excelentes
ainda com o apoio logístico da Câmara condições geoestratégicas, e no período
Municipal de Palmela. proto-romano, também designado por
período Republicano-Romano (II-I a.c.).
um dos arqueossítios mais importantes O sítio fortificado de Chibanes localiza-
Decorreu até passado dia 27 de da cordilheira da Arrábida, em processo se numa área culminante da Serra do Durante o período romano republicano,
Julho uma campanha de escavações de classificação como Património da Louro, com extenso domínio visual que ultimo quartel do século II a.C e primeiro
arqueológicas no Castro Pré e Proto- Humanidade. atinge a norte o estuário do Tejo, e a sul quartel do século I a.C. o recinto é
histórico de Chibanes, em Palmela, na o rio Sado. amuralhado em parte sobre as estruturas
Serra do Louro. A presente intervenção arqueológica
A superfície amuralha durante a pré da muralha da Idade do Ferro.
é da responsabilidade do Museu de
Esta intervenção arqueológica, Arqueologia e Etnografia do Distrito de e proto-história estima-se em cerca Nas extremidades oriental e ocidental
integrada em projecto de investigação Setúbal. Dirigido, pela Profª Doutora de 1 hectare. A mais antiga ocupação do povoado são construídos fortins
plurianual, dedicado às problemáticas do Joaquina Soares e pelo Doutor Carlos registada remonta ao Calcolítico e Bronze
abaluartados com muralhas rectilíneas.
povoamento sustentável e da organização Tavares da Silva, e nela participam antigo, cerca de 5000 a 3700 anos antes
A construção de duas torres de
social no tempo longo, da Pré-história alunos da licenciatura de Arqueologia da do presente.
espesso muro, podem indicar que estas
ao período Romano Republicano, tem Faculdade de Ciência Sociais e Humanas Abandonado no final do Bronze antigo o defenderiam o acesso ao povoado pela
também objectivos de reabilitação de da Universidade Nova de Lisboa. O local volta a ser ocupado na II Idade do crista da Serra do Louro.
pág. 26 pág. 27
VISITA À ESTAÇÃO ARQUEOLÓGICA DE MONTE DOS CASTELINHOS
CASTANHEIRA DO RIBATEJO
1 de Setembro 10h30

Encontrando-se o Museu Municipal de


Vila Franca de Xira a preparar o terceiro
Campo Arqueológico de Monte dos
Castelinhos em Agosto de 2012, e na
sequência dos passeios com história ao
património concelhio, convidam-se todos
os interessados para uma visita guiada
pelos arqueólogos do Município no dia 1 de
Setembro pelas 10.30h, a este importante
arqueosítio Romano-Republicano datado
do século I a.C.
Com esta visita, pretende-se dar a
conhecer publicamente, esta ímpar
estação arqueológica, como um Projecto
de Arqueologia em construção no âmbito
da política do Museu Municipal enquanto
Museu de Território.
O ponto de encontro será na Quinta da
Marquesa, junto à estrada nacional N10,
perto da Vala do Carregado às 10h da
manha.
Para qualquer esclarecimento ou
informação, contactar os arqueólogos Dr.
Henrique Mendes ou Dr. João Pimenta,
no Museu Municipal (tel. 263280350).

Durante o segundo quartel e meados do notável lugar da História, com elevadas Info:
século I a.C. já com a região pacificada, potencialidades patrimoniais que tem
Município de Vila Franca de Xira
as estruturas na zona abaluartada são vindo a ser reveladas pelas escavações
utilizadas com carácter habitacional. Divisão de Património e Museus
do Museu de Arqueologia e Etnografia do
Chibanes comporta-se como um Distrito de Setúbal.
pág. 28 pág. 29
Exposição

ARRUDA DOS VINHOS MOSTRA AS SUAS ORIGENS ROMANAS


“Necrópole da Igreja de Nossa Senhora da Salvação”
por: Guilherme Cardoso

N o dia 13 de Agosto foi inaugura-


da na Galeria Municipal de Arrudas do
Vinhos, uma exposição a realizar pela
Câmara Municipal, sobre alguns vestí-
gios arqueológicos postos a descoberto
durante as obras de reabilitação e re-
qualificação de alguns arruamentos da-
quela vila.
Os trabalhos foram acompanhados por
uma equipa dirigida pelo arqueólogo da
Assembleia Distrital, Guilherme Cardo-
so, que dará a conhecer alguns dos ma-
teriais mais significativos, entre os quais
alguns de época Romana.
Sabia-se, através de uma memória do
Dr. Tito de Noronha, que tinham sido
encontrados vestígios romanos quando
se abriram as valas para colocação de
esgotos nos inícios do século XX, mas
não se sabia ao certo onde e a datação
correcta dos vestígios.
O local terá sido habitado pelos roma-
nos pelo menos desde o século I a.C.
e integra-se na região da bacia hidro-
gráfica do rio Grande da Pipa, com forte
densidade de ocupação romana, desde
o sítio do Castelo, Arruda, até à Vala do
Carregado, em Alenquer, passando en-
tre outros, pelo Castro do Amaral e sí-
tio do Monte dos Castelinhos, em Vila
Franca de Xira.
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A laguna da Pederneira enquanto fronteira de duas Civitas Limite Norte da
Civitas de Collipo
(Collippo e Eburobrittium)
por: Carlos Fidalgo

Anos mais tarde, referindo-se aos limites


Justificar a presença romana na área da da Civitas de Collipo, defende que sem
laguna da Pederneira obriga à conjugação que possamos concretizar a fronteira,
de dois factores: o enquadramento da necessariamente artificial, pois não
ocupação romana na Estremadura centro/ há acidente orográfico ou hidrográfico
litoral e os vestígios arqueológicos da significativo. Talvez um prolongamento da
época romana encontrados nesta mesma Serra dos Candeeiros, que vem morrer no
zona. sítio da Nazaré, pudesse ter servido de
A laguna da Pederneira encontrava-se, limite. ALARCÃO (1995:47).
parcialmente, dentro do limite da Civitas António Figueiredo, sobre os limites e as
de Collippo, constituindo o seu limite a sul. interacções das lagunas da Pederneira e
Encontrava-se também dentro da Civitas Alfeizerão com as Civitas de Collippo e
de Eburobrittium, limitando-a a Norte. Era, Eburobrittium, defende que a divisão entre
portanto, como que uma fronteira entre as os territórios de Collippo e Eburobrittium
duas Civitas. deveria situar-se na laguna da Pederneira, Ponte das Barcas
A laguna da Pederneira separaria, a sul, sendo esta maioritariamente pertencente
Collippo de Eburobrittium. Partindo da a Collippo. De facto, as eventuais
Ponte das Barcas, na actual foz do rio estruturas portuárias aí existentes seriam
Alcoa, seguiria pelo meio da laguna (a funcionalmente mais úteis a esta Civitas
parte meridiana pen venam de Alcobacia) do que à sua vizinha a sul. FIGUEIREDO
direito à Fervença e, daí, aquele rio até (2007:115).
Alcobaça. BERNARDES (2007:27). Não nos parece que as eventuais
“estruturas portuárias” existentes na Limite norte da
Também Jorge Alarcão apresenta uma laguna da Pederneira, conforme refere Civitas de Eburobrittium
delimitação segundo a qual a Civitas António Figueiredo, tivessem mais utilidade
de Eburobrittium, na fachada atlântica, para Collippo do que para Eburobrittium,
ocupava um pequeno território entre o ambas distantes e servidas por planos
mar e as serras de Montejunto e dos de água marítima e fluviais, sabendo que
Candeeiros, cujo festo provavelmente para Collippo deveriam concorrer o rio Lis
marcava o seu limite oriental. A sul, a ribeira e Lena e para Eburobrittium a laguna de
de Alcabrichel servia, talvez, de fronteira Alfeizerão.
com a Civitas de Olisipo. Quanto ao limite Achamos, sem prejuízo de eventuais Mapa 1 - Delimitação provável da Civitas de Collippo e Eburobrittium. BERNARDES (2007:43)
setentrional, é mais difícil de definir, mas comunicações terrestres com essas
poderá ter corrido por Évora de Alcobaça e Civitas, que a laguna da Pederneira deverá
S. Gião (Nazaré). ALARCÃO (1990:381). ter servido sobretudo os povoados que
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a marginavam, como parece ser de fácil de levar em consideração a distância
aceitação perante os factos analisados. geográfica entre a laguna da Pederneira e
Ainda assim a localização geográfica da São Sebastião do Freixo (Collippo), cerca
laguna da Pederneira, entre Collippo e de 25kms em linha recta, o que nos leva a
Eburobrittium, reforça a sua importância propor uma outra solução.
estratégica no âmbito da presença romana Parece-nos ter maior sustentação, à luz
nesta zona da Estremadura. dos factos analisados, que Collippo teria
Aceitando que a laguna de Alfeizerão no rio Lis e Lena a sua principal porta de
terá tido uma importância fulcral para entrada por via marítima uma vez que, à
Eburobrittium por razões de proximidade, época romana, estes se deveriam estender
deveremos também concordar que a laguna mais para montante. (vide Mapa1)
da Pederneira tenha desempenhado o Por seu lado, a laguna da Pederneira
mesmo papel em relação a Parreitas, Cós, deveria concorrer mais para os povoados
Mina, Águas Belas, Pederneira e até São que a circundavam, como já foi referido. Isto
Gião. Locais que, à excepção de Parreitas, não significa que a laguna da Pederneira
ainda necessitam de ser objecto de um não tivesse qualquer ligação comercial/
trabalho de prospecção arqueológica para estratégica com Collippo e Eburobrittium
enquadrar os vestígios da época romana mas, seguramente, deverá ter sido nas
que forneceram. estações da Mina, Rossio da Pederneira,
Interessa, nesta fase, relevar que as Póvoa de Cós, Parreitas, entre outras,
periferias das lagunas referidas já tinham que a existência da laguna da Pederneira
sido, desde tempos mais remotos, locais se terá repercutido com maior expressão.
de congregação de outros povos e que Verificamos, assim, que se poderá
pelos mesmos motivos estratégicos, equacionar para os povoados de Collippo,
em termos económicos e defensivos, Parreitas e Eburobrittium, um acesso
na época romana os povoados se vão marítimo “exclusivo” que deveria ter
fixando nas periferias destes dois mares ramificações fluviais e viárias entre os
interiores. mesmos e com outras cidades ou villaes
A laguna da Pederneira parece, desta existentes na Estremadura Central.
forma, afirmar-se como a porta de Este facto parece-nos ser sustentado por
entrada privilegiada por via marítima Pedro Bernardes, quando refere que as
para a região de Collippo, integrando os villae de Collippo não manifestam qualquer
circuitos de comercialização da época. atracção pela cidade – capital. Entre as
(…) Poderemos, assim, inferir que um dezoito explorações que considerámos
dos acessos privilegiados ao oppidum de deste tipo, só as da Torre e Vale do Forno
Collippo a partir do mar se faria entrando se situam a menos de 5 Km da sede da Mapa 2 - Delimitação, provável, do plano de água dos rios Lis e Lena na época romana.
na extensa enseada que constituiria a civitas. A primeira destas situa-se a 2,8 Composição (Adriano Monteiro, 1998.)
laguna da Pederneira. BERNARDES Km da cidade, e a segunda quase naquele
(2007:60). limite (4,8Km).
Assumindo esta possibilidade, teremos Situadas num raio entre os 5 e 10 Km
pág. 34 pág. 35
temos sete villae, quatro entre os 10 e 15 qualquer indicação de que na periferia da
Km e mais cinco fora do raio dos 15 Km. laguna da Pederneira se tenha instalado
(…) algum povoado com a importância de
O maior afastamento, em relação ao Collippo e de Eburobrittium. Revista
principal centro de poder, de pelo menos três Em jeito de conclusão, não são de desprezar
destas cinco villae poderá ser explicado pela os achados arqueológicos1, referidos em
existência de um núcleo de atracção que bibliografia vária, na periferia desta laguna.
não a cidade - capital – trata-se da laguna Locais como Póvoa de Cós, Mina, Águas
da Pederneira. Tal facto é particularmente Belas, Bico do Frei António, Pederneira,
nítido para as estações da Mina e do Rossio entre outros, poderão remeter-nos para
da Pederneira cujas distâncias à cidade uma tipologia de ocupação, durante o
são, respectivamente, de 22,3 e 24,5 Km, período romano, bastante significativa mas
valores muito além dos das villae de Póvoa que provavelmente nunca terá conseguido
de Cós e Largo de S. João, cujo afastamento congregar a dimensão das duas estações
rondará os 16,5 Km. Aquelas duas villae referidas, Collippo e Eburobrittium.
(Mina e Rossio da Pederneira) constituem
os casos verdadeiramente anómalos, tal 1 – Para uma percepção dos achados da época romana
na periferia da Laguna da Pederneira durante o período
como a Quinta de São Lourenço, que já se Romano consulte-se; BERNARDES. (2007: 179 a 197)
deverá situar no território de Conímbriga.
Bibliografia
BERNARDES (2007:86).
ALARCÃO, Jorge de, (1990) – O Domínio Romano. Portugal
Para Vasco Gil Mantas as villae estabelecidas das Origens à Romanização. Nova História de Portugal,
na costa possuíam uma importante Vol. I., Lisboa.
ALARCÃO, Jorge de, (1995) – O Domínio Romano em
vantagem sobre as que se situavam no

Tempos Diferentes requerem


Portugal, Europa América, 3ª Edição, Mem – Martins.
interior, a menos que estas ficassem perto BERNARDES, João Pedro, (2007) – A Ocupação Romana
de algum rio navegável, (como é o caso do na Região de Leiria, Faro, Centro de Estudos de Património,
Departamento de história, Arqueologia e Património,
rio Lis e do Lena) que era a possibilidade

soluções diferentes
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade
de transportar grandes quantidades de do Algarve.
produtos, quer agrícolas, quer piscícolas, FIGUEIREDO, António, (2007) – Da Idade do ferro
à romanização na Alta Estremadura – Primeira
por um preço muito reduzido, até aos locais abordagem, Barlia – Revista Cientifica sobre Ambiente e
de consumo, cidades marítimas ou fluviais, Desenvolvimento, Nº3/4, Leiria, Edição Agência Portuguesa
do Ambiente, pp. 109 a 126.
ou centros portuários que funcionavam
como centros de distribuição ou de reunião
MANTAS, Vasco Gil, (1990) – As villae marítimas e o
problema do povoamento do litoral português na época Revista Portugalromano.com, soluções de publicidade à sua medida.
de cargas para exportação. MANTAS romana, in Économie et territoire en Lusitanie romaine
– Actes et travaux reunis et presentes par Jean – Gerard
(1990:148). Gorges et Fº Germán Rodriguez Martín, Collection de la
Casa de Velázquez, Volume nº 65, pp. 135 – 156.
A laguna da Pederneira deveria servir como Mais informações:
Mapas
uma zona intermédia desta rota comercial 1: BERNARDES, João Pedro, (2007) – A Ocupação Romana
marítima. Os vestígios arqueológicos na Região de Leiria, Centro de Estudos de Património, portugal.romano@gmail.com
Departamento de História, Arqueologia e Património,
encontrados e as referências bibliográficas, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade
exceptuando a estação Arqueológica do Algarve.
de Parreitas, ainda não nos forneceram 2: Composição do Eng.º Adriano Monteiro, (1998)

pág. 36 pág. 37
Sabia Que:
Uma VILLA Romana ... dades da uilla, denominando-se esta área

Texto: Filomena Barata


É uma estrutura agrária, uma unidade
de exploração de cariz senhorial, que se
de serviços parts rustica ou fructuaria.

