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SEE-MG

PEB - História

I - HISTÓRIA: os papéis do professor de História e do historiador, diversidade, desigualdades e


cidadania II - O ESTUDO DA HISTÓRIA: o valor da memória social e do patrimônio histórico-cultural. . 01
III - O BRASIL NO CONTEXTO MUNDIAL: 1 A sociedade brasileira no mundo contemporâneo;
Sociedade e cultura, comunicação e globalização, identidade nacional e multiculturalismo, cultura popular
e cultura de massa; o Brasil na nova ordem mundial: formação de blocos políticos e econômicos no final
do século XX; inserção da economia brasileira na ordem econômica mundial: do mercantilismo ao
neoliberalismo, uma visão do processo; trabalho, trabalhador e as relações de produção no Brasil: o
processo histórico; trabalho, emprego, empregabilidade. . ..................................................................... 10
2 Movimentos sociais no Brasil: principais movimentos e sua contribuição para as transformações da
sociedade brasileira nos diferentes períodos; democracia e participação popular; as grandes questões
nacionais e seu processo histórico: industrialização, urbanização e concentração demográfica, exclusão
social, concentração de renda e violência urbana; populações indígenas, questão fundiária e questão
ambiental, educação, saúde, desenvolvimento sustentado; a mulher e a família no contexto social; a crise
do Estado brasileiro: causas estruturais e conjunturais. . ....................................................................... 42
IV - HISTÓRIA: tópicos de História geral. V - SINAIS DO TEMPO: a Primeira Guerra Mundial, os
regimes totalitários, a Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria e a descolonização da Ásia e da África,
Estados Unidos e União Soviética – potências em crise. ..................................................................... 135
VI - O MUNDO ATUAL: múltiplos conflitos mundiais. . ..................................................................... 166
Conteúdo relativo à BNCC e PC Ensino Medio e Fundamental do Governo de Minas Gerais. . ...... 178

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1401188 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE PEIXOTO HELENO
I - HISTÓRIA: os papéis do professor de História e do historiador, diversidade,
desigualdades e cidadania
II - O ESTUDO DA HISTÓRIA: o valor da memória social e do patrimônio
histórico-cultural.

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dizem respeito à matéria História não sofreram modificação, mas caso você queira conferí-los na
íntegra, seguirão os links com ambos no decorrer das referências do material.

História 1
Todo conhecimento sobre o passado é também um conhecimento do presente elaborado por distintos
sujeitos. O historiador indaga com vistas a identificar, analisar e compreender os significados de diferentes
objetos, lugares, circunstâncias, temporalidades, movimentos de pessoas, coisas e saberes. As
perguntas e as elaborações de hipóteses variadas fundam não apenas os marcos de memória, mas
também as diversas formas narrativas, ambos expressão do tempo, do caráter social e da prática da
produção do conhecimento histórico.
As questões que nos levam a pensar a História como um saber necessário para a formação das
crianças e jovens na escola são as originárias do tempo presente. O passado que deve impulsionar a
dinâmica do ensino-aprendizagem no Ensino Fundamental é aquele que dialoga com o tempo atual.
A relação passado/presente não se processa de forma automática, pois exige o conhecimento de
referências teóricas capazes de trazer inteligibilidade aos objetos históricos selecionados. Um objeto só
se torna documento quando apropriado por um narrador que a ele confere sentido, tornando-o capaz de
expressar a dinâmica da vida das sociedades. Portanto, o que nos interessa no conhecimento histórico é
perceber a forma como os indivíduos construíram, com diferentes linguagens, suas narrações sobre o
mundo em que viveram e vivem, suas instituições e organizações sociais. Nesse sentido, “O historiador
não faz o documento falar: é o historiador quem fala e a explicitação de seus critérios e procedimentos é
fundamental para definir o alcance de sua fala. Toda operação com documentos, portanto, é de natureza
retórica.”
A história não emerge como um dado ou um acidente que tudo explica: ela é a correlação de forças,
de enfrentamentos e da batalha para a produção de sentidos e significados, que são constantemente
reinterpretados por diferentes grupos sociais e suas demandas – o que, consequentemente, suscita
outras questões e discussões.
O exercício do “fazer história”, de indagar, é marcado, inicialmente, pela constituição de um sujeito.
Em seguida, amplia-se para o conhecimento de um “Outro”, às vezes semelhante, muitas vezes diferente.
Depois, alarga-se ainda mais em direção a outros povos, com seus usos e costumes específicos. Por
fim, parte-se para o mundo, sempre em movimento e transformação. Em meio a inúmeras combinações
dessas variáveis – do Eu, do Outro e do Nós –, inseridas em tempos e espaços específicos, indivíduos
produzem saberes que os tornam mais aptos para enfrentar situações marcadas pelo conflito ou pela
conciliação.
Entre os saberes produzidos, destaca-se a capacidade de comunicação e diálogo, instrumento
necessário para o respeito à pluralidade cultural, social e política, bem como para o enfrentamento de
circunstâncias marcadas pela tensão e pelo conflito. A lógica da palavra, da argumentação, é aquela que
permite ao sujeito enfrentar os problemas e propor soluções com vistas à superação das contradições
políticas, econômicas e sociais do mundo em que vivemos.
Para se pensar o ensino de História, é fundamental considerar a utilização de diferentes fontes e tipos
de documento (escritos, iconográficos, materiais, imateriais) capazes de facilitar a compreensão da

1 < http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_20dez_site.pdf>

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relação tempo e espaço e das relações sociais que os geraram. Os registros e vestígios das mais diversas
naturezas (mobiliário, instrumentos de trabalho, música etc.) deixados pelos indivíduos carregam em si
mesmos a experiência humana, as formas específicas de produção, consumo e circulação, tanto de
objetos quanto de saberes. Nessa dimensão, o objeto histórico transforma-se em exercício, em laboratório
da memória voltado para a produção de um saber próprio da história.
A utilização de objetos materiais pode auxiliar o professor e os alunos a colocar em questão o
significado das coisas do mundo, estimulando a produção do conhecimento histórico em âmbito escolar.
Por meio dessa prática, docentes e discentes poderão desempenhar o papel de agentes do processo de
ensino e aprendizagem, assumindo, ambos, uma “atitude historiadora” diante dos conteúdos propostos,
no âmbito de um processo adequado ao Ensino Fundamental.
Os processos de identificação, comparação, contextualização, interpretação e análise de um objeto
estimulam o pensamento.
De que material é feito o objeto em questão? Como é produzido? Para que serve? Quem o consome?
Seu significado se alterou no tempo e no espaço? Como cada indivíduo descreve o mesmo objeto? Os
procedimentos de análise utilizados são sempre semelhantes ou não? Por quê? Essas perguntas auxiliam
a identificação de uma questão ou objeto a ser estudado.
Diferentes formas de percepção e interação com um mesmo objeto podem favorecer uma melhor
compreensão da história, das mudanças ocorridas no tempo, no espaço e, especialmente, nas relações
sociais. O pilão, por exemplo, serviu para preparar a comida e, posteriormente, transformou-se em objeto
de decoração. Que significados o pilão carrega? Que sociedade o produziu? Quem o utilizava e o utiliza?
Qual era a sua utilidade na cozinha? Que novos significados lhe são atribuídos? Por quê?
A comparação em história faz ver melhor o Outro. Se o tema for, por exemplo, pintura corporal, a
comparação entre pinturas de povos indígenas originários e de populações urbanas pode ser bastante
esclarecedora quanto ao funcionamento das diferentes sociedades. Indagações sobre, por exemplo, as
origens das tintas utilizadas, os instrumentos para a realização da pintura e o tempo de duração dos
desenhos no corpo esclarecem sobre os deslocamentos necessários para a obtenção de tinta, as
classificações sociais sugeridas pelos desenhos ou, ainda, a natureza da comunicação contida no
desenho corporal. Por meio de uma outra linguagem, por exemplo, a matemática, podemos comparar
para ver melhor semelhanças e diferenças, elaborando gráficos e tabelas, comparando quantidades e
proporções (mortalidade infantil, renda, postos de trabalho etc.) e, também, analisando possíveis desvios
das informações contidas nesses gráficos e tabelas.
A contextualização é uma tarefa imprescindível para o conhecimento histórico. Com base em níveis
variados de exigência, das operações mais simples às mais elaboradas, os alunos devem ser instigados
a aprender a contextualizar. Saber localizar momentos e lugares específicos de um evento, de um
discurso ou de um registro das atividades humanas é tarefa fundamental para evitar atribuição de sentidos
e significados não condizentes com uma determinada época, grupo social, comunidade ou território.
Portanto, os estudantes devem identificar, em um contexto, o momento em que uma circunstância
histórica é analisada e as condições específicas daquele momento, inserindo o evento em um quadro
mais amplo de referências sociais, culturais e econômicas.
Distinguir contextos e localizar processos, sem deixar de lado o que é particular em uma dada
circunstância, é uma habilidade necessária e enriquecedora. Ela estimula a percepção de que povos e
sociedades, em tempos e espaços diferentes, não são tributários dos mesmos valores e princípios da
atualidade.
O exercício da interpretação – de um texto, de um objeto, de uma obra literária, artística ou de um mito
– é fundamental na formação do pensamento crítico. Exige observação e conhecimento da estrutura do
objeto e das suas relações com modelos e formas (semelhantes ou diferentes) inseridas no tempo e no
espaço. Interpretações variadas sobre um mesmo objeto tornam mais clara, explícita, a relação
sujeito/objeto e, ao mesmo tempo, estimulam a identificação das hipóteses levantadas e dos argumentos
selecionados para a comprovação das diferentes proposições. Um exemplo claro são as pinturas de El
Greco. Para alguns especialistas, tratam-se de obras que abandonam as exigências de nitidez e harmonia
típicas de uma gramática acadêmica renascentista com a qual o pintor quis romper; para outros, tais
características são resultado de estrabismo ou astigmatismo do olho direito do pintor.
O exercício da interpretação também permite compreender o significado histórico de uma cronologia
e realizar o exercício da composição de outras ordens cronológicas. Essa prática explicita a dialética da
inclusão e da exclusão e dá visibilidade ao seguinte questionamento: “O que torna um determinado evento
um marco histórico?” Entre os debates que merecem ser enunciados, destacam-se as dicotomias entre
Ocidente e Oriente e os modelos baseados na sequência temporal de surgimento, auge e declínio. Ambos
pretendem dar conta de explicações para questões históricas complexas. De um lado, a longa existência
de tensões (sociais, culturais, religiosas, políticas e econômicas) entre sociedades ocidentais e orientais;

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de outro, a busca pela compreensão dos modos de organização das várias sociedades que se sucederam
ao longo da história.
A análise é uma habilidade bastante complexa porque pressupõe problematizar a própria escrita da
história e considerar que, apesar do esforço de organização e de busca de sentido, trata-se de uma
atividade em que algo sempre escapa. Segundo Hannah Arendt, trata-se de um saber lidar com o mundo,
fruto de um processo iniciado ao nascer e que só se completa com a morte. Nesse sentido, ele é
impossível de ser concluído e incapaz de produzir resultados finais, exigindo do sujeito uma compreensão
estética e, principalmente, ética do objeto em questão.
Nesse contexto, um dos importantes objetivos de História no Ensino Fundamental é estimular a
autonomia de pensamento e a capacidade de reconhecer que os indivíduos agem de acordo com a época
e o lugar nos quais vivem, de forma a preservar ou transformar seus hábitos e condutas. A percepção de
que existe uma grande diversidade de sujeitos e histórias estimula o pensamento crítico, a autonomia e
a formação para a cidadania.
A busca de autonomia também exige reconhecimento das bases da epistemologia da História, a saber:
a natureza compartilhada do sujeito e do objeto de conhecimento, o conceito de tempo histórico em seus
diferentes ritmos e durações, a concepção de documento como suporte das relações sociais, as várias
linguagens por meio das quais o ser humano se apropria do mundo. Enfim, percepções capazes de
responder aos desafios da prática historiadora presente dentro e fora da sala de aula.
Todas essas considerações de ordem teórica devem considerar a experiência dos alunos e
professores, tendo em vista a realidade social e o universo da comunidade escolar, bem como seus
referenciais históricos, sociais e culturais. Ao promover a diversidade de análises e proposições, espera-
se que os alunos construam as próprias interpretações, de forma fundamentada e rigorosa. Convém
destacar as temáticas voltadas para a diversidade cultural e para as múltiplas configurações identitárias,
destacando-se as abordagens relacionadas à história dos povos indígenas originários e africanos.
Ressalta-se, também, na formação da sociedade brasileira, a presença de diferentes povos e culturas,
suas contradições sociais e culturais e suas articulações com outros povos e sociedades.
A inclusão dos temas obrigatórios definidos pela legislação vigente, tais como a história da África e
das culturas afro-brasileira e indígena, deve ultrapassar a dimensão puramente retórica e permitir que se
defenda o estudo dessas populações como artífices da própria história do Brasil. A relevância da história
desses grupos humanos reside na possibilidade de os estudantes compreenderem o papel das
alteridades presentes na sociedade brasileira, comprometerem-se com elas e, ainda, perceberem que
existem outros referenciais de produção, circulação e transmissão de conhecimentos, que podem se
entrecruzar com aqueles considerados consagrados nos espaços formais de produção de saber.
Problematizando a ideia de um “Outro”, convém observar a presença de uma percepção estereotipada
naturalizada de diferença, ao se tratar de indígenas e africanos. Essa problemática está associada à
produção de uma história brasileira marcada pela imagem de nação constituída nos moldes da
colonização europeia.
Por todas as razões apresentadas, espera-se que o conhecimento histórico seja tratado como uma
forma de pensar, entre várias; uma forma de indagar sobre as coisas do passado e do presente, de
construir explicações, desvendar significados, compor e decompor interpretações, em movimento
contínuo ao longo do tempo e do espaço. Enfim, trata-se de transformar a história em ferramenta a serviço
de um discernimento maior sobre as experiências humanas e as sociedades em que se vive.
Retornando ao ambiente escolar, a BNCC pretende estimular ações nas quais professores e alunos
sejam sujeitos do processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, eles próprios devem assumir uma
atitude historiadora diante dos conteúdos propostos no âmbito do Ensino Fundamental.
Cumpre destacar que os critérios de organização das habilidades na BNCC (com a explicitação dos
objetos de conhecimento aos quais se relacionam e do agrupamento desses objetos em unidades
temáticas) expressam um arranjo possível (dentre outros). Portanto, os agrupamentos propostos não
devem ser tomados como modelo obrigatório para o desenho dos currículos.
Considerando esses pressupostos, e em articulação com as competências gerais da BNCC e com as
competências específicas da área de Ciências Humanas, o componente curricular de História deve
garantir aos alunos o desenvolvimento de competências específicas.

Por que ensinar História 2

A História, enquanto disciplina escolar, ao se integrar à área de Ciências Humanas e suas Tecnologias,
possibilita ampliar estudos sobre as problemáticas contemporâneas, situando-as nas diversas

2 <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_03_internet.pdf>

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temporalidades, servindo como arcabouço para a reflexão sobre possibilidades e/ou necessidades de
mudanças e/ou continuidades.
A integração da História com as demais disciplinas que compõem as denominadas Ciências Humanas
permite sedimentar e aprofundar temas estudados no Ensino Fundamental, redimensionando aspectos
da vida em sociedade e o papel do indivíduo nas transformações do processo histórico, completando a
compreensão das relações entre a liberdade (ação do indivíduo que é sujeito da história) e a necessidade
(ações determinadas pela sociedade, que é produto de uma história).
O papel das disciplinas que compõem a área de Ciências Humanas, para esse nível de ensino e o
momento histórico que se está vivendo, deve ser entendido em sua dimensão mais ampla, envolvendo a
formação de uma cultura educacional. Vive-se hoje em uma sociedade marcada pelo domínio do mito do
consumo e pelas tecnologias, com ritmos de transformações aparentemente muito acelerados e
informações provenientes de vários espaços, embora predominando os meios audiovisuais, e ainda pela
fragmentação do conhecimento sobre os indivíduos e a vida social.
As concepções políticas e as referentes às ações humanas nos espaços público e privado, assim
como as relações homem-natureza, estão sendo modificadas. Os paradigmas científicos que
sustentavam as bases fundamentais dessas concepções estão sendo questionados e colocados em
cheque pelas realidades que glorificam o novo tecnológico, mas não solucionam problemas antigos, como
as desigualdades, preconceitos, dificuldades de percepção do “outro” e as diversas formas de
convivência e de estabelecimento de relações sociais. A difusão da racionalidade da ciência não
acarretou o desaparecimento de formas de representação do mundo e do homem submetidas a dogmas
e misticismos variados, permanecendo crenças religiosas diversas, muitas vezes contraditórias e
paradoxais diante da presença cotidiana das tecnologias.
Tais constatações sobre as incertezas e mitos vividos pelos jovens da atual geração implicam delimitar
com maior precisão o papel educativo da área, no sentido de possibilitar um Ensino Médio de caráter
humanista capaz de impedir a constituição de uma visão apenas utilitária e profissional das disciplinas
escolares.
No que se refere ao conhecimento histórico escolar, os currículos atuais são indicativos das
transformações paradigmáticas do campo que envolve o conhecimento histórico como um todo. As
aproximações entre a História ensinada e a produção acadêmica têm se intensificado a partir do final dos
anos setenta, estabelecendo relações muitas vezes profícuas, mas que apontam para as dificuldades de
consensos e ou definições simplificadas sobre os conteúdos e métodos de ensino.
O debate historiográfico tem sido intenso, com abordagens diversas sobre antigos temas e inclusão
de novos objetos que constituem as múltiplas facetas da produção humana e que se sustentam em uma
pluralidade de fundamentos teóricos e metodológicos.
A história social e cultural tem se imposto de maneira a rearticular a história econômica e a política,
possibilitando o surgimento de vozes de grupos e de classes sociais antes silenciados. Mulheres,
crianças, grupos étnicos diversos têm sido objeto de estudos que redimensionam a compreensão do
cotidiano em suas esferas privadas e políticas, a ação e o papel dos indivíduos, rearticulando a
subjetividade ao fato de serem produto de determinado tempo histórico no qual as conjunturas e as
estruturas estão presentes. A produção historiográfica, no momento, busca estabelecer diálogos com o
seu tempo, reafirmando o adágio que “toda história é filha do seu tempo”, mas sem ignorar ser fruto de
muitas tradições de pensamento.
A pesquisa histórica esforça-se atualmente por situar as articulações entre a micro e a macro história,
buscando nas singularidades dos acontecimentos as generalizações necessárias para a compreensão
do processo histórico. Na articulação do singular e do geral recuperam-se formas diversas de registros e
ações humanas tanto nos espaços considerados tradicionalmente os de poder, como o do Estado e das
instituições oficiais, quanto nos espaços privados das fábricas e oficinas, das casas e das ruas, das festas
e das sublevações, das guerras entre as nações e dos conflitos diários para sobrevivência, das
mentalidades em suas permanências de valores e crenças e das transformações advindas com a
modernidade da vida urbana em seu aparato tecnológico.

- O que e como ensinar em História

O estudo de novos temas, considerando a pluralidade de sujeitos em seus confrontos, alterando


concepções calcadas apenas nos “grandes eventos” ou nas formas estruturalistas baseadas nos modos
de produção, por intermédio dos quais desaparecem de cena homens e mulheres de “carne e osso”, tem
redefinido igualmente o tratamento metodológico da pesquisa. A investigação histórica passou a
considerar a importância da utilização de outras fontes documentais, além da escrita, aperfeiçoando

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métodos de interpretação que abrangem os vários registros produzidos. A comunicação entre os homens,
além de escrita, é oral, gestual, sonora e pictórica.
Nesse aspecto, os estudos de inspiração marxista, que privilegiavam inicialmente as análises das
infraestruturas econômicas e das lutas de classe, passaram a incluir pesquisas referentes à cultura, às
ideias e aos valores cotidianos, ao simbólico presentes nas experiências das classes sociais e nas formas
de mediação entre elas. E passaram a se interessar também pela linguagem como uma referência de
análise dos discursos políticos e do processo de construção da consciência de classe ou de identidades.
Ao lado desses estudos, a Nova História inspirada na e continuadora da Escola dos “Annales”, tem
igualmente contribuído para as indagações relativas ao funcionamento das sociedades, de maneira a
integrar as multiplicidades temporais, espaciais, sociais, econômicas e culturais presentes em uma
coletividade, destacando investigações sobre a história das “mentalidades” na interpretação da realidade
e das práticas sociais. Nessa vertente, as representações do mundo social passaram a ser analisadas
como integrantes da própria realidade social e possibilitaram uma redefinição da história cultural.
A aproximação entre a Antropologia e a História tem sido importante, dando origem a abordagens
históricas que consideram a cultura não apenas em suas manifestações artísticas, mas nos ritos e festas,
nos hábitos alimentares, nos tratamentos das doenças, nas diferentes formas que os vários grupos
sociais, ao longo dos séculos, têm criado para se comunicar, como a dança, o livro, o rádio, o cinema, as
caravelas, os aviões, a Internet, os tambores e a música.
Metodologias diversas foram sendo introduzidas, redefinindo o papel da documentação. À objetividade
do documento – aquele que fala por si mesmo – se contrapôs sua subjetividade – produto construído e
pertencente a uma determinada história. Os documentos deixaram de ser considerados apenas o alicerce
da construção histórica, sendo eles mesmos entendidos como parte dessa construção em todos seus
momentos e articulações. Passou a existir a preocupação em localizar o lugar de onde falam os autores
dos documentos, seus interesses, estratégias, intenções e técnicas.
Na transposição do conhecimento histórico para o nível médio, é de fundamental importância o
desenvolvimento de competências ligadas à leitura, análise, contextualização e interpretação das
diversas fontes e testemunhos das épocas passadas – e também do presente. Nesse exercício, deve-se
levar em conta os diferentes agentes sociais envolvidos na produção dos testemunhos, as motivações
explícitas ou implícitas nessa produção e a especificidade das diferentes linguagens e suportes através
dos quais se expressam. Abre-se aí um campo fértil às relações interdisciplinares, articulando os
conhecimentos de História com aqueles referentes à Língua Portuguesa, à Literatura, à Música e a todas
as Artes, em geral.
Na perspectiva da educação geral e básica, enquanto etapa final da formação de cidadãos críticos e
conscientes, preparados para a vida adulta e a inserção autônoma na sociedade, importa reconhecer o
papel das competências de leitura e interpretação de textos como uma instrumentalização dos indivíduos,
capacitando-os à compreensão do universo caótico de informações e deformações que se processam no
cotidiano. Os alunos devem aprender, conforme nos lembra Pierre Vilar, a ler nas entrelinhas. E esta é a
principal contribuição da História no nível médio.
A diversidade de tradições historiográficas e a pluralidade de vinculações teóricas, no entanto, ao
contrário de indicarem crise, esgotamento ou impasses, apontam para a área da pesquisa e do ensino
de História, muitas alternativas válidas, além da viabilidade de criações pedagógicas. Desta forma, é
importante considerar as diferentes dimensões dos estudos históricos, na medida em que possibilitam
forjar teorias de ensino e aprendizagem.
Nessa perspectiva, a História para os jovens do Ensino Médio possui condições de ampliar conceitos
introduzidos nas séries anteriores do Ensino Fundamental, contribuindo substantivamente para a
construção dos laços de identidade e consolidação da formação da cidadania.
O ensino de História pode desempenhar um papel importante na configuração da identidade, ao
incorporar a reflexão sobre a atuação do indivíduo nas suas relações pessoais com o grupo de convívio,
suas afetividades, sua participação no coletivo e suas atitudes de compromisso com classes, grupos
sociais, culturas, valores e com gerações do passado e do futuro.
Além de consubstanciar algumas das noções básicas introduzidas nas séries anteriores, que
contribuem e fornecem os fundamentos para a construção da identidade, tais como a de diferença e de
semelhança, o ensino de História para as séries do nível médio amplia e consolida as noções de tempo
histórico.
A percepção da diferença (o “outro”) e da semelhança (“nós”) varia conforme a cultura e o tempo e
depende de comportamentos, experiências e valores pessoais e coletivos. O convívio entre os grupos
sociais tem gerado “atitudes de identificação, distinção, equiparação, segregação, submissão,
dominação, luta ou resignação, entre aqueles que se consideravam iguais, inferiores ou superiores,
próximos ou distantes, conhecidos ou desconhecidos, compatriotas ou estrangeiros. Hoje em dia, a

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percepção do ‘outro’ e do ‘nós’ está relacionada à possibilidade de identificação das diferenças e,
simultaneamente, das semelhanças. A sociedade atual solicita que se enfrente a heterogeneidade e que
se distinga as particularidades dos grupos e das culturas, seus valores, interesses e identidades. Ao
mesmo tempo, ela demanda que o reconhecimento das diferenças não fundamente relações de
dominação, submissão, preconceito ou desigualdade.”
O tempo histórico pode ser compreendido em toda sua complexidade, ultrapassando sua apreensão
a partir das vivências pessoais, psicológicas ou fisiológicas. No nível médio de ensino, é preciso
igualmente que o tempo histórico seja entendido como objeto da cultura, como criação de povos em
diversos momentos e espaços. É da cultura que nascem concepções de tempo tão diferenciadas como
o tempo mítico, escatológico, cíclico, cronológico, noções sociais criadas pelo homem para
representar as temporalidades naturais, expressas nos tempos geológico e astronômico. Não se pode
esquecer, ainda, que mesmo o tempo natural reveste-se de um caráter cultural, quando apropriado pela
Geologia e pela Astronomia, enquanto ciências socialmente criadas.
O tempo construído pelas diversas culturas é muitas vezes expresso nos mitos, destacando-se os
que se referem às origens do universo e do homem, e nas religiões, que ultrapassam os tempos passado
e presente e determinam o tempo de possíveis vidas futuras, constituindo o tempo salvacionista ou
escatológico. As sociedades agrárias organizaram a vida cotidiana pelo tempo cíclico, fixado pelos
momentos da plantação e da colheita e pelas estações que se repetem anualmente, e vincularam o tempo
cotidiano, com seus ritmos de mudanças, ao astronômico, criando calendários, referenciando as marcas
dos acontecimentos diários e daqueles considerados significativos para a memória coletiva.
Pode-se, então, compreender o tempo cronológico como instrumento de marcação e datação e
entender como a cultura ocidental cristã criou seu próprio calendário. Sobre o calendário gregoriano, que
marca os nossos tempos, é importante considerar as formas como ele está organizado: “O calendário
gregoriano pode ser representado por uma linha contínua e infinita. Envolve a compreensão de que cada
um dos pontos dessa linha é distinto dos outros e que cada ponto corresponde a uma datação. As
datações são, assim, distintas umas das outras, especificando um dia, um mês e um ano. Apesar dos
números dos dias e os nomes dos meses se repetirem de um ano para o outro (com base em
organizações cíclicas), a numeração dos anos nunca se repete (concepção linear), o que torna cada data
um momento único e sem possibilidade de repetição no tempo.”
A contribuição mais substantiva da aprendizagem da História é propiciar ao jovem situar-se na
sociedade contemporânea para melhor compreendê-la. Como decorrência direta disso está a
possibilidade efetiva do desenvolvimento da capacidade de apreensão do tempo enquanto conjunto de
vivências humanas, em seu sentido completo.
O tempo histórico, compreendido nessa complexidade, utiliza o tempo cronológico, institucionalizado,
que possibilita referenciar o lugar dos momentos históricos em seu processo de sucessão e em sua
simultaneidade. Fugindo à cronologia meramente linear, procura identificar também os diferentes níveis
e ritmos de durações temporais. A duração torna-se, nesse nível de ensino e nas faixas etárias por ele
abarcadas, a forma mais consubstanciada de apreensão do tempo histórico, ao possibilitar que alunos
estabeleçam as relações entre continuidades e descontinuidades. A concepção de duração possibilita
compreender o sentido das revoluções como momentos de mudanças irreversíveis da história e favorece
ainda que o aluno apreenda, de forma dialética, as relações entre presente-passado-presente,
necessárias à compreensão das problemáticas contemporâneas, e entre presente-passado-futuro, que
permitem criar projeções e utopias.
Pela compreensão da duração pode-se, ainda, entender, de maneira mais efetiva, o humanismo,
situando as relações entre tempo histórico e tempo da natureza. O momento da criação do homem tem
sido determinado, como no caso da sociedade ocidental cristã, por textos sagrados. O livro do Gênesis
determina que o homem surgiu na face da Terra há aproximadamente seis mil anos e esta datação,
mesmo relativizada após as teorias evolucionistas e o desenvolvimento dos trabalhos arqueológicos,
situa a visão antropocêntrica da história que estabelece, ainda fortemente, a divisão do antes e depois
da escrita como marco decisivo para a compreensão do passado da humanidade. Quando, no entanto,
situamos o homem numa escala planetária, da formação das paisagens, das plantas e outros animais,
pensando no “tempo da natureza”, os referenciais se transformam. Percebemos o “lugar” que o homem
ocupa na história do planeta em uma outra dimensão temporal.
O tempo geológico determina outras formas de referenciar o tempo social. Ao situarmos a idade da
Terra em aproximadamente 4,5 bilhões de anos, podemos entender que a história das sociedades
humanas corresponde a uma pequena fração de tempo da história do planeta. A compreensão da escala
de tempo pode situar o papel do homem no processo de transformação da natureza, assim como
dimensionar, para além do tempo presente, os limites e o poder das ações humanas. Dentre os aspectos
importantes decorrentes da abordagem dessas temporalidades, destaca-se a reciprocidade das

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transformações promovidas pela natureza sobre a vida dos homens e como estes mudam os ritmos de
tempo da natureza.
Ao se repensar o tempo histórico tendo como referência as relações homem-natureza, pode-se ainda
avançar na compreensão das diversas temporalidades vividas pela sociedade e nas formulações das
periodizações e marcos de rupturas. Assim como defendia Lévi-Strauss, as grandes transformações
irreversíveis da sociedade podem ser basicamente divididas em dois grandes períodos. O primeiro
momento desse longo processo foi a revolução agrícola, com a criação da agricultura, responsável por
mudanças significativas nas relações entre os homens, a terra e as plantas e animais. O segundo grande
momento foi o da revolução industrial dos séculos XVIII e XIX, que introduziu relações entre o homem
e os recursos naturais em escala sem precedentes, impondo novo ritmo no processo de transformações
e de permanências. Esses dois momentos correspondem à constituição de novas formas de os homens
organizarem o tempo, com novos ritmos, e de se organizarem no seu tempo cotidiano: ao longo desse
processo, o tempo da natureza foi sendo substituído pelo tempo da fábrica.
Os ritmos da duração, conforme descritos por Fernand Braudel, permitem identificar a velocidade
em que as mudanças ocorrem e como nos acontecimentos estão inseridas várias temporalidades: a curta
duração, a dos acontecimentos breves, com data e lugar determinados; na média duração, no decorrer
da qual se dão as conjunturas, tendências políticas e/ou econômicas, que, por sua vez, se inserem em
processos de longa duração, com permanências e mudanças que parecem imperceptíveis. É o ritmo das
estruturas, tais como a constituição de amplos sistemas produtivos e de relações de trabalho, as formas
de organização familiar e dos sistemas religiosos, a constituição de percepções e relações ecológicas
estabelecidas na relação entre o homem e a natureza.
Podemos identificar os diferentes ritmos da duração pelo exemplo da escravidão africana brasileira.
A Abolição da Escravidão ocorreu no dia 13 de maio de 1888, na capital do Brasil. Trata-se de um
acontecimento breve, datado e localizado no espaço, que se explica pela conjuntura econômica da
expansão da cafeicultura de exportação com necessidades urgentes de ampliação de mão-de-obra e
pela conjuntura política e social que forçava rearticulacões no grupo do poder monárquico e criava
oposições ao regime, principalmente pelos republicanos. Mas, para compreender a abolição da
escravidão e a forma como ela ocorreu, torna-se necessário situá-la no processo estrutural, em
temporalidades mais longas: no processo de mudanças do sistema capitalista, desde sua constituição
histórica, e na longa duração do racismo. Este explica não só a permanência até hoje de preconceitos e
discriminações em relação às populações negras e mestiças, mas também a origem da própria
escravidão, baseada em conceitos de raça superior e inferior criados por sociedades que pretendiam
dominar e explorar outros grupos humanos. A escravidão não cria o racismo, mas o tem como
pressuposto.
A apreensão das noções de tempo histórico em suas diversidades e complexidades pode favorecer
a formação do estudante como cidadão, aprendendo a discernir os limites e possibilidades de sua
atuação, na permanência ou na transformação da realidade histórica em que vive.
A formação de “cidadãos”, é importante ressaltar, não ocorre sem reflexões sobre seu significado. Do
ponto de vista da formação histórica do estudante, a questão da cidadania envolve escolhas pedagógicas
específicas para que ele possa conhecer e distinguir diferentes concepções históricas acerca dela,
delineadas em diferentes épocas. O significado, por exemplo, que a sociedade brasileira atual tem de
cidadania não é o mesmo que tinham os atenienses da época de Péricles, assim como não é o mesmo
que possuíam os revolucionários franceses de 1789. O sentido que a palavra assume para os brasileiros
atualmente, de certa maneira, inclui os demais sentidos historicamente localizados, mas ultrapassa os
seus contornos, incorporando problemáticas e anseios individuais, de classes, de gêneros, de grupos
sociais, locais, regionais, nacionais e mundiais, que projetam a cidadania enquanto prática e enquanto
realidade histórica.
A compreensão de cidadania em uma perspectiva histórica, como resultado de lutas, confrontos e
negociações, e constituída por intermédio de conquistas sociais de direitos, pode servir como referência
para a organização dos conteúdos da disciplina histórica. A partir de problemáticas contemporâneas, que
envolvem a constituição da cidadania, pode-se selecionar conteúdos significativos para a atual
geração. Identificar e selecionar conteúdos significativos são tarefas fundamentais dos professores, uma
vez que se constata a evidência de que é impossível ensinar “toda a história da humanidade”, exigindo a
escolha de temas que possam responder às problemáticas contundentes vividas pela nossa sociedade,
tais como as discriminações étnicas e culturais, a pobreza e o analfabetismo.
A organização de conteúdos por temas requer cuidados específicos com a escolha dos métodos. O
estudo de temas articulado à apropriação de conceitos ocorre por intermédio de métodos oriundos das
investigações históricas, desenvolvendo a capacidade de extrair informações das diversas fontes
documentais tais como textos escritos, iconográficos, musicais. A apropriação do método da pesquisa

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historiográfica, reelaborada em situações pedagógicas, possibilita interpretar documentos e estabelecer
relações e comparações entre problemáticas atuais e de outros tempos. Torna-se necessário escolher
métodos que auxiliem a capacidade de relativizar as próprias ações e as de outras pessoas no tempo e
no espaço.
Dessa maneira, trabalhar com temas variados em épocas diversas, de forma comparada e a partir de
diferentes fontes e linguagens, constitui uma escolha pedagógica que pode contribuir de forma
significativa para que os educandos desenvolvam competências e habilidades que lhes permitam
apreender as várias durações temporais nas quais os diferentes sujeitos sociais desenvolveram ou
desenvolvem suas ações, condição básica para que sejam identificadas as semelhanças, diferenças,
mudanças e permanências existentes no processo histórico.
O trabalho permanente com pesquisas orientadas a partir da sala de aula constitui importante
alternativa para viabilizar essas sugestões pedagógicas. Sugestões que pretendem desenvolver no aluno
a capacidade de refletir sobre o tempo presente também como processo. Entender o atual estágio
tecnológico requer, por exemplo, que o aluno entenda o que é a linguagem escrita e seu papel social,
situando-a nos diversos suportes usados pelos homens para criá-la e dela se apropriar, tais como papiros,
pedras, placas de barro, papel, livros e computadores.
Finalmente, é necessário frisar a contribuição da história para as novas gerações, considerando-se
que a sociedade atual vive um presente contínuo, que tende a esquecer e anular a importância das
relações que o presente mantém com o passado. Nos dias atuais, a cultura capitalista impregnada de
dogmas consumistas fornece uma valorização das mudanças no moderno cotidiano tecnológico e uma
ampla difusão de informações sempre apresentadas como novas e com explicações simplificadas que
as reduzem aos acontecimentos imediatos. Um compromisso fundamental da História encontra-se na
sua relação com a Memória, livrando as novas gerações da “amnésia social” que compromete a
constituição de suas identidades individuais e coletivas.
O direito à memória faz parte da cidadania cultural e revela a necessidade de debates sobre o
conceito de preservação das obras humanas. A constituição do Patrimônio Cultural e sua importância
para a formação de uma memória social e nacional sem exclusões e discriminações é uma abordagem
necessária a ser realizada com os educandos, situando-os nos “lugares de memória” construídos pela
sociedade e pelos poderes constituídos, que estabelecem o que deve ser preservado e relembrado e o
que deve ser silenciado e “esquecido”.
Introduzir na sala de aula o debate sobre o significado de festas e monumentos comemorativos, de
museus, arquivos e áreas preservadas, permeia a compreensão do papel da memória na vida da
população, dos vínculos que cada geração estabelece com outras gerações, das raízes culturais e
históricas que caracterizam a sociedade humana. Retirar os alunos da sala de aula e proporcionar-lhes
o contato ativo e crítico com as ruas, praças, edifícios públicos e monumentos constitui excelente
oportunidade para o desenvolvimento de uma aprendizagem significativa.
Ao sintetizar as relações entre as durações e a constituição da memória e da identidade sociais, o
ensino de História, desenvolvido por meio de atividades específicas com as diferentes temporalidades,
especialmente da conjuntura e da longa duração, pode favorecer a reavaliação dos valores do mundo de
hoje, a distinção de diferentes ritmos de transformações históricas, o redimensionamento do presente na
continuidade com os processos que o formaram e a construção de identidades com as gerações
passadas.

Competências e habilidades a serem desenvolvidas em História

Representação e comunicação

- Criticar, analisar e interpretar fontes documentais de natureza diversa, reconhecendo o papel das
diferentes linguagens, dos diferentes agentes sociais e dos diferentes contextos envolvidos em sua
produção.
- Produzir textos analíticos e interpretativos sobre os processos históricos, a partir das categorias e
procedimentos próprios do discurso historiográfico.

Investigação e compreensão

- Relativizar as diversas concepções de tempo e as diversas formas de periodização do tempo


cronológico, reconhecendo-as como construções culturais e históricas.
- Estabelecer relações entre continuidade/permanência e ruptura/transformação nos processos
históricos.

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- Construir a identidade pessoal e social na dimensão histórica, a partir do reconhecimento do papel
do indivíduo nos processos históricos simultaneamente como sujeito e como produto dos mesmos.
- Atuar sobre os processos de construção da memória social, partindo da crítica dos diversos “lugares
de memória” socialmente instituídos.

Contextualização sociocultural

- Situar as diversas produções da cultura – as linguagens, as artes, a filosofia, a religião, as ciências,


as tecnologias e outras manifestações sociais – nos contextos históricos de sua constituição e
significação.
- Situar os momentos históricos nos diversos ritmos da duração e nas relações de sucessão e/ou de
simultaneidade.
- Comparar problemáticas atuais e de outros momentos históricos.
- Posicionar-se diante de fatos presentes a partir da interpretação de suas relações com o passado.

Questões3

01 (IF-PR – Técnico em assuntos educacionais – CETRO) Os conteúdos referentes à história e à


cultura afro- brasileiras e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o
currículo escolar preconizado na Lei nº 11.645/2008, a qual indica que esse conteúdo deve ser
ministrado, em especial, nas áreas de

(A) Arte e História Geral.


(B) Literatura e História brasileiras, apenas.
(C) Arte, Literatura, História e Sociologia.
(D) Sociologia, Filosofia, Literatura e História brasileiras.
(E) Literatura e História brasileiras e Arte.

02. (SEDU-ES – Professor – História - FCC) A Nova História problematizou a concepção de


documento histórico endossada pelos historiadores positivistas pois estes

(A) partiam do princípio de que citando documentos oficiais, o pesquisador poderia fazer uma livre
interpretação do passado.
(B) valorizavam documentos produzidos sem a chancela da Igreja ou do Estado, acreditando serem
estes mais fidedignos.
(C) hierarquizavam os documentos como fontes “primárias” e “secundárias”, abandonando os últimos.
(D) acreditavam que os documentos eram fontes neutras e que permitiam conhecer a verdade
incontestável sobre o passado.
(E) defendiam que, após serem tabulados e interpretados, os documentos deveriam ser descartados.

03. (SEAP–DF – Professor de História – IBFC) Tempo e temporalidade são consideradas categorias
centrais para o conhecimento histórico, segundo as Orientações Curriculares para o Ensino Médio:

I. É fundamental levar o aluno a perceber as diversas temporalidades no decorrer da História e sua


importância nas formas de organizações sociais e de conflitos;

II. Tempo e temporalidade representam um conjunto complexo de vivências humanas, produto cultural
forjado pelas necessidades concretas das sociedades historicamente situadas;

III. Importante ressaltar as periodizações dos calendários e das contagens dos tempos como foram sendo
historicamente construídos para que o aluno elabore, de forma problematizada, seus próprios pontos de
referência como marcos para as explicações de sua própria história de vida, assim como da história dos
homens em geral.

3 Referência: , https://www.qconcursos.com/questoes-de-
concursos/questoes/search?utf8=%E2%9C%93&todas=on&q=hist%C3%B3ria&instituto=&organizadora=&prova=&ano_publicacao=&cargo=&escolaridade=&modal
idade=&disciplina=182&assunto=&esfera=&area=&nivel_dificuldade=&periodo_de=&periodo_ate=&possui_gabarito_comentado_texto_e_video=&possui_comentari
os_gerais=&possui_comentarios=&possui_anotacoes=&sem_dos_meus_cadernos=&sem_anuladas=&sem_desatualizadas=&sem_anuladas_impressao=&sem_de
satualizadas_impressao=&caderno_id=&migalha=&data_comentario_texto=&data=&minissimulado_id=&resolvidas=&resolvidas_certas=&resolvidas_erradas=&nao
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É correto o que se afirma em:

(A) I, II e III.
(B) I e II, apenas.
(C) II e III, apenas.
(D) Apenas III.

Respostas

01 – E
Segundo as definições sugeridas: “Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos
povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas
áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.”

02 – D
Baseados principalmente em documentos oficiais, os positivistas não enxergavam a possível
modificação ou natureza que poderia ser tendenciosa de acordo com os autores dos documentos. Ao
homem caberia apenas o papel de coletar as informações presentes nos documentos.

03 – A
Todas as alternativas se mostraram verdades. Nessa questão não é necessário nem mesmo a
interpretação dos itens, uma vez que eles foram retirados sem modificação do texto original, como segue
o exemplo marcado: “Considera-se fundamental levar o aluno a perceber as diversas temporalidades
no decorrer da História e sua importância nas formas de organizações sociais e de conflitos. Sendo
um produto cultural forjado pelas necessidades concretas das sociedades historicamente situadas, o
tempo representa um conjunto complexo de vivências humanas. Por isso a necessidade de relativizar as
diferentes concepções de tempo e as periodizações propostas, e de situar os acontecimentos históricos
nos seus respectivos tempos”.
O mesmo padrão serve para as alternativas II e III.

III - O BRASIL NO CONTEXTO MUNDIAL:


1 A sociedade brasileira no mundo contemporâneo; Sociedade e cultura,
comunicação e globalização, identidade nacional e multiculturalismo, cultura
popular e cultura de massa; o Brasil na nova ordem mundial: formação de
blocos políticos e econômicos no final do século XX; inserção da economia
brasileira na ordem econômica mundial: do mercantilismo ao neoliberalismo,
uma visão do processo; trabalho, trabalhador e as relações de produção no
Brasil: o processo histórico; trabalho, emprego, empregabilidade.

DE ONDE VEM A DIVERSIDADE SOCIAL BRASILEIRA?

A população brasileira: diversidade nacional e regional

Apesar do processo de globalização, que busca a mundialização do espaço geográfico – tentando,


através dos meios de comunicação, criar uma sociedade homogênea – aspectos locais continuam
fortemente presentes. A cultura é um desses aspectos: várias comunidades continuam mantendo seus
costumes e tradições.
O Brasil, por apresentar uma grande dimensão territorial, possui vasta diversidade cultural. Os
colonizadores europeus, a população indígena e os escravos africanos foram os primeiros responsáveis
pela disseminação cultural no Brasil. Em seguida, os imigrantes italianos, japoneses, alemães, árabes,
entre outros, contribuíram para a diversidade cultural do Brasil. Aspectos como a culinária, danças,
religião, são elementos que integram a cultura de um povo.

- As regiões brasileiras apresentam diferentes peculiaridades culturais.

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No Nordeste, a cultura é representada através de danças e festas como o bumba meu boi, maracatu,
caboclinhos, carnaval, ciranda, coco, reisado, frevo, cavalhada e capoeira. A culinária típica é
representada pelo sarapatel, buchada de bode, peixes e frutos do mar, arroz doce, bolo de fubá cozido,
bolo de massa de mandioca, broa de milho verde, pamonha, cocada, tapioca, pé de moleque, entre tantos
outros. A cultura nordestina também está presente no artesanato de rendas.
O Centro-Oeste brasileiro tem sua cultura representada pelas cavalhadas e procissão do fogaréu, no
estado de Goiás; e o cururu em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A culinária é de origem indígena e
recebe forte influência da culinária mineira e paulista. Os pratos principais são: galinhada com pequi e
guariroba, empadão goiano, pamonha, angu, curral, os peixes do Pantanal – como o pintado, pacu e
dourado.
As representações culturais no Norte do Brasil estão nas festas populares como o círio de Nazaré e
festival de Paratins, a maior festa do boi-bumbá do país. A culinária apresenta uma grande herança
indígena, baseada na mandioca e em peixes. Pratos como otacacá, pirarucu de casaca, pato no tucupi,
picadinho de jacaré e mussarela de búfala são muito populares. As frutas típicas são: cupuaçu, bacuri,
açaí, taperebá, graviola, buriti.
No Sudeste, várias festas populares de cunho religioso são celebradas no interior da região. Festa do
divino, festejos da páscoa e dos santos padroeiros, com destaque para a peregrinação a Aparecida (SP),
congada, cavalhadas em Minas Gerais, bumba meu boi, carnaval e peão de boiadeiro. A culinária é muito
diversificada, os principais pratos são: queijo minas, pão de queijo, feijão tropeiro, tutu de feijão, moqueca
capixaba, feijoada, farofa, pirão, etc.
O Sul apresenta aspectos culturais dos imigrantes portugueses, espanhóis e, principalmente, alemães
e italianos. Algumas cidades ainda celebram as tradições dos antepassados em festas típicas, como a
festa da uva (cultura italiana) e a oktoberfest (cultura alemã), o fandango de influência portuguesa e
espanhola, pau de fita e congada. Na culinária estão presentes: churrasco, chimarrão, camarão, pirão de
peixe, marreco assado, barreado (cozido de carne em uma panela de barro) e vinho.

O estrangeiro do ponto de vista sociológica

No século XIX começaram a chegar muitos imigrantes, principalmente da Europa, para substituírem
os escravos nas lavouras, por causa do fim do tráfico negreiro. Outros motivos foram: os donos de
fazendas não queriam pagar salários para ex-escravos e havia uma política que buscava o clareamento
da população. De italianos, ao contrário do que eu disse para algumas turmas, chegaram ao Brasil
aproximadamente 1,5 milhão de italianos. Destes vários imigrantes – onde se enquadram também os
alemães, poloneses, ucranianos, japoneses, chineses, espanhóis, sírio-libaneses, armênios, coreanos –
alguns se espalharam com suas famílias e outros se organizaram em colônias ou vilas. Os grupos que
se mantiveram unidos até hoje conseguiram resguardar a cultura de seus antepassados, ao contrário de
outros indivíduos que simplesmente se misturaram ao resto da população brasileira. Assim, encontramos
colônias japonesas espalhadas pelo Brasil, assim como bairros com grupos de descendentes de grupos
de imigrantes predominantes ou até cidades fundadas por grupos de imigrantes, como, por exemplo: as
cidades de Americana e Holambra (de origem estadunidense e holandesa, respectivamente), e os bairros
da Mooca, do Bexiga e da Liberdade, na cidade de São Paulo (sendo os dois primeiros de origem italiana
e o outro de origem japonesa). Nestes lugares, a cultura pode ser vista nos estabelecimentos comerciais,
no dialeto e nas festas tradicionais.
O que ainda é muito visível, independente de onde se esteja, é o caso do fenômeno dos decasséguis
– com um grande aumento na quantidade de descendentes de japoneses que vão para o Japão trabalhar
– e, ainda sobre os nisseis e sanseis, o fato de muitos andarem em grupos formados por outros
descendentes de japoneses. Isto se dá pela força da cultura que faz com que os seus pais sejam muito
rígidos na formação dos filhos, até mesmo sobre os seus relacionamentos.
Uma curiosidade: O “Moinho de Holambra” funciona como os moinhos holandeses, não sendo
meramente um enfeite.

O estrangeiro sob a ótica de Georg Simmel

Temos na teoria de Georg Simmel uma distinção entre o viajante e o estrangeiro. Mesmo usando
corriqueiramente estrangeiro como todo e qualquer indivíduo que não seja do país do qual estamos
olhando. Neste caso, Simmel estabelece aqueles que viajam, mas não se estabelecem (viajantes), e os
que viajam para se estabelecer no local de destino (estrangeiro). Assim, não é necessário que essa
pessoa tenha vindo de outro país, mas sim de qualquer lugar, longe ou perto do local de destino. O
estrangeiro se destaca dos outros integrantes do local de destino por suas particularidades: cultural,

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idioma, características físicas. Por estes mesmos motivos, ele nunca se insere totalmente no grupo, às
vezes, nem os seus descendentes. A relação que se dá entre os estrangeiros e os habitantes locais
sempre se configuram na relação de amizade entre alguns membros deste grupo, mas de um
distanciamento e desprezo, por ambas as partes, quando se olha a relação com o grupo por suas
diferenças.
Por que o indivíduo imigra?
Um primeiro movimento é o da impossibilidade dos imigrantes, dando destaque para aqueles que
vieram para o Brasil, de se manterem nas suas terras pelos custos de produção e de impostos; por não
conseguirem pagar suas dívidas contraídas; não poderem sustentar suas famílias em suas terras e; por
não conseguirem comprar uma porção de terra quando buscava constituir família. O segundo movimento
ocorre nas cidades: Aqueles que saem do campo aumentam vertiginosamente o quadro de mão-de-obra
na indústria, que não consegue ser absorvido ou passa a ter que aceitar subempregos para poderem
sobreviver. O terceiro e último movimento é a sedução que muitos passaram a receber com propagandas
sobre fazer a vida na América: Muitos acreditavam que na América teriam a possibilidade de terem terras,
fazer fortuna com pouco trabalho, ou ao menos fazerem fortuna.
Depois que o fenômeno imigratório cessou, os imigrantes tiveram inúmeros resultados para não
voltarem, mesmo depois da estabilidade econômica na Europa e Japão, pós 1960: Muitos não
conseguiram enriquecer como as propagandas afirmavam. Mantinha-se a intenção de “fazer a América”;
Outros, ao contrário, enriqueceram ou se estabeleceram muito bem no país, não havendo motivos
para voltarem para seus países de origem, correndo risco de ficarem pobres de novo;
Outro grupo se estabeleceu no país, casando-se aqui e constituindo família, além de perderem o
contato com seus parentes de sua terra natal;
E havia o grupo de imigrantes que, ou achavam que o Brasil era um país melhor que o seu próprio; ou
achavam que o seu país era muito ruim e, mesmo achando que o Brasil não era ótimo, ainda era melhor
que a pátria mãe.

A formação da diversidade

Nos processos de aculturação e de assimilação ocorrem mudanças culturais, porem são diferentes.
Estas mudanças ocorrem por causas externas, quando duas ou mais culturas entram em contato, porém
as mudanças não se dão apenas por causas externas, há mudanças por fatores internos da própria
cultura. No final do processo de aculturação pode ocorrer a assimilação, que implica o fim da cultura de
um dos grupos, uma vez que a cultura do segundo grupo é assimilada pelo primeiro, embora seja algo
muito difícil de ocorrer (Falaremos no item 5.3.2 mais detalhadamente sobre Aculturação e Assimilação).

- Migração, emigração e imigração.

Basicamente a diferença entre migração, emigração e imigração são as seguintes:


- Migração - migração está em trocar de região, país, estado ou até mesmo domicílio.
- Imigração - movimento de entrada, com ânimo permanente ou temporário e com a intenção de
trabalho e/ou residência, de pessoas ou populações, de um país para outro.
Não se deve confundir a figura do imigrante com a do turista, que ingressa em um país apenas com o
intuito de visitá-lo e depois retornar ao seu país natal.
- Emigração - é o ato e o fenômeno espontâneo de deixar seu local de residência para se estabelecer
numa outra região ou nação.

- Aculturação e Assimilação:

Além do conceito de Darcy Ribeiro sobre como se fundou a sociedade brasileira – através da
miscigenação da "raça" branca (português), negra (povos africanos) e índio (nativos brasileiros) – outros
autores ao olhar de outra maneira, menos "poética", olham, além deste primeiro momento da
miscigenação um tanto forçada na maior pare do tempo entre estes três grupos.
Outros grupos que fizeram parte da formação da sociedade brasileira vieram, principalmente, da
Europa. Muitos países da Europa tiveram sua contribuição na imigração brasileira: Espanha, Portugal,
Itália, Alemanha, Suíça, Holanda, Ucrânia. Além disso, tivemos a imigração chinesa, coreana, japonesa,
estadunidense, boliviana, sírio-libanesa, e outras imigrações menos representativas. Em todo caso, cada
um destes grupos possibilitaram mudanças na realidade cultural no Brasil desde o século XVI. É evidente,
e não podemos descartar, que o Brasil como colônia tinha outras características que hoje já não são as
mesmas, inclusive naquilo que ainda é muito forte: a religião. Os dogmas católicos já resultaram em

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punições severas para os tidos como hereges ou pagãos. Hoje, depois de séculos de iluminismo e
liberalismo, os direitos individuais se fortaleceram, como o direito a vida.
Todos os povos, isolados ou não, possuem mudanças em sua cultura com o passar do tempo. No caso
brasileiro, encontramos essas mudanças no idioma, na alimentação, no vestuário. Exemplo: Mandioca
(Manioca – Tupi), Nhoque (Gnocchi – italiano), calça jeans (genes – italiano, mas difundido como jeans
por Levis Strauss – estadunidense). Todas estas coisas, e outras mais fazem parte do nosso dia a dia e
compõem nossa cultura. Um dos primeiros a estudar esse fenômeno foi John Wesley Powell, um geólogo
estadunidense. Na segunda metade do século XIX, após ter estudado a cultura indígena do oeste dos
EUA, Powell começou a estudar fenômeno da imigração italiana para o país. Deste estudo, percebeu que
as características de uma cultura podiam ser adquiridas pela outra a partir do contato, a modificando,
independente do distanciamento ou discriminação que um grupo cultural possa ter em relação ao outro.
A esta "troca" de características, Powell deu o nome de aculturação.
Outro fenômeno que se aproxima deste é outro, mais raro: a Assimilação. Neste fenômeno, um grupo
cultural mais forte "absorve" o grupo cultural mais fraco. No Brasil, muitos dos imigrantes se casaram com
brasileiros, ou os seus filhos, fazendo que muito do fosse uma cultura de povo, mas isolada em uma
família, se "diluísse" em meio à sociedade brasileira, restando apenas algumas características do povo
nos descendentes destes imigrantes. Outro ponto foi à destruição dos tupinambás: as mulheres eram
capturadas e forçadas a viver com os portugueses que vieram morar no Brasil; os homens, ou eram
escravizados, ou mortos em "guerras justas". Os séculos que se seguiram desde a chegada das primeiras
embarcações de Portugal, os tupinambás e outros grupos étnicos deixaram algumas de suas
características – produtos alimentícios, técnicas de artesanato, armas – mas a grande etnia Tupi foi
dizimada.

CULTURA
A cultura no Brasil é um reflexo da formação do país, já no período colonial, quando começam a surgir
as primeiras relações entre portugueses e indígenas, no primeiros anos do contato. Ao longo de mais de
cinco séculos de transformação, ela incorpora elementos de todos aqueles que ajudaram a criar o país
ou que vieram para o Brasil em buscas de vida nova. Do churrasco ao acarajé, catolicismo a umbanda,
norte ao sul, o Brasil é um país de contrastes, definidos por seus habitantes que convergem seus
costumes, crenças e práticas em território nacional.
Mesmo admitindo a existência de diversos estudos e discussões antropológicas sobre o conceito de
cultura, podemos considerá-la, grosso modo, da seguinte forma: a cultura diz respeito a um conjunto de
hábitos, comportamentos, valores morais, crenças e símbolos, dentre outros aspectos mais gerais, como
forma de organização social, política e econômica que caracterizam uma sociedade. Dessa forma,
podemos pensar na seguinte questão: o que caracteriza a cultura brasileira? Certamente, ela possui suas
particularidades quando comparada ao restante do mundo, principalmente quando nos debruçamos sobre
um passado marcado pela miscigenação racial entre índios, europeus e africanos e que sofreu ainda a
influência de povos do Oriente Médio e da Ásia. Além de celebrar seus escritores, como Nelson
Rodrigues, dramaturgo, jornalista e escritor, que deixou um legado que ressurge cada vez mais forte
através de suas obras sempre atuais, inexoráveis ao tempo, o cenário cultural brasileiro é marcado pelo
retomada da produção cinematográfica que tem levado alguns cineastas do Brasil a dirigir filmes na
Europa e nos Estado Unidos. José Padilha é o exemplo mais recente deste fenômeno. Depois do sucesso
com “Tropa de Elite”, ele dirigiu o remake de Robocop. No embalo da Copa do Mundo e das Olimpíadas
do Rio de Janeiro, que acontecem em 2016, ritmos musicais de diversas regiões do Brasil têm feito muito
sucesso no exterior. A culinária brasileira, conhecida pela forte influência europeia, africana e indígena
também ganha lugar de destaque.

Diversidade Cultural no Brasil


A diversidade cultural reflete os diferentes costumes e práticas que compõem a sociedade brasileira.
O Brasil é um país de dimensões continentais, que passou por diversos processos de ocupação,
migração, imigração e emigração, incorporando os traços de diversos povos e sociedades para compor
uma cultura única e diversificada. Além disso, por conter um extenso território, apresenta diferenças
climáticas, econômicas, sociais e culturais entre as suas regiões.
Entre as principais fontes de contribuição para a formação da cultura brasileira, estão os diferentes
povos indígenas que habitaram e ainda habitam o território brasileiro, os africanos escravizados e os
colonizadores e imigrantes europeus.
Para facilitar o entendimento da diversidade cultural brasileira é possível dividi-la pelas cinco regiões,
lembrando porém que cada localidade possui características únicas, que muitas vezes não podem
simplesmente serem englobadas de maneira simples.

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Arte Brasileira
A arte brasileira surge da mistura de outros estilos e se inicia desde o período da Pré-História há mais
de 5 mil anos, até a arte primitiva. Ela também foi influenciada pelo estilo artístico de outras sociedades.
Dentre elas, temos a arte da Pré-História brasileira, com vários sítios arqueológicos espalhados pelo
território e tombados pelo IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Outra a ser citada
é a arte indígena, na época do descobrimento do Brasil, quando no início, havia cerca de 5 milhões de
índios. Atualmente, esse número foi reduzido, assim como parte de sua cultura.
Outra arte brasileira a ser citada é a do Período Colonial. O Brasil transformou-se em colônia de
Portugal, depois da chegada de Cabral e eram feitas construções simples, como as feitorias, várias vilas,
engenhos de açúcar como representação da arte. Após a divisão do Brasil em capitanias hereditárias, foi
necessária a construção de casas para os colonizadores.
Na invasão dos holandeses que ficaram no nordeste do Brasil por quase 25 anos, no início de 1624,
se instalou uma cultura vinda dos povos holandeses. Apesar dos portugueses terem defendido o Brasil
de invasores, estes ainda conseguiram instalar-se. Artistas e cientistas vieram para o Recife, trazendo a
cultura holandesa. Outro estilo surgido foi o Barroco, ligado ao catolicismo. A influência da Missão Artística
Francesa, no início do século XIX, quando a família real veio ao Brasil foi intensa. A população começou
a imitar a cultura europeia. Eram pintados retratos da família real e algumas imagens dos índios
brasileiros.
A Pintura Acadêmica, também no século XIX, na arte brasileira, retrata a riqueza clássica, sendo que
era refletido um padrão de beleza ideal (padrões propostos pela Academia de Belas Artes). Já no início
do século XX, presenciamos o Modernismo Brasileiro, marcado inicialmente pela Semana de Arte
Moderna. E, antes disso, o Expressionismo já começa a chegar ao Brasil e fazer história com Lasar Segall
(1891-1957) que contribui para o Modernismo. Após a Semana de Arte Moderna, vários artistas
começaram a desenvolver um estilo próprio de pintura, sendo ela mais valorizada no país.
Além do já citado Lasar Segall, o Brasil tem grandes pintores, cujas obras têm reconhecimento
internacional. Entre os principais destaques, podemos incluir:

Cândido Portinari - Foi um dos pintores brasileiros mais famosos. Nasceu na cidade de Brodowski
(interior do estado de São Paulo), em 29 de dezembro de 1903. Destacou-se também nas áreas de poesia
e política. Durante sua trajetória, ele estudou na Escola de Belas-Artes do Rio de Janeiro; visitou muitos
países, como a Espanha, a França e a Itália, onde finalizou seus estudos. No ano de 1935 ele recebeu
uma premiação em Nova Iorque por sua obra "Café". Deste momento em diante, sua obra passou a ser
mundialmente conhecida. Dentre suas obras, destacam-se: "A Primeira Missa no Brasil", "São Francisco
de Assis" e “Tiradentes". Seus retratos mais famosos são: seu autorretrato, o retrato de sua mãe e o do
famoso escritor brasileiro Mário de Andrade. Características principais de suas obras: Retratou questões
sociais do Brasil; Utilizou alguns elementos artísticos da arte moderna europeia; Suas obras de arte
refletem influências do surrealismo, cubismo e da arte dos muralistas mexicanos; Arte figurativa,
valorizando as tradições da pintura.

Anita Malfatti - Foi uma importante e famosa artista plástica (pintora e desenhista) brasileira. Nasceu
na cidade de São Paulo, no dia 2 de dezembro de 1889 e faleceu na mesma cidade, em 6 de novembro
de 1964. Era filha de Bety Malfatti (norte-americana de origem alemã) e pai italiano. Estudou pintura em
escolas de arte na Alemanha e nos Estados Unidos (estudou na Independent School of Art em Nova
Iorque). Em sua passagem pela Alemanha, em 1910, entrou em contato com o expressionismo, que a
influenciou muito. Já nos Estados Unidos teve contato com o movimento modernista. Em 1917, Anita
Malfatti realizou uma exposição artística muito polêmica, por ser inovadora, e ao mesmo tempo
revolucionária. As obras de Anita, que retratavam principalmente os personagens marginalizados dos
centros urbanos, causou desaprovação nos integrantes das classes sociais mais conservadoras. Em
1922, junto com seu amigo Mario de Andrade, participou da Semana de Arte Moderna. Ela fazia parte do
Grupo dos Cinco, integrado por Malfatti, Mario de Andrade, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e
Menotti del Picchia. Entre os anos de 1923 e 1928 foi morar em Paris. Retornou a São Paulo em 1928 e
passou a lecionar desenho na Universidade Mackenzie até o ano de 1933. Em 1942, tornou-se presidente
do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo. Entre 1933 e 1953, passou a lecionar desenho nas
dependências de sua casa. Principais obras: “A boba”, “As margaridas de Mário”, “Natureza Morta -
objetos de Mário”, “A Estudante Russa”, “O homem das sete cores”, “Nu Cubista”, “O homem amarelo”,
“A Chinesa”, “Arvoredo” e “Interior de Mônaco”, entre outros.

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Di Cavalcanti - Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, mais conhecido como Di
Cavalcanti, foi um importante pintor, caricaturista e ilustrador brasileiro. Nasceu no Rio de Janeiro, em 6
de setembro de 1897. Desde jovem demonstrou grande interesse pela pintura. Com onze anos de idade
teve aulas de pintura com o artista Gaspar Puga Garcia. Seu primeiro trabalho como caricaturista foi para
a revista Fon-Fon, em 1914. Participou do Primeiro Salão de Humoristas em 1916. Mudou para São Paulo
em 1917. No mesmo ano, fez a primeira exposição individual para a revista "A Cigarra". Participou da
Semana de Arte Moderna de 1922, expondo 11 obras de arte e elaborando a capa do catálogo. Em 1923,
foi morar em Paris como correspondente internacional do jornal Correio da Manhã. Retornou para o Brasil
dois anos depois e foi morar no Rio de Janeiro. Em 1926, fez a ilustração da capa do livro O Losango de
Cáqui de Mário de Andrade. Neste mesmo ano participa como ilustrador e jornalista do jornal Diário da
Noite. Foi premiado, junto com o pintor Alfredo Volpi, como melhor pintor nacional na II Bienal de São
Paulo. Seu estilo artístico é marcado pela influência do expressionismo, cubismo e dos muralistas
mexicanos (Diego Rivera, por exemplo). Abordou temas tipicamente brasileiros como, por exemplo, o
samba. O cenário geográfico brasileiro também foi muito retratado em suas obras. Em suas obras são
comuns os temas sociais do Brasil (festas populares, operários, as favelas, protestos sociais, etc).
Estética que abordava a sensualidade tropical do Brasil, enfatizando os diversos tipos femininos.
Principais obras: “Pierrete”, “Samba”, “Mangue” e “Cinco Moças de Guaratinguetá”, entre outras.

