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APRENDIZADO E DA CULTURA
Espalhados por partes fundamentais do cérebro – o córtex pré-motor e os centros para linguagem,
empatia e dor – esses neurônios agem quando realizamos uma determinada ação e nos momentos
em que observamos alguém realizar essa ação. Na sua forma mais básica, isso significa que ensaiamos
ou imitamos mentalmente toda ação observada.
Sua ação explica, por exemplo, como aprendemos a sorrir, conversar, caminhar ou dançar. Em nível
mais profundo, a revelação sugere que existe uma dinâmica biológica para a complexa troca de idéias
a que chamamos “cultura”.
O neurologista e escritor Oliver Sacks conta o caso da mulher que aprendeu a se comunicar sem
palavras após um derrame.
Todas as vezes que o macaco agarrava ou movimentava um objeto, algumas células dessa região do
cérebro disparavam e um monitor registrava um som.
O macaco olhou fixamente para ele e, em seguida, algo espantoso aconteceu: quando o estudante
levou a casquinha aos lábios, o monitor soou novamente – mesmo o macaco não tendo feito nenhum
movimento, apenas observado o aluno.
As mesmas células cerebrais disparavam quando o macaco via seres humanos ou outros macacos
levarem amendoins à boca ou quando ele próprio fazia isso.
O cérebro do macaco tem uma classe especial de células, os neurônios-espelho, que disparam quando
o animal vê ou ouve uma ação e quando a executa por conta própria.
Mas, se essas descobertas, publicadas em 1996, surpreenderam a maioria dos cientistas, uma recente
pesquisa deixou-os estupefatos.
Descobriu-se que os seres humanos têm neurônios-espelho muito mais perspicazes, flexíveis e
altamente evoluídos do que os encontrados nos macacos, um fato que teria resultado na evolução de
habilidades sociais mais sofisticadas nos seres humanos.
"Somos criaturas requintadamente sociais", diz Rizzolatti. "Os neurônios-espelho nos permitem captar
a mente dos outros não por meio do raciocínio conceitual, mas pela simulação direta. Sentindo e não
pensando."
Encontradas em várias partes do cérebro, essas células disparam em resposta a cadeias de ações
relacionadas a intenções.
Algumas são acionadas quando uma pessoa estende a mão para pegar um copo ou observa alguém
pegar um copo; outras disparam quando a pessoa coloca o copo sobre a mesa e outras ainda quando
a pessoa estende a mão para pegar uma escova de dentes e assim por diante.
Elas reagem quando alguém chuta uma bola, vê uma bola sendo chutada e diz ou ouve a palavra
"chutar".
"Quando você me vê executar uma ação, você automaticamente simula a ação no seu cérebro", diz
Marco Iacoboni, neurocientista da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA), que estuda o tema.
"Circuitos cerebrais o inibem de se mover, mas você entende minhas ações porque tem no seu
cérebro um padrão dessa ação baseado nos seus próprios movimentos."
"E, se você me ver emocionalmente aflito por ter perdido uma cesta, os neurônios-espelho do seu
cérebro simulam minha aflição. Automaticamente, você sente empatia por mim porque, literalmente,
sente o que estou sentindo."
B IOLOGIA E CULTURA
Até então, os estudiosos vinham tratando a cultura como fundamentalmente separada da biologia.
"Mas agora vemos que os neurônios-espelho absorvem a cultura diretamente, com cada geração
ensinando a próxima por meio do convívio social, imitação e observação", completa Patricia
Greenfield, psicóloga da UCLA.
Alguns cientistas acreditam que o autismo pode estar relacionado a neurônios-espelho malformados.
Mesmo observando outras pessoas, não sabem como é se sentir triste, com raiva, desgostoso ou
surpreso.
1 - REGIÃO FRONTAL
É nela que as ações são planejadas, decididas e executadas. Pode abrigar os neurônios-espelhos que
imitam a ação de outras pessoas, possivelmente relacionados ao aprendizado. Exemplo: a criança que
aprende a escovar os dentes vendo o pai escovando
2 - REGIÃO PARIETOFRONTAL
Área que conjuga a tomada de decisão da região frontal com os cinco sentidos humanos. Também
está relacionada às emoções. Podem estar nela os neurônios-espelhos que reagem quando uma
pessoa vê uma cena de violência na televisão e se sente angustiada por isso
Ao mostrar a língua para um bebê recém-nascido, ele fará o mesmo. Seus neurônios-espelhos
respondem à ação do adulto, mesmo que ele nunca tenha visto esse gesto antes.
IMITAÇÃO
Muitas das coisas que as crianças aprendem estão diretamente ligadas à observação do que os
adultos fazem. Imitar é uma forma de aprendizagem. O mesmo vale quando se assiste a uma partida
de um ídolo do esporte para aprimorar a técnica.
EMPATIA OU REJEIÇÃO?
Assistir a uma novela na televisão também ativa os neurônios-espelhos. Cenas de violência despertam
reações no organismo, que é capaz de sentir o que se está vendo.