Fotos: Guilherme Cardoso e Raul Losada Nessa zona incluíam-se ainda as áreas
caracteriza por centralizar a propriedade destinadas aos trabalhadores da uilla que,
fundiária, o fundus, numa residência que, em época mais tardia, tinham também um
em alguns casos, atingia uma grandeza lugar especial para o encarregado da ex-
superior às domus urbanas, com enormes ploração, o uillicus, uma vez que o ver-
dimensões e muita riqueza ornamental dadeiro proprietário estava muitas vezes
nas paredes estucadas, com pinturas mu- ausente.
rais ou “frescos”, estatuária e pavimentos
revestidos com mosaicos. A posse da terra era, sem dúvida, a maior
manifestação de riqueza na Época roma-
Podiam possuir ainda essas residências na, e a estrutura agrária obedecia a uma
agrárias, designadas em Período Romano organização, não só no que respeita à dis-
por pars urbana, tal como as habitações tribuição das terras propriamente dita, ha-
urbanas de maior escala e riqueza, pátios, vendo lugar ao emparcelamento dos es-
jardins interiores e exteriores, zonas dedi- paços rurais distribuídos pelos “colonos”,
cadas aos cultos e mesmo termas priva-
como na sua expressão mais “física”, pois
das ou balneários.
os cadastros apresentam uma regulari-
No entanto, a realidade agrícola não era dade que corresponde à distribuição das
apenas a de maior escala, pois existiam propriedades recorrendo a instrumentos
os “casais” dos pequenos agricultores de de agrimensor que permitiam recticular os
menor escala no que respeita ao fundus terrenos.
ou “propriedade” e menos grandeza arqui-
Em Portugal, embora não seja bem co-
tectónica das residências.
nhecido o mundo agrícola em Período
As estruturas agrícolas de maior grande- romano, são inúmeros os exemplos de
za são as melhor conhecidas, designada- estruturas agrárias por todos o território,
mente a sua área residencial, sabendo-se, quer de pequenas dimensões, ou casais,
não obstante, que possuíam as infraestru- como os que foram estudados na zona da
turas de apoio à produção agrária, como Vidigueira, quer de maior escala, de que
celeiros, armazéns, adegas, lagares, es- podemos citar múltiplos casos, incidindo,
tábulos, podendo ainda ter os fornos ou contudo, este trabalho na zona Sul, pois é
Peso de Lagar de Freiria forjas para apoio das diversificadas activi- a que melhor conhecemos.
pág. 38 pág. 39
estende dos século I a .C. ao século V, Os equipamentos rurais, se bem
muito possivelmente pertencente “às eli- que menos conhecidos, denotam a im-
tes urbanas”, como bem o defende Carlos portância desta uilla, onde uma barragem,
Fabião, na sua obra «A herança romana localizada nas proximidades, articulada
em Portugal». com o conjunto agrário, permite garantir
o fornecimento de água aos terrenos agrí-
Nesta uilla romana, apenas parcialmente colas, mas ainda aos tanques, piscina e
escavada, destaca-se uma parte significa- termas, de apreciáveis dimensões, exis-
tiva da casa do proprietário, apresentan- tentes nesta propriedade.
do mais de quarenta divisões decoradas,
centradas num peristilo. Outros exemplos de barragens
de apoio às estruturas agrártias são
Salientam-se os mosaicos, quer conhecidas no território actualmente
pela sua enorme variedade, apresentan- português, quer na Beira Baixa, como
do composições geométricas e naturalis- no Alentejo e Algarve que foram objecto
tas, quer pelo seu elevado nível estético de uma publicação denominada
dos mesmos, utilizando tesselas calcárias «Aproveitamentos Hidráulicos a Sul do
e vítreas. Tejo».
No caso da sobejamente conheci-
da Villa romana de Torre de Palma, em
Monforte, Portalegre, imóvel classificado
Vista Geral da Villa de Pisões, Beja como Monumento Nacional pelo Decreto
nº 251/70, de 03.06, cuja ocupação em
Época Romana e tardo-romana se esten-
Também na Vidigueira, uma estrutura agrí- de Beja, e viria a ser restaurado em 1255 e
de entre os séculos I e VII, a casa senho-
cola de grandes dimensões se sobressai. entregue aos cónegos regrantes de Santo rial é um espaço organizado e pensado
Trata-se da Villa romana de S. Cucufate, Agostinho. para a vivência rural; bem estruturada
classificada como Imóvel de Imóvel de In- para a exploração agrícola, e funcionava
teresse Público, pelo Decreto nº 36383 de A uilla romana é enquadrada por dois
corpos com robustos contrafortes que também como local de recolhimento e de
28-6-47, e que parece ter sido utilizada no lazer do proprietário, pois toda a decora-
Período Romano entre os séculos I a .C. se ligam, na zona cimeira, por meio de
arcadas. Em frente dispunha-se um jardim ção indicia que aí se pudesse gozar um
– IV, com uma continuidade de ocupação ameno e bucólico refúgio dos ambientes
na Época Medieval. que descia através de um suave declive
urbanos.
até ao grande tanque. Subsiste parte
Esta Villa romana do século I a .C. teve significativa de um templo que viria a ser . Em torno de um grande pátio ao
alterações na primeira metade do século cristianizado no século V. qual se acedia por um portão principal,
II e no século IV dando lugar ao edifício organizavam-se as construções ligadas
que hoje subsiste. Já localizada nas imediações de Beja, a à exploração agrícola – o grande celeiro,
Pax Iulia romana, a Villa romana de Pi- o lagar de azeite, os armazéns de alfaias
Na Idade Média esta estrutura foi utilizada sões, classificada como Imóvel de Inte- agrícolas e os estábulos.
como mosteiro, consagrado a S. Cucufa- resse Público, pelo Decreto nº 251/70 de
te; abandonado no período das guerras 3-6, trata-se de um testemunho notável Sucedia-lhe um pátio porticado mais
entre Muçulmanos e Cristãos pela posse de exploração agrária, cuja ocupação se pequeno e reservado, ladeado pelos aloja-
pág. 40 pág. 41
mentos de serviçais e por uma residência o esforço e a consolidação do cristianis-
que pode ter pertencido ao villicus. O lado mo nesta região. A sua importância cul-
Norte foi ocupado por uma requintada re- tual perdurará até à Idade Média, com o
sidência habitada pelos proprietários. reaproveitamento de parte das paredes
da antiga basílica para a edificação da
De torre de Palma destacamos os capela de S. Domingos, cuja edificação
seus mosaicos, designadamente a céle- se deverá ter efectuado no séculos XIII e
bre representação das nove musas com que se terá mantido em uso até ao sécu-
os respectivos atributos, na base da qual lo XVIII.
existe uma legenda : SCO [pa a]SPRA
TESSELAM LEDERE NOLI VTERI F[elix] Já no Algarve, o Cerro da Vila tra-
que pode traduzir-se como “não estragues ta-se também de uma casa senhorial ro-
o mosaico com uma vassoura áspera. Fe- mana, cuja ocupação remonta à primeira
licidades”. metade do século I, centro de uma explo-
ração agrícola que aqui é completada com
o aproveitamento dos recursos marítimos,
existindo um porto que permitia o escoa-
mento dos produtos. Relativamente próxi-
mo (2Km) localiza-se uma barragem que
colaborava no abastecimento de água às
terras férteis que rodeavam a uilla.
No século II e, particularmente no
século III, a área residencial tornou-se
Também proveniente dessa uilla é o mais expressiva, tendo sido decorada
célebre mosaico dos cavalos, que se apre- com luxuosos mosaicos e mármores.
sentam devidamente identificados pelos Aproveitando parte das infra-estru-
seus nomes próprios, atestando a explo- turas da antiga casa agrícola, o Cerro da
ração equina neste território em período Vila foi ocupado em período islâmico, ten-
romano, havendo mesmo quem defen- do sido aqui descoberto, em escavações
da que estes exemplares têm similitudes promovidas por José Luís de Matos, um
com o que se designa «Cavalo Lusitano». notável conjunto de cerâmicas datáveis No caso de Milreu, Estói, a zona re- do grau de conservação e nelas se podem
Não esqueçamos que os cavalos da Lu- dos séculos VIII, IX e X. sidencial hoje visitável, que se desenvolve encontrar os compartimentos usuais: frigi-
sitânia tinham fama de ser muito velozes darium, tepidarium e caldarium.
Por sua vez, na uilla romana de Mil- em torno de um peristilo com colunas, foi
afirmando Plínio-o-Velho na sua História
reu, cuja ocupação se efectuou em perío- uma reestruturação do século III, quando Os proprietários desta uilla eram cer-
Natural que pareciam ser gerados pelo
Vento Zéfiro (Nat. 8, 166) do romano, no século I d.C., foi construído a casa é embelezada com mosaicos polí- tamente muito influentes, porque na casa
no século IV d. C., um santuário de planta cromos, muitos deles com alusões à fauna apareceu estatuária de imperadores e fa-
Em época tardia é construída uma absidial dedicado a divindades aquáticas. marítima, tornando-se num complexo edi- miliares, a exemplo da estátua de Agripina.
basílica paleocristã, edificada sobre um cujo podium era ricamente decorado com ficado de grandes dimensões, instalações
templo romano, objecto de várias rees- mosaicos e que era separado da uilla por agrícolas, balneário. Milreu pela sua importância, manteve
truturações e acrescentos entre finais do uma rua pavimentada com grandes lajes uma ocupação em Época Tardo-romana,
século IV e o século VII, que documenta de pedra. As termas estão ainda com um eleva- Islâmica, dos séculos VI ao X, e moderna.
pág. 42 pág. 43
parcerias Portugalromano.com Revista

Associação dos Arqueólogos Portugueses


www.arqueologos.pt/p_aap.html

Turismo do Alentejo - E.R.T.


www.visitalentejo.pt

Liga dos Amigos do Sítio Arqueológico de Miróbriga


www.ligadeamigosmirobriga.blogspot.com
Tempos Diferentes requerem
soluções diferentes
Associação de Amigos de Tongobriga Revista Portugalromano.com, soluções de publicidade à sua medida.
www.amigosdetongobriga.blogspot.com

Mais informações:
Museu Dr. Joaquim Manso
www.mdjm-nazare.blogspot.com/ portugal.romano@gmail.com

Museu Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas


www.museuarqueologicodeodrinhas.pt
pág. 44 pág. 45
A Villa romana de Vale do Mouro
(Coriscada, Mêda)

A escavação do sítio de Vale do Mouro


foi iniciada em 2003, após uma visita ao local da
parte do arqueólogo António de Sá Coixão.
Após uma série de prospecções na zona,
identificou-se o potencial arqueológico do sítio,
vários materiais domésticos e de construção
diversos e uma ara dedicada a Júpiter. Nesse
mesmo ano, na primeira campanha de escavação,
foi encontrada a estrutura das termas, localizadas
no extremo sudeste da zona escavada (A).
Nas campanhas seguintes, dirigidas pelos
arqueólogos A. S. Coixão e Tony Silvino, com uma
equipa composta por estudantes e arqueólogos
portugueses e franceses, descobrira-se toda
uma série de edifícios e estruturas que permitem-
nos identificar Vale do Mouro como uma uilla, ou
seja, como uma quinta, romana.
Uma uilla, no seu sentido clássico, divide-se
em várias zonas, cada uma com finalidades
específicas, tal como uma quinta dos nossos
dias. Em Vale do Mouro podemos identificar as
três zonas em que uma uilla clássica estaria
normalmente dividida: a pars urbana, a pars
rustica e a pars fructaria.
A pars urbana consiste numa série de edifícios
Termas da uilla

pág. 46 pág. 47
construídos em torno de um pátio central,
rodeado por um corredor em peristilo
(Ou seja, um corredor semi murado, com
um telhado suportado por uma série de
pequenas colunas. ), com um reservatório
de água no meio desse pátio. Outras
zonas de armazenamento de água podem
ser observadas próximas do triclinium,
sala com acabamento em arco, que seria
a sala de jantar do dominus. Seria na pars
urbana que o dominus, ou proprietário da
uilla, viveria com a sua família numa zona
residencial, e alguns servos domésticos.
Reconstituição da Coriscada
Aqui também encontramos os escritórios,
cozinhas, salas de trabalho e convívio
e jantar e o lagar de vinho. Nesta zona
existem também termas privadas e vários
jardins.
A pars rustica seria a zona de habitação
dos trabalhadores rurais e a principal
zona de transformação de matérias-
primas (como mineral, fibras e cereais) em
produtos (como objectos em metal, tecidos
ou farinha). No caso de Vale do Mouro é
possível observar um pátio central que
acomoda também todos estes edifícios,
embora com muito menos ostentação e
luxo do que aqueles que compõem a pars
urbana.
Finalmente, a pars fructaria compõe todos
os terrenos de exploração e obtenção
de matérias primas. Sabemos hoje que
na época de ocupação da villa, entre os
séculos IIº e IVº da nossa Era, a pars
fructaria utilizada se estenderia entre o rio
Massueime e uma zona próxima da capela
de Santa Bárbara. Seria nestes terrenos Planta da villa da Corriscada Localização da Coriscada na Península Ibérica
que se iriam cultivar os cereais, a vinha, (em relação à província romana da Lusitânia)
a azeitona e seria igualmente aqui que
seria praticada a caça, pastorícia, pesca
e mineração.
pág. 48 pág. 49
Entrada principal da pars urbana

Termas da uilla

A Ara da Coriscada poderá demonstrar a existência de um uicus


cujo nome não é totalmente conhecido
Uma ara votiva de granito de grão médio mas que poderá ter sido chamado de
foi encontrada na parede de uma casa “Segoabonca” ou Sagoaboiaco.
da aldeia da Coriscada. Também foram
encontrados na aldeia elementos de Trata-se de uma Dedicatória ao
colunas. Estes vestígios poderão ter vindo Deus Júpiter feita pelos VICANIS
de outro local das proximidades, mais SANGOABONIENSES, segundo o
precisamente da zona do Gravato, onde Arqueólogo Sá Coixão (Sá Coixão, 2004),
abundam os vestígios romanos, ou da e que hoje se guarda no Museu da Guarda.
Quinta do Campo.
Iovi · O[pt]/umo · M[ax]/umo · sa[cr]um · /
A ara foi partida ao meio e os toros foram vicani S[-]/goaboaic(enses)
destruídos. A leitura da sua inscrição
Zona residencial, Norte da pars urbana

pág. 50 pág. 51
“O Tesouro Romano do Ferreiro”
Um tesouro monetário romano do século IV d. C., com
4.526 moedas, foi encontrado no sítio arqueológico
do Vale do Mouro, segundo o arqueólogo António
Sá Coixão, as moedas de cobre e bronze estavam
escondidas numa parede, juntamente com objectos
de ferro, provavelmente na casa que teria pertencido
a um ferreiro.
O espólio estava dentro de um saco de serapilheira
que quem escondeu o “tesouro” executou “um
alinhamento de pedras, colocou as moedas no interior
de um saco de serapilheira, deitou uma camada de
terra e, por cima, disfarçou com ferragens diversas
(uma foice, uma picareta, argolas para lareira,
duas chaves, etc.) e mais terra, para as pessoas
pensarem que era uma tulha de ferreiro”. “Ou seja -
admite o arqueólogo -, o dono das moedas enterrou-
as no local, mas depois terá morrido e já não as
desenterrou, tendo elas permanecido escondidas
até agora”.
António Sá Coixão mostrou-se surpreendido com
o achado, constituído por um número “invulgar” de
moedas. Os tesouros romanos são encontrados
nos sítios mais esquisitos”. Segundo o responsável,
o espólio tem “um valor muito grande”, tendo em
conta a futura musealização do sítio arqueológico
e a criação de um museu onde todo o material ali
encontrado será mostrado aos visitantes.
Segundo Sá Coixão, as 4.526 moedas “não
podem ficar por aqui, têm que ser rapidamente
inventariadas”, aponta o arqueólogo, adiantando
que serão contactados especialistas que as irão
estudar, limpar e inventariar, como aconteceu com
o achado de Freixo de Numão. “Não podem ficar
fechadas num cofre, têm que ser preservadas”,
defendeu, acrescentando que “as moedas de bronze
conservam-se melhor, mas as de cobre estão muito
deterioradas

pág. 52 pág. 53
O Mosaico de Baco
O mosaico de Baco da Villa Romana de Vale de Mouro
é apenas o quinto exemplo desse tema na arte musiva
romana localizado no território nacional e, mesmo
no âmbito peninsular,com este tema de mosaico se
contam poucas dezenas, sendo um achado de grande
relevância.
O mosaico encontra-se num pequeno compartimento de
planta quadrangular com cerca de 9 metros quadrados.
O mosaico é composto por um quadro figurativo centrado
numa composição ortogonal de círculos e quadrados
emoldurados com linhas de grandes redentes, ornada
de elementos geométricos tais como nó de Salomão,
linha de espinhas, círculos com secções policromáticas,
discos e, nos espaços residuais, florões longiformes
estilizados.
Num fundo branco de tesselas dispostas em escama, o
quadro central da figura.
Dionísio (o romano Baco), ostentando os seus atributos
clássicos: um triso (thyrsus) na mão esquerda, um
Kantharus na mão direita, uma coroa de cachos
de uva na cabeça. Conduz um carro de duas rodas,
parcialmente conservado no mosaico, puxado por dois
leopardos, dos quais apenas se conserva parte de um.
À esquerda do Deus, uma figura feminina, uma ménade
ou bacante, completa a representação iconográfica.

Direcção e responsabilidade científica: António do


Nascimento Sá Coixão e Tony Silvino.
Créditos fotográficos e infografia: Damien Tourgon
e Pedro Pereira. Todas as fotos foram tiradas por
membros da equipa de investigação que estudou Vale
do Mouro.
Mosaico Baco - Pormenor do medalhão central de um dos painéis de mosaico, representando Baco acompanhado por uma Ménade

pág. 54 pág. 55
Localização: Coriscada – Concelho de Mêda
Contactos:
CSC—Coriscada —
csc@csc-coriscada.pt
Câmara Municipal da Meda:
279 880 040
Visita à Villa Romana
A visita ao sítio arqueológico é aconselhável com o auxílio da Junta de
Freguesia ou do Centro Socio-Cultural da Coriscada, devido ao mau
estado permanente do caminho agrícola até a Villa Romana. Está neste
momento em curso um processo de estabilização e musealização do sítio
pelo que as visitas devem sempre ser efectuadas através dos contactos
acima descritos.
Exposição permanente de achados no Centro Sociocultural da
Coriscada.
Exposição de Arqueologia “Os Romanos no Vale do Mouro”– Centro de
interpretativo da Villa Romana de Vale de Mouro
Localiza-se na Junta de Freguesia, no largo principal. Todavia, é
necessário ir ao “Café Moreira”, situado a cerca de 50 m, para pedir para
visitar, uma vez que não é possível ter um funcionário a tempo inteiro.
Fontes consultadas:
CM Meda: http://www.cm-meda.pt/turismo/Paginas/SitioArqueologicodeValeMouros.aspx
Epigrafia da Lusitânia: http://eda-bea.es/pub/record_card_3.php?refpage=%2Fpub%2Fsearch_
select.php&quicksearch=coriscada&rec=18512
CSC-Coriscada: http://www.csc-coriscada.pt/arqueologia.htm

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A necrópole romana da Quinta da Torri-
nha pertence administrativamente à freguesia
de Caparica, Almada, na margem esquerda do
estuário do Tejo (folha 442 da carta militar de
Portugal). (IMAGEM 1)

Os dados aqui apresentados provêm de uma

Quinta da Torrinha:
intervenção arqueológica realizada no sítio du-
rante as obras de construção do Metropolitano
do Sul (MARQUES e VALINHO, 2002). Os res-

uma necrópole de transição


ponsáveis por estes trabalhos foram os arqueó-
logos Pedro López Aldana e Rui Pedro Barbosa
Esta, da empresa Palimpsesto, estudo e preser-
Por: Vanessa Dias, CAA
vação do património cultural, Lda. (BARBOSA e
ALDANA, 2006; ASSIS e BARBOSA, 2008).
Imagem 10 - sepultura nº 8

pág. 58 pág. 59
neste espaço um grande número de sub Esqueleto nº1 (ASSIS e BARBOSA, 2008, p.5).
adultos, conforme revelou a análise antro-
Este enterramento apresentava uma
pológica. Esta mostra-nos, ainda, que a
orientação Norte-Sul em covacho simples,
faixa etária destes sub adultos ou jovens
mostrando vestígios de cobertura com ti-
adultos se situa entre os neonatos e os
joleira e tégula. Compunha-se por um in-
doze anos, identificando-se cinco indiví-
divíduo masculino, com cerca de 60 anos
duos do sexo masculino e quatro do sexo
(ASSIS e BARSOSA, 2009, p.7-10). Junto
feminino (ASSIS e BARBOSA, 2008, p.3-
a si, encontrou-se um recipiente cerâmi-
Imagem 1 - Carta Militar de Portugal, nº 442, com a localização da
Quinta da Torrinha
20). (IMAGEM 2) co depositado sobre os seus joelhos, uma
placa de ferro identificada como elemento
de possível arma, uma moeda de cobre
Nas sondagens efectuadas identificaram-
e dezenas de cardas na zona inferior da
se 22 indivíduos em deposição primária e
sepultura. Provavelmente este individuo
dois ossários. Estes ambientes sepulcrais
estão orientados a SO-NE e SE-NO, ape- seria um soldado romano aposentado que
nas com dois casos de alinhamento N-S, se estabeleceu nesta área da Lusitânia
o do esqueleto 1, e, ainda que com per- finda a conquista romana do território, en-
turbações, o indivíduo do ossário 1, e di- terrado com os elementos por si utilizados
videm-se me cinco tipos, referindo-se que no exercício da sua profissão (a espada e
todos os indivíduos se encontram em de- as cardas pertencentes às calígulas utili-
cúbito dorsal: fossa simples em covacho, Imagem 2 - Planta das sepulturas zadas pelos militares romanos), tese que
Imagem 3 - Esqueleto 1
enterramentos compostos por ânforas ou parece encontrar consenso nos dados
Alguns destes enterramentos eram acom- da análise antropológica (ASSIS, 2009).
imbrices, os enterramentos com mate-
panhados por material cerâmico que te- Ossário 1
riais de construção, e ainda um caso de (IMAGEM 3).
um enterramento onde se identificaram os riam constituído oferendas aos deuses ou
O ossário 1 é a única estrutura funerária
pregos alinhados que poderiam pertencer bens necessários à alimentação do defun-
que apresenta uma perturbação no regis-
a uma estrutura do tipo caixão; por fim, to. São, na maioria, recipientes de cerâ- Esqueleto nº 2
mica comum destinados a conter líquidos, to em determinado momento post mor-
verifica-se um enterramento em caixa ou
Este contexto desperta a nossa atenção
berço (dois ímbrices) (ASSIS e BARBO- unguentos e alimentos, mas também, se tem, os ossos encontram-se remexidos e
devido ao alinhamento de pregos visíveis
SA, 2008, p.4-6). exumaram doze moedas e alguns artefac- muitos deles desaparecidos. Este enter-
em ambos os lados do esqueleto que in-
tos em metal. ramento é constituído por um sub adulto
O espaço funerário parece organizar-se dicam um contorno de uma estrutura tipo
da periferia para Oeste, encontrando-se caixão, muito provavelmente em madeira com cerca de 13 anos e contem o espólio
pág. 60 pág. 61
mais rico de todas as sepulturas escava- de mica, quartzo e óxido de ferro e de to-
das. nalidade amarelo alaranjada, com sinais
de polimento no exterior. Um copinho de
No ossário 1 retirou-se uma moeda do rei-
paredes verticais, com uma pasta laranja
nado de Maximilianus Herculius, datada de
acastanhada de composição média, onde
306-308 d.C. e cunhada em Londres (AS-
se observam abundantes minerais brancos
SIS e BARBOSA, 2008, p.2), um fragmen-
to de fundo de Terra sigillata hispânica, e e óxido de ferro. Um pote de bojo largo e
três estatuetas de terracota feitas em mol- achatado com o bordo revirado para o exte-
de, uma sem leitura e duas representando rior, de pasta laranja com abundantes ele-
uma figura feminina com túnica (IMAGEM mentos não plásticos (mica, quartzo, óxido
4 e 5). de ferro e alguns nódulos de argila e aca-
bamento tosco. Nesta sepultura encontrou-