Tarsila do Amaral - foi uma das mais importantes pintoras brasileiras do movimento modernista.
Nasceu na cidade de Capivari (interior de São Paulo), em 1º de setembro de 1886. Na adolescência,
Tarsila estudou no Colégio Sion, localizado em São Paulo, porém, completou os estudos numa escola de
Barcelona (Espanha). Desde jovem, demonstrou muito interesse pelas artes plásticas. Aos 16 anos,
pintou seu primeiro quadro, intitulado Sagrado Coração de Jesus. Em 1906, casou-se pela primeira vez
com André Teixeira Pinto e com ele teve sua única filha, Dulce. Após se separar, começa a estudar
escultura. Somente aos 31 anos começou a aprender as técnicas de pintura com Pedro Alexandrino
Borges (pintor, professor e decorador). Em 1920, foi estudar na Academia Julian (escola particular de
artes plásticas) na cidade de Paris. Em 1922, participou do Salão Oficial dos Artistas da França, utilizando
em suas obras as técnicas do cubismo. Retornou para o Brasil em 1922, formando o "Grupo dos Cinco",
junto com Anita Malfatti, Mario de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia. Este grupo foi o
mais importante da Semana de Arte Moderna de 1922. Em 1923, retornou para a Europa e teve contatos
com vários artistas e escritores ligados ao movimento modernista europeu. Entre as décadas de 1920 e
1930, pintou suas obras de maior importância e que fizeram grande sucesso no mundo das artes. Entre
as obras desta fase, podemos citar as mais conhecidas: Abaporu (1928) e Operários (1933). No final da
década de 1920, Tarsila criou os movimentos Pau-Brasil e Antropofágico. Entre as propostas desta fase,
Tarsila defendia que os artistas brasileiros deveriam conhecer bem a arte europeia, porém deveriam criar
uma estética brasileira, apenas inspirada nos movimentos europeus. Características de suas obras: Uso
de cores vivas; Influência do cubismo (uso de formas geométricas); Abordagem de temas sociais,
cotidianos e paisagens do Brasil; Estética fora do padrão (influência do surrealismo na fase
antropofágica). Principais obras: “Abaporu”, “Autorretrato”, “Retrato de Oswald de Andrade”, “Estudo
(Nu)”, “Natureza-morta com relógios”, entre outras.

Volpi - Alfredo Foguebecca Volpi, artista plástico ítalo-brasileiro. É considerado um dos principais
artistas da Segunda Geração da Arte Moderna Brasileira. Ganhou destaque com pinturas representando
casarios e bandeirinhas de festas juninas (sua marca registrada). Nasceu na cidade de Lucca (Itália) em
14 de abril de 1896. Atuou como pintor decorador de residências de famílias da alta sociedade paulistana,
fazendo pinturas em paredes e murais; Ganhou o prêmio de melhor pintor nacional na Bienal de Artes de
1953; Fez afrescos na Capela São Pedro de Monte Alegre e Participou da 1ª Exposição de Arte Concreta
em 1956. Estética: explorou as formas e composição de cores com grande impacto visual. Nos anos 50
enveredou para o campo do abstracionismo geométrico. Foi neste período que começou a retratar
bandeirinhas de festas juninas. Principais obras: "Mulata", "Fachada e Rua", "Festa de São João",
"Grande Fachada Festiva" e "Fachadas".

Literatura brasileira
A literatura no Brasil viveu vários períodos, geralmente recebendo influência de escolas europeias.
Houve ainda um movimento que tentou criar uma identidade puramente nacional, voltada à abordagem
de temas cotidianos. Os principais momentos da produção literária no Brasil foram:

Quinhentismo (século XVI) - Representa a fase inicial da literatura brasileira, pois ocorreu no começo
da colonização. Representante da Literatura Jesuíta ou de Catequese, destaca-se Padre José de

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Anchieta com seus poemas, autos, sermões cartas e hinos. O objetivo principal deste padre jesuíta, com
sua produção literária, era catequizar os índios brasileiros. Nesta época, destaca-se ainda Pero Vaz de
Caminha, o escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral. Através de suas cartas e seu diário, elaborou uma
literatura de Informação (de viagem) sobre o Brasil. O objetivo de Caminha era informar o rei de Portugal
sobre as características geográficas, vegetais e sociais da nova terra.

Barroco (século XVII) - Essa época foi marcada pelas oposições e pelos conflitos espirituais. Esse
contexto histórico acabou influenciando na produção literária, gerando o fenômeno do barroco. As obras
são marcadas pela angústia e pela oposição entre o mundo material e o espiritual. Metáforas, antíteses
e hipérboles são as figuras de linguagem mais usadas neste período. Podemos citar como principais
representantes desta época: Bento Teixeira, autor de Prosopopeia; Gregório de Matos Guerra (Boca do
Inferno), autor de várias poesias críticas e satíricas; e padre Antônio Vieira, autor de Sermão de Santo
Antônio ou dos Peixes.

Neoclassicismo ou Arcadismo (século XVIII) - O século XVIII é marcado pela ascensão da burguesia
e de seus valores. Esse fato influenciou na produção da obras desta época. Enquanto as preocupações
e conflitos do barroco são deixados de lado, entra em cena o objetivismo e a razão. A linguagem complexa
é trocada por uma linguagem mais fácil. Os ideais de vida no campo são retomados (fugere urbem = fuga
das cidades) e a vida bucólica passa a ser valorizada, assim como a idealização da natureza e da mulher
amada. As principais obras desta época são: Obra Poética, de Cláudio Manoel da Costa; O Uraguai, de
Basílio da Gama; Cartas Chilenas e Marília de Dirceu, de Tomás Antonio Gonzaga; e Caramuru, de Frei
José de Santa Rita Durão.

Romantismo (século XIX) - A modernização ocorrida no Brasil, com a chegada da família real
portuguesa em 1808, e a Independência do Brasil em 1822 são dois fatos históricos que influenciaram na
literatura do período. Como características principais do romantismo, podemos citar: individualismo,
nacionalismo, retomada dos fatos históricos importantes, idealização da mulher, espírito criativo e
sonhador, valorização da liberdade e o uso de metáforas. As principais obras românticas que podemos
citar: O Guarani, de José de Alencar; Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães;
Espumas Flutuantes, de Castro Alves; e Primeiros Cantos, de Gonçalves Dias. Outros importantes
escritores e poetas do período: Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo, Junqueira Freire e Teixeira e
Souza.

Realismo - Naturalismo (segunda metade do século XIX) - Na segunda metade do século XIX, a
literatura romântica entrou em declínio, juntos com seus ideais. Os escritores e poetas realistas começam
a falar da realidade social e dos principais problemas e conflitos do ser humano. Como características
desta fase, podemos citar: objetivismo, linguagem popular, trama psicológica, valorização de
personagens inspirados na realidade, uso de cenas cotidianas, crítica social, visão irônica da realidade.
O principal representante desta fase foi Machado de Assis, com as obras: Memórias Póstumas de Brás
Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro e O Alienista. Podemos citar ainda como escritores realistas
Aluísio de Azedo, autor de O Mulato e O Cortiço e Raul Pompéia, autor de O Ateneu.

Parnasianismo (final do século XIX e início do século XX) - O parnasianismo buscou os temas
clássicos, valorizando o rigor formal e a poesia descritiva. Os autores parnasianos usavam uma
linguagem rebuscada, vocabulário culto, temas mitológicos e descrições detalhadas. Diziam que faziam
a arte pela arte. Graças a esta postura foram chamados de criadores de uma literatura alienada, pois não
retratavam os problemas sociais que ocorriam naquela época. Os principais autores parnasianos são:
Olavo Bilac, Raimundo Correa, Alberto de Oliveira e Vicente de Carvalho.

Simbolismo (fins do século XIX) - Esta fase literária inicia-se com a publicação de Missal e Broqueis,
de João da Cruz e Souza. Os poetas simbolistas usavam uma linguagem abstrata e sugestiva, enchendo
suas obras de misticismo e religiosidade. Valorizavam muito os mistérios da morte e dos sonhos,
carregando os textos de subjetivismo. Os principais representantes do simbolismo foram: Cruz e Souza
e Alphonsus de Guimaraens.

Pré-Modernismo (1902 até 1922) - Este período é marcado pela transição, pois o modernismo só
começou em 1922, com a Semana de Arte Moderna. Está época é marcada pelo regionalismo,
positivismo, busca dos valores tradicionais, linguagem coloquial e valorização dos problemas sociais. Os

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principais autores deste período são: Euclides da Cunha (autor de Os Sertões), Monteiro Lobato, Lima
Barreto, autor de Triste Fim de Policarpo Quaresma, e Augusto dos Anjos.

Modernismo (1922 a 1930) - Este período começa com a Semana de Arte Moderna de 1922. As
principais características da literatura modernista são: nacionalismo, temas do cotidiano (urbanos),
linguagem com humor, liberdade no uso de palavras e textos diretos. Principais escritores modernistas:
Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Cassiano Ricardo, Alcântara Machado e Manuel Bandeira.
Neorrealismo (1930 a 1945) - Fase da literatura brasileira na qual os escritores retomam as críticas e
as denúncias aos grandes problemas sociais do Brasil. Os assuntos místicos, religiosos e urbanos
também são retomados. Destacam-se as seguintes obras: Vidas Secas, de Graciliano Ramos; Fogo
Morto, de José Lins do Rego; O Quinze, de Raquel de Queiroz; e O País do Carnaval, de Jorge Amado.
Os principais poetas desta época são: Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade e Cecília
Meireles.

Arquitetura Brasileira
A arquitetura indígena é baseada nas convicções mágicas que tinham tanto para a moradia quanto
para o conjunto urbano. A disposição geométrica de uma aldeia visa funcionalidade, mas também é
orientada pelo gosto. Uma aldeia circular, com orientação norte-sul, tendo como eixo a casa central
servindo de passagem e como espaço de reuniões, seu conceito é a “aldeia do além”: assim, o arco da
existência supera o tempo e o trânsito terreno em função do infinito. Esta filosofia governa os atos de
viver, as expressões plásticas e mais ainda a poesia, compondo uma cultura bem definida.
Já os portugueses começam da estaca zero, os pioneiros improvisavam-se construtores para levantar
moradias e entrincheiramento a fim de se defenderem dos índios e de outros brancos. Na necessidade
da conquista e manutenção do espaço cria-se um sistema feudal e organizam-se os arraiais, como no
caso de Salvador uma cidade cercada por muros de taipa, essa técnica, embora precária quando bem
mantida, perpetua-se ao longo dos séculos. Em cada uma das regiões ocupadas recursos locais são
utilizados na construção, como a carnaúba no Piauí que ainda hoje é utilizada.
Até a primeira metade deste século grande parte das casas no Recife era construída como no século
do descobrimento. A “casa-fortaleza”, como era denominada, utilizava pedra, cal, pau a pique e era
telhada e avarandada. Não se tem amostras, mas sabe-se através dos documentos que obedeciam às
prescrições da Coroa ao conceder-se uma sesmaria. Com o crescimento das vilas, os construtores
começam a procurar materiais mais resistentes e passam a utilizar a pedra. A primeira obra em pedra
parece ter sido a torre de Olinda, construída por seu primeiro donatário (Duarte Coelho).
A grande produção desta época é de fortalezas e o número de arquitetos é grande, porém a maioria
ocultos. A arquitetura “arte” foi preocupação dos missionários, pois sabiam da importância da construção
das Igrejas na catequese. Esta arquitetura toma vulto com a chegada de Francisco Dias e Luís Dias,
assim como Grandejean de Montiny, no século XIX e Le Corbusier no século XX. Deve-se notar aqui as
conquistas holandesas, os batavos muito produziram com alta qualidade e fazem com que Recife torne-
se a cidade mais importante da colônia, porém não se misturam com os produtores da insipiente arte
local. É com a ajuda de Pieter Post, arquiteto incluído na expedição de Nassau, que se realizam um
conjunto de obras urbanísticas e arquitetônicas notáveis. É nesta época que o barroco começa a dar
sinais de vida, e as Igrejas buscam construir com luxo, enquanto o povo continuará a viver da maneira
mais simples até os anos setecentos. A prosperidade da arquitetura religiosa deve-se, também, à
instituição das Irmandades que construíam suas igrejas, às vezes, rivalizando com as Ordens. Os artistas
eram disputados e razoavelmente retribuídos.
Nosso barroco floresce de maneira torta e não é comparável aos outros movimentos no mundo, pode-
se dizer que é mais parecido com o alemão do que com o italiano. A arquitetura civil é inexpressiva e
servia, praticamente, a fins religiosos. Quase todos os arquitetos brasileiros da primeira metade do século
XVIII, constroem igrejas de nave octogonal, a primeira, construída entre 1714 e 1730, é a de Nossa
Senhora da Glória do Outeiro, no Rio de Janeiro, muito importante por representar uma evolução em
relação às igrejas portuguesas ou mesmo qualquer igreja da época. Outras Igrejas brasileiras de plano
octogonal são: a igreja paroquial de Antônio Dias (1727); a Igreja de Santa Efigênia em Ouro Preto (1727),
ambas atribuídas a Manuel Francisco Lisboa, pai de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho; igreja do
Pilar em Ouro Preto (1720); igreja de São Pedro dos Clérigos de Recife (1728-1782), de Manoel Ferreira
Jácome; igreja da Conceição da Praia em Salvador, projetada por Manoel Cardoso Saldanha, que foi a
última de importância construída na Bahia, também a última de plano octogonal a ser erguida, tanto no
Brasil quanto em Portugal.
Na segunda metade do século XVIII, Minas Gerais passa a dominar a arquitetura religiosa em igrejas
como: o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo (1757-1770); a de São Pedro

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dos Clérigos, em Mariana (1771) e a Capela do Rosário de Ouro Preto. Antônio Francisco Lisboa, o
Aleijadinho principal escultor e arquiteto da época deixou vasta obra, adepto do estilo rococó, soube
integrar melhor do que ninguém a arquitetura e a escultura, a decoração rebuscada à sobriedade da
arquitetura religiosa portuguesa. Ele modifica a estrutura do altar suprimindo o baldaquim ou elevando-o
até a abóbada. A igreja de São Francisco em Ouro Preto foi inteiramente projetada, construída e decorada
por Aleijadinho num espaço de vinte e oito anos entre 1766 e 1794, o que explica sua extraordinária
unidade. Sua capela-mor é uma das obras mais importantes de Aleijadinho.
A transferência da Corte de Dom João VI para o Brasil provoca mudanças sensíveis na arquitetura.
Em 1816 chega ao Rio de Janeiro a chamada Missão Francesa incumbida, por Dom João, da educação
artística do povo brasileiro. Liderada por Lebreton, a missão trouxe como arquiteto Auguste-Henri-Victor
Grandjean de Montigny (1776-1850), que introduziu o Neoclassicismo e fez adeptos. A primeira obra, que
foi encomendada a ele, foi a da Academia de Belas-Artes, edifício cujas obras paralisadas durante anos,
por ocasião da morte do Conde da Barca, responsável pela vinda de Grandjean. Tal fato faz com que o
arquiteto passe a dedicar-se a outros projetos, como o edifício da Praça do Comércio, já demolido, a
Alfândega, o antigo Mercado da Candelária e várias residências, além de ter sido o primeiro professor de
arquitetura do Brasil. Atuaram também nesta época os arquitetos José da Costa e Silva, Manuel da Costa
e o Mestre Valentim da Fonseca e Silva, autor da ornamentação do passeio público do Rio de Janeiro.
Já no começo do século, o Art Nouveau e o Art Deco aparecem de forma restrita, principalmente em
São Paulo, e seu expoente máximo é Victor Dubugras, que faleceu em 1934. A Semana de Arte Moderna
de 1922 e a sequente revolução de 1930 são a alavanca da arquitetura moderna no Brasil. Já em 1925 o
arquiteto Gregori Warchavchik publicou seu Manifesto da Arquitetura Funcional. É interessante notar que
a Casa Modernista que Warchavchik construiu em São Paulo, em 1928, é anterior à construção da Casa
das Rosas, da Av. Paulista. Le Corbusier, arquiteto modernista francês, visitou o Brasil pela primeira vez
em 1929 e realizou conferências no Rio e em São Paulo; chegou a propor um plano de urbanização para
o Rio de Janeiro que não foi executado. Provavelmente o seria, não fosse a Revolução que colocou
Getúlio Vargas no poder e Júlio Prestes no exílio. Mas a revolução traz vantagens para a arquitetura:
Lúcio Costa torna-se diretor da Escola Nacional de Belas Artes, para onde chama Warchavchik. Por
motivos políticos, sua gestão não dura um ano, mas não sem frutos. Cedo uma nova geração de
arquitetos surgia: Luiz Nunes, os irmãos M.M.M. Roberto, Aldo Garcia Roza, entre outros.
Em 1935, é realizado o concurso para o prédio do Ministério da Educação no Rio de Janeiro, cujo
primeiro prêmio foi para um projeto puramente acadêmico; porém, por decisão do Ministro Gustavo
Capanema, o projeto passa para as mãos de Lúcio Costa, que reúne uma equipe com outros
concorrentes, entre eles Oscar Niemeyer. Le Corbusier faz nova visita ao Brasil para opinar sobre o
projeto do concurso e também para discutir o projeto da Cidade Universitária do Rio de Janeiro. Lúcio
Costa deixou, em 1939, a chefia da equipe que construía o Ministério da Educação e em seu lugar assume
Oscar Niemeyer, no início de uma carreira brilhante, que tem seu apogeu juntamente com Lúcio Costa,
com a construção de Brasília, vinte anos mais tarde. No mesmo ano de 1939, acontece a Exposição
Internacional de Nova York, onde o Pavilhão do Brasil, obra de Lúcio e Oscar, causa furor.
A arquitetura brasileira dá sinais de vida mundialmente. Niemeyer constrói o conjunto da Pampulha
em Belo Horizonte durante a prefeitura de Juscelino Kubitschek, que depois o leva para Brasília, onde
realizará um conjunto de obras notáveis juntamente com o plano geral de Lúcio Costa. Oscar Niemeyer
também esteve à frente da equipe que construiu o parque do Ibirapuera em São Paulo entre 1951 e 1955.
No Ibirapuera, o paisagismo é de Roberto Burle Marx, que tem vasta obra a ser apreciada e é o maior
expoente dessa arte no país.
Em 1954, foi construído o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, de Affonso Eduardo Reidy. Outro
arquiteto modernista de grande importância é Villanova Artigas, autor, entre outras obras, da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Artigas, que esteve exilado por causa do
regime militar, quando retornou ao Brasil, viu-se obrigado a fazer uma prova de admissão para poder
lecionar na faculdade que ele mesmo projetara, prova que ficou registrada em forma de livro.
Não é possível, neste breve esforço, abranger toda a produção arquitetônica contemporânea, porém
não podemos deixar de citar aqui a grande obra de Lina Bo Bardi, mulher de Pietro Maria Bardi, autora
de projetos como o do SESC Pompéia, em São Paulo ou o do MASP (Museu de Arte de São Paulo), cuja
arrojada estrutura foi uma imposição do terreno. O projeto deveria conservar o antigo belvedere, e a
solução encontrada por Lina foi construir um prédio sustentado apenas por quatro pilares nas
extremidades do terreno, uma vez que o túnel da Av. 9 de julho, que passa por baixo do terreno, não
permitia outra conformação. O resultado é uma grande caixa de vidro suspensa, envolta em dois pórticos,
formados pelos pilares somados às vigas de sustentação da cobertura. Seu vão livre, de setenta e dois
metros em concreto protendido, é uma aventura a ser apreciada.

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Cinema no Brasil
Em 1896, chegaram ao Rio de Janeiro aparelhos de projeção cinematográfica, em 1898, foram
realizadas as primeiras filmagens no Brasil. Somente em 1907, com o advento da energia elétrica
industrial na cidade, o comércio cinematográfico começou a se desenvolver. Nesta fase predominou
filmes de reconstituição de fatos do dia-a-dia. A partir de 1912, das mãos de Francisco Serrador, Antônio
Leal e dos irmãos Botelho eram produzidos filmes com menos de uma hora de projeção, época em que
o cinema nacional encarou forte crise perante o domínio norte-americano nas salas de exibição, os
cinejornais e documentários é que captavam recursos para as produções de ficção. Em 1925, a qualidade
e o ritmo das produções aumenta, o cinema mudo brasileiro se consolida e os veículos de comunicação
da época inauguram colunas para divulgar o nosso cinema. Entre os anos 30 e 40, o cinema falado abre
um reinício para a produção nacional que limita-se ao Rio em comédias populares, conhecidas como
chanchadas musicais que lançaram atores como Mesquitinha, Oscarito e Grande Otelo.
A década de 30 foi dominada pela Cinédia e os anos 40 pela Atlântida. No período de 1950 a 1960,
em São Paulo, paralelo à fundação do Teatro Brasileiro de Comédia e abertura do Museu de Arte
Moderna, surge o estúdio da Vera Cruz que através de fortes investimentos e contratação de profissionais
estrangeiros busca produzir no Brasil, uma linha de filmes sérios, industrial, com uma preocupação
estético-cultural hollywoodiana e com a participação de grandes estrelas como Tônia Carreiro, Anselmo
Duarte, Jardel Filho, entre outros. A Vera Cruz tinha uma produção cara e de qualidade, mas faltava-lhe
uma distribuidora própria e salas para absorver a sua produção, uma de suas produções foi premiada em
Cannes, o filme Cangaceiro, de Lima Barreto. Em oposição às produções paulistas e cariocas, surgem
cineastas independentes que a partir da década de 60, buscam manter a pretensão artística da Vera
Cruz, como por exemplo Walter Hugo Khouri, e uma esfera neorrealista, com o filme “Rio 40°” de Nelson
Pereira dos Santos. Nesta fase há o fenômeno de filmes feitos na Bahia, por baianos e sulistas, como o
“Pagador de Promessas”, é o surgimento do Cinema Novo, movimento carioca que abarca o que há de
melhor no cinema nacional, época de intensa produção e premiação de nomes como os de Glauber
Rocha, Serraceni, Ruy Guerra, entre outros.

Televisão no Brasil
A primeira emissora de televisão no Brasil, a TV Tupi, foi inaugurada há 60 anos, em 18 de setembro
de 1950. No começo, os programas eram ao vivo e caracterizados pela improvisação, experimentação
em linguagem (adaptada do rádio e do teatro) e falta de aparelhos receptores, devido ao alto custo.
O idealizador da TV brasileira foi Assis Chateaubriand (1892-1968), dono dos Diários Associados, um
império de comunicação que incluía dezenas de jornais, revistas e rádios. Como não havia televisores no
país, o empresário contrabandeou 200 aparelhos. Até os anos 1960, novas emissoras foram inauguradas,
como a TV Excelsior, a Globo, a Bandeirantes e a Rede Record. Nesse período a TV Tupi entrou em
decadência, até ter a concessão cassada em 1980.
Segundo o IBGE, há hoje nos domicílios brasileiros mais TVs (95%) do que geladeiras (92%). Nesta
primeira década do século, o veículo passa por transformações, como a chegada da TV Digital e a
convergência com outras mídias. A despeito disso, a regulamentação para o setor no Brasil é um das
mais atrasadas do mundo e favorece a manutenção de oligopólios.

Música Brasileira
Podemos dizer que a MPB surgiu ainda no período colonial brasileiro, a partir da mistura de vários
estilos. Entre os séculos XVI e XVIII, misturaram-se em nossa terra as cantigas populares, os sons de
origem africana, fanfarras militares, músicas religiosas e músicas eruditas europeias. Também
contribuíram, neste caldeirão musical, os indígenas com seus típicos cantos e sons tribais. Nos séculos
XVIII e XIX, destacavam-se nas cidades, que estavam se desenvolvendo e aumentando
demograficamente, dois ritmos musicais que marcaram a história da MPB: o lundu e a modinha. O lundu,
de origem africana, possuía um forte caráter sensual e uma batida rítmica dançante. Já a modinha, de
origem portuguesa, trazia a melancolia e falava de amor numa batida calma e erudita. Na segunda metade
do século XIX, surge o Choro ou Chorinho, a partir da mistura do lundu, da modinha e da dança de salão
europeia. Em 1899, a cantora Chiquinha Gonzaga compõe a música Abre Alas, uma das mais conhecidas
marchinhas carnavalescas da história. Já no início do século XX começam a surgir as bases do que seria
o samba. Dos morros e dos cortiços do Rio de Janeiro, começam a se misturar os batuques e rodas de
capoeira com os pagodes e as batidas em homenagem aos orixás.
O carnaval começa a tomar forma com a participação, principalmente de mulatos e negros ex-
escravos. O ano de 1917 é um marco, pois Ernesto dos Santos, o Donga, compõe o primeiro samba que
se tem notícia: Pelo Telefone. Neste mesmo ano, aparece a primeira gravação de Pixinguinha, importante
cantor e compositor da MPB do início do século XIX. Com o crescimento e popularização do rádio nas

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décadas de 1920 e 1930, a música popular brasileira cresce ainda mais. Nesta época inicial do rádio
brasileiro, destacam-se os seguintes cantores e compositores: Ary Barroso, Lamartine Babo (criador de
O teu cabelo não nega), Dorival Caymmi, Lupicínio Rodrigues e Noel Rosa. Surgem também os grandes
intérpretes da música popular brasileira: Carmen Miranda, Mário Reis e Francisco Alves. Na década de
1940 destaca-se, no cenário musical brasileiro, Luis Gonzaga, o "rei do Baião". Falando do cenário da
seca nordestina, Luis Gonzaga faz sucesso com músicas como, por exemplo, Asa Branca e Assum Preto.
Enquanto o baião continuava a fazer sucesso com Luis Gonzaga e com os novos sucessos de Jackson
do Pandeiro e Alvarenga e Ranchinho, ganhava corpo um novo estilo musical: o samba-canção.
Com um ritmo mais calmo e orquestrado, as canções falavam principalmente de amor. Destacam-se
neste contexto musical: Dolores Duran, Antônio Maria, Marlene, Emilinha Borba, Dalva de Oliveira, Angela
Maria e Caubi Peixoto. Em fins dos anos 50 (década de 1950), surge a Bossa Nova, um estilo sofisticado
e suave. Destaca-se Elizeth Cardoso, Tom Jobim e João Gilberto. A Bossa Nova leva as belezas
brasileiras para o exterior, fazendo grande sucesso, principalmente nos Estados Unidos. A televisão
começou a se popularizar em meados da década de 1960, influenciando na música. Nesta época, a TV
Record organizou o Festival de Música Popular Brasileira. Nestes festivais são lançados Milton
Nascimento, Elis Regina, Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso e Edu Lobo. Neste mesmo período,
a TV Record lança o programa musical Jovem Guarda, onde despontam os cantores Roberto Carlos e
Erasmo Carlos e a cantora Wanderléa. Na década de 1970, vários músicos começam a fazer sucesso
nos quatro cantos do país. Nara Leão grava músicas de Cartola e Nelson do Cavaquinho. Vindas da
Bahia, Gal Costa e Maria Bethânia fazem sucesso nas grandes cidades.
O mesmo acontece com Djavan (vindo de Alagoas), Fafá de Belém (vinda do Pará), Clara Nunes (de
Minas Gerais), Belchior e Fagner (ambos do Ceará), Alceu Valença (de Pernambuco) e Elba Ramalho
(da Paraíba). No cenário do rock brasileiro destacam-se Raul Seixas e Rita Lee. No cenário funk
aparecem Tim Maia e Jorge Ben Jor. Nas décadas de 1980 e 1990 começam a fazer sucesso novos
estilos musicais, que recebiam fortes influências do exterior. São as décadas do rock, do punk e da new
wave. O show Rock in Rio, do início dos anos 80, serviu para impulsionar o rock nacional.Com uma
temática fortemente urbana e tratando de temas sociais, juvenis e amorosos, surgem várias bandas
musicais. É deste período o grupo Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Titãs, Kid Abelha, RPM, Plebe
Rude, Ultraje a Rigor, Capital Inicial, Engenheiros do Hawaii, Ira! e Barão Vermelho. Também fazem
sucesso: Cazuza, Rita Lee, Lulu Santos, Marina Lima, Lobão, Cássia Eller, Zeca Pagodinho e Raul
Seixas.
Os anos 90 também são marcados pelo crescimento e sucesso da música sertaneja ou country. Neste
contexto, com um forte caráter romântico, despontam no cenário musical: Chitãozinho e Xororó, Zezé di
Camargo e Luciano, Leandro e Leonardo e João Paulo e Daniel. Nesta época, no cenário pop destacam-
se: Gabriel, o Pensador, O Rappa, Planet Hemp, Racionais MCs e Pavilhão 9. O século XXI começa com
o sucesso de grupos de rock com temáticas voltadas para o público jovem e adolescente. São exemplos:
Charlie Brown Jr, Skank, Detonautas e CPM 22.

Teatro no Brasil
Uma das primeiras manifestações do teatro no Brasil ocorreu no século XVI como forma de
catequização. O teatro era utilizado pelos jesuítas para instruir religiosamente os índios e colonos. O
padre Anchieta é um dos principais jesuítas que utilizou estes tipos de representações que eram
chamadas de teatro de catequese. Esse teatro possuía uma preocupação muito mais religiosa do que
artística, os atores eram amadores e não existiam espaços destinados à atividade teatral, as peças eram
encenadas em praças, ruas, colégios entre outros. Já no século XVII, além do teatro de catequese emerge
outros tipos de teatros que celebram festas populares e acontecimentos políticos, alguns lembram muito
o carnaval como conhecemos hoje, as pessoas saíam às ruas para comemorações vestidas com
adereços, desfilando mascaradas, dançando, cantando e tocando instrumentos.
Com a chegada da família real no Brasil, em 1808, o teatro dá um grande salto. D. João VI assina um
decreto de 28 de maio de 1810 que reconhece a necessidade da construção de "teatros decentes" para
a nobreza que necessitava de diversão. Grandes espetáculos começaram a chegar ao Brasil porém, além
de serem estrangeiros e refletirem os gostos europeus da época eram somente para os aristocratas e o
povo não tinha qualquer participação, o teatro não tinha uma identidade brasileira. No século XIX o teatro
brasileiro começa a se configurar e um grande marco foi a representação da tragédia Antônio José ou O
Poeta e a Inquisição de Gonçalves Magalhães em 13 de março de 1838. Esse drama foi encenado por
uma companhia genuinamente brasileira, com atores e propósitos nacionalistas formado pelo ator João
Caetano.
Nessa época surgem as Comédias de Costume com o escritor teatral Luiz Carlos Martins Pena que
buscava em fatos da época situações para arrancar da plateia muitos risos. Muitos autores teatrais

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surgiram como Antônio Gonçalves Dias, Manuel Antônio Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Castro
Alves, Luís Antônio Burgain, Manuel de Araújo Porto Alegre, Joaquim Norberto da Silva, Antônio
Gonçalves Teixeira e Souza, Agrário de Menezes, Barata Ribeiro, Luigi Vicenzo de Simoni e Francisco
José Pinheiro Guimarães. Em 1855 surge o teatro realista no Brasil, o teatro deixa de lado os dramalhões
e visa o debate de temas atuais, problemas sociais e conflitos psicológicos tentando mostras e revelar o
cotidiano da sociedade, o amor adúltero, a falsidade e o egoísmo humanos. Um dos mais importantes
autores dessa época é Joaquim Manoel de Macedo, autor da obra-prima A Moreninha, de Arthur Azevedo.
A Semana de Arte Moderna de 1922, que foi um marco para as artes não abrangeu o teatro que ficou
esquecido, adormecido por longos anos.
A renovação do teatro brasileiro veio em 1943, com a estreia de Vestido de Noiva, de Gianfrancesco
Guarnieri e Nelson Rodrigues, sob a direção de Ziembinski, que escandalizou o público e modernizou o
palco brasileiro. Vestido de Noiva fez um grande sucesso assim como o Auto da Compadecida, de Ariano
Suassuna. Vale destacar Teatro Brasileiro de Comédia formado por grandes artistas como Cacilda
Becker, Tônia Carrero, Sérgio Cardoso, Paulo Autran, Fernanda Montenegro, entre outros e o Teatro de
Arena que encenou a peça Eles Não Usam Black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri, em 1958, um grande
sucesso. Com o golpe militar em 1964 veio a censura e um número enorme de peças foram proibidas e
somente a partir dos anos 70 o teatro novamente ressurge mostrando produções constantes.

A NOVA ORDEM MUNDIAL, O ESPAÇO GEOPOLÍTICO E A GLOBALIZAÇÃO


Uma ordem mundial diz respeito às configurações gerais das hierarquias de poder existentes entre os
países do mundo. Dessa forma, as ordens mundiais modificam-se a cada oscilação em seu contexto
histórico. Portanto, ao falar de uma nova ordem mundial, estamos nos referindo ao atual contexto das
relações políticas e econômicas internacionais de poder.
Durante a Guerra Fria, existiam duas nações principais que dominavam e polarizavam as relações de
poder no globo: Estados Unidos e União Soviética.
Essa ordem mundial era notadamente marcada pelas corridas armamentista e espacial e pelas
disputas geopolíticas no que se refere ao grau de influência de cada uma no plano internacional. Este era
o mundo bipolar.
A partir do final da década de 1980 e início dos anos 1990, mais especificamente após a queda do
Muro de Berlim e do esfacelamento da União Soviética, o mundo passou a conhecer apenas uma grande
potência econômica e, principalmente, militar: os EUA. Analistas e cientistas políticos passaram a nomear
a então ordem mundial vigente como unipolar.
Entretanto, tal nomeação não era consenso. Alguns analistas enxergavam que tal soberania pudesse
não ser tão notável assim, até porque a ordem mundial deixava de ser medida pelo poderio bélico e
espacial de uma nação e passava a ser medida pelo poderio político e econômico.
Nesse contexto, nos últimos anos, o mundo assistiu às sucessivas crescentes econômicas da União
Europeia e do Japão, apesar das crises que estas frentes de poder sofreram no final dos anos 2000.
De outro lado, também vêm sendo notáveis os índices de crescimento econômico que colocaram a
China como a segunda maior nação do mundo em tamanho do PIB (Produto Interno Bruto). Por esse
motivo, muitos cientistas políticos passaram a denominar a Nova Ordem Mundial como mundo multipolar.
Mas é preciso lembrar que não há no mundo nenhuma nação que possua o poderio bélico e nuclear
dos EUA.
Esse país possui bombas e ogivas nucleares que, juntas, seriam capazes de destruir todo o planeta
várias vezes.
A Rússia, grande herdeira do império soviético, mesmo possuindo tecnologia nuclear e um elevado
número de armamentos, vem perdendo espaço no campo bélico em virtude da falta de investimentos na
manutenção de seu arsenal, em razão das dificuldades econômicas enfrentadas pelo país após a Guerra
Fria.
É por esse motivo que a maior parte dos especialistas em Geopolítica e Relações Internacionais,
atualmente, nomeia a Nova Ordem Mundial como mundo unimultipolar. “Uni” no sentido militar, pois os
Estados Unidos é líder incontestável. “Multi” em razão das diversas crescentes econômicas de novos
polos de poder, sobretudo a União Europeia, o Japão e a China.

A Divisão do Mundo entre Norte e Sul


Durante a ordem geopolítica bipolar, o mundo era rotineiramente dividido entre leste e oeste.
O Oeste era a representação do Capitalismo liderado pelos EUA, enquanto o Leste demarcava o
mundo Socialista representado pela URSS. Essa divisão não era necessariamente fiel aos critérios
cartográficos, pois no Oeste havia nações socialistas (a exemplo de Cuba) e no leste havia nações
capitalistas.

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Contudo, esse modelo ruiu. Atualmente, o mundo é dividido entre Norte e Sul, de modo que no Norte
encontram-se as nações desenvolvidas e, ao sul, encontram-se as nações subdesenvolvidas ou
emergentes. Tal divisão também segue os ditames da Nova Ordem Mundial, em considerar
preferencialmente os critérios econômicos em detrimento do poderio bélico.
Observa-se que também nessa nova divisão do mundo não há uma total fidelidade aos critérios
cartográficos, uma vez que alguns poucos países localizados ao sul pertencem ao “Norte” (como a
Austrália) e alguns países do norte pertencem ao “Sul” (como a China).

A Economia Capitalista Hoje:


Vivemos na segunda década da Nova Ordem Internacional. Suas características tornam-se a cada dia
mais claras. Suas raízes econômicas remontam às transformações iniciadas com as tecnologias dos anos
de 1970, que influenciam as potências atuais de forma marcante.
No campo geopolítico, essa nova era configurou-se com a crise do socialismo, o fim da Guerra Fria e
a valorização dos problemas sociais e ambientais.
Na atualidade, o grupo de países desenvolvidos, formado por 23 nações (Estados Unidos, Canadá,
Japão, Austrália, Nova Zelândia, Islândia, Noruega, Suíça e os 15 membros da União Europeia), torna-
se cada vez mais rico. Em 2005, a população dessas nações somava 900 milhões de pessoas (13% do
total mundial) e produzia cerca de 32 trilhões de dólares (80% do PIB mundial), o que dava uma renda
per capita de mais de 35 mil dólares. Em 1960, os mesmos países tinham cerca de 20% da população
mundial e controlavam cerca de 60% do PIB do mundo.
Uma das características político-econômicas mais importantes da Nova Ordem Internacional foi o
crescente uso dos princípios teóricos do neoliberalismo. O jornalista Ignacio Ramonet, do jornal francês
Le Monde, acredita que os neoliberais criaram, com seu pragmatismo, um conjunto de regras econômicas
muito claro, que se resume aos seguintes aspectos:
* O Estado deve se restringir a algumas funções públicas;
* O déficit público deve ser evitado e, se existir, reduzido;
* As empresas estatais devem ser privatizadas;
* O Banco Central de cada país deve ser independente;
* A moeda deve ser estável, com um mínimo de inflação;
* Os fluxos financeiros não devem sofrer restrições;
* Os mercados devem ser abertos, liberalizados e desregulamentados;
* A produção industrial deve ser internacionalizada, buscando-se mão-de-obra mais barata;
* As empresas devem ser modernizadas, enxutas e competitivas.

Frente às crises e ao aumento da miséria nos países subdesenvolvidos, alguns neoliberais modernos
defendem que esse receituário não tem dado certo por culpa dos governos. Seria necessário apenas
conter os monopólios privados, supervisionar os bancos com mais atenção, investir em educação e
aumentar a poupança interna.
Dentro da Nova Ordem Internacional, o controle que os países desenvolvidos exerciam sobre o
comércio de exportação no mundo continuou, embora sua participação no total tenha sido um pouco
reduzida. Essa redução foi consequência do crescimento das exportações conquistado pelos países
subdesenvolvidos industrializados.
A participação dos países subdesenvolvidos no comércio mundial de exportação vinha decrescendo
desde o início da Ordem da Guerra Fria (era de cerca de 31% do total mundial em 1950 e caiu para cerca
de 20% em 1985). Essa situação começou a se reverter no início da Nova Ordem Internacional. Nos dez
anos seguintes, os países pobres passaram a controlar maiores parcelas do comércio mundial de
exportação. Observe na tabela abaixo a evolução recente dessa situação:
Esse aumento das exportações, por si só, não foi suficiente para elevar o padrão de riqueza dos países
subdesenvolvidos como um todo. A maior parte desse aumento foi de responsabilidade de um restrito
grupo de países subdesenvolvidos industrializados, enquanto a grande maioria dos mais de 150 países
subdesenvolvidos continuou a assistir à queda dos preços de suas mercadorias de exportação
(commodities) e a redução de sua participação no comércio mundial, exceto os exportadores de petróleo.
Mesmo assim, o crescimento do comércio internacional é apontado como um dos indicadores da
aceleração do processo de globalização, que criou uma maior dependência das economias nacionais em
relação à economia internacional, pois uma grande parcela das atividades produtivas e dos trabalhadores
fica dependente do desempenho de seus países no mercado mundial.
Esse crescimento do comércio e essa maior dependência das economias nacionais são o resultado
das políticas de liberalização alfandegária colocadas em prática desde o final da Segunda Guerra
Mundial. Desde então, as taxas alfandegárias médias dos países mais desenvolvidos do mundo caíram

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de 40% para menos de 5%. Por outro lado, o crescimento do comércio internacional foi fruto da maior
integração e complementação econômica dos conjuntos de países que formaram organizações ou zonas
de livre comércio, como a União Europeia e o Nafta.

Características da Nova Ordem Internacional:


A Nova Ordem Internacional já pode ser caracterizada por um amplo conjunto de aspectos. Citaremos
todos, porém, nos atentaremos mais detalhadamente, à Globalização.
São eles:
* Investimentos em P&D;
* Os blocos econômicos;
* Dívida externa;
*Desemprego;
* As economias em transição;
* O problema da pobreza.

* Globalização:
A Globalização não é nenhuma novidade. Há séculos ela evolui na forma de ciclos, intensificando os
fluxos de pessoas, bens, capital e hábitos culturais. Ela se originou com a primeira fase da expansão
capitalista europeia, impulsionada pelas Grandes Navegações do final do século XV. Entre 1870 e 1890,
a globalização foi novamente intensificada, graças à aceleração dos investimentos internacionais, a
ampliação do comércio e o aperfeiçoamento dos meios de transportes e comunicações. Posteriormente,
durante o período que se estende entre 1910 e 1920, houve nova aceleração desse processo, associada
ao crescente militarismo, que culminaria com a Primeira Guerra Mundial. Um terceiro pico ocorreu durante
a década de 1930, antecedendo a Segunda Guerra Mundial.

Após a Segunda Guerra Mundial, o processo de globalização foi mais lento, amarrado pelas relações
limitadas entre os países capitalistas e os socialistas e pelas políticas comerciais altamente protecionistas.
Somente na década de 1990 os investimentos internacionais retornariam ao patamar de 1941.

Com a expansão das transnacionais, a partir da década de 1950, a globalização foi acelerada. Hoje, a
Terceira Revolução Industrial, que gerou um sistema de produção econômica com regras que se
uniformizam e se universalizam rapidamente, está criando uma nova onda de globalização. Suas
instituições passam a controlar e organizar essa economia em que as fronteiras perdem a importância e
muitos Estados disputam o direito de abrigar as sedes ou as filiais das grandes corporações, que
controlam a oferta de empregos e investimentos.
Dessa forma, o espaço geográfico mundial tem caminhado em direção a uma crescente
homogeneização, fruto da imposição de um sistema econômico e social globalizado sobre toda a
superfície da Terra. Nas últimas décadas, esse processo sofreu uma forte aceleração, especialmente
porque o polo de oposição ao capitalismo, que durante 45 anos compartia o mundo, criando a bipolaridade
da Guerra Fria, entrou em crise.
Os investimentos internacionais são realizados de forma direta, pelas empresas transnacionais que
implantam ou ampliam suas unidades produtivas, ou indireta, quando se relacionam aos fluxos de capital
que entram por meio de empréstimos, moeda trazida por estrangeiros, pagamentos de exportações,
vendas de títulos públicos no exterior e investimentos no mercado financeiro (especialmente em bolsas
de valores). Observe sua evolução recente:

Os investimentos internacionais foram acelerados na Nova Ordem. Eles saltaram de 924 bilhões de
dólares em 1991 para mais de 5,4 trilhões em 2001.
Na era da globalização, quando as informações são instantâneas, um observador pode acompanhar
a abertura e o fechamento das mais importantes bolsas de valores do mundo durante 22 horas seguidas:
se ele estiver em São Paulo, a Bolsa de Tóquio abre às 21 horas (hora de Brasília) e fecha às 5 horas do
dia seguinte. Uma hora mais tarde, abre a Bolsa de Londres e, às 11 horas, a de Nova Iorque, que só
fecha às 19 horas.

Podemos notar facilmente que a maior parte dos investimentos tem sido sempre no mercado
financeiro, ou seja, nas bolsas de valores. É o que se chama de capital volátil. Esses investimentos entram
nos países e saem muito rapidamente, circulando diariamente no mundo, de uma bolsa para outra, mais
de 3 trilhões de dólares.

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O mercado financeiro de ações comercializadas em bolsas de valores estocava um patrimônio coletivo
de 47 trilhões de dólares em 2005. Com o desenvolvimento da informática, o mercado financeiro se
acelerou como forma de investimento.
Os investimentos financeiros diretos também cresceram bastante, aumentando mais de sete vezes
nesse período, principalmente por meio da compra de empresas privatizadas, dentro da política
neoliberal. As privatizações se expandiram muito desde o início da década de 1990. Entre 1988 e 2003,
houve mais de 9 mil privatizações em cerca de 120 países, que somaram mais de 410 bilhões de dólares
de transações.
Grande parte das pessoas acredita que as privatizações, na atualidade, só ocorrem em países
subdesenvolvidos ou nos países socialistas que estão em transição para a economia de mercado. Na
verdade, a década de 1990 foi marcada pelo aumento das privatizações em diversos países
desenvolvidos.
Embora a globalização seja comandada pelos agentes financeiros e econômicos, há uma profunda
relação entre seus interesses e as ações políticas desenvolvidas pelos Estados. Na atualidade, vemos
uma espécie de privatização do Estado, que é colocado a serviço dos interesses do grande capital.
Hoje, mais do que em qualquer outra época da modernidade, a elite econômica colocou o Estado a
serviço de seus interesses. São os governos dos países mais ricos do mundo que promovem, numa ação
política bem orquestrada, a globalização, preparando encontros, ampliando o raio de ação das
organizações internacionais, realizando acordos comerciais, que favorecem a quem controla a economia.
Recentemente, por causa das transformações econômicas em direção à globalização, a redução das
taxas alfandegárias e a liberação do movimento dos capitais, muitos estudiosos passaram a acreditar que
o Estado nacional estava em fase de dissolução. Em verdade, ocorreu a sua transformação: as relações
entre o Estado e a economia se internacionalizaram, e a privatização tornou-se norma. Dessa forma, o
Estado abandonou o papel de agente econômico, desfazendo-se dos seus ativos, e passou a exercer o
papel de organizador e gestor de uma economia globalizada, no qual o conceito de soberania nacional
passou por uma revisão.
As aquisições e fusões que têm caracterizado a globalização desde o início da década de 1990 não
pretendem aumentar a produção, criar novas fábricas e ampliar os empregos. A função dessa onda de
fusões é cortar as atividades redundantes, reduzir a concorrência e aumentar a concentração de capitais.
O resultado final tem sido sempre a elevação das taxas de desemprego e o aumento da monopolização.

O volume das transações financeiras provocadas pelas fusões de grandes empresas tem ampliado o
mercado de ações e acelerado a movimentação de capitais.

No contexto da globalização, os países subdesenvolvidos ou periféricos não têm peso na definição


desse novo panorama geopolítico mundial, ficando, cada mais uma vez, atrelados aos países líderes.
Assim, com a decadência do bloco socialista, resta para o capitalismo resolver, num futuro próximo, três
graves problemas:

Desigualdade – Há uma crescente desigualdade de padrão de vida entre os países desenvolvidos e


os subdesenvolvidos, além das diferenças de renda dentro dos próprios países desenvolvidos. Segundo
Hobsbawm, a ameaça que a expansão socialista representou após 1945 impulsionou a formação do
Welfare State (Estado de bem-estar social), com reformas sociais nos países desenvolvidos, criando-se
uma parceria entre capital e trabalho organizado (sindicatos), sob os auspícios do Estado. Isso gerou a
consciência de que a democracia liberal precisava garantir a lealdade da classe trabalhadora, com caras
concessões econômicas. O abandono dessas políticas sociais tem ampliado o quadro da desigualdade
social, até mesmo em países desenvolvidos.

Conflitos Étnicos – Ascensão do racismo e crescente xenofobia, especialmente na Europa e nos


Estados Unidos, devido ao grande fluxo de imigrantes das regiões mais pobres para os países
industrialmente mais desenvolvidos.

Meio Ambiente – Crise ecológica mundial, que alerta para a necessidade de solucionar as agressões
ao meio ambiente, que podem afetar todo o planeta.

Emergência da sociedade global


Os avanços promovidos pela Revolução Técnico-Científica Informacional acarretaram uma maior
expansão do sistema capitalista pelo mundo, transcendendo todas as suas fronteiras e ampliando os seus

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horizontes de ação. Assim, consolidou-se o processo de globalização – visto, por muitos, como uma
mundialização –, que permitiu a instauração da chamada “Aldeia Global”.
A globalização, sob vários aspectos (econômico, político, urbano, territorial etc.), atua por meio da
consolidação de um sistema informacional, que se estrutura a partir da formação de redes geográficas,
ou seja, por um sistema interconectado de pontos e ligações entre eles. A partir disso, podemos entender
a relação de nós interconectados entre si ou a composição de fixos e fluxos que estruturam a economia
mundial. De toda forma, o processo de globalização seria inimaginável se não houvesse os fluxos
internacionais que estruturam a sua existência.
Entende-se por fluxos da sociedade global a cadeia interconectada entre as diferentes partes do
mundo que permite a circulação – nem sempre livre – de elementos econômicos, informações e pessoas.
Portanto, os fluxos podem ser considerados, em muitas abordagens, como a materialização da
globalização no espaço geográfico.

Fluxos econômicos
Os fluxos econômicos na sociedade global apresentam-se por meio do deslocamento de capitais,
empresas, mercadorias e investimentos. Com os avanços proporcionados no âmbito dos meios de
transporte e comunicação, a economia mundializou-se e passou a integrar todas as diferentes partes do
mundo, embora de maneira desigual e hierárquica.
Não obstante, os principais fluxos que acontecem no âmbito atual do Capitalismo Financeiro e
Informacional são os de capitais. Todos os dias uma quantidade muito grande de dinheiro circula em todo
o mundo na forma de bits de computador, sem, na maioria dos casos, materializar-se totalmente. Na
verdade, estima-se que a maior parte de todo o capital existente não se encontre mais na forma de
dinheiro impresso.
Os chamados “capitais especulativos” encontram-se no centro desse processo. Muitas vezes, os
investidores preferem concentrar-se em títulos, juros de dívidas públicas e privadas, ações e outros para
valorização e posterior arrecadação. Com isso, o retorno é mais rápido, embora a ausência de
investimentos na produção proporcione uma série de prejuízos em termos internacionais.
A circulação de “capitais produtivos” também é bastante relevante para a economia global. Ela ocorre
por meio de investimentos em determinados setores da atividade econômica, tais como fábricas,
comércios, lojas etc. Outra forma é o deslocamento das próprias empresas, que migram para países onde
os fatores locacionais são mais vantajosos. Em algumas indústrias de empresas multinacionais, a
produção é dividida em várias fábricas, cada uma localizada em uma parte do mundo, com a montagem
acontecendo em um local igualmente distinto.

Fluxos de Informações
Não são poucos os autores que classificam a era atual como a era da sociedade informacional, com
destaque para Manuel Castells, Milton Santos e David Harvey. A expansão dos meios de comunicação e
as facilidades geradas fazem com que o mundo inteiro esteja interligado, o que permite a difusão de
conceitos, costumes e tradições.
Os principais meios que permitem a difusão dos fluxos de informações são o rádio, a TV, as revistas,
jornais e, principalmente, a internet. Em termos de comparação, um acontecimento importante na Europa
do século XVIII levava dias ou até meses para ser informado em outros territórios. Atualmente, eventos
com a mesma relevância ou até menos importantes são informados em todo o mundo quase que em
tempo real.
Com isso, gera-se um acúmulo muito grande de dados e informações sobre os mais diversos
elementos e acontecimentos existentes no mundo. Todavia, o acesso a esses sistemas ainda é muito
limitado e desigual, de forma que a maior parte desses fluxos obedece a um círculo privilegiado de
pessoas.

Fluxo de pessoas
Por extensão aos avanços tecnológicos provocados ao longo do século XX e início do século XXI, o
fluxo internacional de pessoas também vem se intensificando na era da globalização atual. A expansão
desse fluxo acontece de duas formas: o turismo e a migração.
O turismo, não por acaso, é a atividade do setor terciário que mais vem crescendo no planeta, com
milhões de pessoas se deslocando todos os anos sob os mais diferentes interesses. Com isso, as cidades
receptoras e também os meios de transporte vão se adequando a essa realidade, o que resulta na
modernização de seus respectivos sistemas de recepção, deslocamento e hospedagem, gerando cifras
milionárias em termos de lucros e produção de riquezas.

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As migrações internacionais também se intensificam no planeta e configuram-se sob muitos aspectos.
Muitas migram por razões humanitárias, sociais, econômicas e afetivas, muito embora existam muitas
barreiras estabelecidas pelos países para conter esse processo. É muito comum a migração de pessoas
de um país para outro (muitas vezes por meios ilegais) em busca de maior geração de renda e
oportunidades.
Portanto, como podemos observar, os fluxos que estruturam a sociedade global e suas redes
internacionais são compostos por interações econômicas, informacionais e demográficas. Estas, por sua
vez, permitem a expansão mundial de outros elementos, tais como os costumes culturais ou regionais,
religiões e as práticas socioespaciais de um modo geral.

MULTILATERALISMO OU REGIONALISMO:4

OS BLOCOS ECONÔMICOS
O fortalecimento do multilateralismo comercial ocorrido ao longo das últimas décadas tem sido
acompanhado, paradoxalmente, por um processo de regionalização do espaço, provocado pela tendência
mundial de constituição de grandes blocos econômicos, o que decorre do avanço da globalização.
Embora pareça contraditório, a formação de grandes mercados regionais estabelecidos por meio de
alianças e acordos econômicos e comerciais tornou-se uma necessidade imposta pelo acirramento da
concorrência internacional, gerada pela própria expansão do capitalismo em escala planetária. Com a
formação dos blocos econômicos, os países buscam ampliar a participação no comércio mundial,
sobretudo com o aumento de suas exportações, com vistas a se tornarem mais competitivos. Para tanto,
os acordos comercias e econômicos firmados entre os países (redução ou mesmo eliminação das tarifas
alfandegárias, uniformização de políticas monetárias e financeiras, desburocratização do setor aduaneiro
etc.) procuram facilitar o fluxo e a circulação de mercadorias, serviços e capitais entre os parceiros do
bloco, estratégia que atende às necessidades de acumulação de capital inerentes à expansão das
economias capitalistas.

Formação de regiões e blocos econômicos


[ ... ] o fenômeno da integração verifica-se normalmente em uma dada região. Região [econômica], por
sua vez, pode ser definida como um grupo de Estados situados em uma determinada área geográfica
que gozam de alto grau de interação em comparação com as relações extrarregionais, dividem certos
interesses comuns e podem cooperar entre si por meio de organizações que abrangem um número
limitado de participantes. [...]
[ ... ] O surgimento dos blocos econômicos regionais é um dos mais importantes fenômenos da
atualidade. Como foi visto, a formação desses blocos apresenta-se como uma solução, no contexto da
globalização, para o aumento da produtividade e da competitividade dos Estados na economia mundial.
Isso porque garante um aumento do mercado consumidor, propicia economias de escala e possibilita aos
países que dela participam aproveitar a complementaridade de suas economias. [ ... ]
Surge, então, uma questão crucial: a formação dos blocos econômicos significaria um retrocesso ou
mesmo uma barreira ao processo de globalização, que poderia levar à formação de um possível mercado
global único? Na opinião de muitos especialistas, em vez de ameaçar ou mesmo colocar em xeque o
processo de integração econômica mundial, o surgimento dos blocos econômicos reforça e amplia as
relações comerciais em âmbito mundial. Isso porque, se as trocas comerciais e os fluxos de capitais no
interior dos blocos aumentaram aceleradamente nas últimas décadas, o comércio e os investimentos
entre os diferentes blocos existentes também vêm se expandindo de maneira significativa com o
estabelecimento de acordos e negociações comerciais entre eles.
Desse modo, observa-se que o aumento do número de blocos econômicos já efetivamente formados
e de outros que estão em processo de consolidação não contradiz, pelo contrário, reforça a própria
globalização ao se inserir como uma das etapas desse processo.

Os diferentes tipos de integração regional

Os blocos econômicos existentes na atualidade apresentam diferentes níveis de integração, conforme


a intensidade de suas relações e os acordos estabelecidos entre os países-membros. Alguns desses
blocos já se encontram em estágios de integração mais avançados, outros ainda estão em processo
inicial de integração.

4MATIAS, Eduardo Felipe Pérez. A humanidade e suas fronteiras: do Estado soberano à sociedade global.
São Paulo: Paz e Terra, 2005. p. 283-290.

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Área de livre-comércio: em uma área de livre-comércio, os países eliminam progressivamente as
tarifas alfandegárias para estimular os fluxos de comércio e investimentos entre si. No entanto, cada país
do bloco tem autonomia para conservar sua política tarifária em relação aos países que não pertencem
ao bloco. É o caso, por exemplo, do Nafta, bloco econômico que reúne os Estados Unidos, o Canadá e o
México.
União aduaneira: em uma união aduaneira, além do livre-comércio estabelecido pela eliminação das
barreiras alfandegárias, os países também adotam uma tarifa externa comum (TEC), cobrando os
mesmos impostos e taxas alfandegárias sobre os produtos importados de países de fora do bloco. O
Mercosul é um exemplo desse tipo de bloco.
Mercado comum: além do livre-comércio de mercadorias e serviços, o mercado comum também
estabelece a livre movimentação de capitais (investimentos) e de pessoas (trabalhadores) entre os
países-membros. Implica o estabelecimento de coordenações econômicas e a harmonização das
legislações nacionais (trabalhistas, tributárias, previdenciárias etc.). A União Europeia é um exemplo de
mercado comum.
União econômica e monetária: é o estágio mais avançado de integração regional; seu funcionamento
prevê a adoção de uma moeda única e de um Banco Central também único, a criação de instituições
supranacionais (tribunais de justiça e de contas, conselhos de ministros, parlamentos etc.) e a
padronização de políticas econômicas e monetárias necessárias para garantir, entre os países-membros,
níveis compatíveis de inflação, taxas de juros, déficits públicos etc. É o caso da União Europeia.

União Europeia
Formada por meio de acordos e tratados assinados desde o início da década de 1950, a União
Europeia reúne hoje 27 países, entre eles algumas das maiores potências econômicas do globo, como
Alemanha, Reino Unido e França. A importância econômica desse bloco pode ser observada pelo valor
do seu P18, em torno de 17,5 trilhões de dólares, superior ao dos Estados Unidos (15 trilhões de dólares),
e também pelo poderio de seu comércio, que representa cerca de 34 do total mundial.
Os objetivos iniciais do bloco, criado ainda na década de 1950, visavam promover a recuperação
econômica dos países-membros que haviam sido devastados pela Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Do ponto de vista político, sua criação também buscava deter o crescente avanço da influência
estadunidense, ocorrida com a implantação do Plano Marshall, e ao mesmo tempo, impedir o eminente
avanço do socialismo que ocorreu no Leste Europeu.
Desde então, os acordos firmados se estenderam a outros países do continente, culminando com a
criação do bloco, que recebeu o nome atual somente na década de 1990, após a assinatura do Tratado
de Maastricht. É o bloco mais antigo em formação e também o que se encontra em estágio mais avançado
de integração (ver quadro abaixo). Por conta disso, a União Europeia tem servido de modelo para outros
blocos que buscam aprofundar o nível de integração econômica, política e monetária entre seus países.
Os acordos que levaram ao estreitamento dos laços políticos e econômicos entre os países da União
Europeia, como a queda das barreiras alfandegárias, a cobrança de tarifa externa comum e a livre
circulação de mão de obra, capitais e serviços, foram aprofundados com a criação de uma moeda única,
o euro, que desde 1º de janeiro de 2002 circula entre os membros do bloco, exceto no Reino Unido e na
Dinamarca, que não abriram mão de suas moedas. Segundo a Comissão Europeia de Assuntos
econômicos e financeiros, a Suécia (e outros Estados-Membros) não preenchem as condições
estabelecidas para a adoção da moeda. Desde então, a União Europeia tornou-se uma união econômica
e monetária de fato com o Banco Central Europeu, sediado em Frankfurt, Alemanha, exercendo o controle
cambial e monetário para garantir a estabilidade dos preços em toda a zona do euro.
Além do Banco Central Europeu, responsável pela política econômica e monetária do bloco, a
complexa integração entre os países da União Europeia ocorre por meio de instituições que regem
decisões em outras áreas (política, militar, social e ambiental). As principais instituições são o Parlamento
Europeu, o Conselho da União Europeia e a Comissão Europeia, envolvidos no processo legislativo; o
Tribunal de Justiça, que assegura o cumprimento da legislação europeia; o Tribunal de Contas,
responsável por fiscalizar o financiamento das atividades do bloco; além do Comitê Econômico e Social,
representante da sociedade civil.

Os desafios da integração
Apesar do êxito já alcançado, o processo de integração de um bloco econômico de dimensões
continentais enfrenta dificuldades para conciliar interesses tão divergentes entre os países constituintes.
Superar diferenças no plano econômico, político e social são seus principais desafios.
No âmbito econômico, por exemplo, o bloco congrega desde países ricos e -multo industrializados
(Alemanha e França, com PIBs que excedem 3,6 e 2,7 trilhões de dólares respectivamente) a países com

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economia muito modesta, que cassam por dificuldades econômicas e financeiras, como a Grécia, ou
enfrentam problemas de escassez de postos de trabalho, como a Espanha, onde a taxa de desemprego,
em 2012, chegou a quase 1/4 da população economicamente ativa. As disparidades socioeconômicas no
bloco também são enormes. Enquanto a população de Suécia e Holanda desfruta, por exemplo, dos mais
elevados padrões de vida, o índice de desenvolvimento humano (IDH) da Romênia (0,786) Bulgária
(0,782) se aproxima do IDH de nações subdesenvolvidas.
Os desafios no plano político também são imensos. :Divergências políticas, movimentos nacionalistas
e separatistas (como o dos Bascos na Espanha), fortalecimento de partidos políticos radicais e xenófobos
8 extrema direita colocam em risco a estabilidade de alguns países, podendo afetar a integração do bloco.

O euro
A criação do euro inaugurou um novo capítulo na história da integração europeia. Pela primeira vez, a
soberania dos Estados membros foi seriamente limitada, pois o controle da nova moeda ficou a cargo de
uma instituição fora do alcance dos parlamentos ou dos governos dos países - o Banco Central Europeu.
[...] A unificação monetária foi sendo preparada lentamente e já estava nos planos dos idealizadores
da integração em 1978, quando França e Alemanha propuseram a criação de um Sistema Monetário
Europeu. [...]
A criação do euro possibilitou a eliminação do custo do câmbio entre as antigas moedas nacionais,
facilitando a circulação de mercadorias e negócios nos países que adotaram a moeda única. [...]

ATENÇÃO!

