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PROTOCOLO ESPECÍFICO PTC.SU.019.

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ABORDAGEM E TRATAMENTO DA FIBRILHAÇÃO AURICULAR 28/05/2013

1. OBJECTIVO

Definir o modo de actuação nos doentes que se apresentam no Serviço de Urgência com ritmo de
Fibrilação Auricular (FA).

Este protocolo visa orientar as situações em que a FA tenha motivado pelos seus sintomas a vinda
ao SU, ou esta, seja um achado pela exploração do exame objectivo e/ou avaliação
electrocardiográfica, a abordagem deve obedecer aos mesmo princípios gerais.

2. ÂMBITO

Aplica-se a todos os profissionais do Serviço de Urgência do Hospital de Braga.

3. RESPONSABILIDADES

Compete ao Director do Serviço de Urgência a implementação deste procedimento.

4. REFERÊNCIAS

Critério de referência: 35.6

Guidelines for the management of atrial Fibrillation, European Heart Journal (2010) 31, 2369–2429

2012 focused update of the ESC Guidelines for the management of atrial fibrillation, European Heart Journal (2012) 33, 2719–2747

5. DESCRIÇÃO DO PROCESSO

A FA afecta entre 1-2% da população em geral e em idades superiores a 80 anos entre 5-15% dos
indivíduos. Estas estimativas podem estar subvalorizadas atendendo a que em algumas situações
a arritmia é assintomática. O risco de morte é duplicado em doentes com FA e só a instituição de
terapêutica anticoagulante está associada a diminuição deste risco. O risco de Acidente Vascular
Cerebral é cinco vezes superior ao da população sem a arritmia.

O clínico deve identificar as várias formas de apresentação, nomeadamente FA Crónica, FA de


Longa Duração (≥ um ano), FA persistente (≥ sete dias ou que requere cardioversão), FA
paroxística (termina espontaneamente, geralmente em menos de 48 horas).

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Jorge Marques Jorge Teixeira
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Por vezes a FA é secundária a hipertensão, insuficiência cardíaca, miocardiopatia isquémica ou


doença valvular. Existem formas hereditárias de FA e algumas formas induzidas pelo esforço físico
intenso ou consumo de drogas incluído álcool.

Todas as situações de FA persistente/paroxística com menos de 48horas de evolução de sintomas


devem ser orientadas por internista/cardiologista. Nestas situações geralmente está indicada a
cardioversão química ou eléctrica.

Nas situações de FA com duração superior a 48 horas, FA persistente, de longa duração ou


crónica está em princípio contra-indicada a cardioversão, excepto nos casos de compromisso
hemodinâmico, situação em que deverá ser contactado de imediato Internista, cardiologista ou
equipa de emergência Interna. Em todas as situações em que não haja compromisso
hemodinâmico, o único objectivo na primeira abordagem é controlar a frequência cardíaca se
necessário, tendo sempre como objetivo controlar comorbilidades e/ou fatores desencadeantes.
Recorrer a fármacos para controlo de frequência com elevada prudência dada a potencial
toxicidade e efeitos laterais.

Na abordagem do doente com FA no SU, é também responsabilidade do médico atender aos


princípios do tratamento antitrombótico para prevenir o tromboembolismo:

A. A hipocoagulação oral é efectiva na prevenção do AVC isquémico nos doentes com FA e é


a única terapêutica que diminui a mortalidade vascular nos doentes com FA. Daí que todos
os doentes com FA beneficiam da terapia anticoagulante.

B. O tratamento antitrombótico está recomendado em todos os doentes com FA, excepto


naqueles de baixo risco (FA isolada, idade < 65 anos), ou com contraindicações.

C. A natureza da FA (paroxística, persistente ou permanente) não deve influenciar a decisão


da terapêutica com hipocoagulação.

D. O risco hemorrágico deve ser avaliado em todos os doentes com FA antes de iniciar a
hipocoagulação (ver o score HAS-BLED no algoritmo de abordagem).

E. A hipocoagulação oral é preferida em relação à aspirina em doentes com FA com um ou


mais factores de risco para AVC (ver o score CHA2DS2-VASc no algoritmo de abordagem).

F. A aspirina tem um papel limitado na FA e não parece ser mais segura que a hipocoagulação
oral, principalmente no idoso.

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6. ANEXO

 Anexo I – Protocolo de abordagem e tratamento da fibrilhação auricular

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PROTOCOLO ABORDAGEM E TRATAMENTO DA FIBRILHAÇÃO AURICULAR

Fibrilhação auricular

Sintomas com mais de 48 horas Sintomas até 48 horas de evolução

CARDIOLOGIA (53818)

Enoxaparina 1mg/Kg sc

Instabilidade hemodinâmica Instabilidade hemodinâmica

NÃO SIM SIM NÃO

Cardiopatia estrutural

 Compensar comorbilidades ou doença de SIM


NÃO
base associada
 Controlo de resposta ventricular Enoxaparina
1mg/Kg sc Amiodarona ev: Propafenona:
 Digoxina 0.5 – 0.75mg iv (1)
- 5mg/Kg 60 minutos - 600mg po
 Metoprolol até 2.5 – 5.0 mg iv (2)
- 50mg/h até 12horas
Monitorização até 12 horas Monitorização 6h.

FA Ritmo sinusal

Cardioversão eléctrica
 Sedação iv
 Monitorização de ritmo, PA, SAT O2
Cardioversão electiva Controlo de frequência  Material de intubação
 CE sincronizada com 100 – 200 J
 Recobro de 3 horas

FA Ritmo sinusal

Orientação para ambulatório: Orientação para ambulatório: Orientação para ambulatório:


 Hipocoagular 4 semanas  Prevenção tromboembólica:  Hipocoagular 4 semanas se CHA2DS2VASc ≥1
 Consulta de Cardiologia  CHA2DS2VASc* ≥2 – Hipocoagulação  Consulta de Cardiologia se necessário.
 Controlo de frequência  CHA2DS2VASc* 1-2 – AAS/ Hipocoagulação
 Dç. mitral ou próteses – Hipocoagulação
 Controlo de frequência

Controlo de frequência: CHA2DS2VASc


 Carvedilol 3.125 a 25 mg po bid C Insuficiência cardíaca ou disfunção VE 1
 Bisoprolol 1.25 a 10 mg po id H Hipertensão arterial 1
 Digoxina 0.125 a 0.5 mg po id A Idade ≥ 75 anos 2
D Diabetes mellitus 1
S História de AVC/AIT/ Tromboembolismo 2
V Doença vascular 1
A Idade 65-74 1
S Género feminino 1

(1) Avaliar função renal, não deve fazer mais do que 0.75mg iv em 24h.
(2) Avaliar criteriosamente antecedentes e sinais ou sintomas de doença pulmonar crónica e de insuficiência cardíaca. Iniciar com bólus de 2.5mg e
repetir apenas a cada 5 minutos dose de 2.5 – 5.0mg sempre com monitorização ECG, PA e SatO2. Dose máxima de 15mg iv.
FC Frequência cardíaca VE Ventricular Esquerda
FA Fibrilhação Auricular

Anexo I – PTC.SU.019.00 - Abordagem e tratamento da fibrilhação auricular

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