Imagem 6 - bilha Imagem 7 - Copinho

Imagem 4 - Ossário 1 Imagem 5 - Estatueta Terracota

Esqueleto nº6
se, também, um pote/panela de bordo recto
Com o esqueleto 6 exumou-se uma bilha e oblíquo de pasta castanha alaranjada e
de gargalo curto, afunilado e bordo mol- bastantes minerais brancos, mica e óxido Imagem 8 - Pote Imagem 9 - pote /panela
durado, de uma pasta de composição mé- de ferro, formando uma pasta pouco depu-
dia, composta sobretudo por elementos rada (NOLEN, 1985) (IMAGEM 6, 7, 8 E 9).
pág. 62 pág. 63
Sepultura nº 7 rior de uma ânfora da classe Almagro 50.
Este está depositado sobre a cobertura da
Compondo o topo da sepultura 7 estavam
sepultura 14. (IMAGEM 12)
oito ânforas Almagro 50, dispostas alterna-
damente sobre o esqueleto 8 (BARBOSA
e ALDANA, 2009). As duas ânforas, que
Sepultura nº 12
o restauro permitiu reconstruir, possuem
bordo espessado e sub-triangular, colo e A Sepultura 12 é um enterramento de um
asas curtas, estas de secção óvoide, co- feto em forma de concha, construída com
ladas, corpo cilíndrico e bico maciço. Em duas imbríces invertidas (BARBOSA e
termos cronológicos, sabemos que estes ASSIS, 2008, p.4). (IMAGEM 13) Imagem 11 - Esqueleto 11 Imagem 13 - Sepultura 13

contentores foram produzidos nos centros


oleiros da Lusitânia e comercializados na
bacia do Tejo entre os séculos IV e V d.C. Sepultura nº 14
(RAPOSO e DUARTE, 1991, p.253; FA-
A Sepultura 14 contém dois indivíduos, um
BIÃO, 2008, p. 518.519).
jovem do sexo masculino e um sub adulto
O único espólio identificado foi uma moe- com cerca de 2 anos, os seus corpos apre-
da depositada no peito do defunto (BAR- sentam posições inversas (cabeça com
BOSA e ALDANA, 2005, P.36-37). (IMA- pés), com as cabeças encostadas nas pa-
GEM 10) redes da vala da sepultura, com os rostos
virados um para o outro (ASSIS, 2009).
Também aqui se um reaproveitamento de
Esqueleno nº 11 materiais de construção e de ânforas para
a cobertura deste enterramento.
Um neonato em enterramento do tipo ber-
çário, composto por tégulae no fundo e
fragmentos de ânfora nas laterais e cober-
Esqueleto nº 20
tura. (IMAGEM 11)
Junto com o esqueleto nº 20 encontrava-
se um copo alto, de bordo moldurado e
Sepultura nº 13 bojo largo, com quatro mamilos colocados
paralelamente sobre o bojo.(IMAGEM 14)
Na sepultura 13 encontrou-se um neonato
Imagem 12 - sepultura nº 12
depositado num berçário, na parte supe-
pág. 64 pág. 65
Esqueleto nº 23 os elementos não plásticos que os com-
põem são de pequena e média dimensão,
Por fim, com esqueleto nº 23 encontrou-
maioritariamente, quartzo, mica e óxidos de
se um púcaro de paredes verticais e bordo
ferro e a própria argila é de granulometria
moldurado com uma asa de secção sub-
pequena ou média.
quadrangular (IMAGEM 15).
Nesta categoria inserimos a cerâmica co-
mum fina laranja, que integra exemplares
As estruturas: como panelas/potes de corpo ovoide, bor-
do moldurado e oblíquo, com vestígios de
Nesta intervenção identificaram-se, tam-
uso, nomeadamente, exposição ao fogo,
bém, duas estruturas. Um elemento arquite-
que encontram paralelos nas formas tar-
tónico em forma de abside [505], integrado
dias de Conímbriga, com uma longo cro-
numa parede que parece ter continuidade
nologia centrada entre os séculos V d.C.
para ambos os lados. Não se detectou qual-
e X d.C. (MAN, 2004, p.465) e panelas de
Imagem 14 - copo quer vala de fundação, assentando esta,
aba curta, com depressão central no lá-
segundo os autores da escavação sobre
bio. Taças de paredes arqueadas e bordo
uma base de opus. As paredes foram cons-
esvazado e pendente e taças carenadas.
truídas com pedras calcárias de pequena
Tigelas de bojo arqueado e bordo em aba
e média dimensão (BARBOSA e ALDANA,
para o exterior, tigelas de paredes arquea-
2005, p.49). (IMAGEM 16)
das, quase verticais e bordo esvazado
Na sondagem 8 da Quinta da Torrinha, com paralelo nos materiais provenientes
identificou-se uma construção que deverá do sítio de Tolmo de Minadera (Albacete)
corresponder a um poço (BARBOSA e AL- de contextos datados do século VI-VII d.C.
DANA, 2005, p.48). (IMAGEM 17) (GUTIÉRREZ LLORET, GAMO PARRAS e
AMORÓS RUIZ, 2003,p.126). Um jarro de
Os materiais cerâmicos que nos aparecem
colo largo e esvazado, mais estreito junto
nas unidades de colmatação deste espaço,
do bordo e com uma asa colada ao bordo.
compõem-se por formas toscas de fabrico
No sítio de Tolmo de Minadera (Albacete)
descuidado, estando a cerâmica fina e de
encontra-se, nos estratos exteriores à es-
importação fracamente representadas.
trutura da Basílica Paleocristã, um exem-
Para recipientes de cozinha ou serviço de plar bastante semelhante, cujo horizonte
Imagem 15 - púcaro
mesa, apesar da argila ser pouco depurada cronológico corresponde ao século VIII
e as formas descuidadas, observamos que (GUTIÉRREZ LLORET, GAMO PARRAS e
pág. 66 pág. 67
AMORÓS RUIZ, 2003, p.141). do século V d.C. berçários, também aqui registado num indi- marítimos.
víduo sub adulto (nº13). Esta última prática
E ainda, uma garrafa de corpo quadrangu- As sepulturas mais antigas correspondem
aparece, sobretudo, ligada ao enterramen-
lar com decoração incisa na zona superior ao esqueleto 1 e ao ossário 1, apresen-
Considerações finais: to de crianças e fetos, como se testemunha
do colo, e uma cruz sobre essa decoração tando ambos uma orientação N-S, e vá-
um pouco por toda a Península Ibérica; na
que pode corresponder a uma marca de Parece-nos existir dois espaços na Quinta rios artefactos, nomeadamente uma moe-
necrópole da Caldeira, Tróia (ALMEIDA,
propriedade. A decoração compõe-se de da Torrinha, a necrópole e as estruturas, da cunhada nos inícios do século IV d.C.,
2009), na necrópole do Casal do Rebolo,
ondas molduradas por dois riscos parale- cuja utilização em época tardo-romana espólio cerâmico e outros metais que se
Sintra (GONÇALVES, 2011), no Largo 25
los que envolvem a parte superior da peça. pode ou não estar interligada. A utilização observam em contextos mais antigos de
de Abril em Faro, na necrópole das Almoi-
Esta decoração é recorrente em peças de desta necrópole num momento tardio da outras necrópoles, designadamente em al-
nhas, na necrópole de Castillo de San Luis,
cerâmica comum da Antiguidade. época romana é clara. Todas as sepulturas gumas do Nordeste Alentejano, onde car-
Málaga (SERRANO RAMOS, BALDOME-
escavadas são de inumação, encontrando- das de calígulas e artefactos de ferro estão
No que diz respeito aos contentores ânfo- RO e ANTONIO MARTIN, 1993, p.210), em
ricos, encontramos elementos represen- se todos os indivíduos em decúbito dorsal. associados aos enterramentos mais anti-
El Eucaliptal, Huelva, onde, na fase II, se
tantes das classes Almagro 51 C, com cor- São, também, anónimas, uma característi- gos (GONÇALVES, 2011, p.61).
descobriu uma necrópole infantil composta
respondência nas produções dos centros ca do baixo-império que se verifica na Ne-
apenas por deposições em ânforas (CAM- No mesmo espaço, as restantes sepulturas
oleiros do Tejo, nomeadamente, Quinta do crópole de Porto dos Cacos, na Necrópole
POS CARRASCO, PÉREZ MACIAS e VI- inserem-se já num momento mais tardio de
Rouxinol (Seixal) e Porto dos Cacos (Alco- da Caldeira em Tróia (ALMEIDA, 2009) e
DAL TERUEL, 2009, p.225, 228) e ainda na utilização da necrópole, correspondendo,
chete) enquadráveis nas produções finais na Necrópole do Casal do Rebolo em Sin-
necrópole de Estruch em Ampúrias (apud grosso modo, a deposições que ocorreram
do século IV e no século V d.C. (DUARTE tra (GONÇALVES, 2011).
MARTIN ALMAGRO, 1955) e no sítio de entre os finais do século IV d.C. e sobre-
e RAPOSO, 1991, RAPOSO e DUARTE, Destacam-se os indivíduos nº2, onde se Santa Maria del Mar, Barcelona (apud RI- tudo durante todo o século V d.C., senão
1991). localizaram vestígios de deposição em cai- BAS, 1967). mesmo, também no VI d.C., no caso dos
A Terra Sigillata Clara está escassamen- xão de madeira e o nº 8, sendo a cobertura
A cobertura da estrutura funerária com ân- enterramentos simples, em covacho e sem
te representada, e apenas em camadas de da sepultura composta por oito ânforas in-
foras demonstra, a nosso ver, o estatuto su- qualquer espólio associado.
aterro. Sabemos que estas peças têm um teiras da forma Almagro 50.
perior daquele indivíduo na sociedade que
período de produção balizado entre os sé- Nesta fase, documenta-se uma mudança
Desta prática de enterramento conhecem- integrou.
culos IV d.C. e VII d.C. Na unidade [501], na orientação das sepulturas, agora alinha-
se ainda poucos testemunhos no registo
surgiram três fragmentos passíveis de re- Curiosamente, os enterramentos em ânfo- das SO-NE e SE-NO, numa lógica Nascen-
arqueológico, devendo destacar-se aqui
gisto, e duas delas, com enquadramento ti- ra ou utilizando estes contentores inteiros te-Poente. Alteração que pode relacionar-
os paralelos que ocorrem na necrópole do
pológico. A peça nº 1 é um prato de peque- como cobertura parece ser exclusivo das se com a influência dos cultos orientais na
Porto dos Cacos (Alcochete),
na dimensão e de bordo espesso da forma zonas litorais, como demonstram os sítios Península Ibérica, sugerindo, na Torrinha,
Hayes 67 e o nº 2 corresponde a uma tigela Trata-se de um tipo de enterramento que já aqui referidos. Um indício que os pode um momento de adaptação que mostra ain-
da forma Hayes 80 B. Ambas as formas se distinguimos, claramente, da deposição de relacionar com a prática de actividades re- da alguma simbiose entre os ritos do paga-
inserem, grosso modo, na segunda metade indivíduos dentro de ânforas, os chamados lacionadas com a exploração de recursos nismo e os orientais.
pág. 68 pág. 69
A convivência de duas crenças religiosas é AMORÓS RUIZ, 2003).
visível nas sepulturas que ainda contêm al-
Quanto ao poço, existem estruturas se-
gum espólio cerâmico e a moeda ofertada a
melhantes na necrópole da Caldeira, em
Caronte. Os recipientes cerâmicos encon-
trados nestes enterramentos são, contudo, Tróia, um poço e uma cisterna relacionados
peças pouco cuidadas, de pastas pouco também com o próprio espaço (ALMEIDA,
depuradas e até mesmo deformadas, não 2009, p.64), e na necrópole de Casal Rebo-
se enquadrando nas formas típicas encon- lo em Sintra (GONÇALVES, 2011).
tradas nas necrópoles ditas clássicas.
Porém, sabemos que em época tardia, ao
Os contextos mais tardios compõem-se pe- contrário do estabelecido no Alto Império, o
los enterramentos sem qualquer espólio, espaço dos mortos está muitas vezes bem
dos quais se destacam as sepulturas com próximo das áreas residenciais, e no caso
reutilização de material cerâmico, o enter-
da Torrinha, as sepulturas não se organi-
ramento coberto por ânforas e os berçários
zam em torno desta estrutura, havendo ain-
também em ânfora e em concha, que da- Imagem 16 - Ábside
da alguma distância entre estes espaços,
tam de finais do século IV e sobretudo sé-
colocando a hipótese de estarmos perante
culo V d.C. Acompanhando esta cronologia
a estrutura de uma villa.
e perdurando, provavelmente até ao sécu-
lo VI d.C. surgem as restantes inumações,
bastante simples, sem qualquer espólio,
depositando-se o corpo sobre a vala aber- Conclusão
ta nas areias de base. Tal como ocorre na A Quinta da Torrinha aparece-nos, assim,
última fase de ocupação da necrópole da
como uma necrópole de transição que nos
Caldeira em Tróia (ALMEIDA, 2009).
mostra uma mudança de hábitos de enter-
A abside e a estrutura a si ligada poderiam ramento com o predomínio da inumação e
constituir um espaço de culto, nomeada- ainda um sincretismo nas práticas funerá-
mente uma basílica paleocristã. Como ria fruto do começo da expansão dos cultos
encontramos em Torre de Palma, Mon- orientais para ocidente.
forte, construída entre finais do século IV
e inícios do século V (WOLFRAM, 2012, Esta denota, também, uma continuidade de
p.207) e em Tolmo de Minateda, Albacete ocupação do espaço que se enquadra en-
Imagem 17 - poço
(GUTIÉRREZ LLORET, GAMO PARRAS e tre os séculos IV e VI d.C
pág. 70 pág. 71
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pág. 72 pág. 73
por: Filomena Barata e Raul Losada
ilustrações: César Figueiredo

N a Quinta da Romeira de Baixo, freguesia


de Bucelas, Loures, junto à Estrada Nacional
116 que liga Bucelas e Alverca, foi encontrada
uma estrutura edificada, que foi objecto de
uma primeira notícia, publicada por Florbela
Estevão, Arqueóloga da Câmara Municipal
de Loures, com a colaboração de Ana Raquel
Silva e de Luís Carlos Reis, sob o título «Notícia
sobre a Estrutura Arquitectónica da Quinta da
Romeira de Baixo (Bucelas). Mausoléu Familiar
Associado ao Ritual de incineração».
Situando-se em propriedade particular, ao que
se sabe numa Quinta com casa senhorial que
foi pertença dos Marqueses de Arronches e, em
fase posterior dos Duques de Lafaões.
O valor patrimonial da Quinta é reconhecido
pelo seu actual proprietário, o que motivou que
se sentisse a necessidade da sua classificação.

pág. 74 pág. 75
pág. 76 pág. 77
Nesse contexto, iniciaram-se trabalhos como mausoléu.
arqueológicos que decorreram entre
Março e Julho de 2003 e que puseram O designado podium muito possivelmente
a descoberto uma importante estrutura tratar-se-ia do embasamento do edifício,
pois as escavações demonstraram que o
rectangular , dotada de um podium, e com
mesmo não seria visível.
a câmara coberta por uma abóbada. Uma
possível entrada para o mesmo tinha um O imóvel, datável segundo os
pavimento com argamassa. investigadores que aí trabalharam, dos
séculos II e III, parece estar associado
Através de elementos pictóricos
aos proprietários e uma uilla romana
encontrados no interior do monumento
abastada.
parece poder inferir-se que o mesmo
apresentava uma decoração com pinturas Em território nacional, embora
a fresco. apresentando características diferentes,
quer construtivas, quer de tipos de
No entanto, o facto de o mesmo ter sido enterramento, pois podem encontrar-
violado em Época Moderna dificulta a se nichos para colocar urnas cinerárias,
interpretação no seu interior. mas também sepulturas de incineração,
As paredes foram edificadas com podemos referir o Mausoléu das Ruínas
aparelho irregular que deveriam ser, de Tróia.
como anteriormente referido, estucadas e Edificado junto a uma oficina de salga de
pintadas. peixe, sobre uma concentração de ânforas
Os materiais arqueológicos exumados de que parece indiciar um armazém, trata-se
origem romana são fragmentos de vidro e de uma construção de planta rectangular,
uma pedra de anel. feita com silhares intercalados com fiadas
de tijoleiras para regularização do aparelho
As paredes laterais apresentam nichos, o construtivo e apresenta contrafortes do
que faz equacionar a utilização do imóvel lado exterior das paredes laterias.
pág. 78 pág. 79
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A cronologia atribuída a esse Mausoléu d.C., embora com uma continuidade até
é de inícios do século III e, muito ao Período Muçulmano, denuncia a sua
possivelmente, também serviria um riqueza quer na estrutura arquitectónica
núcleo familiar, pois, em seu redor foi da pars urbana, melhor dizendo, da casa
implantado, no século IV, uma necrópole do seu senhor, centrada num átrio ou
com sepulturas de inumação. , peristilo - onde existia um tanque central
- e era circundado por uma colunata,
Comummente designado como em torno do qual se distribuíam os cerca
Columbarium pela forma dos nichos de 50 compartimentos. A exuberância
que apresenta para albergar as urnas decorativa dos seus mosaicos – com
cinerárias, assemelhando-se aos usados composições geométricas e naturalistas
em pombais, o Mausoléu de Tróia tem no – confirma a riqueza desta casa e da
seu interior vários tipos de enterramento exploração agrícola, que ocupava cerca
de inumação, de que se destacam as de 30 mil metros quadrados, e que tinha
grandes“arcas sepulcrais”, denunciam o nas proximidades uma barragem que
convívio dos dois tipos de ritual funerário: permitia o fornecimento de água, podemos
a cremação e a inumação. encontrar vestígios de mausoléus
Também no Cerro da Vila, Vilamoura, se familiares.
sabe que os seus proprietários se faziam Até agora foram escavados três mausoléus
enterrar em mausoléus com columbarium, da Villa de Pisões que se localizavam perto
ou seja com os nichos para as urnas do grande tanque exterior, ou natatio,
cinerárias, como acima referimos. para o qual se virava a fachada principal
Por sua vez, também na uilla romana de da grande casa agrícola.
Pisões, Beja podemos encontrar vestígios Deste modo, é-nos fácil admitir que o
de mausoléus familiares. Mausoléu da Quinta da Romeira de
Essa casa agrária, cuja ocupação se iniciou Baixo estivesse, efectivamente, ligado
em meados do século I a.C e se prolonga, a uma uilla e que os seus proprietários
em Época Romana, até ao século IV desejassem fazer-se sepultar em edifícios
familiares, edificados para o efeito.
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um museu, uma peça...