Saída Britânica da União Europeia – BREXIT


Com a invocação do Artigo 50 do Tratado de Lisboa, ao final de março de 2017, os britânicos iniciam
a saída do bloco europeu.
Meses depois de um conturbado referendo que aprovou a saída do Reino Unido do bloco europeu, o
país finalmente formalizou o desligamento da União Europeia (UE), processo que recebeu o apelido de
“Brexit”.
O embaixador britânico junto à UE entregou a notificação ao presidente do Conselho Europeu, Donald
Tusk. Em seguida, a primeira-ministra, Theresa May, fez o anúncio ao Parlamento britânico.
Agora, está oficializada a ativação do Artigo 50 do Tratado de Lisboa, documento fundamental que
rege o funcionamento da União Europeia e que será o norteador desse processo de separação.
A negociação entre Reino Unido e UE promete ser uma das mais complexas da história.
A relação entre britânicos e europeus nunca foi das mais amistosas e sempre houve por parte de
alguns grupos no Reino Unido a vontade de deixar o bloco que entrou apenas em 1973, anos depois da
fundação com o Tratado de Roma.
Para se ter ideia, logo em seguida, em 1975, um referendo que questionava a permanência britânica
foi realizado. Na ocasião, contudo, 67% dos britânicos preferiram ficar na UE.
Ainda assim, o assunto sempre esteve presente nas rodas políticas, mas tomou força nos idos de
2013, quando o então primeiro-ministro, David Cameron, prometeu realizar uma consulta popular sobre
o assunto em resposta à pressão do chamado Partido pela Independência do Reino Unido (Ukip), liderado
pelo conservador Nigel Farage.
Em 23 de junho de 2016, esse novo referendo foi realizado. Dessa vez, a maioria dos eleitores votaram
pela saída. A disputa, no entanto, foi acirrada (51,9% dos britânicos votaram a favor da separação,
enquanto 48,1% optaram pela permanência) e uma das primeiras consequências dessa vitória foi a
renúncia de Cameron, que deu lugar à Theresa May.
O embaixador britânico formalizou o pedido de saída ao presidente do Conselho Europeu e Theresa
já oficializou o início desse processo ante o Parlamento britânico.
Essa separação é regulamentada pelo Artigo 50 do Tratado de Lisboa, que é a única forma legal de
um país deixar o bloco. O dispositivo foi invocado ao final de março de 2017, mas o processo será lento,
gradual e deve durar até dois anos.
Confira o que diz referido artigo:

“Artigo 50.o
1. Qualquer Estado-Membro pode decidir, em conformidade com as respetivas normas constitucionais,
retirar-se da União.
2. Qualquer Estado-Membro que decida retirar-se da União notifica a sua intenção ao Conselho
Europeu. Em função das orientações do Conselho Europeu, a União negocia e celebra com esse Estado

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um acordo que estabeleça as condições da sua saída, tendo em conta o quadro das suas futuras relações
com a União.
Esse acordo é negociado nos termos do nº 3 do artigo 218.o do Tratado sobre o Funcionamento da
União Europeia. O acordo é celebrado em nome da União pelo Conselho, deliberando por maioria
qualificada, após aprovação do Parlamento Europeu.
3. Os Tratados deixam de ser aplicáveis ao Estado em causa a partir da data de entrada em vigor do
acordo de saída ou, na falta deste, dois anos após a notificação referida no nº 2, a menos que o Conselho
Europeu, com o acordo do Estado-Membro em causa, decida, por unanimidade, prorrogar esse prazo.
4. Para efeitos dos nºs 2 e 3, o membro do Conselho Europeu e do Conselho que representa o Estado-
Membro que pretende retirar-se da União não participa nas deliberações nem nas decisões do Conselho
Europeu e do Conselho que lhe digam respeito.
A maioria qualificada é definida nos termos da alínea b) do nº 3 do artigo 238.o do Tratado sobre o
Funcionamento da União Europeia.
5. Se um Estado que se tenha retirado da União voltar a pedir a adesão, é aplicável a esse pedido o
processo referido no artigo 49.o.”

Já começam as negociações entre o Reino Unido e a UE. O órgão britânico responsável por isso é o
Departamento de Saída da União Europeia (DExEU). Ao menos 300 pessoas estão avaliando os termos
dessa saída em Londres e outras 120 fazem o mesmo em Bruxelas (Bélgica), considerada a “capital” do
bloco.
O plano delineado pelos britânicos foi divulgado em 17 de janeiro de 2017 e é composto de 12 pontos
que o país considera prioritários nessa negociação.
Entre eles está o controle migratório, proteção dos trabalhadores europeus no país, bem como a
proteção dos britânicos em outros países que formam o bloco, a cooperação contra o terrorismo, novos
acordos comerciais e o fortalecimento da união entre as nações do Reino Unido (Inglaterra, Irlanda do
Norte, País de Gales e Escócia).
Esse último ponto é mais um problema complexo que o Reino Unido terá de resolver, já que a Escócia
não ficou contente com o resultado do Brexit e almeja um novo referendo para avaliar a sua
independência. Embora o governo britânico tenha rechaçado a realização dessa consulta, a primeira-
ministra escocesa, Nicola Sturgeon, prevê a votação para 2018.
Agora, do lado da UE, o primeiro passo será o estabelecimento de diretrizes em torno das negociações
que irão conter os posicionamentos e princípios de todo o processo. Segundo o Conselho Europeu, a
prioridade será a de minimizar o clima de incerteza entre os cidadãos, seus países-membros e as
empresas.

Neste primeiro momento, explica o governo britânico, todo o arcabouço legal em vigor no país
decorrentes da sua filiação ao bloco continuam valendo, mas a autoridade que a UE tem no Reino Unido
acaba a partir da formalização do pedido de saída.
A ideia é a de tentar garantir uma transição suave, uma vez que há ao menos 20 mil disposições legais
editadas pela UE e que regulamentam diferentes temas em solo britânico. Com o tempo, o Parlamento
irá avaliar tudo isso e definir quais permanecem, o que será modificado e o que será deixado para trás.
Por enquanto nada muda quanto aos direitos dos cidadãos europeus, tanto para àqueles que vivem
no Reino Unido, quanto aos britânicos baseados em algum dos 27 países que compõem a UE.
Contudo, esse é um ponto sensível e prioritário na negociação, embora o governo de May tenha
deixado claro que os estrangeiros estarão protegidos no país.
Já do lado do bloco e em relação aos cidadãos britânicos em outros países, um esboço de acordo
sobre o tema só deve surgir no final do ano.

Mercosul
O Mercado Comum do Sul (Mercosul) começou a vigorar com o Tratado de Assunção, assinado em
1991 entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. No início, esse tratado estabeleceu uma zona de livre-
comércio ao liberar a circulação de mercadorias entre os países-membros por meio da eliminação de
tarifas alfandegárias e de restrições comerciais não tarifárias, como o estabelecimento de cotas de
importação de certos produtos. Por meio de acordos realizados depois, o bloco se converteu em uma
união aduaneira com os países-membros definindo uma tarifa externa comum (TEC) em relação às
nações não integrantes do bloco.
Acordos de livre-comércio também foram firmados com países vizinhos, que se incorporaram ao bloco
na condição de membros associados: Bolívia e Chile (1996), Peru (2003), Colômbia e Equador (2004).

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Em 2012, o Paraguai foi suspenso pelo bloco em razão da deposição do governo de Fernando Lugo, e a
Venezuela foi aceita no Mercosul.
Embora o nível de integração entre os países do bloco ainda tenha um longo caminho a percorrer, a
sua criação promoveu um crescimento significativo do comércio entre os parceiros do bloco que,
atualmente, movimenta cerca de 63 bilhões de dólares (no início do acordo, esse valor era de apenas 10
bilhões de dólares). Aproximadamente 27 de todas as exportações e 34 das importações no Mercosul
são realizadas pelo comércio entre os próprios parceiros do bloco, sobretudo entre Brasil e Argentina, as
maiores economias da região.

Os impasses na integração
Apesar dos avanços já alcançados, o processo de integração e fortalecimento das relações entre os
países do Mercosul enfrenta uma série de obstáculos e dificuldades. Inúmeras barreiras comerciais que
ainda são mantidas em certos se- tores considerados estratégicos para a economia dos países são
entraves para a livre circulação de mercadorias, capitais, serviços e pessoas no interior do bloco. Isso
ocorre porque o estabelecimento de alguns acordos comerciais pode afetar negativamente a economia
de um ou outro país. A abertura do setor agrícola, por exemplo, afeta os agricultores brasileiros, menos
competitivos que os argentinos; a abertura do setor industrial, por sua vez, traz prejuízos aos empresários
argentinos, que sofrem os efeitos da concorrência da indústria brasileira, mais competitiva e avançada do
ponto de vista tecnológico.

Por outro lado, Uruguai e Paraguai reivindicam concessões econômicas a fim de compensar
assimetrias de mercados decorrentes de suas fragilidades econômicas. Juntas, as economias desses
países representam menos de 2 do PIB total do bloco. Essas assimetrias também são observadas em
indicadores como taxas de desemprego, inflação, renda per capita, endividamento externo, entre outros
fatores, que comprovam as imensas disparidades socioeconômicas entre os países-membros do bloco.
Problemas dessa ordem emperram o avanço das negociações e dificultam o estreitamento das relações
comerciais e diplomáticas necessárias para eliminar a adoção de medidas protecionistas, que dificultam
a plena integração entre os parceiros.

Mercosul OU Alca?
A integração do Mercosul também sofre ameaças que vêm do plano externo, sobretudo da política Li
dos Estados Unidos que busca minar o fortalecimento econômico do Mercosul na tentativa de consolidar
o projeto de criação da Área de Livre-Comércio das Américas (Alca), reunindo todos os países do
continente em um único bloco econômico.
A primeira reunião para a discussão da criação da Alca ocorreu em 1994, em Miami, Estados Unidos,
durante a 1ª Cúpula das Américas, quando participaram os 34 países do continente americano, exceto
Cuba. Idealizado pelo governo dos Estados Unidos, a constituição do bloco tem como objetivo área de
livre-comércio.
O projeto de implantação da Alca revela a retomada do interesse geopolítico e estratégico dos Estados
Unidos pela América Latina, como forma de ampliar sua hegemonia sobre essa região, marginalizada
durante quase toda a segunda metade do século passado, quando os interesses de Washington
estiveram voltados à Europa, palco central da Guerra Fria. Apesar de ter expandido sua hegemonia
comercial e financeira por todo o mundo, os EUA procuraram aumentar a sua participação no comércio e
nas transferências por serviços na América do Sul face à concorrência da União Europeia, cujos
investimentos na área do Mercosul cresceram muito nos últimos anos. [ .. ] Com a criação da ALCA, os
Estados Unidos concretizarão a integração subordinada do hemisfério ocidental, consolidando essa
imensa área de influência econômica e político-militar.
Além de assegurar o livre fluxo das exportações para a região, com centenas de milhões de
consumidores potenciais, o saldo superavitário assim conseguido ajudará a equilibrar os déficits dos EUA
com as regiões da União Europeia, Japão e China. [ ... ]
As negociações para a criação da Alca, no entanto, encontram muitas resistências, especialmente por
parte do Brasil, que possui a economia mais industrializada do continente, atrás apenas dos Estados
Unidos e do Canadá. Existe o temor de que a entrada na Alca possa provocar prejuízos ao setor industrial
brasileiro que não seria capaz de competir com o poderio das empresas estadunidenses, mais
competitivas e avançadas tecnologicamente. Por outro lado, os setores com maior destaque da economia
brasileira, como os de mineração, siderurgia e agroindústria (produção de açúcar e álcool, de suco
concentrado, carnes e seus derivados), são muito prejudicados pela imposição de barreiras
protecionistas, como subsídios, cotas, dumping, restrições fitossanitárias e administrativas praticadas
pelo governo estadunidense. Por conta disso, em vez de ingressar na Alca E condições desvantajosas,

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a política externa brasileira tem buscado o fortalecimento do Mercosul, ampliando as relações políticas e
econômicas com esse bloco para obter vantagens em uma negociação com os Estados Unidos.

Nafta
A formalização de acordos comerciais entre Estados Unidos, Canadá e México deu origem ao Acordo
de Livre-Comércio da América do Norte, do inglês North America Free Trade Agreement (Nafta), a mais
importante área de livre-comércio das Américas. O bloco entrou efetivamente em vigor em 1º de janeiro
de 1994, quando os países-membros decidiram eliminar aos poucos as barreiras alfandegárias em suas
transações comerciais.
Entre outros motivos, a criação desse bloco Nafta: fluxos comerciais tentou fazer frente ao
fortalecimento econômico da União Europeia, alcançado graças ao processo de integração ocorrido
naquele continente. Ao contrário do bloco europeu, que caminha para uma integração política e
econômica completa, o Nafta se restringe muito mais a um acordo comercial, não prevendo o avanço
para uma união aduaneira ou um mercado comum.
Seu grande destaque fica por conta da poderosa economia dos Estados Unidos, a maior do mundo,
que responde sozinha por 84 do PIB total do bloco, enquanto a participação das economias canadense
e mexicana representa apenas 10 e 6 respectivamente. Se a pujança econômica dos Estados Unidos não
se compara com a do Canadá e a do México, a formação do Nafta vem consolidando ainda mais a
influência econômica estadunidense em relação aos seus vizinhos.
O impulso alcançado pela economia canadense ao longo do século passado, por exemplo, dependeu
de grandes investimentos e capital estadunidense. Com o Nafta, a economia do Canadá se tornou ainda
mais subordinada aos interesses dos empresários estadunidenses, que detêm o controle acionário de
boa parte das empresas canadenses, inclusive daquelas ligadas aos setores estratégicos ou mais
avançados tecnologicamente (informática, aeroespacial, eletroeletrônicos, química fina). Por isso, alguns
especialistas consideram o território canadense uma extensão da economia dos Estados Unidos.
Já no México, a influência do capital estadunidense se fortaleceu com o avanço das chamadas
maquiladoras - empresas estadunidenses que se instalaram em território mexicano na fronteira com os
Estados Unidos, em cidades como Tijuana, Mexicali e Ciudad Juarez. Entre essas empresas, destaca-se
um grande número de indústrias do setor automobilístico (montadores de automóveis, autopeças,
acessórios), montadoras de produtos eletroeletrônicos e de informática, cuja produção se destina
sobretudo ao abastecimento do gigantesco mercado de consumo estadunidense.

Apec
Criada em 1989, a Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico, do inglês Asia-Pacifíc Economic
Cooperation (Apec), é formada por diversos países do sul, leste e sudeste asiático, da Oceania e também
Hong Kong região administrativa especial chinesa), envolvendo ainda Chile e Peru países que também
possuem acordos comerciais dentro do Nafta).
Seu objetivo central é a criação de uma grande zona de livre-comércio de mercadorias e de capitais
entre seus membros, prevista para ser concluída até 2020. A integração completa do bloco, entretanto,
terá que superar inúmeros problemas, como as grandes disparidades políticas existentes entre seus
membros. Alguns países, como a China, possuem projetos nacionais de desenvolvimento que não
carnlnharn para a abertura completa do seu mercado.
A diminuição das desigualdades socioeconômicas é outro grande problema a ser superado. Ao lado
das duas maiores potências econômicas mundiais (Estados Unidos e Japão) e de nações com os mais
elevados índices de desenvolvimento humano, como o Canadá e a Austrália, a Apec também abrange
países bem menos desenvolvidos socioeconomicamente, como Papua Nova Guiné, que apresenta
'1expressivo PIB de apenas 13 bilhões de dólares e um dos mais baixos IDH, em torno de 0,466 (posição
de número 156 no mundo, segundo dados da ONU no ano de 2012). Veja a tabela a seguir.
Embora o processo de integração econômica ainda não esteja efetivado, os países da Apec já formam
o bloco economicamente mais dinâmico do mundo. Atualmente, o bloco reúne uma população de mais
de 2,7 bilhões de pessoas, cerca de 39 dos habitantes do planeta, e sua produção econômica soma um
PIB superior a 38 trilhões de dólares, o que equivale a 54 da produção mundial.
Apesar a esses desafios, o processo de construção do bloco já provocou um grande crescimento
econômico, impulsionado pela expansão das trocas comerciais entre os países-membros. Com o
estreitamento de suas relações comerciais, a uma maior complementaridade entre as economias do
bloco. Os recursos minerais e os combustíveis fósseis explorados em abundância na Austrália, por
exemplo, passaram a abastecer o mercado do Japão, que apresenta escassez de matérias-primas
naturais em seu território. Atualmente, cerca de 9 do total das exportações australianas são para o Japão.

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CEI
A Comunidade dos Estados Independentes (CEI) é um bloco econômico regional, constituído, hoje,
por onze países que se formaram com a dissolução da antiga União Soviética (URSS), ocorrida em 1991.
Nesse mesmo ano, com a assinatura do Tratado de Alma-Ata, no Cazaquistão, das 15 repúblicas
soviéticas que formavam a URSS, 12 aderiram à formação do bloco. As exceções foram Estônia, Letônia
e Lituânia, países bálticos que optaram por romper todos os vínculos com os russos, seus opressores
desde a Segunda Grande Guerra. Em 2008, a Geórgia, que até então pertencia ao bloco, se desligou por
motivos políticos.
O propósito principal da CEI era intensificar as relações econômicas e políticas entre os países-
membros que haviam acabado de surgir com o fim da Guerra Fria e do império soviético, acontecimentos
que redesenharam em boa parte as fronteiras territoriais do continente asiático.
Submetidos ao socialismo durante quase todo o século XX, com economias estatizadas e controladas
pelo Estado, os novos países da CEI passaram por um drástico processo de transição para a economia
capitalista de mercado, movida pela acirrada concorrência, pela elevada competitividade e pela
participação do capital privado. Essas mudanças acarretaram uma forte desaceleração da economia,
diante da crise que surgiu com a transição político-econômica, tendo como consequência o aumento do
endividamento externo, do desemprego, da inflação, e a piora de outros indicadores sociais, como o
aumento da pobreza e da concentração da renda, que acompanharam a turbulência econômica.
Apesar dos acordos de integração já realizados entre seus membros, muitas são as dificuldades para
sua consolidação efetiva, como as divergências que marcam as relações políticas e diplomáticas entre a
Rússia e a Ucrânia, dois dos mais importantes países do bloco. Além disso, a CEI tem se caracterizado
pela ocorrência de disputas entre os estados-membros e pelo não cumprimento de acordos
estabelecidos.

SADC
A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, do inglês Southern African Develapment
Cammunity (SADC), é o acordo comercial mais importante do continente africano. Criada em 1992 para
assegurar a cooperação econômica na região sul do continente, essa comunidade é formada atualmente
por 15 países-membros.
Do ponto de vista econômico, a África do Sul é o país mais importante do bloco. Com um parque
industrial diversificado, sua produção econômica responde por aproximadamente 62 do PIB total do bloco.
E possui também um dos maiores mercados consumidores da região, formado por uma população de
aproximadamente 50 milhões de pessoas, o que representa cerca de 24 dos habitantes da comunidade.
Os objetivos da SADC vão muito além da busca do desenvolvimento econômico da região por meio
da criação de um mercado comum, estabelecido por acordos comerciais entre os países parceiros, como
a redução e a unificação de tarifas alfandegárias. Para além desses objetivos, o bloco também procura
diminuir a pobreza e melhorar as condições de vida da população; promover o combate à Aids, doença
que se tornou uma epidemia em vários países da região; reafirmar os legados socioculturais africanos;
estabelecer a paz e a cooperação política como forma de evitar a ocorrência de conflitos e guerras civis,
como os que já eclodiram recentemente nessa comunidade.
Outros blocos regionais, menos importantes do ponto de vista econômico, também atuam no
continente africano, entre eles, a Comunidade Econômica e Monetária da África Central (EMCCA, do
inglês Ecanamic and Manetary Cammunity ot Central Africa) e a Comunidade Econômica dos Estados da
África Ocidental (ECOWAS, do inglês Ecanamic Cammunity af West African States). No entanto, os
processos de integração entre os países que os compõem são prejudicados pelas frágeis condições
políticas e socioeconômicas existentes em boa parte do continente: guerras civis, pobreza, fome,
epidemias, baixo nível de industrialização, forte dependência econômica e carência de infraestrutura
básica e produtiva.

Outros blocos econômicos regionais


Existem ainda vários outros blocos econômicos pelo mundo, cujo objetivo central é a cooperação
comercial entre seus membros; entre eles estão:
• Comunidade Andina (CAN) ou Pacto Andino: criado em 1969, é formado por Bolívia, Peru,
Equador, Colômbia. São membros associados o Brasil, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai.
• Caricom (Comunidade do Caribe): criada em 1973, tem como membros Antígua e Barbuda,
Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Guiana, Haiti, Jamaica, Montserrat, Santa Lúcia, São
Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas, Suriname, Trinidad e Tobago, além dos associados
Anguilla, Bermuda, Ilhas Virgens Britânicas, Ilhas Caiman e ifurks e Caicos.

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• Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático): criada em 1967, é composta por Brunei,
Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Myanmar, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietnã.

O Brasil na Economia Global: globalização e privatização, a revolução técnico científica e a


economia brasileira; Dívida Externa e Interna; O Brasil e o Mercosul; A Relação Brasil -ALCA
(Associação de Livre Comércio das Américas); O Brasil e o Mercado Mundial; Política Externa
Brasileira no Mundo Globalizado
Foi a partir de 1990 que a globalização teve maior impacto no Brasil. A economia brasileira enfrentava
uma série de problemas: endividamento externo crescente; grande atraso tecnológico em relação aos
países desenvolvidos; déficit público elevado; escassez de financiamento para a atividade produtiva e
para ampliação da infra-estrutura; inflação com índices assustadores – no final da década de 802 os
preços subiam diariamente e a inflação chegou a 80% ao mês.
Foi no início da década de 1990 que o Brasil passou a adotar as receitas neoliberais, abrindo seu
mercado interno, reduzindo barreiras protecionistas, criando maiores facilidades para a entrada de
mercadorias e de investimentos externos, como aplicações financeiras, compra de empresas nacionais
ou participação acionária. A ideia era contar com o capital estrangeiro para retomar o crescimento
econômico.
Alegava-se que a proteção às empresas nacionais tornava-as ineficientes e que a concorrência era
saudável para estimular o desenvolvimento e recuperar o atraso de alguns setores. Dessa forma,
esperava-se que a economia brasileira passasse a ser mais competitiva, interna e externamente, sem
precisar de subsídios e protecionismo.

A abertura econômica no Brasil:


Foi no início da década de 1990 que os produtos importados passaram a ingressar de forma maciça
no mercado brasileiro, com a redução dos impostos de importação. A oferta de produtos cresceu e os
preços de algumas mercadorias caíram ou não aumentaram; muitas indústrias nacionais não
conseguiram competir com os produtos importados e foram obrigadas a fechar; e a balança comercial
acumulou déficits por vários anos no decorrer da década de 1990.
O governo, ao mesmo tempo, passou a incentivar os investimentos externos no Brasil mediante
incentivos fiscais e privatização das empresas estatais.
O processo de abertura da economia brasileira foi rápido e muitas empresas não conseguiram adaptar-
se à nova realidade do mercado: “melhor vender do que falir”. As multinacionais, então, compraram essas
empresas nacionais ou associaram-se a elas. Em apenas uma década as multinacionais mais que
dobraram sua participação na economia brasileira.
As multinacionais investem maciçamente em tecnologia, e isso, em geral, gera brutais cortes de
empregos. Atuam também terceirizando atividades, criando redes de subcontratação. De modo geral, nos
diversos setores em que ocorreu o processo de privatização, diminuíram os empregos e pioraram as
condições de trabalho, sobretudo nas empresas que atuam como terceirizadas nas redes de
subcontratação – os salários, por exemplo, nessas empresas subcontratadas, são inferiores aos pagos
na empresa que as contrata.
O desemprego aumentou na proporção da abertura do mercado, e a possibilidade de retorno ao
mercado de trabalho tornou-se remota para centenas de milhares de trabalhadores, que viram a sua
profissão desaparecer, substituída pelas novas tecnologias de produção de mercadorias e geração de
serviços e pelos sistemas informatizados.
Os postos de trabalho abertos nas atividades que apresentaram crescimento, como telefonia,
tecnologias de informação, turismo, publicidade, não compensaram os que foram fechados.

O processo de privatização:
Poucos países incorporaram amplamente as receitas neoliberais, ingressando de forma plena no
processo de globalização. Isso aconteceu apenas em alguns países da América Latina, como no Brasil,
México, Chile, Uruguai e Argentina. Vários outros países do globo, especialmente a China e a índia,
optaram por uma abertura mais restrita e gradual, exigindo a instalação de indústrias em seu território
(investimentos produtivos), em setores estratégicos e em associações com empresas nacionais.
A partir da última década do século XX, as transformações vêm sendo tão intensas que empresas e
trabalhadores estão, ainda, tentando adaptar-se à nova realidade.
A privatização das empresas estatais esteve no centro das transformações. Mas no Brasil ocorreram
outras, como a concessão para exploração do sistema de transportes, sobretudo rodovias, o fim da
proibição da participação estrangeira nos setores de comunicação e o fim do monopólio da Petrobrás
para a exploração de petróleo.

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Alegava-se que as estatais eram improdutivas, davam prejuízo, estavam endividadas e sobreviviam
somente devido aos subsídios governamentais. Na maioria dos casos esta alegação era verdadeira, mas
as maiores privatizações não se enquadravam neste perfil. Foi o caso da Companhia do Vale do Rio Doce
e da Companhia Siderúrgica Nacional, que, apesar das dívidas elevadas, eram empresas que davam
lucros e tinham condições de saldar os seus compromissos financeiros.

A privatização sofreu muitas outras críticas.


Por exemplo, vários setores privatizados eram considerados estratégicos, como a siderurgia e a
mineração.
Outra crítica: parte do dinheiro para a privatização das empresas foi emprestado pelos cofres públicos
através do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Além disso, para atrair compradores o governo saneou as empresas, elevou os preços de tarifas de
energia e telefonia e ficou responsável pelo pagamento de parte da dívida.
Com a privatização de setores estratégicos, como a mineração, a siderurgia, bancos estaduais,
telefonia, energia e transportes, o Brasil globalizado caracterizou-se por um processo de
desnacionalização da economia.
No início do século XXI, entre as 500 maiores empresas do mundo, cerca de 400 estavam instaladas
no Brasil.
O dinheiro da privatização, quase todo empregado para diminuir a dívida pública, teve um efeito
apenas relativo nesse sentido, uma vez que a permanência dos juros em níveis elevados, para conter a
inflação e atrair investimentos externos, fez a dívida interna aumentar sensivelmente.
Além disso, a ampliação da presença do capital estrangeiro, via multinacionais, tampouco elevou as
taxas de crescimento econômico. O que ocorreu nitidamente foi um processo de substituição da
propriedade da empresa nacional pelo capital estrangeiro. Além disso, como visto, aumentou o índice de
desemprego, seja em função da crise econômica, seja em virtude das transformações tecnológicas e de
gerenciamento das atividades (terceirização, redução dos níveis hierárquicos) introduzidas.

O Brasil e o Mercosul:
O Mercosul entrou em funcionamento em 1995. Ao longo da década passada as relações comerciais
entre os países tiveram avanços expressivos e vários projetos de infra-estrutura, como estradas, hidrovias
e hidrelétricas, começaram a ser desenvolvidos levando em conta o crescimento desse mercado.
Os países-membros do Mercosul representam 42% da população latino-americana e mais a metade
de todo o valor produzido pela economia desta parte do continente.
Alguns setores econômicos ficaram prejudicados com a concorrência externa, mas num primeiro
momento ocorreu uma intensificação das trocas comerciais. Várias empresas brasileiras instalaram-se
no Uruguai e, principalmente, na Argentina. Os produtos agropecuários e alimentícios uruguaios e
argentinos inundaram o mercado brasileiro.
Em parceria com a Bolívia, o Brasil construiu o maior gasoduto da América Latina, ligando as áreas de
extração bolivianas aos estados do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais e da região Sul.
O turismo foi outro setor que registrou forte crescimento entre os países do Mercosul, em parte devido
à maior facilidade de trânsito, com a eliminação de visto de entrada.
Entretanto, a partir de 1999, a crise econômica, sobretudo na Argentina, abalou as relações comerciais
com o Brasil. A Argentina suspendeu algumas tarifas externas comuns, impôs cotas a uma série de
produtos exportados pelo Brasil, como geladeiras, calçados, veículos, televisores, e o comércio dentro do
bloco apresentou uma queda sensível. Apesar de formar uma união aduaneira, o Mercosul, na prática,
tem funcionado como uma integração semelhante à de uma zona de livre comércio e, assim mesmo,
limitada.

O Brasil e a Alca:
A participação do Brasil na Alca (Associação de Livre Comércio das Américas) é bastante polêmica.
O continente americano reúne, de um lado, dois países desenvolvidos e com alto índice de avanço
tecnológico – os Estados Unidos e o Canadá -, e, de outro, países subdesenvolvidos, alguns muito pobres,
com economia baseada na agricultura e/ou na extração mineral, como Haiti, Guiana, Guatemala, Bolívia
e Equador.
Nesse contexto, o Brasil fica numa situação intermediária do ponto de vista de desenvolvimento
econômico, e essa não é uma posição confortável. Por um lado, nosso país e os demais países latino -
americanos não têm condições de concorrer em pé de igualdade com as empresas dos Estados Unidos,
no que diz respeito à maior parte das atividades que formam o conjunto da economia. Por outro lado, o
país que se negar a participar da Alca pode sofrer represálias, que certamente o colocaria numa difícil

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situação econômica. Além disso, o Brasil é muito dependente da economia norte-americana: por exemplo,
cerca de 25% de nossas exportações são para os Estados Unidos.
Mas é preciso considerar também que o Brasil é um país importante para os Estados Unidos, pois,
excetuando o México, representa sozinho quase metade da economia latino-americana e responde por
cerca de 70% da economia de toda a América do Sul.
O Mercosul, junto com a CAN (Comunidade Andina), tem buscado uma maior integração comercial e
propostas comuns a serem discutidas com os demais membros da Alca para fortalecer a sua capacidade
de negociação frente aos Estados Unidos.

Globalização e as novas territorialidades: as redes de cidades


Os efeitos da globalização, devido aos novos padrões de localização industrial e de abertura
econômica, fizeram-se sentir mais profundamente no Brasil a partir da década de 1990, quando o país se
abriu às importações e aos investimentos estrangeiros.
É a era dos produtos importados.
Automóveis, alimentos, roupas, eletrodomésticos, computadores, softwares, telefones celulares,
brinquedos e outros bens de consumo inundaram o mercado nacional.
A abertura levou à falência várias indústrias nacionais acostumadas à proteção de mercado, baseadas
na manutenção de altas taxas de importação (tarifas aduaneiras).
Outras indústrias, para não fechar suas portas, foram vendidas para empresas estrangeiras ou, ainda,
incorporadas a elas.
Ocorreram também vários episódios de fusão entre empresas (nacionais e estrangeiras).

A rede urbana
À medida que se desenvolvem, as cidades passam a estabelecer fluxos sociais, econômicos, políticos
e culturais entre si.
Forma-se, assim, uma rede urbana, isto é, um conjunto de cidades interligadas por fluxos de pessoas,
ideias, capitais, informações, serviços, mercadorias, etc.
Tais fluxos são orientados segundo uma ordem de hierarquia urbana comandada pelas cidades
maiores.
Estas destacam-se porque disponibilizam serviços e comércio com alto grau de sofisticação e
especialização, inexistentes nos centros urbanos menores.
Assim, quando o habitante de uma cidade pequena precisa de um serviço de saúde específico, ele se
dirige a um centro urbano maior, geralmente a cidade de porte médio mais próxima.
Caso necessite de um tratamento ainda mais especializado, vai à capital regional mais próxima ou
mesmo a um grande centro metropolitano.
Inúmeras outras situações conformam-se diariamente à estruturação da rede urbana.
Em outras palavras, a rede urbana orienta os mais variados fluxos de relações no interior de um
determinado território.
No Brasil colônia, a rede urbana surgiu para integrar trechos do interior às cidades portuárias, como
Recife e Salvador.
Nessa época, ainda não existia uma rede urbana nacional, mas apenas redes urbanas regionais, como
a que se instalou na região produtora de açúcar do Nordeste.
Outra rede regional integrava o interior paulista ao porto de Santos para escoar a produção de café
para o mercado externo.
Essas redes internas tinham dimensão local, comandada por uma cidade portuária e estruturada por
ferrovias.
A partir da década de 1930, com a substituição da economia cafeeira pela atividade industrial, passou
a ocorrer uma relação cada vez mais intensa entre as diversas redes urbanas regionais.
Esse fato culminou com o estabelecimento de uma rede urbana nacional, consolidada pela circulação
rodoviária na década de 1950.
Desde essa época, a rede urbana brasileira foi se adensando, permitindo inclusive maior integração
do país com a Amazônia.
Em 1972 foi publicado o primeiro mapa da rede de influência urbana brasileira.
Surge, então, a classificação em metrópoles nacionais, metrópoles regionais, centros
submetropolitanos, capitais regionais, outras cidades.
Constatou-se que a abrangência espacial da cidade depende da influência que ela exerce, isto é, do
grau de sofisticação que oferece em áreas como serviços especializados e comércio sofisticado.
Desse modo, as cidades maiores geralmente constituem centros de decisão político-administrativos e,
ao mesmo tempo, são polos econômicos e culturais da rede urbana.

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Reúnem as mais variadas funções e, assim, comandam o ritmo de integração do espaço brasileiro.
A análise dessa hierarquia urbana levou os geógrafos a estabelecer uma classificação das cidades
brasileiras a partir de suas funções, isto é, de acordo com a qualidade e a quantidade dos serviços e dos
bens de consumo que oferecem.
Quanto maior a qualidade, variedade e complexidade de seus bens e serviços, maior será a
importância de uma cidade no interior da rede urbana.

A seguir, alguns exemplos de cada nível, na hierarquia urbana brasileira:


Metrópoles Nacionais: São Paulo e Rio de Janeiro são as únicas cidades do país que exercem
influência em todo o território nacional, graças à complexidade dos serviços e bens de consumo
oferecidos.
Metrópoles Regionais: São as demais áreas metropolitanas, como Belo Horizonte, Salvador, Porto
Alegre, Curitiba e outras. Oferecem serviços e bens de consumo sofisticados, como hospitais
especializados, shopping centers, universidades, etc. Têm um raio de influência mais restrito, quando
comparadas com as metrópoles nacionais.
Centros Submetropolitanos: Trata-se de grandes capitais regionais, cuja área de influência geralmente
ultrapassa os limites estaduais. Por exemplo, no estado de São Paulo, são centros submetropolitanos as
cidades de Campinas e Ribeirão Preto. Oferecem bens e serviços de consumo semelhantes aos das
metrópoles regionais, mas om menor grau de sofisticação e especialização.
Capitais Regionais: São cidades relativamente grandes, como São José do Rio Preto, em São Paulo,
e Juiz de Fora, em Minas Gerais. Comandam uma grande rede de cidades, em geral circunscrita aos
limites estaduais. Seus serviços e bens de consumo são amis simples do que aqueles oferecidos pelos
centros submetropolitanos.
Outras Cidades: Possuem porte médio e pequeno. São, respectivamente, centros regionais e locais.
Por isso, comandam áreas de influência menores, compostas por pequenas cidades, vilas e povoados.
Oferecem serviços simples, como consultórios e ambulatórios, e bens de consumo comuns, de primeira
necessidade.

Todavia, nos últimos anos, os extraordinários avanços tecnológicos, típicos da chamada Terceira
Revolução Industrial, estão configurando uma nova rede urbana, baseada em sofisticados meios de
comunicação, como a Internet e o telefone móvel. Nessa nova configuração da rede urbana brasileira,
são muito mais acelerados s fluxos de informação.
Essa aceleração dos fluxos de informação, chamada genericamente de globalização, altera a
hierarquia urbana do território brasileiro, que passa a ser comandada pelas chamadas cidades globais.
Pela via eletrônica, as cidades globais polarizam todas as formas de relações, em todas as direções.
Por isso, o IBGE está requalificando as cidades brasileiras para identificar a nova hierarquia urbana.
Já se sabe, porém, que as duas grandes metrópoles da economia nacional – São Paulo e Rio de
Janeiro – passam a ser consideradas cidades globais, as únicas que mantêm contato permanente, dia e
noite, com o território brasileiro e mundial simultaneamente.

Alguns termos da Geografia urbana:


Metrópole: A Geografia classifica como metrópole a cidade dotada de uma complexa oferta de bens e
serviços, que a tornam capaz de exercer forte influência sobre o território situado em seu entorno.
Região Metropolitana: Conjunto de municípios espacialmente contíguos e integrados
socioeconomicamente a uma cidade central, geralmente por meio de serviços públicos de infra-estrutura
comuns. As grandes dimensões de suas atividades urbano-industriais determinam forte fluxo de pessoas,
capitais, serviços e informações entre os municípios que integra.
Megacidade: Aglomeração urbana que possui mais de 10 milhões de habitantes, localizada em país
rico ou pobre.
Cidade Global: Segundo a ONU, são centros urbanos que irradiam avanço te4cnológico e concentram
os mercados financeiros e as sedes de 37 mil empresas transnacionais. Desse modo, abrigam
conhecimentos em serviços ligados à globalização, como escritórios de grandes empresas. Dentre as
cidades globais, destacam-se Nova Iorque, Tóquio e Londres, nos países desenvolvidos; São Paulo e
Cidade do México, nos países subdesenvolvidos.

A megalópole brasileira:
Considerando-se que megalópole deve ser entendida como a junção física de duas ou mais áreas
metropolitanas, verifica-se que o Brasil ainda não apresenta esse fenômeno. O que ocorre em nosso país
é um esboço de megalópole, bastante incipiente quando comparado a outras gigantescas áreas urbanas

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do planeta, como Boswash (Boston – Washington, nos estados Unidos). A junção das metrópoles
nacionais brasileiras – Rio de Janeiro e São Paulo – ainda não é total, uma vez que os fluxos entre as
duas grandes cidades brasileiras carece de uma infra-estrutura complexa e eficiente para o escoamento
de mercadorias e pessoas. Além disso, existem espaços “rurais ou não-urbanizados” entre esses dois
grandes centros metropolitanos. Apesar do grande adensamento urbano representado pela intensa
conurbação de Jacareí, São José dos Campos, Caçapava e Taubaté, cidades que exercem uma forte
influência mútua, prosseguindo no sentido São Paulo – Rio, nota-se que, na divisa entre os dois estados,
a paisagem rural se torna predominante.

As transformações recentes do trabalho


Na década de 1970, com a recessão econômica causada pela crise do petróleo, os capitalistas
desenvolveram novas formas de trabalho, visando diminuir os custos de produção e aumentar seus
ganhos. Começaram, então, a surgir formas de flexibilização do trabalho e do mercado que tem a ver
com a busca desenfreada por mais lucro.
O fordismo começou a apresentar problemas, por que não estava mais conseguindo acompanhar o
mercado, ou seja, as pessoas queriam produtos diversificados, personalizados e inovadores. O fordismo
era lento para inovar, cada vez que se modificava um produto tinha que modificar muitas máquinas,
supunha um estoque grande de mercadorias, etc. tudo isso elevou os custos de produção.
Flexibilização ou acumulação flexível, se refere aos processos que o mundo do trabalho vem sofrendo
no âmbito da produção, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Todos estes
baseados na inovação e na contraposição aos padrões fordistas de acumulação.

Nova tendência: acumulação flexível


Sistema no qual a rigidez fordista é substituída pela produção flexível.
Nesse sistema, inverte-se a lógica fordista em que a indústria determinava o que seria consumido.
Hoje os consumidores determinam o que as empresas irão produzir e oferecer.
A acumulação flexível assim está formatada ou pensada, para atender as novas tendências do
mercado. Os consumidores que não querem mais produtos padronizados na sua generalidade, mas
requerem produtos com características que correspondam a sua personalidade e necessidade. Diferentes
públicos como jovens, mulheres, idosos, deficientes, gays, esportistas, empresários, etc. exigem produtos
com detalhes e adereços próprios para o seu grupo, que como dito, correspondam a sua personalidade
e necessidade.
Baseado nisso, o sistema possui características como:
- Produção flexível: Produção de um reduzido número de mercadorias, voltadas a um público
específico. Ex.: mulheres, jovens, velhos, deficientes, homossexuais, ecologistas, aventureiros, etc.
Diferentemente do fordismo que está destinado para fabricação de produtos padronizados e
homogêneos em grande quantidade e para mercados de massa em que os consumidores não se
distinguem. A produção flexível oferece produtos específicos para públicos distintos. Os produtos podem
ser carros adaptados ou personalizados, softwares para empresas segundo sua necessidade, calçados,
móveis, objetos, acessórios personalizados de acordo com a vontade do consumidor.
Isso é possível, principalmente, devido, as tecnologias baseadas na computação. Desse modo, o
domínio da informática ganha cada vez mais importância no mundo do trabalho.
- Produção em grupo: Ao contrário do fordismo, em que as empresas tinham uma gerência que
funcionava como uma espécie de “cérebro da empresa”, que pensava todas as etapas da produção, na
acumulação flexível, a tendência é que os grupos de trabalhadores colaborem no desenvolvimento de
todo o processo de produção. A atividade do trabalhador não se resume mais à execução de uma tarefa
repetitiva e exaustiva: deve também ajudar a propor soluções para a empresa.
- Trabalho em equipe: Ao invés de ter um cargo definido, com um conjunto fixo de tarefas a serem
realizadas, o trabalhador deve enfrentar situações distintas em grupos colaborativos.
Forma-se um grupo para realizar um projeto e, logo depois, dissolve-se esta equipe, deslocando seus
membros para novos projetos. Ex: agências de publicidade, projetos de engenharia, grupos de pesquisa,
etc.
- Habilidades múltiplas: Como dito anteriormente, a participação do empregado não é mais exigida
somente em uma única tarefa repetida à exaustão, mas em uma variedade de tarefas. Por isso, o mercado
exige um empregado capaz de resolver problemas e propor ideias criativas.
As decisões em relação à contratação de um funcionário não são mais baseadas exclusivamente na
sua escolarização e qualificações, mas na capacidade desse funcionário de se adaptar e adquirir novas
habilidades com rapidez. (Isso não quer dizer que não devemos nos qualificar, ao contrário, quer dizer
que devemos estar constantemente nos atualizando, dominando novos recursos).

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Emprego e desemprego na atualidade
Ter um emprego não só constitui o principal recurso com que conta a maioria das pessoas para suprir
suas necessidades materiais como também lhes permite plena integração social. Por isso, a maior parte
dos países reconhece o direito ao trabalho como um dos direitos fundamentais dos cidadãos.
Emprego é a função e a condição das pessoas que trabalham, em caráter temporário ou permanente,
em qualquer tipo de atividade econômica, remunerada ou não. Por desemprego se entende a condição
ou situação das pessoas incluídas na faixa das "idades ativas" (em geral entre 14 e 65 anos), que estejam,
por determinado prazo, sem realizar trabalhos em qualquer tipo de atividade econômica, remunerada ou
não.
As possibilidades de emprego que os sistemas econômicos podem oferecer em certo período
relacionam-se com a capacidade de produção da economia, com as políticas de utilização dessa
capacidade e com a tecnologia empregada na produção.
Os economistas clássicos entendiam que o estado de pleno emprego dos fatores de produção (entre
eles o trabalho) era normal, estando a economia sempre em equilíbrio. John Stuart Mill dizia: "Se
pudermos duplicar as forças produtoras de um país, duplicaremos a oferta de bens em todos os
mercados, mas ao mesmo tempo duplicaremos o poder aquisitivo para esses bens." Dentro dessa linha
de ideias, o aparecimento de desempregados em certas épocas era explicado como a resultante de um
desajustamento temporário. O ajustamento (ocupação da força de trabalho desempregada) ocorreria
quando os trabalhadores decidissem aceitar voluntariamente os salários mais baixos oferecidos pelos
empresários.

Teorias
John Maynard Keynes contestou essas afirmações, negando que haja um ajustamento automático
para o pleno emprego no regime da propriedade privada dos meios de produção. Afirmam os keynesianos
que a lei do mercado dos clássicos, segundo a qual "a oferta cria a sua própria procura", é ilusória e que
o pleno emprego é uma situação excepcional, de pouca duração e raramente atingida. Para Keynes, é a
procura efetiva que determina a maior produção e em consequência o mais alto nível de emprego,
enquanto a produção global nem sempre encontra procura efetiva. "Quando a procura efetiva é
insuficiente, o sistema econômico se vê forçado a contrair a produção", o que resulta no desemprego.
"Não há meio de assegurar maior nível de ocupação, a não ser pelo aumento do consumo." A procura
efetiva estaria na dependência da renda real, ou seja, do efetivo poder de compra da comunidade, e o
subconsumo, causador do desemprego, seria consequência do fato de que "uma parte excessivamente
grande do poder de compra fica com os beneficiários de rendas importantes", como disse Bertrand de
Jouvenel.
Marx também formulou uma lei da população para explicar o desemprego. Chamou-a de "lei capitalista
do desemprego", e a considerou uma consequência da propriedade privada dos meios de produção.
Segundo ele, na sociedade burguesa a acumulação do capital faz com que uma parte da população
operária se torne inevitavelmente supérflua. É eliminada da produção e condenada à fome. Essa
"superpopulação relativa" toma diferentes nomes, segundo os aspectos que apresenta:
- Superpopulação flutuante, constituída pelos operários que perdem seu trabalho por certo tempo, em
consequência da queda da produção, do emprego de novas máquinas, do fechamento de empresas. Com
o incremento da produção, uma parte desses desempregados volta a se empregar; e também consegue
emprego uma parcela dos novos trabalhadores que alcançaram a idade produtiva. O número total dos
operários empregados aumenta, mas numa proporção decrescente em relação ao aumento da produção.
- Superpopulação latente, constituída pelos pequenos produtores arruinados e principalmente pelos
camponeses pobres e pelos operários agrícolas que estão ocupados na agricultura somente durante parte
do ano. Ao contrário do que ocorre no setor industrial, o progresso técnico na agricultura provoca uma
diminuição absoluta da demanda de mão-de-obra.
- Superpopulação estagnada, constituída pelos grupos numerosos de pessoas que perderam
definitivamente seu emprego e cujas ocupações irregulares são pagas muito abaixo do nível habitual de
salário. Encontram-se entre esses os trabalhadores domésticos e os que vivem de trabalho ocasional.

Classificação
Costuma-se classificar o desemprego segundo sua origem:
- Desemprego estrutural, característico dos países subdesenvolvidos, ligado às particularidades
intrínsecas de sua economia. Explica-se pelo excesso de mão-de-obra empregado na agricultura e
atividades correlatas e pela insuficiência dos equipamentos de base que levariam à criação cumulativa
de emprego.

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- Desemprego tecnológico, que atinge sobretudo os países mais adiantados. Resulta da substituição
do homem pela máquina e é representado pela maior procura de técnicos e especialistas e pela queda,
em maior proporção, da procura dos trabalhos meramente braçais.
- Desemprego conjuntural, também chamado desemprego cíclico, característico da depressão, quando
os bancos retraem os créditos, desestimulando os investimentos, e o poder de compra dos assalariados
cai em consequência da elevação de preços.
- Desemprego friccional, motivado pela mudança de emprego ou atividade dos indivíduos. É o tipo de
desemprego de menor significação econômica.
- Desemprego temporário, forma de subemprego comum nas regiões agrícolas, motivado pelo caráter
sazonal do trabalho em certos setores agrícolas.

Exército de reserva
Thomas Robert Malthus, economista inglês do século XVIII, atribuiu o desemprego a leis eternas da
natureza. De acordo com a sua "lei da população", desde a origem da sociedade humana a população
aumenta em progressão geométrica (1, 2, 4, 8, 16, 32...) e os meios de subsistência, dado o caráter
limitado das riquezas naturais, aumentam em progressão aritmética (1, 2, 3, 4, 5, 6...). Esta, segundo
Malthus, é a causa original dos excedentes de população, de fome e de miséria. Segundo Malthus, para
se libertar da miséria e da fome o proletariado deveria reduzir artificialmente os nascimentos.
A desocupação de uma percentagem de três por cento da força de trabalho é considerada nos países
capitalistas como desemprego mínimo ou normal e só acima desse índice é que se fala em desemprego.
Há quem considere essa quota como necessária ao desenvolvimento da indústria. Os defensores dessa
tese afirmam que uma certa porcentagem de desemprego é salutar à economia, por constituir uma
reserva de mão-de-obra para a expansão industrial. E alegam que nos períodos de recuperação e avanço
industrial, quando o crescimento rápido da produção se impõe, uma quantidade suficiente de empregados
estará à disposição dos empresários.

Desemprego na América Latina5


O potencial de mão-de-obra latino-americano está longe de seu pleno aproveitamento. Há na
economia agropecuária um desemprego latente, disfarçado e, embora generalizado, dificilmente
mensurável em termos estatísticos. O mesmo ocorre nas camadas economicamente marginais da
população urbana. É também cada vez maior o desemprego nos subgrupos secundário e terciário das
atividades econômicas no setor citadino. Observam-se na América Latina os diversos tipos de
desemprego comuns à economia capitalista. Como nessa região do mundo coexistem formas de
exploração da terra em regime semifeudal pré-capitalista até atividades em centros altamente
industrializados, aí estão também desde o subemprego rural, decorrente da concentração da propriedade
da terra, até o desemprego tecnológico, consequência da maior procura de mão-de-obra especializada
em lugar de simples trabalhadores braçais.
Estanislau Fischlowitz chama a atenção para o denominado "fator de patologia social do mercado do
trabalho", ou seja, o desemprego de preponderante origem populacional, que se delineia claramente na
América Latina. A população cresce num ritmo tal que os contingentes de pessoas a alcançar a idade de
trabalho é maior do que a capacidade de absorção de mão-de-obra. Dada a alta frequência de
adolescentes e a melhora nos índices de sobrevivência, esse sociólogo calcula em vários milhões o
número de jovens que, a cada ano, entram no mercado de trabalho, em busca do primeiro emprego
remunerado. Em vários países sul-americanos, a situação seria menos sombria se não fosse a altíssima
taxa de aumento demográfico, calculada em 2,7% ao ano. A situação é particularmente grave em El
Salvador, o país latino-americano de maior densidade populacional.
No Brasil, um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, com base na Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (PNAD, concluiu que o Brasil tinha 62 milhões de pessoas com algum tipo de
ocupação, dos quais 40 milhões empregadas; a proporção de desempregados (2,4%) era relativamente
baixa). Esses números escondiam acentuadas disparidades regionais, como a proporção de crianças de
10 a 13 anos que trabalhavam: 7,3% em São Paulo, 28,4% no Piauí.
Calcula-se que nos países menos desenvolvidos de 25 a 30% do potencial de trabalho seja perdido
por meio do desemprego e do subemprego. No entanto, a taxa de crescimento demográfico
extremamente alta não é a principal causa de subutilização da força de trabalho. O problema se deve
basicamente a graves desequilíbrios e inadequações nos sistemas econômicos e sociais desses países.
Entre esses fatores, aponta-se a má distribuição de renda.

5 SCALZARETTO, Reinaldo. Geografia Geral – Geopolítica. 4ª edição. São Paulo: Anglo.

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Questões

01. (PC/PI – Escrivão de Polícia Civil – UESPI) No início dos anos 1990, o mundo assistiu à
derrocada do chamado Bloco Socialista, comandado pela ex-União Soviética, tendo como consequência
o fim da Guerra Fria e o surgimento de uma Nova Ordem Mundial, que apresenta como características,
EXCETO,
(A) o controle do mercado mundial por grandes corporações transnacionais.
(B) aprofundamento da Globalização da economia e consolidação da tendência à formação de blocos
econômicos regionais.
(C) processos pacíficos de Fragmentação territorial sem ocorrência de conflitos étnicos, a exemplo da
ex-Iugoslávia.
(D) ampliação das desigualdades internacionais.
(E) a existência de uma realidade mais complexa, com múltiplas oposições ou tensões econômicas,
étnicas, religiosas, ambientais etc.

02. (Prefeitura de Martinópole/CE – Agente Administrativo – CONSULPAM) A nova economia


internacional possui elementos característicos onde os que se destacam são os que se referem ao quadro
geral determinado pela Globalização. Com isso podemos AFIRMAR que o atual cenário mundial é
assinalado pela:
(A) bipolaridade
(B) unimultipolaridade
(C) velha ordem mundial
(D) Nova Guerra Fria

03. (SEDU/ES – Professor de Geografia – CESPE/Adaptada) Com relação à geografia política


mundial, julgue o item a seguir.
A nova ordem mundial apresenta uma faceta geopolítica e outra econômica. Na geopolítica, houve
uma mudança para um mundo multipolar, onde as potências impõem mais por seu poder econômico que
pelo poder bélico. Na economia, o que aconteceu foi o processo de globalização e a formação de blocos
econômicos supranacionais.
(....) Certo (....) Errado

04. (IF/SE – Analista – IF/SE/Adaptada) "Com a derrocada do socialismo real e da União Soviética,
entre 1989 e 1991, surgiu uma nova ordem mundial que, a princípio, parecia ser unipolar, com uma única
superpotência, os Estados Unidos. Mas essa ideia parece ser aplicável somente a um breve período
transitório, pois o poderio estadunidense vem se enfraquecendo, em termos relativos (isto é, em
comparação com o crescimento da China, da Europa unificada, da Índia etc...)." Vesentini, Wiliam - 2009.
Assinale a afirmativa correta sobre os fatos da nova ordem mundial:
(A) O ponto fraco da União Europeia é o rápido envelhecimento e o baixo poder aquisitivo de sua
população.
(B) Apesar da crise na transição do socialismo real para a economia, a herdeira da Ex União Soviética,
Rússia, voltou a ser uma superpotência, apesar da fragilidade do setor de tecnologia de ponta.
(C) Uma das dificuldades para o Japão na formação de um Megabloco na Ásia é a desconfiança de
algumas importantes nações, como China e Coréia do Sul, que o consideram um país imperialista,
sobretudo pela brutalidade e pelo racismo demonstrado pelas tropas japonesas quando da ocupação de
seus territórios.
(D) A China atualmente é o Estado nacional que poderia ameaçar a hegemonia estadunidense, em
função do crescimento econômico e do regime político democrático.
(E) A Índia é outro país que vem se modernizando, e é favorecida pela abundância de recursos
minerais e ausência de problemas étnicos, sociais e político territoriais.

05. (IF/SP – Professor de Geografia – FUNDEP) O processo de mundialização da economia


capitalista inaugurou uma nova divisão internacional do trabalho porque
(A) a diversidade das plantas industriais, até então vigentes nas mais diferentes economias do planeta,
sofreram homogeneização, excluindo a complementaridade.
(B) a divisão do mundo em países produtores de bens industrializados e países unicamente produtores
de matérias-primas, quer agrícolas, quer minerais, já não bastava.
(C) a expansão industrial sobrepôs uma divisão horizontal à antiga divisão vertical do trabalho,
mediante eliminação de níveis de qualificação dentro de cada ramo industrial

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(D) a indústria multinacional restringiu sua atuação aos mercados de países centrais e criou bases
produtivas adaptadas às necessidades de seus mercados nacionais.

06. (PC/PI – Perito – NUCEPE) O MERCOSUL, um dos importantes blocos econômicos da atualidade,
teve origem:
(A) nos acordos políticos entre os regimes ditatoriais dos países do “Cone Sul”.
(B) na imposição feita pelos Estados Unidos ao Brasil e ao Uruguai para o estabelecimento de
fronteiras econômicas na América do Sul.
(C) nos acordos comerciais entre Brasil e Argentina, assinados em meados dos anos 1980.
(D) No processo político que acabou com a Guerra Fria e instalou a democracia na Argentina e no
Paraguai
(E) na estruturação de uma Zona de Livre Comércio entre Brasil, Argentina e Chile, com o apoio dos
Estados Unidos e da Inglaterra, no final da década de 1970.

Respostas

01. Resposta: C.
(...). Com a crise do bloco socialista, no final dos anos 1980, uma nova fase se abriu para a história da
Iugoslávia. Em 1991, Croácia, Eslovênia e Macedônia declararam sua independência, sendo que apenas
esta última de maneira pacífica. A separação da Croácia e da Eslovênia foi acompanhada por intensos
conflitos militares liderados pelo então presidente sérvio Slobodan Milosevic. Em 1992, a Bósnia declarou
sua independência, passando a enfrentar militarmente a Croácia, em disputa por territórios, e sobretudo
a Sérvia, contrária ao movimento separatista de mais uma região iugoslava. (...)
(Fonte:http://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/geopolitica/conflitos-na-ex-iugoslavia.htm).

02. Resposta: B.
Nova Ordem Mundial é a lógica internacional da ordem de poder entre os Estados nacionais no período
que sucede a Guerra Fria. A Nova Ordem Mundial é caracterizada pela UNIMULTIPOLARIDADE, uma
vez que temos a supremacia dos Estados Unidos no campo bélico e político, e a emergência de várias
potências no campo econômico: China, União Europeia, Japão e o próprio EUA.

03. Resposta: Certo.


Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, a comunidade internacional passa por uma reformulação
das estruturas de poder e força entre os Estados Nacionais, gerando uma nova configuração geopolítica
e econômica que foi chamada de Nova Ordem Mundial. Uma das mudanças principais desse novo plano
geopolítico internacional foi o estabelecimento de uma multipolaridade, onde o poderio militar não era
mais o critério determinante de poder global de um Estado Nacional, perdendo lugar para o poderio
econômico. Já a área econômica passa por um processo de globalização, gerando fluxos crescentes de
bens, serviços e capitais que perpassam as fronteiras nacionais. Além disso, a formação de blocos
econômicos supranacionais visam atender tanto os interesses de corporações transnacionais, que
almejam a eliminação das barreiras alfandegárias, como os Estados Nacionais que tentam garantir
algumas vantagens políticas.

04. Resposta: C.
O Japão apesar de ser o mais rico da Ásia em outrora buscou seu domínio nos países do pacífico com
ocupações territoriais, principalmente durante a 2ª guerra, desde então os asiáticos não fecham em um
bloco econômico com receio de um novo domínio japonês, através da economia sobre eles.

05. Resposta: B.
O processo de mundialização da economia capitalista monopolista teve como pressuposto básico a
necessidade de uma nova divisão internacional do trabalho. Já não bastava um mundo dividido em países
produtores de bens industrializados e países unicamente produtores de matérias-primas, quer agrícolas,
quer minerais. A mundialização da economia pressupõe uma descentralização da atividade industrial e
sua instalação e difusão por todo o mundo. Pressupõe também um outro nível de especialização dos
produtos oriundos dos diferentes países do mundo para o mercado internacional. Assim,
simultaneamente, a indústria multinacional implanta-se nos mercados existentes em todos os países
(através de filiais, fusões, associações, franquias etc.) e cria bases para a produção industrial adaptada
às necessidades desses mercados nacionais. Ao mesmo tempo, atua de forma a aprimorar a exploração
e a exportação das matérias-primas requeridas pelo mercado internacional. Esse processo de expansão

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industrial sobrepôs uma divisão vertical à antiga divisão horizontal do trabalho. Agora combina-se a antiga
divisão por setores (primário: agrícola e mineiro, e secundário: industrial) em níveis de qualificação dentro
de cada ramo industrial.
(ROSS, Sanches L. Jurandyr: Geografia do Brasil. - 4ª ed. - São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001. - Didática; 3).

06. Resposta: C.
O Mercosul – Mercado Comum do Sul – é um bloco econômico criado pelo Tratado de Assunção, em
1991, e conta atualmente com Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e, mais recentemente, com a
Venezuela como países-membros.
Equador, Chile, Colômbia, Peru, Bolívia participam como membros associados, ou seja, participam
das reuniões, mas não possuem poder de voto. No entanto, o Equador já manifestou sua intenção de se
tornar um membro efetivo do bloco, o que deve ocorrer nos próximos anos após a realização de ajustes
em sua legislação. Além desses países, o México participa apenas como membro observador. Para fazer
parte do bloco, é preciso estar primeiramente associado à ALADI, Associação Latino-Americana de
Integração.
Entre os acordos estabelecidos entre os países-membros estão a livre circulação de bens e serviços,
além do estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEC), que consiste na padronização de preços
dos produtos dos países para a exportação e para o comércio externo. Por exemplo, um produto “x”
vendido à China pela Argentina terá o mesmo preço caso a China resolva comprá-lo do Brasil.
Estruturado a partir dos modelos existentes de mercados regionais, o Mercosul caracteriza-se por
ampliar e melhorar o ciclo de exportações entre os seus países-membros, o que vem ocorrendo nos
últimos anos. Antes da criação do bloco, os vizinhos sul-americanos não eram grandes parceiros
econômicos, mas atualmente essas relações já se alteraram.
A Argentina, por exemplo, desde os anos 1990 figura entre os mais importantes países que compõem
o comércio exterior brasileiro. O Brasil, atualmente, é o maior mercado consumidor de Chile, Argentina,
Paraguai, Uruguai e, provavelmente, em breve se tornará também o principal mercado exportador,
principalmente pelo fato de ser o país mais industrializado do grupo.
A propósito, a economia brasileira é, de longe, a mais importante do grupo. O PIB do país, por exemplo,
representa mais de 55% do valor total do bloco. Além disso, a população brasileira representa quase a
metade dos habitantes dos países-membros, tornando o país um mercado consumidor em potencial. 6

2 Movimentos sociais no Brasil: principais movimentos e sua contribuição


para as transformações da sociedade brasileira nos diferentes períodos;
democracia e participação popular; as grandes questões nacionais e seu
processo histórico: industrialização, urbanização e concentração demográfica,
exclusão social, concentração de renda e violência urbana; populações
indígenas, questão fundiária e questão ambiental, educação, saúde,
desenvolvimento sustentado; a mulher e a família no contexto social; a crise do
Estado brasileiro: causas estruturais e conjunturais.

Candidato(a), trabalharemos aqui todos os aspectos sociais, econômicos e políticos da História do


Brasil. O que nos leva a entender que o edital pede nada menos do que a própria História do Brasil,
de sua colonização até o governo Temer. Dessa forma, mesmo que o conteúdo esteja demasiado
extenso, não correremos o risco de perder nenhuma das “grandes questões nacionais e seu
processo histórico”, como está no edital.

História do Brasil

O Período Pré-Colonial: A fase do Pau-Brasil (1500 a 1530)


O termo “Descobrimento do Brasil” traz uma visão pautada no eurocentrismo, que é a valorização da
cultura europeia em detrimento das outras, já que expõe a chegada (termo mais apropriado) dos
portugueses ao Brasil como o início da civilização e da presença humana no país, desconsiderando a
presença e a cultura indígena já presentes há milhares de anos neste território. Os portugueses chegam
ao Brasil em 22 de abril de 1500, com a esquadra de Pedro Alvares Cabral, iniciando o período conhecido
como Pré-Colonial.

6 PENA, Rodolfo Alves. Mercosul. Disponível em: http://brasilescola.uol.com.br/geografia/mercosul.htm. Acesso em: Março/2016.

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Durante o período Pré-Colonial foi grande a exploração do pau-brasil, que alcançava um bom valor na
Europa, utilizado no tingimento de tecidos (daí vem o nome brasil, pois a madeira soltava um pigmento
avermelhado, semelhante à cor de uma brasa). O corte e transporte das toras de pau-brasil eram feitas
pelos indígenas, a partir de trocas (escambo) com os portugueses. Os portugueses não encontraram de
imediato metais ou pedras preciosas no Brasil, e também não tiveram interesse em criar colônias no
Durante os primeiros trinta anos, o Brasil foi atacado pelos holandeses, ingleses e franceses que
tinham ficado de fora do Tratado de Tordesilhas (acordo entre Portugal e Espanha que dividiu as terras
recém descobertas em 1494). Os corsários ou piratas também saqueavam e contrabandeavam o pau-
brasil. O medo da coroa portuguesa era perder o território brasileiro para um outro país. Para tentar evitar
estes ataques, Portugal organizou e enviou ao Brasil as Expedições Guarda-Costas, porém com poucos
resultados.
Os portugueses continuaram a exploração da madeira, construindo as feitorias no litoral que nada mais
eram do que armazéns e postos de trocas com os indígenas.
No ano de 1530, o rei de Portugal, D. João III, organizou a primeira expedição com objetivos de
colonização, comandada por Martin Afonso de Souza, com a intenção de povoar o território brasileiro,
expulsar os invasores e iniciar o cultivo de cana-de-açúcar no Brasil.

A cana-de-açúcar
Houveram muitos motivos para a escolha da cana como produto da colônia, entre eles a ocorrência
do solo de massapê, que é propício para o cultivo da cana-de-açúcar. Além disso, era um produto muito
bem cotado no comércio europeu. As primeiras mudas de cana-de-açúcar chegaram no início da
ocupação efetiva do território brasileiro, trazidas por Martim Afonso de Souza em 1533 e plantadas no
primeiro engenho, construído em São Vicente.
Os principais centros de produção açucareira do Brasil localizavam-se nos atuais estados de
Pernambuco, Bahia e São Paulo. A ocupação do Brasil no Século XVI esteve profundamente ligada à
indústria açucareira. A economia de plantation possui relação intensa com os interesses dos
proprietários de terras que lucravam enormemente com as culturas de exportação.
O latifúndio, isto é, a grande propriedade rural, formou-se nesse período, tendo consequências até os
dias de hoje. A produção da cana-de-açúcar também contribuiu para a vinculação dependente do país
em relação ao exterior, a monocultura de exportação e a escravidão e suas consequências. A colônia
portuguesa de exploração prosperou graças ao sucesso comercial da produção da cana-de-açúcar.
O senhor de engenho, que era proprietário do complexo de produção de açúcar, ou engenho
desfrutava de admirável status social. Os engenhos eram compostos de amplas propriedades de terras
ganhas através da cessão de sesmarias. O senhor de engenho e sua família moravam na casa-grande –
local onde ele desempenhava sua autoridade junto aos seus, cumprindo seu papel de patriarca.
Em 1630 os holandeses invadiram o nordeste da colônia, na região de Pernambuco, que era a maior
produtora na época. Durante sua permanência no Brasil, os holandeses adquiriram o conhecimento de
todos os aspectos técnicos e organizacionais da indústria açucareira. Esses conhecimentos criaram as
bases para a implantação e desenvolvimento de uma indústria concorrente, de produção de açúcar em
grande escala, na região do Caribe. A concorrência imposta pelos holandeses, que haviam sido expulsos
pelos portugueses, fez com o Brasil perdesse o monopólio que exercia mercado mundial do açúcar,
levando a produção a entrar em declínio.

