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A AUTONOMIA DOS TRABALHADORES RUSSOS E OS

BOLCHEVIQUES: 1917-1921*
Dossiê

Danilo Mendes de Oliveira**

Resumo: este artigo lida com o problema da autonomia dos trabalhadores e sua relação
com os bolcheviques no processo da Revolução Russa, entre 1917 e 1921. Através do es-
tudo dos comitês de fábrica, da Oposição Operária e da Revolta de Kronstadt, este estudo
pretende demonstrar como a questão da autonomia foi tratada pelo Partido Bolchevique.
Os bolcheviques, através da repressão estatal e da implantação da gestão nas fábricas,
impediram a ideia do controle operário. Contribuíram para isso, as circunstâncias em
que se encontrava a sociedade russa no pós-guerra, com o descalabro econômico e a
eclosão da Guerra Civil, e também a maneira como o Partido encarava a questão da
organização da produção. Houve um distanciamento entre a vanguarda política e a base
de trabalhadores durante o processo revolucionário.

Palavras-chave: Revolução Russa. Trabalhadores. Bolcheviques. Autonomia. Gestores.

THE RUSSIAN WORKERS’ AUTONOMY AND THE BOLSHEVIKS: 1917-1921

Abstract: this article deals with the problem of workers' autonomy and its relation with the
Bolsheviks in the Russian Revolution, between 1917 and 1921. Through the study of factory
committees, workers' opposition and the Kronstadt rebellion, this study aims to demonstrate
how the question of autonomy was handled by the Bolshevik Party. The Bolsheviks, by
State repression and the implementation of management in factories, prevented the idea
of workers' control. Contributed to it, the circumstances of Russian society in the postwar
period, with the economic debacle and the outbreak of the Civil War, and also the way the
party was facing the question of organization of production. There was a gap between the
avant-garde and political workers during the revolutionary process.

Keywords: Russian Revolution. Workers. Bolsheviks. Autonomy. Managers.

* Recebido em: 22.06.2016. Aprovado em: 19.09.2016.


** Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP),
Especialista em “História, Sociedade e Cultura” pelo Programa Lato-Sensu da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC-SP), Bacharelado e Licenciado em História pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).

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O
 utubro de 1917 marcou a chegada dos bolcheviques ao poder de Estado na Rússia. A Revolu-
ção criava esperanças de que a classe operária finalmente havia alcançado sua libertação dos
grilhões do capital. Entretanto, a chegada dos bolcheviques ao poder iniciava uma nova etapa
na luta dos trabalhadores russos. Sem um Estado capitalista, a partir daquele momento os operários
enfrentariam a oposição de um Estado controlado pela classe dos gestores. O que estava colocado era
o embate pelo controle operário1.
Houve um golpe no dia 25 de outubro2, consumado por uma vanguarda que se conferiu o direito
de ação pela maioria. Mas também houve revolução através dos direitos aprovados pelos sovietes3, que
reconheciam de forma jurídica as aspirações dos movimentos sociais. Os bolcheviques cederam em
relação aos outros partidos e atores sociais. Permitiram que Socialistas Revolucionários de esquerda,
anarquistas, entre outros participassem do novo governo. Atenderam à paz imediata, reivindicada
pelos soldados. Permitiram que os camponeses continuassem as expropriações de terras. Concede-
ram a secessão aos não-russos. E deram espaço ao controle operário na produção. Mas como Daniel
Aarão Reis Filho questionou em sua obra, seriam estas apenas medidas maquiavélicas? Difícil saber
(REIS FILHO, 2003).
Em 1921, com uma série de greves em Petrogrado4 e a Revolta de Kronstadt5, tornava-se patente
que os rumos tomados pelo Partido Bolchevique6 já não coincidiam com as aspirações dos trabalhadores
russos. A revolução dos bolcheviques foi realizada pelo alto, mas como demonstra Maurice Brinton
em seu livro Os Bolcheviques e o Controle Operário, contou entre seus apoios com a base de luta dos
operários organizados em comitês de fábricas. O que se iniciava dali em diante era um distanciamento
entre a vanguarda política e a base que a havia auxiliado na chegada ao poder de Estado.
O desenvolvimento do processo de distanciamento entre bolcheviques e trabalhadores parecia
confirmar aquilo que Robert Michels havia analisado para o desenvolvimento das sociais democracias
europeias. Em seu livro Political Parties, com primeira publicação em 1911, Michels demonstrava como
o nascimento de oligarquias internas aos partidos de esquerda na Alemanha, Itália, Inglaterra e França
criava uma diferença substancial entre liderança e base (MICHELS, 1959). A análise de Michels não
se pautou sobre a situação na Rússia, posterior ao livro mencionado, mas a separação entre o Partido
Bolchevique e os trabalhadores parece clara aos olhos da posteridade.
Entretanto, há que se levar em conta a diferença dos bolcheviques em relação aos outros partidos
quanto à questão da aproximação com a base. Roy Medvedev alega que a respeito da relação entre
espontaneidade e organização dos movimentos populares, os mencheviques não acreditavam ser pos-
sível organizar formalmente o exército da classe operária. Também Rosa Luxemburgo7 acreditava que
as revoluções não se deixavam domesticar. Já os bolcheviques defendiam que as ações revolucionárias
deveriam ser organizadas (MEDVEDEV, 1978). A crença no papel do método para a revolução era o
que distinguia os bolcheviques em relação às outras tendências.
Segundo Lenin8, com o partido os operários alcançariam a “consciência social-democrata”. Sem
ele, estacionariam em uma “consciência sindical” (LÊNIN, 1978, p. 24). Lenin depositava fé no papel
do Partido para a organização da luta proletária. Contudo, era patente sua descrença em relação ao
surgimento de uma organização autônoma do movimento operário.
Outra ressalva importante levantada por Medvedev consiste no fato de que os bolcheviques
foram os primeiros a tentar edificar uma sociedade socialista. E por não saber ainda como fazê-lo,
agiam de modo empírico. Tal prática os levou a cometer erros terríveis (MEDVEDEV, 1978).
Pode-se argumentar que as circunstâncias históricas não permitiram que os bolcheviques reali-
zassem as reivindicações por autonomia partidas de seus trabalhadores, pois questões como a fome e
a efetivação da vitória contra a invasão branca9 eram mais prementes. Porém, não se pode negar o fato
de que a forma de organização do processo produtivo pensado pelos novos dirigentes não coincidia
com as formas nascidas do processo de luta do operariado.
Como argumenta João Bernardo em seu livro O inimigo oculto, teve lugar na Rússia o cresci-
mento de uma classe social conhecida pelo nome de gestores. Tão marginalizada quanto a burguesia
em relação ao poder de Estado, a classe gestorial fez oposição ao czarismo, enquanto na Europa
Ocidental esta mesma classe já detinha as alavancas econômicas no interior do aparelho político
(BERNARDO, 1979).