Museu Municipal de Loures


fragmentos de unguentários e
recipiente tipo Skyphoi
por: Filomena Barata

O Museu Municipal de Loures, fundado desenvolvidas numa horta pedagógica,


em 26 de Julho de 1998, está instalado no podendo-se ainda fazer observação de
antigo convento dos Arrábidos, o 13º, tendo aves neste fantástico espaço.
a sua edificação sido iniciada em1573/75.
Pertencente ao acervo do museu é um
«A utilização destas vastas áreas - primeiro, conjunto arqueológico de que agora aqui
pelos Franciscanos Arrábidos; depois de destacaremos uma peça de pequenas Museu Municipal de Loures
1834, pelo próprio Conde de Tomar, Costa proporções, cuja proveniência é o Mausoléu
Cabral e posteriormente por proprietários da Quinta da Romeira de Baixo, Bucelas,
de várias origens e profissões - deixou mas que, por se tratar de um objecto muito
neste espaço uma riqueza de vivências
comum no Mundo Romano, resolvemos
e registos arquitectónicos, artísticos
destacar. Trata-se de uma pequena pedra
e ambientais que dão a este Museu
de anel em vidro, com 9mm de diâmetro.
Municipal uma particular identidade».
Datável do Século I d.C.- inícios do século
O Museu apresenta reservas visitáveis de II d.C., a mesma foi encontrada no mesmo
utensílios e transportes agrícolas saloios, local onde apareceram outros objectos em
bem como de mobiliário; e tem salas de vidro, como fragmentos de unguentários e
exposições temporárias de arqueologia e de um recipiente tipo Skyphoi.
Etnografia ; um espaço de oficinas para
actividades diversificadas com o público e
um Centro de Documentação.
Neste espaço ainda se pode visitar a Capela
de invocação do Espírito Santo, com uma tela w w w . c m - l o u r e s . p t / a a _
única de Bento da Silveira, “Pentecostes”». patrimonioredemuseuslouresa.asp
Fragmentos de unguentários e de um recipiente tipo Skyphoi
Propomos ainda que se faça uma visita ao
claustro e à sua riqueza de azulejaria,
w w w. c m - l o u r e s . p t / A g e n d a E x p o _
e que ainda participe das actividades Conventinho09.asp
pág. 84 pág. 85
“O campo e a cidade: a villa rustica”
Por: Maria de Jesus Duran Kremer

Q uando passamos mentalmente em revista


o que aprendemos, no passado, sobre Roma
e o Império Romano, as primeiras imagens
que se apresentam ao nosso espírito estão,
quase sempre, ligadas a Roma e ao esplendor
arquitectónico que, hoje, nos dá uma ténue
imagem do que teria sido essa cidade: o
Coliseu, o forum, estátuas e baixos relevos,
os numerosos arcos de triunfo erguidos em
honra de imperadores vitoriosos nas batalhas
pela expansão do Império. Uma expansão
que só se tornou possível tendo como base a
estabilidade da Economia Romana, baseada
sobretudo na agricultura – que assegurava
a alimentação da população, seguida dos
ofícios, do comércio e da administração. De
acordo com algumas estimativas, cerca de
30 a 40% da população activa trabalhava no
sector agrícola; outras apontam para valores
de 75%, valores esses que testemunham
da importância vital de que se revestia este
sector económico para o Império e do respeito
por aqueles que nele trabalhavam: “Mas de
entre todos os ofícios por que se adquire
alguma coisa, o melhor, o mais próspero, mas
Fig. 1: villa rustica de Mehring (Alemanha). deleitoso e próprio de um homem de bem, é

pág. 86 pág. 87
ameixeira, a cerejeira, o damasqueiro, a geralmente por uma “casa senhorial”
nogueira, o castanheiro. Produtos como e por vários edifícios secundários que
a vinha, a oliveira, a alfarrobeira haviam alojavam os trabalhadores, o gado e os
já sido introduzidos pelos fenícios (XII celeiros. Numa primeira etapa construídos
a.C.), a figueira, a amendoeira, o loureiro em grande parte seguindo um esquema
pelos gregos (IX a.C.), a cebola e o alho relativamente simples, viram-se, nos séc.
pelos cartagineses, o linho, as couves e o II e III, transformados e enriquecidos,
nabo pelos celtas . Aos romanos se deve entre outros, com um sistema de
a restruturação administrativa do solo e aquecimento, com termas monumentais
a modernização das técnicas agrícolas, , com pavimentos em mosaico seguindo
permitindo retirar um maior rendimento programas iconográficos muito
tanto das sementes quanto da mão-de- elaborados, as suas salas decoradas com
obra utilizada. paredes de estuque pintado e estátuas em
A exploração agrícola romana mármore. Uma evolução que se manteve
concentrava-se em grandes propriedades no sec.IV, e que correspondeu também a
rurais – as vilae rusticae, constituídas uma fuga progressiva das cidades e ao

FIg. 2: villa rustica de Dieburg (reconstituição; Alemanha)


a Agricultura” porém, nos dizem sobre os produtos que
As informações de que dispomos sobre a constituiam a base alimentar da grande
alimentação na era romana, tanto no que maioria: pão, leguminosas, papas de
respeita às iguarias servidas quanto aos farinha e legumes. Da mesma forma pouco
usos e costumes – sobretudo no espaço nos dizem sobre os produtos cultivados
mediterrânico - provém de escritores nas diferentes regiões conquistadas pelos
gregos e romanos , e das imagens que exércitos romanos e povoadas, em parte,
nos transmitem esculturas ou lápides por veteranos desses mesmos exércitos.
funerárias encontradas um pouco por No entanto, as diferentes disciplinas que
toda a parte. Sabemos que, nesses se debruçam sobre a evolução sócio-
banquetes, o anfitrião não poupava cultural e demográfica de um território
esforços para servir iguarias o mais raras podem hoje lançar a luz sobre o passado
possível aos seus convidados, para o das várias regiões. Assim, sabemos
que recorria não apenas a condimentos que, no território que é hoje Portugal,
como também a animais importados de os romanos introduziram o tremoço, a
diferentes regiões do Império. Pouco, ervilhaca, a luzerna, o pessegueiro, a Fig. 3: villa rustica de Tabarka (Tunísia). Pormenor de mosaico mostrando a casa do proprietário. Foto de André Martin ©
pág. 88 pág. 89
com as mudanças nela de mosaico que ornamentavam os solos
introduzidas pelo tempo, de villae rusticae: estava-se perante uma
num ciclo de vida que cultura diferente da cultura citadina, de que
se renova ano após os seus representantes – os proprietários
ano, eternamente, está da terra – se orgulhavam e cultivavam,
certamente na base conscientes do significado desse eterno
das escolhas feitas por renovar da vida que a própria Natureza
uma grande parte dos representava. De África este tema cedo
proprietários da terra se espalhou a outras regiões do Império,
quando da construção dando origem a pavimentos em mosaico
e decoração das suas de extraordinária beleza e muito cheios
casas: os pavimentos de significado: a noção de renovação e
em mosaico de que eternidade assumiu nalguns casos formas
ainda dispomos e únicas na paisagem mosaistica em que se
provenientes de villae enquadravam.
rusticae exemplificam É o caso do mosaico das estações da villa
claramente a importância romana de Pisões (Beja) , único até hoje
e o significado que a villa na iconografia escolhida. Regra geral, as
rustica e as actividades estações do ano são representadas por
nela desenvolvidas bustos ou, mais raramente, por figuras de
assumiam: a corpo inteiro, que se fazem acompanhar
representação da própria dos atributos próprios a cada uma delas.
villa, do trabalho no Na maior parte dos casos: flores para a
campo, da caça, da Primavera, espigas, foice para o Verão,
pesca, da apanha da uvas, folhas para o Outono, ramos de
azeitona e do pisar da uva, oliveira, caça, manto, água para o Inverno.
para citar apenas alguns Em pavimentos africanos, sobretudo,
dos muitos temas ligados estas imagens fizeram-se igualmente
ao quotidiano agrícola acompanhar – nalguns casos mesmo
Fig. 4: Apanha da azeitona (Cartago, Tunísia). Foto de André Martin © e ao ciclo da Natureza substituir – por cestos repletos de flores e
- as estações do ano. São também as frutos de cada uma das estações.
estabelecimento definitivo dos senhores ainda que dando origem a escolhas estações do ano que vão constituir um
da terra nas suas propriedades. A villa arquitectónicas diferentes, se registou Em Pisões o programa iconográfico
dos temas iconográficos preferidos e que escolhido para a chamada “sala das
rustica era frequentemente auto-suficiente: por todo o Império Romano, como o melhor se souberam manter presentes
duas pombas” exprime uma sintaxe
em villae de maiores dimensões existia testemunham as numerosas villae rusticae através dos séculos.
ornamental profundamente ligada à terra
mesmo um ferreiro, uma fábrica de tijolos descobertas um pouco por toda a parte, Ainda que a representação das estações
e à Natureza, que recorre a elementos da
e objectos de barro, um lagar de azeite, adaptadas não só ao clima como também do ano nos seja conhecida de muito antes
Natureza observada quotidianamente no
tanques para a pisa da uva e produção de à produção própria da região em que se , foi durante o séc. II da nossa era que,
local para representar o ciclo do tempo:
vinho. localizavam. partindo de África, se assiste à difusão
para a Primavera uma cesta repleta
deste tema sobretudo nos pavimentos
É interessante verificar que esta evolução, O contacto diário com a Natureza e de botões de rosa, para o Verão uma
pág. 90 pág. 91
Fot.5: O mosaico das estações, Villa Romana de Pisões ave pernalta (cegonha?) junto do ninho, Bibliografia Escolhida

(Beja) protegendo as duas pequenas aves que Abad Casal, Lorenzo (1990), Iconografia de las Estaciones
Fot. 6: O Inverno, Villa Romana de Pisões (Beja) en la Musivaria Romana, Mosaicos Romanos. Estudos
em breve poderão voar, o Outono, com sobre iconografia. Actas del Homenaje in memoriam de
Fot. 7: O Outono, Villa Romana de Pisões (Beja) aves debicando um cacho de uvas e o Alberto Balil Iltana, pag. 11-25, Guadalajara.
Fot. 8: A Primavera, Villa Romana de Pisões (Beja)
Fot. 9: O Verão, Villa Romana de Pisões (Beja)
Inverno, à entrada da sala e numa posição Aguilar Saenz (A.), Guichard (P)(1993), Villas Romaines
de relevo, com duas aves ladeando um d’Estrémadure, Casa de Vélazquez, Madrid.
recipiente cheio de água, imprescindível Alarcão, Jorge (1988), O domínio romano em Portugal,
fonte de vida, sobretudo e também naquela Mem Martins.

região. Por cima desta representação, uma Almeida, Domingos (2004), O Meio Ambiente e a
Produção Agrícola: Solo. Disciplina de Produção Agrícola,
cabeça de medusa, símbolo apotropeico Licenciatura em Engenharia Alimentar Escola Superior de
de protecção. Biotecnologia, Universidade Católica Portuguesa, Porto.
Um programa iconográfico único até hoje, Balil, Alberto (1971), Casa y Urbanismo en la España
e que levanta um pouco o véu sobre a Antigua, Boletin del Seminario de Estudios de Arte y
Fot.5 Fot.9 Arqueologia, Tomo XXXVII, Valladolid.
filosofia de vida dos senhores da terra,
Dunbabin, K.M.D. (1978), The mosaics of Roman North
ligados não apenas economica mas Africa, Oxford.
também culturalmente a uma forma de
Duran Kremer, M.J. (1998), Algumas considerações sobre
vida não citadina, retirando do quotidiano a iconografia das estações do ano: a villa romana de
as lições de renovação permanente e Pisões, Homenaxe a Ramón Lorenzo (445-454), Vigo.

perenidade, interiorizando-as e utilizando- Duran Kremer, M.J. (2005), Algumas considerações sobre
a representação das estações do ano nos mosaicos da
as para exprimir a sua própria visão de Hispania Romana, X Colóquio do Mosaico Greco-Romano,
eternidade. pag.189-202, Conimbriga.

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2 - Varro (116-28 a.C.) Columella (sec. I d.C.); Plinius (29- Nunes Ribeiro, Fernando (1972), A villa romana de Pisões,
79 d.C.) Beja.
3 - Domingos P. Ferreira de Almeida, Disciplina de Produ
4 - Procissão de Ptolomeu Philadelphos (285.242 a.C.). In Reuth, Fridolin (hrsg.)(1990), Die römische Villa, Wege der
Abad Casal, pag.12. Forschung CLXXXII, Wissenschaftliche Buchgesellschaft,
5 - A análise arquitectónica e socio-cultural desta villa Darmstadt.
ultrapassaria o âmbito deste artigo. Ver, entre outros, Teichner, Felix (2008),Entre tierra y mar.Zwischen Land
Nunes Ribeiro (1972) e Duran Kremer (1998) und Meer. Architektur und Wirtschaftsweise ländlicher
6 - Guia da villa romana de Pisões (2000), Instituto Siedlungsplätze im Süden der römischen Provinz
Fot.6 Português do Património Arquitectónico Lusitanien (Portugal), Studia Lusitana 3, Merida.

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Monumento epigráfico da Quinta de Santo Adrião
(Silvares, Lousada)

a inscrição romana
por: Luís Sousa

1 - INTRODUÇÃO Quinta de Santo Adrião, na sequência do


desenvolvimento de um estudo monográf-
ico sobre a freguesia de Silvares (1). Di-
A o iniciarmos o nosso estudo pela
epígrafe de Época Romana queremos
versas razões contribuem para o seu des-
taque, pois trata-se, no seu tipo, o mais sui
inaugurar uma mais alargada divulgação generis do concelho de Lousada. Por um
das inscrições representadas no que de- lado, porque sendo um bloco de reduzi-
nominamos de monumento epigráfico da das dimensões apresenta em distintas
Quinta de Santo Adrião, mormente ao faces três epígrafes cronologicamente
nível do aro administrativo do concelho de muito dispares e, por outro, porque em-
Lousada. Este suporte para além de uma bora apresentem dissemelhantes baliza-
epígrafe datada sensivelmente do sécu- mentos temporais unem-nas o retrato de
lo II d.C., apresenta gravadas mais duas realidades de inspiração religiosa.
Encon-
inscrições, uma medieval e uma outra da trado aquando de obras de beneficiação
Época Modena. na capela que se encontra na Quinta de
Santo Adrião, o suporte epigráfico que
A base epigráfica constitui-se de
um blo- noticiamos deve ter sido parte integrante
co granítico de formato
alongado e de per- desta estrutura religiosa numa das facha-
fil quadrangular,
tendo de comprimento das ou mesmo como padieira ou umbral
aproximadamente 54cm, oscilando a lar- de porta. Apontamos esta última hipótese
gura entre os 24/25cm. A primeira imagem a mais provável, tendo em consideração
que se tem da peça,
pese embora o ev- os desgastes demonstrados. Após esta
idente desgaste e partes truncadas cau- intervenção o monumento foi colocado
sadas
por sucessivos aproveitamentos,
é o num canteiro de jardim, onde permane-
de estarmos perante uma ara
romana. Em ceu até à sua identificação aquando do
boa verdade foi esta a primeira função do desenvolvimento do estudo já menciona-
Figura 1 - Monumento epi- monumento, sendo desta época a mais do. (Fig.1)
gráfico da Quinta de San- antiga inscrição gravada.
to Adrião no local quando No sentido de contribuir para uma mel-
identificado em 15 de Fe- O monumento epigráfico da Quinta de hor preservação, solicitamos a retirada
vereiro de 2009 Santo Adrião foi identificado em 15 de Fe- daquele local para um espaço mais res-
vereiro de 2009, aquando de uma visita à guardado das intempéries, este facto foi
pág. 94 pág. 95
positivamente considerado, circunstância da serra de Maragotos, situadas no limite
que não queremos deixar de enaltecer Norte do concelho de Lousada, observan-
pois permitiu, inclusive, não apenas pro- do-se as cotas de 508 e 509 metros de
longar a vida do monumento como obter altitude, respectivamente nos esporões
as suas reais dimensões e subsequente- intermédios de Maninho e Maragotos.
mente um melhor estudo, tendo em conta Neste nível altimétrico verifica-se uma
que este se achava em parte soterrado. certa rarefacção da cobertura arbórea,
predominando os matos rasteiros.
Na
metade Sul, concretamente no intervalo
altimétrico situado entre as cotas dos 200
2 - A FREGUESIA: ENQUADRAMENTO
e 400 metros, irrigada e de vales abertos,
ADMINISTRATIVO E
veremos florescer toda a vida económica,
HIDRO-GEO-MORFOLÓGICO social e religiosa da freguesia, com espe-
cial evidência para um pequeno alvéolo
Silvares é uma das 25 freguesias que in- natural que se estende do sopé do monte
tegra presentemente o concelho de Lou- de Santa Águeda e Telégrafo até Cancela
sada. Esta apresenta uma configuração Nova, achando-se circundado por morros
geográfica alongada no sentido Norte/Sul, de média/baixa altitude, designadamente
gozando de uma área de cerca de 575ha. pelo Alto do Pedroso, Bica, Monte das
O aro administrativo confina a Norte com a Panelas e Além do Rio.
freguesia de Santo Estêvão de Barrosas,
Desde tempos imemoráveis que as
a Este com Alvarenga, Santa Margarida e
condições edáfo-climáticas deste aro
Nogueira, a Sul com Pias e Boim, possu-
geográfico terão sido apreciadas, bem
indo, por fim, como limite a Oeste, as freg-
patente, como veremos, pelas recuadas
uesias de Cristelos e Ordem. (Fig.2)