É difícil encontrar quem não sinta vontade de bocejar quando vê outras pessoas bocejando. Ao
mostrar a língua a seu bebê, um pai o vê responder da mesma forma, ainda que ele tenha acabado de
nascer. Quem assiste à televisão pode ter simpatia pelo mocinho de uma novela e ódio pelo vilão.
Essas três situações podem ter a mesma origem: os neurônios-espelhos. Estudos mostram que essas
células cerebrais nos levam a agir de acordo com o que os outros fazem, e não apenas com o que o
próprio cérebro manda. Mais: tudo o que vemos alguém fazer, fazemos também - nem que seja
apenas em nossa mente. Os neurônios-espelhos lêem a mente dos outros. E influenciam nosso
comportamento a partir da leitura.
Essa função foi descoberta por acaso, há cerca de dez anos. Três cientistas italianos da Universidade
de Parma conduziam um experimento com um macaco. Instalaram fios numa área de seu cérebro que
é responsável pelo movimento. Sempre que o macaco pegava ou movia um objeto, determinadas
células cerebrais disparavam. O monitor em que os eletrodos estavam ligados registrava a área de
localização desses neurônios e emitia um sinal. Como era verão, um dia um aluno entrou no
laboratório tomando um sorvete. Quando o rapaz levou a casquinha à boca, o monitor começou a
apitar. Foi aí que os cientistas se espantaram: o macaco permanecia imóvel. A cena voltou a se repetir
com outros alimentos, como amendoins e bananas. Portanto, a resposta de seus neurônios-espelhos
só podia vir da ação de outra pessoa. Os cientistas perceberam que as células cerebrais disparavam
quando o macaco via ou ouvia alguém fazer algo ou, ainda, quando ele mesmo realizava uma tarefa.
Assim chegaram às primeiras conclusões sobre a capacidade dos neurônios-espelhos.
Estudos recentes têm mostrado que eles são fortemente relacionados com nossa capacidade de
aprender. Além de responder a ações dos outros - daí o nome espelho -, eles podem ser a chave para
descobrir como o ser humano começa a sorrir, andar, falar e até dançar. Num plano mais profundo,
pode explicar a relação entre as pessoas e como as diferentes culturas são entendidas. "Compreender
as intenções dos outros e ter empatia pelas emoções deles são as principais funções descobertas até
o momento", disse a ÉPOCA o neurocientista Marco Iacoboni, da Universidade da Califórnia, um dos
principais especialistas no assunto. Um estudo do início do ano afirma que crianças autistas têm
atividade menor dos neurônios-espelhos.
"A imitação é um mecanismo-chave para o aprendizado porque ajuda a evitar o desperdício de tempo
com tentativas e erros", afirma Iacoboni. Assistir a um jogo de tênis de Roger Federer, por exemplo,
ajuda um jogador iniciante a aprender as "manhas" do profissional e ampliar seu leque de jogadas.
Por isso, a descoberta das funções dos neurônios-espelhos vem sendo considerada um dos principais
feitos da neurociência. Há cientistas que comparam o nível de importância desses estudos ao das
células-tronco. Mas todos recomendam prudência diante dos resultados. "A descoberta dos
neurônios-espelhos foi muito importante, mas as pessoas precisam ter em mente que eles não
explicam tudo", afirma Iacoboni. "Não dá ainda para saber se, sem eles, o cérebro não faria a mesma
coisa", afirma Ribeiro. O cérebro tem cerca de 100 bilhões de neurônios - dos quais apenas 5% são
espelhos. Não são muitos, mas, se tudo o que se estuda sobre eles for comprovado, esses 5 bilhões
respondem por muito do que somos.
C ONSIDERAÇÕ ES FINAIS
Podemos concluir à luz dos conhecimentos adquiridos, como do surgimento da célula até o neurônio,
unidade fundamental na transmissão de informação, que os aspectos teóricos de base são
imprescindíveis para a chegada de respostas às indagações como: o que é mente, dualidade corpo-
mente, explicação do comportamento.
Como exemplos de novas alternativas de intercâmbio entre os ramos de conhecimento podemos citar
o casal Churchland (1998; 2002), onde seus estudos em filosofia da mente aproximam dados de ponta
de pesquisa tanto em neurociência quanto de ciência computacional, em prol da formulações de
respostas para os já mencionados problemas.
Também devemos citar John Searle (2000), filósofo oriundo da filosofia da linguagem, que abarcou os
conhecimentos propiciados pela neurociência, tentando formular hipóteses coerentes com a
realidade cientifica.
Mais que necessária é a contribuição dos filósofos para as perguntas suscitadas pela neurociência e
filosofia da mente, porém, pede-se àqueles que aceitem este desafio que se inteirem ao menos ao
nível básico (em neurociência), para um rico dialogo interdisciplinar, fomentando discussões
proveitosas entre neurocientistas e filósofos.
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