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Não era uma classe nova, pois como o próprio autor argumenta em outro livro, Marx Crítico
de Marx, a classe gestorial surgira com o Estado absolutista, mas ainda não havia ganho consciência
da sua diferença em relação às outras classes. A classe gestorial se desenvolvia à medida em que o
Estado moderno progredia na sua centralização das condições para o estabelecimento do capitalismo
enquanto modo de produção dominante. Os gestores não são os proprietários dos meios de produção,
entretanto trabalham para o alargamento das possibilidades de exploração capitalista. O Estado é o
organizador das condições gerais de produção para o capitalismo (BERNARDO, 1977).
Até mesmo em Marx10, segundo João Bernardo, era possível encontrar o pensamento gestorial
oculto quando aquele vislumbrava o controle da produção pelo operariado já apoderado do Estado.
Isso não era algo consciente em Marx, posto que almejava o alcance do comunismo. O modelo da
tomada do poder de Estado pelo operariado para oprimir a classe burguesa na primeira etapa da
revolução correspondia a tirar o controle do processo produtivo das mãos burguesas para passa-lo às
mãos do proletariado. O que Marx não conseguia enxergar, entretanto, era que controlar o processo
produtivo a partir do Estado não se configurava como um desejo do proletariado, mas sim da classe
gestorial. Assim, Marx apresentava “[...] uma expressão ideológica de uma prática simultaneamente
crítica dos capitalistas e reprodutora do capitalismo” (BERNARDO, 1977, p. 330).
O desenvolvimento de formas igualitárias de controle do processo produtivo e dos resultados
deste mesmo processo se daria através da organização autônoma dos trabalhadores. Ainda segundo
João Bernardo, seria preciso criar formas de relações sociais na exterioridade do sistema capitalista
para que elas se desenvolvessem posteriormente como um novo modo de produção. Foi dessa forma
que o próprio capitalismo se desenvolveu, criando novas relações sociais fora do modo de produção
feudal (BERNARDO, 1977).11
O ocultamento do papel dos gestores, já presente no pensamento de Marx, também se ma-
nifestaria na luta contra a liderança bolchevique no pós-Revolução Russa. Alexandra Kollontai12,
membro da organização “Oposição Operária” (rabochey oppozitsii)13, protestava contra a nomeação
dos “especialistas burgueses” para a gestão das fábricas soviéticas. Porém, não havia mais na Rússia
o controle da fábrica pelos capitalistas. O que havia era a gestão do processo produtivo direcionada
pelo Estado. A fábrica não era mais a propriedade privada de um capitalista.
Dessa forma, os trabalhadores não conseguiram alcançar a autonomia nas relações sociais de
produção na Rússia pós-revolucionária. Em seu lugar, o Estado geria o processo produtivo.
A autonomia não era algo novo. Pode-se falar em autonomia no processo produtivo até mesmo
em sociedades anteriores à expansão capitalista, como o mencionam Marcus Rediker e Peter Line-
baugh no primeiro capítulo de seu livro A Hidra de Muitas Cabeças. Era algo presente nas sociedades
americanas e até mesmo nas comunidades camponesas europeias do início da época moderna (LINE-
BAUGH; REDIKER, 2008). O desenvolvimento capitalista centralizou a gestão do processo produtivo
paulatinamente nas mãos do Estado, o que fez esta “autonomia original” se perder.
Em 1871, a Comuna de Paris representou uma tentativa de aplicação da autonomia. Marx e
Engels exaltariam a Comuna, destacando seu caráter auto gestionário. Engels, na introdução de 1891
ao texto A Guerra Civil na França, de Marx, listava os feitos do communards. Entre eles, a abolição
do recrutamento e do exército permanente, o estabelecimento do salário mais alto como o de 6 mil
francos, valendo para qualquer membro ou empregado da Comuna, a transformação de todos os bens
eclesiásticos em propriedade nacional, a criação de planos para a reabertura das fábricas paralisadas
pelos capitalistas a partir do associativismo cooperativista, a abolição do trabalho noturno dos pa-
deiros e a supressão das casas de penhores (MARX, 2008).
No próprio texto de Marx aparece a ideia de “autogoverno dos produtores”. Uma vez que o
regime comunal se estabelecesse em Paris e nas adjacências, o meio rural também seria tomado pela
nova modalidade de governo, pela qual ganharia corpo uma assembleia de delegados revogáveis a
qualquer momento e o exército permanente seria “[...] substituído por uma milícia nacional com um
tempo de serviço extremamente curto” (MARX, 2008, p. 403).
Na Revolução Russa, a questão da autonomia teve sua importância ligada à forma dos comitês
de fábrica. Ela também estaria oculta sob as formas de contestação política dentro da estrutura do Es-
tado, com pelo menos duas modalidades: a primeira com vistas a tentar uma modificação das relações

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internas do Partido Bolchevique sem o rompimento com este; e a segunda partindo das estruturas do
poder estatal, mas com o objetivo de causar uma ruptura com o poder predominante.
O assunto das páginas seguintes gravita em torno do problema da subjugação da autonomia
dos trabalhadores durante a Revolução Russa. Para isso, faz-se necessário tratar das modalidades
sob as quais o problema da autonomia se manifestou. A primeira forma a ser examinada será a dos
comitês de fábrica, posto que está relacionada à esfera do processo produtivo. A segunda forma a ser
abordada diz respeito à ação da Oposição Operária, pois foi um movimento interior ao Partido Bol-
chevique. E a terceira modalidade se apresenta sob o exemplo da Revolta de Kronstadt, visto que se
desenvolveu como movimento surgido de dentro das forças armadas, portanto no interior da esfera
estatal, entretanto com a ambição de se libertar de sua delimitação.

Comitês de fábrica

O controle operário, que seria o processo produtivo gerido pelos próprios produtores, foi ambi-
cionado pelos comitês de fábrica14. Estes tiveram um significativo desenvolvimento de luta no período
anterior à revolução, principalmente nos últimos meses antes de outubro de 1917.
Quando a produção industrial estava decaindo em meio aos primeiros meses do processo
revolucionário, os comitês tomaram a frente do processo produtivo, sem o que as empresas teriam
parado (MANDEL, 1977). O pensamento era o de que, se havia algo capaz de salvar a revolução de
sua derrota, isso consistia na intervenção do proletariado na vida econômica da Rússia.
Porém, na Rússia revolucionária teve lugar um processo através do qual os trabalhadores per-
deram gradativamente as possibilidades de exercer o controle operário. Desde abril de 1917, ainda
longe de conquistar o poder, Lenin preconizava o governo através do Soviete de Petrogrado. Assim,
Lenin defendia o controle de bancos e corporações através dos sovietes para que posteriormente tivesse
lugar a nacionalização dessas instituições (BRINTON, 1975).
Em maio de 1917, quando os comitês de fábrica passaram a controlar fábricas, houve uma
declaração de que os sovietes não apoiavam tal iniciativa (FERRO, 2004). A esta altura, os sovietes
estavam controlados pelos socialistas-revolucionários e mencheviques. Estes estavam envolvidos em
uma coligação com a burguesia, representada pelo Governo Provisório. Nesse ínterim, os bolchevi-
ques começaram a ganhar mais influência entre os trabalhadores, pois não haviam se imiscuído com
a burguesia (CARR, 1977).
No mesmo mês, Lenin passava a manifestar apoio aberto à ideia do controle operário. Lenin
exortava para a luta pela realização de uma república de trabalhadores e camponeses. Uma milícia
universal substituiria o exército permanente e a polícia, que seriam abolidos (BRINTON, 1975).
Através da “Primeira Conferência dos Comitês de Fábrica”, realizada no dia 30 de maio de
1917 , os bolcheviques assumiram a direção do “Soviete Central dos Comitês de Fábrica”. Foram
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indicadas medidas no intuito de organizar o controle operário e a regulação da produção. Falava-


-se na conferência, sobre a sabotagem praticada pelos capitalistas e a necessidade de que os comitês
assumissem a produção e a distribuição dos produtos (MANDEL, 1977).
Zinoviev16 informaria sobre o programa do controle operário, que nas palavras de Pankra-
tova significou uma “guerra cruel” contra o capital. Assim, ela resume o programa a seus pontos
principais. Um deles era o de que o controle operário deveria se desenvolver dentro da completa
normalização da produção e da distribuição. Além disso, o controle operário devia se prolongar a
todas as operações bancárias e financeiras. Os benefícios e as rendas da grande economia capitalista
deviam passar às mãos dos operários. Quanto ao campo, por intermédio das cooperativas, devia
ser organizada a troca de objetos e máquinas agrícolas por “produtos da terra”. Uma milícia ope-
rária deveria ser criada, para a realização do serviço obrigatório do trabalho. Quanto à direção da
força dos trabalhadores para a produção do carvão mineral, das matérias-primas, dos transportes
e a respeito da fabricação dos produtos necessários à reconstrução econômica, também seria uma
tarefa do controle operário. Por fim, exultava-se a tomada do poder pelos sovietes (MANDEL, 1977).
Neste último ponto, havia uma aproximação com uma das famosas ideias atribuídas a Lenin: “todo
o poder aos sovietes”.