evidências arqueológicas que atestam
A freguesia assenta numa zona de duali- assentamentos humanos nas imediações
dade morfológica particular, sendo notório pelo menos desde o Bronze Final, mostran- Figura 2 - Enquadramento administrativo de Silvares no actual concelho de Lousada
o contraste entre a superfície setentrional, do a ponderação tida na escolha do “lugar
recortada e íngreme, e a meridional, ten- óptimo” para o estabelecimento da comu- do território da freguesia. Pese embora una de diferentes dimensões, em granito
dencialmente aplanada. nidade, depreendendo-se que pesavam se tratem de dois pequenos cursos de e mármo- re, bem como de alguns mui-
como princípios selectivos a constituição to fragmentários materiais de construção
água, são efectivamente o principal re-
Os relevos de maior expressão verifi- edáfica dos solos, a amenidade do clima
curso aquífero deste aro administrativo, (tegulae), destaca-se a existência de uma
cam-se então na parte Norte, onde os e os recursos aquáticos, factores que de-
não apenas em proveito do regadio mas ara romana votiva, monumento epigráfi-
esporões do Monte Telégrafo e Santa terminam a sustentabilidade de uma agri-
porque destes depende a força hidráulica co que nos permite retirar informações de
Águeda atingem respectivamente os 578 cultura necessariamente produtiva para a
e 577 metros de altitude. Adentro ainda empregue no funcionamento mecânico elevado valor para a compreensão da re-
sobrevivência do grupo.
dos valores altimétricos representados dos moinhos de rodízio aqui existentes. ligião pré-romana na área geográfica do
há a destacar o Alto da Senhora, onde Aqui nascem dois ribeiros, o Fontão e Pon- vale do Sousa. (Fig.3)
se contempla a altitude de 575 metros, tarrinhas, que drenam as águas provindas 3 – A INSCRIÇÃO ROMANA
das encostas de Monte Telégrafo e Mon- Pese embora o desgaste em algumas zo-
sobressaindo, ainda, os pendores forte-
te Pedroso, bem como de outras colinas Para além de se observar na Quinta de nas do monumento e de este apresentar
mente marcados pelas cristas quartzíticas
menores que caracterizam a morfologia Santo Adrião a presença de fustes de col- fracturado o capitel, foi possível efectuar
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a leitura da inscrição, facto que permitiu insere, muito mais alargada do que aque- amento. social, política e económica da comuni-
constatar que se trata de uma divindade la que se vinha a constatar até então. A dade em que se integravam, reunindo aq-
indígena sob a invocação de Reove Vad- penúria de contextos arqueológicos, es- Como se mencionou atrás, o nome
da di- uilo que se poderá denominar de “diversi-
umic[o]. O voto foi erigido por um Nigri- cavados e com os dados daí resultantes vindade encontra-se vinculado às águas, ficação funcional”, servindo como lugares
nus filho de Niger, o que se reconhece devidamente analisados e interpretados, nomeadamente
com cursos fluviais. De de congregação de comunidades, sede
como nomes lati- inibe-nos de apontar facto, o
local de achado, no sopé do Mon- administrativa e centro de reunião política,
nizados. Pelo seu consistentemente te Telégrafo e Alto do Pedroso,
no ex- bem como cen- tros de actividade comer-
significado, o nome quaisquer consider- tremo norte de um fértil alvéolo, exibe cial e económica (feiras e mercados). Em-
Niger pode levar a ações para os pri- particulares recursos naturais. Neste es- bora limitados pela falta de estudos, mor-
considerar que es- meiros séculos da paço
constata-se abundante presença de mente ao nível da epigrafia, poderemos
tamos perante pes- Romanização. Esta água provinda de pequenas nascentes subentender a presença polarizada em
soas, por exemplo, é mais uma impor- existentes a meia
encosta nos citados redor do castro de São Domingos, de um
de origem africana, tante achega para esporões e
pela passagem nas proximi- conjunto complementar de monumentos,
porém, não significa que se teça um dades
do ribeiro do Fontão. Merecem
ig- tais como santuários ou templos rurais, no
que se trate de gen- conhecimento mais ualmente relevo as menções toponími- qual se incluirá o possível templo da area
te negra ou morena. profundo sobre esta casemicro-toponímicas
comprovadas nas da Quinta de Santo Adrião e o provável
Apontar a sua pro- fase. Até aqui as proximidades
da Quinta de Santo Adrião, santuário de Pias, reflexo de que o castro
veniência é uma in- cronologias mais re- em
documentação escrita e cartográfica, de São Domingos foi convertendo pau-
cógnita impossível cuadas achavam-se relacionadas com a
água. É de destacar, latinamente o território a si afecto, numa
de contornar, a úni- no castro de São Do- por exemplo, que a própria Quinta de superfície socializada e culturalizada,
ca realidade que se mingos (Cristelos), San-
to Adrião se chamou outrora Casal assente num modelo diferente da época
depreende da leitu- Quinta de Padrões da Fonte. Também no “Tombo
da Igreja de precedente. A indicação da implantação
ra da epígrafe é a (Meinedo) e Alto do São Miguel de Silvares”, de 1548, refer- de um templo para a zona que temos vin-
de que nos encon- Pinouco (Aveleda), ente ao casal de Lagares, encontramos do a abordar, poderá ser alicerçada pela
tramos perante um o que dão um erró- uma interessante alusão ao “campo do circunstância de nas proximidades passar
dedicante que se neo panorama do Olho Marinho” (fol.571v). Assim se consta- uma via romana que provinha do castro
deduz romanizado, que realmente se ta que, de facto, a água é um bem omni- de São Domingos e se dirigia a Felgue-
mas que continua terá passado sub- presente na área e que sempre constituiu iras com passagem pelo sopé do castro
a cultuar uma divin- sequentemente à importante referência no reconhecimento do Senhor dos Perdidos (Margaride), re-
dade indígena. O pacificação deste do território. flectindo, aliás, um panorama similar con-
final do texto apre- Figura 3 - Carta de distribuição do povoamento antigo e lo- quadrante geográf- statado por Brochado de Almeida (1998)
senta abreviada a calização da Quinta de Santo Adrião em Silvares ico que, como o Entre outras questões pertinentes julga- para a região do entre Cávado e Minho.
fórmula votiva V(o- apontam os resulta- mos que se afigura plausível, face aos É de igual modo usual acharem-se estes
tum) S(olvit) L(ibens) M(erito) (2). (Fig.4) dos da investigação desenvolvida noutras elementos arqueológicos observados, co- pequenos espaços religiosos inseridos
zonas do Norte de Portugal, deveria locar relativamente à área envolvente da em unidades agrárias particulares. Toda-
A análise paleográfica e a comparação mostrar mais consistentemente o proces- Quinta de Santo Adrião, a possibilidade via, não possuímos quaisquer indícios ar-
com outros documentos análogos, permi- so de fixação no vale por parte das co- de por aí ter existido um fanum, isto é, um queológicos que consintam apontar con-
tiu apontar para o monumento uma cro- munidades que abandonaram nesta eta- pequeno templo rural, como se constata venientemente a existência destas para a
nologia em redor do século II d.C., o que pa os povoados em altura. A questão para para outras regiões do Império. zona envolvente à actual Quinta de Santo
consente concluir de uma dispersão de onde foi a comunidade indígena, é uma Adrião, embora este espaço reúna favora-
povoamento, nos primeiros séculos após indagação que urge desvendar, dissipan- Para alguns autores, nomeadamente Bro-
velmente todas as condições.
o efectivo domínio do território em que se do uma certa ideia de retracção do povo- chado de Almeida (1998), os santuários ru-
rais deteriam um destacado papel na vida
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Legenda

* Arqueólogo. Gabinete de Património e Arqueologia da Câmara Municipal de Lousada


(1) Trabalho solicitado pela Junta de Freguesia de Silvares, então presidida pelo Sr. Eng. Couto dos Reis,
apresentado publicamente em 1 de Julho de 2009, na Biblioteca Municipal de Lousada, tendo participado na
investigação Pedro Magalhães, Carla Moreira, Cristiano Cardoso e Luís Sousa.
Não queremos deixar de mani-
festar o nosso mais profundo agradecimento à Profa. Lurdes Reis, proprietária da Quinta de Santo Adrião, que
muito gentilmente nos tem recebido e de forma solícita nos tem permitido efectuar os mais demorados estudos
e levantamentos gráficos do monumento de que damos notícia presentemente.

(2) Agradecemos a gentileza do Mestre Armando Redentor na elaboração do estudo que resultou na leitura da
epígrafe romana que ora se dá conta.

Fontes e Bibliografia

Fontes Documentais

ADB, Tombo da Igreja de São Miguel de Silvares, 1548.

Bibliografia
Almeida CAB, 1990 Carlos Alberto Brochado de Almeida (1990) –

Proto-História e Romanização da Bacia Inferior do Lima, Estudos Regionais, Número Especial, 7/8. Viana do
Castelo: Centro de Estudos Regionais. ISSN: 0871-3332.

Almeida CAB, 1993 Carlos Alberto Brochado de Almeida (1993) – A villa romana de Passos (Tarouquela-Cin-

Figura 4 - Epígrafe romana do monumento epigráfico de Santo Adrião


fães), Separata da Re- vista da Faculdade de Letras, II série, vol. X. Porto: FLUP. pp. 433-450.

Almeida CAB, 1998 Carlos Alberto Brochado de Almeida (1998) – Povoamento Romano do Litoral Minhoto en-
tre Cávado e o Minho, in Boletim Cultural de Esposende, no 20. Esposende: Câmara Municipal.

Almeida CAB, 2005 Carlos Alberto Brochado de Almeida (2005) – Alterações no povoamento indígena no início
da romanização. Ponto da situação no conventus bracaraugustanus, in Boletín Avriense, no 33. Orens: Museu
Provincial. pp. 77-93.

Capela, Matos e Borralheiro, 2009 José Viriato Capela; Henrique Matos e Rogério Borralheiro (2009) – As
freguesias do distrito do Porto nas Memórias Paroquiais de 1758: Memórias, História e Património. Colecção
Portugal nas Memórias Paroquiais de 1758. Braga: ed. De Autor. ISBN: 978-972-98662-4-1.

Magalhães et alii, 2009 Pedro Magalhães, Carla Moreira, Cristiano Cardoso e Luís Sousa (2009) – Silvares: um
percurso pela sua história. Silvares: Junta de Freguesia.

Sousa, 2007 Luís Jorge Cardoso de Sousa (2007) – Proto-História e Época Romana no concelho de Lousada:
Aplicação de um SIG na análise espacial em Arqueologia (Tese de Licenciatura). Porto: FLUP/DCTP (Policopi-
ado).

Cartografia

Carta Militar de Portugal, IGE, escala 1/25 000, folha no 99 [Material cartográfico], 3a edição, 1998, série M888,
ISBN: 972-764-984-X. Carta Militar de Portugal, IGE, escala 1/25 000, folha no 112 [Material cartográfico], 4a
edição, 1998, série M888, ISBN: 972-764- 998-X.
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A propósito de uma estela funerária romana de Vila Caiz
(Amarante)
por: Armando Redentor, Luís Sousa e Carlos Gonçalves

1. Introdução

D esde há algumas décadas, acolhe a Quinta


da Pena uma estela funerária da época romana,
que, ao que tudo indica, será proveniente de um
outro ponto da freguesia de Vila Caiz, concelho de
Amarante, na qual se localiza, tendo sido trans-
portada para este prédio por oferta aos seus pro-
prietários.

A estela terá sido descoberta nas imediações do


lugar de Vilarinho, talvez procedente da necrópole
colocada a descoberto na sequência da con-
strução da estação ferroviária, nos alvores do sé-
culo XX, não tendo, até ao presente, sido objecto
de qualquer estudo, não obstante estar referencia-
da desde os últimos anos da centúria. A importân-
cia documental da peça justifica que se lhe ded-
iquem algumas linhas, no sentido de a apresentar
analiticamente e de a enquadrar do ponto de vis-
ta histórico, procurando acertar a sua origem em
função da rede de povoamento antigo.

2. Vila Caiz: humanização da paisagem entre a


Proto- História e a época romana

Vila Caiz (1) constitui uma das 40 freguesias que


compõem o actual município de Amarante. Pos-
sui uma superfície de aproximadamente 9km2, di-
stando da sede concelhia entre 7 a 8km (Fig.1).

No contexto territorial em que se insere, desen-

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volveu-se um intenso povoamento que re-
monta, pelo menos, à Idade do Ferro. A
ocupação neste período encontrar-se-á, à
partida, evidenciada pelo registo de casas
de planta circular observadas no alto do
Monte da Senhora da Graça. Esta notí-
cia é veiculada por Lino Dias (1997:296,
n.o21), de acordo com relato oral que
recolheu do finado Professor Arnaldo
Marques, destacando o facto de o ponto
orográfico em causa possuir largo hori-
zonte visual sobre o território envolvente,
permitindo visibilidade directa até à serra
de Montemuro. As alterações topográfi-
cas de monta que o sítio vem padecen-
do, devido, essencialmente, a trabalhos
relacionados com arranjos da envolven-
te da capela de invocação à Senhora da
Graça, que o encima, tornam delicada a
comprovação in situ dessa ocupação pro-
to-histórica, relacionável com um povo-
ado fortificado. Não obstante, há que ter
em conta as condições geoestratégicas
que aquele monte proporciona, com claro
domínio visual sobre povoados fortifica-
dos comprovadamente proto-históricos e
sítios romanos – por exemplo, o castro de
Quires (ibidem:314-315, n.o 85) ou Ton-
gobriga (ibidem:306, n.o68) –, revelando
aptidão para o controlo sobre uma parcela
do vale do rio Tâmega.

O topónimo Castro, que subsiste no lugar


de Coura, já foi apontado como referente
a um povoado proto-histórico. Assim se
lhe refere Teresa Soeiro (1984:41-42),
relatando estar muito afectado pela ex-
ploração de pedra e abertura de minas, e
Figura 1. Enquadramento administrativo de Vila Caiz e carta de sítios arqueológicos
(Cartografia: L. S.). ter recolhido um bordo de vaso de fabrico
manual, de pasta castanha-clara e super-
fícies alisadas, definido como de aspec-
to bastante antigo. Todavia, declara não
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reconhecer perfeitamente a sua planta e, reta existe um outro canal em rampa com
ao mesmo tempo, não concretiza nada origem na prensa instalada ao lado do
acerca do seu amuralhamento. Fruto lagar num espaço semi-circular rebaixado
da expansão urbana e abertura de no- e com orifício central onde se apoiava a
vas vias, torna-se difícil anotar a tipolo- sua estrutura, possivelmente em madeira.
gia deste arqueossítio, tendo a sua ocu-
pação, associada a esporão sobranceiro A ocupação de época romana recon-
ao Tâmega, também já sido interpretada hecível na freguesia de Vila Caiz encon-
como correspondente a uma aldeia (Dias, tra-se na sua extremidade sudeste, con-
1997, p.296, n.o 20). A única estrutura ar- cretamente no lugar de Vilarinho, numa
queológica que pode, claramente, obser- zona de forte declive sobre a margem
var- se na saliência topográfica é um lagar direita do rio Tâmega. Esta área, apesar
cavado na rocha granítica, talvez medie- de íngreme e retalhada em pequenas
val, referido por Pinho Leal (1886:680) no parcelas agrícolas, compreende um solo,
seu Portugal Antigo e Moderno, a propósi- de génese granítica, com boas aptidões
to de algumas antiguidades na freguesia para o cultivo da vinha2 e da oliveira, bem
de Vila Caiz, dizendo o seguinte: ha n’esta como para produtos hortícolas, concor-
freguezia o monte das Costeiras, sobran- rendo para esta circunstância a presença
ceiro ao Tamega, - monte que tem de no- de pequenas linhas de água, algumas na-
tavel um penedo denominado Penedo da scentes e a favorável exposição solar.
Moura com um lagar, uma lagareta e uma
lagarinha (dizem os apontamentos que No local onde se encontra o apeadeiro de
me enviou o ver. (sic) Parocho) - tudo obra Vila Caiz, actualmente desactivado, identi-
dos mouros, segundo reza a tradição. Ao ficou-se, em 1908, um significativo núme-
mesmo lagar alude José Augusto Vieira ro de vestígios de época romana que con-
(1887:424), que, embora não adite quais- formavam um arqueossítio que tem sido
quer novos dados, tece algumas consider- interpretado, genericamente, como hab-
ações incorrectas ao dizer que é natural- itat romano, possivelmente uilla (Soeiro,
mente algum dólmen ou menhir arruinado, 1984:39-41; Dias, 1997:296-297, n.o23).
não obstante acrescentar, em nota de pé Os vestígios em causa, um edifício habita-
de página, que tambem lhe chamam lagar cional e uma área de necrópole, foram
dos mouros por ter sido cavado como um descobertos no decurso de trabalhos de
lagar. O registo arqueográfico do lagar é terraplanagem para implantação da linha
empreendido por Teresa Soeiro (1984:43, férrea e da estação local, de acordo com
fig. X), que, sem propor uma datação, o notícia elaborada por José Fortes (1905-
descreve da seguinte forma: foi cavada 1908b). Registe-se que esta memória se
uma pia trapezoidal com rebordo saliente baseia numa selecção do espólio apare-
no qual se cortou um pequeno canal que cido – que o etnógrafo José Pinho con-
deixa passar o líquido para a lagareta seguiu salvaguardar – e, aparentemente,
rectangular mais baixa, também apenas em informação se-
cundária, recolhida através deste, como
que se encontra na frente. Para esta laga- se pode depreender do seu intróito. Figura 2. Estela funerária recolhida na Quinta da Pena, Vila Caiz (Foto: A. R.).