As Capitanias Hereditárias
A implantação do regime de capitanias hereditárias no Brasil, em 1534, está vinculada a incapacidade
económica do Estado português em financiar diretamente a colonização, pois o monopólio do comercio
com as índias se tornara deficitário. Por essa razão, e considerando urgência de se colonizar o Brasil. D.
João III decidiu dividi-lo em capitanias hereditárias, para que elas mesmas fossem colonizadas com
recursos particulares, sem que a coroa tivesse que investir dinheiro.
O regime de capitanias já havia sido aplicado com êxito nas ilhas atlânticas (Madeira, Açores. Cabo
Verde e São Tomé). No próprio Brasil já existia a capitania de São Joao, correspondente ao atual
arquipélago de Fernando de Noronha.
O território brasileiro foi dividido em 14 capitanias (uma delas subdividida em dois lotes), doadas a
doze donatários. Os limites de cada território, definidos sempre por linhas paralelas iniciadas no litoral,
estavam especificados na Carta de Doação. Este documento estipulava também que a capitania seria
hereditária, indivisível e inalienável, podendo ser readquirida somente pela Coroa. Um segundo
documento era o Foral, que regulamentava minuciosamente os direitos do rei. Na realidade, os donatários
não recebiam a propriedade das capitanias, mas apenas sua posse. De qualquer forma possuíam amplos

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poderes administrativos, militares e judiciais, sendo responsáveis unicamente perante o soberano. Tra-
tava-se, portanto, de um regime administrativo descentralizado.
São Vicente e Pernambuco foram as únicas capitanias que prosperaram. O fracasso do projeto como
um todo decorreu de vários fatores: falta de coordenação entre as capitanias, grande distância da
metrópole, excessiva extensão territorial, ataques indígenas, desinteresse de vários donatários e. acima
de tudo. Insuficiência de recursos.
As capitarias hereditárias não desapareceram com a criação do Governo-Geral: elas foram gradual-
mente readquiridas pela Coroa, até serem totalmente extintas, na segunda metade do século XVIII, pelo
marques de Pombal.

Principais Capitanias Hereditárias e seus donatários: São Vicente (Martim Afonso de Sousa),
Santana, Santo Amaro e Itamaracá (Pêro Lopes de Sousa), Paraíba do Sul (Pêro Gois da Silveira),Espírito
Santo (Vasco Fernandes Coutinho), Porto Seguro (Pêro de Campos Tourinho), Ilhéus (Jorge Figueiredo
Correia), Bahia (Francisco Pereira Coutinho), Pernambuco (Duarte Coelho), Ceará (António Cardoso de
Barros), Baía da Traição até o Amazonas (João de Barros, Aires da Cunha e Fernando Álvares de
Andrade).

Governo Geral
Reconhecendo o fracasso do regime de capitanias hereditárias, D. João III resolveu criar o Governo-
Geral. Por meio dessa medida o monarca visava centralizar a administração colonial, subordinando as
capitanias a um governador-geral que coordenasse e acelerasse o processo de colonização do Brasil.
Com esse objetivo elaborou-se em 1548 o Regimento do Governador-Geral no Brasil que regulamentava
as funções do governador e de seus principais auxiliares — o ouvidor-mor (Justiça), o provedor-mor
(Fazenda) e o capitão-mor (Defesa).
O primeiro governador-geral foi Tomé de Sousa, que fundou Salvador, primara cidade e capital do
Brasil. Com ele vieram os primeiros jesuítas e foi criado o primeiro bispado em terras brasileiras.
A administração do segundo governador-geral, Duarte da Costa, apresentou sérios problemas:
revoltas dos índios na Bahia, conflito entre o governador e o bispo e, principalmente, a invasão francesa
do Rio de Janeiro (criação da França Antártica). Em compensação, o terceiro governador-geral, Mem de
Sá, mostrou-se tão eficiente que a metrópole o manteve no cargo até sua morte; foi ele quem conseguiu
expulsar os invasores franceses, graças a atuação de seu sobrinho Estado de Sá.
Depois de Mem de Sá, por duas vezes a colônia foi dividida temporariamente em dois governos-gerais:
a Repartição do Norte, com capital em Salvador, e a do Sul, com capital no Rio de Janeiro.
Durante a União Ibérica, o Brasil foi transformado em duas colônias distintas: Estado do Brasil (cuja
capital era Salvador e, depois, Rio de Janeiro) e Estado do Maranhão (cuja capital era São Luís e, depois,
Belém). A reunificação só seria concretizada pelo marquês de Pombal, em 1774.
Além das capitanias e do Governo-Geral, foram criadas as Câmaras Municipais nas vilas e nas cidades
do Brasil Colônia. O controle edifico das Câmaras Municipais era exercido pelos grandes proprietários
locais, os "homens-bons", o que reforçava suas posições sociais de mando. Entre suas competências,
destacavam-se o ceder deliberativo sobre preços de mercadorias e a fixação dos valores de alguns
tributos.
As eleições para as Câmaras Municipais eram realizadas ente os "homens-bons". Elegiam-se três
vereadores, um procurador, um tesoureiro e um escrivão, sob a presidência de um juiz ordinário, (juiz de
paz), mais tarde substituído, pelo juiz de fora. Ao longo da colonização, os choques entre os interesses
da metrópole e os da colônia, isto é, entre o centralismo e o localismo, foram simbolizados,
respectivamente, pelo Governo-Geral e pelas Câmaras Municipais.

Companhia de Jesus
A Companhia de Jesus foi criada por Inácio de Loyola em 1534, como resposta para os movimentos
religiosos, em especial a reforma protestante e a contrarreforma, que aconteciam na Europa. Seu objetivo
era espalhar a fé católica pelo mundo.
Os primeiros representantes da Ordem jesuítica chegaram ao Brasil comandados pelo padre Manuel
da Nóbrega, no ano de 1549, em uma expedição comandada por Tomé de Souza. Após desembarcarem
na Bahia, ajudaram na fundação da cidade de Salvador, além de percorrerem as capitanias vizinhas.
O Projeto Educacional Jesuítico não era apenas um projeto de catequização, mas sim um projeto bem
mais amplo, um projeto de transformação social, pois tinha como função propor e implementar mudanças
radicais na cultura indígena brasileira.

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Uma das estratégias adotadas por Manuel da Nóbrega na conversão dos gentios foi a construção de
aldeias de catequização, que se situavam próximas das vilas e cidades portuguesas. Essas aldeias eram
habitadas pelos padres jesuítas e pelos índios a serem convertidos.
No ano de 1553, José de Anchieta chega ao Brasil. Anchieta esteve à frente do Colégio na vila de São
Paulo de Piratininga, fundada em 1554. Durante seu tempo no colégio fez contato intenso com os grupos
indígenas locais, o que auxiliou na elaboração de um guia de gramática e um dicionário.
A partir da década de 1580, a missão realizava-se por meio de visitas esporádicas aos grupos
localizados nas matas. Essas visitas eram espaçadas e demoravam até quinze dias ou mais, umas das
outras, e os padres não permaneciam muito tempo entre os grupos. Devido ao segundo contato ser
sempre demorado, quando aconteciam os índios já não detinham as orientações anteriores.
Na segunda metade do século XVIII, a presença dos jesuítas no Brasil sofreu um duro golpe. Nessa
época, o influente ministro Marquês de Pombal decidiu que os jesuítas deveriam ser expulsos do Brasil
por conta da grande autonomia política e econômica que conseguiam com a catequese. A justificativa
para tal ação adveio da ocorrência das Guerras Guaraníticas, onde os padres das missões do sul
armaram os índios contra as autoridades portuguesas em uma sangrenta guerra.
Apesar desse episódio, a herança religiosa dos jesuítas ainda se encontra manifesta em vários setores
da nossa sociedade. Muitas escolas tradicionais do país, bem como várias instituições de ensino superior
espalhadas nos mais diversos pontos do território brasileiro, ainda são administradas por setores
dirigentes da Igreja Católica. Somente no século XIX, foi que as escolas laicas passaram a ganhar maior
espaço no cenário educacional brasileiro.

Outros atividades econômicas


Na região Nordeste a atividade pastoril expandiu-se rapidamente, pois o capital necessário para a
montagem de uma fazenda de gado era bastante reduzido. As terras eram fartas e o criador precisava
somente requerer a doação de uma sesmaria ou simplesmente apossar-se da terra. Para adquirir os
animais também não era necessário grande investimento, já que era possível para os colonos trabalharem
por volta de 5 anos em fazendas de gado com pagamento feito através da participação no nascimento de
novos animais (geralmente o colono recebia uma cria em cada quatro), o que garantia que quando
terminasse o tempo de serviço, o colono teria adquirido um pequeno rebanho, garantindo a possibilidade
de conduzir seus negócios de forma independente.
As instalações das propriedades pastoris eram simples, com poucas casas e alguns currais feitos com
material encontrado nas localidades. O método de criação também era muito simples, feito de maneira
extensiva (O gado vivia solto no campo), o que dispensava mão-de-obra numerosa ou especializada.
Em uma fazenda de três léguas era comum a utilização de dez a doze homens para o serviço, que
poderiam ser negros forros (com carta de alforria), mestiços ou indígenas, que possuíam grande
habilidade para a atividade. Dificilmente eram utilizados escravos.
Na região amazônica a geografia impedia a implantação de fazendas de cultivo ou a criação de
animais. Ao penetrarem os rios e selvas da região os portugueses notaram que os índios utilizavam uma
grande variedade de frutas, ervas, folhas e raízes para fins medicinais e alimentícios. Os produtos
utilizados, em especial cacau, baunilha, canela, urucum, guaraná, cravo e resinas aromáticas foram
chamados de drogas do sertão, e possuíam bom valor de comercio na Europa, podendo ser vendidas
como substitutas ou complementos das especiarias. Além das plantas, outras variedades de drogas do
sertão incluíam: gordura de peixe-boi, ovos de tartaruga, araras e papagaios, jacarés, lontras e felinos.

Escravos e homens livres na Colônia


No Brasil colonial a mão de obra escrava foi utilizada amplamente. A escravidão está presente na
formação do país, desde os índios aos negros que chegavam em navios, a utilização do trabalho escravo
se deu pela intenção de maximizar lucros através da superexploração do trabalho e do trabalhador.
Apesar da ampla utilização do trabalho escravo, este não foi o único, uma parte da sociedade era livre,
composta de trabalhadores livres, que no início eram portugueses condenados ao exílio na América como
punição.
Ser livre na colônia significava não ser escravo, já que mesmo sendo livres, os mais pobres eram
marginalizados e tinham poucas chances de ascensão e eram privados de exigir melhores situações
econômicas. No grupo de trabalhadores livres estavam os degredados portugueses, escravos forros
(libertos), os mestiços, pardos e brancos. Os homens livres formam um grupo bastante variado em que a
posição social e o serviço são variáveis e boa parte dos homens livres não viviam melhor que muitos
escravos.
O cultivo do açúcar e os engenhos motivaram essa variação de trabalhadores livres, em que os
senhores de engenhos consideravam estar no topo da sociedade. A divisão da terra através das

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sesmarias beneficiava os mais abastados que se tornavam os grandes proprietários e arrendavam uma
parte para colonos que não possuíam condições para ter sua própria terra, denominando assim os
Senhores de engenhos (produtores de açúcar) e os lavradores (produtores de cana). As relações entre
senhores de engenho e agricultores, unidos pelo interesse e pela dependência em relação ao mercado
internacional, formaram o setor açucareiro.
A ideia de colônia construída por duas categorias (senhores e escravos), priorizando as relações de
produção e forças produtivas, escondeu uma sociedade bem mais ampla, de um universo social
açucareiro, em que viviam trabalhadores do campo e semi-livres que exerciam trabalhos como
mercadores, roceiros, artesãos, oficiais, lavradores de roças e desocupados. A partir do século XVIII a
colônia tinha uma população de libertos e libertas que originavam pequenos proprietários de terras, de
etnias diversas: brancos pobres, negros libertos, mestiços, artesãos e trabalhadores livres.
O autor Stuart B. Schwartz detalha sobre os trabalhadores livres assalariados dos engenhos, voltando
seus estudos para o Engenho Sergipe, trabalhadores que recebiam a soldada por dia ou tarefa, que ao
longo do tempo sofreu declinações e diminuições dos salários. Dentro dos engenhos exerciam trabalhos
como: mestres de açúcar, feitores, banqueiro, caixeiro, purgador, caldeireiro, médico (que também era
dentista e farmacêutico) e escumeiro, funções que tinham um pagamento e que variava ao longo da
colheita, do serviço e até mesmo do engenho em que se prestava serviço, o feitor-mor recebia a soldada
mais alta e não há uma disputa por trabalhadores. Com a utilização da mão de obra escrava muitos
trabalhos deixaram de existir, como os barqueiros, vaqueiros, levadeiros e escumeiros, com a substituição
dos trabalhadores livres por escravos especializados. Os trabalhadores livres começaram a priorizar o
trabalho artesanal como carpinteiro, ferreiro, sapateiro, ourives e alfaiates.
Os trabalhadores livres não possuíram uma estrutura social configurada. Por conta da instabilidade,
pelo trabalho esporádico, incerto e aleatório, o vadio não possuía um trabalho fixo. Porém, a qualquer
hora poderia ser utilizado em alguma coisa, considerados como uma espécie de exército de reserva da
escravidão, uma mão-de-obra alternativa.

A sociedade no Brasil colonial

Fonte: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/

A imagem acima é uma representação da organização social no Brasil colonial:


No topo da pirâmide estavam os senhores de engenho, além de grandes proprietários de terras e
escravos, dominavam a economia e a política, exercendo poder sobre sua família e sobre outras pessoas
que viviam em seus domínios, sob sua proteção – os agregados. Era a chamada família patriarcal.
Na camada intermediária estavam os homens livres, como religiosos, feitores, capatazes, militares,
comerciantes, artesãos e funcionários públicos. Alguns possuíam terras e escravos, porém não exerciam
grande influência individualmente, principalmente em relação à economia.
Na base estava a maior parte da população, que era composta de africanos e índios escravizados
(sendo os índios a primeira tentativa de escravidão, que mostrou-se pouco vantajosa). Os escravos não
eram vistos como pessoas com direito a igualdade. Eram considerados propriedade dos senhores e
faziam praticamente todo o trabalho na colônia. Os escravos nas zonas rurais não tinham nenhum direito
na sociedade e começavam a trabalhar desde crianças, aos 5 anos de idade.
A sociedade colonial brasileira foi um reflexo da própria estrutura econômica, acompanhando suas
tendências e mudanças. Suas características básicas, entretanto, definiram-se logo no início da
colonização segundo padrões e valores do colonizador português. Assim, a sociedade do Nordeste
açucareiro do século XVI, essencialmente ruralizada, patriarcal, elitista, escravista e marcada
pela imobilidade social, é a matriz sobre a qual se assentarão as modificações dos séculos seguintes.

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No século XVIII, a sociedade brasileira conheceu transformações expressivas. O crescimento
populacional, a intensificação da vida urbana e o desenvolvimento de outras atividades econômicas para
atender a essa nova realidade, resultaram indubitavelmente da mineração. Embora ainda conservasse
o seu caráter elitista, a sociedade do século XVIII era mais aberta, mais heterogênea e marcada por uma
relativa mobilidade social, portanto mais avançada em relação à sociedade rural e escravista dos séculos
XVI e XVII. Os folguedos e festas populares das camadas mais pobres conviviam com os saraus e
outros eventos sociais da camada dominante. Com relação a esta, o hábito de se locomover
em cadeirinhas ou redes transportadas por escravos, evidencia o aparecimento do escravo urbano, com
destaque para os chamados negros de ganho.

Educação
A história da educação no Brasil tem início com a vinda dos padres jesuítas no final da primeira metade
do século XVI, inaugurando a primeira, mais longa e a mais importante fase dessa história, observando
que a sua relevância encontra-se nas consequências resultantes para a cultura e civilização brasileiras.
Os jesuítas se dedicaram à pregação da fé católica e ao trabalho educativo. Logo perceberam que não
seria possível converter os índios à fé católica sem que soubessem ler e escrever. De Salvador a obra
jesuítica estendeu-se para o sul e, em 1570, vinte e um anos depois da sua chegada, já eram compostos
por cinco escolas de instrução elementar (Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e São Paulo
de Piratininga) e três colégios (Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia).
A educação era privilégio das classes abastadas, pois as famílias tradicionais faziam questão de terem
um doutor (médico ou advogado) e um padre. Era usada como instrumento de legitimação da colonização,
inculcando na população ideias de obediência total ao Estado português. Os jesuítas impunham um
padrão educacional europeu, que desvalorizava completamente os aspectos culturais dos índios e dos
negros. Quanto às mulheres, mesmo das famílias mais abastadas, raramente recebiam instrução escolar,
e esta limitava-se às aulas de boas maneiras e de prendas domésticas. As crianças escravas, por sua
vez, estavam excluídas do processo educacional, não tendo acesso às escolas.

A religião no Brasil colônia


A origem do processo de ocupação territorial do Brasil, serviu para as intenções da igreja católica.
Os portugueses que vieram para o Brasil estavam inseridos no ideal de cruzada, adotando o
catolicismo como insígnia do poder da coroa.
Diante desta ideia, todo o não católico era considerado um inimigo em potencial, a não aceitação da
fé em cristo era vista como contestação do poder do rei e afronta direta a todo português, uma motivação
que incentivou, dentre outros fatores, o extermínio dos indígenas, vistos como pagãos e infiéis.
Essa posição foi adotada até mesmo por muitos jesuítas, como o padre Manuel da Nóbrega, conhecido
por defender o direito de liberdade dos nativos cristianizados.
Para ele, “se o gentio fosse senhorado ou despejado” de sua terra, “com pouco trabalho e gasto”, a
coroa portuguesa “teria grossas rendas nestas terras”; sendo necessário reduzir os índios a “vassalagem”.
Dentro deste contexto, a construção de igrejas passou a delimitar a conquista territorial, garantindo a
soberania do Estado. Uma saída, adotada pelos africanos, depois da introdução da escravidão negra, foi
maquiar suas crenças, disfarçando-as no culto de imagens e signos cristãos, compondo irmandades,
nominalmente católicas, com intuito de facilitar a vida social.

A religiosidade africana
Vigiados de perto por seus senhores e fiscalizados pelos eclesiásticos católicos, na qualidade de
escravos, considerados utensílios de trabalho a semelhança de uma ferramenta, os africanos foram
obrigados a aceitar a fé em cristo como símbolo da submissão aos europeus e a coroa portuguesa.
No entanto, elementos das religiões africanas sobreviveram se ocultando em meio à simbologia cristã.
Associações de caráter locais, as irmandades negras contribuíram para forjar a polissemia e
sincretismo religioso brasileiro.
Impedidos de frequentar espaços que expressavam a religião católica dos brancos, as irmandades
representavam uma das poucas formas de associação permitidas aos negros no contexto colonial.
As irmandades negras surgiram como forma de conferir status e proteção aos seus membros, sendo
responsáveis pela construção de capelas, organização de festas religiosas e pela compra de alforrias de
seus irmãos, oficialmente auxiliando a ação da igreja e demonstrando a eficácia da cristianização da
população escravizada.
Entretanto, ao organizarem-se, geralmente, em torno da devoção a um santo especifico, a qual
assumiu múltiplos significados, incorporando ritos e cultos aos deuses africanos, permitiu o nascimento
de religiões afro-brasileiras como o acotundá, o candomblé e o calundu.

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Muitos indivíduos que oficialmente cultuavam, por exemplo, São José, na capela erguida pela
irmandade negra, dentro do âmbito do acotundá, clandestinamente dançavam em frente a uma imagem
semelhante ao som do tambor em casas simples com paredes de barro cobertas de capim, utilizando
palavras extraídas de textos católicos, mescladas a um dialeto da Costa da Mina (atual Gana).
Um sincretismo que se tornaria típico do povo brasileiro, também presente no candomblé, onde o rito
do deus africano Coura e a devoção a Nossa Senhora do Rosário se fundiram, fornecendo um valioso
exemplo da simbiose religiosa no Brasil.

Os judeus
Perseguidos pelo Tribunal do Santo Oficio na Europa, os judeus sempre estiveram em situação de
perigo iminente, sendo obrigados a converterem-se ao cristianismo em Portugal.
Aos olhos do Estado os convertidos passaram a ser considerados cristãos-novos, vigiados de perto
pela Inquisição, sofrendo preconceitos e perseguições esporádicas.
O Brasil se transformou na terra prometida para os cristãos-novos portugueses, compelidos a
migrarem para novas terras em além-mar.
Foi uma saída viável à recusa da aceitação de sua fé no reino, tendo em vista o fato da Inquisição
nunca ter se instalado por aqui, embora tenham sido instituídas visitações do Santo Oficio em 1591, 1605,
1618, 1627, 1763 e 1769.
Alojados sobretudo na Bahia, em Pernambuco, na Paraíba e no Maranhão; os cristãos-novos recém-
chegados integraram-se rapidamente, ocupando cargos nas Câmaras Municipais, em atividades
administrativas, burocráticas e comerciais, destacando-se também como senhores de engenho, algo
impensável em Portugal.
Sem a Inquisição em seus calcanhares, os cristãos-novos continuaram a exercer práticas judaicas no
interior de seus lares, mantendo vivos os laços familiares e comunitários clandestinamente, ao mesmo
tempo, adotando uma postura publica católica, respondendo a uma necessidade de adesão, participação
e identificação.

Cultura
As manifestações artístico-culturais foram até o século XVII, condicionadas às atividades
desenvolvidas aos centros de educação, no caso os colégios jesuíticos. No trato social alicerçavam-se
práticas, usos e costumes que seriam marcantes para a formação da sociedade brasileira. A partir do
século XVIII esse cenário mudou. Com a emergência da mineração, inúmeras manifestações tornaram-
se presentes, como a arte barroca (seja ela plástica ou literária), as manifestações árcades e parnasianas,
principalmente ligadas a uma referência mais letrada e influenciada pelos matizes europeus. Devemos
chamar a atenção que não tratamos aqui de cultura erudita ou popular. Procuramos marcar as
manifestações ligadas aos padrões representativos impostos pelos laços de ligação e influência com o
que era observado no continente europeu. As manifestações culturais do período são fundamentais para
a formação de identidade da sociedade brasileira.

Entre as principais obras:


- História do Brasil, do Frei Vicente do Salvador.
- História da Província de Santa Cruz e Tratado da Terra do Brasil, de Pero de Magalhães Gândavo.
- Tratado Descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa.
- Cultura e Opulência das Terras do Brasil, do Padre Antonil.
- Viagens e Aventuras no Brasil, de Hans Staden.
- História de Uma Viagem Feita à Terra do Brasil, de Jean de Léry.

Barroco no Brasil:
-Gregório de Matos e Guerra, conhecido como Boca do Inferno, que apesar de se inspirar nas regras
do Barroco europeu, desenvolveu ideias próprias e retratou a sociedade brasileira colonial, principalmente
com seus poemas satíricos, como Os Epílogos.
O padre Antônio Vieira foi o maior orador religioso da língua portuguesa, com seus famosos Sermões
(Sermão da Sexagésima, Sermão dos Peixes, Sermão para o Bom Sucesso das Armas de Portugal contra
as de Holanda, etc.).
No século XVIII, destaca-se o Arcadismo Mineiro, com seu bucolismo e com sua linguagem mais
simples que a do Barroco. Seus autores usavam pseudônimos, imitando os europeus e quase todos
participaram da Inconfidência Mineira: Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, Basílio da
Gama, Frei José de Santa Rita Durão, Silva Alvarenga, etc.

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União Ibérica
Em 1578, na luta contra os mouros marroquinos em Alcácer-Quibir, o rei D. Sebastião, de Portugal,
desapareceu. Com seu desaparecimento teve início uma crise sucessória do trono português, já que o
rei não deixou descendentes. O trono foi assumido por um curto período de tempo por seu tio-avô, o
cardeal dom Henrique, que morreu dois anos depois, sem deixar herdeiros.
Logo após, Filipe II da Espanha e neto do falecido rei português D. Manuel I, demonstrou o interesse
em assumir o trono português. Para alcançar o poder, além de se valer do fator parental, o monarca
hispânico chegou a ameaçar os portugueses com seus exércitos para que pudesse exercer tal direito.
Assim foi estabelecida a União Ibérica, que marca a centralização de Portugal e Espanha sob um mesmo
governo.
A vitória política de Filipe II abriu oportunidade para que as finanças de seu país pudessem se
recuperar após diversos gastos em conflitos militares. Para tanto, tinha interesse em estabelecer o
comércio de escravos com os portugueses, que controlavam a atividade na costa africana. Além disso, o
controle da maior parte das possessões do espaço colonial americano permitiria a ampliação dos lucros
obtidos através da arrecadação tributária.
Apesar das vantagens, o imperador espanhol manteve uma significativa parcela dos privilégios e
posições ocupadas por comerciantes e burocratas portugueses. No Tratado de Tomar, assinado em 1581,
Filipe II assegurou que os navios portugueses controlassem o comércio com a colônia, a manutenção das
autoridades lusitanas no espaço colonial brasileiro e o respeito das leis e costumes brasileiros.
Mesmo preservando aspectos fundamentais da colonização lusitana, a União Ibérica também foi
responsável por algumas mudanças. Com a junção das coroas, as nações inimigas da Espanha passam
a ver na invasão do espaço colonial lusitano uma forma de prejudicar o rei Filipe II. Desta maneira, no
tempo em que a União Ibérica foi vigente, ingleses, holandeses e franceses tentaram invadir o Brasil.
Entre todas essas tentativas, podemos destacar especialmente a invasão holandesa, que alcançou o
monopólio da atividade açucareira em praticamente todo o litoral nordestino. No ano de 1640 a
Restauração definiu a vitória portuguesa contra a dominação espanhola e a consequente extinção da
União Ibérica. Ao fim do conflito, a dinastia de Bragança, iniciada por dom João IV, passou a controlar
Portugal.

Invasões francesas
A França foi o primeiro reino europeu a contestar o Tratado de Tordesilhas, que dividiu as terras
descobertas na América entre Portugal e Espanha em 1494. Visitaram constantemente o litoral brasileiro
desde o período da extração do pau-brasil, mantendo relações amistosas com os povos indígenas locais.
Deste acordo surgiu a Confederação dos Tamoios (aliança entre diversos povos indígenas do litoral:
tupinambás, tupiniquins, goitacás, entre outros), que possuíam um objetivo em comum: derrotar os
colonizadores portugueses.
Em 1555 os franceses fundaram na baía de Guanabara a França Antártica, criando uma sociedade
de influências protestantes.
Através dos franceses, algumas partes do litoral brasileiro ganharam diversas feitorias e fortes.
Por aproximadamente cinco anos ocorreram conflitos entre os portugueses e a Confederação dos
Tamoios. Em 1567 os portugueses derrotaram a Confederação e expulsaram os franceses do litoral
brasileiro.
No século XVII(1612), fundaram a França Equinocial, correspondente à cidade de São Luís, capital do
estado do Maranhão.
Com a intenção de conter a expansão francesa, Portugal enviou uma expedição militar à região do
Maranhão. Essa expedição atacou os franceses tanto por terra quanto por mar. Em 1615, os franceses
foram derrotados e se retiraram do Maranhão, deslocando-se para a região das Guianas, onde fundaram
uma colônia, a chamada Guiana Francesa.
Após duas tentativas mal sucedidas de estabelecimento de uma civilização francesa, nos séculos XVI
e XVII, no Brasil colonial (França Antártida e França Equinocial), os franceses passaram a saquear,
através de corsários (piratas), algumas cidades do litoral brasileiro, no século XVIII. A principal delas foi
a cidade do Rio de Janeiro, de onde escoava todo ouro extraído da colônia rumo a Portugal. Uma primeira
tentativa de saque, em 1710, foi barrada pelos portugueses; entretanto, no ano de 1711, piratas franceses
tomaram a cidade do Rio de Janeiro e receberam dos portugueses um alto resgate para libertá-la: 600
mil cruzados, 100 caixas de açúcar e 200 bois. Terminavam, então, as tentativas de invasões francesas
no Brasil.

Invasões Inglesas
As incursões inglesas no Brasil ficaram restringidas a ataques de piratas e corsários.

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William Hawkins foi o primeiro corsário inglês a aportar na colônia. Entre 1530 e 1532, percorreu alguns
pontos da costa e fez escambo de pau-brasil com os índios. Outro foi Thomas Cavendish, que atracou
em Santos, em 1591. Conhecido como “lobo-do-mar”, Cavendish estava a serviço da rainha inglesa
Elizabeth I.
O corso realizado pelos ingleses, entretanto, intensificou-se apenas na segunda metade do século
XVI, quando os conflitos entre católicos e protestantes tomaram-se intensos na Inglaterra e os
mercadores empolgaram-se com as possibilidades comerciais abertas pelas novas rotas marítimas.
A primeira incursão pirata dos ingleses ao litoral brasileiro foi em 1587. Em 1595, o inglês James
Lancaster conseguiu tomar o porto do Recife. Retirou grande volume de pau-brasil, que levou para a
Inglaterra depois de realizar saques na capitania durante mais de um mês.

Invasões Holandesas no Brasil


As invasões holandesas na primeira metade do século XVII estão relacionadas com a criação da União
Ibérica. Antes do domínio dos Habsburgos, as relações comerciais e financeiras entre Portugal e
Holanda eram intensas. Pouco antes de Felipe II tornar-se rei de Portugal, os Países Baixos iniciaram
uma guerra de independência, tentando libertar-se do domínio espanhol. Iniciada em 1568, essa guerra
de libertação culminou com a União de Utrecht, sob a chefia de Guilherme de Orange. Em 1581, nasciam
as Províncias Unidas dos Países Baixos, mas a guerra continuou.
Assim que Filipe II assumiu o trono luso, proibiu o comercio açucareiro luso-flamengo. O embargo de
navios holandeses em Lisboa provocou a criação de companhias privilegiadas de comércio. Entre 1609
e 1621, houve uma trégua, que permitiu a normatização temporária do comercio entre Brasil-Portugal e
Holanda. Em 1621, terminada a trégua, os holandeses fundaram a Companhia de Comercio das Índias
Ocidentais, cujo alvo era o Brasil. Começava a Guerra do Açúcar.
A primeira invasão foi na Bahia, realizada por três mil e trezentos soldados. Salvador foi ocupada sem
muita resistência. O governador Diogo de Mendonça Furtado foi preso e a cidade, saqueada. A
população fugiu para o interior, onde a resistência foi organizada pelo bispo D. Marcos Teixeira e por
Matias de Albuquerque. Os baianos também receberam a ajuda de uma esquadra luso-espanhola
(“Jornada dos Vassalos”) e, em maio de 1625, os holandeses foram expulsos.
A segunda invasão holandesa no Nordeste foi direcionada contra Pernambuco, uma capitania rica em
açúcar e pouco protegida. Olinda e Recife foram ocupadas e saqueadas. A resistência foi comandada por
Matias de Albuquerque, a partir do Arraial do Bom Jesus, e durante alguns anos impediu que os invasores
ampliassem sua área de dominação. Mas a “traição” de Domingos Calabar alterou a situação.
Entre 1637 e 1644, o Brasil holandês foi governado pelo conde Mauricio de Nassau-Siegen, que
expandiu o domínio holandês do Nordeste até o Maranhão e conquistou Angola (fornecedora de
escravos). Porém, em 1638, fracassou ao tentar conquistar a Bahia. Quando Portugal restaurou sua
independência e assinou a “Trégua dos Dez Anos” com a Holanda. Nassau continuou administrando o
Brasil holandês de forma exemplar. Urbanizou Recife, fundou um zoológico, um observatório astronômico
e uma biblioteca, construiu jardins e palácios e promoveu a vinda de artistas e cientistas para o Brasil.
Além disso, adotou a tolerância religiosa e dinamizou a economia canavieira. Sua política garantiu o
apoia da aristocracia local, mas entrou em choque com os objetivos da Companhia das índias Ocidentais.
Em 1644, Nassau demitiu-se. Enquanto isso, os próprios brasileiros organizaram a luta contra os
flamengos, com a Insurreição Pernambucana Os líderes foram André Vidal de Negreiros, João Fernandes
Vieira. Henrique Dias (negro) e o índio Filipe Camarão. Em 1648 e 1649, as duas batalhas de Guararapes
foram vitorias dos nativos. Em 1652, o apoio oficial de Portugal e as lutas dos holandeses na Europa
contra os ingleses, em decorrência dos prejuízos causados pelos Atos de Navegação de Oliver Cromwell,
levaram os holandeses a Capitulação da Campina do Taborda Expulsos do Brasil. os holandeses foram,
desenvolver a produção de açúcar nas Antilhas, contribuindo para a crise do complexo açucareiro
nordestino. Mais tarde, Portugal e Holanda firmaram o Tratado de Paz de Haia (1661), graças a mediação
inglesa. Segundo tal tratado, a Holanda receberia uma indenização de 4 milhões de cruzados e a cessão
pelos portugueses das ilhas Molucas e do Ceilão, recebendo ainda o direito de comerciar com maior
liberdade nas possessões portuguesas, em razão da perda do Brasil holandês.

Expansão Territorial: Bandeiras e Bandeirantes


As bandeiras, tradicionalmente definidas como expedições particulares, em oposição às entradas, de
caráter oficial, contribuíram decisivamente para a expando territorial do Brasil Colônia. A pobreza de São
Paulo, decorrente do fracasso da lavoura canavieira no século XVI, a possibilidade da existência de
metais preciosos no interior e, particularmente, a necessidade de mão-de-obra para o açúcar nordestino,
durante a União Ibérica, levaram os paulistas a organizar a caça ao índio, o bandeirismo de contrato e a
pesquisa mineral.

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A caça ao Índio
Inicialmente a caça ao índio (Preação) foi uma forma de suprir a carência de mão-de-obra para a
prestação de serviços domésticas aos próprios paulistas. Logo, porém, transformou-se em atividade
lucrativa, destinada a complementar as necessidades de braços escravos, bem como para a triticultura
paulista. Na primeira metade do século XVII, os vicentinos realizaram incursões, principalmente contra as
reduções jesuíticas espanholas, resultando na destruição de várias missões, como as do Guairá, Itatim e
Tape, por Antônio Raposo Tavares. Nesse período, os holandeses, que haviam ocupado uma parte do
Nordeste açucareiro, também conquistaram feitorias de escravos negros na África, aumentando a
escassez de escravos africanos no Brasil.

O bandeirismo de contrato
A ação de bandeirantes paulistas contratados pelo governador-geral ou por senhores de engenho do
Nordeste, com o objetivo de combater índios inimigos e destruir quilombos, corresponde a uma fase do
bandeirismo na segunda metade do século XVII. O principal acontecimento desse ciclo de bandeiras foi
a destruição de um conjunto de quilombos situados no Nordeste açucareiro, conhecido genericamente
como Palmares.
A atuação do bandeirismo foi de fundamental importância para a ampliação do território português na
América. Num espaço muito curto, os bandeirantes devassaram o interior da colônia, explorando suas
riquezas e arrebatando grandes áreas do domínio espanhol, como é o caso das missões do Sul e Sudeste
do Brasil. Antônio Raposo Tavares, depois de destruí-las, foi até os limites com a Bolívia e Peru, atingindo
a foz do rio Amazonas, completando, assim, o famoso périplo brasileiro. Por outro lado, o bandeirantes
agiram de forma violenta na caça de indígenas e de escravos foragidos, contribuindo para a manutenção
do sistema escravocrata que vigorava no Brasil Colônia.

O Ciclo do Ouro
Quando foi divulgada a notícia da descoberta de jazidas auríferas, muitas pessoas dirigiram-se para
as regiões do ouro, em especial para o atual território do estado de Minas Gerais. Praticamente todas as
pessoas que que se dirigiram para a região o fizeram na intenção de dedicar-se exclusivamente na
exploração do metal, deixando de lado até mesmo atividades essenciais para a sobrevivência, como a
produção de alimentos, o que gerou uma profunda escassez de mercadorias nas Minas Gerais. Era
comum entre os anos de 1700 e 1730 a ocorrência de crises de fome na região caso o acesso a outras
regiões das quais os produtos básicos eram adquiridos fossem interrompidas. A situação começa a mudar
com a expansão de novas atividades, e com a melhoria das vias de comunicação.

Impostos e a administração da coroa


Com as primeiras notícias de descobrimento das jazidas em Minas Gerais, a Coroa publicou o
Regimento dos Superintendentes, Guardas-Mores e Oficiais-Deputados para as minas de ouros, no ano
de 1702
Para executar o regimento, cobrar impostos e superintender o serviço de mineração, foram criadas as
Intendências de Minas, uma para cada capitania em que houvesse a extração de ouro.
Quando uma nova jazida era descoberta, era obrigatória a comunicação para a Intendência. O Guarda-
mor, então, dirigia-se ao local, ordenando a demarcação do terreno a ser explorado. Este era dividido em
lotes, que eram chamados de datas.
As datas eram entregues através de sorteio. No dia da distribuição, comunicado com certa
antecedência, deviam comparecer todos aqueles que estivessem interessados em receber um lote; não
se admitiam procuradores ou representantes. O descobridor da jazida não só tinha o direito de escolher
uma data, mas também de receber um prêmio em dinheiro. A Intendência separava em seguida uma data
para si, vendendo-a depois em leilão público. As datas restantes eram sorteadas entre os presentes.
Encerrado o sorteio, se sobrassem terras auríferas, fazia-se uma distribuição suplementar. Se o número
de interessados era muito grande, o tamanho das datas era reduzido.
Normalmente as datas eram lotes com no máximo 50 metros de largura.
No início da atividade mineradora foi estabelecido um imposto para as pessoas que se dedicavam à
extração: o quinto. O quinto correspondia a 20% do ouro extraído, que deveria ser pago para a Coroa.
Como era difícil determinar se uma barra ou saca de ouro havia sido ou não quintada, a sonegação era
uma pratica fácil de ser realizada.
Com o objetivo de regularizar a cobrança foi criado um imposto adicional chamado finta que não
funcionou como planejado e foi extinto. Para resolver o problema o governo criou as Casas de Fundição,
das quais a mais famosa foi a de Minas Gerais, inaugurada em 1725.

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Nas casa de fundição o minerador entregava seu ouro em pó, que era fundido e transformado em
barras, das quais era descontado o quinto. Além das Casas de Fundição, também foi proibida a
comercialização e exportação de ouro em pó. É possivelmente dessa época o surgimento dos “Santos
do pau oco” que eram imagens de santos esculpidas por dentro e preenchidas com ouro em pó, para
fugir da fiscalização e da cobrança.
Em 1735 a Coroa começou a cobrar um novo imposto, a Capitação. A capitação era um imposto per
capita, pago em ouro pelas pessoas e estabelecimentos comerciais da área mineradora.
Em 1750 a capitação foi extinta, restando apenas o quinto. Apesar disso, era exigida uma arrecadação
mínima de 100 arrobas de ouro por ano. Se não fosse atingida a arrecadação era decretada a derrama:
cobrança do tanto que faltava para completar as 100 arrobas de arrecadação.
Conforme as jazidas foram esgotando, a produção de ouro caiu, assim como a arrecadação de
impostos. As suspeitas de sonegação de impostos e a violência da Intendência aumentaram juntamente,
gerando atritos e conflitos entre autoridades e mineradores, uma das causas da Inconfidência Mineira de
1789.
Para a extração do ouro foram organizados dois tipos de empreendimentos: lavras e faiscações.
As lavras eram unidades de produção relativamente grandes, podendo até possuir equipamento
especializado e o trabalho de mais de 100 escravos, o que exigia o investimento de alto capital, sendo
rentável apenas em jazidas de ouro de tamanho suficientemente grande.
Nas faiscações, que eram pequenas unidades produtoras, trabalhavam somente algumas pessoas
ou até mesmo eram compostas de trabalhadores individuais. Era comum a pratica do envio de escravos
por homens livres para faiscação, sendo o ouro encontrado dividido entre ambos.

Reformas Pombalinas
O político português Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, nasceu em Lisboa, em
13 de maio de 1699; estudou na Universidade de Coimbra e, em 1738, foi nomeado embaixador em
Londres; cinco anos depois, foi transferido, no mesmo cargo, para Viena, onde permaneceu até 1748.
Dois anos depois, o rei D. José I nomeou-o secretário de Estado para os Assuntos Exteriores. Após
cinco anos no cargo, assistiu ao grande terremoto que destruiu Lisboa. Diante do desastre, organizou as
forças de auxílio e reconstrução, o que lhe valeu o cargo de primeiro-ministro, que exerceu até a morte
do rei que lhe concedeu o título de Marquês em 1770.
Pombal era, sobretudo, reformador, autoritário, intransigente e iluminista; assim, não se curvava à
Igreja e, consequentemente, não se curvava, também e principalmente, ao poder que, embora de matriz
eclesiástica, tinha fortes reflexos materiais, como o era o exercido pela Ordem de Jesus. Ele não
pretendeu, apenas, reformar o Estado. Sobretudo despótico, mostrou-se intolerante e possuidor de mão
forte, o que demonstra o seu gosto pelo domínio do poder, que passou a exercer de forma quase absoluta
a partir de 1756.
Foi assim que reorganizou o sistema educacional, elaborou novo Código Penal, reorganizou o exército
e a marinha, incentivou a emigração de portugueses para as colónias. Estes os antecedentes e os
componentes que atuaram sobre as Companhias de Comércio, das quais a do Grão-Pará e Maranhão,
em suas atividades no Brasil e Cabo Verde.
A escravidão dos índios foi extinta e eles até poderiam se casar com portugueses. A ideia de Pombal
ao permitir isso, era a de que os índios se miscigenassem, houvesse um crescimento populacional e
então o Estado contasse com mais força nas fronteiras do interior.
Quando os índios passaram a ser livres, isso chocou-se contra os jesuítas, que não deixavam que a
autoridade real interferisse nos assuntos deles. Marquês de Pombal que queria realizar uma reforma e
aproveitar e centralizar o poder, expulsou os 670 jesuítas que aqui moravam e mandou fechar os colégios.
Eles foram acusados de traição, o Padre Gabriel Malagrida foi queimado em praça pública e o restante
embarcou para Lisboa onde foram presos.

As rebeliões nativistas
A população colonial, já enraizada na terra e, portanto, com fortes sentimentos nativistas, manifestou
seu descontentamento frente às exigências metropolitanas. Em vista disto, surgiram os primeiros sinais
de rebeldia, denominados rebeliões nativistas.

Revolta de Beckman(1684)
Na segunda metade do século XVII, a situação da economia maranhense, que nunca fora boa, tendia
a piorar. A Coroa, pressionada pelos jesuítas, proibiu a escravização de indígenas, os quais eram a base
da mão-de-obra local, utilizados na coleta de “drogas do sertão” e na agricultura de subsistência.

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Visando melhorar a situação da capitania, o governo português criou, em 1682, a Companhia de
Comércio do Maranhão, a qual recebia o monopólio do comércio maranhense e em troca deveria
promover o desenvolvimento da agricultura local.
A má administração da empresa gerou uma rebelião de colonos, em 1684, sob a chefia dos irmãos
Manoel e Thomas Beckman. O objetivo dos rebeldes era o fechamento da Companhia e a expulsão dos
jesuítas. A revolta foi sufocada pela coroa, mas a Companhia encerrou suas atividades.

A Guerra dos Emboabas (1708-1709)


Apesar da fome que assolou as Minas em 1696-1698 ter sido terrível, uma crise de desabastecimento
ainda mais devastadora aconteceu na região em 1700. Três anos depois da descoberta das primeiras
jazidas, cerca de 6 mil pessoas haviam chegado às minas. Na virada do século XVIII, esse número
quintuplicara: 30 mil mineiros perambulavam pela área. Simplesmente não havia o que comer: qualquer
animal ou vegetal que pudesse ser consumido já o fora.
Pouco depois, surgiram os conflitos entre paulistas, que foram os descobridores das jazidas e primeiros
povoadores e os Emboabas, forasteiros, normalmente portugueses, pernambucanos e baianos.
Os dois grupos disputavam o direito de exploração das terras. Os paulistas argumentavam que
deveriam ter o direito de exploração, por serem os descobridores. Já os emboabas defendiam que por
serem cidadãos do Reino também possuíam o direito de exploração das riquezas. Entre 1707 e 1709,
ocorreram lutas violentas entre os dois grupos, com derrotas sucessivas por parte dos paulistas.
O governador Albuquerque Coelho e Carvalho promoveu a pacificação geral em 1709, quando foi
criada a capitania de São Paulo e Minas de Ouro, pertencente à coroa.

A Guerra dos Mascates (Pernambuco, 1710-1714)


Luta entre os proprietários rurais de Olinda e os comerciantes portugueses de Recife, originada pela
expulsão dos holandeses no século XVII. Se a perda do monopólio brasileiro do fornecimento de açúcar
à Europa foi trágica para os produtores pernambucanos, não foi tanto assim para a burguesia lusitana de
Recife, que passou a financiar a produção olindense, com elevadas taxas e grandes hipotecas.
A superioridade econômico-financeira de Recife não tinha correspondente político, visto que seus
habitantes continuavam dependendo da Câmara Municipal de Olinda. Em 1710, Recife conseguiu sua
emancipação político-administrativa, transformando-se em município autônomo. Os olindenses,
comandados por Bernardo Vieira de Melo, invadiram Recife, provocando a reação dos Mascates,
chefiados por João da Mota.
A luta entre as duas cidades manteve-se até 1714, quando foi encerrada graças à mediação da Coroa.
O esforço da aristocracia fora inútil: Recife manteve sua autonomia.

Os Movimentos Emancipacionistas
As revoltas emancipacionistas foram movimentos sociais ocorridos no Brasil Colonial, caracterizados
pelo forte anseio de conquistar a independência do Brasil com relação a Portugal. Entre os principais
motivos para esses movimentos estavam a alta cobrança de impostos; limites estabelecidos pelo pacto
colonial, que obrigava o brasil de comerciar com Portugal somente; a falta de autonomia e representação
na criação de leis e tributos, além da política, dominada por Portugal; Os ideais iluministas e separatistas
vindos da Europa e dos Estados Unidos.

A Inconfidência Mineira (1789)


Na segunda metade do século XVIII, a produção de ouro nas Minas Gerais vinha apresentando um
grande declínio, o que aumentou os choques e conflitos entre a população local e as autoridades
portuguesas. Quanto menos ouro era extraído, maiores eram os boatos e ameaças do acontecimento de
derrama ou cobrança de quintos, atitude que afetaria boa parte da elite local.
Os grupos mais influenciados pelas ideias iluministas, que eram também os que mais teriam a perder
com as medidas do governo português, resolveram tomar uma atitude, dando início em 1789 ao
movimento que seria chamado pela metrópole de Inconfidência (infidelidade) Mineira, ou Conjuração
Mineira.
Os inconfidentes tinham como objetivo a imediata separação da colônia, criando uma República
moldada pelo pensamento liberal-iluminista e pela Constituição dos Estados Unidos, que haviam
conquistado sua independência em 1776. Após conquistada a liberdade em relação à metrópole,
estabeleceriam São João del-Rei como capital, criariam a Universidade de Vila Rica e dariam estímulo à
abertura de manufaturas têxteis e de uma siderurgia para o novo Estado. Em relação à escravidão as
posições eram divergentes.

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A revolta foi planejada 1788, durante a derrama, mas foi suspensa quando participantes da
conspiração denunciaram o movimento ao governador. O coronel Joaquim Silvério dos Reis foi apontado
como principal delator. Endividado com a coroa, assim como outros inconfidentes, o coronel resolveu
separar-se do movimento e apresentar um depoimento formal para o governador da capitania, Visconde
de Barbacena. O governador suspendeu a cobrança e mandou prender os inconfidentes.
Após a confissão de Joaquim Silvério e a prisão dos suspeitos, foi instituída a devassa, uma
investigação levada a cabo pelas autoridades da época, constatando que envolveram-se no movimento
da Capitania das Minas grandes fazendeiros, criadores de gado, contratadores, exploradores de minas,
magistrados, militares, além de intelectuais luso-brasileiros.
Dentre os inconfidentes, destacaram-se os padres Carlos Correia de Toledo, José de Oliveira Rolim e
Manuel Rodrigues da Costa, além do cônego Luís Vieira da Silva; o tenente-coronel Francisco de Paula
Freire de Andrade, comandante militar da capitania, os coronéis Domingos de Abreu Vieira, também
comerciante, e Joaquim Silvério dos Reis, rico negociante; e os letrados Cláudio Manuel da Costa, Inácio
José de Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga.
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi o único “conspirador” que não fazia parte da elite.
Conhecido como alferes (primeiro posto militar) e dentista prático, foi talvez por sua origem o mais
duramente castigado. A memória de Tiradentes passou a ser celebrada no Brasil com a proclamação da
República, quando foi considerado herói nacional pelo regime estabelecido em 15 de novembro de 1889.
Sua representação mais conhecida é muito semelhante à imagem de Cristo, reforçando a construção da
imagem de mártir.
Assinada em 19 de abril de 1792, no Rio de Janeiro, a sentença de morte de Tiradentes cumpriu-se
dois dias depois: ele foi enforcado, decapitado e esquartejado. Os outros participantes foram condenados
ao desterro na África.

Conjuração Baiana (1798)


A conjuração Baiana, ou revolta dos alfaiates, assim como a Conjuração Mineira, foi influenciada
pelos ideais iluministas, em especial a Revolução Francesa. Ocorrida na Bahia em 1798, buscava a
emancipação e defendeu importantes mudanças sociais e políticas na sociedade.
Entre as causas do movimento estava a insatisfação com Portugal pela transferência da capital para
o Rio de Janeiro, em 1763. Com tal mudança, Salvador (antiga capital) sofreu com a perda dos privilégios
e a redução dos recursos destinados à cidade. Somado a tal fator, o aumento dos impostos e exigências
colônias vieram a piorar sensivelmente as condições de vida da população local, e o domínio exercido
sobre a colônia. O preço dos alimentos também gerou revolta na população. Além de caros, muitos
produtos tornavam-se rapidamente escassos, pelas restrições impostas sobre o comercio e as
importações.
Os revoltosos defendiam a separação da região do restante da colônia, buscando independência de
Portugal e instalando um governo baseado nos princípios da Republica. Também defendiam a liberdade
de comércio (fim do pacto colonial estabelecido), o aumento dos soldos e a igualdade entre as pessoas,
resultando na abolição da escravidão.
A revolta ganhou o nome de revolta dos alfaiates pela grande adesão desses profissionais no
movimento, entre eles Manuel Faustino dos Santos Lira e João de Deus do Nascimento. Outros setores,
como o militar, representado pelo soldado Luís Gonzaga das Virgens.
O movimento contou com a participação de pessoas pobres, letrados, padres, pequenos comerciantes,
escravos e ex-escravos.
A revolta foi impedida antes mesmo de começar. O ferreiro José da Veiga informou sobre os detalhes
do movimento ao governador, que pôde mobilizar tropas do exército para conter os revoltosos.

Questões

01. Entre as causas da Criação das Capitanias Hereditárias no Brasil, podemos apontar
(A) a necessidade de apoio do governo português aos comerciantes de pau-brasil;
(B) a necessidade de organizar a exploração do ouro;
(C) o fracasso do governo geral;
(D) o interesse de Portugal no comércio de escravos indígenas;
(E) a falta de recursos do governo português que transferiu aos donatários a responsabilidade da
colonização.

02. O sertanismo (ou bandeirismo) de contrato, tinha por atividade:


(A) a exportação de drogas do sertão;

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(B) a busca de metais preciosos para o governo português;
(C) o tráfico negreiro para a Inglaterra;
(D) a captura de índios para escravizá-los;
(E) combater revoltas de índios e negros e destruir os quilombos.

03.
I - Expedições de bandeirantes organizadas pelo governo português.
II - Expedições de bandeirantes organizadas por particulares.
As frases acima correspondem, respectivamente:
(A) às missões e às reduções;
(B) às feitorias e às bandeiras;
(C) às entradas e às bandeiras;
(D) às feitorias e às entradas;
(E) às bandeiras e às missões.

04. (PUC) “Nenhuma outra forma de exploração agrária no Brasil colonial resume tão bem as
características básicas da grande lavoura como o engenho de açúcar.”
Alice Canabrava, in Sérgio Buarque de Holanda (org.) História geral da civilização brasileira. Rio de
Janeiro: Difel, 1963, tomo I, vol. 2, p. 198-206.
A frase pode ser considerada correta, entre outros motivos, porque na produção açucareira:
(A) prevalecia o regime de trabalho escravo e a grande propriedade monocultora.
(B) havia emprego reduzido de mão de obra e prevalecia a agricultura de subsistência.
(C) prevalecia a atenção ao mercado consumidor interno e à distribuição das mercadorias nas grandes
cidades.
(D) havia disposição modernizadora do aparato produtivo e prevalecia a mão de obra assalariada.
(E) prevalecia a pequena propriedade familiar e a diversificação de culturas

05. (Vunesp) Leia o texto para responder à questão.


O Brasil colonial foi organizado como uma empresa comercial resultante de uma aliança entre a
burguesia mercantil, a Coroa e a nobreza. Essa aliança refletiu-se numa política de terras que incorporou
concepções rurais tanto feudais como mercantis.
(Emília Viotti da Costa. Da Monarquia à República, 1987.)
A afirmação de que “O Brasil colonial foi organizado como uma empresa comercial resultante de uma
aliança entre a burguesia mercantil, a Coroa e a nobreza” indica que a colonização portuguesa do Brasil
(A) desenvolveu-se de forma semelhante às colonizações espanhola e britânica nas Américas, ao
evitar a exploração sistemática das novas terras e privilegiar os esforços de ocupação e povoamento.
(B) implicou um conjunto de articulações políticas e sociais, que derivavam, entre outros fatores, do
exercício do domínio político pela metrópole e de uma política de concessões de privilégios e vantagens
comerciais.
(C) alijou, do processo colonizador, os setores populares, que foram impedidos de se transferir para a
colônia e não puderam, por isso, aproveitar as novas oportunidades de emprego que se abriam.
(D) incorporou as diversas classes sociais existentes em Portugal, que mantiveram, nas terras
coloniais, os mesmos direitos políticos e trabalhistas de que desfrutavam na metrópole.
(E) alterou as relações políticas dentro de Portugal, pois provocou o aumento da participação dos
burgueses nos assuntos nacionais e eliminou a influência da aristocracia palaciana sobre o rei.

06. (SEDUC-PI – História – NUCEPE) Nos primeiros séculos de colonização do Brasil, anterior à fase
do ouro, a cultura colonial foi fortemente marcada pela ação dos jesuítas. Aqueles que se dedicavam a
ofícios escritos, ou eram jesuítas, ou haviam sido influenciados por eles.
Considerando as manifestações culturais e a influência jesuítica no Brasil, durante o período colonial,
analise as assertivas a seguir:
I - Apesar de sua forte influência sobre a Colônia, esta vigorou apenas até 1580, quando a União
Ibérica foi implantada e os jesuítas foram expulsos do Brasil.
II - Por todo o período anterior à fase da mineração, não há que se falar de maneira ampla em “literatura
brasileira”, pois as obras eram escritas e editadas em Portugal e havia poucos consumidores na Colônia.
III - Destacaram-se minimamente os escritos dos autores chamados “viajantes”, muitos dos quais
jesuítas, que descreviam as regiões, a organização social e os costumes na Colônia.
IV - Na produção jesuítica, destacaram-se os sermões, usados para estimular o remorso e a devoção,
a regeneração dos infiéis e a conversão dos nativos.

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V - O teatro foi um recurso utilizado pelos jesuítas, com a finalidade didática de converter nativos à fé
católica.
Assinale a alternativa CORRETA:
(A) Todas as assertivas são corretas.
(B) Apenas quatro assertivas são corretas.
(C) Apenas três assertivas são corretas.
(D) Apenas duas assertivas são corretas.
(E) Apenas uma assertiva é correta.

Respostas
01. Resposta E.
A falta de recursos e uma certa desconfiança do que poderia render de lucro a coroa portuguesa leva
a solução de garantir aos donatários a responsabilidade e o dever de garantir a exploração e
desenvolvimento da colônia.

02. Resposta E.
Os bandeirantes, utilizados e conhecidos como caçadores de índios e pedras preciosas no início da
colonização também atuaram na perseguição de escravos africanos que fugiam de seus senhores. Com
o tempo também atuaram na busca e destruição de quilombos ondes os escravos foragidos se refugiavam

03. Resposta C.
As expedições bandeirantes possuíam diferentes denominações de acordo com seu patrocinador. Se
organizadas pelo governo eram chamadas entradas e se organizadas por particulares como fazendeiros
e senhores de engenho recebiam o nome de bandeiras.

04. Resposta: A
A produção do açúcar no Brasil foi a primeira grande atividade comercial estabelecida de forma efetiva
para a geração de lucros para a coroa portuguesa. Era caracterizada pela mão-de-obra escrava (indígena,
depois africana), a grande propriedade rural (Latifúndio) e a exportação para o mercado europeu.

05. Resposta: B
Durante o período colonial, a obtenção de terras estava vinculada à concessão do rei, que as cedia
para pessoas com capital disponível para a construção de engenhos ou investimentos na colônia.

06. Resposta: B
Das situações descritas pela questão, apenas a expulsão dos jesuítas está colocada de maneira
incorreta. Na verdade, os jesuítas não foram expulsos com a criação da União Ibérica em 1580, mas
durante a administração do Marquês de Pombal, em 1759.

O período Joanino e a Independência


No final do século XVIII, as bases do sistema mercantilista começavam a demonstrar sinais de
fraqueza, provocadas pelas transformações na visão de economia e de Estado, que ocorreram na Europa,
a partir da segunda metade do século, com grande repercussão nas colônias.
A passagem do capitalismo comercial para o capitalismo industrial e as novas ideias iluministas e
liberais contribuíram para enfraquecer o absolutismo e garantir a ascensão da burguesia, como no caso
da Revolução Francesa em 1789. Nas colônias, a Revolução Americana de 1776, que inclusive
influenciou de certa forma a revolução na França; a Conjuração Mineira de 1789 e a Conjuração Baiana
de 1798 mostraram a insatisfação de muitos setores da sociedade com o pacto colonial, caracterizado
pelas restrições comerciais.
Outro fator que enfraquece algumas monarquias absolutistas europeias é a expansão francesa.
Quando Napoleão começa sua campanha de expansão na Europa, depara-se com um inimigo poderoso:
a Inglaterra. Derrotado em algumas campanhas militares contra o reino inglês, Napoleão decide por fim
decretar restrições ao comércio com a ilha. Em 21 de novembro de 1806, foi decretado que os países
que estavam sob o domínio do império francês estavam proibidos de fazer comércio ou autorizar o acesso
aos portos para navios ingleses. A medida visava enfraquecer o concorrente, afim de poder dominá-lo.
Para que o bloqueio fosse efetivo, Napoleão necessitava que todas as nações sob sua influência
aderissem totalmente ao acordo, o que foi feito pela Rússia e Pela Áustria, mas não por Portugal.

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E por que Portugal foi contrário bloqueio?
Portugal era um pequeno reino na Península Ibérica, que dependia muitos de suas colônias para o
sustento econômico. O principal parceiro econômico de Portugal era a Inglaterra, e desde 1703 os dois
países estavam sob um acordo conhecido como Tratado de Methuen, que recebeu o nome em função
do embaixador inglês que conduziu as negociações. O Tratado estabelecia o comércio de panos ingleses
e vinhos portugueses, o que a longo prazo provou-se desvantajoso para Portugal, pois o volume panos
que chegava era maior que o volume de vinhos que saía. Com o investimento na produção de vinho,
Portugal perdeu muitas das áreas de produção de alimentos, o que obrigou-o a importar parte dos gêneros
alimentícios. Além dos alimentos, Portugal deixou de investir em sua indústria, e importava uma grande
quantidade de produtos manufaturados da Inglaterra.
Por conta de todos os fatores citados, o Bloqueio Continental era desvantajoso para o pequeno país,
que optou por não aderir à estratégia de Napoleão. Sentindo-se prejudicado pela decisão portuguesa, e
vendo que seus esforços para impedir o comércio não estavam rendendo o esperado, em agosto de 1807
Napoleão envia um ultimato ao Príncipe Regente, D. João: ou Portugal rompia suas relações com a
Inglaterra, ou seria invadido.
Como Portugal manteve-se firme em sua decisão, a França assinou em conjunto com a Espanha o
Tratado de Fontainebleau, que dividia o território português entre os dois países e extinguia a dinastia
dos Bragança, à qual pertencia D. João.

A fuga para o Brasil


Buscando manter suas relações comerciais, a Inglaterra, que possuía um poderoso poder naval,
pressionou Portugal, através de seu embaixador em Lisboa, lorde Strangford, a fugir para o Brasil.
Em novembro de 1807, o Príncipe Regente reuniu a família real e toda sua corte, totalizando cerca de
15 mil pessoas, e partiu para o Brasil, aportando em 22 de janeiro de 1808 na Bahia.
Ao chegar ao Brasil, D. João tratou de revidar o ataque francês em Portugal, ordenando a invasão e
conquista da Guiana Francesa em 1809, que permaneceu sob poder brasileiro até 1817, quando foi
devolvida.
A vinda da família real para o Brasil representava para a Inglaterra, além da manutenção de seus
negócios, a sua expansão. Assim que chegou ao Brasil, o príncipe regente assinou uma Carta Régia, que
abriu o comércio da colônia para as “nações amigas”. Segue abaixo um trecho do documento
“Eu, o Príncipe Regente, [...] sou servido ordenar [...] o seguinte: primeiro, que sejam admissíveis nas
Alfândegas do Brasil todos e quaisquer gêneros, fazendas, e mercadorias transportadas, ou em navios
estrangeiros das potências que se conservam em paz e harmonia com a minha Real Coroa, ou em navios
dos meus vassalos [...]. Segundo: que não só os meus vassalos, mas também os sobreditos estrangeiros
possam exportar para os portos que bem lhes parecer a benefício do comércio, e agricultura, que tanto
desejo promover todos, e quaisquer gêneros, e produções coloniais, à exceção do pau-brasil [...] ficando
entretanto como em suspenso, e sem vigor todas as leis, cartas régias, ou outras ordens que até aqui
proibiam neste Estado do Brasil o recíproco comércio, e navegação entre os meus vassalos, e
estrangeiros. O que tudo assim fareis executar com o zelo, e atividade que de vós espero. Escrita na
Bahia aos vinte e oito de janeiro de mil oitocentos e oito. [...]”
O tratado foi muito benéfico para a Inglaterra, que poderia comercializar livremente com o Brasil, sem
intermédio português.
Ainda no ano de 1808, o Príncipe Regente extinguiu a lei que proibia a instalação de manufaturas no
Brasil.
Pouco depois de sua chegada ao Brasil, a família real e toda a corte portuguesa são transferidas para
o Rio de janeiro, chegando na cidade em 7 de março de 1808. A capital havia sido transferida de salvador
para o Rio de janeiro em 1763, para facilitar a fiscalização e por estar mais próxima da região produtora
de Ouro. Entre outros motivos, o Rio de janeiro era uma parada estratégica para navios que travessavam
a costa brasileira.
Na chegada ao Rio de Janeiro, a Corte portuguesa foi recebida com festa: o povo aglomerou-se no
porto e nas principais ruas para acompanhar a Família Real em procissão até a Catedral, onde, após uma
missa em ação de graças, o rei concedeu o primeiro "beija-mão".
Ao chegar ao Rio, a primeira medida a ser cumprida era a de encontrar residências para todos os
membros que acompanhavam a família real. Aproximadamente 15 mil pessoas vieram para o Brasil em
quatorze navios trazendo suas riquezas, documentos, bibliotecas, coleções de arte e tudo que puderam
carregar.
A chegada repentina de milhares de portugueses representou um aumento substancial da população
do Rio de Janeiro, e exerceu impacto imediato nos moradores da cidade. Havia uma escassez crônica de
moradias, e foram necessárias medidas drásticas para instalar os portugueses. Antes mesmo da chegada

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da frota, o vice-rei invocou uma lei que dava à coroa o direito de confiscar casas particulares com
pouquíssima formalidade. Funcionários do governo percorriam a cidade escolhendo arbitrariamente as
residências adequadas e escrevendo a giz em seus portas as iniciais “PR” que significavam Príncipe
Regente, o sinal indicava que os moradores deveriam desocupar prontamente suas casas. À medida que
as requisições prosseguiram, essas iniciais tornaram-se popularmente conhecidas pelos cariocas como
“Ponha-se na Rua”. Com a chegada da família real ao Brasil, em 1808, 10 mil casas foram pintadas com
as letras “PR”. O vice-rei do Brasil, D. Marcos de Noronha e Brito cedeu sua residência, O Palácio dos
Governadores, no Lago do Paço, que passou a ser chamado Paço Real, para o rei e sua família.
A transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro provocou uma grande transformação na
cidade. D. João teve que organizar a estrutura administrativa do governo, já que a colônia era impedida
de possuir determinadas estruturas. Nomeou ministros de Estado, colocou em funcionamento diversas
secretarias públicas, instalou tribunais de justiça e criou o Banco do Brasil. Em abril de 1808, foi criado o
Arquivo Central, que reunia mapas e cartas geográficas do Brasil e projetos de obras públicas. Em maio,
D. João criou a Imprensa Régia e, em setembro, surgiu a Gazeta do Rio de Janeiro. Logo vieram livros
didáticos, técnicos e de poesia. Em janeiro de 1810, foi aberta a Biblioteca Real, com 60 mil volumes
trazidos de Lisboa. Criaram-se as Escolas de Cirurgia e Academia de Marinha (1808), a Aula de Comércio
e Academia Militar (1810) e a Academia Médico-cirúrgica (1813). A ciência também ganhou com a criação
do Observatório Astronômico (1808), do Jardim Botânico (1810) e do Laboratório de Química (1818). Em
1813, foi inaugurado o Teatro São João (atual João Caetano). Em 1820, foi a vez da Real Academia de
Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura-civil.
O Rio de Janeiro passou por uma grande transformação, expandiu-se, ganhou chafarizes, para que
houvesse fornecimento de água, pontes e calçadas, assim a realeza poderia caminhar
despreocupadamente. Construíram-se ruas e estradas, e a iluminação pública foi instalada.
Em 1816, a Missão Francesa, composta de pintores, escultores, arquitetos e artesãos, chegaram ao
Rio de Janeiro para criar a Imperial Academia e Escola de Belas-Artes. Entre os principais artistas da
Missão estava Jean-Baptiste Debret. Ele foi chamado de "a alma da Missão Francesa". Era desenhista,
aquarelista, pintor cenográfico, decorador, professor de pintura e organizador da primeira exposição de
arte no Brasil (1829). Em 1818, trabalhou no projeto de ornamentação da cidade do Rio de Janeiro para
os festejos da aclamação de dom João VI como rei de Portugal, Brasil e Algarves.
Em "Viagem Pitoresca ao Brasil", coleção composta de três volumes com um total de 150 ilustrações,
Debret retrata e descreve a sociedade brasileira. Seus temas preferidos são a nobreza e as cenas do
cotidiano brasileiro.
A presença de artistas estrangeiros, botânicos, zoólogos, médicos, etnólogos, geógrafos e muitos
outros que fizeram viagens e expedições regulares ao Brasil, trouxe informações sobre o que acontecia
pelo mundo e também tornou este país conhecido, por meio dos livros e artigos em jornais e revistas em
que publicavam. Foi uma mudança profunda, mas que não alterou os costumes da grande maioria da
população carioca, composta de escravos e trabalhadores assalariados.
As mudanças promovidas por D. João provocaram o aumento da população na cidade do Rio de
Janeiro, que por volta de 1820, somava mais de 100 mil habitantes, entre os quais muitos eram
estrangeiros – portugueses, comerciantes ingleses, corpos diplomáticos – ou mesmo resultado do
deslocamento da população interna que procurava novas oportunidades na capital. Ainda assim,
aproximadamente metade da população da cidade era escrava, fator que manteve-se constante até o fim
do Império Brasileiro.
As construções passaram a seguir os padrões europeus. Novos elementos foram incorporados ao
mobiliário: espelhos, bibelôs, biombos, papéis de parede, quadros, instrumentos musicais, relógios de
parede.
A presença inglesa também faz notar-se cada vez mais. Com a Abertura dos Portos, promovida em
1808, o mercado brasileiro pôde ser penetrado pelos produtos ingleses, que acabaram por sufocar a
produção local, como no caso das manufaturas. Em 1808, o Alvará de Liberdade Industrial revogou uma
proibição de 1785 sobre a instalação de manufaturas do Brasil, que, porém, tiveram vida curta devido aos
acordos comerciais entre as nações.
Munido das instruções de Londres, o plenipotenciário inglês no Rio de Janeiro, lorde Strangford, após
inúmeras conversações, conseguiu mais um êxito para o seu país, firmando com os portugueses os
Tratados de 1810, que foram três medidas que beneficiaram o comércio inglês: Tratado de Comércio e
Navegação, Tratado de Amizade e Aliança e o Tratado dos Paquetes (embarcações).
Por força do Tratado de Comércio e Navegação, as mercadorias importadas da Inglaterra, ao entrar
no Brasil, sofreriam uma taxação de 15% sobre seu valor, os produtos portugueses seriam tributados em
16% e os dos demais países, em 24%; também criava-se o direito de extraterritorialidade judicial para os
súditos ingleses (criação dos juízes conservadores) e declarava-se franco o porto de Santa Catarina.