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Na resolução da Conferência de Petrogrado dos Comitês de Fábrica, realizada em agosto, o
relatório de Milyutin17 deixava claro que a crise se exacerbava devido à política da burguesia, que
explorava a crise para fortalecer a contrarrevolução. Milyutin alegava que somente uma organização
controlada pelo proletariado e as camadas camponesas poderia implementar a regulação da produção.
Mas para isso seria preciso tomar o controle do poder de Estado, que estava nas mãos da burguesia
contrarrevolucionária (ACTON; STABLEFORD, 2005). Logo em seguida, Milyutin argumenta a
necessidade da nacionalização e centralização dos bancos e organizações sindicalizadas.
Aqui, percebe-se a ideia de que os trabalhadores deveriam controlar a produção após a tomada
do poder de Estado. Ao mesmo tempo, patenteava-se a ideia da nacionalização. Levando-se em conta
estes fatores, qual seria o lugar dos comitês de fábrica se houvesse a captura do poder estatal? Ainda
não havia uma resposta.
Mas a primeira subordinação dos comitês de fábrica ao Soviete não tardaria a aparecer. Em
agosto, na “Segunda Conferência dos Comitês de Fábrica de Petrogrado, Subúrbios e Províncias
Vizinhas”, foi decidida uma arrecadação de 0,25% dos trabalhadores para contribuição ao “Soviete
Central dos Comitês de Fábrica”. A intenção da criação de tal órgão era tornar os comitês de fábrica
independentes dos sindicatos. Os bolcheviques se constituíam em maioria neste “Soviete Central”
(BRINTON, 1975).
Em sua luta para obter o reconhecimento por parte dos patrões, os comitês de fábrica conseguiam
apenas uma pré-disposição para que aqueles concedessem o aumento de salários. E por uma publi-
cação do ministro do trabalho Skobelev, de 28 de agosto, os comitês não poderiam realizar reuniões
no horário de trabalho. A circular permitia aos patrões o desconto nos salários dos trabalhadores não
obedientes da determinação (BRINTON, 1975).
Em O Estado e a Revolução, Lenin desenvolveria uma ideia que se aproximaria daquilo que os
comitês concebiam como a autonomia, pois nesta obra o autor chega a propor a necessidade de um
Estado dos Sovietes dos deputados operários e soldados, responsável pelo trabalho de todos os cida-
dãos trabalhadores e empregados, com a função de se impor aos capitalistas, dominando o controle
do trabalho e do consumo (LÊNIN, 1977). Este Estado seria construído através do esforço inicial das
massas operárias armadas, que gradativamente cederiam lugar à participação de todo o povo armado.
Lênin não abandonava a ideia de um Estado. Portanto, fazia uma aproximação com o pensamento
da autonomia dos comitês, mas não de forma total, pois em seu pensamento os operários armados
estariam ainda subordinados ao Estado.
Como exemplo dessa diferença do pensamento de Lenin em relação à autonomia operária se
pode tomar uma experiência da Comuna de Paris de 1871. No “Regulamento interno das oficinas
de reparação e de transformação das armas”18, artigo 9, dizia-se que o controle geral das armas seria
efetuado pelo chefe da oficina, desde que a comissão operária estabelecida no Hotel de Ville não de-
cidisse outra coisa (MANDEL, 1974). Neste exemplo tomado à Comuna de Paris não se encontra a
necessidade de um Estado, diferentemente do que Lênin pregava. Seria a comissão operária em última
instância a decidir uma eventual mudança do controle das armas.
Contudo, faz-se necessário salientar que a formulação de Lenin se concentra em uma abstração
para a ação futura, enquanto a disposição da Comuna de Paris já era algo surgido da prática, ainda
que não duradoura. De qualquer modo, pode-se enxergar a diferença metodológica entre uma postura
que preconiza o papel do Estado e outra que prescinde deste poder.
Porém, os bolcheviques enxergavam a necessidade de apoiar os comitês de fábrica para chegar
aos operários. Em meados de setembro, o partido pedira 25 lugares para os comitês na Assembleia
da Conferência Democrática, número igual ao que os sindicatos receberam do Governo Provisório.
Poucos dias depois, em 26 de setembro, Lênin escrevia que o governo dos sovietes tinha como dever
direcionar o controle operário na produção e na distribuição (BRINTON, 1975). Parecia claro que
os bolcheviques tinham uma estratégia onde reconheciam a importância dos comitês de fábrica ao
mesmo tempo em que declaravam apoio direto ao poder dos sovietes.
Mas os comitês foram submetidos ao Partido logo após a Revolução de Outubro. No dia 14 de
novembro, com a aprovação do “Projeto de estatutos sobre o Controle Operário”, idealizado por Lenin
e reforçado pelos argumentos do sindicalista Lozovski, que defendia a determinação de limites de