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Da estrutura habitacional, identificada no autora aponta, ainda, como provavel- ainda apontar para um estabelecimento Marco de Canaveses, onde se implanta
ponto onde se ergueu a estação, é de- mente pertencentes a esta necrópole, três mais modesto, como seja uma quinta. um povoado proto-histórico com fortes
scrita a descoberta de umas escadas de peças, existentes no Museu Nacional de vestígios de ocupação posterior à viragem
pedra, de um cunhal, de uma pedra lar- Arqueologia, a saber: uma tigela, um pú- 3. Da estela funerária recolhida na Quinta da Era, a avaliar pelo achado de materiais
ga e comprida, com orifício; quanto ao caro e um unguentário. da Pena cerâmicos dos séculos I e II, bem como de
interior, há referências a uma lareira e a um antoniniano de Galieno, datado entre
Há também notícia, para as proximidades A estela que se encontra no pátio da Quin-
um piso de saibro, no qual se notou uma 261-268. A estrutura defensiva do povoa-
de Vilarinho, do aparecimento de um te- ta da Pena, onde tivemos o ensejo de a
cavidade contendo carvões. Presume-se do é constituída por, pelo menos, dois
souro monetário composto por 52 an- estudar no presente ano3, provém, se-
que teria cobertura de tegulae e imbrices,
toniniani e dois denários de Aureliano, gundo informações recolhidas junto da panos de muralhas e, no seu interior, é
pela alusão a fragmentos das telhas pla-
com datas post quem de 263 e ante quem família proprietária da supracitada casa, e observável, à superfície, o topo de muros
nas. Do espólio que lhe estava associado,
de 274-275, a sugerir uma ocultação por conforme já apontámos, de Vilarinho. As- de construções de planta quadrangular e
destaca-se a presença de dois dormentes
volta do início do último quartel da tercei- sim, apurou, em meados da década de 90, rectangular.
(metae) de mós manuárias, cerâmica co-
ra centúria (Centeno 1981-1982). Este um dos signatários (C. G.), aquando da
mum romana, com realce, entre outros
facto quadra com o que se conhece da preparação de um trabalho escolar de le- A estela ([115]x44x28)5, de remate trian-
fragmentos, para a metade dum pequeno
ocupação da zona do apeadeiro, dado vantamento arqueológico da freguesia de gular, em jeito de frontão, é mais larga
prato (catillus), e uma taça em terra sig-
que o espólio estudado (Soeiro, 1984:41) Vila Caiz. Precisando: segundo o Sr. Car- na base da cabeceira do que no pé, es-
illata hispânica da forma 37 tardia, com
cronologia balizável entre os séculos III e aponta para uma ocupação de finais do doso [pai do actual proprietário] da casa treitando progressivamente de cima para
IV d.C., de acordo com a classificação re- século III ou inícios do IV, sem que esta da Pena, esta lápide foi transportada pelo baixo, sendo executada em granito de
alizada por T. Soeiro (1984:39- 41). constatação possa ser probatória de uma seu avô desde Vilarinho simplesmente grão médio (Fig.2). A espessura é mais ou
relação do tesouro com este sítio. Essa como motivo decorativo; provavelmente menos constante, registando- se apenas
Quanto à necrópole, então descoberta a ligação é até, à primeira vista, improvável, devia pertencer à necrópole aí detectada a variação de um centímetro entre a cabe-
cerca de 100m a nascente da casa, no dado a ocupação mais dilatada do sítio se (Gonçalves, 1996: 16)4. ceira e a base. O topo apresenta-se esbo-
corte realizado para assentamento da coadunar mal com a datação do tesouro, roado, acusando aparência arredondada,
linha férrea, desconhece- se o número a não ser que o registo arqueológico de- Esta peça será a mesma a que Lino Dias sendo provável a incompletude da peça
de sepulturas identificadas, mas sabe-se tectado fosse, na verdade, de uma reocu- (1997:308, n.o74) alude, dando-a como ao nível do pé. As faces laterais estão reg-
que uma delas, vista pelo informador de pação subsequente à ocultação. procedente da vessada do Borlido, situa- ularizadas, tal como a posterior, embora
Fortes, em corte, na secção da trincheira, da na vizinha freguesia de Santo Isidoro, esta se mostre menos acabada.
era do tipo rectangular, aberta no saibro, Em face dos dados arqueográficos, tor- concelho de Marco de Canaveses, e as-
sem revestimento, nem tampa. Dos mate- na- se difícil abonar uma tipologia para o sociando-a a um arqueossítio da época A cabeceira encontra-se rebaixada em
riais que se lhe associavam, há algumas sítio, localizado num ponto de charneira romana, com a designação de Alvim, que duas áreas triangulares rectas separadas
peças que foram depositadas no Museu entre os terrenos mais profundos e húmi- classifica como casal em função das car- por eixo central vertical. A cartela (46x33)
de Etnografia do Porto, dos, situados até à cota dos 150m, e os acterísticas topográficas de uma pequena é de formato trapezoidal, rebaixado, com o
mais secos, que surgem daí para cima. elevação destacada na paisagem, e onde limite inferior mais estreito (larg.=29) que o
nomeadamente uma tigela, dois vasos Este posicionamento micro geográfico se recolheram materiais cerâmicos ro- superior, em acomodação à configuração
fechados - um de boca circular e outro incitou L. Dias (1997:297) a uma dupla manos não especificados. Este é um dos da face da estela. Sob esta, motivo inciso
mais incompleto, não se descartando ter hipótese: assentamento de uilla ou povo- sítios mais próximos, pelo sul, da fregue- de temática astral: dois círculos concêntri-
sido trilobado -, um terceiro, com o colo e ado. A única estrutura detectada, e não sia de Vila Caiz. Outro sítio que se pode cos tendo o interior uma cruz inscrita em
a asa partidos, e uma almotolia, com dec- havendo alusão a indícios de outras, seria apontar na sua vizinhança, a norte e em posição ligeiramente enviesada, conferin-
oração pintada de faixas alternadas ver- mais acorde com a primeira possibilidade, situação oposta ao de Alvim, coincide com do ao todo da composição uma aparên-
melhas escuras e brancas, além de moti- mas a ausência, pelo menos aparente, de um destacado morro de 541 m de altitude, cia de movimento dextrógiro, em alusão a
vos irregulares e um ramiforme, também materiais de qualidade que, comummente denominado de Ladoeiro, em Banho e uma roda astral. O epitáfio (Fig.3) reza o
estudadas por T. Soeiro (1984:41). Esta se reconhecem associados a uillae, pode Carvalhosa, também já no concelho de seguinte:
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Meidut-
iuṣ
Meb- diˑ{ẹ}f(ilius) h(ic)ˑs(itus) or é arredondada e a barra medial é ape- por duas vezes (CILA 6, 58 e 59) a forma cida, são argumentos suficientes para o
ˑe(st) nas vestigial; D de pança alongada; V de Meduttius, que Abascal (1994:50) inclui estabelecimento da ligação da estela ao
haste esquerda quase vertical, contrarian- entre os nomina latinos. A sua etimologia arqueossítio de Vilarinho, para o qual,
Aqui jaz Meidútio, filho de Mebd(i)o. do a maior abertura da dextra; T de barra poderá estar relacionada com a raiz *med- assim sendo, temos de conjecturar uma
bastante curta, gravado contra o rebordo hu- ‘mel, hidrómel’ (IEW:707), a mesma cronologia mais lata, nomeadamente an-
O texto, dividido por cinco linhas, respeita,
do campo (evitando o mais possível um de Medugenus, como tradicionalmente terior ao século III. É que, considerando
em cima, uma margem mais avantajada
cristal de feldspato que se posiciona após se vem propondo (cf. Albertos, 1966:153; a simplicidade do epitáfio, tal como a fór-
do que a inferior6. Por entre o aspecto
o V). Na l. 2: I reduzido a sulco vertical; V Vallejo, 2005:360). Aceitando-se esta mula final e o uso do nominativo, a peça
geral fruste, percebe-se uma paginação
largo, de vértice arredondado; S bastante base etimológica, a forma documentada dificilmente terá cronologia posterior à se-
que denota algum dinamismo, com as l. 1
gasto, intuindo-se desenho idêntico ao da na inscrição apresenta fecho de -e- > -ei- gunda centúria. Mas vemos bons motivos,
e 3 a iniciarem-se o mais à esquerda pos-
l. 5. Na l. 3: M de configuração próxima , fenómeno que surge precocemente na na onomástica integralmente indígena, na
sível, encostadas ao rebordo que delimita
do da l. 1, mas com o vértice esquerdo antroponímia lusitana (Villar & Prósper tipologia do suporte e, até, na paleografia,
a cartela, e as l. 2 e 4, nas quais se gravou
algo anguloso e a haste direita inclinada; 2005:239; Vallejo, 2005: 696 e 725-726). para ser datável ainda do século I, even-
a continuação dos nomes translineados
E de haste inclinada para a frente, vérti- tualmente na época flaviana, se dermos
iniciados nas linhas antecedentes, um O patronímico do defunto, igualmente in-
ces arredondados e barra superior ligei- crédito ao último critério.
Figura 3. Epitáfio gravado na estela funerária recolhida na Quinta da Pena, Vila Caiz (Foto: A. R.).

pouco mais dentro, estando a fórmula dígena, até agora apenas conhecido em
ramente levantada; B de panças equil-
final sensivelmente centrada na derra- genitivo (indiciando fase de regressão na Relativamente à cronologia dos vestígios
ibradas, praticamente iguais, sendo a
deira regra. Na l. 3, o primeiro espaço sua utilização), tem distribuição repartida encontrados, contamos, como se viu, com
inferior ligeiramente mais alta, não unindo
interliteral é claramente avantajado, entre a Lusitania os dados inferidos do espólio cerâmico.
à haste a ligação entre ambas. Na l. 4: D
presumivelmente com vista a conse- Apesar de, a propósito da única sepultu-
de pança larga; I reduzido a sulco; F de
guir uma distribuição mais equilibrada e a Gallaecia, reforçando este novo reg- ra observada, se falar de inumação, esta-
barras largas e vértice arredondado. Na l.
dos poucos caracteres que lhe cou- isto a sua incidência acima do Douro. Os belecendo-se paralelo com o cemitério de
5: H largo; S de curva inferior mais aberta
beram. A letra final desta linha está exemplos galaicos incluem-se todos na Laboriz8 e comparando-a com o segun-
que a de cima; E de barras largas e haste
gravada contra o rebordo da estela, parte meridional do território bracaraugus- do tipo da necrópole de Lomba9 não será
ligeiramente côncava e avançada. Pon-
havendo, imediatamente antes dela e tano, com ocorrências em Guilhabreu (EE descartável a possibilidade de aí terem
tuação arredondada na l. 4, separando o
após um ponto, um espaço com mar- VIII 110 + Albertos, 1975:33, n.o20e21) existido outros tipos de enterramento, in-
final do patronímico da sigla f(ilius), e, na
ca de aí ter sido rasurado um signo eemVilaReal(CILII5556).O único exem- clusive vinculados a incinerações.
seguinte, separando os caracteres da fór-
que aproximamos de um E, embora plo lusitano regista-se em Cárquere (CIL
mula de clausura.
não se vislumbre a barra medial, e que II 5580). Sem registo do nominativo, não Soeiro (1984:41) precisa que dois dos
tomamos como resultado de lapso ou Trata-se do epitáfio de um indivíduo de obstante se conheça um Mebdius Coru- quatro vasos referidos por Fortes (1905-
precipitação do gravador, o qual nos condição peregrina, de acordo com a sua in[us], militar da cohorte X Praetoria, orig- 1908b) continham fuligem no exterior,
parece corrigido com a gravação do F estrutura onomástica, composta por nome inário de Bracaraugusta, em inscrição de mas, recorde-se, não está esclarecido se
sobre o limite da cartela. A gravação é único e patronímico indígenas. O texto re- Tilurium, na Dalmácia (AE 1904, 11 + IL- são todos provenientes da mesma sep-
larga e profunda, de sulco arredonda- sume-se a esta menção associada à fór- Jug 1953), sendo de presumir que a forma ultura. Dias (1997: 296), abertamente,
do. Os caracteres denotam ductus e mula final h. s. e. neste caso documentada corresponda a admite tratar-se de uma necrópole de in-
módulos com alguma variação, gan- um gentilício patronímico ou de formação cineração, estabelecendo paralelo com
hando destaque as letras que com- A forma idionímica Meidutius é original, patronímica. a penafidelense de Croca. Nesta estão
põem a fórmula final, claramente mais relacionando-se com outros nomes in- presentes ambos os ritos de enterramen-
altas do que as das restantes linhas7. dígenas com a base Medut- (cf. Valle- O testemunho oral recolhido acerca da to, associando-se as incinerações a co-
Na l. 1: M de hastes extremas prati- jo, 2005:358). Um Meduttus Caturo- incorporação da peça na Quinta da Pena vachos ou a pequenas fossas quadrangu-
camente verticais e vértices arredon- nis f., miles coh. I Bracaugustanorum, é e a comprovação da existência de uma lares, dependendo da existência ou não de
dados; E, ligeiramente reclinado, em conhecido cerca de Bigeste, na Dalmatia necrópole, cuja diacronia de ocupação oferendas secundárias, e as inumações
que a ligação da haste à barra inferi- (AE 1907, 249). Em Jaén, documenta-se nos parece não estar totalmente esclare- a covas simples, sem revestimento nem
pág. 110 pág. 111
tampa, apontando-se-lhe uma cronologia de Margaride, Várzea, Refontoura, Cara- Bibliografia
de ocupação entre os séculos II ou III e o mos, Vila Cova da Lixa, Borba de Godim, ABASCAL PALAZÓN, J. M. (1994) - Los nombres personales en las inscripciones latinas de Hispania.
IV (Pinto, 1996: 292-296)10 . Freixo de Cima, Mancelos, Real, Banho Murcia: Universidad, Secretariado de Publicaciones; [Madrid]: Universidad Complutense (Arqueología;
1. Anejos de Antigüedad y Cristianismo; 2).
e Carvalhosa, Vila Caiz, Constance e So-
A pensar-se na coexistência de inumações bretâmega, onde convergia na ponte ro- AE = L’Année Epigraphique. Paris.
AGUIAR, P. M. V. (1947) - Descrição histórica, corográfica e folclóri-
ca de Marco de Canaveses. Porto:
e de incinerações na necrópole de Vilarin- mana de Canaveses, subindo, de segui-
ho, há que também consentir, tendo em Esc. Tip. Oficina de S. José.
da, para Tongobriga. Julga-se possível,
conta a parca quantidade dos materiais não se contando com propostas prévias, AMARAL, A. M. G. J. (1988-1989) - Necrópole galaico-romana de Laboriz (Amarante). Portugalia.
salvaguardados e o registo pouco detal- Nova série. Porto. 9-10, p. 111-114.
ter existido uma ramificação, que também
hado do seu contexto, e acreditando na afluía à ponte romana de Sobretâmega ALBERTOS FIRMAT, M. de L. (1966) - La onomástica personal primitiva de Hispania: Tarraconense y
veracidade da conexão estabelecida rel- Bética. Salamanca: Consejo Superior de Investigaciones Científicas [etc.] (Theses et studia philologi-
(Marco de Canaveses), que procurava a ca salmanticensia; 13).
ativamente à proveniência da estela fu- direcção de Amarante, seguindo, generi- ALBERTOS FIRMAT, M. de L. (1975) - Organizaciones suprafamiliares en la Hispania antigua. San-
nerária, a possibilidade de uma utilização camente, entre as curvas de nível dos 120 tiago de Compostela; Valladolid: Departamento de Prehistoria y Arqueología, Faculdad de Historia y
mais dilatada do sítio, incluindo a sua ret- Geografía, Universidad; Departamento de Prehistoria y Arqueología, Faculdad de Filosofía y Letras,
e 160 metros de altitude, com passagem Universidad (Studia Archaeologica; 37).
roacção, não obrigatoriamente em con- pelas freguesias marcoenses de Santo ALMEIDA, C. A. F. (1968) - Vias medievais. Entre Douro e Minho I. Porto: FLUP [Dissertação para
tinuidade, ao período alto-imperial. Isidoro e Toutosa e as amarantinas de Vila Licenciatura em História, policopiada].
Caiz, Louredo, Fregim e São Gonçalo. BARROCA, M. J. (2000) - Epigrafia Medieval Portuguesa (862-1422). [Lisboa]: FCG/FCT. Vol. 2, t. 1:
A organização e disposição dos povoa- Corpus Epigráfico Medieval Português.
Dela se aproximariam as Caldas de Cana-
dos proto-históricos e os assentamentos
veses, com exploração em época romana, CENTENO, R. (1981-82) - A circulação dos Divo Cláudio na Península Ibérica: notas sobre um tesouro
romanos neste contexto territorial coadu- do concelho de Amarante. Portugália. Nova Série. Porto. 2-3, p. 121-129.
e a necrópole associada, descoberta no
na-se com a rede viária principal regional,
século XIX aquando da abertura da estra- CIL II = Hübner 1869 e 1892.
nomeadamente com o traçado da via que,
da Canaveses-Livração (Dias, 1997:309, CILA 6= González & Mangas 1991.
por estas bandas, estabelecia a ligação
n.o78), as, já citadas, ocupações relacio-
entre Bracara Augusta e a capital da Lu- CRAESBEECK, F. X. S. (1992) – Memórias ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho no ano
nadas com Alvim e com a área envolvente de 1726. Ponte de Lima. Edições Carvalhos de Basto. Volume 2.
sitânia. A ponte do Arco (Vila Fria, Felgue-
ao lugar de Coura e, inclusive, o arque-
iras), que mostra uma forte reforma medi- DIAS, L. T. (1997) – Tongobriga. Lisboa: IPPAR.
ossítio a que atribuímos a epígrafe que
eval, apresenta ainda algumas aduelas do EE = Hübner 1899.
apresentamos neste estudo. Na Idade
arco maior com características de fábri-
Média este traçado ter-se- ia mantido em FORTES, J. (1905-1908a) – Necropole lusitano-romana da Lomba (Amarante). Portugalia. Porto. 2,
ca romana, o que obriga a passar nesse p. 252-262
uso, firmando-se o percurso pela con-
ponto a estrada. Este traçado vem sen-
strução da ponte medieval do Bairro (Sil- FORTES, J. (1905-1908b) – Casa e necropole lusitano-romanas de Villarinho (Amarante). Portugalia.
do proposto por diversos investigadores Porto. 2, p. 477-478.
va, 2000:71-72; Barroca, 2000:967-968,
(Almeida, 1968:40; Dias, 1997:319-320;
n.o 376)11, bem como pela edificação da GONÇALVES, C. J. S. (1996) – Levantamento arqueológico de Vila Caiz. Marco de Canaveses: Esco-
Mendes-Pinto, 1995:279- 280), tendo la Profissional de Arqueologia [policopiado].
igreja românica de Santo Isidoro (Silva,
também em consideração a rede de po- GONZÁLEZ ROMÁN, C.; MANGAS MANJARRÉS, J. (1991) - Corpus de inscripciones latinas de
2000:54-55).
voamento, atendendo não só aos assen- Andalucia. Sevilla: Dirección General de Bienes Culturales, Junta de Andalucía. Vol. 3: Jaén, tomo 1.
tamentos e necrópoles romanos, como HÜBNER, E., (1869) - Inscriptiones Hispaniae Latinae. Berolini: Gergium Reimerum, 1869. (Corpus
também aos povoados fortificados. Inscriptionum Latinarum; 2).
HÜBNER, E., (1892) - Inscriptiones Hispaniae Latinae: Supplementum. Berolini: Gergium Reimerum,
Seguindo Mendes-Pinto (1995:280), o per- 1892. (Corpus Inscriptionum Latinarum; 2).
curso, de norte para sul, seria, em traços
largos e recuando a terras vimaranenses, HÜBNER, Emil (1899) - Additamenta noua ad corporis uolumen II. Ephemeris Epigraphica. Berlin. 8,
o seguinte: São Martinho de Sande, Vize- p. 351-528.
la, Pombeiro de Ribavizela, Santa Eulália IEW = Pokorny 1959.- ILJug = Šašel & Šašel 1986.
pág. 112 pág. 113
LEAL, A. S. A. B. P. (1886) - Portugal antigo e moderno: diccionario geographico, estatistico, choro- Legenda
graphico, heraldico, archeologico, historico, biographico & etymologico de todas as cidades, villas
e freguesias de Portugal e grande numero de aldeias. Lisboa: Livraria Editora de Mattos Moreira & 1 O limite administrativo de Vila Caiz está definido, a norte e este, pelas freguesias de Louredo, Fregim
Companhia. Vol. 10. e Salvador do Monte, do concelho de Amarante, achando-se os restantes quadrantes geográficos
demarcados por freguesias do vizinho concelho de Marco de Canaveses, respectivamente, Várzea
MENDES-PINTO, J. M. S. (1995) - O povoamento da Bacia Superior do rio Sousa da Proto-História à
de Ovelha e Aliviada, a sudeste, Santo Isidoro e Toutosa, a sul, Constance, a sudoeste, e Banho e
Romanização. Actas do 1o Congresso de Arqueologia Peninsular, vol. V, in Trabalhos de Antropologia
Carvalhosa, a oeste.
e Etnologia Vol. 35 (1). Porto: Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia. pp. 265-291.
2 Nas Inquirições de 1258 encontramos referências a vinhedos num reguengo em Varzena Vilari-
PINTO, G. C. (1996) - A necrópole de Montes Novos, Croca: um cemitério da Gallaecia tardorromana.
Porto: FLUP [Dissertação de Mestrado em Arqueologia, policopiada]. ni, com dois campos, propriedade que deveria pagar ao castello Sancte Crucis j. modium panis de
qualicumque pane jacebat in ipso campo, et modo facerunt ibi iiij. homenes Domne Orrace Fernandi
POKORNY, J. (1959) - Indogermanisches etymologisches Wörterbuch. Bern; München: Francke Ver- vineas et nescit qualis istarum iiij. tenet ipsum campum, tamen dixit quod campus est in ipsis vineis,
lag. PORTELA, M. H. T. R. (1998) - Necrópoles romanas do concelho de Amarante. Porto: FLUP et ex quando illud castellum destruerunt numquam inde istum modium panis dederunt; et illus campos
tenent illus cum vineis Martinus Johannis et Martinus Petri, homines Domni 606/Gonsalvi Garcie et
[Dissertação de Mestrado em Arqueologia, policopiada].
Domne Orrace Fernandi. Item, casale Vilarini quod fuit Martini Lupi debet dare j. spatulam porei, et
ŠAŠEL, A. e J. (1986) - Inscriptiones Latinae quae in Iugoslavia inter annos MCMII et MCMXL repertae debet tenere ganatum in presso, et luctosam, et debet pectare vocem et calumpniam, et vitam Maior-
et editae sunt. Ljubljana: Musei nationalis Labacensis (Situla. Dissertationes Musei nationalis Laba- domo (PMH, Inq., 1258:605-606).
censis; 25).
3 Cumpre-nos agradecer ao Sr. Fernando Cardoso, actual proprietário da casa da Quinta da Pena, as
SILVA, J. B. P. (2000) - Marco de Canaveses: um olhar sobre o património... Paços de Ferreira: Anégia facilidades concedidas para o estudo epigráfico da peça.
Editores. Vol. 1: da Pré-História à época medieval.
4 Na altura encontrava-se em posição invertida, estando hoje no pátio, flanqueada por bancos de pe-
SOEIRO, T. (1984) - Monte Mòzinho: apontamentos sobre a ocupação entre Sousa e Tâmega na épo-
dra. 5 Todas as medidas indicadas estão em centímetros.
ca romana. Penafiel: Câmara Municipal (Penafiel: Boletim Municipal de Cultura. 3a Série; 1).
6 Margem superior: 5; margem inferior: 1/1.5; margem esquerda: 0/4.3; margem direita: 0/6.5.
VALLEJO RUIZ, J. M. (2005) - Antroponimia indígena de la Lusitania romana. Vitoria-Gasteiz: Servicio
editorial, Universidad del País Vasco (Anejos de Veleia. Serie minor; 23). 7 Altura das letras: l. 1: 5.7/6.8; l. 2: 6/6.5; l. 3: 6.8/7.5; l. 4: 6/7.5; l. 5: 8/9. Espaços interlineares: 1:
VIEIRA, J. A. (1887) - O Minho Pitoresco. Lisboa: Livraria António Maria Pereira. Vol. 2.
VILLAR, F.; 1/1.5; 2: 0.8/1.5; 3: 0/0.7; 4: 1/1.2.
PRÓSPER, B. M. (2005) - Vascos, Celtas e Indoeuropeos: genes y lenguas. Salamanca:
8 O sítio de Laboriz (Telões, Amarante) foi escavado, em 1907, por J. Fortes e J. Pinho, os quais
Ediciones Universidad de Salamanca (Acta salmanticensia. Estudios filológicos; 307). não chegaram a publicar os resultados; tratar-se-ia de uma necrópole de inumação, com sepulturas
simples, abertas no saibro, rectangulares (Portela, 1998:11-12, n.o 8). Do espólio proveniente destes
Cartografia trabalhos deu conta A. Amaral (1988-1989).
Carta Administrativa (Carta IV.1 - tema: concelhos), escala 1/1000 000 [Material cartográfico]. In Atlas 9 A necrópole da Lomba (Lomba, Amarante) foi escavada e publicada por J. Fortes (1905-1908a); o
do Ambiente Digital. Lisboa: Instituto do Ambiente, 1980.
segundo tipo sepulcral, que refere, respeita a sepulturas de planta rectangular.
Carta Militar de Portugal, escala 1/25 000, folha no 112 [Material cartográfico]. Lisboa: IGE, 1998. Car-
10 A proposta cronológica de G. Pinto (1996:296) é feita em função do espólio numário, correspon-
ta Militar de Portugal, escala 1/25 000, folha no 113 [Material cartográfico]. Lisboa: SCE, 1978.
dendo a fase mais precoce de ocupação às incinerações; nas sepulturas de inumação, a maior parte
Fontes Impressas das moedas corresponde ao século IV, presumindo- se que a utilização da necrópole não tenha ultra-
passado esta centúria. Os dados cronológicos considerados por L. Dias (1997:315-316, n.o 92, e 345)
PMH - Portugaliae Monumenta Historica: Inquisitiones. Lisboa: Academia das Ciências, 1897. Vol. I,
condirão com esta fase.
Fasc. IV e V.
11 Datada da segunda metade do século XIII, concretamente de 1271, como constava da inscrição
comemorativa que se achava gravada num penedo próximo, divulgada por Craesbeeck (1726
[1992]:153).
pág. 114 pág. 115
OS MOSAICOS, PINTURAS E
ELEMENTOS ARQUITECTÓNICOS DO
BECO DA CARDOSA EM ALFAMA
por: Vasco Noronha Vieira