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O Tratado de Aliança e Amizade determinava a redução do tráfico negreiro para o Brasil, bem como o
compromisso de D. João de não permitir o estabelecimento do Santo Ofício (Inquisição) no Brasil.

O Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves


Com a derrota de Napoleão em 1815, foi realizada uma reunião entre os líderes das nações europeias,
conhecida como Congresso de Viena. No congresso ficou decidido que os reis de países invadidos pela
França deveriam voltar a ocupar seus tronos.
Com o objetivo de atrapalhar as relações entre Portugal e Inglaterra, Talleyrand, que representou a
França durante o congresso, sugeriu que D. João permanecesse no Brasil, unificando os reinos que já
dominava. A medida era importante para conter os avanços ingleses sobre a colônia, já que até então, a
família real ainda governava Portugal, e estava em situação de fuga, o que permitia que os ingleses
impusessem suas vontades. Com a elevação para reino, ficava confirmada a soberania portuguesa sobre
o Brasil.
D. João e sua corte não quiseram retornar ao empobrecido Portugal. Em 16 de dezembro de 1815, foi
assinada a elevação do Brasil à categoria de Reino Unido ao de Portugal e Algarves (uma região ao sul
de Portugal), legitimando assim a permanência da casa dos Bragança em nosso país. D. João consagrou-
se, com essa medida, e foi intitulado pela Graça de Deus Príncipe-Regente de Portugal, Brasil e Algarves,
daquém e d’além-mar em África, senhor da Guiné, e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia,
Arábia, Pérsia e Índia.
Essa medida feriu ainda mais a dignidade da população lusitana, que desde 1807, passava por uma
grave crise financeira e pela falta de gêneros de primeira necessidade.

Revolução Pernambucana
Embora D. João tenha tomado inúmeras medidas para transformar o Brasil na legítima sede da
monarquia lusitana, as mudanças atingiam diretamente a corte e o Rio de Janeiro. A situação
socioeconômica brasileira ainda era precária. Como resposta, houveram protestos, como a Revolução
Pernambucana de 1817
Pesados impostos, descaso administrativo, arbitrária e opressiva administração militar, insatisfação
popular, como também os ideais de nativismo e da extinção do colonialismo, defendidos pela Maçonaria
e propagados em centros como o dissolvido Areópago de Itambé e o Seminário de Olinda, colocavam
Pernambuco em uma situação propícia a uma tomada de posição revolucionária e emancipacionista.
A revolta foi delatada, e em março de 1817 a prisão dos conspiradores foi ordenada, dando início à
revolução, que possuía características republicanas, separatistas e anti-lusitana.
Resistindo e lutando contra as tropas do governo, foi criado um “Governo Provisório” composto de
cinco representantes: um militar, um magistrado, um religioso, um comerciante e um fazendeiro. Apesar
de ter sido bem sucedida em seu início, contando inclusive com o apoio e a adesão da Paraíba e Rio
Grande do Norte, a revolução foi sufocada
Com a revolta sufocada, os principais líderes foram presos, alguns inclusive executados. As
investigações (devassa) permaneceram até 6 de fevereiro de 1818, quando D. João assumiu a posição
de rei de Portugal, Brasil e Algarves. Após a nomeação de D. João, alguns dos prisioneiros foram
libertados e outros foram mandados para prisões na Bahia, onde permaneceram até 1821, sendo
libertados após obterem o perdão real. Um dos membros mais expressivos da revolta foi o Frei Caneca.

O Retorno de D. João para Portugal


Enquanto a situação no Brasil mostrava-se favorável, com as mudanças no Rio de Janeiro e a relativa
tranquilidade com que D. João governava, em Portugal a situação tornava-se cada vez mais complicada.
Após a fuga para o Brasil e a abertura dos portos para as nações aliadas, o comércio português, que
dependia imensamente do mercado brasileiro, entrou em decadência, pois não conseguia competir com
os preços ingleses.
O sentimento de superioridade portuguesa também foram abalados após a transferência da corte para
o Brasil, juntamente com as reformas executadas no Rio de Janeiro para transformar a cidade em sede
do governo real. Lisboa, que antes era o coração do reino, abrigando a família real, a corte e todo o
aparelho administrativo do Estado, havia sido deixado em segundo plano.
Os portugueses também estavam descontentes com o governo. Após a expulsão dos franceses, D.
João não retornou ao país, que passou a ser administrado pelo general inglês Beresford.
A junção desses fatores gerou a Revolução Liberal do Porto, em 24 de agosto de 1820. Os revoltosos
pretendiam anular o absolutismo e manter o Brasil em situação de colônia. Em dezembro do mesmo ano
o movimento saiu vitorioso, e foram eleitos os deputados às Cortes de Lisboa (Assembleia Constituinte),

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que passaram a atuar como órgão governativo do Reino Unido; provisoriamente, adotou-se a Constituição
que a Espanha recém elaborara.
O movimento foi seguido por comerciantes portugueses e pela aristocracia rural, que passaram a exigir
de D. João e deu seu filho e herdeiro, D. Pedro, o juramento à constituição e o acatamento das decisões
das Cortes. Enquanto isso, as províncias passaram a ser governadas por juntas governativas provisórias.
Após intensa pressão, em 25 de abril de 1821, D. João retorna para Portugal levando o dinheiro e o
ouro existentes no Banco do Brasil.
Para garantir o domínio do território, D. Pedro fica no país, ocupando a função de Regente do Reino
do Brasil, o que se tornou um obstáculo aos planos de recolonização.

O dia do Fico e a Independência do Brasil


Após o regresso de D. João, a presença de D. Pedro incomodava as Cortes de Lisboa, que trataram
muito mal os deputados brasileiros enviados para Portugal. Além disso, buscavam tomar medidas cada
vez mais voltadas à recolonização, como a exigência do retorno imediato do regente para Portugal e a
supressão de Tribunais e Repartições aqui instalados.
Percebendo que as medidas tomadas implicariam em prejuízo, a aristocracia brasileira passou a apoiar
o movimento emancipatório brasileiro. Após receber um abaixo-assinado com aproximadamente 8 mil
assinaturas, D. Pedro rompe suas relações com as Cortes, no dia 9 de janeiro de 1822, em um episódio
que ficou conhecido como Dia do Fico, pois o regente reafirmava sua intenção de permanecer no Brasil,
através da frase: "Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo
que fico".
Após o episódio, a tropa militar portuguesa aquartelada no Rio de Janeiro foi obrigada a sair da cidade,
rumando para Niterói e depois para a Europa.
Após algumas medidas, como a criação do Conselho dos Procuradores-Gerais das Províncias do
Brasil, com atribuições legislativas; o decreto do “Cumpra-se”, subordinando a execução das decisões
das Cortes à aprovação do regente; a aceitação por D. Pedro do título de Defensor Perpétuo do Brasil,
oferecido pela Maçonaria; a convocação de uma Assembleia Constituinte Brasileira e a proibição do
desembarque de tropas portuguesas no Brasil, todas durante o ano de 1822, em 7 de setembro é
declarada a Independência do Brasil.

O Reconhecimento da Independência
Todas as nações que declaram sua independência, principalmente no contexto da descolonização da
América no século XIX, precisam de um reconhecimento externo, para não tornarem-se isoladas
econômica e politicamente. Ou seja, era indispensável este reconhecimento para que o Brasil pudesse
ter condições de estabelecer um Estado autônomo e soberano.
Um exemplo do encerramento das relações ocorreu quando o Haiti tornou-se independente. A ilha
localizada na América Central, foi o a primeira colônia na América a rebelar-se e conseguir a separação
da França, em 1804. Diferente do que ocorreu em outros lugares, como nos Estados Unidos em 1776, a
revolução no Haiti foi marcada pela imensa participação dos escravos, que inclusive tomaram o poder.
Como consequência, os países que mantinham relações comerciais com a ilha através da França, ficaram
com medo de que esse ato de rebelião se expandisse para as colônias americanas e acabaram fechando
todos os pactos comerciais selados.
As relações mantidas com a África, principalmente em relação ao comércio de escravos, prática que
já se arrastava por alguns séculos, garantiram ao Brasil o reconhecimento da independência, através de
dois reis africanos — Obá Osemwede, do Benim, e Ologum Ajan, de Eko, Onim ou Lagos. Em 1824,
buscando cumprir sua política de aproximação com as outras nações americanas, os Estados Unidos
reconheceram o desenvolvimento da independência do Brasil.
Apesar da importância do ato promovido pelos norte-americanos, era indispensável que Portugal, que
possuía diversas relações comerciais com o Brasil, também o fizesse.
Com interesse na emancipação brasileira, a Inglaterra intermediou os acordos com Portugal,
resultando na assinatura do Tratado de Paz e Aliança, em 29 de agosto de 1825. A aceitação de Portugal,
porém, não veio sem um preço: o Brasil deveria pagar uma indenização de dois milhões de libras
esterlinas para a antiga metrópole, e D. João, com a intenção de um dia promover a reunificação, exigiu
continuar a ostentar o título de Imperador do Brasil.
O pagamento da dívida com Portugal foi feito através de um empréstimo da Inglaterra, já que o Brasil
encontrava-se sem condições de arrecadar a quantia requisitada. Entre as exigências dos ingleses para
o reconhecimento da nova nação, estavam a manutenção das taxas alfandegárias e a abolição da
escravidão em um período de três anos, a partir de 1826.

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Após o reconhecimento português, várias outras nações da Europa e da América foram impelidas a
realizarem o mesmo gesto político. Com isso, o Brasil poderia estabelecer negócio com outras nações do
mundo através da assinatura de acordos e o estabelecimento de tratados de comércio.

O Primeiro Reinado (1822-1831)


Apesar de ter sido considerado um movimento pacífico, a Independência do Brasil gerou algumas
desavenças e opiniões contrárias. Em alguns pontos do novo Império, mais precisamente na capital da
Bahia e nas províncias do Piauí, Maranhão, Pará e Cisplatina, as tropas portuguesas que ainda se
encontravam no país não quiseram aceitar a autoridade do novo governo de D. Pedro. A Bahia constituiu
o principal foco da resistência, com o brigadeiro Madeira de Melo no comando das forças portuguesas.
Antes de oficializar-se a separação entre Brasil e Portugal, alguns apoiadores da independência já
passavam por hostilizações, como foi o caso do Convento da Lapa, que fora assaltado e a superiora,
Joana Angélica, assassinada. As revoltas nas províncias foram contidas através do poder militar,
garantindo a unidade territorial.
Outro fator de destaque no movimento de independência foi a pouca participação popular, visto que
em alguns casos, as regiões mais afastadas levaram muito tempo para saber que o Brasil agora não era
mais uma colônia de Portugal.
Uma das principais figuras e articulador da ideia de um Império brasileiro, indo na contramão dos ideais
republicanos que caracterizaram as revoltas América Espanhola, foi o estadista José Bonifácio. Havia
estudado e lecionado na Europa. Ao regressar ao Brasil, havia se tornado um dos principais articuladores
da Independência. Após consolidado o movimento, Bonifácio configurava-se na principal figura política
do País.
Quando D. Pedro assumiu o posto de imperador, Bonifácio foi escolhido para ocupar a pasta do Reino
e dos Estrangeiros. Embora tivesse ideias liberais, logo divergiu dos brasileiros que também promoveram
a Independência. Eram discordâncias quanto à 'prática' que efetivaria o Estado Nacional. Bonifácio
desconfiava dos republicanos, pois achava que estes poderiam convulsionar o País e possivelmente
ameaçar a integridade e a estrutura brasileira. Era um exagero, pois se tratava de grupos em disputa de
projeção política, que agiam dentro de uma igual linha ideológica: essencialmente conservadores. Mesmo
assim, Bonifácio não se esquivava de seus objetivos, era partidário de um poder altamente centralizado
e forte. Na verdade, ao querer o regime monárquico rígido, pretendia, na figura de ministro, participar do
poder decisivamente.

A Primeira Constituição Brasileira


Antes mesmo da independência, D. Pedro já havia convocado uma Assembleia Constituinte, que foi
instalada em 3 de maio de 1823. Mesmo com a ideia de criação de uma constituição para, entre outros,
limitar os poderes do monarca, D. Pedro sempre mostrou-se autoritário, fazendo com que muitos
deputados constituintes se opusessem à conduta de D. Pedro. Entre os que mais criticaram o imperador
estavam os irmãos Andrada, que passaram para a oposição.
O governo imperial era criticado principalmente pelas medidas que tomava, como a indicação de
portugueses para altos cargos, pelo imperador, o que levava muitos brasileiros a acreditarem que D.
Pedro planejava devolver o Brasil ao domínio português
Na oposição, Antônio Carlos de Andrada elaborou um anteprojeto da Constituição baseado no modelo
português, limitando os poderes do imperador, assumindo um caráter nitidamente classista e
demonstrando uma xenofobia extremada. Esse anteprojeto de constituição ficou conhecido como
Constituição da Mandioca, pois segundo ela só poderiam ser eleitores ou candidatos aqueles que
tivessem certa renda, equivalente a 150 alqueires de farinha de mandioca. O critério utilizado demonstra
um predomínio da elite agrária sobre o campo da política, que além de defender a posse de terras para
poder exercer os direitos políticos, também mantinha a escravidão como forma de mão-de-obra.
A influência do modelo europeu adotado pode ser observada na forma como o anteprojeto de Andrada
dividia os poderes do Estado:
Poder Executivo: poder exercido pelo imperador, no caso D. Pedro I, e seus ministros de Estado.
Poder Legislativo: constituído pela Assembleia Geral, ou seja, pelos deputados e senadores, sendo
os primeiros eleitos de quatro em quatro anos, e os segundos com mandato vitalício.
Poder Judiciário: composto pelos juízes e pelos tribunais. Seu órgão máximo, como o é até hoje, era
o Supremo Tribunal de Justiça.

Constava no projeto da constituição, o predomínio do poder legislativo sobre o executivo, o que


contrariou profundamente D. Pedro I, que tinha ideais absolutistas e centralizadores.

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O anteprojeto estava sendo discutido quando D. Pedro I ordenou o cerco ao prédio da Assembleia,
reunida em sessão permanente, em um episódio que ficou conhecido como Noite da Agonia, e
determinou a dissolução da Constituinte, em 12 de novembro de 1823. Em seguida, o imperador nomeou
um Conselho de Estado, incumbindo-o de redigir uma Constituição para o País.
A Constituição foi outorgada em 15 de março de 1824, com um caráter unitário e centralizador,
dividindo o Estado em quatro poderes: Executivo, Legislativo, Judiciário e Moderador. O último de
exclusividade do imperador, permitia a D. Pedro ter a decisão final sobre todos os assuntos que lhe
interessassem.
As eleições seriam censitárias e indiretas, e a Igreja ficaria subordinada ao Estado. Essa Constituição,
que vigorou até 1889, na realidade consagrava as aspirações da aristocracia rural, pois o Império ficava
estruturado à sua imagem: liberal na forma, mas conservador na prática.

A Confederação do Equador
Inconformados com o caráter elitista da Constituição de 1824 e com o uso de um poder centralizador
por parte de D. Pedro I, representantes de algumas províncias do nordeste defendiam a federação para
algumas províncias do nordeste e a separação destas do Brasil.
Em Pernambuco, que já possuía um histórico de aversão aos portugueses e ao domínio imperial, com
a revolução de 1817, sentiram o peso do autoritarismo real quando D. Pedro I depôs o governador Manuel
de Carvalho Paes de Andrade, e indicou um substituto para o cargo. A troca do governo seria o último
episódio que antecedeu a formação do movimento que ficou conhecido como Confederação do
Equador.
A Confederação teve início com a ação de lideranças e populares pernambucanas, e logo ganhou
força e espalhou-se para outros estados do nordeste. Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba também se
juntaram ao movimento. Impassíveis às tentativas de negociação do Império, os revoltosos buscaram
criar uma constituição de caráter republicano e liberal. Além disso, o novo governo resolveu abolir a
escravidão e organizou forças contra as tropas imperiais.
Após as primeiras ações estabelecidas pela Confederação, alguns dos líderes decidiram radicalizar
alguns pontos do novo governo, como a ampliação dos direitos políticos e reformas sociais. O rumo
tomado por Frei Caneca e Cipriano Barata fez com que os apoiadores do movimento ligados diretamente
à elite regional o abandonassem, temendo perder privilégios políticos e sociais já existentes.
O governo imperial reagiu ferozmente ao movimento, utilizando inclusive a contratação de mercenários
ingleses para conter o levante. Os ataques do império e o enfraquecimento interno levaram ao fim da
revolta, que teve dezesseis condenados à morte, entre eles, Frei Caneca, que já havia participado da
Revolução Pernambucana de 1817, foi fuzilado.

A Cisplatina
Desde o período colonial, a coroa portuguesa possuía o desejo de expandir seu Império até as
margens do Rio da Prata, na porção sul do continente. Com a conquista de Napoleão sobre a Europa e
a deposição do rei espanhol Fernando VII em 1808, as colônias espanholas na América começaram a
rebelar-se ao longo da década seguinte, gerando vários movimentos de independência.
Percebendo a instabilidade política, em 1820, a Cisplatina foi invadida como parte das ações de Dom
João VI. Uma das justificativas para a invasão reside no fato de a mulher de D. João, Carlota Joaquina,
ser espanhola e irmã de Fernando VII, e desejava manter o domínio de um espanhol sobre a região.
Outro fator de destaque é que a Cisplatina era um ponto estratégico no domínio e soberania do reino
brasileiro, e conquistá-la poderia garantir que revoltas liberais não se espalhassem por território brasileiro.

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Durante o processo de independência brasileira, poucos anos após a anexação, a Cisplatina tornou-
se palco de revoltas que buscavam separá-la do domínio brasileiro e conquistar a independência. Apesar
das lutas e da resistência, as expedições militares conseguiram conter as revoltas, mantendo o controle
sobre o território.
Em 1825, o general Juan Antonio Lavalleja, com o apoio de lideranças políticas argentinas, organizou
um movimento de emancipação da Cisplatina, declarando sua anexação à República das Províncias do
Rio da Prata, que integrava o território argentino. A mudança não foi aceita por D. Pedro I, que declarou
guerra contra os revoltosos, algo que durante os próximos anos enfraqueceria tanto a economia brasileira,
por ter que arcar com os custos da guerra, quanto a imagem de D. Pedro I, pois muitos consideravam a
disputa como algo infundado, já que a Cisplatina não possuía muitos traços em comum com o restante
do país. Em 1828, após anos de tentativa infrutífera de recuperar a antiga província, o Brasil retira-se do
conflito, e os rebeldes vitoriosos proclamam a Republica Oriental do Uruguai.
Muitos jornalistas teciam duras críticas ao imperador. Outro fato que manchou ainda mais a imagem
de D. Pedro foi o assassinato do jornalista e médico Líbero Badaró, grande opositor seu. Badaró
representava uma das figuras que criticava o autoritarismo de Dom Pedro I e seu governo imperial nos
periódicos de divulgação de ideias liberais: o "Farol Paulistano" e o "Observador Constitucional". O
jornalista foi misteriosamente assassinado, na cidade de São Paulo, em 1830.
No mesmo ano, as forças liberais brasileiras, espelhadas na Revolução Liberal de 1830, que eliminou
o absolutismo dos Bourbon na França, aumentaram as críticas à conduta política do Imperador. Com a
dissolução da Câmara dos Deputados e o assassinato de Líbero Badaró, aumentou ainda mais a
insatisfação dos políticos brasileiros, que passaram a articular a derrubada de D. Pedro I.
Em março de 1831, depois de uma desastrosa viagem a Minas Gerais, onde o Imperador sofreu a
hostilidade dos políticos locais, o Partido Português resolveu promover uma grande festa em apoio ao
governante, prontamente repelida pelo povo do Rio de Janeiro, manipulado pela elite dirigente. A luta
entre brasileiros e portugueses em treze de março, conhecida como Noite das Garrafadas, era o prelúdio
do fim.
Em 7 de abril de 1831, depois de sucessivas trocas ministeriais e incapaz de deter os distúrbios de
rua, promovidos por populares e que contavam agora com a adesão de tropas do governo, D. Pedro
abdicou do trono brasileiro, em favor de seu filho, o príncipe D. Pedro de Alcântara.
A abdicação de D. Pedro ocorreu tanto pela pressão política que o imperador sofria da elite e populares
brasileiros, quanto pela tentativa de assegurar os direitos de sua filha, Maria da Glória, pois com a morte
de D. João VI em Portugal, a Coroa iria, por direito, a D. Pedro I, que preferiu abdicar o trono português
em benefício da filha. Assim terminava o Primeiro Reinado.

O Período Regencial (1831-1840)


Com a volta de D. Pedro I para Portugal, o direito ao trono brasileiro foi transferido para seu filho, que,
entre outras coisas, ficou conhecido pelo extenso nome que possuía: Pedro de Alcântara João Carlos
Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de
Bragança e Bourbon. Apesar do grande nome, o menino Pedro tinha apenas cinco anos de idade quando
seu pai resolve regressar ao país de origem.
A pouca idade do futuro imperador era algo que preocupava os políticos brasileiros favoráveis à
manutenção do império, pois o menino não possuía idade para governar e uma possível revolução poderia
ocorrer se nada fosse feito. Para garantir a manutenção do sistema político, foi definido que o Brasil seria
governado por regentes até que o imperador completasse a idade de vinte e um anos, e estivesse enfim
apto a assumir o poder.
O periodo regencial foi marcado no Brasil pela instabilidade política e pelas revoltas, que foram
controladas após o imperador assumir o poder.
No meio político, formaram-se tres grupos distintos que lutavam pelo poder, formados basicamentes
pelos mesmos segmentos que já dominavam o país desde o periodo colonial. Dividiam-se entre
os restauradores, os liberais moderados e os liberais exaltados.

Restauradores: Também conhecidos por Caramurus, defendiam a continuação do governo de D.


Pedro I, com um histórico de apoio ao monarca e sua conduta absolutista. Quando o imperador abdicou
ao trono, defenderam sua volta, pois consideravam que o único meio de manter a tranquilidade política e
a unidade nacional era através da monarquia autoritária. Muitos deles também foram antigos beneficiados
do governo imperial, como José Bonifácio, que após saída de D. Pedro I, passou a ser tutor de D. Pedro
II. Estavam presentes no Senado e eram representados pelo Clube Militar. Após a morte de D. Pedro I
em 1834, defenderam o conservadorismo e estiveram presentes na aclamação precoce de D. Pedro II
em 1840.

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Liberais Moderados: Também chamados de chimangos ou chapéus-redondos, eram entendidos
como a direita liberal, compostos de uma parcela da aristocracia rural, com uma tendência monarquista,
já que esta garantia a eles a proteção de seus privilégios. Defendiam uma monarquia constitucional, pois
eram contra o domínio total do imperador. Apesar do nome de liberais, a definição era mais um enfeite
do que uma orientação de pensamento. Na prática eram conservadores e contra qualquer tipo de abertura
política ou reforma social, defendendo a manutenção da ordem vigente. Uniam-se sob a égide da
Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional, fundada por Evaristo da Veiga.
Empenharam-se no combate aos restauradores e exaltados federalistas, na defesa da ordem e da
centralização, fornecendo subsídios para a orientação governista.

Liberais Exaltados: Também chamados de Chapéus-de-palha, os liberais exaltados eram


representados não só por algumas parcelas da aristocracia rural, como também por outros segmentos
sociais. Apresentavam-se divididos em camadas sobrepostas, constituindo-se inicialmente por uma
camada de homens livres, destituídos de propriedades, ou pequenos proprietários. Variando de região
para região, desenvolviam atividades nos centros urbanos ou nos campos, oscilando numa relação de
dependência, entre a classe dominante e a classe que fornecia o trabalho. Seguia-se o aglomerado
urbano e rural marginalizado de recursos: agregados, lavradores e citadinos, dedicados a pequenos expe-
dientes e biscates.
Os liberais exaltados defendiam interesses opostos aos moderados, ou seja, buscavam reformas
sociais e políticas que beneficiassem uma parcela maior da população, em especial seus representantes.
Buscavam uma maior autonomia para as províncias e mudanças na constituição de 1824, defendendo
inclusive o fim da monarquia e a substituição por uma Republica federalista. Organizavam-se em torno
da Sociedade Federal e de clubes federalistas espalhados pelas províncias.

A Regência Trina Provisória


No momento da abdicação, estando os deputados em férias, formou-se a Regência Trina Provisória,
que deveria governar até 17 de junho de 1831.
Instalada em 7 de abril de 1831, a regência trina era uma exigência da Constituição para o caso de
não haver parentes próximos do soberano com mais de 35 anos e em condições de assumir o poder.
Na composição da Regência Provisória assinalou-se, sobretudo, uma tentativa de equilíbrio político.
Os seus componentes eram Campos Vergueiro, representante das tendências liberais; Carneiro de
Campos, representante do conservadorismo e Francisco de Lima e Silva, representante da força militar
no equilíbrio das tendências.
Essa regência manteve a Constituição de 1824, concedeu anistia aos presos políticos, reintegrou o
ministério demitido por D. Pedro e promulgou a Lei Regencial de abril de 1831, que limitava os poderes
dos regentes.

A Regência Trina Permanente


Eleita em junho de 1831, foi composta por Bráulio Muniz, Costa Carvalho e Francisco de Lima e Silva,
Com o padre Diogo Antônio Feijó no Ministério da Justiça.
Entre as principais realizações da Regência Trina Permanente está a criação da Guarda nacional,
com o propósito de defender a constituição, a integridade, a liberdade e a independência do Império
Brasileiro. Sua criação desorganiza o Exército, e começa a se constituir no país uma força armada
vinculada diretamente à aristocracia rural, com organização descentralizada, composta por membros da
elite agrária e seus agregados. Para compor os quadros da Guarda nacional era necessário possuir
amplos direitos políticos, ou seja, pelas determinações constitucionais, poderiam fazer parte dela apenas
aqueles que dispusessem de altos ganhos anuais.
Com a criação da Guarda e suas exigências para participação, surgiram os coronéis, que eram
grandes proprietários rurais que compravam suas patentes militares do Estado. Na prática, eles foram
responsáveis pela organização de milícias locais, responsáveis por manter a ordem pública e proteger os
interesses privados daqueles que as comandavam. O coronelismo esteve profundamente enraizado no
cenário político brasileiro do século XIX e início do século XX, tendo seu auge durante os anos da
República Velha.
No mesmo ano de 1831 foi promulgado a Lei Feijó, proibindo o tráfico e considerando livres todos os
africanos introduzidos no Brasil a partir desta data. A lei foi ignorada e chamada popularmente de “lei para
inglês ver”, devido ao acordo feito com a Inglaterra de abolição da escravidão como exigência para o
reconhecimento da independência brasileira.

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Em 29 de novembro de 1832 é aprovado o Código do Processo Criminal, que altera a organização do
Poder Judiciário. Os juízes de paz, eleitos diretamente sob o controle dos senhores locais, passam a
acumular amplos poderes nas localidades sob sua jurisdição.

Ato Adicional de 1834


O Ato Adicional de 1834 foi uma revisão da Constituição de 1824. Promulgado em 12 de agosto,
possuía caráter descentralizador, instituindo a criação de assembleias legislativas nas províncias, a
supressão do Conselho de Estado e a Regência Una. O Rio de Janeiro foi considerado um território
neutro. Também foi reduzida a idade para o imperador ser coroado, de 21 para 18 anos.
Regência Una
Apesar de uma tentativa frustrada de assumir o poder em 1832, abandonando o cargo de Ministro da
Justiça logo em seguida, o padre Feijó obteve a maioria dos votos na eleição para Regente em 1835.
Empossado em 12 de outubro do mesmo ano para um mandato de quatro anos, padre Feijó não completa
dois anos no cargo. Seu governo é marcado por intensa oposição parlamentar e rebeliões provinciais,
como a Cabanagem, no Pará, e o início da Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul. Com poucos
recursos para governar e isolado politicamente, renunciou em 19 de setembro de 1837.

Segunda regência Una


Com a renúncia de Feijó e o desgaste dos liberais, os conservadores obtêm maioria na Câmara dos
Deputados e elegem Pedro de Araújo Lima como novo regente único do Império, em 19 de setembro de
1837. A segunda regência una é marcada por uma reação conservadora. Várias conquistas liberais são
abolidas. A Lei de Interpretação do Ato Adicional, aprovada em 12 de maio de 1840, restringe o poder
provincial e fortalece o poder central do Império. Acuados, os liberais aproximam-se dos partidários de
dom Pedro. Juntos, articulam o chamado golpe da maioridade, em 23 de julho de 1840.

Revoltas no Período Regencial


Em muitas partes do império a insatisfação com o governo cresceu muito, levando alguns grupos a
apelarem para a luta armada e a revolta como forma de protesto.

Cabanagem (1833-1840)
A Cabanagem foi uma revolta que ocorreu entre 1833 e 1839, na região do Grão-Pará, que
compreende os atuais estados de Amazonas e Pará. A revolta começou a partir de pequenos focos de
resistência que aumentaram conforme o governo tentava sufocar os protestos, impondo leis mais rígidas
e a obrigação de participação no exército daqueles que fossem considerados praticantes de atos
suspeitos. A cabanagem contou com grande participação da população pobre, principalmente os
Cabanos, pessoas que viviam em cabanas na beira dos rios. Os revoltosos tomaram a cidade de Belém,
porém foram derrotados pelas tropas imperiais.

Revolução Farroupilha (1835-1845)


A Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos foi uma revolta promovida por grandes proprietários
de terras no Rio Grande do Sul, conhecidos como estancieiros. O objetivo de seus líderes era de separar-
se do restante do país.
A revolta começa pelo descontentamento de produtores do sul do país em relação à produtores
estrangeiros de Charque, principalmente os platinos e argentinos que comercializavam e concorriam com
os estancieiros pelo mercado do produto no Brasil, utilizado principalmente na alimentação de escravos.
Em 1835, insatisfeitos com o governo, os estancieiros iniciam a revolta, tendo Bento Gonçalves como
principal chefe do movimento, comandando as tropas farroupilhas que dominaram Porto Alegre. Com as
vitórias obtidas foi proclamado um governo independente em 1836, conhecido como Republica do Piratini,
com Bento Gonçalves como presidente.
Em 1839, o movimento farroupilha conseguiu ampliar-se. Forças rebeldes, comandadas por Giuseppe
Garibaldi e Davi Canabarro, conquistaram Santa Catarina e proclamaram a República Juliana. A revolta
consegue ser contida somente após a coroação de D. Pedro II e os esforços do Barão de Caxias,
encerrando os conflitos em 1 de março de 1845.

Revolta dos Malês (1835)


Em Salvador, nas primeiras décadas do século XIX, os negros escravos ou libertos correspondiam a
cerca de metade da população. Pertenciam a vários grupos étnicos, culturais e religiosos, entre os quais
os muçulmanos – genericamente denominados malês -, que protagonizaram a Revolta dos Malês, em
1835.

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O exército rebelde era formado, em sua maioria, por “negros de ganho”, escravos que vendiam
produtos de porta em porta e, ao fim do dia, dividiam os lucros com os senhores. Podiam circular mais
livremente pela cidade que os escravos das fazendas, o que facilitava a organização do movimento. Além
disso, alguns conseguiam economizar e comprar a liberdade. Os revoltosos lutavam contra a escravidão
e a imposição da religião católica, em detrimento da religião muçulmana.
A repressão oficial resultou no fim da Revolta dos Malês, que teve muitos mortos, presos e feridos.
Mais de quinhentos negros libertos foram degredados para a África.

Sabinada (1837-1838)
A Sabinada ocorreu na Bahia, com o objetivo de implantar uma república independente. Foi liderada
pelo médico Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira, e por isso ficou conhecida como Sabinada. O
principal objetivo da revolta era instituir uma república baiana, mas só enquanto o herdeiro do trono
imperial não atingisse a maioridade legal. Diferentemente de outras revoltas ocorridas no período, a
sabinada não contou com o apoio das camadas populares e nem com os grandes proprietários rurais da
região, o que garantiu ao exército imperial uma vitória rápida.

Balaiada (1838-1841)
A Balaiada ocorreu no Maranhão, em 1838, e recebeu esse nome devido ao apelido de uma das
principais lideranças do movimento, Manoel Francisco dos Anjos Ferreira, o "Balaio", conhecido por ser
um vendedor do produto.
A Balaiada representou a luta da população pobre contra os grandes proprietários rurais da região. A
miséria, a fome, a escravidão e os maus tratos foram os principais fatores de descontentamento que
levaram a população a se revoltar.
A principal riqueza produzida na província, o algodão, sofria forte concorrência no mercado
internacional, e com isso o produto perdeu preço e compradores no exterior. Além da insatisfação popular,
a classe média maranhense também se encontrava descontente com o governo imperial e suas medidas
econômicas, encontrando na população oprimida uma forma de combatê-lo.
Os revoltosos conseguiram tomar a cidade de Caxias em 1839 e estabelecer um governo provisório,
com medidas que causaram grande repercussão, como o fim da Guarda Nacional e a expulsão dos
portugueses que residiam na cidade.
Com a radicalização que a revolta tomou, como a adesão de escravos foragidos, a classe média que
apoiava as revoltas aliou-se ao exército imperial, o que enfraqueceu bastante o movimento e garantiu a
vitória 1841, com um saldo de mais de 12 mil sertanejos e escravos mortos em batalhas. Os revoltosos
que acabaram presos foram anistiados pelo imperador.

A Maioridade
Durante o período em que aguardava a maioridade, o jovem Pedro preparou-se para exercer sua
função, como demonstra uma carta7 enviada para a irmã, a rainha Maria da Glória, de Portugal
“Querida e muito amada irmã. Aproveitamos a viagem a Paris que faz o Sr. Antônio Carlos d’Andrada,
irmão do nosso Tutor, para dar-lhe notícias. Há muito tempo estamos privados das suas, assim como das
de nossa querida Mamãe [...] Aqui esforçamo-nos em seguir o seu exemplo: Escrita, Aritmética,
Geografia, Desenho, Francês, Inglês, Música e Dança dividem os nossos momentos; fazemos constantes
esforços para adquirir conhecimento e somente a nossa aplicação pode trazer um pouco de lenitivo às
vivas saudades que nos faz experimentar a separação [...]”

Com todos os problemas e a instabilidade ocorridos durante o período regencial, desde 1835 já havia
um movimento que buscava antecipar a coroação de D. Pedro II, que pela constituição deveria acontecer
em 1843, quando o monarca fizesse dezoito anos.
Os liberais, ou progressistas, fora do poder desde a renúncia do Regente Feijó, apoiaram a ideia de
reduzir a idade para a coroação, esperando voltar ao governo. Os conservadores ou regressistas viam a
proposta de antecipação como forma de consolidar a Monarquia e de preservar a unidade do Império. No
Governo, desde a eleição de Pedro de Araújo Lima para o cargo de Regente Uno do Império, os
conservadores pareciam não estar seguros da continuidade do regime regencial, que se mostrara incapaz
no combate às várias revoltas e na manutenção da ordem política.
Em 1837, já com uma regência conservadora, propôs-se a revisão do Ato nesses termos, numa
discussão que se arrastou até 1840. Finalmente nesse ano os conservadores conseguiram passar essas
reformas, prontamente respondidas pelos liberais com a sugestão ao parlamento de adiantar a

7 Fonte: Schwarcz, Lilian. As Barbas do Imperador.

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maioridade de D. Pedro II, já naquele ano, sob a justificativa da necessidade da figura imperial para a
pacificação da nação.

O Segundo Reinado
Em 1840, com apenas 14 anos, D. Pedro II tornou-se imperador do Brasil, posição que iria manter por
quase cinquenta anos. D. Pedro II realizou parcerias com a Elite Agrária do País, classe de grande
influência no século XIX. Tendo-os como aliados, os favores começaram a prevalecer. O Imperador dava
toda condição e estrutura para que essa Elite continuasse produzindo cada vez mais e em troca recebia
todo apoio político necessário para se consolidar no poder. Dessa maneira, em pouco tempo, o Segundo
Reinado conseguiu fazer do Brasil um País estável e próspero.
Em relação à Economia, o Café se transformou e se consolidou como o principal produto brasileiro
para exportação, provocando um grande crescimento econômico. Inicialmente produzido no Vale do
Paraíba, entre São Paulo e a região Fluminense, se expandiu rapidamente, por se tornar um produto de
grande aceitação mundial.
Nasce assim uma nova Elite, agora concentrada no Sudeste, a Elite Cafeeira, que se tornara mais rica
que os antigos Senhores de Engenhos produtores de açúcar.

Liberais e Conservadores
O grupo político dos liberais moderados dividiu-se por volta de 1837 nas alas regressista e
progressista, formando a partir de 1840, dois partidos políticos. O Partido Conservador, constituído pelos
regressistas e apelidado de Saquarema e o Partido Liberal, formado pelos progressistas e chamado
de Luzia.
Luzias e Saquaremas dominaram o cenário político do Segundo Reinado. Os conservadores
defendiam um governo imperial forte e centralizado, enquanto os liberais lutavam por uma
descentralização, concedendo certa autonomia às províncias. No entanto, quando conquistavam o poder,
liberais e conservadores não apresentavam atitudes muito diferentes.

As Eleições do Cacete
Assim que D. Pedro II assumiu o poder, foi criado o Ministério da Maioridade, com o objetivo de auxiliar
o jovem imperador a governar o país. Esse Ministério, que era composto por uma maioria liberal, também
foi chamado de Ministério dos Irmãos, pois era formado, entre outros, pelos irmãos Antônio Carlos e
Martim Francisco de Andrada e os irmãos Cavalcanti, futuros Viscondes de Albuquerque e de Suassuna.
Na Câmara, ao contrário do Ministério, a maioria dos políticos era composta de conservadores,
dificultando as decisões ministeriais. Com o objetivo de resolver essa disputa de poderes, a câmara foi
dissolvida e novas eleições foram convocadas.
Em 13 de outubro de 1840, foram realizadas as eleições, que ficaram conhecidas pelo polêmico nome
de Eleições do Cacete, ganhando até um lema: “para os amigos pão, para os inimigos pau”, visto
que foram marcadas por inúmeras fraudes eleitorais e uso da violência física para garantir a vitória ao
Partido Liberal. Capangas contratados pelos liberais invadiram os locais de votação para coagir eleitores
e ameaçar de morte adversários políticos.
O governo alterou todo o processo eleitoral nomeando novos presidentes para as províncias e
substituindo chefes de polícia, juízes de direito e oficiais superiores da Guarda Nacional de orientação
conservadora.
A retomada do poder pelos liberais foi passageira, visto eu enfrentaram diversas questões de peso,
como o agravamento da Guerra dos Farrapos, a pressão inglesa pelo fim do tráfico negreiro e a
repercussão da vitória nas eleições com o uso da força bruta.

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Para resolver essas questões, o imperador destituiu a câmara recém-eleita e formou um novo
ministério em março de 1841, abrigando membros de ambos os grupos políticos.
Com o retorno ao poder, os conservadores buscaram concluir as mudanças “regressistas” que foram
interrompidas com o Golpe da Maioridade. Entre as medidas destacam-se o restabelecimento do
Conselho de Estado, que havia sido extinto pelo Ato Adicional de 1834, e a reforma do Código de
Processo Criminal.
A disputa entre liberais e conservadores seria uma das características de todo o segundo reinado.
Apesar dos confrontos, ambos os partidos tinham origem na elite do império e possuíam mais
semelhanças que diferenças. Por conta das semelhanças, o político do período imperial Hollanda
Cavalcanti cunhou a emblemática frase: “Nada mais parecido com um saquarema[conservador] do que
um luzia [liberal] no poder”.

Revolução Praieira
A revolução Praieira ocorreu em 1848, nascida de uma rivalidade entre os partidos Liberal e
Conservador na província de Pernambuco. Nessa época, o país se recuperava da crise econômica e,
enquanto as províncias do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais prosperavam economicamente com
a produção e exportação do café, as províncias nordestinas estavam em decadência devido à crise
da produção do açúcar e do algodão.
Além da crise agrária, a província de Pernambuco possuía grandes problemas sociais, como o fato do
comércio e da política estarem nas mãos de portugueses que não admitiam trabalhadores brasileiros em
seus estabelecimentos, impunham os preços sem nenhuma forma de regulamento e possuíam total
controle político.
Com a criação do Partido da Praia em 1842, formado por um grupo de democratas e liberais
pernambucanos, liderados por Borges da Fonseca, Abreu Lima, Inácio Bento de Loiola, Nunes Machado
e Pedro Ivo, surge uma nova voz na política pernambucana, que acreditava que a luta armada seria a
forma de resolver os problemas locais.
Com eleição de um presidente conservador para a província em 1848, os membros do Partido da Praia
lançaram o chamado "Manifesto ao Mundo", documento em que exigiam o fim da monarquia e a
proclamação de uma república; o fim do voto censitário; a extinção do Senado Vitalício e do Poder
Moderador; o fim dos privilégios comerciais dos estrangeiros e a liberdade de imprensa.
Logo após, tomam a iniciativa de liderar uma revolta com a participação das camadas populares, que
ficou conhecida como revolução praieira, tendo início na cidade de Olinda com a derrubada do presidente
da província. Apesar da tentativa de tentar tomar controle de toda a província, os revoltosos foram
contidos em 1849 pelas tropas imperiais. A Revolução Praieira foi a última grande revolta contra o governo
imperial.

O Parlamentarismo às Avessas
O sistema parlamentarista é usado tanto em monarquias quanto em repúblicas. Nele, o chefe do
Estado, seja ele rei ou presidente, não é o chefe do governo e por isso não tem responsabilidades
políticas. Ao invés dele, o chefe de governo é o Primeiro Ministro, o qual é indicado pelo Parlamento. A
aprovação do Primeiro Ministro e do seu Conselho de ministros pela Câmara dos Deputados se faz pela
aprovação de um plano de governo a eles apresentado. A Câmara ficará encarregada de empenhar-se
pelo cumprimento desse plano perante o povo.
No Brasil, foi criado um sistema parlamentarista oposto ao modelo apresentado acima, que é
comumente conhecido como parlamentarismo inglês, visto que o sistema foi desenvolvido dessa forma
na Inglaterra.
Em 1847, D. Pedro II criou o sistema parlamentarista que ficou conhecido como Parlamentarismo às
avessas, através da criação do cargo de presidente de Conselho de Ministros. Este, que era uma espécie
de primeiro-ministro, era escolhido por D. Pedro II, subordinando assim o Parlamento ao imperador.
Quando ocorria algum impasse entre o poder executivo e o legislativo, D. Pedro II tinha o poder de
dissolver a Câmara ou substituir o presidente do Conselho de Ministros.
Principais características do parlamentarismo “às avessas”
- O primeiro-ministro era escolhido pelo imperador (executivo) e não pelo partido de maioria no
Parlamento (legislativo), como ocorre na Inglaterra.
- O Parlamento ficava subordinado ao imperador (D. Pedro II).
- Era centralizador (poder centralizado no imperador).
- Era oligárquico, pois o imperador quase sempre atendia somente aos interesses dos grandes e ricos
fazendeiros.

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A Influência do Café
O café foi o principal produto de exportação durante o Segundo Reinado. As primeiras mudas e
sementes de café chegam ao Brasil no século XVIII, por volta de 1730, vindas da América Central e das
Guianas, mas é só a partir do começo do século XIX que a cafeicultura ganha o interesse dos grandes
proprietários. O café surgiu como salvação para o modelo de grande propriedade e monocultura de
exportação, vigente até então no Brasil.
O consumo de café pelos europeus começou a crescer durante o século XVIII, com fornecimento vindo
da Arábia. Com a popularização do consumo, a América passou a exportar também o produto.
Começando da região do Rio de Janeiro, centro do império, o café expandiu-se logo na primeira década
do século XIX para o interior fluminense e durante os anos de 1830 alcançou o Vale do Paraíba, e
posteriormente, a Zona da Mata em Minas Gerais.
O café esteve presente em praticamente todo o estado de São Paulo, expandindo-se rumo ao Oeste
Paulista, que apresentava condições favoráveis ao cultivo. Apesar da existência de diversos grupos
indígenas que habitavam o interior do estado, na segunda metade do século XIX os grupos de resistência
haviam sido exterminados ou transferidos para aldeamentos e o café consolidou-se pelo restante do
estado. Juntamente com o café, surgiram as estradas de ferro, utilizadas principalmente para transportar
o produto para o litoral até o porto de Santos.
Entre os fatores para o sucesso do Café, podem ser observados a estrutura de monocultura já
presente, a utilização da mão-de-obra escrava e a adaptação ao clima e ao solo brasileiros.
Com o crescimento da produção, a demanda por braços para a lavoura aumentou consideravelmente,
fazendo com que os proprietários buscassem importar mais escravos. A insistência inglesa na proibição
do tráfico de escravos contribuiu para a utilização de imigrantes europeus, trabalhando como assalariados
nas fazendas do sudeste.

Cultura
D. Pedro II foi um grande apreciador das ciências e das artes. Diferente do cenário político, onde
apresentava-se poucas vezes, geralmente no início e no fim dos trabalhos na câmara, o monarca teve
um influente papel na produção cultural e na fabricação da identidade brasileira.
D. Pedro era frequentador assíduo das reuniões do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB),
que tornou-se um centro produtor de literatura e outros trabalhos intelectuais, sob a proteção do
imperador. Já no ano de 1838, havia sido convidado a tornar-se “protetor” da instituição, e em 1839
ofereceu uma das salas do paço imperial para as reuniões do Instituto.
No campo literário, o romantismo predominou, com a exaltação da figura indígena, apontado como
elemento importante da cultura brasileira, porém descrito a partir de traços europeizados e
representações de passividade perante o domínio dos brancos. A obra O Guarani, publicada em 1857
por José de Alencar, é um exemplo dessa representação. O índio Peri é retratado como um herói, que
luta contra outras tribos indígenas rebeldes e antropófagas (praticantes de algumas formas de
canibalismo). Outros autores também produziram obras centradas na figura do indígena, como Gonçalves
Dias em I-Juca-Pirama, e Gonçalves de Magalhães em A Confederação dos Tamoios.
A obra A Primeira Missa no Brasil demonstra os indígenas em situação de passividade, curiosos com
o povo estranho que acabara de chegar em seus territórios, executando um ritual religioso. Nenhum
indígena opõe-se à realização da missa, mesmo sendo totalmente diferente de suas crenças ou
costumes. A cruz aparece como elemento central na composição da imagem, com o objetivo de afirmar
a fé católica.
Apesar de ser índia, Moema, representada na obra de 1866, possui pela extremamente clara, quase
branca. O quadro é uma interpretação do conto Caramuru, do frei Santa Rita Durão, escrito em 1781.
Moema, apaixonada por Caramuru, resolve atirar-se ao mar quando o português está regressando para
a Europa. Incapaz de alcançar o barco, a índia acaba morrendo afogada, em uma inocente busca por seu
amor. O corpo de Moema, já sem vida na praia, está envolto por uma natureza mística e exuberante.
Ainda no campo das artes, em 1857 foi fundada a Imperial Academia de Música e a Ópera Nacional,
destinadas a formar músicos nacionais e difundir o canto lírico, sendo o imperador um grande admirador
das sinfonias do alemão Richard Wagner.
D. Pedro também possuía muito interesse nas instituições de ensino do império, com constantes
visitas, principalmente ao colégio que levava seu nome, o Pedro II. Fundado em 2 de dezembro de 1837,
o Colégio Pedro II é uma das mais tradicionais instituições públicas de ensino básico do Brasil. Nele o
monarca fazia vistorias, acompanhava provas, fazia a seleção de professores e conferias medias.
Também no campo da medicina, foram vários os incentivos, como o financiamento de estudos e
investimento no hospício da corte.

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O caso indígena
Durante o século XVIII houve um projeto civilizador voltado para a Colônia.
Na construção do processo civilizador, a barbárie desempenha parte importante do contexto. A
administração portuguesa estava convencida de que os povos que não estavam sob o poder real
forçosamente precisavam ser subjugados. Embora tenha sido desenvolvido na Metrópole, tal projeto foi,
em linhas gerais, absorvido pelas elites coloniais”. O espaço no qual deveria delinear-se a intervenção
civilizadora deveria ser capaz de justificar, em função de suas culturas ou produtos naturais passíveis de
extração, a viabilidade de se alocar recursos nessa empreitada: “Este projeto civilizador foi executado em
regiões que poderiam propiciar algum tipo de retorno financeiro não só às próprias expedições que
partiam para o seu controle, como também às elites locais e à metrópole”.
Dentro do contexto apresentado, serve de exemplo a declaração de guerra por D. João VI contra os
índios insurgentes do Sertão do Leste de Minas Gerais– os Botocudos - imediatamente após sua chegada
ao Brasil. Ato contínuo às ações que levaram à abertura dos portos e à permissão oficial para o
estabelecimento de fábricas e manufaturas no Brasil, a Carta Régia que “manda fazer guerra aos índios
botocudos”, de 13 de maio de 1808 (que é anterior, inclusive, à declaração de guerra portuguesa aos
franceses) revela o firme propósito da Coroa em “civilizar” todos os indígenas ainda não pacificados nos
sertões do leste:
“(...) deveis considerar como principiada contra estes índios antropófagos uma guerra ofensiva que
continuareis sempre em todos os anos nas estações secas e que não terá fim, senão quando tiverdes a
felicidade de vos senhorear de suas habitações e de os capacitar da superioridade das minhas reais
armas de maneira tal que movidos do justo terror das mesmas, peçam a paz e sujeitando-se ao doce jugo
das Leis e prometendo viver em sociedade, possam vir a ser vassalos úteis, como já o são as imensas
variedades de índios que nestes meus vastos Estados do Brasil se acham aldeados e gozam da felicidade
que é consequência necessária do estado social (...) Que sejam considerados como prisioneiros de
guerra todos os índios Botocudos que se tomarem com as armas na mão em qualquer ataque; e que
sejam entregues para o serviço do respectivo Comandante por dez anos, e todo o mais tempo em que
durar sua ferocidade, podendo ele empregá-los em seu serviço particular durante esse tempo e conservá-
los com a devida segurança, mesmo em ferros, enquanto não derem provas do abandono de sua
atrocidade e antropofagia. (...) e me dará conta pela Secretaria de Estado de Guerra e Negócios
Estrangeiros, de tudo o que tiver acontecido e for concernente a este objeto, para que se consiga a
redução e civilização dos índios Botocudos, se possível for, e a das outras raças de índios que muito vos
recomendo”;

A questão agrária
A política agrária durante o período colonial brasileiro esteve baseada na concessão de sesmarias, um
regime de doações de terras utilizado pela coroa portuguesa, cujo objetivo seria estimular a ocupação do
território e estender o alcance da ação civilizatória. A historiografia registra que esse sistema de
ordenação territorial, que condicionava a efetiva ocupação e o tratamento produtivo do agraciado às terras
recebidas como condição necessária para a manutenção da propriedade, foi ao longo do tempo alvo de
inúmeras alterações em seus dispositivos legais, refletindo as diferentes realidades históricas que se
impunham aos gestores das políticas públicas.
D. João VI, tentando ordenar a distribuição das sesmarias e reconhecendo que ordens suas e
determinações anteriores sobre os limites das sesmarias concedidas estavam sendo desrespeitadas
amplamente, tornando-se foco de litígios entre os proprietários de terra, suspendeu em 1809 a emissão
de novas concessões até que as medições fossem regularizadas por funcionários a serem designados
para todas as vilas do país.
No mesmo alvará, o monarca ressaltava a importância estratégica do tema para a agenda Real: “(...)
para que se ajunte, tanto quanto se possa, o interesse do Bem Público no aumento da Agricultura, e
Povoação desse vastíssimo Estado, que muito Desejo promover, e adiantar, com a segurança, os
Sagrados Direitos da Propriedade, de cuja ofensa resultaria o despovoamento das terras, e a
despovoação”.
A sesmaria era o principal meio legal de apropriação das terras, em geral destinada a cidadãos com
influência junto à burocracia estatal. A menção de denúncias sobre abuso e ilegalidades ocorridas na
distribuição e manutenção das sesmarias não é rara na historiografia. No entanto, entre a obtenção de
uma sesmaria e sua efetiva ocupação, não era incomum a ocorrência de hiato temporal relativamente
longo, extrapolando inclusive a previsão legal. Como exemplo, sesmarias concedidas no início de 1800
na área do atual município de Leopoldina, que em poucas décadas se consolidaria como uma das
principais cidades da região da Zona da Mata Mineira, só começaram a ser efetivamente ocupadas
décadas depois, e mesmo assim por familiares do titulares. Com a independência do Brasil, o sistema de

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posses tornou-se o único no país até o advento da lei nº 601, de 18 de setembro de 1850, que dispunha
sobre as terras devolutas do império, legitimando as sesmarias e posses anteriormente constituídas,
desde que cultivadas.
Como parte dos acordos firmados entre Brasil e Inglaterra depois que a antiga colônia de Portugal
adquiriu sua independência, estava a exigência da abolição do trabalho escravo, medida que beneficiava
largamente os interesses ingleses. Apesar do comprometimento brasileiro em acabar com a escravidão
em 5 anos (antes de 1830), a primeira medida expressiva do país nesse sentido concretizou-se apenas
em 4 de setembro de 1851, com a lei Nº 581, conhecida como Lei Eusébio de Queiroz.
A lei proibia o tráfico negreiro no Brasil, e criminalizava a prática como ato de pirataria para aqueles
que nela insistissem.
Como consequência da proibição do tráfico de escravos, que constituíam a quase totalidade da mão-
de-obra no país, os cafeicultores do sudeste tiveram de importar escravos de dentro do território,
especialmente da região Nordeste, que passava por um período de decadência.
Poucos dias depois da aprovação da lei Eusébio de Queiroz, foi aprovada outra lei, que ficou conhecida
como Lei de Terras.
Com o objetivo de garantir a posse de terras nas mãos dos grandes proprietários rurais, especialmente
os produtores de café, a lei Nº 601, de 18 de setembro de 1850 tinha a pretensão de regulamentar as
terras ditas devolutas, ou seja, terras desocupadas, na visão desses grandes proprietários (vale lembrar
que essas terras, apesar de declaradas desocupadas eram habitadas por indígenas, vistos como
selvagens e algo um pouco além de animais, e por posseiros que não possuíam títulos de posse
das terras).

Além disso, a criação da lei pretendia


- Estabelecer a compra como única forma de obtenção de terras públicas. Desta forma, inviabilizou os
sistemas de posse ou doação para transformar uma terra em propriedade privada.
- O governo imperial pretendia arrecadar mais impostos e taxas com a criação da necessidade de
registro e demarcação de terras. Esses recursos tinham como destino o financiamento da imigração
estrangeira, voltada para a geração de mão-de-obra, principalmente, para as lavouras de café. Vale
lembrar que o tráfico de escravos já era uma realidade que diminuía cada vez mais a disponibilidade de
mão-de-obra escrava.
- Dificultar a compra ou posse de terras por pessoas pobres, favorecendo o uso destas para fins de
produção agrícola voltada para a exportação. Este objetivo foi alcançado pelo governo, pois esta lei
provocou o aumento significativo nos preços das terras no Brasil.
- Favorecer os grandes proprietários rurais, que passavam a ser os únicos detentores dos meios de
produção agrícola, principalmente a terra, no Brasil.
- Tornar as terras um bem comercial (fonte de lucro), tirando delas o caráter de status social derivado
da simples posse.

Imigração
No Brasil, o projeto de imigração fundava sua base na exclusão do trabalho escravo na agricultura,
sempre tendo em mente que o negro não era considerado benéfico para tal atividade. O trabalhador
escravo estava sendo substituído pelo trabalhador livre, em geral o europeu branco.
Os fatores que motivaram a imigração podem ser os religiosos (perseguições religiosas), políticos
(exílio político), a questão econômica, e o fator demográfico como expoente valorativo das taxas de
emigrações na Europa, principalmente porque durante o século XVIII, as taxas de natalidade subiram
cerca de 1% ao ano, número representativo para a Europa, que influenciou, também, o processo
imigratório.
Os enclosures (processo de passagem de terras livres ou comuns para o uso privado, com a
demarcação de áreas e seu cercamento), alteraram a relação entre a terra e os trabalhadores. Esses
cercamentos pressionavam os pequenos e grandes proprietários de terras a dividirem mais e mais sua
propriedade. Ao aumentar a taxa de natalidade, a divisão entre os herdeiros que dependiam da terra
crescia concomitantemente. Os olhos voltaram-se para a América por fatores que os atraíam e que não
podiam ser ignorados. O Brasil, ao contrário da Europa, dispunha de terra e carecia de mão-de-obra.
Entretanto, apesar da alta disponibilidade de terras no Brasil, a imigração europeia concentrou-se na
região Sul e Sudeste e representava um número pequeno em comparação com a população residente no
país.
Além da disponibilidade da terra na região sul do Brasil, ou Brasil Meridional, havia um objetivo
específico de quem deveria vir povoar esse território. “Povoar” no sentido que consideravam vazio esse

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espaço, como salientamos acima. A expressão mais apropriada para tal empreendimento deveria ter sido
“repovoar” ou “recolonizar”, uma vez que havia indígenas nesses lugares.
As primeiras experiências para adotar o imigrante europeu como trabalhador nas lavouras de café
ocorreu em 1847, quando Nicolau de Campos Vergueiro, senador do império e regente provisório,
resolveu trazer imigrantes alemães e suíços para trabalhar em suas fazendas de café no Oeste Paulista,
através de um sistema conhecido como parceria: nele, os parceiros (no caso, os imigrantes) trabalhavam
no cultivo e na colheita do café, dividindo com o proprietário os lucros e os prejuízos resultantes do cultivo.
A experiência de Vergueiro foi de certa forma infrutífera, pois os imigrantes, apesar de saírem da Europa
em um contexto de fome e conflitos, eram submetidos a condições de tratamento extremamente rígidas,
como a proibição de enviar correspondências aos familiares na Europa. Somando-se a isso, havia a
mentalidade do trabalho escravo, ainda presente, o que dificultava a criação de novas formas de trabalho.
Após revoltas ocorridas na década de 1850, o sistema de parceria foi abandonado.
Apesar da proibição no tráfico de escravos em 1850, apenas na década de 1880 os imigrantes
começam a aparecer com força no cenário da produção de café em São Paulo. As péssimas condições
de trabalho e a propaganda enganosa sobre a aquisição de terras no Brasil contribuíram para o fracasso
nas tentativas de atração de imigrantes, tendo inclusive o governo italiano desaconselhado a imigração
para cá, em uma circular que descrevia São Paulo como região inóspita e insalubre.
Somente nos últimos anos do império, com a necessidade de mão-de-obra cada vez mais crescente,
e com a abolição da escravidão já apontando como realidade, os fazendeiros e também o governo
resolveram ampliar a proposta para os imigrantes, como o pagamento do transporte e do alojamento ao
chegarem ao Brasil. As condições sociais, principalmente na Itália, abatida pela fome, contribuíram
também para o movimento migratório para o Brasil.

A imigração no Sul: Desde a Independência do Brasil houve a intenção de ocupar as partes mais
afastadas do império, como a região do Rio Grande do Sul, cobiçado por nações vizinhas e, portanto,
motivo de preocupação, o governo imperial tomou medidas para incentivar a vinda de imigrantes para o
Brasil.
Essa preocupação com a fronteira Sul levou o imperador D. Pedro I a ordenar a vinda de colonos
alemães.
Em 1824 chegaram os primeiros colonos, recrutados pelo major Jorge Antonio Schaffer, que foram
enviados para a região do atual município de São Leopoldo no Rio Grande do Sul. Apesar das dificuldades
enfrentadas no início, a colônia conseguiu crescer, espalhando-se pela região do Vale do Rio dos Sinos.
Em Blumenau (atual região de Santa Catarina) surgiram colônias de caráter privado, ou seja, que não
foram sustentadas pelo governo.
A Colônia Nova Itália foi fundada em 1836 e correspondente ao atual município de São João Batista.
Criada pela empresa “Demaria e Schutel”, Os colonos eram originários, na sua maioria, da Ilha da
Sardenha. Localizada às margens do rio Tijucas, a colônia teve maior desenvolvimento durante o período
em que esteve sob a direção do suíço Luc Montandon Boiteux.
A Colônia de Itajaí, fundada em 1835, foi criada pela lei Provincial n.º 11, que permitiu estabelecer
duas colônias compostas de elementos nacionais e estrangeiros no município de Porto Belo. Uma delas
seria localizada à margem do rio Itajaí-Açu, na localidade de “Pocinho” e outra ficaria próxima ao rio Itajaí-
Mirim, no lugar chamado “Tabuleiro”.
A Colônia de Vargem Grande foi fundada em 1837, às margens do rio dos Bugres e da estrada que
servia de ligação entre o planalto e o litoral. Foi constituída por colonos alemães que vinham da antiga
colônia de São Pedro de Alcântara, descontentes com a má administração e as brigas por falta de
pagamentos e desentendimentos sobre terras. Dela originou-se a localidade de Löffelscheidt, atualmente
município de Águas Mornas.
Durante o reinado de D. Pedro II houve um grande incentivo para a imigração e a criação de colônias
de imigrantes no império.
Em Santa Catarina destacaram-se a Colônia do Saí, fundada em 1840 pelo médico francês Dr. Joseph
Mure na península do Saí, próxima a São Francisco; e a Sociedade Belgo-Brasileira de Colonização,
criada por Charles Van Lede, para o transporte de colonos belgas à Província de Santa Catarina.
Em 1848 foi publicada a lei nº 514, que em seu artigo 16º determinava:

A cada huma das Provincias do lmperio ficão concedidas no mesmo, ou em diferentes lugares de seu
ter em quanto não estiverem effectivamente roteadas e aproveitadas, e reverterão ao dominio Provincial
se dentro de cinco annos os colonos respectivos não tiverem cumprido esta condição.