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atuação dos órgãos de controle mais básicos pelas instituições superiores, os comitês de fábrica foram
alijados de sua autonomia. Os sindicatos passavam a gerir os comitês de fábrica (BRINTON, 1975).
O decreto do dia 14 de novembro se apresenta como um ponto controverso no discurso his-
toriográfico sobre a relação entre o Partido e os comitês de fábrica. Enquanto Maurice Brinton apre-
senta um ponto de vista a partir da subjugação dos comitês pelos sindicatos, outros autores tendem
a enfatizar aspectos diversos.
Para Medvedev, o decreto deu força para os comitês de fábrica, as comissões de controle e outros
órgãos populares, pois estes ganhavam o direito de decidir sobre a gestão da produção e a direção
administrativa (MEDVEDEV, 1978). Portanto, Medvedev diverge da interpretação empreendida por
Brinton, visto que não enxerga a submissão dos comitês aos sindicatos.
Já Orlando Figes segue o raciocínio de que o decreto sobre o controle operário trouxe caos
para o meio fabril soviético, ainda que tenha sido uma concessão vital dos bolcheviques aos comitês
e sindicatos. Isto porque os “corpos” operários nas fábricas aumentaram seus próprios salários de tal
maneira que a inflação subia. Além disso, praticaram o terror e a violência contra os antigos admi-
nistradores e técnicos das fábricas, o que provocou um declínio ainda maior da produção industrial
(FIGES, 1998,).
Tal ponto de vista que enfatiza a decadência econômica a partir do controle dos comitês de
fábrica teria eco na movimentação de Kronstadt, em 1921. Em um texto intitulado “Socialismo entre
aspas”19, acusava-se os bolcheviques de desorganizar a produção segundo o sistema de controle operário
e logo depois transformar os trabalhadores em escravos das empresas estatais, com a nacionalização
das fábricas e oficinas. Como se não bastasse, segundo o manifesto, os bolcheviques ainda procederam
à utilização do sistema de Taylor20 (AVRICH, 2006).
Quanto à acusação de que o controle operário teria sido o responsável pela decadência
econômica da Rússia soviética, Maurice Brinton alega que partia dos próprios bolcheviques a
propaganda da ineficácia dos comitês de fábrica para resolver os problemas regionais e nacionais,
porém não foi permitido aos próprios comitês criar uma federação em âmbito regional e nacional
(BRINTON, 1975).
A propaganda dos bolcheviques contra os comitês tinha um objetivo. Importante e ameaçador
para os bolcheviques era o fato de que os comitês e os sindicatos haviam se tornado parte do movi-
mento de protesto crescente dos trabalhadores contra o governo, inclusive na organização de greves
em cidades como Petrogrado e Moscou, importantíssimas bases de apoio bolchevique (FIGES, 1998).
Foi a partir de abril de 1918 que Lenin chegou à conclusão de que seria necessário reintroduzir
o princípio tradicional da gerência de um homem na indústria contra o controle operário através de
colegiados. O objetivo era restaurar a disciplina nas fábricas (FIGES, 1998).
Em meados de 1918, com o início da guerra civil e a adoção do “comunismo de guerra”21 pelo
governo, houve a introdução dos técnicos com experiência “burguesa” nas fábricas. Estes teriam como
característica a capacidade da racionalização intensa do processo produtivo. Partia-se da ideia de que
a organização mais rígida do processo de trabalho, a especialização de funções entre os trabalhadores
e a luta dos próprios trabalhadores contra a indisciplina levariam ao máximo aumento de rendimentos
na indústria (BRUHAT, 1961).
Com isso, os sindicatos serviriam para que o Partido Bolchevique operasse no controle de
toda a produção e distribuição. Lenin enfatizava a necessidade de que os sindicatos levassem a sério
o pensamento sobre sua “estatificação”, isto é, o trabalho direto nos organismos do Estado (LÊNIN,
1961). Lenin alegava que haveria um controle de massas sobre as ações dos órgãos estatais, mas o fato
era que o Partido escolhera os sindicatos em detrimento dos comitês de fábrica.
Mas por que os sindicatos se tornaram a preferência dos bolcheviques? Talvez pelo caráter
mais radical dos comitês de fábrica? Talvez porque estes pudessem transformar uma greve em “[...]
continuação temporária da produção sob o controle e a gestão dos produtores” (BERNARDO, 1975,
p. 148). Isto é, os comitês de fábrica poderiam significar uma ameaça à gestão da produção ambicio-
nada sob o “comunismo de guerra” pelos bolcheviques se permanecessem sem submissão aos órgãos
superiores, pois sua movimentação girava em torno do controle da produção e dos seus resultados
pelos próprios trabalhadores.

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Entretanto o principal plano dos bolcheviques apareceu no dia 28 de junho, com a nacionalização
de toda a indústria de larga escala. Assim, a gerência das fábricas sairia de vez das mãos dos movimentos
operários e passaria ao domínio do Estado. O objetivo disso era evitar que as organizações da fábrica
conseguissem se organizar enquanto canal de oposição dos trabalhadores ao governo (FIGES, 1998).
O que estava em questão era a ideia do controle operário. Este, para os trabalhadores dos comi-
tês de fábrica, significava todo o processo de produção fabril sob as mãos operárias, enquanto para o
Partido Bolchevique significava a gestão da produção pelos organismos soviéticos.
Para João Bernardo, o que ocorria era a cisão entre o político e o econômico. Os trabalhadores
permaneciam mantidos à distância do controle direto sobre o econômico. Elementos intermediários,
os gestores, constituíram-se em uma “burguesia de Estado” (BERNARDO, 1975, p. 150).
Lenin enfatizava a necessidade de que os sindicatos de trabalhadores mantivessem seus re-
presentantes nos vários ramos da administração estatal, nas empresas socializadas e na esfera da
economia, numa etapa anterior à fusão dos próprios sindicatos com a máquina estatal (LÊNIN, 1961).
Os sindicatos deveriam ensinar às massas a administração através da experiência. Além disso,
fazer com que se tornasse “[...] cada vez mais numerosa a camada avançada que o proletariado desta-
cou de seu seio para os postos de direção e de organização [...]” (LÊNIN, 1961, p. 277). Esta “camada
avançada” poderia ser interpretada como a classe dos gestores.
Não haveria a introdução dos gestores apenas nas fábricas. Também no campo, com as explo-
rações agrícolas soviéticas, teve lugar a introdução dos “antigos especialistas”, pois segundo Lenin só
com a introdução destes seria possível que a miséria fosse eliminada, visto que os próprios camponeses
não conseguiam organizar a economia em “bases novas” (LÊNIN, 1979, p. 173).
Dessa forma, o Estado russo passava às mãos de novos dirigentes que não permitiriam a au-
tonomia do processo produtivo. O processo de extração da mais-valia continuaria a existir sob o
domínio bolchevique.
Lenin e os demais líderes não governariam sem serem contestados, contudo. O desafio aconte-
ceria de dentro da lógica estatal. No primeiro caso, haveria a demonstração de como seria possível a
existência de movimentos oposicionistas interiores ao Partido Bolchevique, mas que por não consegui-
rem um rompimento com a própria lógica estatal, não alcançariam um desenvolvimento autônomo.
Seria o exemplo da Oposição Operária.
No segundo caso, demonstrou-se um desenvolvimento em vias de romper com a liderança
bolchevique, porém não houve forças que possibilitassem a efetivação da ruptura. Aqui, trata-se da
Revolta de Kronstadt. A seguir, aborda-se em primeiro lugar a situação em que se encontrou a Opo-
sição Operária.

A Oposição Operária

Surgida dos escalões mais baixos do Partido Bolchevique, a Oposição Operária teria como
um de seus motes a crítica à inserção crescente dos especialistas na economia soviética. Tal processo
se dava à medida em que a frente econômica se tornava mais premente do que a frente militar, devido
à gradual derrota das forças estrangeiras invasoras na guerra civil. O que se tornava patente era um
aumento desta camada de especialistas tanto na atividade política quanto na econômica (KOLLON-
TAI, 1977). A Oposição Operária reclamava pela introdução de novas modalidades de organização
do trabalho com vistas a uma maior efetividade para a produção e distribuição, aspecto esse que,
segundo Alexandra Kollontai, a nova camada de especialistas estranha ao comunismo não era capaz
de desenvolver.
Segundo Richard Pipes, os principais locais de suporte à Oposição Operária eram Samara, a
região do Donbass e os Urais. Seu líder, Alexander Shlyapnikov22, liderou a União dos Metalúrgicos.
Em outubro de 1917, dirigiu o Comissariado do Trabalho. Alexandra Kollontai era a teórica principal
do movimento. Ao mesmo tempo, surgia o Centralismo Democrático, que se opunha à burocratização
do partido e ao emprego dos “especialistas burgueses”, de modo semelhante à Oposição Operária. A
diferença entre a Oposição Operária e o Centralismo Democrático era que este primava pelo fortale-
cimento dos sovietes, enquanto aquela lutava pela autonomia dos sindicatos (PIPES, 1995).

