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A TRINDADE*
A
experiência cristã sempre foi marcada pela intensa possibilidade de pensar a fé.
Nos tempos de vida, que se nos apresenta, estes questionamentos não são menores.
Dentre os inúmeros processos que pressupõem a necessidade de crenças a realidade
da própria condição do Divino em sua relação com a vida humana é um constante exercício
de imaginação e aceitação. Nós igualmente, à semelhança com inúmeros companheiros/
as desta época também nos deparamos com essa possibilidade. Ao encontrarmos através
de uma releitura o tratamento sobre a Trindade1 não tivemos dúvidas da possibilidade de
realizar um ensaio que pudesse emitir possíveis considerações que indicassem o quanto o
tema possui de envolvimento para todos os que se aproximam dele.
O tema da Trindade é um conteúdo envolvente e desafiador: engana-se quem pensa
que não sabe nada a respeito e muito mais equivocado estão, os que acham que já saiba tudo
sobre o assunto. Vários autores já trataram e continuam pensando e comentando sobre
este pressuposto de fé. Não seria exagero elencar uma bibliografia extensa demonstrando
todo este processo. No entanto optamos por fazer uma leitura pontual e a partir de um
autor. O porquê desta escolha não se justifica como sendo pelo critério de maior facilidade.
Ao contrario entendemos que pode até parecer presunçoso dar tanta ênfase a pensamentos
exclusivos. Porém ao fazer e refazer a leitura deste texto, em épocas distintas, percebe-se que
a intensidade de tratamento que aí se expressa não diminuiu de intensidade levando-nos a
pensar uma proposição que seria a de apresentar extensivamente estas considerações através
deste ensaio e posteriormente poder retomá-lo a partir de outras opiniões.
* Recebido em: 26.10.2016. Aprovado em: 22.11.2016. Texto-memória solicitado por Ivoni Richter Reimer,
via e-mail.
** Mestre em Ciências da Religião. Professor na PUC Goiás. Pedagogo. Teólogo, com formação livre em
Filosofia. E-mail: uene@pucgoias.edu.br
Com uma expressão de sentido acadêmico pode-se afirmar que o texto tem um
caráter didático; o autor vai conduzindo o leitor, literalmente, pelas mãos, para fazer com que
este possa se achegar visualmente até ao centro das ideias e valores que a Trindade possui; com
os mais variados argumentos se preocupa em informar e esclarecer quanto a todos e quaisquer
elementos que fazem parte do referido conteúdo e os seus aspectos comunitários.
Reconhecemos que pela grandiosidade que este texto possui ineficaz seria o exer-
cício de apenas resumi-lo ou descrever na forma de uma resenha. Frente ao conteúdo infor-
mamos que a opção de abordagem foi a de realizar uma análise sobre parte do mesmo e neste
sentido reconheceu-se o quanto seria difícil e complexa tal escolha, pois a intensidade que o
autor tratou cada uma das etapas exigiria enorme maestria para se trabalhar este exercício sem
comprometer o propósito intencionado. A seguir indicaremos que tópico foi este e apresenta-
remos introdutoriamente uma visão geral da obra para depois nos determos sobre o objetivo.
A escolha que fizemos procurou encontrar o elemento temático que melhor pudesse
expressar a intensidade da obra e a referida relação deste conteúdo como o propósito de se
cursar esta disciplina. Assim como a formação que ocorre, no exercício que realizamos, é para
convalidar o bacharelado em teologia esta escolha bem se articula com o item V – quinto – A
SANTÍSSIMA TRINDADE NO IMAGINÁRIO TEOLÓGICO. Como informamos ante-
riormente, antes de tudo realizaremos uma consideração geral sobre o conteúdo.
RETOMANDO O PROPÓSITO
A principal mensagem, proposta por vários intérpretes, sobre esta ideia: simbólica
econômica está associada ao processo de consciência de todo ser humano com relação ao seu
existir físico e sua dimensão de espiritualidade. O mistério que a Trindade possui não existe
apenas para que receba uma atitude contemplativa do crente, revela sim que o modelo comu-
nitário também presente na vida divina se torne o modelo transformador da vida humana e
para todos os humanos.