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A criação da lei incentivou a política de imigração no país, em especial nas províncias de Santa
Catarina e São Paulo.
Em Santa Catarina a lei facilitou ainda mais a imigração de alemães, que vinham para o Brasil em
busca de riquezas míticas e também para fugir da situação em que viviam em seu país natal. Para auxiliar
no translado e adaptação dos imigrantes foi criada a Sociedade de Proteção aos Imigrantes Alemães, da
qual ficou encarregado Hermann Bruno Otto Blumenau. Sob a fiscalização de Blumenau foram criadas
várias colônias.

A Colônia de Blumenau foi criada em 1850, em uma associação entre Herman Blumenau e o
comerciante Fernando Hackdrat. O destaque da colônia foi a escolha de Blumenau pelos profissionais de
diversas áreas que a habitariam. A colônia cresceu rapidamente e foi elevada à categoria de município
em 1880.

A Colônia Dona Francisca foi criada em 1851, a partir da iniciativa da princesa Francisca, que era
filha de D. Pedro I e casada com o filho do rei da França, Luiz Felipe. O casal resolveu aproveitar as terras
que eram de posse da princesa para explorar a criação de uma colônia, que teve como organizador o
Senador Christiano Mathias Schroeder, dono da Sociedade Colonizadora de Hamburgo. A colônia
destacou-se pela diversidade de países a qual seus habitantes pertenciam: suíços, noruegueses,
alemães, dinamarqueses. Outros dados interessantes eram a liberdade de culto existente na colônia, a
naturalização daqueles que adquirissem terras na colônia e fossem residentes a mais de dois anos e a
regra da utilização somente de mão-de-obra livre, sendo proibida a utilização de escravos.

A Colônia Itajaí – Brusque teve início em 1860, com a chegada de colonos alemães. Apesar de ser
oficialmente nomeada Itajaí, o nome Brusque foi uma homenagem ao presidente da província de Santa
Catarina, Francisco Carlos de Araújo Brusque.
Além da colonização alemã, outros grupos destacaram-se, como italianos, poloneses, árabes e gregos.

Para as colônias Italianas é possível destacar as colônias do Vale do Itajaí-açu, do vale do Itajaí-
mirim e vale do Tijucas e no sul catarinense, principalmente na região do vale do Rio Tubarão.
Tanto alemães como italianos exerceram grande influência nos costumes e na cultura catarinenses.
Entre as principais influências estão os hábitos alimentares como carne defumada, linguiças e queijos
dos mais variados tipos.
Esse movimento de deslocamento transoceânico de populações já vinha ocorrendo em toda a Europa,
a partir de meados do século XIX, perdurando até o início da Primeira Guerra Mundial. A onda imigratória
foi impulsionada, de um lado, pelas transformações socioeconômicas que estavam ocorrendo em alguns
países do continente e, de outro, pela maior facilidade dos transportes, advinda da generalização da
navegação a vapor e do barateamento das passagens. A partir das primeiras levas, a imigração em
cadeia, ou seja, a atração exercida por pessoas estabelecidas nas novas terras, chamando familiares ou
amigos, desempenhou papel relevante. Segundo os dados da imigração, entre 1800 e 1955, os Estados
Unidos receberam aproximadamente 40 milhões de imigrantes, a Argentina recebeu 7 milhões, e o
Canadá recebeu 5,3 milhões.
No caso brasileiro, os dados indicam que em torno de 4,5 milhões de pessoas imigraram para o país
entre 1882 e 1934. Destes, 2,3 milhões entraram no estado de São Paulo como passageiros de terceira
classe, pelo porto de Santos, não estando, pois, aí incluídas entradas sob outra condição. É necessário
ressalvar, porém, que, em certas épocas, foi grande o número de retornados. Em São Paulo, por exemplo,
no período de crise cafeeira, (1903-1904), a migração líquida chegou a ser negativa. Um dos traços
distintivos da imigração para São Paulo, até 1927, foi o fato de ter sido em muitos casos subsidiada,
sobretudo nos primeiros tempos, ao contrário do que sucedeu nos Estados Unidos e, até certo ponto, na
Argentina.
O subsídio consistiu no fornecimento de passagem marítima para o grupo familiar e transporte para as
fazendas e foi uma forma de atrair imigrantes pobres para um país cujo clima e condições sanitárias não
eram atraentes. A partir dos anos 30, a imigração em massa cedeu terreno. A política nacionalista de
alguns países europeus - caso típico da Itália após a ascensão de Mussolini - tendeu a colocar obstáculos
à imigração para a América Latina.

Tráfico negreiro, lutas abolicionistas e fim da escravidão


Tentando atrair o capital do tráfico para a industrialização, a Inglaterra extinguiu o comércio de
escravos (1807) e passou a mover intensa campanha internacional contra o tráfico negreiro. Nas
negociações do reconhecimento da independência do Brasil, a Inglaterra condicionara o seu apoio à

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extinção do tráfico e forçara Dom Pedro I a assinar, em 1826, um convênio no qual se comprometia a
extingui-lo em três anos. Cinco anos depois, a regência proibiu a importação de escravos (1831), mas a
oposição dos grandes proprietários rurais impediu que isso fosse levado à prática. Estimulado pela
crescente procura de mão-de-obra para a lavoura cafeeira, o tráfico de escravos aumentou:
desembarcaram no Brasil 19.453 escravos em 1845, 60 mil em 1848 e 54 mil em 1849.
Os navios ingleses perseguiam os navios negreiros até dentro das águas e dos portos brasileiros, o
que deu origem a vários atritos diplomáticos entre o governo imperial e o britânico. Finalmente, em 4 de
setembro de 1850, foi promulgada a Lei da Extinção do Tráfico Negreiro, mais conhecida como Lei
Eusébio de Queirós. Em 1851, entraram 3.827 escravos no Brasil, e apenas 700 no ano seguinte.
O fim da importação de escravos estimulou o tráfico interprovincial: para saldar suas dívidas com
especuladores e traficantes, os senhores dos decadentes engenhos do Nordeste e do Recôncavo Baiano
passaram a vender, a preços elevados, suas peças (escravos) para as prósperas lavouras do vale do
Paraíba e outras zonas cafeeiras. Forçados pela escassez e encarecimento do trabalhador escravo,
vários cafeicultores paulistas começaram a trazer colonos europeus para suas fazendas, como fizera o
senador Nicolau de Campos Vergueiro, em 1847, numa primeira experiência mal sucedida. A mão-de-
obra assalariada, porém, só se tornaria importante na economia brasileira depois de 1880, quando o
governo imperial passou a subvencionar e a regularizar a imigração, e os proprietários rurais se
adaptaram ao sistema de contrato de colonos livres. Mais de 1 milhão de europeus (dos quais cerca de
600 mil italianos) imigraram para o Brasil em fins do século XIX.
A extinção do tráfico negreiro liberou subitamente grande soma de capitais que afluíram para outras
atividades econômicas. Entre 1850 e 1860, foram fundadas 62 empresas industriais, 14 bancos, três
caixas econômicas, 20 companhias de navegação a vapor, 23 companhias de seguros e oito estradas de
ferro.
A cidade do Rio de Janeiro, o grande empório do comércio de café, modernizou-se rapidamente: suas
ruas foram calçadas, criaram-se serviços de limpeza pública e de transportes urbanos, e redes de esgoto
e de água. A geração de empresários capitalistas que surgiu nesse período teve em Irineu Evangelista
de Sousa, barão e depois visconde de Mauá, sua figura mais representativa. Em 1844, o ministro da
Fazenda, Manuel Alves Branco, contrariando os interesses dos comerciantes e industriais ingleses,
colocou em vigor novas tarifas alfandegárias que variavam em torno de 30%, o dobro, portanto, das
anteriores. Embora visasse a solucionar a carência de recursos financeiros do governo imperial, essa
medida teve efeitos protecionistas: ao tornar mais caros os produtos importados, favorecia a fabricação
de similares nacionais.

Processo abolicionista
A memória da Abolição dentre nós é de uma concessão feita em 13 de maio de 1888 por uma princesa
branca que, em um ato de generosidade, livrou da escravidão milhares de brasileiros. Já a nossa memória
sobre o processo abolicionista é de que este começou nos finais da década de 1870, quando um grupo
de pessoas solidárias com o sofrimento dos escravizados ergueu como bandeira de luta o fim da
escravidão.
O crescimento da rebeldia escrava tem sido apontado como anterior ao movimento abolicionista e
mesmo como motivação para a aprovação da legislação emancipacionista. Diferentes explicações foram
dadas para o crescimento da resistência escrava, nas décadas de 1860 e 1870, perceptível pelos roubos,
aumento das fugas, das formações de quilombos cada vez mais próximos aos núcleos urbanos e pelos
assassinatos de senhores e prepostos. Boa parte das explicações para o aumento da criminalidade
escrava é relacionada ao final do tráfico de escravos, em 1850.

Lei no 581 (Lei Eusébio de Queirós), de 4 de setembro de 1850


“Dom Pedro, por Graça de Deus e unânime aclamação dos povos, Imperador Constitucional e
Defensor Perpétuo do Brasil: Fazemos saber a todos os nossos súditos que a Assembleia Geral decretou
e nós queremos a Lei seguinte:
Art. 1o As embarcações brasileiras encontradas em qualquer parte, e as estrangeiras encontradas nos
portos, enseadas, ancoradouros, ou mares territoriais do Brasil, tendo a seu bordo escravos, cuja
importação está proibida pela Lei de sete de novembro de mil oitocentos e trinta e um, ou havendo -os
desembarcado, serão apreendidas pelas autoridades, ou pelos navios de guerra brasileiros e
consideradas importadoras de escravos.
Aquelas que não tiverem escravos a bordo, porém que se encontrarem com os sinais de se
empregarem no tráfico de escravos, serão igualmente apreendidas, e consideradas em tentativa de
importação de escravos.”

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Lei no 2.040 (Lei do Ventre Livre), de 28 de setembro de 1871
A Lei do Ventre Livre foi decorrente da inquietação dos escravizados, num momento em que o
sentimento abolicionista ainda não havia se propagado entre a classe média urbana. Existem várias
hipóteses que tentam explicar o aumento da revolta escrava nas décadas de 1860 e 1870. Dentre elas:
-As motivações para esta inquietação seria a mudança estrutural pela qual passava a população
escrava, que naquele momento passava a se constituir de brasileiros em sua maioria, ao invés de
africanos recém-chegados;
-O tráfico interno, que deslocava os escravizados indisciplinados do Norte para a cafeicultura também
seria um elemento incentivador da revolta escrava, pois os escravizados vindos de outras regiões
chegavam às lavouras do Sudeste com suas próprias concepções de “cativeiro justo”. Ou seja, com
definições de quais as atividades deveriam desempenhar, de ritmo de trabalho e de disciplina, e
frequentemente entravam em choque com os novos costumes

“A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o Imperador, o senhor D. Pedro II, faz saber
a todos os súditos do Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:
Art. 1o Os filhos da mulher escrava que nascerem no Império desde a data desta lei serão considerados
de condição livre.
§1o Os ditos filhos menores ficarão em poder e sob a autoridade dos senhores de suas mães, os quais
terão obrigação de criá-los e tratá-los até a idade de oito anos completos. Chegando o filho da escrava a
esta idade, o senhor da mãe terá a opção, ou de receber do Estado a indenização de 600$000, ou de
utilizar-se dos serviços do menor até a idade de 21 anos completos. [...]”

Quando a Lei de 1871 foi criada, a sua intenção era atender algumas das reivindicações dos
escravizados e promover a emancipação através de um caminho pacífico e seguro - frente às revoltas
das décadas de 1850 e 1860 – que poderiam descambar numa revolução. Como já foi demonstrado pelos
vários estudiosos que estudaram as ações de liberdade ocorridas em diferentes e distantes localidades
do Brasil, os escravizados souberam manipular habilmente as brechas contidas na Lei do Ventre Livre
em favor da própria liberdade e da liberdade dos seus parentes. Neste sentido, os objetivos da lei - de
conter a revolta escrava facilitando o acesso à alforria e de submeter os libertos à tutela senhorial – foram
subvertidos, na medida em que o campo jurídico se transformou em arena de litígio entre escravizados e
senhores, tendo como consequência direta a dificuldade de se preservarem os laços de dependência,
lealdade e proteção entre senhores e ex-escravizados.

Lei no 3.270 (Lei dos Sexagenários ou Lei Saraiva-Cotegipe), de 28 de setembro de 1885


“D. Pedro II, por Graça de Deus e Unânime Aclamação dos Povos, Imperador Constitucional e
Defensor Perpétuo do Brasil: Fazemos saber a todos os Nossos súditos que a Assembleia Geral Decretou
e Nós Queremos a Lei seguinte: [...]
Art. 3o [...]
§10o São libertos os escravos de 60 anos de idade, completos antes e depois da data em que entrar
em execução esta lei, ficando, porém, obrigados, a título de indenização pela sua alforria, a prestar
serviços a seus ex-senhores pelo espaço de três anos.
§11o Os que forem maiores de 60 e menores de 65 anos, logo que completarem esta idade, não serão
sujeitos aos aludidos serviços, qualquer que seja o tempo que os tenham prestado com relação ao prazo
acima declarado.”

Lei no 3.353 (Lei Áurea), de 13 de maio de 1888


“A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o Imperador, o Senhor D. Pedro II, faz
saber a todos os súditos do Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:
Art. 1o É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil.”

A Questão Platina e a Guerra do Paraguai


A Guerra Cisplatina que se estendeu de 1825 a 1828, foi o conflito entre Brasil e Argentina pela
supremacia no Rio da Prata, lembrando que o Uruguai era possessão luso-brasileira desde 1821.
Apoiando os uruguaios, a Argentina venceu as forças imperiais. A Argentina que já se fazia independente
da Espanha, desde 1810, recebia no porto de Buenos Aires navios europeus e experimentava na primeira
metade do século XIX um período de auge, chegando a se comparar com a França.
Em 1828, o Uruguai tornou-se independente, porém o fato não diminuiu o fluxo de brasileiros sul rio-
grandenses entrando no território do país. O deslocamento dessas pessoas para aquela banda, se
registrou muito intensamente no período da guerra dos farrapos, onde muitas famílias entre elas as dos

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próprios revoltosos se voltaram para o Uruguai, criando gado e formando estâncias. Perto de encerrar a
revolução farroupilha, iniciou-se na Banda Oriental a chamada “Guerra Grande”, colocando em lados
opostos Blancos e Colorados.
A população de brasileiros no Uruguai era imensa, em 1863, segundo o Almirante Carbajal, 40.000
brasileiros compunham o país que tinha 180.000 habitantes. Além disso quase metade do território
uruguaio em 1862 pertencia a brasileiros, o que indignava certos parlamentares.

Blancos e Colorados
As lutas partidárias pelo poder entre Buenos Aires e Montevidéu fomentaram a oposição do
Império do Brasil, que interveio nos países do Prata. Havia nos dois países, dois partidos
inimigos: o partido federalista, ou colorado, e o unitário, ou blanco, que discutiam sobre a
organização interna dos dois países. A partir de 1828 o Uruguai tornou-se uma nação livre e
organizava seu primeiro governo regular a cargo de D. Frutuoso Rivera; o exército argentino
volta a Buenos Aires, derruba o governo e instaura a anarquia, que a seis de dezembro colocou
no poder como ditador o caudilho D. Juan Manuel de Rosas, chefe do partido federalista, isto
é, colorado, que desejava conquistar o Uruguai e, não viu com bons olhos a eleição de Rivera.
Para tanto, lança contra este, Lavalleja e D.Manuel de Oribe, que promoveram numerosos
levantes contra o governo oriental (uruguaio).

A guerra contra Oribe


As lutas internas pelo controle do Uruguai eram agravadas pela intervenção de brasileiros e argentinos
na política do país, com o Brasil apoiando os Colorados e a Argentina apoiando os Blancos.
Apoiando os colorados, o Brasil entrava em choque com a Argentina, controlada pelo presidente
Rosas, que auxiliava Oribe.
Em 1850, um fato modificou o equilíbrio político da Região do Prata: o General Urquiza, que era
governador da província argentina de Entre-Rios, manifestou claramente a sua intenção de revoltar-se
contra Rosas. A partir daí, as relações diplomáticas do império brasileiro teve que tomar uma rápida
medida, e em dezembro de 1850 Brasil e Paraguai assinaram um tratado de Aliança. Em maio de 1851
foi assinado um novo tratado entre Brasil, Colorado e as províncias argentinas de Entre-Rios e Corrientes,
decidindo pela expulsão de Oribe do Uruguai e de Rosas da Argentina.
A partir de julho, as tropas de Entre-Rios, comandadas pelo general Urquiza, e as brasileiras,
comandadas por Caxias, iniciaram a invasão do Uruguai, até que, em 12 de outubro de 1851, Oribe
rendeu-se incondicionalmente. Neste mesmo dia, o Brasil e o Uruguai assinaram um tratado de comércio,
aliança e limites territoriais.

A guerra contra Rosas


As ações tomadas pelo governo brasileiro no Uruguai, o reconhecimento da independência do
Paraguai e a abertura da navegação internacional na bacia do rio da Prata intensificaram as desavenças
entre Brasil e Argentina.
Frente a todas as desavenças, o governo imperial concluiu que a convivência pacifica com o governo
de Buenos Aires tornava-se impossibilitada. Além disso, o governo imperial considerou que o governo de
Rosas era uma ameaça direta aos interesses brasileiros no rio da Prata e no Rio Grande do Sul.
A revolta do general Urquiza, de Entre-Rios, deu ao Brasil as condições militares para a derrubada de
Rosas. Restava um único obstáculo: a Inglaterra, que, embora não apoiasse Rosas diretamente, era
contrária que o Brasil o derrubasse.
Com a intenção de contornar a situação, a diplomacia brasileira agiu com habilidade: ao invés de atacar
Rosas, voltou sua atenção para Oribe no Uruguai, conseguindo a derrota em outubro de 1851. No mês
seguinte, Brasil, Uruguai e as províncias argentinas de Entre-Rios e Corrientes assinaram um convenio
pelo qual o império comprometia-se a ajudar o general Urquiza em sua Luta contra Rosas, de tal maneira
que não estava se colocando diretamente contra Rosas, apenas ajudando Urquiza.
O convenio foi assinado em 21 de novembro de 1851, imediatamente, Urquiza iniciou sua marcha em
direção a Buenos Aires, sendo a travessia do Rio Paraná feita a bordo de navios da esquadra brasileira.
Em 3 de novembro 1852, as tropas aliadas, cujo comandante geral era Urquiza, enquanto o Brigadeiro
Marques de Sousa comandava as tropas brasileiras, atacaram os rosistas em Monte Caseros.
Completamente derrotado, Rosas refugiou-se a bordo de um navio inglês e partiu para a Inglaterra.
Urquiza assumiu a presidência da Argentina.

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A guerra contra Aguirre
Durante a década de 1850, o Uruguai viveu em permanente estado de agitação devido à luta entre
blancos e colorados, agravadas pelas intervenções políticas brasileiras e argentinas.
Em 1863, o general Venâncio Flores revoltou-se contra o governo de Montevidéu, presidido pelo
blanco Bernardo Berro. Mesmo sendo este substituído por Atanásio Aguirre, a revolta continuou.
Diante da rebelião de Flores, assim ficaram posicionados os países vizinhos ao Uruguai:
- O governo argentino, presidido pelo general Mitre, embora oficialmente neutro, na prática apoiava
abertamente os revoltosos, pois com Flores no poder esperava exercer grande influência sobre o governo
uruguaio;
- O Paraguai, presidido por Solano Lopez, assumiu uma posição bastante clara: embora se recusasse
a fazer uma aliança militar com Aguirre, considerava qualquer tentativa de incorporar o Uruguai ao Brasil
ou à Argentina uma ameaça direta ao seu país;
- O Brasil mantinha-se oficialmente neutro, provavelmente sem intenções de mudar de posição, exceto
se a independência uruguaia fosse ameaçada pela Argentina ou pelo Paraguai.

Portanto a situação parecia bastante equilibrada, havendo pouca possibilidade de que algum dos
países vizinhos intervisse militarmente no Uruguai, seja pelo receio de reações dos outros países da área,
seja pelo fato de a independência uruguaia estar garantida pela Inglaterra e França.
Os acontecimentos, porém, tomaram um rumo completamente diferente. A razão disso é que o Rio
Grande do Sul, contrariando os desejos do governo imperial, apoiava tao firmemente a revolta do general
Flores, que mais da metade de suas tropas era formada por rio-grandenses, e os estancieiros gaúchos
pressionaram para que o governo brasileiro intervisse diretamente no Uruguai.
D. Pedro II mais uma vez enfrentava um grave problema. Os fazendeiros rio-grandenses desejavam
controlar da maneira mais rígida possível o Uruguai, onde tinham grandes interesses econômicos. Por
isso, o Rio Grande somente seria solidários para com o impérios se este apoiasse decidamente os
criadores de gado, dando cobertura à atuação desses homens no território uruguaio. Caso o governo
negasse esse apoio, os gaúchos poderiam se separar do Imperio, como já ocorrera durante a Revolução
Farroupilha.
Finalmente ainda se destaca o papel do governo argentino, cujo presidente, general Mitre, utilizou
todos os tipos de intrigas diplomáticas para levar o Brasil a invadir o Uruguai. O objetivo de Mitre era
derrubar Aguirre, utilizando para isso tropas brasileiras.
Assim, no início de 1864, o império enviou a Montevidéu o conselheiro Jose Antônio Saraiva, o qual,
em maio do mesmo ano, exigiu de Aguirre indenização pelos prejuízos causados aos brasileiros na
fronteira do Rio Grande do Sul e punição dos responsáveis. O governo uruguaio recusou. Em julho, uma
reunião realizada em Puntas del Rosário, da qual participaram o conselheiro Saraiva, o general Flores, o
ministro do exterior argentino, Rufino de Elizelde e o embaixador inglês na Argentina, Edward Thornton,
resultou em novas exigências a Aguirre, que recusou-as.
Saraiva, então, retirou-se para Buenos Aires, onde, em 4 de agosto de 1864, entregou um ultimato a
Aguirre: se não fossem atendidas todas as exigências brasileiras, as tropas e a marinha do Império
iniciariam represálias contra o Uruguai.
No dia 22 do mesmo mês, como Aguirre continuava negando-se a atende-lo, saraiva e o chanceler
argentino Elizelde assinaram um protocolo autorizando-se mutuamente a intervir no Uruguai, desde que
fosse mantida a sua independência.
A guerra começou em setembro. A esquadra, sob o comando do Almirante Tamandaré, bloqueou e
ocupou os portos fluviais uruguaios de Villa de Melo, Salto e Paissandu. Logo em seguida, o marechal
Mena Barreto, à frente de 10000 soldados, invadiu o Uruguai e reuniu-se com as forças de Venâncio
Flores, praticamente ocupando todo o país. Finalmente em 15 de fevereiro de 1865, Aguirre abandonou
o poder, assumido cinco dias depois pelo general Flores.

A Guerra do Paraguai
Entre novembro de 1864 e março de 1870, desenrolou-se a Guerra do Paraguai, a mais longa e
sangrenta guerra na América do Sul, com consequências que influenciaram decisivamente a história dos
países envolvidos. Até maio de 1865, enfrentaram-se apenas o Paraguai e o Brasil. A partir daí, com a
assinatura do tratado da Tríplice Aliança, os paraguaios passaram a lutar contra o Brasil, a Argentina e o
Uruguai.
Dentre aos razoes que desencadearam a guerra do Paraguai, destacam-se em primeiro lugar as
questões que dividiam os países do Prata.
O Paraguai, em meados do século XIX, era um país diferente dos demais da América latina. Desde a
sua independência em 1811, até a guerra, tivera apenas três governantes: Francia, Carlos Antônio Lopez

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e seu filho Francisco Solano Lopez. O governo paraguaio não era democrático, como não era nenhum
dos outros governos latino-americanos.
Apesar disso, o governo paraguaio, mais do que qualquer outro do continente, realizava uma política
favorável às camadas populares. Desde os tempos de Francia, a elite agrária fora progressivamente
eliminada, e suas terras expropriadas pelo governo e entregues em usufruto aos trabalhadores rurais. O
mesmo acontecera com a exploração de madeira e erva-mate, produtos monopolizados pelo Estado.
Assim, em meados do século XIX, o padrão médio de vida do povo paraguaio superava o de qualquer
outro povo latino-americano: o analfabetismo fora quase erradicado e era garantido o emprego, a
moradia, alimentação e vestuário para a maioria das famílias. Embora pobre, o Paraguai não tinha dívida
externa, suas riquezas não eram exploradas por estrangeiros e estava começando a criar um parque
industrial próprio.

As causas da guerra
Em 1850, brasil e Paraguai assinaram um tratado comprometendo-se a defender a independência do
Uruguai. Pouco depois, Paraguai e Uruguai assinaram um novo tratado, estabelecendo que se qualquer
vizinho invadisse um desses países, o outro lhe prestaria imediato auxilio militar. Por isso, em agosto de
1864, quando o Brasil já ameaçava claramente invadir o Uruguai para derrubar o governo de Aguirre, o
presidente paraguaio, Solano Lopez, comunicou ao Império que consideraria a invasão atentatória ao
equilíbrio político do Prata e agiria conforme essa convicção.
Mesmo assim, em setembro de 1864, o governo imperial ordenou o ataque ao Uruguai. Com base nos
tratados anteriores e na certeza de que seriam as próximas vítimas, os paraguaios reagiram: em
novembro, aprisionaram o navio Brasileiro “Marquês de Olinda” em frente a assunção, e logo em seguida,
Solano Lopez declarou guerra ao Brasil.
Entre novembro de 1864 e maio de 1865, a guerra envolveu apenas Brasil e Paraguai. A partir dessa
data, com a oficialização da Tríplice Aliança, o Paraguai passou a enfrentar Brasil, Argentina e Uruguai.
O balanço das forças, ao iniciar-se a guerra, era o seguinte: Brasil, 18000 soldados; Argentina, 8000;
Uruguai, 1500; Paraguai, 60000. Apesar da vantagem no tamanho das tropas, o Paraguai enfrentava um
grande número de desvantagens em relação aos inimigos.
Os aliados tinham 13 milhões de habitantes, contra 800 mil do Paraguai, a dimensão territorial dos
inimigos impedia que os paraguaios os ocupassem efetivamente. A única via de comunicação do
Paraguai com o resto do mundo era o rio da Prata, facilmente bloqueável pelos aliados, que também
contavam com superioridade naval: o Brasil possuía 42 navios, enquanto o Paraguai possuía apenas 14
e apenas 3 estavam preparados para a guerra. A última grande vantagem dos países inimigos era o apoio
financeiro constante da Inglaterra, enquanto o Paraguai lutava sozinho.
Sob o ponto de vista militar, a Guerra do Paraguai pode ser dividida em quatro grandes fases:
-Ofensiva paraguaia (dezembro de 1864 a dezembro de 1865); a iniciativa militar coube aos
paraguaios e a guerra desenrolou-se em território brasileiro e argentino;
-Invasão do Paraguai (de janeiro de 1866 a janeiro de 1868): a guerra já em território paraguaio, foi
comandada pelo aliado general Mitre;
-Comando de Caxias (de janeiro de 1868 a janeiro de 1869): Caxias assumiu o comando geral dos
Aliados;
-Campanha da Cordilheira (janeiro de 1869 a março de 1870): sob o comando de Conde D’Eu,
destruiu-se o remanescente do exército paraguaio.

As consequências da Guerra
A Guerra do Paraguai teve consequências dramáticas para ambos os lados.
O Paraguai ficou completamente destruído, e perdeu 150000 km² de territórios cedidos ao Brasil e à
Argentina. Durante a ocupação aliada (1870-1876), o nascente parque industrial paraguaio foi totalmente
destruído pelos aliados, sendo a fundição de Ibicuí completamente demolida. A ferrovia foi vendida a
preço de sucata para os ingleses e as reservas de mate e madeira vendidas para empresas estrangeiras.
As terras públicas que eram cultivadas pelos camponeses passaram para as mãos de banqueiros
ingleses, holandeses e estadunidenses, que passaram a aluga-las aos próprios paraguaios.
Além desses aspectos, a consequência mais trágica da guerra foi a dizimação da população paraguaia:
estima-se que 75% da população paraguaia tenha morrido em decorrência da guerra, com 90% da
população masculina dizimada.

A Crise do Império
A partir da década de 1870, o império entra em um declínio que resultará, 19 anos mais tarde, no seu
fim, com a Proclamação da República em 1889. Entre os principais motivos para o fim do império brasileiro

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estão a organização do exército após a Guerra do Paraguai, a expansão do café, a questão religiosa e a
questão abolicionista.
Desde que o tráfico negreiro fora proibido, na década de 1850, acreditava-se que o império, sustentado
e mantenedor da mão-de-obra escrava, pouco a pouco iria enfraquecer. Como forma de garantir que
escravos libertos ou imigrantes adquirissem o direito de posse de terras, nos mesmo anos, como
estudamos acima, foi promulgada a lei de terras, beneficiando os interesses dos latifundiários.
Garantida a posse da terra, resta um problema. Quem produzirá, se não haverá mais escravos?
A resposta encontrada estava na imigração europeia, atendendo aos critérios do Darwinismo Social,
que pregava que o progresso do Europa em relação aos outros continentes estava relacionado ao fato
de seus habitantes, brancos, serem mais inteligentes e capazes que outros povos.
O principal setor a receber trabalhadores europeus foi o cafeeiro, que se destacava cada vez mais,
despontando como principal produto da exportação brasileira. Ao mesmo tempo em que o trabalho
escravo era substituído pelo trabalho assalariado, a sociedade modificava-se e novos grupos sociais
emergiam, exigindo modificações no plano político. A nova aristocracia cafeeira constituía uma classe
progressista e interessada em exercer o poder, sem as peias criadas pelo regime instituído em 1822 e
consolidado após 1840. Por outro lado, as camadas médias urbanas, ligadas ao setor terciário e ao
funcionalismo público, também aspiravam a mudanças políticas. A oligarquia paulista do café lançará em
1870 o Manifesto Republicano, e se lançará à Campanha Republicana, visando um Estado federativo
Outra força que se conjugará à luta contra o regime monárquico será o Exército. Este, havia se
organizado de forma absolutamente nova, moderna, para as condições brasileiras. A Guerra do Paraguai
(1865-1870) trouxera essa necessidade. A partir de agora o Exército tinha uma estrutura hierárquica
organizada, e com um destaque maior do que havia recebido desde a Proclamação da Independência
em 1822, com alguns setores do exército fazendo parte de movimentos contrários ao imperador. Com a
criação da Guarda nacional, durante a Regência, o exército tivera ainda menos importância, relegado ao
segundo plano, com as atenções voltadas para a Marinha.
Outro fator que contribuiu para o desgaste do império foi a relação com a Igreja. Desde 1824, com a
promulgação da Constituição, o Brasil era oficialmente um país de religião Católica Apostólica Romana,
sendo a Igreja subordinada ao Estado, que arcava com o pagamento de padres e bispos, podendo
também interferir em algumas decisões tomadas.
Em 1860, o papa Pio IX publicou Bula Syllabus, que determinava que membros da maçonaria não
poderiam pertencer às irmandades católicas. A proibição não foi acatada pelo imperador, porém os bispos
D. Vital (de Olinda) e D. Macedo (de Belém), seguiram as ordens do pontífice e suspenderam as
irmandades que descumpriam a regra papal. Apesar de serem poucos os maçons nas irmandades, o
grupo possuía um grande poder político, e suas reclamações chegaram ao imperador, que mandou
prender os dois bispos, que foram condenados a quatro anos de trabalhos forçados. O atrito demonstrou
a necessidade da separação entre Estado e Igreja, e só foi resolvido com a anistia dos bispos e na
suspensão das proibições papais.
Com graves problemas de saúde, em meados da década de 1880, D. Pedro II parte para a Europa em
busca de tratamento. Em seu lugar fica a Princesa Isabel, que buscando acalmar a tensão e as
reclamações de alguns setores da sociedade, em 1888 resolve libertar definitivamente os escravos, o que
na verdade acabou piorando a situação da monarquia. A questão sucessória também era um problema.
Os herdeiros do trono, D. Afonso, e posteriormente D. Pedro Afonso, haviam morrido, ficando a sucessão
para a Princesa Isabel, casada com o Conde D’Eu, um francês que não era bem visto para alcançar o
poder. Em 15 de novembro de 1889, em um movimento sem lutas, e de participação quase exclusiva de
militares, acaba o império brasileiro e tem início a República.

Questões

01. O período monárquico no Brasil costuma ser dividido em três momentos distintos: Primeiro Reinado
(1822-1831); Regências (1831 1840) e Segundo Reinado (1840-1889). Sobre as principais questões que
marcaram esses momentos, assinale a alternativa incorreta.
(A) A Guerra do Paraguai marcou o Primeiro Reinado e foi a grande responsável pelo enfraquecimento
do poder de D. Pedro I, resultando na Independência do Brasil.
(B) A primeira etapa da monarquia brasileira teve dificuldades para se consolidar, o Primeiro Reinado
foi curto e marcado por tumultos e conflitos entre D. Pedro I - que era português com os brasileiros.
(C) A primeira Constituição Brasileira foi outorgada em 1824, por D. Pedro I.
(D) A segunda etapa da história do Brasil monárquico inicia-se em 1831, com a renúncia de D. Pedro
I em favor do filho Pedro de Alcântara, com apenas cinco anos de idade.

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(E) O terceiro momento da monarquia no Brasil inicia-se com o reinado de Dom Pedro II, período
marcado pela centralização do poder de um lado e pelas disputas político-partidárias entre liberais e
conservadores, de outro.

02. O Período Regencial (1831-1840) foi marcado por uma série de revoltas em vários pontos do Brasil.
Sobre as revoltas ocorridas no Período Regencial, indique qual das alternativas abaixo está incorreta:
(A) Balaiada, no Maranhão.
(B) Sabinada, na Bahia.
(C) Inconfidência Mineira, em Minas Gerais.
(D) Revolta Farroupilha, no Sul do país.

03. (UEL-PR) “[...] explodiu na província do Grão-Pará o movimento armado mais popular do Brasil
[...]. Foi uma das rebeliões brasileiras em que as camadas inferiores ocuparam o poder.”
Ao texto podem-se associar:
(A) a Regência e a Cabanagem.
(B) o Primeiro Reinado e a Praieira.
(C) o Segundo Reinado e a Farroupilha.
(D) o Período Joanino e a Sabinada.
(E) a abdicação e a Noite das Garrafadas.

04. A criação da Guarda Nacional, em 1831, durante o governo regencial, teve como um de seus
objetivos.
(A) Apoiar o governo de Pedro I na consolidação da independência.
(B) defender a integridade das fronteiras ameaçadas de invasão
(C) Conter as agitações e amotinações que ameaçavam a Nação
(D) Combater a influência da aristocracia rural na vida política.

05. (Fatec) Em 4 de setembro de 1850, foi sancionada no Brasil a Lei Eusébio de Queirós (ministro da
Justiça), que abolia o tráfico negreiro em nosso país. Em decorrência dessa lei, o governo imperial
brasileiro aprovou outra, "a Lei de Terras".
Dentre as alternativas a seguir, assinale a correta.
(A) A Lei de Terras facilitava a ocupação de propriedades pelos imigrantes que passaram a chegar ao
Brasil.
(B) A Lei de Terras dificultou a posse das terras pelos imigrantes, mas facilitou aos negros libertos o
acesso a elas.
(C) O governo imperial, temendo o controle das terras pelo coronéis, inspirou-se no "Act Homesteade"
americano, para realizar uma distribuição de terras aos camponeses mais pobres.
(D) A Lei de Terras visava a aumentar o valor das terras e obrigar os imigrantes a vender sua força de
trabalho para os cafeicultores.
(E) O objetivo do governo imperial, com esta lei, era proteger e regularizar a situação das dezenas de
quilombos que existiam no Brasil.

Respostas

01. Resposta A.
A Guerra do Paraguai ocorre somente durante o segundo reinado, quando D. Pedro II estava no trono.
A abdicação de D. Pedro I ocorre somente em 1831, ou seja, quase dez anos após a Proclamação da
Independência.

02. Resposta C.
A Inconfidência Mineira, ao contrário das outras revoltadas citadas, ocorre durante o Período Colonial,
e não o Regencial, como pede a questão

03. Resposta A.
O período Regencial foi marcado por inúmeras revoltas, na maioria descontentes com o governo
imperial, mas também com os grandes proprietários rurais. Assim como a Cabanagem, a Farroupilha
também ocorreu no mesmo período, porém no Rio Grande do Sul.

04. Resposta C.

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A grande quantidade de revoltas e descontentamento com o governo obrigou-o a criar uma maneira
de conter os conflitos que se espalhavam pelo país.

05. Resposta D.
Com o fim do tráfico negreiro, era necessário encontrar uma nova mão-de-obra que pudesse substituir
a força de trabalho deixada pelo escravo. A regularização nas vendas, juntamente com aumento de
preços foi a solução encontrada para evitar a concorrência de imigrantes, que deveriam se submeter ao
trabalho assalariado para sobreviver, já que muitos não conseguiriam adquirir uma propriedade no
momento em que chegassem ao Brasil.

Brasil República
A palavra República possui várias interpretações, sendo a mais comum a identificação de um sistema
de governo cujo Chefe de Estado é eleito através do voto dos cidadãos ou de seus representantes, com
poderes limitados e com tempo de governo determinado.
A República tem seu nome derivado do termo em latim Res publica, que significa algo como “coisa
pública” ou “coisa do povo”.
Em 15 de novembro de 1889 foi instituída a Republica no Brasil. Entre os fatores responsáveis para o
acontecimento, estão a crise que se instalou sobre o império, os atritos com a Igreja e o desgaste
provocado pela abolição da escravidão. Com a Guerra do Paraguai e o fortalecimento exército, os ideais
republicanos começaram a ganhar força, sendo abraçados também por parte da elite cafeicultora do
Oeste Paulista.

O Movimento Republicano e a Proclamação da República


Mesmo com a manutenção do sistema escravista e de latifúndio exportador, na segunda metade do
século XIX o Brasil começou a experimentar mudanças, tanto na economia como na sociedade.
O café, que vinha ganhando destaque, cresceu ainda mais quando cultivado no Oeste Paulista.
Juntamente com o café, na região amazônica a borracha também ganhava mercado, principalmente após
a descoberta do processo de vulcanização, feito por Charles Goodyear em 1839. Com a ameaça do fim
da escravidão, começaram os incentivos para a vinda de trabalhadores assalariados, gerando o
surgimento de um modesto mercado interno, além da criação de pequenas indústrias. Surgiram diversos
organismos de crédito e as ferrovias ganhavam cada vez mais espaço, substituindo boa parte dos
transportes terrestres, marítimos e fluviais.
As mudanças citadas acima não alcançaram todo o território brasileiro. Apenas a porção que hoje
abrange as regiões Sul e Sudeste foi diretamente impactadas, levando inclusive ao crescimento dos
núcleos urbanos. Em outras partes, como na região Nordeste por exemplo, o cultivo da cana-de-açúcar
e do algodão, que por muito tempo representaram a maior parte das exportações nacionais, entravam
em declínio.
Muitos dos produtores e também da população dessas regiões em desenvolvimento passavam a
questionar o centralismo político existente no império brasileiro, que tirava a autonomia local. A solução
para resolver os problemas advindos da mudança pela qual o país passava foi encontrada no sistema
federalista, capaz de garantir a tão desejada autonomia regional. Não é de se espantar que entre os
principais apoiadores do sistema federalista estivessem os produtores de café do oeste paulista, que
passavam a reivindicar com mais força seus interesses econômicos.
O ideal de federação, que se adequava aos anseios dos vários grupos políticos do Brasil, só seria
atingido com uma República Federativa. O desgaste enfrentado pelo império brasileiro, evidenciado na
questão religiosa, na questão escravista e na questão militar são fatores importantes para entender e
completar a lista de fatores que levaram à proclamação de uma República em 1889.
Desde o período colonial eclodiram diversos movimentos baseados nos ideais republicanos. A
Inconfidência Mineira de 1789 e a Conjuração Baiana de 1798 são exemplos que buscavam a separação
de seus territórios do poder colonial e a implantação de repúblicas, em oposição ao domínio real.
Apesar das influências republicanas nas revoltas e tentativas de separação desde o século XVIII, foi
apenas na década de 1870, com a publicação do Manifesto Republicano, que o ideal foi consolidado
através da sistematização partidária.
O Manifesto foi publicado em 3 de dezembro de 1870, no jornal A República, redigido por Quintino
Bocaiúva, Saldanha Marinho e Salvador de Mendonça, e assinado por cinquenta e oito cidadãos, entre
políticos, fazendeiros, advogados, jornalistas, médicos, engenheiros, professores e funcionários públicos.
Defendia o federalismo (autonomia para as Províncias administrarem seus próprios negócios) e criticava
o poder pessoal do imperador.

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A formação do Partido Republicano no Brasil está ligada à queda do Gabinete de Zacarias de Góes,
motivada por questão pessoal com o Duque de Caxias, e a cisão dos liberais em radicais e moderados.
A facção radical adotou, em sua maioria, ideais republicanos.
Após a publicação do Manifesto, entre 1870 e 1889 os ideais republicanos espalharam-se rapidamente
pelo país. Um dos principais frutos foi o Partido Republicano Paulista, fundado na Convenção de Itu em
1873 e marcado pela heterogeneidade de seus membros e da efetiva participação dos cafeicultores do
Oeste Paulista.
Os republicanos brasileiros divergiam em seus ideais, criando duas tendências dentro do partido: A
Tendência Evolucionista e a Tendência Revolucionária.
Defendida por Quintino Bocaiuva, a Tendência Evolucionista partia do princípio de que a transição do
império para a república deveria ocorrer de maneira pacífica, sem combates. De preferência após a morte
do imperador.
Já a Tendência Revolucionária, defendida por Silva Jardim e Lopes Trovão, dizia que a República
precisava “ser feita nas ruas e em torno dos palácios do imperante e de seus ministros” e que não se
poderia “dispensar um movimento francamente revolucionário”. A eleição de Quintino Bocaiuva (maio de
1889) para a chefia do Partido Republicano Nacional expurgou dos quadros republicanos as ideias
revolucionárias.
O final da Guerra do Paraguai (1870) provocou o recrudescer dos antagonismos entre o Exército e a
Monarquia; entre o grupo militar e o Civilismo do governo; entre o "homem-de-farda" e o "homem-de-
casaca". O exército institucionalizava-se. Os militares sentiam-se mal recompensados e desprezados
pelo Império. Alguns jovens oficiais, influenciados pela doutrina de Augusto Comte (positivismo) e
liderados por Benjamin Constant, sentiam-se encarregados de uma "missão salvadora" e estavam
ansiosos por corrigir os vícios da organização política e social do país. A "mística da salvação nacional"
não era aliás privativa deste pequeno grupo de jovens. Muitos oficiais mais graduados compartilhavam
das mesmas ideias. Generalizara-se entre os militares a ideia de que só os homens de farda eram "puros"
e "patriotas", ao passo que os civis, os "casacas" como diziam, eram corruptos, venais e sem nenhum
sentimento patriótico.
No ano de 1888, a abolição da escravidão, promovida pelas mãos da princesa Isabel deu o último
passo em direção ao fim da Monarquia Brasileira. O latifúndio e a sociedade escravista que justificavam
a presença de um imperador enérgico e autoritário, não faziam mais sentido às novas feições da
sociedade brasileira do século XIX. Os clubes republicanos já se espalhavam em todo o país e naquela
mesma época diversos boatos davam conta sobre a intenção de Dom Pedro II em reconfigurar os quadros
da Guarda Nacional.
O Visconde de Ouro Preto, membro do Partido Liberal, foi nomeado presidente do Conselho em junho
de 1889. O novo governo precisava remover os obstáculos representados pelo republicanismo e pelos
militares descontentes. Para vencer o primeiro, apresentou um programa de amplas reformas: liberdade
de culto, autonomia para as províncias, temporariedade dos mandatos dos senadores, ampliação
do direito de voto e Conselho de Estado com funções meramente administrativas. Acusado tanto
de radical como de moderado, o programa foi rejeitado pela Câmara dos Deputados. Diante disso, ela foi
dissolvida, provocando protestos gerais. Contra o exército, Ouro Preto agiu tentando reorganizar a
Guarda Nacional e removendo batalhões suspeitos. A situação tornou-se tensa. Os republicanos
instigavam os militares contra o governo.
A ameaça de deposição e mudança dentro do exército serviu de motivação suficiente para que o
Marechal Deodoro da Fonseca agrupasse as tropas do Rio de Janeiro e invadisse o Ministério da Guerra.
Segundo alguns relatos, os militares pretendiam inicialmente exigir somente a mudança do Ministro da
Guerra. No entanto, a ameaça militar foi suficiente para dissolver o gabinete imperial e proclamar a
República.
A Proclamação resultou da conjugação de duas forças: o exército, descontente, e o setor cafeeiro
da economia, pretendendo este eliminar a centralização vigente por meio de uma República Federativa
que imporia ao país um sistema favorável a seus interesses.
Portanto, a Proclamação não significou uma ruptura no processo histórico brasileiro: a economia
continuou dependente, baseada no setor agroexportador. Afora o trabalho assalariado, o sistema de
produção continuou o mesmo e os grupos dominantes continuaram a sair da camada social dos grandes
proprietários. Houve apenas uma modernização institucional.
O golpe militar promovido em 15 de novembro de 1889 foi reafirmado com a proclamação civil de
integrantes do Partido Republicano, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Ao contrário do que
aparentou, a proclamação foi consequência de um governo que não mais possuía base de sustentação
política e não contou com intensa participação popular. Conforme salientado pelo ministro Aristides Lobo,
a proclamação ocorreu às vistas de um povo que assistiu tudo de forma bestializada.

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O Governo Provisório e a República da Espada
Proclamada a República, o primeiro desafio era estabelecer um governo. O Marechal Deodoro da
Fonseca ficou responsável por assumir a função de Presidente até que um novo presidente fosse eleito.
Os primeiros atos decretados por Deodoro foram o banimento da Família Real do Brasil, estabelecimento
de uma nova bandeira nacional, separação entre Estado e Igreja (criação de um Estado Laico, porém não
laicista), liberdade de cultos, secularização dos cemitérios e a Grande Naturalização, ato que garantiu a
todos os estrangeiros que moravam no Brasil a cidadania brasileira, desde que não manifestassem dentro
de seis meses a vontade de manter a nacionalidade original.
No plano econômico, Rui Barbosa assumiu o cargo de Ministro da Fazenda, lançando uma política de
incentivo ao setor industrial, caracterizada pela facilitação dos créditos bancários, a especulação de ações
e a emissão de papel-moeda em excesso. As medidas tomadas por Rui Barbosa, que buscavam
modernizar o país, acabaram por gerar uma forte crise que provocou o aumento da inflação e da dívida
pública, a quebra de bancos e empobrecimento de pequenos investidores. Essa dívida ficou conhecida
como Encilhamento.
Em 24 de fevereiro de 1891 foi eleito um Congresso Constituinte, responsável por promulgar a
primeira Constituição republicana brasileira, elaborada com forte influência do modelo norte-americano.
O Poder Moderador, de uso exclusivo do imperador, foi extinto, assim como o cargo de Primeiro-Ministro,
a vitaliciedade dos senadores, as eleições legislativas indiretas e o voto censitário.
Em relação ao poder do Estado, foi adotado o sistema de tripartição entre Executivo, Legislativo e
Judiciário, com um sistema presidencialista de voto direto com mandato de 4 anos sem reeleição. As
províncias, que agora eram denominadas Estados, foram beneficiadas com uma maior autonomia através
do Sistema Federalista.
Em relação ao voto, antes censitário, foi declarado o sufrágio universal masculino, ou seja, “todos”
os homens alfabetizados e maiores de 21 anos poderiam votar. Na prática o voto ainda continuava
restrito, visto que eram excluídos os mendigos, os padres e os praças (soldados de baixa patente). No
Brasil de 1900, cerca de 35%8 da população era alfabetizada. Desse total ainda estavam excluídas as
mulheres, já que mesmo sem uma regra explícita de proibição na constituição, “considerou-se
implicitamente que elas estavam impedidas de votar” 9
A constituição também determinava que a primeira eleição para presidente deveria ser indireta, através
do Congresso. Deodoro da Fonseca venceu a eleição por 129 votos a favor e 97 contra, resultado
considerado apertado na época. Para o cargo de vice-presidente o Congresso elegeu o marechal Floriano
Peixoto.
A atuação de Deodoro foi encarada com suspeita pelo Congresso, já que ele buscava um
fortalecimento do Poder Executivo, baseado no antigo Poder Moderador. Deodoro substituiu o ministério
que vinha do governo provisório por um outro, que seria comandado pelo Barão de Lucena, tradicional
político monárquico. Em 3 de novembro de 1891 o presidente fechou o Congresso, prometendo novas
eleições e a revisão da Constituição.
A intenção do marechal era limitar e igualar a representação dos Estados na Câmara, o que atingia os
grandes Estados que já possuíam uma participação maior na política. Sem obter o apoio desejado dentro
das forças armadas, Deodoro acabou renunciando em 23 de novembro de 1891, assumindo em seu lugar
o vice Floriano Peixoto.
Floriano tinha uma visão de República baseada na construção de um governo estável e centralizado,
com base no exército e no apoio dos jovens das escolas civis e militares. A visão de Floriano chocava-se
diretamente com a visão dos grandes fazendeiros, principalmente os produtores de café de São Paulo,
que almejavam um Estado liberal e descentralizado. Apesar das diferenças, o presidente e os fazendeiros
conviveram em certa harmonia, pela percepção de que sem Floriano a República corria o risco de acabar,
e sem o apoio dos fazendeiros, Floriano não conseguiria governar.
Os dois primeiros governos republicanos no Brasil ganharam o nome de República da Espada devido
ao fato de seus presidentes serem membros do exército.

Presidentes do Brasil na Primeira República

1- Marechal Manuel Deodoro da Fonseca


Governo Provisório: 15.11.1889 a 25.02.1891

Governo Constitucional - Eleito por voto indireto


Período de Governo:
8 Souza, Marcelo Medeiros Coelho de. O analfabetismo no brasil sob enfoque demográfico. Cad. Pesqui., Jul 1999, no.107, p.169-186. ISSN 0100-1574
9 FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo : Edusp, 1999. Página 251.

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26.02.1891 a 23.11.1891
Vice-Presidente:
Marechal Floriano Vieira Peixoto
Observação: Renunciou ao cargo de presidente da República em 23.11.1891.

2- Marechal Floriano Vieira Peixoto


Período de Governo:
23.11.1891 a 15.11.1894
Assumiu com a renúncia do titular e governou até o final do mandato.
Governo Constitucional - Eleito por voto popular

3- Prudente José de Morais e Barros


Período de Governo:
15.11.1894 a 15.11.1898
Vice-Presidente:
Manuel Vitorino Pereira

4- Manuel Ferraz de Campos Salles


Período de Governo:
15.11.1898 a 15.11.1902
Vice-Presidente:
Francisco de Assis Rosa e Silva

5- Francisco de Paula Rodrigues Alves


Período de Governo:
15.11.1902 a 15.11.1906
Vice-Presidente:
Afonso Augusto Moreira Pena

6- Affonso Augusto Moreira Penna


Período de Governo:
15.11.1906 a 14.06.1909
Vice-Presidente:
Nilo Procópio Peçanha
Observação: Faleceu em 14.06.1909, sendo substituído pelo vice-presidente.

7- Nilo Procópio Peçanha


Período de Governo:
14.06.1909 a 15.11.1910

8- Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca


Período de Governo:
15.11.1910 a 15.11.1914
Vice-Presidente:
Wenceslau Braz Pereira Gomes

9- Wenceslau Braz Pereira Gomes


Período de Governo:
15.11.1914 a 15.11.1918
Vice-Presidente:
Urbano Santos da Costa Araújo

10- Delfim Moreira da Costa Ribeiro


Período de Governo:
15.11.1918 a 28.07.1919
Observação: Vice-presidente de Rodrigues Alves, que adoeceu e morreu antes da posse. Moreira
exerceu a Presidência até 28.07.1919 quando foi feita nova eleição.

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11- Epitácio Lindolfo da Silva Pessoa
Período de Governo:
28.07.1919 a 15.11.1922
Vice-Presidente:
Francisco Álvaro Bueno de Paiva

12- Arthur da Silva Bernardes


Período de Governo:
15.11.1922 a 15.11.1926
Vice-Presidente:
Estácio de Albuquerque Coimbra

13- Washington Luís Pereira de Sousa


Período de Governo:
15.11.1926 a 24.10.1930
Vice-Presidente:
Fernando de Mello Vianna

A Revolução Federalista
Desde o período imperial, o Rio Grande do Sul fora palco de protestos e indignações com o governo,
como pode ser observado na Revolução Farroupilha, que durou de 1835 até 1845. Com a Proclamação
da República, a política no Estado manteve-se instável, com diversas trocas no cargo de presidente
estadual. Conforme aponta Fausto, entre 1889 e 1893, dezessete governos se sucederam no comando
do Estado10, até que Júlio de Castilhos assumiu o poder no Estado.
Dois grupos disputavam o controle do Rio Grande do Sul: o Partido Republicano Rio-grandense
(PRR) e o Partido Federalista (PF).
O Partido Republicano era composto por políticos defensores do positivismo, apoiadores de Júlio de
Castilhos e de Floriano Peixoto. Sua base política era composta principalmente de imigrantes e habitantes
do litoral e da Serra do Rio Grande do Sul, formando uma elite política recente. Durante o conflito foram
conhecidos como Pica-paus
O Partido Federalista defendia um sistema de governo parlamentarista e a revogação da constituição
do Estado, de caráter positivista. Foi fundado em 1892 e tinha como líder o político Silveira Martins,
conhecida figura política do Partido Liberal durante o império. A base de apoio do Partido Federalista era
composta principalmente de estancieiros de campanha, que dominaram a cena política durante o império.
Durante o conflito ganharam o apelido de Maragatos.
O conflito teve início em fevereiro de 1893, quando os federalistas, descontentes com a imposição do
governo de Júlio de Castilhos, pegaram em armas para derrubar o presidente estadual. Desde o início da
revolta, Floriano Peixoto, então presidente do Brasil, colocou-se do lado dos republicanos. Os opositores
de Floriano em todo o país passaram a apoiar os federalistas.
No final de 1893 os federalistas ganharam o apoio da Revolta Armada que teve início no Rio de
Janeiro, causada pelas rivalidades entre o exército e a marinha e o descontentamento do almirante
Custódio José de Melo, frustrado em sua intenção de suceder Floriano Peixoto na presidência. Parte da
esquadra naval comandada pelo almirante deslocou-se para o Sul, ocupando a cidade de Desterro (atual
Florianópolis), em Santa Catarina, e a partir daí ocupando parte do Paraná e a capital Curitiba. O
prolongamento do conflito, com grandes custos aos revoltosos, levou à decisão de recuar e manter-se no
Rio Grande do Sul. A revolta teve fim somente em agosto de 1895, quando os combatentes maragatos
depuseram as armas e assinaram um acordo de paz com o presidente da república, garantindo a anistia
para os participantes do conflito. Apesar de curta, a Revolução Federalista teve um saldo de mais de
10.000 mortos, a maior parte deles de prisioneiros capturados em conflitos e mortos posteriormente, o
que garantiu o apelido de “revolução da degola”.

Características da Primeira Republica


O período que vai de 1889, data da Proclamação da República, até 1930, quando Getúlio Vargas
assumiu o poder, é conhecido como Primeira República. O período é marcado pela dominação de poucos
grupos políticos, conhecidos como oligarquias, pela alternância de poder entre os estados de São Paulo
e Minas Gerais (política do café-com-leite), e pelo poder local exercido pelos Coronéis.

10 FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1999. Página 255.

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Com a saída dos militares do governo em 1894, teve início o período chamado República das
Oligarquias. A palavra Oligarquia vem do grego oligarkhía, que significa “governo de poucos”. Os grupos
dominantes, em geral ligados ao café e ao gado, impunham sua vontade sobre o governo, seja pela via
legal, seja através de fraudes nas votações e criação de leis específicas para beneficiar o grupo
dominante.

O Coronelismo
Durante o período regencial, espaço entre a abdicação de D. Pedro I e a coroação de D. Pedro II,
diversas revoltas e tentativas de separação e instalação de uma república aconteceram no Brasil. Sem
condições de controlar todas as revoltas, o governo regencial, pela sugestão de Diogo Feijó, criou a
Guarda Nacional, com o propósito de defender a constituição, a integridade, a liberdade e a
independência do Império Brasileiro. Sua criação desorganiza o Exército, e começa a se constituir no país
uma força armada vinculada diretamente à aristocracia rural, com organização descentralizada, composta
por membros da elite agrária e seus agregados. Para compor os quadros da Guarda nacional era
necessário possuir amplos direitos políticos, ou seja, pelas determinações constitucionais, poderiam fazer
parte dela apenas aqueles que dispusessem de altos ganhos anuais.
Com a criação da Guarda e suas exigências para participação, surgiram os coronéis, que eram
grandes proprietários rurais que compravam suas patentes militares do Estado. Na prática, eles foram
responsáveis pela organização de milícias locais, responsáveis por manter a ordem pública e proteger os
interesses privados daqueles que as comandavam. O coronelismo esteve profundamente enraizado no
cenário político brasileiro do século XIX e início do século XX.
Após o fim da República da Espada, os grupos ligados ao setor agrário ganharam força na política
nacional, gerando uma maior relevância para os coronéis no controle dos interesses e na manutenção da
ordem social. Como comandantes de forças policiais locais, os coronéis configuravam-se como uma
autoridade quase inquestionável nas áreas rurais.
A autoridade do coronel, além de usada para manter a ordem social, era exercida principalmente
durante as eleições, para garantir que o candidato ou grupo político que ele representasse saísse
vencedor. A oposição ao comando do coronel poderia resultar em violência física, ameaças e
perseguições, o que fazia com que muitos votassem a contragosto, para evitar as consequências de
discordar da autoridade local, gerando uma prática conhecida como Voto de Cabresto.

A charge do gaúcho Alfredo Storni feita em 1927 critica uma prática bastante utilizada durante a República Velha, conhecida como voto de cabresto. Na
imagem, a mulher, identificada como soberania, pergunta ao político se o eleitor, caracterizado como burro de carga e preso a um cabresto, trata-se do “Zé Besta”,
ao passo em que o político que o conduz responde que na verdade é o “Zé Burro”.

Na república velha, o sistema eleitoral era muito frágil e fácil de ser manipulado. Os coronéis
compravam votos para seus candidatos ou trocavam votos por bens materiais. Como o voto era aberto,
os coronéis mandavam os capangas para os locais de votação, com o objetivo de intimidar os eleitores e
ganhar os votos. As regiões controladas politicamente pelos coronéis eram conhecidas como currais
eleitorais.
Os coronéis costumavam alterar votos, sumir com urnas e até mesmo patrocinavam a prática do voto
fantasma. Este último consistia na falsificação de documentos para que pessoas pudessem votar várias
vezes ou até mesmo utilizar o nome de falecidos nas votações.
Dessa forma, a vontade política do coronel era atendida, garantindo que seus candidatos fossem
eleitos em nível municipal e também estadual, e garantindo também participação na esfera federal.

Prudente de Morais
Floriano tentou garantir que seu sucessor fosse um aliado político, porém as poucas bases de apoio
de que dispunha não lhe foram suficientes para concretizar o desejo. No dia 1 de março de 1894 foi eleito

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o paulista Prudente de Morais, encerrando o governo de membros do exército, que só voltariam ao poder
em 1910, com a eleição do marechal Hermes da Fonseca.
Prudente buscou desvincular o exército do governo, substituindo os cargos que eram ocupados por
militares por civis, principalmente representantes da cafeicultura, promovendo uma descentralização do
poder.
A oposição ao governo cresceu, principalmente por parte dos jacobinos, formados por membros da
baixa classe média, operários e militares de baixa patente. Suas principais bandeiras eram a de uma
república forte, em oposição às tendências liberais, antimonarquistas e antilusitanas.

Campos Salles
Em 1898 o paulista Manuel Ferraz de Campos Salles assumiu a presidência no lugar de Prudente de
Morais. Antes mesmo de assumir o governo, Campos Salles renegociou a dívida brasileira, que vinha se
arrastando desde os tempos do império. Para resolver a situação, ele se reuniu com os credores e
estabeleceu um acordo chamado Funding-Loan. Este acordo consistia no seguinte: o Brasil fazia
empréstimos e atrasava o pagamento da dívida, fazendo concessões aos banqueiros nacionais. Como
consequência a indústria e o comércio foram afetados e as camadas pobres e a classe média também
foram prejudicadas.
A transição de governos consolidou o poder das oligarquias de São Paulo e Minas Gerais no poder. O
único entrave para um governo harmônico eram as disputas políticas entre as oligarquias locais nos
Estados. O governo federal acabava intervindo nas disputas, porém, a incerteza de uma colaboração
duradoura entre os Estados e a União ainda permanecia. Outro fator que não permitia uma plena
consolidação política era a vontade do executivo em impor-se ao legislativo, mesmo com a afirmação na
Constituição de que os três poderes eram harmônicos e independentes e si.
A junção desses fatores levou Campos Salles a criar um arranjo político capaz de garantir a
estabilidade e controlar o legislativo, que ficou conhecido como Política dos Governadores.
Basicamente, a política dos governadores apoiava-se em uma ideia simples: o presidente apoiava as
oligarquias estaduais mais fortes, e em troca, essas oligarquias apoiavam e votavam nos candidatos
indicados pelo presidente.
Na Câmara dos Deputados, uma mudança simples garantiu o domínio. Conhecida como Comissão
de Verificação de poderes, essa ferramenta permitia decidir quais políticos deveriam integrar a Câmara
e quais deveriam ser “degolados”, que na gíria política da época significava ser excluído.
Quando ocorriam eleições para a Câmara, os vencedores em cada estado recebiam um diploma. Na
falta de um sistema de justiça eleitoral, ficava a cargo da comissão determinar a validade do diploma. A
comissão era escolhida pelo presidente temporário da nova Câmara eleita, o que até antes da reforma
de Campos Salles significava o mais velho parlamentar eleito. Com a reforma, o presidente da nova
Câmara deveria ser o presidente do mandato anterior, desde que reeleito. Dessa forma, o novo presidente
da Câmara seria sempre alguém ligado ao governo, e caso algum deputado oposicionista ou que
desagradasse o governo fosse eleito, ficava mais fácil remove-lo do poder.

Convênio de Taubaté
Desde o período imperial O café figurava como principal produto de exportação brasileiro,
principalmente após a segunda década do século XIX. Consumido em larga escala na Europa e nos
Estados Unidos, o cultivo da planta espalhou-se pelo vale do Paraíba fluminense e paulista. Continuando
sua marcha ascendente, houve expansão dos cafeeiros na província de Minas Gerais (Zona da Mata e
sul do estado), ao mesmo tempo em que a produção se consolidava no interior de São Paulo,
principalmente no “Oeste Paulista”.
As condições climáticas favoráveis, o desenvolvimento de novas técnicas de cultivo e a facilidade no
transporte para o porto de Santos após a instalação das primeiras ferrovias provocaram uma crise de
superprodução no início da década de 1890. A grande oferta causada pela produção em excesso levou
a uma queda do preço, visto que havia mais produto no mercado e menos pessoas interessadas em
adquiri-lo.
O convênio de Taubaté foi um acordo firmado em 1906, último ano do mandato de Rodrigues Alves
(1902-1906), entre os presidentes dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, na cidade
de Taubaté (SP), com o objetivo de pôr em prática um plano de valorização do café, garantindo o preço
do produto por meio da compra, pelo governo federal, do excedente da produção. O acordo foi firmado
mesmo contra a vontade do presidente, e foi efetivamente aplicada por seu sucessor, Afonso Pena.