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Ainda segundo Pipes, a Oposição Operária ficou conhecida mais amplamente a partir do Nono
Congresso do Partido, em março de 1920, quando se opôs à introdução na indústria do princípio da
“gerência de um homem”. Com a introdução do novo princípio, os sindicatos e comitês de fábrica
foram proibidos de participar na tomada de decisões sobre a produção. Ficaram encarregados apenas
da implementação das diretrizes. O argumento de Lenin consistia em dizer que não era mais neces-
sário que os sindicatos lutassem pelos interesses dos trabalhadores, posto que isso já teria sido feito
pelo governo. Trotsky23 dizia que os sindicatos, sob um Estado dos operários, deveriam se acostumar
a ver o empregador não mais como um adversário. Isso significou na prática que dali para frente
os oficiais dos sindicatos seriam indicados pelo próprio Partido. Não haveria mais eleições entre os
próprios membros (PIPES, 1995).
Os líderes dos sindicatos concluíram que os novos dirigentes da Rússia os tratavam exatamente
como se fazia sob o antigo regime. Para combater a burocratização do partido e a acumulação do poder
nas mãos do Comitê Central, propuseram que os órgãos de direção fossem sujeitos a uma rotatividade
constante, para que verdadeiros operários tivessem acesso (PIPES, 1995).
No texto onde protestava contra a introdução dos especialistas na economia, Alexandra Kollontai
também denunciava as péssimas condições de vida do operariado russo, que vivia com catastróficas
condições de higiene, saúde e trabalho nas fábricas, além de habitar em lugares inapropriados, consi-
derados “casas burguesas mal adaptadas”. Os operários moravam, quanto a Moscou, em bairros sujos
e superpovoados (KOLLONTAI, 1977, p. 43).
A Oposição Operária protestava contra a hierarquização das decisões no governo soviético.
Defendia que fosse permitido aos trabalhadores diretamente interessados a busca de soluções por meio
do livre diálogo, sem a delegação dos problemas para as instituições centrais. Em suma, a Oposição
criticava a burocracia (KOLLONTAI, 1977).
Porém, a Oposição Operária não desejava o rompimento com o Partido Bolchevique. Para
Kollontai, o Partido deveria encarar seus próprios equívocos e ouvir os chamados da classe operária.
Ela defendia que mesmo se a Oposição perdesse votações no Congresso, deveria continuar dentro do
Partido para clarificar sua linha de classe (KOLLONTAI, 1977). A Oposição Operária não desejava
um rompimento com a vanguarda política, pois ainda acreditava no Partido como o órgão de luta a
ser mantido.
Havia duas resoluções demonstradas pela Oposição Operária no Décimo Congresso do Par-
tido Bolchevique, em março de 1921. A primeira delas exortava para a existência de uma crise no
Partido, causada pela perpetuação de hábitos de comando militar adquiridos durante a Guerra Civil,
e a alienação da liderança em relação às massas trabalhadoras. Para que a situação fosse remediada,
o Partido deveria se livrar dos elementos oportunistas, através de algumas medidas: todo comunista
deveria trabalhar pelo menos três meses em algum serviço manual; todos os funcionários deveriam
ser eleitos e responsáveis pelos membros do Partido; apontamentos a partir do Centro deveriam ser
feitos apenas em casos excepcionais; o pessoal dos órgãos centrais deveria ser regularmente trocado,
pois a maioria dos postos deveria ser reservada aos trabalhadores. O foco do trabalho partidário
deveria mudar do Centro para as células (PIPES, 1995).
A segunda resolução protestava contra a degradação dos sindicatos. A economia nacional
deveria ser reorganizada debaixo para cima pelos próprios trabalhadores. A gerência da economia
deveria ser transferida para o Congresso Pan Russo dos Produtores, eleito pelos sindicatos e associa-
ções produtivas. A direção da economia deveria ser do trabalhador, enquanto o Partido deveria se
confinar na política (PIPES, 1995).
Houve uma censura à Oposição Operária por parte de Lênin no Décimo Congresso do Parti-
do Bolchevique, principalmente pelo momento crítico em que aquela apresentava suas propostas. A
Revolta de Kronstadt e a possibilidade de uma contrarrevolução criavam um contexto nada favorável
às teses da Oposição. Lenin, ao pensar nas últimas consequências das teses da Oposição, nivelava esta
aos anarquistas e aos sindicalistas que não confiavam no Partido Comunista para a manutenção da
ditadura do proletariado (BETTELHEIM, 1979).
Trotsky também não desejava a autonomia para as organizações sindicais. No momento do
Décimo Congresso, ele acusava a Oposição Operária de realizar um fetiche dos princípios democrá-

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ticos. O que Trotsky defendia era o recurso ao trabalho militarizado, que já havia sido refutado pelo
Nono Congresso do Partido, em 1920. Trotsky enxergava a discussão da militarização do trabalho
como determinante à transformação dos sindicatos em “braços” do poder estatal, que exerceria a
designação de seus dirigentes (BETTELHEIM, 1979).
Assim como a Oposição Operária, os Centralistas Democráticos também denunciavam a asfixia
propugnada pelos órgãos diretivos do Partido. Enxergavam o perigo da separação entre as massas e
a cúpula. Pediam maior autoridade para os sovietes. O Centralismo Democrático era liderado por
Vladimir Smirnov, Obolenski-Osinski e Sapronov (ARALDI, 1973).
Mas dentro do Décimo Congresso houve uma resolução que proibia as “frações”. Desse modo,
a intenção era a de impedir a formação de grupos organizados com plataforma e disciplina próprias,
pois ofereciam o risco de formarem um partido dentro do partido (BETTELHEIM, 1979). Tal resolução
levou ao rechaço das proposições da Oposição Operária e do Centralismo Democrático.
Assim, o Décimo Primeiro Congresso do Partido Comunista, entre março e abril de 1922, con-
denaria o grupo de Shlyapnikov e Kollontai como fracionista. Vários opositores da política do Comitê
Central seriam presos nos anos 30, como Smirnov, Shliapnikov e Obolenski. Sapronov seria morto
em 1941, em um campo de concentração. Apenas Alexandra Kollontai se salvaria (ARALDI, 1973).
Ainda assim, a Oposição Operária tentara perseverar. Em maio de 1921, a facção da União dos
Metalúrgicos do Partido Comunista rejeitou por 120 contra 40 votos a lista de oficiais enviados pelo
Centro. Mesmo assim o Comitê Central procedeu na tomada de direção desse e de outros sindicatos.
A filiação à União se tornou compulsória e o financiamento dos sindicatos passou a ser realizado
quase inteiramente pelo Estado (PIPES, 1995).
Mesmo sendo considerada ilegal a partir da resolução que proibia as facções, a Oposição Ope-
rária persistiria no intento de permanecer na estrutura partidária. De forma ingênua, a Oposição
Operária levava seu caso para o Comitê Executivo do Comintern24, sem aprovação prévia do partido
ou da delegação russa do Comintern. O Executivo da Internacional rejeitou o apelo. Em setembro
de 1923, subsequentemente a uma onda de greves, a Oposição Operária teve grande parte de seus
membros presa (PIPES, 1995).
Assim, a Oposição Operária foi derrotada pela própria estrutura partidária. Surgida do interior
da organização sindical controlada pelo partido, a Oposição não demonstrava capacidade de romper
com a lógica partidária. Pedia que a base tivesse voz, mas sua proximidade com o centro do aparelho
estatal a impedia de criar uma organização independente.
Ainda em 1921, um movimento liderado por marinheiros insatisfeitos após três anos e meio do
novo governo, realizaria um motim muito próximo a Petrogrado. Em suma, os insurgentes pediam que
a Revolução fosse conduzida à verdadeira realização do socialismo. Partindo da marinha, tentariam
algo além de uma simples reivindicação para que os líderes revissem sua maneira de governar. Aqui
se trata da Revolta de Kronstadt.