O estudo que aqui é apresentado assenta num conjunto


de materiais de cariz construtivo e decorativo provenientes
da intervenção arqueológica urbana que teve lugar entre
Julho de 2007 e Setembro de 2008, no Beco da Cardosa em
Alfama. Foi efectuada pelo Museu da Cidade e pela UPA
(Unidade de Projecto de Alfama). Teve como responsáveis
o Mestre Rodrigo Banha da Silva, Dra. Cristina Nozes e
Dr. Pedro Miranda.

Foram identificados contextos com formação em Período


Moderno e Contemporâneo, mas também níveis Islâmicos
e Romanos Imperiais de onde se destaca um depósito
que se interpretou como sendo níveis de despejo de
materiais de construção. Era composto por um grande
conjunto de telhas (tegulae e imbrex), assim como alguns
elementos arquitectónicos em lioz, porções de mosaico e
diversos fragmentos de pinturas murais, embora bastante

Fig. 4
segmentados.

pág. 116 pág. 117


largura (2 pés). seria a mesma largura da base do
A moldura, tanto na parte de cima da parte epistílio . Sendo assim, neste caso o
exposta, como nos lados, apresenta 20 espaço que ficaria entre colunas seria
cm de comprimento. aproximadamente 60 cm. Ou seja, não
A partir destes dados, foi possível parece que poderia pertencer a uma
apresentar uma proposta de reconstituição área contendo uma porta de entrada na
do elemento (Fig.3). Parece tratar-se de estrutura a que pertencia. Ainda mais,
um epístilio (ou arquitrave). Pelo recorte os capitéis seriam na sua face superior
que apresenta na zona central, assim mais largos do que o epistílio, o que neste
como na direcção dos pequenos talhes, caso, reduziria ainda mais o espaço entre
encontra-se quebrada. Poderia apresentar as colunas
originalmente duas configurações: Em T, Quanto a cronologia da peça, o trabalho
ou em L, formando um canto. de picotagem ou talhe que apresenta
De acordo com as indicações de Vitruvio, na face inferior (a face visível na foto),
a largura máxima do fuste das colunas apresenta um cuidado junto aos rebordos,

Fig. 1

ELEMENTOS EM PEDRA DE LIOZ categoria é uma porção pertencente a


uma cornija (Fig.1), a moldura que remata
Os elementos arquitectónicos, além o entablamento de uma coluna. Eram
de estruturais, possuíam uma grande constituídas por três elementos em relevo,
importância estética. Trata-se mesmo duas inclinadas e uma horizontal, que
de uma forma de arte, com regras, juntas constituem os frontões do edifício .
composição, dimensões, simetria Um outro elemento, de maiores dimensões,
e proporções próprias, fortemente e apesar de não ter sido possível exumá-
demonstrada pelo trabalho de Vitruvio lo na sua totalidade, por se encontrar no
(Vitruvio, 2006). A uma determinada corte estratigráfico, permitiu um estudo
peça arquitectónica deveria corresponder mais aprofundado (Fig.2). A face exposta
um outro conjunto de elementos deverá corresponder à inferior e tem as
matematicamente proporcionais. dimensões de 180 cm de comprimento
Um fragmento que se enquadra nesta (aproximadamente 6 pés), e 58,6 cm de Fig. 2
pág. 118 pág. 119
que começou a ser elaborado no século II. conta o contexto urbano em que foram
descobertos (Fig.4).
MOSAICOS Devido à extensa sobreposição ocupacional
de toda a zona de Alfama, a possibilidade
Este tipo de estrutura decorativa teria acima de se encontrar mosaicos em conexão
de tudo um sentido estético, complementado com algum tamanho e extensão e com
a estrutura arquitectónica dos edifícios, e decoração estudável é bastante reduzida.
que vão de motivos mais geométricos do É mais comum surgirem tesselas soltas nos
início da nossa era, até aos mais elaborados diversos depósitos.
a partir do século II, quando passaram a O padrão decorativo do fragmento
ser mais comuns nos edifícios públicos e M1 apresenta algumas características
privados. que permitiram fazer uma proposta de
Foram cinco os fragmentos de mosaicos reconstituição, tendo como base paralelos
encontrados nesta intervenção, que que se podem encontrar em mosaicos no
demonstram ser significativos, tendo em território actualmente português (Fig.5).

Fig. 5
Trata-se de parte de uma banda delimitativa Considerando que Alfama é uma zona com
de bordo, com uma trança de 3 cordões de bastante água, seria natural proteger o
tesselas vermelhas, amarelas e negras. É mosaico. Por fim, surge uma camada com
um elemento decorativo bastante comum cerca de 5 cm de argamassas onde toda a
que pode ser encontrado por exemplo em estrutura assenta.
Torre de Palma (Monforte), Conímbriga, O M2, possui uma colocação de tesselas
Villa Cardílio ou no Núcleo Arqueológico brancas parecem formar o início de linhas
dos Correeiros em Lisboa. que vão na diagonal em relação a uma linha
Uma análise deste padrão permite propor branca que está junto à área com tesselas
que possa ser um exemplar de opvs negras. As brancas são de dimensão
vermiculatum ou opvs musivvm, por superior às negras. Esta disposição
apresentar linhas onduladas de tesselas e parece apontar para um exemplar de opvs
não linhas paralelas como o que apresentaria vermiculatum ou opvs musivvm, devido ao
um mosaico em opvs tesselatvm facto das linhas quererem formar um tipo
Outro aspecto extremamente relevante é de relevo.
o facto de ainda conter toda a estrutura de Os fragmentos M3 a M5 apresentam linhas
colocação no solo. As tesselas ou tesserae paralelas a branco e negro, amarelo e
encontram-se numa camada fina de cal, vermelho.
formando o desenho pretendido, com cerca Os mosaicos elaborados com maior
de 2 mm de espessura. Esta camada está cuidado e detalhe são mais comuns a partir
sobre uma outra de opvs signinvm, com do século II, quando o esplendor das uillae
cerca de 5 mm, que muitas vezes era começava a aumentar, reflectindo-se nos
Fig. 3 inserida para impermeabilizar o mosaico. elementos arquitectónicos e decorativos.
pág. 120 pág. 121
A dimensão das próprias tesselas, maiores ou estariam bem próximos, permitindo
que nos exemplares dos séculos I a.C e apresentar uma proposta de como poderiam
I, também apontam para esta cronologia, ser parte dessas pinturas. Além dos motivos
século II ou posterior. geométricos como bandas amarelas,
vermelhas ou a negro, também se encontra
PINTURAS MURAIS representado motivos vegetalistas (Fig.6).
Usando Pompeia como exemplo , pode-se
Este tipo de decoração não teria, em verificar que o vermelho e o negro eram
Período Romano, apenas um objectivo usados em grande quantidade como cores
estético, mesmo os exemplares mais de fundo, e o amarelo seria mais usado
impressionantes e elaborados, como é o em molduras e limites de representações.
caso dos famosos murais de Pompeia. Também comum seria a representação de
Podem ser vistos como um complemento plantas, ou de paisagens mais elaboradas.
das estruturas arquitecturais e dos espaços Infelizmente estes fragmentos não permitem
em seu redor, muitas vezes funcionando determinar se seria uma dessas paisagens,
como um prolongamento visual da área em ou apenas representações vegetalistas
que estão incluídos. Ou seja, funcionariam sobre um fundo branco.
como um elemento de ilusão: ao olharmos
para as pinturas, teriamos a percepção INTERPRETAÇÃO E CONSIDERAÇÕES
do espaço se prolongar para “dentro” da FINAIS
pintura, dando a ideia de ser muito maior
do que realmente era. Este conjunto pode ser considerado um
As pinturas não seriam um elemento bom exemplo da variedade e tipologia
exclusivo das classes mais abastadas das de material utilizado na edificação de
comunidades, comprovado justamente estruturas em Período Romano. Mas não
pelos achados de Pompeia. As paredes apresentam evidências suficientes para se
estucadas, mesmo as viradas para poder interpretar de que tipo de construção
as ruas, de casas comerciais ou até pertencia. Ou até se provêem de diferentes
de bordeis surgem ainda hoje com as construções. É preciso não esquecer a
pinturas preservadas, seja simples ou mais complexidade urbana da zona, fortemente
elaboradas, e muitas vezes, com epigrafia, ocupada desde o período romano, com
que se podem comparar com os graffitis sobreposições construtivas.
urbanos que hoje podemos encontrar nas O facto de se ter encontrar poucos elementos
cidades. em mármore ou calcário parece evidenciar
Nesta escavação foi recolhido um grande que o desmantelamento da estrutura ou
conjunto de pinturas deste tipo embora estruturas, após o seu abandono, poderiam
bastante fragmentadas. Apesar disso ter servido para o reaproveitamento do
demonstram ter uma variedade cromática material, por exemplo, na cerca Baixo-
e estilística. Não o suficiente para se Imperial que passa a pouca distância do
conseguir reconstruir os motivos, mas foram local, na Rua de São João da Praça/Pátio
agrupados de acordo com o seu conteúdo. da Murça.
Alguns dos fragmentos colavam entre si, A análise de todo os materiais recolhidos
pág. 122 pág. 123
que se encontra em fase de estudo, deverá
fornecer mais dados para a interpretação
BALMELLE, Catherine, et al. , Le Décor Géometrique de la
Mosaïque Romaine I – Répertoire graphique et descriptif dês Revista
do sítio. compositions linéaires et isotropes, Ed. A. Et J. Picard, Paris,
Existem várias possibilidades de 1985.

interpretação quanto à sua proveniência, BARBET, Alix, (dir), La Peinture Murale Antique – Restituition
tendo em conta a localização do sítio no et Iconographie – Actes du IXe Séminaure de l’A.F.P.M.A.-
Paris 27-28 avril 1985, Editions de la Science de l’Homme,
espaço externo de Olisipo. Por exemplo, Paris, 1985.
poderão provir de um contexto funerário.
Foram encontrados restos de uma CORREIA, Licínia Nunes, Decoração Vegetalista nos
Mosaicos Portugueses, Edições Colibri, Lisboa, 2005.
incineração, mas que já não se encontrava
in sitv , que incluía vestígios osteológicos, LANCHA, Janine, O Mosaico das Musas – Torre de Palma,
MNA, Lisboa, 2002.
e um vngventarivm em vidro do século I .
Mas estaria deslocado da sua localização MaCMILLAN, Chlöe, Mosaïques Romaines du Portugal, Porte
original, provavelmente durante o du Sud, Paris, 1986.
desmantelamento da estrutura. MACIEL, Justino, Antiguidade Tardia e Paleocristianismo em
Outra hipótese é de pertencer a estruturas Portugal, Edições Colibri, Lisboa, 1996.
habitacionais que existiriam naquela zona
MAZZOLENI, Donatella, e tal. Domus: Wall Painting in the
da cidade. Considerando que na zona da Roman House, The J. Paul Gelly Museum, Los Angeles, 2004.
actual Baixa Pombalina, concentravam-se
PESSOA, Miguel, Contributo para o Estudo dos Mosaicos
as áreas industriais com a produção dos Romanos no Território das civitates de Aeminium e de
preparados de peixe (como os exemplos Conímbriga, Portugal, in Revista Portuguesa de Arqueologia,

Tempos Diferentes requerem


que se pode encontrar no Núcleo da Rua Vol. 8, nº 2, Lisboa, 2005.

dos Correeiros, ou na Casa dos Bicos); SANTOS, Ana Rita Soares dos (Coord.), Mosaicos Romanos
numa perspectiva lógica, a cidade teria que

soluções diferentes
nas colecções do Museu Nacional de Arqueologia, Instituto
crescer no sentido oposto, afastando-se Português de Museus, Lisboa, 2005.

dos cheiros e detritos da zona industrial. A VIEGAS, Catarina; ABRAÇOS, Fátima; MACEDO, Marta.
zona de Alfama seria a indicada para isso. Dicionário de Motivos Geométricos no Mosaico Romano,
Conímbriga, 1993.
Quanto a cronologia, estes materiais
parecem pertencer ao século II, estando VITRUVIO, Tratado de Arquitectura – tradução do Latim,
o momento da destruição do/s edifício/s Introdução e Notas por M- Justino Maciel, Press, Lisboa, 2006. Revista Portugalromano.com, soluções de publicidade à sua medida.
Legenda
datáveis do século III, reforçada pela 1 - VITRUVIO, Livro III.13.
presença de uma moeda do imperador 2 - A porção de moldura que se encontra a tracejado no
desenho, não foi possível colocar visível na sua totalidade.
Gordiano II que esteve no poder no ano de
3 - Livro III
238. 4 - ALARCÃO e BELOTO, 1987, pp.29-32. – Embora seja mais Mais informações:
comum denominar todos os mosaicos de opvs tesselatvm, os
autores apresentam uma tipologia que varia de acordo com a
Bibliografia:
disposição das tesselas, e dos efeitos que estes apresentam. portugal.romano@gmail.com
ALARCÃO, Adília; BELOTO, Carlos, Restauro de Mosaico, 5 - Exemplo do Mosaico das Musas, da Villa de Torre de
Instituto Português do Património Cultural, Lisboa, 1987. Palma, apresentada como tendo sido construído durante os
séculos III, inicio IV. (LANCHA, 2002).
ALARCÃO, Jorge de, O Domínio Romano em Portugal, 6 - O estudo de MAZZOLENI (2004) sobre as pinturas de
Publicações Europa-América, Lisboa, 1988. Pompeia demonstram com grande detalhe nos vestígios
encontrados esta ideia de ilusão.
AMARO, Clementino et al. (coord.), O Núcleo Arqueológico da 7 - MAZZOLENI (2004)
Rua dos Correeiros. Catálogo, Lisboa, 1995. 8 - Durante a intervenção de 2007.

pág. 124 pág. 125


fotoreportagem

As escavações de castro de chibanes (Palmela)


por: Raul Losada

pág. 126 pág. 127


pág. 128 pág. 129
pág. 130 pág. 131
pág. 132 pág. 133
pág. 134 pág. 135
A ntes da ocupação romana da região da
Numídia, a cidade de Thugga era a capital de
um estado Libyco-púnico importante, construído
num local elevado com vista para uma planície
fértil em frente da cadeia montanhosa de
Teboursouk, na actual Tunísia.
Floresceu sob o domínio romano e bizantino.
As impressionantes ruínas que hoje são visíveis
dão uma ideia dos recursos de uma cidade
romana na periferia do império.

Thugga, O sítio arqueológico de antiga Thugga, actual


Dougga está localizado na região Noroeste da

uma cidade romana da África Nova Tunísia, no topo de uma colina a uma altitude de
571 m, dominando o vale fértil de Oued Khalled.
texto: Unesco Antes da anexação romana da Numídia, Thugga
já existia, possivelmente há mais de seis séculos
fotos e tradução: Raul Losada
e foi, ao que se sabe, a primeira capital do reino
da Numídia.