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O Tratado de Petrópolis e a Borracha

O espaço físico que constitui o Estado do Acre, era, até o início do século XX, considerado uma zona
não descoberta, um território contestado pelos governos boliviano e brasileiro.
A Hevea Bralisiensis (nome Científico da seringueira) já era conhecida e utilizada pelas civilizações da
América Pré-Colombiana, como forma de pagamento de tributos ao monarca reinante e para cerimônias
religiosas. Na Amazônia, os índios Omáguas e Cambebas utilizavam o látex para fazer bolas e outros
utensílios para o seu dia a dia. Coube a Charles Marie de La Condamine e François Fresneau chamar a
atenção dos cientistas e industriais para as potencialidades contidas na borracha. Dela, podiam ser feitas,
borrachas de apagar, bolas, sapatos, luvas cirúrgicas, entre outros produtos.
Em 1839, Charles Goodyear descobriu o processo de Vulcanização, que consistia em misturar enxofre
com borracha a uma temperatura elevada (140ºC /150ºC) durante certo número de horas. Com esse
processo, as propriedades da borracha não se alteravam pelo frio, calor, solventes comuns ou óleos.
Apesar do surto econômico e da procura do produto, favorável para a Amazônia brasileira, havia um
sério problema para a extração do látex: a falta de mão-de-obra, que foi solucionada com a chegada à
região de nordestinos (Arigós) que vieram fugindo da seca de 1877. Prisioneiros, exilados políticos e
trabalhadores nordestinos misturavam-se nos seringais do Acre, fundavam povoações, avançavam e se
estabeleciam em pleno território boliviano.
A exploração brasileira na região incomodava o governo boliviano, que resolveu tomar posse definitiva
do Acre. Fundou a vila de Puerto Alonso, em 03 de janeiro de 1889, e foram instalados postos da
alfândega para arrecadar tributos originados da comercialização de borracha silvestre. Essa atitude
causou revolta entre os quase sessenta mil brasileiros que trabalhavam nos seringais acreanos.
Liderados pelo seringalista José Carvalho, do Amazonas, os seringueiros rebelaram-se e expulsaram as
autoridades bolivianas, em 03 de maio de 1889.
Após o episódio, um espanhol chamado Luiz Galvez Rodrigues de Aurias liderou outra rebelião, de
maior alcance político, proclamando a independência e instalando o que ele chamou de República do
Acre, no local conhecido como Seringal Volta da Empresa, em 14 de julho de 1889. Galvez, o “Imperador
do Acre “, como auto proclamava-se, contava com o apoio político do governador do Amazonas, Ramalho
Junior. Entretanto, a República do Acre durou apenas oito meses. O governo brasileiro, signatário do
Tratado de Ayacucho, de 23 de março de 1867, reconheceu o direito de posse da Bolívia, prendeu Luiz
Galvez Rodrigues de Aurias e devolveu o Acre ao governo boliviano.
Mesmo com a devolução do Acre aos bolivianos, a situação continuava insustentável. O clima de
animosidade persistia e aumentava a cada dia. Em 11 de julho de 1901, o governo boliviano decidiu
arrendar o Acre a um grupo de empresários americanos, ingleses e alemães, formado pelas empresas
Conway and Withridge, United States Rubber Company, e Export Lumber. Esse consórcio constituiu o
Bolivian Syndicate que recebeu da Bolívia autorização para colonizar a região, explorar o látex e formar
sua própria milícia, com direito de utilizar a força para atender seus interesses. Os seringueiros brasileiros,
a maior parte formada por nordestinos, não aceitaram a situação. Estimulados por grandes seringalistas
e apoiados pelos governadores do Amazonas e do Pará, deram início, no dia 06 de agosto de 1902, a
uma rebelião armada: a Revolta do Acre. Os seringalistas entregaram a chefia do movimento rebelde ao
gaúcho José Plácido de Castro, ex-major do Exército, rebaixado a cabo por participar da Revolução
Federalista do Rio Grande do Sul, ao lado dos Maragatos.
A Revolta por ele liderada, financiada por seringalistas e por dois governadores de Estado, fortalecia-
se a cada dia, na medida em que recebia armamentos, munições, alimentos, além de apoio político e
popular. Em todo o país ocorreram manifestações em favor da anexação do Acre ao Brasil. A imprensa
do Rio de Janeiro e de São Paulo exigia do governo brasileiro imediata providências em defesa dos
acreanos. Por seu lado, o governo brasileiro procurava solucionar o impasse pela via diplomática, tendo
à frente das negociações o diplomata José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco. Mas,
todas as tentativas eram inócuas e os combates entre brasileiros e bolivianos tornavam-se mais
frequentes e acirrados. Em meio aos conflitos, o presidente da Bolívia, general José Manuel Pando,
organizou sob seu comando uma poderosa expedição militar para combater os brasileiros do Acre. O
presidente do Brasil, Rodrigues Alves, ordenou que tropas do Exército e da Armada Naval, acantonadas
no Estado de Mato Grosso, avançassem para a região em defesa dos seringueiros acreanos. O
enfrentamento de tropas regulares do Brasil e da Bolívia gerou a Guerra do Acre.
As tropas brasileiras, formadas por dois regimentos de infantaria, um de artilharia e uma divisão naval,
ajudaram Plácido de Castro a derrotar o último reduto boliviano no Acre, Puerto Alonso, hoje Porto Acre.
Em consequência, no dia 17 de novembro de 1903, na cidade de Petrópolis, a repúblicas do Brasil e da
Bolívia firmaram o Tratado de Petrópolis, através do qual o Brasil ficou de posse do Acre, assumindo o

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compromisso de pagar uma indenização de dois milhões de libras esterlinas ao governo boliviano e mais
114 mil ao Bolivian Syndicate.
O tratado de Petrópolis, aprovado pelo Congresso brasileiro em 12 de abril de 1904, também obrigou
o Brasil a realizar o antigo projeto do governo boliviano de construir a estrada de ferro Madeira-Mamoré.
A Bolívia, aproveitando-se do momento político, colocou na pauta de negociações seu ambicionado
projeto. Em contrapartida, reconheceu a prioridade de chegada dos primeiros brasileiros à região e
renunciou a todos os direitos sobre as terras do Acre.
O Tratado de Petrópolis proporcionou o surgimento do Território Federal do Acre em 1903. Com o
crescimento da produção de látex, a região acreana produziu 47 mil toneladas de borracha silvestre,
somente em 1910, o que representou cerca de sessenta por cento de toda a produção amazônica.
Em 1876, Henry Alexander Wyckham contrabandeou sementes de seringueiras da região situada entre
os rios Tapajós e Madeira e as mandou para o Museu Botânico de Kew, na Inglaterra. Muitas das
sementes brotaram nos viveiros e poucas semanas depois, as mudas foram transportadas para o Ceilão
e Malásia. Na região asiática as sementes foram plantadas de forma racional e passaram a contar com
um grande número de mão-de-obra, o que possibilitou uma produção expressiva, já no ano de 1900.
Gradativamente, a produção asiática foi superando a produção amazônica e, em 1912 há sinais de crise,
culminando em 1914, com a decadência deste ciclo na Amazônia brasileira.
Para a economia nacional, a borracha teve suma importância nas exportações, visto que em 1910, o
produto representou 40 % das exportações brasileiras. Para a Amazônia, o primeiro Ciclo da Borracha foi
importante pela colonização de nordestinos na região e a urbanização das duas grandes cidades
amazônicas: Belém do Pará e Manaus. Durante o seu apogeu, a produção de borracha foi responsável
por aproximadamente 1/3 do PIB do Brasil. Isso gerou muita riqueza na região amazônica e trouxe
tecnologias que outras cidades do sul e sudeste do Brasil ainda não possuíam, tais como bondes elétricos
e avenidas construídas sobre pântanos aterrados, além de edifícios imponentes e luxuosos, como o
Teatro Amazonas, o Palácio do Governo, o Mercado Municipal e o prédio da Alfândega, no caso de
Manaus, e o Mercado de São Brás, Mercado Francisco Bolonha, Teatro da Paz, Palácio Antônio Lemos,
corredores de mangueiras e diversos palacetes residenciais no caso de Belém.

Industrialização e Greves no Brasil Republicano


Ao ser proclamada a República, em 1889, existiam no Brasil 626 estabelecimentos industriais, sendo
60% do ramo têxtil e 15% do ramo de produtos alimentícios. Em 1914, o número já era de 7 430 indústrias,
com 153 000 operários.
Após o incentivo para abertura de novas industrias decorrentes do período de 1914 a 1918, em que a
Europa esteve em guerra, diversas empresas produtoras principalmente de matéria-prima. Em 1920, o
número havia subido para 13 336, com 275 000 operários. Até 1930, foram fundados mais 4 687
estabelecimentos industriais. Por outro lado, já em 1907, o total de capital aplicado na indústria de
produtos alimentícios tinha superado o total aplica do no ramo têxtil. Nesse período, deve-se considerar
que a indústria brasileira reunia um grande número de pequenas oficinas, semiartesanais, que fabricavam
bens de consumo simples para suprimento local. Em 1920, apenas 482 estabelecimentos tinham mais de
100 operários.
Há que se levar em conta que a industrialização se concentrou no eixo Rio-São Paulo e,
secundariamente, no Rio Grande do Sul. O empresariado industrial era oriundo do café, do setor
importador e da elite dos imigrantes.
Durante o período republicano fica evidente o descaso das autoridades governamentais com os
trabalhadores. O país passava por um momento de industrialização e os trabalhadores começam a se
organizar.
Em sua maioria imigrantes europeus que possuíam uma forte influência dos ideais anarquistas e
comunistas, os primeiros trabalhadores das fabricas brasileiras possuíam um discurso inflamado,
convocando os colegas a se unirem em associações que resultariam posteriormente na fundação dos
primeiros sindicatos de trabalhadores. O número de trabalhadores crescia constantemente,
acompanhando o número de indústrias. Para se ter uma ideia do crescimento industrial no Brasil, no ano
de 1899 o País contava com aproximadamente 900 fábricas e 54 mil trabalhadores. Quinze anos depois,
em 1914 haviam mais de 7 mil fabricas e mais de 150 mil operários. A maior parte das industrias do país
estava concentrado na região Sudeste, em São Paulo e Rio de Janeiro.
Os líderes dos movimentos operários buscavam melhores condições de trabalho para seus colegas
como redução de jornada de trabalho e segurança no trabalho. Lutavam contra a manutenção da
propriedade privada e do chamado “Estado Burguês”.
Ocorreram entre 1903 e 1906 greves de pouca expressão pelo país, através de movimentos de
Tecelões, alfaiates, portuários, mineradores, carpinteiros e ferroviários. Em contrapartida, o governo

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brasileiro criou leis para impedir o avanço dos movimentos, como uma lei expulsando os estrangeiros que
fossem considerados uma ameaça à ordem e segurança nacional.
A greve mais significativa do período ocorreu em 1917, a Greve Geral em São Paulo, que contou com
os trabalhadores dos setores alimentício, gráfico, têxtil e ferroviário como mais atuantes. O governo, para
reprimir o movimento utilizou inclusive forças do Exército e da Marinha.
A repressão cada vez mais dura do governo, através de leis, decretos e uso de violência acabou
sufocando os movimentos grevistas, que acabaram servindo de base para a criação no ano de 1922,
inspirado pelo Partido Bolchevique Russo, do PCB, Partido Comunista Brasileiro. Os sindicatos também
começam a se organizar no período.

Revoltas no Brasil Republicano

Guerra de Canudos
A revolta em Canudos deve ser entendida como um movimento messiânico, ou seja, a aglomeração
em torno de uma figura religiosa capaz de reunir fiéis e trazer a esperança de uma vida melhor através
de pregações. O termo messias vem de mashiah, palavra hebraica traduzida para o grego como
“salvador”.
Canudos formou-se através da liderança de Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido também por
Antônio Conselheiro, um beato que, andando pelo sertão, pregava a salvação por meio do abandono
material, exigindo que seus fiéis o seguissem pelo sertão nordestino.
Perseguido pela Igreja, e com um número significativo de fiéis, Antônio Conselheiro estabeleceu-se no
sertão baiano, à margem do Rio Vaza-Barris, formando o Arraial de Canudos. Ali fundou a cidade santa,
à qual dera o nome de Belo Monte, administrada pelo beato, que contava com vários subchefes, cada
qual responsável por um setor (comandante da rua, encarregado da segurança e da guerra, escrivão de
casamentos, entre outros).
A razão para o crescimento do arraial em torno da figura de Antônio Conselheiro pode ser explicada
pela pobreza dos habitantes do sertão nordestino, aliada à fome e a insatisfação com o governo
republicano, sendo o beato um aberto defensor da volta da monarquia.
A comunidade de Canudos, assim, sobrevivia e prosperava, mantendo-se por via das trocas com as
comunidades vizinhas.
Devido a um incidente entre os moradores do arraial e o governo da Bahia, uma questão mal resolvida
em relação ao corte de madeira na região, o governo estadual resolver repreender os habitantes,
enviando uma tropa ao local. Apesar das poucas condições materiais dos moradores, a tropa baiana foi
derrotada, o que levou o presidente da Bahia a apelar para as tropas federais.
Canudos manteve-se firme diante das ameaças, derrotando duas expedições de tropas federais
municiadas de canhões e metralhadoras, uma delas comandada pelo Coronel Antônio Moreira César,
também conhecido como "corta-cabeças" pela fama de ter mandado executar mais de cem pessoas na
repressão à Revolução Federalista em Santa Catarina. A incapacidade do governo federal em conter os
revoltosos, com derrotas vergonhosas, gerou diversas revoltas no Rio de Janeiro.
Com a intenção de resolver de vez o problema, foi organizada a 4ª expedição militar ao vilarejo, com
8000 soldados sob o comando do general Artur de Andrade Guimarães. Dotada de armamento moderno,
a expedição levou um mês e meio para vencer os sertanejos, finalmente arrasando o arraial em agosto
de 1897, quando os últimos defensores do vilarejo foram capturados e degolados. Canudos foi incendiada
para evitar que novos moradores se estabelecessem no local. Nos jornais e também no pensamento do
governo federal, a vitória sobre Canudos foi uma vitória “da civilização sobre a barbárie”.
Os combates ocorridos em Canudos foram contados pelo Jornalista Euclides da Cunha, em seu livro
Os Sertões. O livro busca trazer um relato do ocorrido, através do ponto de vista do autor, que possuía
uma visão de “raça superior”, comum do pensamento cientifico da época. De acordo com esse
pensamento, o mestiço brasileiro seria uma raça de características inferiores, que estava destinada ao
desaparecimento por conta do avanço da civilização.
Não só Euclides da Cunha pensava da mesma forma. O pensamento racial baseado em teorias
cientificas foi comum no Brasil da virada do século XX.

A Guerra do Contestado
Na virada do século XX uma grande parte da população que vivia no interior do estado era composta
por sertanejos, pessoas de origem humilde, que viviam na fronteira com o Paraná. A região foi palco de
um intenso conflito por posse de terras, ocorrido entre 1912 e 1916, que ficou conhecido como Guerra
do Contestado.

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O conflito teve início com a implantação de uma estrada de ferro que ligaria o Rio Grande do Sul a São
Paulo, além de uma madeireira, em 1912, de propriedade do empresário Norte-Americano Percival
Farquhar.
A Brazil Railway ficou responsável pela construção da estrada de ferro que ligaria os dois pontos.
Como forma de remuneração por seus serviços, o governo cedeu à companhia uma extensa faixa de
terra ao longo dos trilhos, aproximadamente 15 quilômetros de cada margem do caminho.
As terras doadas pelo governo foram entregues à empresa na categoria de terras devolutas, ou seja,
terras não ocupadas pertencentes à união. O ato desconsiderou a presença de milhares de pessoas que
habitavam a região, porém não possuíam registros de posse sobre a terra.
Apesar do contrato firmado, de que as terras entregues à companhia pudessem ser habitados somente
por estrangeiros, o principal interesse do empresário era a exploração da madeira que se encontrava na
região, em especial araucárias e imbuias, com alto valor de mercado. Não tardou para a criação da
Southern Brazil Lumber and Colonization Company, responsável por explorar a extração da madeira e
que posteriormente tornou-se a maior empresa do gênero na América do Sul.
A derrubada da floresta implicava necessariamente em remover os antigos moradores regionais,
gerando conflitos imediatos. Os sertanejos encontraram na figura de monges que vagavam pelo sertão
pregando a palavra de Deus a inspiração e a liderança para lutar contra o governo e as empresas
estrangeiras. O primeiro Monge que criou pontos de resistência ficou conhecido como José Maria.
Adorado pela população local, o monge era visto pelos sertanejos como um salvador dos pobres e
oprimidos, e pelo governo como um empecilho para os trabalhos de construção da estrada de ferro.
O governo e as empresas investiram fortemente na tentativa de expulsão dos sertanejos, e em 1912
próximo ao vilarejo de Irani ocorre uma intensa batalha entre governo e população, causando a morte do
Monge. A morte do líder causou mais revolta nos sertanejos, que intensificaram a resistência, unindo sua
crença em outras figuras que despontavam como lideranças, como Maria Rosa, uma jovem de quinze
anos de idade, que foi considerada por historiadores como Joana D'Arc do sertão, já que "combatia
montada em um cavalo branco com arreios forrados de veludo, vestida de branco, com flores nos cabelos
e no fuzil". A jovem afirmava receber ordens espirituais de batalha do Monge Assassinado.
O conflito foi tomado como prioridade pelo governo federal, que investiu grande potencial bélico na
contenção dos revoltosos, como fuzis, canhões, metralhadoras e aviões. O conflito acaba em 1916 com
a captura dos últimos lideres revoltosos. Assim como em canudos, a Revolta do Contestado foi marcada
por um forte caráter messiânico.

A Revolta da Vacina
A origem dessa revolta ocorrida no Rio de Janeiro deve ser procurada na questão social gerada pelas
desigualdades sociais e agravada pela reurbanização do Distrito Federal pelo prefeito Pereira Passos.
Além disso, o grande destaque do período foi a Campanha de Saneamento no Rio de Janeiro, dirigida
por Oswaldo Cruz. Decretando-se a vacinação obrigatória contra a varíola, ocorreu o descontentamento
popular. Disso se aproveitaram os militares e políticos adversários de Rodrigues Alves.
Assim, irrompeu a Revolta da Vacina (novembro de 1904), sob a liderança do senador Lauro Sodré.
O levante foi rapidamente dominado, fortalecendo a posição do presidente.

Revolta da Chibata
A Revolta da Chibata ocorreu em 22 de novembro de 1910 no Rio de Janeiro. Entre outros, foi motivada
pelos castigos físicos que os marinheiros brasileiros recebiam. As faltas graves eram punidas com 25
chibatadas (chicotadas). Esta situação gerou uma intensa revolta entre os marinheiros.
O estopim da revolta se deu quando o marinheiro Marcelino Rodrigues foi castigado com 250
chibatadas, por ter ferido um colega da Marinha, dentro do encouraçado Minas Gerais. O navio de guerra
estava indo para o Rio de Janeiro e a punição, que ocorreu na presença dos outros marinheiros,
desencadeou a revolta.
O motim se agravou e os revoltosos chegaram a matar o comandante do navio e mais três oficiais. Já
na Baia da Guanabara, os revoltosos conseguiram o apoio dos marinheiros do encouraçado São Paulo.
O líder da revolta, João Cândido (conhecido como o Almirante Negro), redigiu a carta reivindicando o
fim dos castigos físicos, melhorias na alimentação e anistia para todos que participaram da revolta. Caso
não fossem cumpridas as reivindicações, os revoltosos ameaçavam bombardear a cidade do Rio de
Janeiro (então capital do Brasil).

Segunda revolta
Diante da grave situação, o presidente Hermes da Fonseca resolveu aceitar o ultimato dos revoltosos.
Porém, após os marinheiros terem entregues as armas e embarcações, o presidente solicitou a expulsão

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de alguns revoltosos. A insatisfação retornou e, no começo de dezembro, os marinheiros fizeram outra
revolta na Ilha das Cobras. Esta segunda revolta foi fortemente reprimida pelo governo, sendo que vários
marinheiros foram presos em celas subterrâneas da Fortaleza da Ilha das Cobras. Neste local, onde as
condições de vida eram desumanas, alguns prisioneiros faleceram. Outros revoltosos presos foram
enviados para a Amazônia, onde deveriam prestar trabalhos forçados na produção de borracha.
O líder da revolta João Cândido foi expulso da Marinha e internado como louco no Hospital de
Alienados. No ano de 1912, foi absolvido das acusações junto com outros marinheiros que participaram
da revolta.
Conclusão: podemos considerar a Revolta da Chibata como mais uma manifestação de insatisfação
ocorrida no início da República. Embora pretendessem implantar um sistema político-econômico moderno
no país, os republicanos trataram os problemas sociais como “casos de polícia”. Não havia negociação
ou busca de soluções com entendimento. O governo quase sempre usou a força das armas para colocar
fim às revoltas, greves e outras manifestações populares.

O Cangaço no Nordeste
Entre o final do século XIX e começo do XX (início da República), ganharam força, no nordeste
brasileiro, grupos de homens armados, conhecidos como cangaceiros. Estes grupos apareceram em
função, principalmente, das péssimas condições sociais da região nordestina. O latifúndio, que
concentrava terra e renda nas mãos dos fazendeiros, deixava as margens da sociedade a maioria da
população.
Existiram três tipos de cangaço na história do sertão:
O defensivo, de ação esporádica na guarda de propriedades rurais, em virtude de ameaças de índios,
disputa de terras e rixas de famílias;
O político, expressão do poder dos grandes fazendeiros;
O independente, com características de banditismo.

No primeiro caso, após realizarem sua missão de caçar índios no sertão do Cariri e em outras regiões,
a soldo dos fazendeiros, os cangaceiros se dissolviam e voltavam a trabalhar como vaqueiros ou
lavradores. As rixas entre famílias e as vinganças pessoais mobilizavam constantemente os bandos
armados. Parentes, agregados e moradores ligados ao chefe do clã por parentesco, compadrio ou
reciprocidade de serviços compunham os exércitos particulares.
O cangaço político resultou, muitas vezes, das rivalidades entre as oligarquias locais, e se
institucionalizou como instrumento dessas oligarquias, empenhadas na disputa para consolidar seu
poder.
No final do século XIX surgiram bandos independentes que não se subordinavam a nenhum chefe
local, tendo sua origem no problema do monopólio da terra. Esse tipo de cangaço já existira no passado,
em função das secas, mas não conseguira perdurar, eliminado pelos potentados locais, assim que se
restabeleciam as condições normais de vida.
O Cangaço pode ser entendido como um fenômeno social, caracterizado por atitudes violentas por
parte dos cangaceiros, que andavam em bandos armados e espalhavam o medo pelo sertão nordestino.
Promoviam saques a fazendas, atacavam comboios e chegavam a sequestrar fazendeiros para obtenção
de resgates. A população que respeitava e acatava as ordens dos cangaceiros era muitas vezes
beneficiada por suas atitudes. Essa característica fez com que os cangaceiros fossem respeitados e até
mesmo admirados por parte da população da época.
Os cangaceiros não moravam em locais fixos. Possuíam uma vida nômade, ou seja, viviam em
movimento, indo de uma cidade para outra. Ao chegarem nas cidades pediam recursos e ajuda aos
moradores locais. Aos que se recusavam a ajudar o bando, sobrava a violência.
Como não seguiam as leis estabelecidas pelo governo, eram perseguidos constantemente pelos
policiais. Usavam roupas e chapéus de couro para protegerem os corpos, durante as fugas, da vegetação
cheia de espinhos da caatinga. Além desse recurso da vestimenta, usavam todos os conhecimentos que
possuíam sobre o território nordestino (fontes de água, ervas, tipos de solo e vegetação) para fugirem ou
obterem esconderijos.
Existiram diversos bandos de cangaceiros. Porém, o mais conhecido e temido da época foio bando
comandado por Lampião (Virgulino Ferreira da Silva), também conhecido pelo apelido de “Rei do
Cangaço”. O bando de Lampião atuou pelo sertão nordestino durante as décadas de 1920 e 1930.
De 1921 a 1934, Lampião dividiu seu bando em vários subgrupos, dentre os quais os chefiados por
Corisco, Moita Brava, Português, Moreno, Labareda, Baiano, José Sereno e Mariano. Entre seus bandos,
Lampião sempre teve grande apreço pelo bando de Corisco, conhecido como “Diabo Loiro” e também
grande amigo de Virgulino.

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Lampião morreu numa emboscada armada por uma volante, junto com a mulher Maria Bonita e outros
cangaceiros, em 29 de julho de 1938. Tiveram suas cabeças decepadas e expostas em locais públicos,
pois o governo queria assustar e desestimular esta prática na região.
A morte de lampião atingiu o movimento do Cangaço como um todo, enfraquecendo e dividindo os
grupos restantes. Corisco foi morto em uma emboscada no ano de 1940, encerrando de vez o cangaço
no Nordeste.

A Semana de Arte Moderna de 1922


O ano de 1922 representou um marco na arte e na cultura brasileira, com a realização da Semana de
Arte Moderna, de 11 a 18 de fevereiro. A exposição marcava uma tentativa de introduzir elementos
brasileiros nos campo da arte e da cultura, vistas como dominadas pela influência estrangeira,
principalmente de elementos europeus, trazidos tanto pela elite econômica quanto por trabalhadores
imigrantes, principalmente italianos que trabalhavam na indústria paulista.
Na virada do século XX, São Paulo despontava como segunda maior cidade do país, atrás apenas do
Rio de Janeiro, capital nacional. Apesar de ocupar o segundo lugar em tamanho, a cidade possuía grande
taxa de industrialização, mais até que a capital, principalmente pelos recursos proporcionados pela
produção de café.
O contato proporcionado pelos novos meios de transporte e de comunicação proporcionou o contato
com novas tendências que rompiam com a estrutura das artes predominante desde o renascimento. Entre
elas estavam o futurismo, dadaísmo, cubismo, e surrealismo.
No Brasil, o espírito modernista foi apresentado por autores como Euclides da Cunha, Monteiro Lobato,
Lima Barreto e Graça Aranha, que se desligaram de uma literatura de “falsas aparências”, procurando
discutir ou descobrir o “Brasil real”, frequentemente “maquiado” pelo pensamento acadêmico. As novas
tendências apareceram em 1917, em trabalhos: da pintora Anita Malfatti, do escultor Brecheret, do
compositor Vila Lobos e do intelectual Oswaldo de Andrade.
Os modernistas foram buscar inspiração nas imagens da indústria, da máquina, da metrópole, do
burguês e do proletário, do homem da terra e do imigrante.
Entre os escritores modernistas, o que melhor reflete o espírito da Semana é Oswald de Andrade. De
maneira geral, sua produção literária reflete a sociedade em que se forjou sua formação cultural: o
momento de transição que une o Brasil agrário e patriarcal ao Brasil que caminha para a modernização.
Ao lado de Oswald de Andrade, destaca-se como ponto alto do Modernismo a figura de Mário de
Andrade, principal animador do movimento modernista e seu espírito mais versátil. Cultivou a poesia, o
romance, o conto, a crítica, a pesquisa musical e folclórica.
Depois da sua realização, o prestígio e a produção cultural dos modernistas fez aumentar o debate e,
transbordando para o terreno da política, alimentou um forte sentimento nacionalista e uma preocupação
crescente com as coisas do povo brasileiro. Baseando-se nas preocupações sociais e políticas,
despontaram duas correntes de pensamento. Uma, de esquerda, atrelada ao “Movimento Pau-Brasil”,
tendo como expoente: Oswaldo de Andrade. Outra, de direita, apoiada no “Movimento da Anta” e no
“Verde-Amarelismo” de Plínio Salgado.

Principais artistas Modernistas:

Artes Plásticas

- Anita Malfatti (pintora)


- Di Cavalcanti (pintor)
- Vicente do Rego Monteiro (pintor)
- Inácio da Costa Ferreira (pintor)
- John Graz (pintor)
- Oswaldo Goeldi (pintor)
- Victor Brecheret (escultor)
- Wilhelm Haarberg (escultor)

Literatura

- Mario de Andrade (escritor)


- Oswald de Andrade (escritor)
- Sérgio Milliet (escritor)
- Plínio Salgado (escritor)

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- Menotti del Picchia (escritor)
- Ronald de Carvalho (poeta e político)
- Renato de Almeida (escritor)
- Guilherme de Almeida (escritor)

Música

- Heitor Villa-Lobos (músico)


- Guiomar Novais (músico)
- Frutuoso Viana (músico)

Os anos 1920 e a crise política


Após a Primeira Guerra Mundial, a classe média urbana passava cada vez mais a participar da política.
A presença desse grupo tendia a garantir um maior apoio a políticos e figuras públicas apoiados em um
discurso liberal, que defendesse as leis e a constituição, e fossem capazes de transformar a Republica
Oligárquica em Republica Liberal. Entre as reivindicações estavam o estabelecimento do voto secreto, e
a criação de uma Justiça Eleitoral capaz de conter a corrupção nas eleições.
Em 1919, o Rui Barbosa, que já havia sido derrotado em 1910 e 1914, entrou novamente na disputa
como candidato de oposição, enfrentando o candidato Epitácio Pessoa, que concorria como novo
sucessor pelo PRM (Partido Republicano Mineiro).
Epitácio chefiava a delegação brasileira na Conferência de Paz realizada em Versalhes, na França.
Permanecendo ausente do Brasil durante toda a campanha, devido à sua atuação na Conferência de
Paz, Epitácio venceu Rui Barbosa no pleito realizado em abril de 1919 e retornou ao Brasil em julho para
assumir a presidência da República.
Apesar da derrota, o candidato oposicionista conseguiu atingir cerca de um terço dos votos, sem
nenhum apoio da máquina eleitoral, inclusive conquistando a vitória no Distrito Federal.
Mesmo com o acordo de apoio conseguido com a Política dos Governadores, e o controle estabelecido
por São Paulo e Minas Gerais no revezamento de poder, a partir da década de 1920, estados com uma
participação política e econômica considerada mediana resolveram interferir para tentar acabar com a
hegemonia da política do “Café com Leite”. Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia se
uniram nas eleições presidenciais de 1922, lançando um movimento político de oposição - a Reação
Republicana - que lançou o nome do fluminense Nilo Peçanha contra o candidato oficial, o mineiro Artur
Bernardes.
A chapa oposicionista defendia a maior independência do Poder Legislativo frente ao Executivo, o
fortalecimento das Forças Armadas e alguns direitos sociais do proletariado urbano. Todas essas
propostas eram apresentadas num discurso liberal de defesa da regeneração da República brasileira. O
movimento contou com a adesão de diversos militares descontentes com o presidente Epitácio Pessoa,
que nomeara um civil para a chefia do Ministério da Guerra. A Reação Republicana conseguiu, em uma
estratégia praticamente inédita na história brasileira, desenvolver uma campanha baseada em comícios
populares nos maiores centros do país. O mais importante deles foi o comício na capital federal, quando
Nilo Peçanha foi ovacionado pelas massas.
Em outubro de 1921, os ânimos dos militares foram exaltados com a publicação de cartas no Jornal
Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, assinadas com o nome do candidato Artur Bernardes e endereçadas
ao líder político mineiro Raul Soares. Em seu conteúdo, criticavam a conduta do ex-presidente e Marechal
do Exército, Hermes da Fonseca, por ocasião de um jantar promovido no Clube Militar.
As cartas puseram lenha na fogueira da disputa, deixando os militares extremamente insatisfeitos com
o candidato. Pouco antes da data da eleição dois falsários assumiram a autoria das cartas e comprovaram
tratar-se de uma armação. A conspiração não teve maiores consequências, e as eleições puderam
transcorrer normalmente em março de 1922. Como era de se esperar, a vitória foi de Artur Bernardes. O
problema foi que nem a Reação Republicana nem os militares aceitaram o resultado. Como o governo se
manteve inflexível e não aceitou a proposta da oposição de rever o resultado eleitoral, o confronto se
tornou apenas uma questão de tempo.

O Tenentismo
Após a Primeira Guerra Mundial, vários oficiais jovens de baixa patente, principalmente tenentes (e
daí deriva o nome do movimento tenentista) sentiam-se insatisfeitos. Os soldos permaneciam baixos e o
governo não fazia menção de aumentá-los. Havia um grande número deles, e as promoções eram muito
lentas. Um segundo-tenente podia demorar dez anos para alcançar a patente de capitão.

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Sua reinvindicações oficiais foram contra a desorganização e o abandono em que se encontrava o
exército brasileiro. Com o tempo os líderes do movimento chegaram à conclusão de os problemas que
enfrentavam não estavam apenas no exército, mas também na política. Com a intenção de fazer as
mudanças acontecerem, os revoltosos pressionaram o governo, que não se prontificou a atendê-los, o
que gerou movimentos de tentativa de tomada de poder por meio dos militares. Esse programa conquistou
ampla simpatia da opinião pública urbana, mas não houve mobilização popular e nem mesmo
engajamento de dissidências oligárquicas à revolução (com exceção do Rio Grande do Sul), daí o seu
isolamento e o seu fracasso.

Os 18 do Forte
Como citado anteriormente, a vitória de Artur Bernardes em março de 1922 não agradou os setores
oposicionistas. Durante o período em que aguardava para assumir a posse, que acontecia no dia 15 de
novembro, diversos foram os protestos contra o mineiro. Em junho, o governo federal interveio durante a
sucessão estadual em Pernambuco, fato que foi extremamente criticado por Hermes da Fonseca. O
presidente Epitácio Pessoa, que ainda exercia o poder, mandou prender o ex-presidente e ordenou o
fechamento do Clube Militar em 2 de julho.
As ações de Epitácio geraram uma crise que culminou em uma serie de levantes na madrugada de 5
de julho. Na capital federal, levantaram-se o forte de Copacabana, guarnições da Vila Militar, o forte do
Vigia, a Escola Militar do Realengo e o 1° Batalhão de Engenharia; em Niterói, membros da Marinha e do
Exército; em Mato Grosso, a 1ª Circunscrição Militar, comandada pelo general Clodoaldo da Fonseca, tio
do marechal Hermes. No Rio de Janeiro, o movimento foi comandado pelos "tenentes", uma vez que a
maioria da alta oficialidade se recusou a participar do levante.
Os rebeldes localizados no Forte de Copacabana passaram a disparar seus canhões contra diversos
redutos do Exército, forçando inclusive o comando militar a abandonar o Ministério da Guerra. As forças
legais revidaram, e o forte sofreu sério bombardeio.
Os revoltosos continuaram sua resistência até a tarde de 6 de julho, quando resolveram abandonar o
Forte e marchar pela Avenida Atlântica, indo de encontro às forças do governo que enfrentavam. Ao grupo
de revoltosos aderiu um civil, Otávio Correia, que até então apenas observava o desenrolar dos fatos.
Em uma troca de tiros com as forças oficiais, morreram quase todos os revoltosos, que ficaram
conhecidos como “Os 18 do Forte de Copacabana”. Apesar do nome atribuído ao grupo, as fontes de
informação da época não são exatas, com vários jornais divulgando números diferentes. Entre os mortos
em combate estavam os tenentes Mário Carpenter e Newton Prado. Os únicos sobreviventes foram os
tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes, com graves ferimentos.

A Revolta de 1924
Os participantes das Revoltas de 1922 foram julgados e punidos em dezembro de 1923, acusados de
tentar promover um golpe de Estado. Novamente o exército teve suas relações com o governo federal
agravadas, com uma tensão crescente que gerou uma nova revolta militar, novamente na madrugada,
em 5 de julho de 1924 em São Paulo, articulada pelo general reformado Isidoro Dias Lopes, pelo major
Miguel Costa, comandante do Regimento de Cavalaria da Força Pública do estado, e pelo tenente
Joaquim Távora, este último morto durante os combates. Tiveram ainda participação destacada os
tenentes Juarez Távora, Eduardo Gomes, João Cabanas, Filinto Müller e Newton Estillac Leal.
O objetivo do movimento era depor o presidente Artur Bernardes, cujo governo transcorria, desde o
início, sob estado de sítio permanente e sob vigência da censura à imprensa.
Entre as primeiras ações dos revoltosos, ganhou prioridade a ocupação de pontos estratégicos, como
as estações da Luz, da Estrada de Ferro Sorocabana e do Brás, além dos quartéis da Força Pública,
entre outros.
Logo após a ocupação, no dia 8 de julho o presidente de São Paulo, Carlos de Campos, deixou o
palácio dos Campos Elíseos, sede do governo paulista na época. No dia seguinte, os rebeldes instalaram
um governo provisório chefiado pessoalmente pelo general Isidoro. O ato foi respondido com um intenso
bombardeio das tropas legalistas sobre a cidade, principalmente em bairros operários de São Paulo na
região da zona leste. Os bairros da Mooca, Brás, Belém e Cambuci foram os mais atingidos pelo
bombardeio.
A partir do dia 16, sucederam-se as tentativas de armistício. Um dos principais mediadores foi José
Carlos de Macedo Soares, membro da Associação Comercial de São Paulo. Num primeiro momento, o
general Isidoro condicionou a assinatura de um acordo à entrega do poder a um governo federal provisório
e à convocação de uma Assembleia Constituinte. A negativa do governo federal, somada às
consequências do bombardeio da cidade, reduziu as exigências dos revoltosos à concessão de uma
anistia ampla aos revolucionários em 1922 e 1924. Entretanto, nem essa reivindicação foi atendida.

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Como as exigências dos revoltosos não foram atendidas, e a pressão do governo aumentava, a
solução foi mudar a estratégia. Em 27 de julho os revoltosos abandonaram a cidade, indo em direção a
Bauru, no interior do Estado. O deslocamento foi facilitado graças a eclosão de diversas revoltas no
interior, com a tomada de prefeituras.
O saldo de 23 dias de combates foi de 503 mortos e quase cinco mil feridos, resultando no maior
conflito ocorrido na cidade de São Paulo (maior inclusive que a revolta de 1932). Com os bombardeios,
aproximadamente 20 mil pessoas ficaram desabrigadas.
Àquela altura, já haviam eclodido rebeliões militares no Amazonas, em Sergipe e em Mato Grosso, em
apoio ao levante de São Paulo, mas os revoltosos paulistas desconheciam tais acontecimentos.
Em outubro, enquanto os paulistas combatiam em território paranaense, tropas sediadas no Rio
Grande do Sul iniciaram um levante, associadas a líderes gaúchos contrários à situação estadual. As
forças rebeladas juntaram-se aos paulistas em Foz do Iguaçu, no Paraná, no mês de abril de 1925.
Formou-se assim o contingente que deu início à marcha da Coluna Prestes.

A Coluna Prestes
Enquanto isso, alguns militares se rebelavam em São Paulo, Luís Carlos Prestes, também militar,
organizava outro grupo no Rio Grande do Sul. Em abril de 1925, as duas frentes de oposição, a Paulista
liderada por Miguel Costa, e a Gaúcha, por Prestes, uniram-se em Foz do Iguaçu e partiram para uma
caminhada pelo Brasil.
Sempre vigiados por soldados do governo, os revoltosos evitavam confrontos diretos com as tropas,
por meio de táticas de guerrilha.
Por meio de comícios e manifestos, a Coluna denunciava à população a situação política e social do
país. Num primeiro momento, não houve muitos resultados, porém o Movimento ajudou a balançar as
bases, já enfraquecidas, do sistema oligárquico e a preparar caminho para a Revolução de 1930.
A Coluna Prestes durou 2 anos e 3 meses, percorrendo cerca de 25 mil quilômetros através de treze
estados do Brasil. Estima-se que a Coluna tenha enfrentado mais de 50 combates contra as tropas
governistas, sem sofrer derrotas. Os principais comandantes do Exército nacional não só não puderam
desbaratar a Coluna Prestes, como sofreram pesadas perdas para os rebeldes durante sua marcha. A
Coluna, em seu trajeto, derrotou 18 generais.
A passagem da Coluna Prestes, gerava reações diversas na população. Como forma de desmoralizar
o movimento, o governo condenava os rebeldes e associavam suas ações a assassinos e bandidos.
Segundo a Historiadora Anita Leocádia Prestes, Qualquer arbitrariedade era punida com grande rigor;
em alguns casos de maior gravidade, chegou-se ao fuzilamento dos culpados, principalmente quando
houve desrespeito a famílias e, em particular, a mulheres.
Iniciando a marcha, a coluna concluiu a travessia do rio Paraná em fins de abril de 1925 e adentrou no
Paraguai com a intenção de chegar a Mato Grosso. Posteriormente percorreu Goiás, entrou em Minas
Gerais e retornou a Goiás.
Após a passagem por Goiás, a Coluna partiu para o Nordeste, chegando em novembro ao Maranhão,
ocasião em que o tenente-coronel Paulo Krüger foi preso e enviado a São Luís. Em dezembro, penetrou
no Piauí e travou em Teresina sério combate com as forças do governo. Rumando então para o Ceará, a
coluna teve outra baixa importante: na serra de Ibiapina, Juarez Távora foi capturado.
Em janeiro de 1926, a coluna atravessou o Ceará, chegou ao Rio Grande do Norte e, em fevereiro,
invadiu a Paraíba, enfrentando na vila de Piancó séria resistência comandada pelo padre Aristides
Ferreira da Cruz, líder político local. Após ferrenhos combates, a vila acabou ocupada pelos
revolucionários.
Continuando rumo ao sul, a coluna atravessou Pernambuco e Bahia e retornou para Minas Gerais,
pelo norte do Estado. Encontrando vigorosa reação legalista e precisando remuniciar-se, o comando da
coluna decidiu interromper a marcha para o sul e, em manobra conhecida como "laço húngaro", retornar
ao Nordeste através da Bahia. Cruzou o Piauí, alcançou Goiás e finalmente chegou de volta a Mato
Grosso em outubro de 1926. Àquela altura, o estado-maior revolucionário decidiu enviar Lourenço Moreira
Lima e Djalma Dutra à Argentina, para consultar o general Isidoro Dias Lopes quanto ao futuro da coluna:
continuar a luta ou rumar para o exílio.
Entre fevereiro e março de 1927, afinal, após uma penosa travessia do Pantanal, parte da coluna,
comandada por Siqueira Campos, chegou ao Paraguai, enquanto o restante ingressou na Bolívia, onde
encontrou Lourenço Moreira Lima, que retornava da Argentina. Tendo em vista as condições precárias
da coluna e as instruções de Isidoro, os revolucionários decidiram exilar-se.
Durante o tempo em que passou na Bolívia, Prestes dedicou-se a leituras em busca de explicações
para a situação de atraso e miséria que presenciara em sua marcha pelo interior brasileiro. Em dezembro
de 1927 foi procurado por Astrojildo Pereira, secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro, que fora

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incumbido de convidá-lo a firmar uma aliança entre "o proletariado revolucionário, sob a influência do
PCB, e as massas populares, especialmente as massas camponesas, sob a influência da coluna e de
seu comandante". Prestes, contudo, não aceitou essa aliança. Foi nesse encontro que obteve as
primeiras informações sobre a Revolução Russa, o movimento comunista e a União Soviética. A seguir,
muda-se para a Argentina, onde lê Marx e Lênin.

Fonte: http://www2.camara.leg.br/

A defesa do café
Os acordos para a manutenção do preço do café elevaram a dívida brasileira, principalmente após as
emissões de moeda realizadas entre 1921 e 1923 por Epitácio Pessoa, o que gerou uma desvalorização
do câmbio e o aumento da inflação. Artur Bernardes preocupou-se em saldar a dívida externa brasileira,
retomando o pagamento dos juros e da dívida principal a partir do ano de 1927.
Com o objetivo de avaliar a situação financeira do Brasil, em fins de 1923 uma missão financeira
inglesa, chefiada por Edwin Samuel Montagu chegou ao país. Após os estudos, a comissão apresentou
um relatório à presidência da República, em que apresentava os riscos decorrentes da emissão
exagerada de moeda e o consequente receio dos credores internacionais.
A defesa dos preços do café representava um gasto entendido pelo governo federal como secundário
nesse momento, mesmo em meio às críticas de abandono proferidas pelo setor cafeeiro. A solução foi
passar a responsabilidade da defesa do café para São Paulo. Em dezembro de 1924 foi criado o Instituto
de Defesa Permanente do Café, que possuía a função de regular a entrada do produto no Porto de Santos
e realizar compras do produto para evitar a desvalorização.

O governo de Washington Luís


Em 1926, mantendo a tradicional rotação presidencial entre São Paulo e Minas Gerais, o paulista
radicado Washington Luís foi indicado para a sucessão e saiu vencedor nas eleições de 1926. Seu
governo seguiu com relativa tranquilidade, até que em 1929 uma série de fatores, internos e externos,
mudaram de maneira drástica os rumos do Brasil.
No plano interno, a insatisfação das camadas urbanas, em especial a classe média, crescia cada vez
mais. A estrutura de governo baseada no poder das oligarquias, dos coronéis e da predominância dos
grandes proprietários e produtores de café da região de São Paulo não atendia as exigências e os anseios
de boa parte da população, que não fazia parte ou não era beneficiada pelo sistema de governo.
Em 1926 surgiu o Partido Democrático, de cunho liberal. O partido desponta como oposição ao PRP
(Partido Republicano Paulista), que repudiava o liberalismo na prática. Seus integrantes pertenciam a
uma faixa etária mais jovem em comparação aos republicanos, o que também contribuiu para agradar
boa parte da classe média insatisfeita com o PRP.
Formado por prestigiados profissionais liberais e filhos de fazendeiros de café, o partido tinha como
pauta a reforma do sistema político, através da implantação do voto secreto, da representação de
minorias, a real divisão dos três poderes e a fiscalização das eleições pelo poder judiciário. Uma de suas
características era o ataque a ricos imigrantes, em especial o italiano Conde Francisco Matarazzo.
Matarazzo chegou ao Brasil em 1881, e fez fortuna através da venda de banha de porco em latas. Na
virada do século já havia acumulado uma grande fortuna, que passou a investir nas mais diversas áreas.
A princípio montou um moinho de trigo, depois tecelagens, indústria metalúrgica, moinhos para a
fabricação do sal, refinarias de açúcar, fábricas de óleo e gordura, frigoríficos, fábrica de velas, sabonete
e sabão. E mais: centros fabris, usina de sulfureto de carbono e de ácidos, fábrica de fósforos e pregos,
de louças e azulejos, usina de cal, destilaria de álcool, fábrica de papel e a primeira destilaria de petróleo
de Cubatão.
As Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM) chegaram a contar com mais de 200 fábricas.
Paralelamente à expansão industrial, Matarazzo tinha um banco, uma frota de navios, um terminal no
porto de Santos e duas locomotivas para transportar mercadorias.

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A Sucessão de Washington Luís
Voltando à política do Café-com-leite, em 1929 começava a campanha para a escolha do sucessor de
Washington Luís. Pela tradição, o apoio deveria ser dado a um candidato mineiro, já que o presidente
que estava no poder fora eleito por São Paulo.
Ao invés de apoiar um candidato mineiro, Washington Luís insistiu na candidatura do governador de
São Paulo, Júlio Prestes. A atitude do presidente gerou intensa insatisfação em Minas Gerais, e ajudou
a alavancar o Rio Grande do Sul no cenário político.
O governador de Mineiro, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, que esperava-se ser o indicado para a
sucessão presidencial, propôs o lançamento de um movimento de oposição para concorrer contra a
candidatura de Júlio Prestes. O apoio partiu de outros dois estados insatisfeitos com a situação política:
Rio Grande do Sul e Paraíba. Do Rio Grande do Sul surgiu, após inúmeras discussões entre os três
estados, o nome de Getúlio Vargas – governador gaúcho eleito em 1927, que fora Ministro da Fazenda
de Washington Luís – para presidente, tendo como vice o nome do governador da Paraíba e sobrinho do
ex-presidente Epitácio Pessoa, o pernambucano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque. Definidos os
nomes, foi formada a Aliança Liberal, nome que definiu a campanha. O Partido Democrático de São
Paulo expressou seu apoio à candidatura de Getúlio Vargas, enquanto alguns membros do Partido
Republicano Mineiro resolveram apoiar Júlio Prestes.
A Aliança Liberal refletia os desejos das classes dominantes regionais que não estavam ligadas ao
café, buscando também atrair a classe média. Seu programa de governo defendia o fim dos esquemas
de valorização do café, a implantação de alguns benefícios aos trabalhadores, como a aposentadoria
(nem todos os setores possuíam), a lei de férias e a regulamentação do trabalho de mulheres e menores
de idade. Além disso, insistiam no tratamento com seriedade pelo poder público das questões sociais,
que Washington Luís afirmava serem “caso de Polícia”. Um dos pontos marcantes da campanha da
Aliança Liberal foi a participação do proletariado.

Reflexos da Crise de 1929 no Brasil


No plano externo, a quebra da bolsa de valores de Nova York, seguida da crise que afetou grande
parte da economia mundial, também teve repercussões no Brasil.
O ano de 1929 rendeu uma excelente produção de café, tudo que os produtores não esperavam. A
colheita de quase 30 milhões de sacas na safra 1927-1928 representava aproximadamente o dobro da
produção dos anos anteriores. Esperava-se que, devido a alternancia entre boas e más safras 1929
representasse uma colheita baixa, já que as três ultimas safras haviam sido boas.Aliada a ideia de uma
safra baixa, estava a expectativa de lucros certos, garantidos pela Defesa Permanente do Café, o que
levou muitos produtores a contraírem empréstimos e aumentarem suas lavouras.
A produção, ao contrário do esperado, graças às condições climáticas e a implantação de novas
técnicas agricolas. O excesso do produto foi de encontro com a crise, que diminuiu o consumo, e
consequente o preço do café. O resultado foi um endividamento daqueles que apostaram em preços altos
e não quitaram suas dívidas.
Em busca de salvação para os negócios, o setor cafeeiro recorreu ao governo federal, na busca de
perdão das dívidas e de novos financiamentos. O presidente, temendo perder a estabilidade cambial,
recusou-se a ajudar o setor, fator que foi explorado politicamente pela oposição.
Apesar do esforço em tentar combater o candidato de Washington Luís, a Aliança Liberal não foi capaz
de derrotar Júlio Prestes, que foi eleito presidente em 1º de Março de 1930.

A Revolução de 1930
Em 1º de março de 1930 Júlio Prestes foi eleito presidente do Brasil conquistando 1.091.709 votos,
contra 742.794 votos recebidos por Getúlio Vargas. Ambos os lados foram acusados de cometer fraudes
contra o sistema eleitoral, seja manipulando votos, seja impondo votos forçados através de violência e
ameaça.
A derrota Júlio Prestes nas eleições de 1930 para não significou o fim da Aliança Liberal e sua busca
pelo controle do poder executivo. Os chamados “tenentes civis” acreditavam que ainda poderiam
conquistar o poder através das armas.
As discordâncias provocadas pelo apoio de Washington Luís a Júlio Prestes não foram suficientes, até
aquele momento, para promover uma ruptura de grandes proporções na política, porém um grupo de
políticos mais jovens e em busca de ascensão política perceberam que para alcançar novos patamares,
ainda dependiam da aprovação de um grupo muito estreito.
Entre os que buscavam novos caminhos, estavam os gaúchos Getúlio Vargas, Flores da Cunha,
Osvaldo Aranha, Lindolfo Collor, João Neves, Maurício Cardoso e Paim Filho. Em Minas Gerais também
haviam Virgílio de Melo Franco e Francisco Campos, descendentes de famílias tradicionais do estado.

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Até mesmo entre membros antigos da política, representantes das velhas oligarquias, haviam aqueles
que enxergavam nos políticos mais jovens a possibilidade de aumento do poder pessoal, como Artur
Bernardes, Venceslau Brás, Afrânio de Melo Franco, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e João Pessoa.
Buscando agir pelo caminho que o movimento tenentista havia tentado anos antes, os jovens políticos
buscaram fazer contato com militares rebeldes, que receberam a atitude com desconfiança. Entre os
motivos para o receio dos tenentes, estava o fato de que alguns nomes, como João Pessoa e Osvaldo
Aranha, estiveram envolvidos em perseguições, confrontos e condenações contra o grupo. Porém, depois
de conversas e desconfianças dos dois lados, os grupos chegaram a um acordo, com a adesão de nomes
de destaque dos movimentos da década de 20, como Juarez Távora, João Alberto e Miguel Costa. A
grande exceção foi o nome de Luís Carlos Prestes, que em maio de 1930 declarou-se abertamente como
socialista revolucionário, e recusou-se a apoiar a disputa oligárquica.
Os preparativos para a tomada do poder não aconteceram da maneira esperada, deixando o
movimento conspiratório em uma situação de desvantagem. Porém, em 26 de julho de 1930 ocorreu um
fato que serviu de estopim para o movimento revolucionário: por volta das 17 horas, na confeitaria
“Glória”, em Recife, João Pessoa foi assassinado por João Duarte Dantas.
O crime, motivado tanto por disputas pessoais como por disputas públicas, foi utilizado como
justificativa para o movimento revolucionário, sendo explorado seu lado público, e transformado João
Pessoa em “mártir da revolução”.
Entre as razões para o assassinato, estiveram as mudanças políticas promovidas por João Pessoa ao
tornar-se governador. Em uma tentativa de modernizar a administração, o governador direcionou as
transações comerciais para os portos da capital e de Cabedelo, buscando tornar eficiente a arrecadação
de impostos e diminuir a dependência que o estado tinha do Recife. A medida adotada pelo governador
chocava-se com os interesses de produtores, principalmente de algodão, do interior do estado, que
realizavam as transações comerciais por terra, diretamente com Recife, escapando dessa forma das
cobranças de impostos. Os interesses conflitantes resultaram na Revolta de Princesa, movimento rebelde
liderado por José Pereira Lima, deflagrado no município de Princesa, atual Princesa Isabel, na fronteira
com Pernambuco, em fevereiro de 1930. Um dos principais aliados do Coronel José Pereira foi a família
Dantas.
As divergências entre governo e revoltosos resultou na invasão do escritório de advocacia de João
Dantas, que localizava-se na capital do estado, da qual foram retirados de um cofre alguns papéis, entre
eles cartas de amor trocadas entre o advogado e a professora Anaíde Beiriz. Apesar de ambos serem
solteiros, o jornal A União, de cunho governista, divulgou a existência das cartas como obras de conteúdo
impróprio, que não poderiam sequer serem publicadas no jornal.
Após a divulgação, a jovem professora, caindo em desgraça e abandonada pela família, fugiu para o
Recife. João Dantas sentiu-se com a honra manchada, e resolveu acertar as contas com o governador,
assassinando-o com dois tiros, dentro da Padaria Glória, na capital Pernambucana.
A morte de João Pessoa foi extremamente explorada por seus aliados como elemento político para
concretizar os objetivos da revolução. Apesar de ter morrido no Nordeste e ser natural da região, o corpo
do presidente da Paraíba foi enterrado no Rio de Janeiro, então capital da República, fator que reuniu
uma enorme quantidade de pessoas para acompanhar o funeral. A morte de João Pessoa garantiu a
adesão de setores do exército que até então estavam relutantes em apoiar a causa dos revolucionários.
Feitos os preparativos, no dia 3 de outubro de 1930, nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul
e no Nordeste, estourou a revolução, comandada por Getúlio Vargas e pelo tenente-coronel Góes
Monteiro. As ações foram rápidas e não encontraram uma resistência forte. No Nordeste, as operações
ficaram a cargo de Juarez Távora, que contando com a ajuda da população, conseguiu dominar
Pernambuco sem esforços.
Após o Sul e o Nordeste dominados, os esforços concentraram-se em São Paulo. Os revolucionários
montaram quartel em Ponta Grossa, no Paraná, e começaram a elaborar um plano de ataque contra as
forças militares leais a Washington Luís. O ataque, definido para acontecer em território paulista, mais
precisamente na cidade de Itararé, ficou conhecido como “batalha de Itararé” ou também, a batalha que
não ocorreu, pois antes do desfecho do confronto, em 24 de outubro, os generais Leite de Castro, Tasso
Fragoso e Mena Barreto e o almirante Isaías Noronha depuseram Washington Luís da presidência e
instalaram uma junta provisória de governo.
Em virtude do maior peso político que os gaúchos detinham no movimento e sob pressão das forças
revolucionárias, a Junta finalmente decidiu transmitir o poder a Getúlio Vargas. Num gesto simbólico que
representou a tomada do poder, os revolucionários gaúchos, chegando ao Rio, amarraram seus cavalos
no Obelisco da avenida Rio Branco. Em 3 de novembro chegava ao fim a Primeira República.

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Questões

01. (Câmara dos Deputados - Analista Legislativo – CESPE) O fato é que a transição do Império
para a República, proclamada em 1889, constituiu a primeira grande mudança de regime político ocorrida
desde a Independência. Republicanistas “puros", como Silva Jardim, defendiam uma mudança de regime
que, a exemplo da França, tivesse como resultado maior participação da população na vida política
nacional. Mas, vitoriosos, os republicanos conservadores, como Campos Sales, mantiveram o modelo de
exclusão política e sociocultural sob nova fachada. Ao “parlamentarismo sem povo" do Segundo Reinado,
sucedeu uma República praticamente “sem povo", ou seja, sem cidadania democrática.
Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota. História do Brasil: uma interpretação. São Paulo: Ed.
SENAC São Paulo, 2008, p. 552.
Tendo o fragmento de texto acima como referência inicial e considerando o contexto histórico brasileiro
ao longo da segunda metade do século XIX e da primeira do século XX, julgue o item a seguir.
Os dois primeiros presidentes civis da República, ambos oriundos de São Paulo, eram representantes
das correntes políticas mais empenhadas em afastar do regime republicano que surgia a pecha de modelo
de exclusão política e sociocultural que historicamente recaía sobre o Estado brasileiro, desde a
Independência.
( ) Certo ( ) Errado

02. TRT - 3ª Região (MG) - Analista Judiciário – História – FCC) Seu Mundinho, todo esse tempo
combati o senhor. Fui eu quem mandou atirar em Aristóteles. Estava preparado para virar Ilhéus do
avesso. Os jagunços estavam de atalaia, prontos para obedecer. Os meus e os outros amigos, para
acabar com a eleição. Agora tudo acabou.
(In: AMADO, Jorge. Gabriela, cravo e canela)
O texto descreve uma realidade que, na história do Brasil, identifica o
(A) tenentismo, que considerava o exército como a única força capaz de conduzir os destinos do povo.
(B) coronelismo, que se constituía em uma forma de o poder privado se manifestar por meio da política.
(C) mandonismo, criado com o objetivo de administrar os conflitos no interior das elites agrárias do
país.
(D) messianismo, entidade com poderes políticos capaz de subjugar a população por meio da força.
(E) integralismo, que consistia em uma forma de a oligarquia cafeeira demonstrar sua influência e
poder político.

03. TRT - 3ª Região (MG) - Analista Judiciário – História – FCC) Para responder à questão,
considere o texto abaixo.
... A forma federativa deu ampla autonomia aos Estados, com a possibilidade de contrair empréstimos
externos, constituir forças militares próprias e uma justiça estadual.
[...] A representação na Câmara dos Deputados, proporcional ao número de habitantes dos Estados,
foi outro princípio aprovado...
[...] A aceitação resignada da candidatura Prudente de Moraes, que marcou o início da república civil
oligárquica, consolidada por Campos Sales, se deu em um momento difícil, quando Floriano dependia do
apoio regional [...].
(Adaptado de: FAUSTO, Boris. Pequenos ensaios de História da República (1889-1945). São Paulo:
Cebrap, 1972, p. 2-4)
O principal mecanismo para a consolidação da república a que o texto se refere foi a
(A) política de “salvação nacional", desencadeada pelos militares ligados aos grandes fazendeiros
mineiros e paulistas com a finalidade de fortalecer o poder das oligarquias estaduais do sudeste.
(B) “campanha civilista" que defendia a regulamentação dos preços dos produtos de exportação e
garantia os empréstimos contraídos no exterior aos fazendeiros das grandes propriedades.
(C) “política dos governadores", que consistia na troca de apoio entre governo federal e governos
locais, com a finalidade de manter no poder os representantes dos grandes fazendeiros.
(D) política do “café-com-leite", que incentivava uma disputa acirrada entre os representantes dos
pequenos Estados e enfraquecia o poder dos fazendeiros paulistas e dos mineiros.
(E) política de “valorização do café" realizada pelos Estados contribuía para o enfraquecimento do
poder local e garantia a troca de favores entre os fazendeiros e o governo federal.

04. TRT - 3ª Região (MG) - Analista Judiciário – História – FCC) Ao contrário do que sucedeu na
Capital da República, as primeiras manifestações do movimento operário em São Paulo surgiram já sob
a inspiração de ideologias revolucionárias ou classistas – o anarquismo e, em muito menor grau, o

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socialismo reformista. As condições sócio-políticas tendiam a confirmar as ideologias negadoras da
organização vigente na sociedade aos olhos da marginalizada classe operária nascente, estrangeira em
sua grande maioria. (...) O anarquismo se converteria, entretanto, na principal corrente organizatória do
movimento operário, tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo.
(FAUSTO, Boris. Trabalho urbano e conflito social. São Paulo: s/data, p.60-62)
A corrente ideológica a que o texto se refere, e que dominou a cena do movimento operário brasileiro
durante a segunda década do século XX,
(A) pode ser tratada como um sistema de pensamento social visando a modificações fundamentais na
estrutura da sociedade com o objetivo de substituir a autoridade do Estado por alguma forma de
cooperação não governamental entre indivíduos livres.
(B) investe contra o capital e o Estado capitalista, pretendendo substitui-lo por uma livre associação
de produtores diretos, possuidores dos meios de produção e na organização do sindicato único como
meio de promover a emancipação das classes trabalhadoras.
(C) defende a coletivização dos meios de produção, a violência nas lutas operárias e dá ênfase ao
papel que os sindicatos desempenhariam na obra emancipadora dos trabalhadores e da sociedade, e na
luta operária para a conquista do Estado.
(D) argumenta que o sindicalismo operário deve ser o articulador da autogestão e um instrumento do
plano econômico e da unidade de produção, e que as diversas associações produtivas devem ser
coordenadas pelas federações sindicais ligadas ao Estado.
(E) inclina-se pelo caminho revolucionário ao sustentar a necessidade de realizar de imediato a tese
marxista segundo a qual o critério de distribuição de bens e serviços deveria ser determinada pelas
assembleias sindicais de cada Estado da Federação.

05. (SEE-AC - Professor de Ciências Humanas – FUNCAB) Leia o texto.


“O São Francisco lá pra cima da Bahia
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar
E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato
que dizia que o sertão ia alagar
O sertão vai virar mar, dá no coração
O medo que algum dia o mar também vire sertão.”
(Sobradinho. Sá e Guarabyra.)
A expressão “O sertão vai virar mar” está associada a uma personagem de um importante movimento
messiânico do início da República brasileira.
O personagem referido é:
(A) João Cândido.
(B) Beato José Maria.
(C) Antônio Conselheiro.
(D) Marcílio Dias.
(E) Barão de Drumond.

Respostas

01. Resposta: Errado


Os dois primeiros presidentes civis, assim como seus sucessores, preocuparam-se em manter a
política brasileira fechada e restrita para pequenos grupos dominantes (oligarquias).

02. Resposta: B
Durante a República Velha os grandes fazendeiros(coronéis) impunham seu poder através de seus
exércitos particulares de jagunços. O voto era aberto e os eleitores que moravam nas grandes fazendas
eram forçados a votar no candidato do coronel.

03. Resposta: C
A política dos governadores foi um sistema político não oficial, idealizado e colocado em prática pelo
presidente Campos Sales (1898 – 1902), que consistia na troca de favores políticos entre o presidente da
República e os governadores dos estados. De acordo com esta política, o presidente da República não
interferia nas questões estaduais e, em troca, os governadores davam apoio político ao executivo federal.

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04. Resposta: A
O anarquismo é o movimento político que defende a supressão de todas as formas de dominação e
opressão vigentes na sociedade moderna, dando lugar a uma comunidade mais fraterna e igualitária,
fruto de um esforço individual a partir de um árduo trabalho de conscientização. O anarquismo é
frequentemente apontado como uma ideologia negadora dos valores sociais e políticos prevalecentes no
mundo moderno como o estado laico, a lei, a ordem, a religião e a propriedade privada.

05. Resposta: C
Antônio Conselheiro foi o líder do arraial de canudos, no interior da Bahia, local em que ocorreu a
guerra de canudos, revolta de grande repercussão no período republicano.