A SIMBÓLICA DA PIEDADE
A SIMBÓLICA ARQUETÍPICA
O ser humano em sua frágil existência busca encontrar modelos e referências que
o sustentem e o protejam. Assim a referência do ARQUÉTIPO3 é esta ideia de totalidade e
valor que em inúmeras situações vão sendo descritas para falar das virtudes de Deus em sua
natureza trina. Neste contexto, explica o autor que, a questão numérica é uma realidade que
não é casual o trino de Deus é a ideia de totalidade. Este número é reconhecido pela sua força
e intensidade em diferentes áreas do conhecimento inclusive na ciência atual. O curioso é
que, o mesmo número três4 em diferentes realidades, todas às vezes que aparece, inclusive fora
do cenário matemático, acaba ocupando uma significação de ordem simbólica e arquetípica
intensa propondo ideias e valores que precisam ser cuidadosamente percebidos, para que o
A SIMBÓLICA ANTROPOLÓGICA
O ser humano quando consegue adquirir a percepção de que possui uma relação de
imagem e semelhança com Deus, na plena e misteriosa condição, que envolve a sua existência
se sente especial. A nossa condição não nega o mistério que implica o nascer, o viver, o apren-
der, o relacionar, o envelhecer, o morrer e o que ocorre após esta realidade para o cristão e
também para qualquer outra possibilidade de crença. Portanto se sentir humano não é apenas
a realidade física que está presente em nossos corpos físicos é também a condição de ideias e
valores que esta humanidade exige de cada ser.
Esta ideia simbólica que vincula a nossa condição antropológica é uma reali-
dade contingente. Não tem como fugirmos dela e não tem como viver sem se ter consciência
deste processo; desde a mais inicial condição que já ocorre pela infância queremos saber sobre
nós e sobre todas as outras realidades.
A inteligência nos acompanha e impulsiona para buscar e para saber: de onde vie-
mos? Como isto se deu? Como de dentro de ovos podem surgir vida? Como de dentro da
água a vida acontece? Por que dos tamanhos distintos das pessoas? Por que do brilho do sol?
Por que do escuro da noite? Por que as chuvas caem? Por que temos que dormir? Comer? ...
E é este modelo que reconhecemos em que ao identificarmos à ideia de imagem e
semelhança divina com o humano que segundo o autor realiza um efeito impar para as pessoas:
Quanto mais alguém vive a radicalidade de sua própria vida, na inteireza de suas concre-
tizações, mais se torna revelador potencial da Trindade na história, mais se faz caminho
de acesso ao Mistério último que habita sua própria profundidade existencial: o Pai, o
Filho e o Espírito Santo. (p. 136)
A SIMBÓLICA FAMILIAR
A SIMBÓLICA ECLESIAL
A SIMBÓLICA SOCIAL
Este é, com certeza, um dos temas relacionados ao estudo deste texto que possui
uma das maiores associações entre o título da própria obra e os desafios que estão postos para
a percepção teológica que cada leitor ou fiel possa reconhecer e aplicar em sua vida e prática
de fé: a Trindade e a sociedade.
A especificidade deste tópico trata e enfatiza sobre o existir humano diante da di-
mensão particular de cada indivíduo e a sua relação com a dimensão social ou coletiva. Expli-
ca o autor que a realidade política, a ordem econômica e o processo simbólico se metamor-
foseiam dentro deste cenário que é chamado de vida em sociedade e que em consequência
disto imaginar e desejar que esta vivência esteja marcada por um modelo bom e justo não é
um absurdo.
Esta lógica associada ao processo teológico entre o tema e a relação social pode até
ser reconhecida como utópica, mas deve ser buscada e construída permanentemente, a des-
peito das contradições humanas ou históricas que presenciarmos pelo caminho.
A SIMBÓLICA MATERIAL
Neste penúltimo item temático, que Boff analisa teologicamente, nós encontramos
expressões por demais significativas que exigem pensar o que seriam estas informações ou
conteúdos em que a Trindade é apresentada pela dinâmica de ordem material. Para não nos
afastarmos do exercício proposto lembramos que ele explicitou, nesta parte do texto, uma
cuidadosa e até delicada afirmação em torno do trino.
Expressar a ordem trinitária em uma identidade material não foi difícil; ao contrá-
rio, aconteceu em diferentes realidades e contextos tanto pedagógicos ou enquanto analogias
FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 26, n. 4, p. 711-753, out./dez. 2016. 751
para as representações comunitárias que deveriam perceber os fiéis ao longo das suas vivências
históricas. Mas, ele lembrou, que: “Esta simbólica material pode visualizar as doutrinas, mas
não o encontro com o Deus trinitário”. (p.139)
A SIMBÓLICA FORMAL
Este foi o último item temático que tratou, teologicamente, o autor para falar do
exercício que se constituiu em torno da Trindade. Sobre esta realidade ele explicita o elemento
formal da matemática que usou a pedagogia cristã para definir este conhecimento. Neste caso
a realidade da geometria através da figura do triângulo equilátero, enquanto superfície de
equivalência e igualdade é que foi o simbolismo para falar do Deus trino. E a este elemento
visível e material que ele define como sendo a simbólica formal para representar a Trindade,
explica também que: a partir desta ordem formal existiram variações e contornos para melhor
definir a riqueza que o tema possuía.
Referências
BOFF, Leonardo. A Trindade e a Sociedade, o Deus que liberta o seu povo. 3.ed. Coleção Teo-
logia e libertação. Petrópolis: Vozes, 1987.
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
_____. Obras completas, v. XI. Petrópolis: Vozes, 1980.