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O sítio arqueológico cobre uma área de as duas comunidades juridicamente
aproximadamente cerca de 75 ha. Estas distintas, uma população indígena e a
ruínas apresentam uma cidade bastante comunidade de colonos, na sua maioria
conservada, um testemunho de mais de cidadãos romanos, conviveram na mesma
17 séculos de história, sendo um excelente cidade e no mesmo território, participado
exemplo que ilustra a síntese entre as no desenvolvimento e florescimento da
diferentes culturas: númida, Púnica, cidade.
helenística e romana.
Constitui um exemplo representativo de
Apesar de sua importância relativa na uma cidade Magrebe sob domínio dos reis
estrutura administrativa da província da Numídia e durante os primeiros séculos
romana da África, Thugga possuía um do Império Romano.
grupo notável de edifícios públicos,
datados a maior parte dos séculos II e Em comparação com outros sítios
III d.C., que foram integrados dentro do arqueológicos semelhantes na
tecido urbano, essencialmente Numida. África do Norte, as ruínas da cidade
romana e pré-romana de Thugga são
É considerada um dos mais bem surpreendentemente completas e bem
preservados exemplos de uma cidade da preservadas.
Africa nova romana, espelhando-se nela a
vida diária na Antiguidade. Dentro do seu vasto limite, o sítio
arqueológico de Dougga conserva na
Em Thugga pode conhecer-se também sua totalidade os vestígios de diferentes
o nascimento, desenvolvimento e períodos da cidade antiga: o centro
história de uma cidade indígena desde monumental (capitólio, fórum, mercado,
o segundo milênio a.C., com uma planta templos, lojas, ruas, bem como os edifícios
de base indígena, que mantendo o seu de entretenimento, como o teatro e o circo e
tecido urbano em grande parte Numídia, as termas públicas, reflectindo claramente
assume o aspecto de uma cidade romana a forma como uma fundação indígena
monumental. evoluiu durante o período romano
Do sítio arqueológico foi recolhida uma
importante colecção epigráfica, constituída
por mais de 2000 peças com inscrições Descrição Histórica
em líbio, Púnico, bilíngue, grego e, na sua
O sítio arqueológico de Dougga é o
maioria, em latim.
exemplo mais bem preservado no norte
Estes achados deram contribuição decisiva da África do surgimento, desenvolvimento
para decifrar a linguagem dos antigos e vida diária de uma cidade da Numídia
povos númidas e do conhecimento da vida indígena.
social e municipal, atestando o nível de
desenvolvimento alcançado pela cidade, Muitos dos seus monumentos são únicos
nos séculos III e II a.C.. e testemunho da síntese harmoniosa
de diversas culturas - númida, Púnica, O Capitólio
Durante cerca de dois séculos e meio, helenística e romana - tornando-o um local
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excepcional. duas comunidades juridicamente distintas: anfiteatro, circo, mercado, cisternas e Púnica), construída em torno de 230. O
uma população indígena governada de fontes públicas, e a vida privada também templo de Saturno, na orla do aglomerado
Com base em recentes escavações de acordo com seus sistemas tradicionais, está bem representado por casas grandes pré-romano, está localizado no sítio de um
uma necrópole, a origem da antiga cidade e uma comunidade de cidadãos romanos e pequenas, lojas e mausoléus. antigo santuário dedicado a Baal.
aponta para uma fundação do local, no pertencentes à colonia romana de Cartago,
século V a.C. que vivia de acordo com a lei romana. O fórum, pequeno e rectangular, cercado Existem dois arcos de triunfo, um dedicado
por uma colunata de mármore, é a Septímio Severo em estado muito
No início do século II aC, tornou-se uma das De acordo com os textos do historiador atravessado por parte das fortificações degradado, e outro a Severo Alexandre
capitais do reino Numídia, transformando- grego Diodoro Sículo, que viveu durante o construídas pelos bizantinos. que ainda apresenta a sua altura original
se no centro da cultura Libyco-púnica. século I a.C., Thugga era uma cidade de considerável.
“bom” tamanho’. O seu Capitólio, dedicado a Júpiter, Juno
Depois da derrota de Juba I na batalha de e Minerva, é um dos mais belos edifícios Nas termas publicas é de destacar o bem
Thapsus, Júlio César anexa, em 46 a.C., Os seus habitantes terão ultrapassado os romanos na África do Norte. O teatro preservado laconicum, datado do século
a região oriental do reino Numídia como 5.000, e floresceu a partir de sua economia tem capacidade para 3500 pessoas e III, é um excelente exemplo deste tipo de
província romana, na recém criada região rural com base nos seus ricos e férteis apresenta uma arquitectura padrão do instalações municipais.
romana da África Nova. campos. estilo romano. A sua área de cena foi
originalmente pavimentada com mosaico. Um dos monumentos mais significativos
Durante dois séculos e meio, a partir do A cidade romana possui um conjunto em Thugga é o mausoléu Lybico-púnico,
reinado de Augusto (27-14 aC), a cidade notável de edifícios públicos - templos e Entre os muitos templos, destaca-se o túmulo do príncipe barbere Atebán, datado
foi, como já referimos, constituída por santuários, fórum, banhos públicos, teatro, dedicado a Juno Caelestis (a deusa Tanit da primeira metade do século II a.C..
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Busto de Lucius Verus,
proveniente de Dougga, Museu
Nacional de Bardo (Tunes,
Tunísia).

Mosaico do “Cocheiro
Vitorioso”, século IV,
proveniente de Dougga, Museu
Nacional de Bardo (Tunes,
Tunísia).
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Mosaico de “Ulisses e as sereias”, século II, proveniente de Dougga, Museu Nacional de Bardo (Tunes, Tunísia).

O monumento situa-se na parte sul da numerosas inscrições. Apenas no século


cidade, tendo sido parcialmente destruído V d.C Thogga sofre o seu declínio.
em parte em 1842 por um cônsul britânico

Imperium Romanorum
com intuito de alcançar uma inscrição de Com restabelecimento do governo
escrita líbia e púnica, que foi enviada para bizantino (533-698) Thugga passa a ter
Londres. Foi reconstruída em 1908-10, um papel secundário na vida política e
tento recuperado o seu aspecto original. económica da região.

Este é o único monumento arquitetura O fórum e Capitólio foram fechadas por um


Púnica que ainda sobrevive na Tunísia. muro, e a alguns dos importantes edifícios
públicos foram destituídos e/ou retirados
Sob a dinastia dos Severos (193- os seus elementos decorativos.
235) Thugga foi elevada ao estatuto
de municipium, recebendo o título de O nome latino de Dougga ou Thugga Thugga
“Municipium Septimium Aurelium Liberum” deriva da “Tukka” púnica, que terá tido
tendo-a o Imperador Galiano elevado, em origem no nome barbere.
261, ao estatuto de colónia, o mais alto O sítio arqueológico é classificado pela
nível de uma cidade romana de província. UNESCO como património da Humanidade
Tornando-se a sede de um bispado desde 1997.
no século III, a sua prosperidade esta
comprovada pela quantidade considerável
de restauros e reabilitação atestada em UNESCO
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T odos dias sem nos darmos conta tropeçamos
nas caches pois estão invisíveis aos nossos
olhos. A forma como se enquadram no ambiente,
do qual acabam por ser um complemento, é
um dos fascínios do geocaching. No entanto,
a dissimulação não é o único fator de sucesso
numa atividade que cada vez ganha mais adeptos
a nível mundial, contabilizando-se actualmente
mais de 5 milhões de geocachers e cerca de 1,7
milhões de caches para descobrir.
A primeira cache foi colocada em 3 de Maio
de 2000 por Dave Ulmer nos Estados Unidos.
Ainda não tinha decorrido um ano e estava
escondida a primeira cache em Portugal (2 de
Fevereiro de 2001) que se chamava “ AlfaRomeu
Abandonado!”, com a particularidade de já ter
sido arquivada.
O geocaching pode ser considerado um jogo de
caça ao tesouro da era moderna. Praticado no
exterior, tem outras virtudes como estimular o
espírito da descoberta, a orientação, a atividade
física e o conhecimento que adquires ao estudar

O mundo secreto dos a localização da cache. Os praticantes têm


que localizar as caches escondidas por outros

tupperwares para muggles


em diversos locais e para o efeito devem usar
um recetor GPS (GPSr) ou outros dispositivos
móveis equipados com GPS. As caches mais
típicas são constituídas por pequenas caixas
por: José Cabanilhas
ou mesmo por tupperwares fechadas à prova
de água contendo um livro de registo de visitas

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(logbook), uma pequena folha explicativa do archived”) ou a necessidade de manutenção
geocaching (stashnote), material de escrita, (“Needs maintenance”). Tudo isto pode ser
algumas moedas especiais denominadas ainda complementado com comentários,
“Geocoins” ou outros objetos de pequeno histórias ou mesmo com a colocação de
valor conhecidos por “Travel Bugs (TB)” fotografias pedindo-se apenas que não
que se destinam a serem trocados para que sejam demasiado explícitas para não
também estes possam viajar de cache em comprometer o prazer da descoberta aos
cache. geocachers seguintes. Por norma, o registo
é finalizado com o acrónimo TFTC “Thanks
Assim, que a cache é descoberta, os TB e For The Cache” ou, em versão portuguesa,
as Geocoins são igualmente movimentados OPC “Obrigado Pela Caixa”.
de forma virtual existindo um sítio na internet
acessível em www.geocaching.com onde As caches podem estar nos locais mais
se deve efectuar o registo apropriado quer diversos como jardins, pontes, monumentos,
das descobertas, quer destes movimentos. auto-estradas, estações de comboio, sítios
É deste sítio, o mais popular e conhecido arqueológicos, praias, dentro de lagos, em
dos disponiveís, que se retira a informação desertos, na vegetação densa, em ravinas
inicial como as coordenadas, as pistas e a exigindo-se neste último caso material
temática a que alude a cache de modo a de escalada para a sua descoberta. Dos
descobri-la. Esta primeira etapa – o estudo exemplos citados facilmente vês que podes
e a recolha de informação disponibilizada encontrar as caches desde os sítios mais
– torna-se fundamental para o sucesso banais aos mais impensáveis.
da aventura. A descoberta da cache,
porventura o fator mais importante, alia-se o Camaleónicas, as caches assumem as mais
mais pontos intermédios para determinar as naturais a que a Terra está sujeita.
conhecimento que se adquire sobre o tema diversas formas, estando sempre muito bem
coordenadas finais da cache. Enquanto que
que cada uma representa. dissimuladas. Quanto às dimensões, vão
nas Mystery ou Puzzle Caches temos que
das mais pequenas denominadas por micro-
Por ocasião do registo do resultado da nossa resolver um enigma ou um puzzle, como Após esta classificação, que não pretendeu
cache - onde quase só cabe o logbook sendo
aventura existe uma terminologia comum aos o próprio nome indica, para as encontrar. ser exaustiva pois ainda existem mais
por norma o container um rolo fotográfico de
geocachers que vai construindo o histórico Por sua vez, as Event Cache destinam-se a alguns tipos de caches, pode-se afirmar que
35 mm - a caixas maiores com mais de 20
da cache. Este é de extrema importância organizar um encontro de geocachers num a verdadeira aventura começa quando se
litros de capacidade conhecidas por large
pois permite quer ao proprietário, designado que facilmente suportam os conteúdos já determinado local e dia. As Letterbox Hybrid vai para a rua em família, com amigos ou até
por owner (também ele pode fazer registos), referidos no início. Existem ainda caches são caixas com uma história ou dicas que mesmo sozinho e caminhamos em direcção
quer aos outros geocachers saberem com virtuais onde, e neste caso não existe nos levam a um ponto onde se encontra ao Ground Zero (GZ), correspondendo
precisão o que se passa com a cache. O que logbook, é solicitada ao geocacher uma foto a cache. Nas Webcam Cache, a exemplo este ao ponto zero das coordenadas. Aí,
mais gostamos de colocar é o “Found it” pela do local ou outra situação que documente a das virtuais, o geocacher necessita de ser ao sermos guiados pelo GPSr abstraímo-
representatividade que isso tem em termos sua passagem pelo sítio. filmado com o GPSr para provar a sua visita. nos quase por completo da realidade
do sucesso alcançado. No entanto, apesar Para as Wherigo Cache deve ser usado um exterior. Algo, que pode ser preocupante
do “Didn’t find it (DNF)” não ser totalmente A sua classificação difere de acordo com PDA, um PC ou um GPS com capacidade pois algumas caches encontram-se em
do nosso agrado deve-se sempre fazer a forma como se chega à cache ou o seu de correr um jogo que vai guiando os zonas de elevada perigosidade (junto a
registo dos desaires pois isso pode indiciar propósito. As mais comuns são as Traditional geocachers na procura da cache. Por fim, as estradas, linhas férreas, precipícios) e com
aos restantes que existe um problema com Cache cujas coordenadas exatas são obtidas Earthcache são um tipo especial de caches, o frémito da aproximação progressiva à
a cache. Existem outras possibilidades directamente dos sítios na internet. Para as estando localizadas em locais de interesse cache desligamo-nos, por vezes, do que
de registo como a escrita de notas (“Write Multi-cache é-nos dado um ponto de partida geológico, cuja principal função é promover nos rodeia. Chegados ao local, munidos da
note”), a necessidade de arquivo (“Needs mas necessitamos de uma visita a um ou o conhecimento científico dos processos informação obtida anteriormente, iniciamos
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uma observação cuidada tentando aliar a sua cache, de “Cache In, Trash Out” (CITO),
forma ao seu esconderijo começando pelos que simplesmente consiste na recolha do
locais mais óbvios e acessíveis. E acredita: lixo existente no local enquanto procuras
graças à imaginação e ao engenho do owner a cache. Deste modo, e numa acção
da cache, quer os esconderijos quer as voluntariosa, alteras o espaço para um local
suas formas podem ser de uma diversidade mais agradável preservando a natureza
imensa, pelo que se uma exploração inicial e tornaste-te um agente de consciência
como a indicada não resultar, temos de ambientalista. Outra regra fundamental de
“entrar na mente” do owner. um verdadeiro geocacher é o “Leave No
Trace” que consiste em nunca alterar a
Feita a descoberta, e apesar do jubiloso paisagem onde se insere a cache.
sentimento de triunfo, a máxima discrição é
exigida. Isto aplica-se em especial se formos Na preparação da atividade de geocaching
acompanhadas de crianças pois a miudagem existem alguns cuidados elementares a ter
tem uma tendência natural e incontida para quando se sai à descoberta das caches,
gritarem quando encontram as caches. Os nomeadamente levar água e comida, roupa
muggles, como os geocachers definem as e calçado confortável e resistente, luvas,
pessoas que não conhecem esta atividade protetor solar, mochila, bastão de caminhada,
secreta e numa alusão às pessoas não- mapas (dão informação orográfica ou
mágicas no mundo do Harry Potter, não se de obstáculos naturais que possam
podem aperceber da existência duma cache existir), telemóvel, lanterna se a atividade
num determinado local, pois posteriormente a desenvolver for em locais de pouca
também eles, com uma curiosidade ávida, luminosidade ou for noturna, esferográfica
vão tentar perceber o que está escondido e e papel, pois pode ser necessário tirar
podem mesmo destruir irremediavelmente a notas ou mesmo substituir um logbook que
cache. Apesar da mesma ter uma stashnote, esteja cheio, e seria demasiado frustrante
a tal folha explicativa dos objectivos do jogo, não conseguir efetuar o registo por falta de
a apelar a preservação da cache se for material. Ainda assim, tornas o papel que pode ser praticado de forma solitária, não http://www.geocaching.com/seek/cache_
encontrada “acidentalmente”. levaste contigo num novo logbook dando o aconselhamos, pois, como para qualquer details.aspx?guid=5a0a58b5-cca6-4eaf-
continuidade à cache. Claro que esta lista atividade de ar livre, além de ser mais ae37-07cb46a00107
Não obstante ser uma atividade organizada deve ser adaptada em função das caches a
e praticada maioritariamente em locais seguro e divertido, partilhas as experiências,
encontrar. Vila Romana de Casais Velhos (Cascais)
públicos ou em privados, mas com a devida emoções e conhecimento. Se tencionas
autorização dos proprietários destes últimos A informação disponibilizada pelo owner da mesmo ir sozinho, deves avisar sempre http://www.geocaching.com/seek/cache_
espaços, há sempre uma sensação fugaz de cache e os registos dos outros geocachers alguém sobre os locais para onde vais. details.aspx?wp=GC15CWJ
ilicitude talvez por estares a descobrir algo também são de vital importância e
permitem-nos conhecer de antemão o que E por falar em locais onde ir aqui ficam Itinerário XII - Olisipo / Emerita (Setúbal)
que não pode ser revelado aos muggles.
se nos vai deparar pelo caminho, pelo que diversas sugestões que te vão fazer
http://www.geocaching.com/seek/cache_
Quando abandonamos o local há que se aconselha a sua leitura atenta. Uma percorrer o Portugal Romano e conhecer um
ter a certeza que colocamos a cache tal details.aspx?guid=b8d19f13-9841-4cea-
boa preparação física, apesar de não ser legado fascinante cuja informação detalhada
como a encontramos para que esta tenha exigível, é aconselhável, pois o caminho a 9c14-865e01b7a892
sobre os mesmos podes facilmente aceder
continuidade e os próximos visitantes percorrer pode ser longo ou podes mesmo através dos links que são apresentados em Waterworks II (Barragem Romana de Belas)
usufruam também eles do gozo do achado. ter que correr para fugir de algum animal seguida:
Outro aspeto importante é a prática, mesmo que apareça inesperadamente. Embora, http://www.geocaching.com/seek/cache_
que não solicitada pelo owner na sua já tenha sido referido que o geocaching Ponte Romana Vila Formosa (Seda) details.aspx?wp=GC19JVD
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O Azul de Cacela Velha
http://www.geocaching.com/seek/cache_
details.aspx?wp=GC14NHC
Fonte romana de Arcos (Montalegre) Revista
http://www.geocaching.com/seek/cache_
details.aspx?wp=GC2WZH7
Villa Romana de Milreu (Estói)
http://www.geocaching.com/seek/cache_ Águas Passadas (Viana do Castelo)
details.aspx?guid=17711cb5-5a9e-462a-
abb6-04d8cac724e0 http://www.geocaching.com/seek/cache_
details.aspx?guid=3b59da6e-c767-42f8-
852e-7823e08c0758
Villa Romana da Tourega (Évora)
http://www.geocaching.com/seek/cache_ Castro de Chibanes - Povoamento
details.aspx?wp=GC1GX68 Calcolítico (Palmela)
http://www.geocaching.com/seek/cache_
Ponte Romana da Torre de Dona Chama details.aspx?wp=GC1HH5V

http://www.geocaching.com/seek/cache_
details.aspx?wp=GC3CAD1
# 23 Wtshnn - Estrada Romana dos

Tempos Diferentes requerem


Almocreves (Oliveira de Frades)

Caverna Romana - Conímbriga http://www.geocaching.com/seek/cache_

soluções diferentes
details.aspx?guid=3e210d5f-f390-4555-
http://www.geocaching.com/seek/cache_ 9f6c-ed6a4b81cab6
details.aspx?guid=b3275d2a-f6eb-4196-
af0c-111838b1cd2d
# 24 Wtshnn - Ponte Romana (São Pedro
A Ponte Romana de Arosa (Póvoa de
do Sul) Revista Portugalromano.com, soluções de publicidade à sua medida.
Lanhoso) http://www.geocaching.com/seek/cache_
details.aspx?guid=d4f33121-e469-4041-
http://www.geocaching.com/seek/cache_
9322-399a98159c3e
details.aspx?wp=GC3EVEA Mais informações:

Agora que acabaste de ler este artigo e portugal.romano@gmail.com


A Ponte Romana de Castelões (Póvoa de
deixaste de ser um muggle, convido-te a
Lanhoso)
ler o resto desta edição, descarregares as
http://www.geocaching.com/seek/cache_ coordenadas de algumas das caches aqui
details.aspx?guid=971ab7ce-2382-42c3- indicadas, desligares o computador e ires à
a5a3-3ffa5ea82fb3 aventura. Boas “cachadas” romanas!!!
pág. 152 pág. 153

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