A Revolta de Kronstadt

Kronstadt era uma fortaleza naval localizada no Golfo da Finlândia. No início de 1921, as gre-
ves de Petrogrado contestavam o Partido Bolchevique, ao lutar pelo restabelecimento dos mercados e
pela eliminação das guarnições militares nas estradas. O inverno de 1920-1921 fora devastador para
o recrudescimento das adversidades econômicas da Rússia. Tal emaranhado de problemas se tornou
o estopim para a Revolta de Kronstadt (ARVON, 1984).
No final de fevereiro de 1921, os marinheiros de Kronstadt faziam conhecer suas reivindicações
através de panfletos próximos dos subúrbios de Petrogrado. Em suas memórias, Victor Serge elenca
algumas delas. Entre os pedidos dos marinheiros estavam: a reeleição dos sovietes por voto secreto;
o pedido para que todos os partidos revolucionários tivessem liberdade de expressão e de imprensa;
total liberdade para os sindicatos; exigia-se a libertação de todos os prisioneiros políticos revolucio-
nários; que a propaganda oficial fosse extinguida; que os camponeses não tivessem mais que ceder
à entrega forçada de víveres; que o artesanato tivesse liberdade; que os destacamentos de portagem
fossem eliminados, pois proibiam o livre abastecimento da população. Ao fim, anunciava-se que o

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“[...] soviete, a guarnição de Kronchtadt e as tripulações da 1ª e 2ª esquadras se levantavam para fazer
triunfar esse programa” (SERGE, 1987, p. 149).
Assim, os marinheiros de Kronstadt tinham um programa sobre o que acreditavam necessário
ser modificado no processo da Revolução Russa. Seus pedidos abrangiam mudanças na política do
Partido em relação ao funcionamento interno do governo soviético, às liberdades civis, à opressão do
campesinato e à subsistência da população.
A existência de um programa em Kronstadt contradizia a opinião de Trotsky de que não existia
um programa consciente entre os marinheiros. Trotsky identificava a sedição em Kronstadt como um
movimento pequeno-burguês, que não compreendia a necessidade do povo russo em obter a liberdade
de comércio (TROTSKI, 2005).
O fato é que os habitantes de Kronstadt já haviam demonstrado uma forma de autonomia através
das “comunas de cultura”, desde 1918. Grupos de citadinos eram responsáveis cada um pelo cultivo de
um alimento específico. Havia um comitê de abastecimento encarregado de organizar a distribuição
dos víveres e cada membro da comuna conseguia colher por volta de dez quilos de alimentos. Foi
dessa forma que a população de Kronstadt conseguira combater a fome (ARVON, 1984).
Com o lançamento da NEP (New Economic Policy)25 em março de 1921, no Décimo Congresso
do Partido Comunista, as requisições forçadas de alimentos seriam substituídas pela cobrança do im-
posto em espécie. Era iniciada a liberdade de comércio. Mas não era apenas isto o que os marinheiros
reivindicavam.
O motivo crucial para a movimentação dos marinheiros era o alcance da “terceira revolução”.
Fevereiro e outubro de 1917 tinham sido respectivamente a primeira e a segunda revoluções. Mas
ainda não se chegara ao socialismo. Para se concretizar o novo sistema, seria necessário que a revolu-
ção avançasse à nova etapa (ARVON, 1984). Somente com o verdadeiro poder dos sovietes a revolução
chegaria ao socialismo.
Em um documento do dia 8 de março de 1921, intitulado “Por que estamos lutando”, também
incluído por Paul Avrich como anexo no livro Kronstadt 1921, dizia-se que os bolcheviques estavam
tomando todas as medidas para “[...] prevenir e reprimir a inevitável terceira revolução” (AVRICH,
2006, p. 237). Argumentava-se ainda que naquele momento os trabalhadores tinham a oportunidade
de conseguir seus sovietes eleitos livremente, sem a pressão partidária. Seria possível a reconstrução
dos sindicatos em associações livres de operários, camponeses e intelligentsia (AVRICH, 2006).
Os marinheiros de Kronstadt não desejavam a liberdade para todos. Só poderiam ser livres os
operários e os camponeses. Também não queriam uma Assembleia Constituinte, que consideravam
uma ferramenta a serviço de minorias privilegiadas (AVRICH, 2006).
Porém, Kronstadt foi cercada pelo exército vermelho. A ofensiva contra Kronstadt come-
çara no dia 6 de março e se estenderia até o dia 18 do mesmo mês, com a retomada da fortaleza
pelos bolcheviques. Estes sustentaram contra Kronstadt uma campanha que a identificava com
os brancos contrarrevolucionários. Através da imprensa e do rádio, os bolcheviques insistiram
que os marinheiros estavam recebendo apoio dos emigrados e dos aliados ocidentais dos brancos
(AVRICH, 2006).
A revolta de Kronstadt acabaria enquadrada nos dispositivos coercitivos já utilizados contra a
Oposição Operária e o Centralismo Democrático. Como Henri Arvon colocou, Kronstadt se tornaria
um “espantalho” para o Partido Bolchevique, que utilizaria seu exemplo para justificar todas as ações
expurgatórias ulteriores (ARVON, 1984). Uma ironia da história, visto que os marinheiros haviam
sonhado com a autonomia operária.

O prevalecimento do Estado soviético

Outros movimentos de contestação surgiriam após a Revolta de Kronstadt. Como Vinicio


Araldi demonstra em seu URSS: medio siglo de repressión, ainda haveria a subjugação dos grupos
“Verdade Operária” e “Grupo Operário”, em 1923. Estes lutavam contra o desprezo dos dirigentes
bolcheviques em relação às normas estatutárias. Os componentes da “Verdade Operária”, liderados
por Alexandre Bogdanov26, declaravam que o proletariado havia sido traído. A burocracia dos bolche-

