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Os lamentáveis atos executados por policiais americanos nos últimos dias

contra George Floyd, registrados através de um vídeo, estopim de uma nova


onda de manifestações e conflitos entre parte da sociedade e as autoridades
do país. Foram capazes de revelar que a história de violência contra homens e
mulheres negros mais uma vez se repete.
Reflexo de políticas e ideais extremistas defendidos nos últimos anos por
figuras grotescas como o atual presidente dos Estados Unidos. A morte por
sufocamento de um homem negro que não resistiu a prisão, executada por um
policial branco que ignorava seu pedido de ajuda. São apenas o começo da
história que tornou pública a manifestação do pensamento sádico e desumano
de Thrump, que se manifestou de forma violenta diante dos protestos ocorridos
em Minneapolis, sugerindo que o ocorrido fosse resolvido através de uma ação
armada.
“Esses bandidos estão desonrando a memória de George Floyd e não vou
deixar que isso ocorra. Acabo de falar com o governador [do Estado] Tim Walz
e lhe disse que o Exército está com ele até o fim. Assumiremos o controle se
começarem as dificuldades mas, quando começam os saques, começam os
disparos. Obrigado!” (Donald Trump em sua conta do Twitter).
Este acontecimento e suas consequências sociais foram vistas também em
1991, quando um vídeo gravado por um cidadão comum presente na hora do
ocorrido, revelou a ação agressiva de policiais do Departamento de Polícia de
Los Angeles contra Rodney King. A transmissão do vídeo através da televisão
que havia atingido níveis internacionais, tornou-se um símbolo das opressões
policiais sobre as minorias nas cidades norte-americanas.
As imagens gravadas por um cinegrafista amador interessado em mostrar a
realidade do país naquele momento, acabou expandida ao ser colocada como
uma obra de arte na Bienal do Whitney em 1993. O filósofo e crítico de arte
Arthur Danto, ao abordar tal acontecimento em seu livro O Abuso da Beleza,
revela seu pensamento de que nada produzido por um artista naquele
momento, alcançaria o impacto social semelhante ao que teve a gravação do
espancamento de King.
Foi neste contexto social que surgiu o pensamento sobre o verdadeiro papel da
arte frente a sociedade e o ideal de produções politicamente ativas e atuantes,
comprometidas em transformar a sociedade. O entendimento sobre
importância do papel da arte frente aos acontecimentos sociais de cada
período histórico, é crucial para que a sociedade não permita a repetição de
atitudes tomadas anteriormente pelas autoridades.
Mesmo com os protestos ocorridos durante a disseminação do vídeo do
espancamento de King, os policiais envolvidos no ocorrido, foram inocentados
em julgamento ocorrido no ano de 1992. Esse acontecimento deixou claro que
o vídeo estava apenas demonstrando a superfície dos problemas. O
decepcionante resultado do julgamento, gerou tumultos maciços no centro-sul
de Los Angeles. Quando mais de 50 pessoas foram mortas e mais de 2.000
foram feridas, com centenas de prédios queimados.
Os acontecimentos dos últimos dias em Minneapolis, também deixou feridos
nas ruas, um repórter negro da CNN detido enquanto transmitia ao vivo na TV,
e protestantes chamados de bandidos pelas autoridades norte americanas. A
delegacia de Minneapolis foi incendiada e nenhum dos agentes que
trabalhavam no momento do ocorrido foi ferido, pois o prédio havia sido
esvaziado momentos antes.
Mesmo dezenas de anos após a publicação do vídeo de King e diversos outros
conflitos sociais em defesa de direitos iguais para homens e mulheres negras
no país, percebemos a sociedade repetindo os erros do passado. A
responsabilidade de conscientização e mudança, cabe não só à arte, em ações
no meio social e político, mas ao mundo, que mesmo durante a pandemia toma
atitudes danosas contra a vida, refletidas na ação do policial de Minneapolis.

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