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Síndrome de Adriana Caringi

Texto de Afanázio Jazadji

Adriana, de 23 anos, morava com a família numa casa da Rua Tucuna, na zona oeste da
cidade, invadida pelo assaltante Gilberto Palhares e sua cúmplice Regiane Maria dos Santos.
Avisada por um amigo da família, a polícia cercou o local. Armado com um revólver, Palhares
levou Adriana para a janela do andar de cima da casa. O ladrão quebrou o vidro da janela e
passou a fazer exigências, como a de receber um carro blindado para a fuga.
Agachado junto a um poste, com um fuzil Belga nas mãos, Furlan estudou a cena por 20
minutos antes de atirar. A bala percorreu 30 metros em diagonal e explodiu a cabeça de
Palhares. Adriana, porém, também caiu, morrendo nos braços da mãe, Anna. A terceira
vítima da operação foi Regiane, executada por PMs.
Condenado em 1994 a 2 anos de prisão, Furlan teve a pena atenuada para 1 ano e 2 meses
pela Justiça Militar, que mais tarde permitiu ao policial permanecer em liberdade. A família de
Adriana ganhou na justiça a indenização de US$ 60 mil do governo do Estado.

Oportunidade perdida

Afinal, para que servem os atiradores de elite da Polícia? Não só as pessoas comuns, como
eu próprio, atuando há 40 anos em coberturas de ocorrências policiais, estou perplexo com
certas omissões, verdadeiros descalabros, em que o chamado “procedimento padrão policial”
exige, porém nossos atiradores de elite nunca aparecem.
Seria, ainda, a triste síndrome de Adriana Caringi, aquela bela estudante que, há mais de 10
anos, foi também atingida por um “snipper” do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais da
Polícia Militar), no bairro paulistano das Perdizes? Pode ser...
O caso Caringi desenrolou-se numa tarde-noite, quando um assaltante foi surpreendido no
sobradinho da família e, no andar de cima, agarrou a jovem como refém, transformando-a em
escudo humano. O quarteirão todo foi cercado, coalhado de policiais, repórteres, fotógrafos,
cinegrafistas e curiosos.
Em dado momento, a 150 metros de distância, posicionado atrás de uma árvore, um cabo
PM do Gate, atirador de elite, fez a visada, acertou a pontaria e, devidamente autorizado pelo
comandante da operação, acionou o fuzil 7,62 mm. O projétil, de tão potente, atingiu o
bandido, transfixou seu corpo e, infelizmente, vitimou também a jovem estudante, que morreu
a caminho do pronto-socorro.
A partir de então, todo o procedimento policial para casos com reféns mudou. Ao invés da
triste ocorrência com Adriana Caringi servir para aprimorar as técnicas das nossas polícias
Civil e Militar, constata-se que ela simplesmente inibiu a ação dos pretensos defensores da
segurança pública. Veja-se, por exemplo, o que aconteceu terça-feira passada, em Limeira,
onde um frio latrocida executou um pai de família na rua, homiziou-se na casa de um casal
de 79 anos, esfacelou a cabeça do homem com coronhadas e, tudo isso, assistido por
policiais civis e militares, tentando “negociar” sua rendição. Foi vexatório para a Polícia,
desesperador para a população e sumamente preocupante daqui para a frente. Cadê o
“atirador de elite”, em que momento deve agir, afinal, o especialista em tirar a vida de um
matador comprovado ou em potencial? Em Limeira, frise-se, dois bandidos resolveram atacar
a agência do Banco Itaú, antes do início do expediente. Logo às 8h30 dominaram o vigilante
Juarez Rafael dos Santos (39 anos) e esperaram a chegada do gerente Nivaldo Peres (28),
que foi rendido perto da agência. A caminho do banco, porém, Nivaldo começou a passar
mal a ponto de desmaiar na rua.
Foi o suficiente para que um dos ladrões, Adriano Leonino Bispo dos Santos (22 anos),
encostassem o revólver em seu peito, já no chão, e atirasse várias vezes. Correria na rua, os
bandidos fugiram tomando rumos diferentes e Adriano, procurado por homicídio cometido em
Pindamonhangaba, acabou invadindo a residência dos aposentados Libertino e Beatriz
Pizani, ambos de 79 anos.
A caminho da Santa Casa de Limeira, o gerente do banco Nivaldo Peres morreu. Acionada, a
polícia cercou a casa dos aposentados tentando a captura do latrocida Adriano. Ao se ver
encurralado na residência do casal de idosos, o bandido passou a machucar Libertino com
coronhadas na cabeça. E a polícia a tudo assistia, temendo que ele repetisse o gesto
tresloucado quando atirou no bancário indefeso.
A situação foi se agravando e mais policiais chegavam. Grupos especiais, com roupas
esquisitas camufladas, armas potentes, capuzes ninja, enfim, um desfile de siglas, uniformes
e poderio bélico... para a imprensa documentar. Adriano comandou a operação, exigindo e
obtendo o que queria, desde advogado a parentes, para garantir seu bem-estar.
Assassino procurado, matador frio do gerente de banco, agressor impiedoso do quase
octogenário em sua casa, policiais estrategicamente postados e ... nada. Se atirador de elite
não funciona, para que existir?
Texto de
http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20061112190219AAPkIE8

PS: eu não conhecia este texto do Afanázio Jazadji e a expressão síndrome de Adriana
Caringi, mas sempre tive compaixão pelo cabo que cometeu este erro, infelizmente por
causa deste erro, nossa sociedade fica inerte, paralizada diante de facínoras.

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