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viques era tão asfixiante como a dos czares. Bogdanov, filósofo e médico, opunha-se a Lenin porque
lutava contra o desvio dos fins de liberdade e de democracia socialista (ARALDI, 1973).
Por sua vez, o “Grupo Operário” era liderado por Miasnikov. Velho bolchevique expulso em
1906, Miasnikov agia a favor da liberdade de existência para todos os partidos socialistas e da igualdade
para todos os trabalhadores. Células de oposição e greves eram organizadas segundo sua iniciativa.
Constituiu-se em uma ameaça ao Partido.
As propagandas do “Verdade Operária” e do “Grupo Operário” foram difundidas em feve-
reiro de 1923. No Décimo Segundo Congresso do Partido, os delegados tomaram conhecimento das
atividades dos grupos. Miasnikov seria então preso com cerca de 30 dissidentes e liquidado. Bogdanov
foi encarcerado. Morreria em 1928, após um período de soltura (ARALDI, 1973).
A essa altura não havia espaço para a sobrevivência de organizações dissidentes na Rússia. Com
a vitória na Guerra Civil, o Partido Bolchevique não teria mais como preocupação os adversários
estrangeiros, o que facilitaria sua ação quanto à repressão dos movimentos internos.
O que o Partido Bolchevique se tornara? Para Castoriadis, o partido comunista se convertera
na própria burocracia. Houve uma fusão entre a classe dominante, o Partido e Estado, o que seria
a característica da sociedade burocrática. Dessa forma, destruir o aparelho de Estado significaria
destruir o próprio partido burocrático, posto que este se tornara o órgão de unificação supremo
(CASTORIADIS, 1977a).
Segundo Christopher Hill, o próprio Lenin denunciava a burocracia. Entretanto, esta tinha
uma capacidade inegável de sobrevivência. O antídoto para o não crescimento da classe de burocratas
seria o envolvimento de toda a população na tarefa de governar (HILL, 1969).
O regime burocrático colocava a descoberto o problema fundamental para os trabalhadores:
ou estes continuariam a ser dirigidos pela camada particular de dirigentes; ou romperiam com tal
forma de domínio e desenvolveriam instituições sob seu controle, assumindo a direção de suas
vidas (CASTORIADIS, 1977b). Por conseguinte, colocava-se para os trabalhadores a questão de se
alcançar a autonomia nas novas relações sociais de produção. Mas como conseguir essa autonomia,
se o aparelho de Estado havia se voltado contra os trabalhadores? Estes, que haviam confiado numa
vanguarda portadora das esperanças para a realização do socialismo, mas que pelo processo histórico
pós-revolucionário acabaram sendo destituídos de qualquer possibilidade para o direcionamento de
suas próprias vidas.
Mauricio Tragtenberg, em livro com primeira edição de 1988, concluiria que na Rússia houve um
reforço dos aparelhos do Partido Bolchevique, que estava estruturado hierarquicamente, utilizando-se
da mentalidade burocrática. O mando, o autoritarismo e a manipulação davam origem ao costume
da reverência à chefia (TRAGTENBERG, 2007). Assim, havia um fosso entre os dirigentes e os traba-
lhadores, pois as empresas industriais e as explorações agrícolas estavam nas mãos Estado e dirigidas
de cima para baixo, sob controle de diretores nomeados pelo próprio Estado e com diferentes faixas
de salários em relação aos operários (TRAGTENBERG, 2007).
Para Tragtenberg, a Revolução Bolchevique se esqueceu de que as relações sociais de produção
ultrapassam o âmbito da propriedade jurídica dos meios de produção. Uma revolução socialista deve
ser a luta dirigida pelo próprio proletariado, utilizando-se da auto-organização e dos órgãos horizontais
como comitês e comissões (TRAGTENBERG, 2007).
Mas além desse aspecto da subordinação dos trabalhadores ao aparelho partidário, havia por
outro lado a tentativa dos bolcheviques de organizar o processo produtivo após a vitória na Guerra
Civil. Orlando Figes explica que a militarização do trabalho foi o caminho encontrado pelos bolche-
viques para tentar alavancar a indústria. Trotsky, por exemplo, forneceu o protótipo do comando
stalinista da economia. Acreditava que em um país de cenário camponês como a Rússia, a coerção
estatal poderia ser utilizada como um atalho para o comunismo. Dessa forma, o Exército Vermelho27
passou a ser visto como um modelo de organização para o resto da sociedade. As fábricas deveriam
ser comandadas sob diretrizes militares (FIGES, 1998).
Evan Mawdsley, em The Russian Civil War, explica que enquanto a panaceia para a indústria
entre 1917 e 1918 havia sido a atividade espontânea das massas, em 1920 ela havia se tornado o Estado.
O modelo para o controle do transporte e da indústria se tornou o Exército Vermelho, a instituição

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mais bem-sucedida na Rússia. Tornou-se importante a aplicação dos métodos militares na economia
civil. Assim, desenvolveu-se uma mobilização universal para o trabalho aplicada aos operários e
camponeses. Os sindicatos deveriam nesse meio ser submetidos ao controle estatal e funcionar como
corpos para a mobilização da classe operária. De forma paralela, a “gerência de um homem” substi-
tuiria as formas coletivas mais democráticas (MAWDSLEY, 2008).
Ainda quanto à metodologia bolchevique para a organização do processo produtivo na Rússia,
Orlando Figes salienta a confiança de Lenin a respeito das ideias tayloristas. Olhando para a ciência
como um meio de transformação humana, Lenin delegou a Alexei Gastev28 a tarefa de treinar os
trabalhadores de modo a que chegassem o mais próximo possível da ação das máquinas. Gastev era
o líder do Instituto Central do Trabalho. A intenção de Gastev era tornar o trabalhador uma espé-
cie de “robô humano”, o que se combinava até mesmo com o verbo “trabalhar” em russo (rabotat’).
Pretendia-se o alcance de um “coletivismo mecanizado” em lugar de uma personalidade individual
(FIGES, 1998, p. 743-4).
Além disso, não se pode negar o papel da NEP nesse intento de reorganização das relações
econômicas na Rússia soviética. Com a proclamação do fim da requisição forçada de alimentos e a
gradual legalização do comércio, a NEP significou uma virada na política econômica soviética. A
partir dela os camponeses pagariam uma taxa fixa e também poderiam dispor de seus lucros através
de permuta e comércio. Apesar da relutância de muitos dentro do partido que consideravam a legali-
zação do comércio como um risco de se voltar ao capitalismo, a NEP foi aceita, pois se temia os efeitos
da crise econômica do inverno de 1921 e a escalada do distúrbio social no campo. Assim, ela serviu
como um desmantelador da situação explosiva (ACTON; STABLEFORD, 2005).
A NEP foi implementada em uma época em que a ação de revolta do campesinato ameaçava
contaminar o operariado urbano. Em outro documento publicado na coletânea The Soviet Union,
de Edward Acton e Tom Stableford, datado entre janeiro e fevereiro de 1921, um panfleto da “União
dos Trabalhadores Camponeses” de Tambov endereçado aos operários concitava para a formação de
uma força conjunta contra o governo bolchevique (ACTON; STABLEFORD, 2005). Mas não houve
uma união entre os movimentos da cidade e do campo e isso foi um dos fatores que beneficiaram a
sobrevivência dos bolcheviques, segundo Richard Pipes. O outro fator foi a ausência de criação de
uma alternativa política por parte desses movimentos, seja no caso das greves operárias ou nos motins
camponeses. Não se pensava na constituição de um poder paralelo ao dos bolcheviques (PIPES, 1995).
A essência da NEP, segundo Pipes, era comprar a sobrevivência política com concessões econô-
micas. Era uma prática aprendida com o regime czarista, que protegia suas prerrogativas autocráticas
com o suborno da nobreza, sua maior adversária em potencial. Assim, as concessões econômicas
tinham o objetivo de evitar concessões políticas (PIPES, 1995). Mas mesmo com a NEP, foi no perío-
do entre 1921 e 1923 que os bolcheviques acabaram com o que restou dos partidos socialistas rivais,
sistematizaram a censura, estenderam a competência da polícia secreta, lançaram uma campanha
contra a Igreja e apertaram os controles sobre os comunistas domésticos e estrangeiros (PIPES, 1995).
Mawdsley salienta que o papel da ideologia marxista foi adiar o máximo possível a instaura-
ção de uma política que favorecesse o mercado, preferindo-se a ideia da nacionalização da indústria.
Mesmo com a vitória na Guerra Civil dada em novembro de 1920, somente em março de 1921 é que
se anunciariam algumas mudanças econômicas com a NEP. O começo da primavera de 1920 havia
trazido a militarização do trabalho e em novembro daquele ano houve a nacionalização das pequenas
empresas (MAWDSLEY, 2008).
Com a NEP, tanto Bukharin29 quanto Preobrazhensky30 concordariam a respeito de uma aliança
(smychka) entre operários e camponeses, apesar de suas discordâncias em relação à metodologia a ser
adotada para o desenvolvimento econômico da Rússia soviética31 (REIS FILHO, 2007). Mas logo as
tendências à desconfiança em relação aos camponeses apareceriam, como entre 1925 e 1927, período
no qual apareceriam várias declarações de Stalin32 enfatizando a necessidade de fortalecimento da
indústria socialista e de que não se poderia ignorar as cidades (REIS FILHO, 2007).
Ao mesmo tempo, crescia a distância entre o partido e a sociedade. Por volta de 1920 já era pos-
sível se perceber o protesto em relação aos especialistas técnicos (spetsy) presentes nas fábricas (SMITH,
2013). Enquanto as organizações autônomas perdiam poder surgiram os apparatchiks (secretários e

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funcionários). Molotov33, secretário do partido desde 1921 foi um exemplo. Mas o principal seria um
“[...] destes homens disciplinados, eficientes, que compensavam a falta de oratória com uma grande
capacidade de concentração e de trabalho: Josef Stalin” (REIS FILHO, 2007, p. 106).
Com isso, o Estado soviético acabou prevalecendo em relação aos movimentos autônomos. Mas
como Steve Smith salienta, é importante não se exagerar a eficiência do Estado, pois este nessa época se
constituía mais como um conjunto de estruturas institucionais que competiam entre si, dependendo
de decretos e chefes em camarilhas locais, do que como um todo homogêneo. Ainda assim, pode-se
dizer que uma vanguarda conseguiu constituir um Estado, através do uso do aparelho partidário, do
exército, da coerção e da propaganda (SMITH, 2013).
Portanto, o Partido Bolchevique se viu em um conflito onde se chocavam os interesses dos tra-
balhadores com a própria sobrevivência do novo Estado. Prevaleceu a forma estatal como caminho
para a construção da nova sociedade.
Assim, o estudo das formas autônomas de organização dos trabalhadores na Revolução Russa
deve considerar o problema da formação do Estado soviético.

Notas
1 Do russo рабочий контроль, transliterado como rabochiy kontrol’, traduzido para o inglês como workers’
control e para o português como “controle operário”.
2 7 de novembro no calendário gregoriano. Na Rússia ainda se utilizava o calendário juliano, por isso o dia
25 de outubro.
3 Do russo советский, transliterado como sovetskiy, traduzido para o inglês como soviet e para o português
como soviete, equivalente a conselho.
4 Atual São Petersburgo.
5 Do russo Кронштадт, transliterado como Kronshtadt.
6 O bolchevismo surgiu da cisão na socialdemocracia russa em 1903, ao mesmo tempo que o menchevismo.
Do russo большевистский, transliterado como bol’shevistskiy, que em inglês se translitera em bolshevik e
em português bolchevique, que significa “maioria”, enquanto меньшевик se translitera como men’shevik,
que em português se traduz como menchevique, que significa “minoria”, devido à divisão do comitê central
em relação à ideia de Lênin de que o partido deveria se tornar uma elite de revolucionários profissionais. A
maioria do comitê decidiu apoiar Lênin.
7 Socialista internacional, economista e teórica alemã-polonesa (1871-1919).
8 Vladimir Ilyitch Ulianov (1870-1924), revolucionário desde a década de 80 do século XIX, jornalista, orga-
nizador, teórico e socialista internacional. Líder dos bolcheviques. Chefe do Sovnarkom (Sovet Narodnykh
Kommissarov), o Conselho dos Comissários do Povo e Líder do Estado soviético até ser incapacitado por
derrame em 1922.
9 A invasão das potências estrangeiras coligadas contra a revolução a partir da metade de 1918, também
conhecida como Guerra Civil.
10 Karl Heinrich Marx (1818-1883), economista socialista, sociólogo e filósofo alemão.
11 Foi sobre o surgimento do capitalismo que se deu o famoso debate entre Paul Sweezy e Maurice Dobb, onde
o segundo defende o mesmo ponto de vista mencionado no texto.
12 Aleksandra Mikhaylovna Kollontai (1872-1952), revolucionária desde a década de 90 do século XIX, social-
democrata.
13 Do russo рабочей оппозиции.
14 Do russo фабзавкомы, transliterado como fabzavkomy, traduzido para o inglês como factory committees
e para o português como “comitês de fábrica”.
15 Relatada por Anna Pankratova em um texto chamado “Los Comitês de Fábrica en Rusia en la Época de la
Revolución”, publicado postumamente, em 1967, presente na antologia de Ernest Mandel, Control Obrero,
Consejos obreiros, Autogestión.
16 Grigoriy Evseevich Zinoviev (1883-1936), socialdemocrata desde 1901 e bolchevique desde 1903.
17 Vladimir Pavlovich Milyutin (1884-1937), economista e ativista político.
18 Incluído também na antologia de Mandel.
19 “Socialismo entre comillas”, texto incluído como anexo no livro Kronstadt 1921, de Paul Avrich, na versão

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traduzida para o espanhol.
20 Frederick Winslow Taylor (1856-1915), engenheiro americano, industrial, teórico do gerenciamento cien-
tífico.
21 Estratégia do governo bolchevique onde se extraía a produção de víveres dos camponeses para a sustentação
do trabalho contínuo nas indústrias citadinas.
22 Aleksandr Gavrilovich Shlyapnikov (1885-1937), trabalhador industrial desde os onze anos, socialdemocrata,
líder grevista e sindicalista.
23 Lev Davydovich Bronshteyn (1879-1940), revolucionário desde o fim da década de 90 do século XIX, men-
chevique de 1903 até 1917, quando se juntou aos bolcheviques. Comissário da Guerra e fundador do Exército
Vermelho.
24 A Terceira Internacional, conhecida como Internacional Comunista, fundada por Lênin em 1919.
25 Новая экономическая политика (НЭП) em russo, transliterado como Novaya Ekonomicheskaya Politika
(NEP), Nova Política Econômica, em português.
26 Aleksandr Aleksandrovich Malinovsky (1873-1928), doutor, filósofo, cientista, jornalista, economista e
ativista político.
27 Красная армия em russo, transliterado como Krasnaya armiya, que em inglês significa Red Army e em
português “Exército Vermelho”.
28 Engenheiro e poeta russo (1882-1941).
29 Nikolay Ivanovich Bukharin (1888-1938), jornalista, economista, ativista político, socialdemocrata e bol-
chevique desde 1906.
30 Evgeniy Aleksandrovich Preobrazhensky (1886-1937), ativista político, teórico e economista. Bolchevique
desde 1903.
31 Basicamente Bukharin defendia um crescimento econômico lento, com base na persuasão gradual do cam-
pesinato no sentido do trabalho nas organizações coletivas soviéticas. Já Preobrazhensky preferia insistir
na construção da indústria pesada, de forma a garantir um desenvolvimento econômico autônomo para a
Rússia soviética.
32 Iosif Vissarionovich Dzhugashvili (1878-1953), geórgio, socialdemocrata desde 1898 e bolchevique desde
1903. Secretário-geral do Partido Bolchevique desde 1922. Ditador da União Soviética até sua morte.
33 Vyacheslav Mikhaylovich Skryabin (1890-1986), político soviético, bolchevique desde 1906.

Referências

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