A Nova Economia do Brasil


A política trabalhista foi taxada de “paternalista” por intelectuais de esquerda, que acusavam Getúlio
de tentar anular a influência desta sobre o proletariado, desejando transformar a classe operária num
setor sob seu controle nos moldes da Carta del Lavoro do fascista italiano Benito Mussolini. Os defensores
de Getúlio Vargas diziam que em nenhum outro momento da história do Brasil houve avanços
comparáveis nos direitos dos trabalhadores. Os expoentes máximos dessa posição foram João Goulart
e Leonel Brizola, sendo Brizola considerado o último herdeiro político do “Getulismo”, ou da “Era Vargas”,
na linguagem dos brasileiros.
A crítica de direita, ou liberal, argumenta que, em longo prazo, as leis trabalhistas prejudicam os
trabalhadores porque aumentam o chamado “custo Brasil”, onerando muito as empresas e gerando a
inflação que corrói o valor real dos salários. Segundo esta versão, o Custo Brasil faz com que as empresas
brasileiras contratem menos trabalhadores, aumentem a informalidade e faz que as empresas
estrangeiras se tornem receosas de investirem no Brasil. Assim, segundo a crítica liberal, as leis
trabalhistas gerariam, além da inflação, mais desemprego e subemprego entre os trabalhadores.

As Forças de oposição ao Regime Oligárquico


No decorrer das três primeiras décadas do século XX houveram uma série de manifestações operárias,
insatisfação dos setores urbanos e movimentos de rebeldia no interior do Exército (Tenentismo). Eram
forças de oposição ao regime oligárquico, mas que ainda não representavam ameaça à sua estabilidade.
Esse quadro sofreu uma grande modificação quando, no biênio 1921-30, a crise econômica e o
rompimento da política do café-com-leite por Washington Luís colocaram na oposição uma fração
importante das elites agrárias e oligárquicas. Os acontecimentos que se seguiram (formação da Aliança
Liberal, o golpe de 30) e a consequente ascensão de Vargas ao poder podem ser entendidos como o
resultado desse complexo movimento político. Ele se apoiou em vários setores sociais liderados por
frações das oligarquias descontentes com o exclusivismo paulista sobre o poder republicano federal.

O Governo Provisório
Com Washingtom Luís deposto e exilado, Getúlio Vargas foi empossado como chefe do governo
provisório. As medidas do novo governo tinham como objetivo básico promover uma centralização política
e administrativa que garantisse ao governo sediado no Rio de Janeiro o controle efetivo do país. Em
outras palavras, o federalismo da República Velha caía por terra. Para atingir esse objetivo, foram
nomeados interventores para governar os estados. Eram homens de confiança, normalmente oriundos
do Tenentismo, cuja tarefa era fazer cumprir, em cada estado, as determinações do governo provisório.
Esse fato e mais o adiamento que Getúlio Vargas foi impondo à convocação de novas eleições
desencadearam reações de hostilidade ao seu governo, especialmente no estado de São Paulo. As
eleições dariam ao país uma nova constituição, um presidente eleito pela população e um governo com
legitimidade jurídica e política. Mas poderia também significar a volta ao poder dos derrotados na
Revolução de 30.

A Reação Paulista
A oligarquia paulista estava convencida da derrota que sofreu em 24 de outubro de 1930, mas não
admitia perder o controle do Executivo em “seu” próprio estado. A reação paulista começou com a não
aceitação do interventor indicado para São Paulo, o tenentista João Alberto. Às pressões pela indicação
de um interventor civil e paulista, começa a se somar a reivindicação de eleições para a Constituinte.
Essas teses foram ganhando rapidamente simpatia popular.
As manifestações de rua começaram a ocorrer com o apoio de todas as forças políticas do estado, até
por aquelas que tinham simpatizado com o movimento de 1930 (exemplo do Partido Democrático - PD).
Diante das pressões crescentes, Getúlio resolveu negociar com a oligarquia paulista, indicando um

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interventor do próprio estado. Isso foi interpretado como um sinal de fraqueza. Acreditando que poderiam
derrubar o governo federal, os oligarcas articularam com outros estados uma ação nesse sentido.
Manifestações de rua intensificaram-se em São Paulo. Numa delas, quatro jovens, Miragaia, Martins,
Dráusio e Camargo foram mortos e se transformaram em mártires da luta paulista em nome da legalidade
constitucional. Getúlio, por seu lado, aprovou outras “concessões”: elaborou o código eleitoral (que previa
o voto secreto e o voto feminino), mandou preparar o anteprojeto para a Constituição e marcou as eleições
para 1933.

A Revolução Constitucionalista de 1932


A oligarquia paulista, entretanto, não considerava as “concessões” suficientes. Baseada no apoio
popular que conseguira obter e contando com a adesão de outros estados, desencadeou em 9 de julho
de 1932, a chamada Revolução Constitucionalista. Ela visava a derrubada do governo provisório e a
aprovação imediata das medidas que Getúlio protelava. Entretanto, o apoio esperado dos outros estados
não ocorreu e, depois de três meses, a revolta foi sufocada. Até hoje, o caráter e o significado da
Revolução Constitucionalista de 1932 geram polêmicas. De qualquer forma, é inegável que o movimento
teve duas dimensões. No plano mais aparente, predominaram as reivindicações para que o país
retornasse à normalidade política e jurídica, lastreadas numa expressiva participação popular. Nesse
sentido, alguns destacam que o movimento foi um marco na luta pelo fortalecimento da cidadania no
Brasil. Num plano menos aparente, mas muito mais ativo, estava o rancor das elites paulistas, que viam
no movimento uma possibilidade de retomar o controle do poder político que lhe fora arrebatado em 1930.
Se admitirmos que existiu uma revolução em 1930, o que aconteceu em São Paulo, em 1932, foi a
tentativa de uma contra revolução, pois visava restaurar uma supremacia que, durante mais de 30 anos,
fez a nação orbitar em torno dos interesses da cafeicultura. Nesse sentido, o movimento era marcado por
um reacionarismo elitista, contrário ao limitado projeto modernizador de 1930.

As Leis Trabalhistas
Foi aprovado também um conjunto de leis que garantiam direitos aos trabalhadores, destacando-se
entre eles: salário mínimo, jornada de oito horas, regulamentação do trabalho feminino e infantil, descanso
remunerado (férias e finais de semana), indenização por demissão, assistência médica, previdência
social. A formalização dessa legislação trabalhista teve vários significados e implicações. Representou a
primeira modificação importante na maneira de o Estado enfrentar a questão social e definiu as regras a
partir das quais o mercado de trabalho e as relações trabalhistas poderiam se organizar. Garantiu, assim,
uma certa estabilidade ao crescimento econômico. Por fim, foi muito útil para obter o apoio dos
assalariados urbanos à política getulista.
Essa legislação denota a grande habilidade política de Getúlio. Ele apenas formalizou um conjunto de
conquistas que, em boa parte, já vigoravam nas relações de trabalho nos principais centros industriais.
Com isso, construiu a sua imagem como “Pai dos Pobres” e benfeitor dos trabalhadores.

O Controle Sindical
A aprovação da legislação sindical representou um grande avanço nas relações de trabalho no Brasil,
pois pela primeira vez o trabalhador obtinha, individualmente, amparo nas leis para resistir aos excessos
da exploração capitalista. Por outro lado, paralelamente à sua implantação, o Estado definiu regras
extremamente rígidas para a organização dos sindicatos, entre as quais a que autorizava o seu
funcionamento (Carta Sindical), as que regulavam os recursos da entidade e as que davam ao governo
direito de intervir nos sindicatos, afastando diretorias se julgasse necessário. Mantinha, assim, os
sindicatos sob um controle rigoroso.

Eleições Presidenciais de 1934


Uma vez promulgada a Constituição de 1934, a Assembleia Constituinte converteu-se em Congresso
Nacional e elegeu o presidente da República por via indireta: o próprio Getúlio. Começava o período
constitucional do governo Vargas.

O Governo Constitucional e a Polarização Ideológica


Durante esse período, simultaneamente à implantação do projeto político do governo, foram se
desenhando outros dois projetos para o país. Esse breve período constitucional foi marcado por lutas, às
vezes violentas, entre os defensores desses projetos, levando a uma verdadeira polarização ideológica.
O tom desse momento político do país foi marcado pelo confronto entre duas correntes: uma defendia
um nacionalismo conservador, a outra, um nacionalismo revolucionário.

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Nacionalismo conservador
Esse movimento contava com o apoio de vários estratos das classes médias urbanas, Igreja e setores
do Exército. O projeto que seus apoiadores tinham em mente decorria de uma certa leitura que faziam da
história do país até aquele momento.
Segundo os conservadores, o aspecto que marcava mais profundamente a formação histórica do país
e do seu povo era a tradição agrícola. Desde o descobrimento, toda a vida econômica, social e política
organizou-se em torno da agricultura. Todos os nossos valores morais, regras de convivência social,
costumes e tradições, enfim, a espinha dorsal da nossa cultura, fincavam suas raízes no modo de vida
rural. Dessa forma, tudo o que ameaçava essa “tradição agrícola” (isto é, estímulos a outros setores da
economia, crescimento da indústria, expansão da urbanização e suas consequências, como a
propagação de novos valores, hábitos e costumes tipicamente urbanos, bem como novas formas de
expressão artística e culturais) representava um atentado contra a integridade e o caráter nacional, uma
corrupção da nossa identidade como povo e nação. Por ser contrário a transformações e à medida que
as tendências modernizadoras tinham origem externa (induzidas pela industrialização, vanguardas
artísticas europeias etc.) é que o movimento caracterizava-se por ser nacionalista e conservador.
Para que a coerência com a nossa identidade histórica fosse mantida, os ideólogos do nacionalismo
conservador propunham o seguinte: os latifúndios deveriam ser divididos em pequenas parcelas de terras
a ser distribuídas. Assim, as famílias retornariam ao campo, tornando o Brasil uma grande comunidade
de pequenos e prósperos proprietários. Podemos concluir, a partir desse ideário, que eram
antilatifundiários, antiindustrialistas e, no limite, anticapitalistas. Na esfera política, defendiam um regime
autoritário de partido único.

O Integralismo
Esse movimento deu origem à Ação Integralista Brasileira, cujo lema era Deus, Pátria e Família, tendo
como seu principal líder e ideólogo Plínio Salgado. Tradicionalmente, a AIB tem sido interpretada como a
manifestação do nazifascismo no Brasil, pela semelhança entre os aspectos aparentes do integralismo e
do nazifascismo. Uniformes, tipo de saudação, ultranacionalismo, feroz anticomunismo, tendências
ditatoriais e apelo à violência eram traços que aproximavam as duas ideologias. Um exame mais atento,
entretanto, mostra que eram projetos distintos. Enquanto o nazi fascismo era apoiado pelo grande capital
e buscava uma expansão econômico-industrial a qualquer custo, ao preço de uma guerra mundial se
necessário, os integralistas queriam voltar ao campo. Num certo sentido, o projeto nazifascista era mais
modernizante que o integralista. Assim, as semelhanças entre eles escondiam propostas e projetos
globais para a sociedade radicalmente distintos.

Nacionalismo Revolucionário
Frações dos setores médios urbanos, sindicatos, associações de classe, profissionais liberais,
jornalistas e o Partido Comunista prestaram apoio a outro movimento político: o nacionalismo
revolucionário. Este defendia a industrialização do país, mas sem que isso implicasse subordinação e
dependência em relação às potências estrangeiras, como a Inglaterra e os Estados Unidos.
O nacionalismo revolucionário propunha uma reforma agrária como forma de melhorar as condições
de vida do trabalhador urbano e rural e potencializar o desenvolvimento industrial. Considerava que a
única maneira de realizar esses objetivos seria a implantação de um governo popular no Brasil. Esse
movimento deu origem à Aliança Nacional Libertadora, cujo presidente de honra era Luís Carlos Prestes,
então membro do Partido Comunista.

As Eleições de 1938
Contida a oposição de esquerda, o processo político evoluiu sem conflitos maiores até 1937. Nesse
ano, começaram a se desenhar as candidaturas para as eleições de 1938. Dentre as candidaturas,
começou a se destacar a de Armando Sales Oliveira, paulista que articulava com outros estados sua
eleição para presidente. Getúlio Vargas, as oligarquias que lhe davam apoio e os militares herdeiros da
tradição tenentista não viam com bons olhos a possibilidade de retorno da oligarquia paulista ao poder.
Mas, uma vez mantido o calendário eleitoral, isso parecia inevitável.

O Plano Cohen
Enquanto as articulações políticas visando as eleições se desenvolviam, veio à luz o famoso Plano
Cohen. Segundo as informações oficiais, forças de segurança do governo tinham descoberto um plano
de tomada do poder pelos comunistas. Muito bem elaborado, colocava em risco as instituições, caso
fosse deflagrado. O governo então, para evitar o perigo vermelho, solicitou do Congresso Nacional a

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aprovação do estado de sítio, que suspendia as liberdades públicas e dava ao governo amplos poderes
para combater a subversão.

A Decretação do Estado de Sítio e o Golpe de 1937


A fração oligárquica paulista hesitava em aprovar a medida, mas diante do clamor do Exército, das
classes médias e da Igreja, que temiam a escalada comunista, o Congresso autorizou a decretação do
estado de sítio. A seguir, com amplos poderes concentrados em suas mãos, Getúlio Vargas outorgou
uma nova Constituição ao país, implantando, por meio desse golpe o Estado Novo.

Estado Novo (1937-1945)11


A ditadura estabelecida por Getúlio Vargas durou oito anos, indo de 1937 a 1945. Embora Vargas
agisse habilidosamente, com o intuito de aumentar o próprio poder, não foi somente sua atuação que
gerou o Estado Novo. Pelo menos três elementos convergiam para sua criação:
- A defesa de um Estado forte por parte dos cafeicultores, que dependiam dele para manter os preços
do café;
- Os industriais, que seguiam a mesma linha de defesa dos cafeicultores, já que o crescimento das
industrias dependia da proteção estatal;
- As oligarquias e classe média urbana, que assustavam-se com a expansão da esquerda e julgavam
que para “salvar a democracia” era necessário um governo forte

Além disso Vargas tinha também o apoio dos militares, por alguns motivos:
- Por sua formação profissional, os militares possuíam uma visão hierarquizada do Estado, com
tendência a apoiar mais um regime autoritário do que um regime liberal;
- Os oficiais de tendência liberal haviam sido expurgados do exército por Vargas e pela dupla Góis
Monteiro-Gaspar Dutra;
- Entre os oficiais do exército estava se consolidando o pensamento de que se deveria substituir a
política no exército pela política do exército. E a política do exército naquele momento, visava o próprio
fortalecimento, resultado atingido mais facilmente em uma ditadura.

Com todos esses fatores a seu favor, não houveram dificuldades para Getúlio instalar e manter por
oito anos a ditadura no país. Durante o período foi implacável o autoritarismo, a censura, a repressão
policial e política e a perseguição daqueles que fossem considerados inimigos do Estado.

Política econômica do Estado Novo


Por meio de interventores, o governo passou a controlar a política dos estados. Paralelamente aos
interventores, foi criado em cada um dos estados um Departamento Administrativo, que era
diretamente subordinado ao Ministério da Justiça, com membros nomeados pelo presidente da república.
Cada Departamento Administrativo estudava e aprovava as leis decretadas pelo interventor e fiscalizava
seus atos, orçamentos, empréstimos, entre outros. Dessa forma os programas estaduais ficavam
subordinados ao governo federal.
Na área federal foi criado o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP). Além de
centralizar a reforma administrativa, o Departamento tinha poderes para elaborar o orçamento dos órgãos
públicos e controlar a execução orçamentaria deles. Com a criação do DASP e do Conselho Nacional
de Economia, não só a atuação administrativa e econômica do governo passou a ser muito mais
eficiente, como também aumentou consideravelmente o poder do Estado e do presidente da república,
agora diretamente envolvido na solução dos principais problemas econômicos do país, inclusive com a
criação de órgãos especializados: o instituto do Açúcar e Álcool, o Instituto do Mate, Instituto do pinho,
etc.
Por meio dessas medidas, o governo conseguiu solucionar de maneira satisfatória os principais
problemas econômicos da época. A cafeicultura foi convenientemente defendida, a exportação agrícola
foi diversificada, a dívida externa foi congelada, a indústria cresceu rapidamente, a mineração de ferro e
carvão expandiu-se e a legislação trabalhista foi consolidada. Com essas medidas as elites enriqueceram,
a classe média melhorou seu padrão de vida e o operariado ganhou a proteção que lutou por anos para
conseguir. Dessa forma Vargas atingiu altos níveis de popularidade, mesmo com a repressão e
perseguição política de seu regime.

11 Adaptado de MOURA, José Carlos Pires. História do Brasil.

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No mesmo período de 1937 a 1940, a ação econômica do Estado objetivava racionalizar e incentivar
atividades econômicas já existentes no Brasil. Já a partir de 1940, com a instalação de grandes empresas
estatais, o Estado alterou seu papel, passando a ser um dos principais investidores do setor industrial,
principalmente na indústria pesada (responsável por transformar grandes quantidades de matéria-prima).
Os investimentos estatais concentravam-se na indústria pesada, principalmente a siderurgia, química,
mecânica pesada, metalurgia, mineração de ferro e geração de energia hidroelétrica. Esses eram setores
que exigiam grandes investimentos e garantiam retorno somente no longo prazo, o que não despertou o
interesse da burguesia brasileira. Como saída, existiam duas opções para sua implantação: o
investimento do capital estrangeiro ou o investimento estatal, sendo o segundo o escolhido. A iniciativa
teve êxito graças a um pequeno número de empresários e também do exército, que associava a indústria
de base com a produção de armamentos, entendendo-a como assunto de segurança nacional.
A maior participação do Estado na economia gerou a formação de novos órgãos oficiais de
coordenação e planejamento econômico, destacando-se:
CNP – Conselho Nacional do Petróleo (1938)
CNAEE – Conselho Nacional de Aguas e Energia Elétrica (1939)
CME – Coordenação da Mobilização Econômica (1942)
CNPIC – Conselho Nacional de Política Industrial e Comercial (1944)
CPE – Comissão de Planejamento Econômico (1944)

As principais empresas estatais criadas no período foram:


CSN – Companhia Siderúrgica Nacional (1940)
CVRD – Companhia Vale do Rio Doce (1942)
CNA – Companhia nacional de Álcalis (1943)
FNM – Fábrica Nacional de Motores (1943)
CHESF – Companhia Hidroelétrica do São Francisco (1945)

Desse modo, apesar da desaceleração do crescimento industrial ocasionado pela Segunda Guerra
Mundial, devido à dificuldade para importar equipamentos e matéria-prima, quando o Estado Novo se
encerrou em 1945, a indústria brasileira estava plenamente consolidada.

Características políticas do Estado Novo


Pode até parecer estranho, mas a ditadura estadonovista possuía uma constituição, que é uma
característica das ditaduras brasileiras, onde a constituição afirmava o poder absoluto do ditador.
A nova constituição foi apelidada de “Polaca”, elaborada por Francisco Campos, o mesmo responsável
por criar o AI-1 em 1964, que deu origem à ditadura militar no Brasil. A constituição “Polaca” era
extremamente autoritária e concedia poderes praticamente ilimitados ao governo.
Em termos práticos, o governo do Estado Novo funcionou da seguinte maneira:
- O poder político concentrava-se todo nas mãos do presidente da república;
- O Congresso Nacional, as Assembleias Estaduais e as Câmaras Municipais foram fechadas;
- O sistema judiciário ficou subordinado ao poder executivo;
- Os Estados eram governados por interventores nomeados por Vargas, os quais, por sua vez,
nomeavam os prefeitos municipais;
- A Polícia Especial (PE) e as polícias estaduais adquiriram total liberdade de ação, prendendo,
torturando e assassinando qualquer pessoa suspeita de se opor ao governo;
- A propaganda pela imprensa e pelo rádio foi largamente usada pelo governo, por meio do
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).
Foram fechados os partidos políticos, até mesmo o Partido Integralista, que mudou seu nome para
Associação Brasileira de Cultura. Em 1938 os integralistas tentaram um golpe de governo que fracassou
em poucas horas, com seus principais líderes presos, inclusive Plinio Salgado, que foi exilado para
Portugal.
Nesse meio tempo, o DIP e a PE prosseguiam seu trabalho. Chefiado por Lourival Fontes, o DIP era
incansável tanto na censura quanto na propaganda, voltada para todos os setores da sociedade –
operários, estudantes, classe média, crianças, militares – e abrangendo assuntos tão diversos quanto
siderurgia, carnaval e futebol; procurava-se, assim, formar uma ideologia estadonovista que fosse aceita
pelas diversas camadas sociais e grupos profissionais e intelectuais. Cabia também ao DIP o preparo das
gigantescas manifestações operarias, particularmente no dia 1º de Maio, quando os trabalhadores, além
de comemorarem o Dia do Trabalho, prestavam uma homenagem a Vargas, apelidado de “o pai dos
pobres”.

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Leis trabalhistas no governo de Getúlio Vargas
Getúlio Vargas garantiu diversas mudanças em relação ao trabalho e ao trabalhador durante seu
governo. Decretou a organização da jornada de trabalho, instituiu o Ministério do Trabalho, criou a Lei de
Sindicalização, o salário mínimo em 1940.
Apesar de muitas das conquistas trabalhistas terem sido aprovadas por Vargas, elas já eram
reinvindicações antigas de diversos movimentos de trabalhadores, principalmente operários e sindicatos
urbanos, desde a Primeira República
As concessões garantidas por Getúlio criavam a imagem do Estado disciplinando o mercado de
trabalho em benefício dos assalariados, porém também serviram para encobrir o caráter controlador do
Estado sobre os movimentos operários, e possuía clara inspiração nas ideias do Ditador italiano Benito
Mussolini.
O relacionamento entre Getúlio e os trabalhadores era muito interessante, temperado pelos famosos
discursos do ditador os quais sempre começavam pela frase “trabalhadores do Brasil...”. Utilizando um
modelo de política populista, Vargas, de um lado, eliminava qualquer liderança operaria que tentasse
um atuação autônoma em relação ao governo, acusando-a de “comunista”, enquanto por outro lado,
concedia frequentes benefícios trabalhistas ao operariado, incluindo a decretação do salário-mínimo e
da Consolidação das Leis do Trabalho(CLT). Desse modo, por meio de uma inteligente mistura de
propaganda, repressão e concessões, Getúlio obteve um amplo apoio das camadas populares.

A CLT entrou em vigor em 1943, durante a típica comemoração do 1º de maio. Entre seus principais
pontos estão:
Regulamentação da jornada de trabalho – 8 horas diárias.
Descanso de um dia semanal, remunerado.
Regulamentação do trabalho e salário de menores.
Obrigatoriedade de salário mínimo como base de salário.
Direito a férias anuais.
Obrigatoriedade de registro do contrato de trabalho na carteira do trabalhador.

As deliberações da CLT priorizaram, em 1943, as relações do trabalhador urbano, praticamente


ignorando o trabalhador rural, que ainda representava uma grande parcela da população. Segundo dados
do IBGE, em 1940 aproximadamente 70% da população brasileira estava na zona rural.
Essas pessoas não foram beneficiadas com medidas trabalhistas específicas, nem com políticas que
facilitassem o acesso à terra e à propriedade.
Porém, não houve legislação que protegesse o trabalhador rural ou lhe facilitasse o acesso à terra.
Mantiveram-se as relações de arrendamento e as diárias. Os poucos trabalhadores assalariados do
campo cumpriam funções especializadas.
Para organizar os trabalhadores rurais, desde a década de 50, surgiram movimentos sociais como as
Ligas Camponesas, as Associações de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas, até o mais estruturado
destes movimentos, o MST, nascido nos encontros da CPT- Comissão Pastoral da Terra, em 1985, no
Paraná.
Enquanto isso, a Polícia Especial (PE), sob o comando de Filinto Müller, continuava agindo: prendia
milhares e milhares de pessoas, sendo que a maioria jamais foi julgada, ficando apenas presas e sendo
torturadas durante anos a fio.
Após o fim do Estado Novo foi formada uma comissão para investigar as barbaridades cometidas pela
polícia durante o período de ditadura, chamada de “Comissão Parlamentar de Inquérito dos Atos
Delituosos da Ditadura”. Mas os levantamentos feitos pela comissão em 1946 e 1947, eram quase sempre
abafados, fazendo-se o possível para que caíssem no esquecimento, por duas razões:
- A maioria dos torturadores e assassinos permaneciam no polícia depois que a PE havia sido extinta,
sendo apenas transferidos para outros órgãos e funções;
- Muitos civis e militares envolvidos nas torturas e assassinatos fizeram mais tarde rápida carreira,
chegando a ocupar postos importantes na administração e na política.
O relatório concluído pela comissão revela os extremos da violência e banditismo organizado
alcançados durante o Estado Novo: prisões arbitrarias, intimidação, tortura. Muitas vezes os presos eram
pendurados em “paus-de-arara”, espancados com paus e pedaços de borracha e espetados com
alfinetes. Além disso as torturas também poderiam incluir a inserção de farpas de bambu sob as unhas,
retirada de pelos e dentes com alicate, queimaduras com cigarro ou maçarico em órgãos sexuais,
choques e a obrigação de beber óleo de rícino.
Para os torturadores não havia muita diferenciação entre homens, mulheres, crianças e velhos. Muitas
vezes os familiares próximos também eram presos e torturados para obrigar o preso a falar. Quando não

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resistia aos ferimentos, o prisioneiro era desovado em um matagal ou atirado de um prédio alto para
simular suicídio.
Também era comum durante o período a espionagem, feita por militares e civis, que eram conhecidos
como “invisíveis”. Sua função poderia ser a de espiar alguém em específico ou fazer uma espionagem
generalizada em escolas, universidades, fábricas, estádios de futebol, transporte público, cinemas, locais
de lazer, unidades militares e repartições públicas. Formaram-se milhares de arquivos pessoais com
informações minuciosas sobre as pessoas, que seriam utilizadas novamente 19 anos após o fim do estado
Novo, na Ditadura Militar.

Fim do Estado Novo


Com o início da Segunda Guerra Mundial em 1939, houveram muitas consequências. Permitiu ao
governo de Vargas neutralidade para negociar tanto com os Aliados como com o Eixo, conseguindo
financiamento dos Estados Unidos para a construção da usina siderúrgica de Volta Redonda, a compra
de armamentos alemães e fornecimento de material bélico norte-americano.
Apesar da neutralidade de Getúlio, que esperava o desenrolar do conflito para determinar apoio ao
provável vencedor, em seu governo haviam grupos divididos e definidos sobre quem apoiar: Oswaldo
Aranha, que era ministro das Relações Exteriores era favorável aos Estados Unidos, enquanto os
generais Gaspar Dutra e Góis Monteiro eram favoráveis ao nazismo. Com a entrada dos Estados Unidos
na guerra em 1941 e o torpedeamento de vários navios mercantes brasileiros, o país entra em guerra ao
lado dos aliados em agosto de 1942. A saída de Lourival Fontes (DIP) Fillinto Müller (PE) e Francisco
Campos (Ministério da Justiça) também colaboraram para a decisão.
Em 1944 foram mandados 25.000 soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para a Itália,
marcando a participação do Brasil no conflito.
Mais do que a vitória contra as forças do Eixo na Europa, a Segunda Guerra Mundial teve um efeito
na política brasileira. Muitos dos que lutavam contra o Fascismo na Europa não aceitavam voltar para
casa e viver em um regime autoritário. O sentimento de revolta cresceu na população e muitas
manifestações em prol da redemocratização foram realizadas, mesmo com forte repressão da polícia.
Pressionado pelas reivindicações, em 1945 Vargas assinou um Ato Adicional que marcava eleições para
o final daquele ano. Foram formados vários partidos: UDN (União Democrática nacional), PSD (Partido
Social Democrático), PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), o PCB (Partido Comunista Brasileiro) foi
legalizado, além de outros menores. Venceu a candidatura do General Dutra, que concorreu pela aliança
entre PTB e PSD. Além dele foram candidatos o brigadeiro Eduardo Gomes da UDN e Yedo Fiúza do
PCB.
Apesar dos protestos para o fim do Estado Novo, muitas pessoas queriam que a redemocratização
ocorresse com a continuação de Getúlio no poder. Daí vem o movimento conhecido como “Queremismo”,
que vem do slogan “Queremos Getúlio”.

Questões

01. (Enem) O autor da constituição de 1937, Francisco Campos, afirma no seu livro, O Estado
Nacional, que o eleitor seria apático; a democracia de partidos conduziria à desordem; a independência
do Poder Judiciário acabaria em injustiça e ineficiência; e que apenas o Poder Executivo, centralizado em
Getúlio Vargas, seria capaz de dar racionalidade imparcial ao Estado, pois Vargas teria providencial
intuição do bem e da verdade, além de ser um gênio político.
CAMPOS, F. O Estado nacional. Rio de Janeiro: José Olympio, 1940 (adaptado).

Segundo as ideias de Francisco Campos,


(A) os eleitores, políticos e juízes seriam mal-intencionados.
(B) o governo Vargas seria um mal necessário, mas transitório.
(C) Vargas seria o homem adequado para implantar a democracia de partidos.
(D) a Constituição de 1937 seria a preparação para uma futura democracia liberal.
(E) Vargas seria o homem capaz de exercer o poder de modo inteligente e correto.

02. (Fuvest) Em 10 de novembro de 1937, para justificar o golpe que instaurava o Estado Novo, Getúlio
Vargas discursava:
“Colocada entre as ameaças caudilhescas e o perigo das formações partidárias sistematicamente
agressivas, a Nação, embora tenha por si o patriotismo da maioria absoluta dos brasileiros e o amparo
decisivo e vigilante das Forças Armadas, não dispõe de meios defensivos eficazes dentro dos quadros

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legais, vendo-se obrigada a lançar mão das medidas excepcionais que caracterizam o estado de risco
iminente da soberania nacional e da agressão externa.”
Baseando-se no texto acima, pode-se entender que:
(A) Vargas fala em nome da Nação, considerando-se o intérprete de seus anseios e necessidades.
(B) a defesa da Nação está exclusivamente nas mãos do exército e do patriotismo dos brasileiros.
(C) Vargas delega às Forças Armadas o poder de lançar mão de medidas excepcionais.
(D) as medidas excepcionais tomadas estão na relação direta da falta de formações políticas atuantes.
(E) Vargas estabelece uma oposição entre o patriotismo dos brasileiros e a ação das Forças Armadas.

03. (Faap) "Batemo-nos pelo Estado Integralista. Queremos a reabilitação do princípio de autoridade,
que esta se respeite e faça respeitar-se. Defendemos a família, a instituição fundamental cujos direitos
mais sagrados são proscritos pela burguesia e pelo comunismo."
Este texto, pelas ideias que defende, é provável que tenha sido escrito por:
(A) Jorge Amado
(B) Carlos Drummond de Andrade
(C) Mário de Andrade
(D) Oswald de Andrade
(E) Plínio Salgado

04. (Fei) O Estado Novo, período que se seguiu ao golpe de Getúlio Vargas (10/11/1937 até
29/10/1945) caracterizou-se:
(A) pela centralização político-administrativa, eliminação da autonomia dos estados e extinção dos
partidos políticos;
(B) pela proliferação de partidos políticos, revogação da censura, descentralização político-
administrativa;
(C) pelo apoio ao comunismo internacional;
(D) pelo movimento tenentista, reconhecimento dos partidos de esquerda e estabelecimento das
eleições diretas;
(E) pela formação de uma Assembleia Constituinte que votaria a Constituição de 1937, conhecida
como a mais liberal da República.

05. (Fuvest) Na história da República brasileira, a expressão "Estado Novo" identifica:


(A) o período de 1930 a 1945, em que Getúlio Vargas governou o país de forma ditatorial, só com o
apoio dos militares, sem a interferência de outros poderes.
(B) O período de 1950 a 1954, em que Getúlio Vargas governou com poderes ditatoriais, sem garantia
dos direitos constitucionais.
(C) o período de 1937 a 1945, em que Getúlio Vargas fechou o Poder Legislativo, suspendeu as
liberdades civis e governou por meio de decretos-leis.
(D) o período de 1945 a 1964, conhecido como o da redemocratização, quando foi restabelecida a
plenitude dos poderes da República e das liberdades civis.
(E) o período de 1930 a 1934, quando se afirmou o respeito aos princípios democráticos, graças à
Revolução Constitucionalista de São Paulo.

Respostas

01. Resposta: E
O objetivo de Francisco Campos com seu livro e com a Constituição de 1937 era justificar e legitimar
legislativamente o poder autoritário de Vargas.

02. Resposta: A
Exercendo uma posição de liderança e com o objetivo de centralizar o poder em sua pessoa, Vargas,
no discurso, coloca-se como representante da nação, que é incapaz de enfrentar nos quadros legais os
supostos perigos que a ameaçam, cabendo ao Estado sob seu comando tomar essas medidas
excepcionais.

03. Resposta: E
O movimento Integralista ganhou destaque no Brasil com um crescente número de seguidores. O
partido, influenciado pelo fascismo italiano, iniciou suas atividades durante o primeiro governo de Getúlio
Vargas combatendo os defensores de pensamentos de esquerda. Os integralistas acusavam os

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comunistas de corromper a família com seus pensamentos que ameaçavam a formação religiosa das
pessoas.

04. Resposta: A
Durante o período foi implacável o autoritarismo, a censura, a repressão policial e política e a
perseguição daqueles que fossem considerados inimigos do Estado. Por meio de interventores, o governo
passou a controlar a política dos estados.

05. Resposta: C
A ditadura estabelecida por Getúlio Vargas durou oito anos, indo de 1937 a 1945.

O Governo de Eurico Gaspar Dutra

O governo Dutra foi marcado, internamente, pela promulgação da nova Carta Constitucional, em 18
de setembro de 1946. De caráter liberal e democrático, a Constituição de 1946 iria reger a vida do país
por mais duas décadas.
Em 18 de setembro de 1946 foi oficialmente promulgada a Constituição dos Estados Unidos do Brasil
e o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, o que consagrou liberdades que existiam na
Constituição de 1934, mas haviam sido retiradas em 1937.

Alguns dos dispositivos regulados pela Constituição de 1946 foram:


- A igualdade de todos os cidadãos perante a lei;
- A liberdade de expressão, sem censura, fora em espetáculos e diversões públicas;
- Sigilo de correspondência inviolável;
- Liberdade de consciência, crença e exercício de quaisquer cultos religiosos;
- Liberdade de associação para fins lícitos;
- Casa como asilo do indivíduo torna-se inviolável;
- Prisão apenas em flagrante delito ou por ordem escrita de autoridade competente e a garantia ampla
de defesa do acusado;
- fim da pena de morte;
- Os três poderes são definitivamente separados.

A separação dos três poderes visava delimitar a ação de cada um deles. Esta nova lei, na verdade, foi
elaborada devido à reflexão sobre os anos em que Vargas ampliou as atribuições do Poder Executivo e
obteve controle sobre quase todas as ações do Estado. Fora isso, o mandato do presidente se
estabeleceu em 5 anos, sendo proibida a reeleição para cargos do Executivo.
No que se referia às leis trabalhistas, a Constituição de 1946 manteve o princípio de cooperação dos
órgãos sindicais e diminuiu o controle dos mecanismos do Estado aos sindicatos e seus adeptos. Já no
que tocava à organização do processo eleitoral, a Carta de 1946 diluiu as bancadas profissionais de
Getúlio Vargas e aumentou a participação do voto das mulheres, que na constituição anterior só era
permitido às mulheres que tinham cargo público remunerado.
Sendo assim, a distribuição das cadeiras na Câmara dos Deputados foi alterada, aumentando-se as
vagas para Estados considerados “menores”. Porém, o Governo de Dutra feriu sua própria constituição,
que pregava o pluripartidarismo, ao iniciar uma cassação ao Partido Comunista Brasileiro (PCB).
A Constituição de 1946 ficou em vigência até o Golpe Militar, em 1964. Nessa ocasião, os militares
passaram a aplicar uma série de emendas para estabelecer as diretrizes do novo regime até ser
definitivamente suspensa pelos Atos Institucionais e pela Constituição de 1967.
Com o avanço da redemocratização, o movimento operário ganhou vigor, com um aumento
significativo no número de sindicalizados e a eclosão de várias greves no país. Para barrar o avanço do
movimento sindical, que contava com forte apoio dos comunistas, Dutra, ainda no início do governo, antes
da promulgação da nova Constituição, baixou um decreto proibindo o direito de greve.
No primeiro ano do governo Dutra, por conta de uma conjuntura internacional favorável à cooperação
entre países capitalistas e socialistas, a atuação dos comunistas, apesar das restrições, foi tolerada. As
mudanças ocorridas no cenário internacional a partir de 1947, com o dissolvimento da aliança entre os
Estados Unidos e a União Soviética transformaram a situação, levando ao início da Guerra Fria. Segundo
o presidente americano Harry Truman, as potência mundiais da época estavam divididas em dois
sistemas nitidamente contraditórios: o capitalista e o comunista. E a política externa americana voltou-se
para o combate ao comunismo.

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No Brasil, as repercussões da Guerra Fria foram imediatas. No dia 7 de maio de 1947, após uma
batalha judicial, o PCB teve seu registro cassado. Nesse mesmo dia, o Ministério do Trabalho decretou a
intervenção em vários sindicatos e fechou a Confederação Geral dos Trabalhadores do Brasil, criada pelo
movimento sindical em setembro de 1946 e não reconhecida oficialmente pelo governo. A exclusão dos
comunistas do sistema político- partidário culminou em janeiro de 1948, com a cassação dos mandatos
de todos os parlamentares que haviam sido eleitos pelo PCB. Sob o impacto da cassação, o PCB lançou
um manifesto pregando a derrubada de imediata do governo Dutra, considerado um governo
"antidemocrático", de "traição nacional" e "a serviço do imperialismo norte- americano".
A política econômica do governo Dutra foi guiada pelo plano SALTE (Saúde, Alimentação, Transporte
e Energia), destacando-se nesse programa o incentivo dado à pesquisa, refino e distribuição do petróleo.
Por meio dessas ações de controle, o governo Dutra conseguiu atingir uma média anual de crescimento
econômico de 6%.
Quanto à política externa, a aliança com os Estados Unidos foi reforçada. Em decorrência disso, o
Brasil foi um dos primeiros países ocidentais a romper relações com a União Soviética. Durante a época
da Guerra Fria, o país manteve-se aliado aos norte-americanos. O Brasil tomou parte da fase inicial da
Organização das Nações Unidas (ONU) como membro não permanente, participando da aprovação do
Estado de Israel, em 1947, tendo Oswaldo Aranha como Presidente da Segunda Assembleia Geral da
ONU.
Em nível de integração internacional, a atuação brasileira se fez presente na montagem do Sistema
Interamericano, iniciada no Rio de Janeiro, em 1947, com a Conferência para a Manutenção da Paz e da
Segurança, em que as nações do continente assinaram o Tratado Internamericano de Assistência
Recíproca e, no ano seguinte, na Conferência de Bogotá, com a aprovação da criação da Organização
dos Estados Americanos (OEA). Em 1948, com o intuito de estabelecer um foro de defesa de interesses
econômicos comuns, os países latino-americanos criaram a Comissão Econômica para a América Latina
(CEPAL).
O governo Dutra pregava a não intervenção do Estado na economia e a liberdade de ação para o
capital estrangeiro. Sua política econômica fez crescer a inflação e a dívida externa.
Em um ano de liberação cambial, o presidente esgotou as reservas cambiais.
O liberalismo econômico adotado pelo presidente Dutra, dando facilidade à livre importação de
mercadorias, teve como consequência o esgotamento das divisas do país; mais tarde, o governo teve de
modificar sua posição, restringindo algumas importações.
Em abril de 1950, Dutra sancionou a lei 1.079, também conhecida como Lei do Impeachment.
O período que abrange os anos de 1946 a 1964, é considerado pelos historiadores e cientistas sociais
como a primeira experiência de regime democrático no Brasil. O período de existência da República
Oligárquica ou República Velha (1889-1930) esteve longe de representar uma experiência
verdadeiramente democrática devido aos incontáveis vícios políticos mascarados por princípios de
legalidade jurídica prescritos nas leis.
Não obstante, o presidente Eurico Gaspar Dutra praticou uma política governamental deliberadamente
autoritária a partir de medidas que desrespeitou flagrantemente a Constituição vigente.
Chegando em 1950, os brasileiros preparavam-se para uma nova eleição para presidente da
República. Mais uma vez, assim como em 1945, o cenário político nacional experimentava a carência de
líderes políticos nacionais. De tal forma, o PSD ofereceu a candidatura do incógnito mineiro Cristiano
Machado e a UDN apostou novamente no brigadeiro Eduardo Gomes. O PTB por sua vez, chegava à
frente lançando o nome de Getúlio Vargas, que venceu com 48% dos votos válidos.

O governo democrático de Getúlio Vargas


Em 1950 Getúlio lança-se à presidência juntamente com Café Filho pelo PTB e PSP (Partido Social
Progressista). Com a fraca concorrência, é eleito presidente do Brasil, assumindo novamente o poder,
agora por vias democráticas, em 31 de janeiro de 1951.
De volta ao Palácio do Catete, Vargas adotou "uma fórmula nova e mais agressiva de nacionalismo
econômico, tanto aos aspectos internos quanto aos externos dos problemas brasileiros. A fórmula do
nacionalismo radical propunha, como o próprio nome já diz, uma mudança radical na estrutura social e
econômica que vigorava, visto que a mesma era considerada exploradora pelos nacionalistas radicais 12
Após a década de 30, no primeiro governo de Vargas, o governo começou a investir na “nacionalização
dos bens do subsolo” devido à presença de empresas estrangeiras.
Um dos maiores incentivadores de tal campanha foi um importante escritor brasileiro: Monteiro Lobato.
Ao voltar dos EUA, onde se encantara com a perspectiva de um país próspero para seus habitantes, ele

12 SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco (1930-1964). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975

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se tornou um grande articulador da conscientização popular através de palestras, artigos em jornais, livros
sobre o assunto e até cartas ao então presidente, Getúlio Vargas que, em 1939 cria o CNP – Conselho
Nacional de Petróleo – tornando o petróleo um recurso da União.
Mais tarde, no início da década de 50 a esquerda brasileira lança a campanha “O Petróleo é Nosso”
contra a tentativa dos chamados “entreguistas” de propugnar a exploração do petróleo brasileiro por
empresas ou países estrangeiros alegando que o país não possuía recursos nem técnica suficiente para
fazê-lo.
Em resposta, Getúlio Vargas assina a Lei 2.004 de 1953, criando a Petrobras.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e o projeto de criação da Eletrobrás
também fazem parte da política nacionalista, industrialista e estatizante de novo governo de Getúlio.
Desde o início do seu mandato sofreu forte oposição, sem conseguir o apoio que precisava para
realizar reformas. Neste período Vargas entra em constantes atritos com empresas estrangeiras
acusadas de enviar excessivas remessas de lucro ao exterior. Em 1952 um decreto institui um limite de
10% para tais remessas.
Em 1953 João Goulart foi nomeado para o ministério do Trabalho, com o objetivo de criar uma política
trabalhista que aproximasse os trabalhadores do governo, aventando-se a possibilidade do aumento do
salário-mínimo em 100%. A campanha contra o governo voltou-se então contra Goulart. Jango, como era
conhecido, causava profundo descontentamento entre os militares que em 8 de fevereiro de 1954
entregaram um manifesto ao ministério da Guerra (Manifesto dos Coronéis). Getúlio pressionado e
procurando conciliar os ânimos, aceitou demitir João Goulart.
Os ânimos contra Getúlio se acirraram e ele procurou mais do que nunca se amparar nos
trabalhadores, concedendo em 1º de maio de 1954 o aumento de 100% no salário-mínimo. A oposição
no congresso entra com um pedido de impeachment, porém sem sucesso.
Embora Vargas tivesse o apoio político do PTB e do PSD; dos militares nacionalistas; de segmentos
da burguesia e da elite agrária; dos sindicatos e de parte das massas urbanas, seu governo sofreu forte
oposição. No meio político, o foco da oposição era a UDN. Para esse partido, "a indústria e a agricultura
deveriam desenvolver-se livremente, de acordo com as forças do mercado, além de valorizar o capital
estrangeiro, atribuindo-lhe o papel de suprir as dificuldades naturais do País.
Na imprensa, as críticas e acusações a Getúlio foram nucleadas pelo político udenista e proprietário
do jornal Tribuna da Imprensa, Carlos Lacerda.
A imprensa conservadora e particularmente o jornal Tribuna da Imprensa de Carlos Lacerda inicia uma
violenta campanha contra o governo. Em 5 de agosto de 1954, Lacerda sofre um atentado que matou o
major-aviador Rubens Florentino Vaz. O incidente teve amplas repercussões e resultou numa grave crise
política.
As investigações demonstraram o envolvimento de Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de
Getúlio. Fortunato acabou sendo preso.
A pressão da oposição tornou-se mais intensa, no Congresso e nos meio militares, exigia-se a renúncia
de Vargas. Cria-se um clima de tensão que culmina com o tiro que Vargas dá no coração na madrugada
de 24 de agosto de 1954. Antes de suicidar-se escreveu uma Carta-Testamento, na realidade seu
testamento político. Onde diz coisas como: “Contra a justiça da revisão do salário mínimo se
desencadearam os ódios (…) Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja
independente. (…) Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente
dou o primeiro passo no caminho da Eternidade e saio da vida para entrar na História”.

Governo Café Filho (1954-1955)


João Fernandes Campos Café Filho, ou simplesmente Café Filho, como era mais conhecido no meio
político, teve um curto mas agitado governo. Durante os pouco mais de 14 meses em que ocupou a
Presidência da República, Café Filho teve que conciliar os problemas econômicos herdados do governo
anterior com o acirramento político provocado pelo cenário aberto com a morte de Getúlio Vargas. Café
Filho nasceu em Natal (RN), no dia 3 de fevereiro de 1899. Sua primeira experiência política ocorreu em
1923, quando candidatou-se ao cargo de vereador, em Natal. Derrotado, candidatou-se novamente em
1928, quando mais uma vez perdeu a disputa, em meio a denúncias de fraude. Em 1934, já sob o governo
constitucional de Getúlio Vargas, que assumira o poder em 1930, Café Filho foi eleito deputado federal,
cargo que ocupou novamente em 1945, na primeira eleição realizada após o fim do Estado Novo.

A sucessão presidencial
Em 1955, durante a disputa presidencial, o PSD, partido que Vargas fundara uma década antes, lançou
o nome de Juscelino Kubitscheck à Presidência da República. Na disputa para vice-presidente, que na
época ocorria em separado da corrida presidencial, a chapa apresentou o ex-ministro do Trabalho do

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governo Vargas, João Goulart, do PTB, sigla pela qual o ex-presidente havia sido eleito em 1950. Setores
mais radicais da UDN, representados pelo jornalista Carlos Lacerda, receosas de que a vitória de
Juscelino Kubitscheck e Jango pudesse significar um retorno da política varguista, passaram a pedir a
impugnação da chapa. Lacerda chegou a declarar, na época, que "esse homem [Juscelino Kubitscheck]
não pode se candidatar; se candidatar não poderá ser eleito; se for eleito não poderá tomar posse; se
tomar posse não poderá governar". A pressão da UDN para que Café Filho impedisse a posse dos novos
eleitos intensificou-se logo após a divulgação dos resultados oficiais, que davam a vitória à chapa PSD-
PTB. De outro lado, entre os militares, também surgiam divergências quanto ao resultado das urnas. A
principal delas ocorreu quando um coronel declarou-se contrário à posse de JK e Jango, numa clara
insubordinação ao ministro da Guerra de Café Filho, marechal Henrique Lott, que havia se posicionado a
favor do resultado.

Carlos Luz
A intenção de Lott em punir o coronel, entretanto, dependia de autorização do presidente da República,
que em meio a tantas pressões foi internado às pressas num hospital do Rio de Janeiro. Afastado das
atividades políticas, Café Filho foi substituído, no dia 08 de novembro de 1955, pelo primeiro nome na
linha de sucessão, Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados. Próximo à UDN, Carlos Luz decidiu
não autorizar o marechal Lott a seguir em frente com a punição, o que provocou sua saída do Ministério
da Guerra. A partir de então, Henrique Lott iniciou uma campanha contra o presidente em exercício, que
terminou na sua deposição, com apenas três dias de governo. Acompanhado de auxiliares civis e
militares, Carlos Luz refugiou-se no prédio da Marinha e, em seguida, partiu para a cidade de Santos, no
litoral paulista. Com a morte de Vargas, a internação de Café Filho e a deposição de Carlos Luz, o próximo
na linha de sucessão seria o vice-presidente o Senado, Nereu Ramos, que assumiu a Presidência da
República e reconduziu Lott ao cargo de ministro da Guerra. Subitamente, Café Filho tentou reassumir o
cargo, mas foi vetado por Henrique Lott e outros generais que o apoiavam. Café Filho era acusado de
conspirar contra a posse de JK e Jango. No dia 22 de novembro, o Congresso Nacional aprovou o
impedimento para que ele reassumisse a Presidência da República. Em seu lugar, permaneceu o senador
Nereu Ramos, que transmitiu, sob Estado de Sítio, o governo ao presidente constitucionalmente eleito:
Juscelino Kubitscheck, o "presidente bossa nova".

Nereu de Oliveira Ramos


Nascido na cidade de Lages, em Santa Catarina, Nereu de Oliveira Ramos era advogado e assumiu a
presidência aos 67 anos. Em virtude do impedimento do Presidente Café Filho e do Presidente da Câmara
dos Deputados Carlos Luz, o Vice-Presidente do Senado Federal, assumiu a Presidência da República,
de 11/11/1955 a 31/01/1956.

Governo Juscelino Kubitschek (1956-1961)


Na eleição presidencial de 1955, o Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB) se aliaram, lançando como candidato Juscelino Kubitschek para presidente e João Goulart para
vice-presidente. A União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Democrata Cristão (PDC) disputaram
o pleito com Juarez Távora. Também concorreram os candidatos Adhemar de Barros e Plínio Salgado.
Juscelino Kubitschek venceu as eleições. O vice-presidente Café Filho havia substituído Getúlio Vargas
na presidência da República. Porém, antes de terminar o mandato, problemas de saúde provocaram o
afastamento de Café Filho. Quem assumiu o cargo foi o presidente da Câmara dos Deputados, Carlos
Luz.

A ameaça de golpe
Rumores de um suposto golpe, tramado pelo presidente em exercício Carlos Luz, por políticos e
militares pertencentes a UDN contra a posse de Juscelino Kubitschek fizeram com que o ministro da
Guerra, general Henrique Teixeira Lott, mobilizasse tropas militares que ocuparam importantes prédios
públicos, estações de rádio e jornais. O presidente em exercício Carlos Luz foi deposto. Foi empossado
provisoriamente no governo o presidente do Senado, Nereu Ramos, que se encarregou de transmitir os
cargos a Juscelino Kubitschek e João Goulart, a 31 de janeiro de 1956. A intervenção militar assegurou,
portanto, as condições para posse dos eleitos.

O Plano de Metas
O governo de Juscelino Kubitschek entrou para história do país como a gestão presidencial na qual se
registrou o mais expressivo crescimento da economia brasileira. Na área econômica, o lema do governo
foi "Cinquenta anos de progresso em cinco anos de governo". Para cumprir com esse objetivo, o governo

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federal elaborou o Plano de Metas, que previa um acelerado crescimento econômico a partir da expansão
do setor industrial, com investimentos na produção de aço, alumínio, metais não ferroso, cimento, álcalis,
papel e celulose, borracha, construção naval, maquinaria pesada e equipamento elétrico. O Plano de
Metas teve pleno êxito, pois no transcurso da gestão governamental a economia brasileira registrou taxas
de crescimento da produção industrial (principalmente na área de bens de capital) em torno de 80%.

A construção de Brasília
A ideia de estabelecer a capital do Brasil no interior do país nasceu ainda no século XVIII, algumas
décadas após Rio de Janeiro tornar-se o centro administrativo do Brasil, título que até então pertencia a
Salvador. Os inconfidentes mineiros queriam que a capital da república, caso seu plano de separação
funcionasse, fosse a cidade de São João del Rey (MG). Mesmo com a independência do Brasil em 1822,
a capital permaneceu no Rio. Já em meados do século XIX, o historiador Francisco Adolfo de Varnhagem
reiniciou a luta pela transferência, propondo que uma nova capital fosse construída na região onde hoje
fica a cidade de Planaltina (GO).
Após a Proclamação da República, a ideia de transferir a capital brasileira voltou a ser tema de debate,
principalmente pelos problemas sanitários e as epidemias de Febre Amarela que assolavam o Rio de
Janeiro durante o verão, e pela posição estratégica em caso de guerra, já que o acesso a uma capital no
interior do território brasileiro seria dificultado para os inimigos. Os constituintes de 1891 estabeleceram,
nas Disposições Transitórias, essa determinação que, não tendo sido executada em toda a Velha
República, foi renovada na constituição promulgada em 1934. Igualmente a carta de 1946 conservou
aquele propósito, determinando a nomeação, pelo presidente da República, de uma comissão de técnicos
que visassem estudos localizando, no Planalto Central, uma região onde fosse demarcada a nova capital.
Em maio de 1892, o governo Floriano Peixoto criou a Comissão Exploradora do Planalto Central e
entregou a chefia a Louis Ferdinand Cruls, astrônomo e geógrafo belga radicado no Rio de Janeiro desde
1874. Essa comissão tinha como objetivo, conforme disposto na constituição, proceder à exploração do
planalto central da república e à consequente demarcação da área a ser ocupada pela futura capital.
Diversos problemas, entre eles a questão logística, impediram a construção da nova capital federal,
pois a dificuldade nos transportes e também no acesso ao Planalto Central tornavam a ideia inviável.
Ao assumir a presidência da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, logo após a sua posse, em
Janeiro de 1956, afirmou o seu empenho “de fazer descer do plano dos sonhos a realidade de Brasília”.
Apresentando o projeto ao congresso como um fato consumado, em setembro do mesmo ano, foi
aprovada a lei nº 2.874 que criou a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (vulgarizada pela sigla
NOVA-CAP). As obras se iniciaram em Fevereiro de 1957, com apenas 3 mil trabalhadores – batizados
de “candangos”. Aqueles que construíram Brasília, vindos de todos os quadrantes do território nacional,
foram chamados Candangos.
O arquiteto Oscar Niemeyer foi escolhido para a chefia do Departamento de Urbanística e Arquitetura,
recusando-se a traçar os planos urbanísticos de Brasília, insistindo na necessidade de um concurso para
a escolha do plano-piloto. Em Março de 1957, foi escolhida uma comissão do concurso para a escolha
do Plano-piloto
Concorreram 26 projetos, dos quais 16 foram eliminados na seleção prévia. Entre os que ficaram
estavam o de Lúcio Costa, o de Nei Rocha e Silva, e de Henrique Mindlin, o de Paulo Camargo, o de
MMM Roberto e o da firma Construtec.
O projeto aprovado, de autoria de Lúcio Costa, dividiu a opinião dos arquitetos. Para uns, não passava
de um esboço, um rabisco, e sua inscrição não deveria ter sido sequer aceita. Para outros, era
simplesmente brilhante, genial.
A concepção do Plano Piloto nasceu do gesto de quem assinala uma cruz. Um símbolo de conquista,
de quem toma posse de um território. Adaptado à topografia local e ao escoamento das águas, um dos
eixos dessa cruz, o Norte-Sul, seria arqueado e daria ao desenho final a noção de um pássaro – ou, como
diria mais tarde Lucio Costa, a sugestão de uma libélula, uma borboleta, um arco e flecha...
Entre os princípios básicos do projeto estão a setorização urbana por atividades determinadas e uma
técnica rodoviária que elimina cruzamentos. A cidade gira em torno de dois grandes troncos de circulação,
o Eixo Monumental, que vai de Leste a Oeste, e o Eixo Rodoviário-Residencial, que vai de Norte a Sul e
é cortado transversalmente pelas vias locais.
Com exceção da área central, onde prevalecem edifícios mais altos e mais aglomerados, o Plano Piloto
se caracteriza pela paisagem horizontalizada, pela predominância de espaços livres e pela grande
amplitude visual.
Em 21 de abril de 1960 uma festa na Praça dos Três Poderes marcou a inauguração oficial da nova
capital. Mas, pelo menos no início, a imagem de modernidade que Brasília pretendia passar não
funcionou. No dia seguinte à inauguração, o presidente do Senado, Filinto Müller, aprovou um recesso de

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30 dias, alegando falta de condições de trabalho e de moradia na cidade que ainda era um canteiro de
obras.

Desenvolvimento e dependência externa


A prioridade dada pelo governo ao crescimento e desenvolvimento econômico do país recebeu apoio
de importantes setores da sociedade, incluindo os militares, os empresários e sindicatos trabalhistas. O
acelerado processo de industrialização registrado no período, porém, não deixou de acarretar uma série
de problemas de longo prazo para a econômica brasileira. O governo realizava investimentos no setor
industrial a partir da emissão monetária e da abertura da economia ao capital estrangeiro. A emissão
monetária (ou emissão de papel moeda) ocasionou um agravamento do processo inflacionário, enquanto
que a abertura da economia ao capital estrangeiro gerou uma progressiva desnacionalização econômica,
porque as empresas estrangeiras (as chamadas multinacionais) passaram a controlar setores industriais
estratégicos da economia nacional. O controle estrangeiro sobre a economia brasileira era preponderante
nas indústrias automobilísticas, de cigarros, farmacêutica e mecânica. Em pouco tempo, as multinacionais
começaram a remeter grandes remessas de lucros (muitas vezes superiores aos investimentos por elas
realizados) para seus países de origem. Esse tipo de procedimento era ilegal, mas as multinacionais
burlavam as próprias leis locais. Portanto, se por um lado o Plano de Metas alcançou os resultados
esperados, por outro, foi responsável pela consolidação de um capitalismo extremamente dependente
que sofreu muitas críticas e acirrou o debate em torno da política desenvolvimentista.

Denúncias da oposição
A gestão de Juscelino Kubitschek, popularmente chamado de JK, em particular a construção da cidade
de Brasília, não esteve a salvo de críticas dos setores oposicionistas. No Congresso Nacional, a oposição
política ao governo de JK vinha da União Democrática Nacional (UDN). A oposição ganhou maior força
no momento em que as crescentes dificuldades financeiras e inflacionárias (decorrentes principalmente
dos gastos com a construção de Brasília) fragilizaram o governo federal. A UDN fazia um tipo de oposição
ao governo baseada na denúncia de escândalos de corrupção e uso indevido do dinheiro público. A
construção de Brasília foi o principal alvo das críticas da oposição. No entanto, a ação de setores
oposicionistas não prejudicou seriamente a estabilidade governamental na gestão de JK.

Governabilidade e sucessão presidencial


Em comparação com os governos democráticos que antecederam e sucederam a gestão de JK na
presidência da República, o mandato presidencial de Juscelino apresenta o melhor desempenho no que
se refere à estabilidade política. A aliança entre o PSD e o PTB garantiu ao Executivo Federal uma base
parlamentar de sustentação e apoio político que explica os êxitos da aprovação de programas e projetos
governamentais. O PSD era a força dominante no Congresso Nacional, pois possuía o maior número de
parlamentares e o maior número de ministros no governo. O PSD era considerado um partido
conservador, porque representava interesses de setores agrários (latifundiários), da burocracia estatal e
da burguesia comercial e industrial. O PTB, ao contrário, reunia lideranças sindicais representantes dos
trabalhadores urbanos mais organizados e setores da burguesia industrial. O êxito da aliança entre os
dois partidos deu-se ao fato de que ambos evitaram radicalizar suas respectivas posições políticas, ou
seja, conservadorismo e reformismo radicais foram abandonados. Na sucessão presidencial de 1960, o
quadro eleitoral apresentou a seguinte configuração: a UDN lançou Jânio Quadros como candidato; o
PTB com o apoio do PSB apresentou como candidato o marechal Henrique Teixeira Lott; e o PSP
concorreu com Adhemar de Barros. A vitória coube a Jânio Quadros, que obteve expressiva votação.
Naquela época, as eleições para presidente e vice-presidente ocorriam separadamente, ou seja, as
candidaturas eram independentes. Assim, o candidato da UDN a vice-presidente era Milton Campos, mas
quem venceu foi o candidato do PTB, João Goulart. Desse modo, João Goulart iniciou seu segundo
mandato como vice-presidente.

Governo Jânio Quadros (1961)


Na eleição presidencial de 1960, a vitória coube a Jânio Quadros. Naquela época, as regras eleitorais
estabeleciam chapas independentes para a candidatura a vice-presidente, por esse motivo, João Goulart,
do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) foi reeleito. A gestão de Jânio Quadros na presidência da
República foi breve, duraram sete meses e encerrou-se com a renúncia. Neste curto período, Jânio
Quadros praticou uma política econômica e uma política externa que desagradou profundamente os
políticos que o apoiavam, setores das Forças Armadas e outros segmentos sociais. A renúncia de Jânio
Quadros desencadeou uma crise institucional sem precedentes na história republicana do país, porque a
posse do vice-presidente João Goulart não foi aceita pelos ministros militares e pelas classes dominantes.

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A crise política
O governo de Jânio Quadros perdeu sua base de apoio político e social a partir do momento em que
adotou uma política econômica austera e uma política externa independente. Na área econômica, o
governo se deparou com uma crise financeira aguda devido a intensa inflação, déficit da balança
comercial e crescimento da dívida externa. O governo adotou medidas drásticas, restringindo o crédito,
congelando os salários e incentivando as exportações. Mas foi na área da política externa que o
presidente Jânio Quadros acirrou os ânimos da oposição ao seu governo. Jânio nomeou para o ministério
das Relações Exteriores Afonso Arinos, que se encarregou de alterar radicalmente os rumos da política
externa brasileira. O Brasil começou a se aproximar dos países socialistas. O governo brasileiro
restabeleceu relações diplomáticas com a União Soviética (URSS). As atitudes menores também tiveram
grande impacto, como as condecorações oferecidas pessoalmente por Jânio ao guerrilheiro
revolucionário Ernesto "Che" Guevara (condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul) e ao cosmonauta
soviético Yuri Gagarin, além da vinda ao Brasil do ditador cubano Fidel Castro.

Independência e isolamento
De acordo com estudiosos do período, o presidente Jânio Quadros esperava que a política externa de
seu governo se traduzisse na ampliação do mercado consumidor externo dos produtos brasileiros, por
meio de acordos diplomáticos e comerciais. Porém, a condução da política externa independente
desagradou o governo norte-americano e, internamente, recebeu pesadas críticas do partido a que Jânio
estava vinculado, a UDN, sofrendo também uma forte oposição das elites conservadoras e dos militares.
Ao completar sete meses de mandato presidencial, o governo de Jânio Quadros ficou isolado política e
socialmente. Jânio Quadros renunciou a 25 de agosto de 1961.

Política teatral
Especula-se que a renúncia foi mais um dos atos espetaculares característicos do estilo de Jânio. Com
ela, o presidente pretenderia causar uma grande comoção popular, e o Congresso seria forçado a pedir
seu retorno ao governo, o que lhe daria grandes poderes sobre o Legislativo. Não foi o que aconteceu,
porém. A renúncia foi aceita e a população se manteve indiferente. Vale lembrar que as atitudes teatrais
eram usadas politicamente por Jânio antes mesmo de chegar à presidência. Em comícios, ele jogava pó
sobre os ombros para simular caspa, de modo a parecer um "homem do povo". Também tirava do bolso
sanduíches de mortadela e os comia em público. No poder, proibiu as brigas de galo e o uso de lança -
perfume, criando polêmicas com questões menores, que o mantinham sempre em evidência, como um
presidente preocupado com o dia-a-dia do brasileiro.

Governo João Goulart (1961-1964)


Com a renúncia de Jânio Quadros, a presidência caberia ao vice João Goulart, popularmente
conhecido como Jango. No momento da renúncia de Jânio Quadros, Jango se encontrava na Ásia, em
visita a República Popular da China. O presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, assumiu
o governo provisoriamente. Porém, os grupos de oposição mais conservadores representantes das elites
dominantes e de setores das Forças Armadas não aceitaram que Jango tomasse posse, sob a alegação
de que ele tinha tendências políticas esquerdistas. Não obstante, setores sociais e políticos que apoiavam
Jango iniciaram um movimento de resistência.

Campanha da legalidade e posse


O governador do estado do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, destacou-se como principal líder da
resistência ao promover a campanha legalista pela posse de Jango. O movimento de resistência, que se
iniciou no Rio Grande do Sul e irradiou-se para outras regiões do país, dividiu as Forças Armadas
impedindo uma ação militar conjunta contra os legalistas. No Congresso Nacional, os líderes políticos
negociaram uma saída para a crise institucional.
A solução encontrada foi o estabelecimento do regime parlamentarista de governo que vigorou por
dois anos (1961-1962) reduzindo enormemente os poderes constitucionais de Jango. Com essa medida,
os três ministros militares aceitaram, enfim, o retorno e posse de Jango. Em 5 de setembro Jango retorna
ao Brasil, e é empossado em 7 de setembro.

O retorno ao presidencialismo
Em janeiro de 1963, Jango convocou um plebiscito para decidir sobre a manutenção ou não do sistema
parlamentarista. Cerca de 80 por cento dos eleitores votaram pelo restabelecimento do sistema
presidencialista. A partir de então, Jango passou a governar o país como presidente, e com todos os
poderes constitucionais a sua disposição. Porém, no breve período em que governou o país sob regime

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presidencialista, os conflitos políticos e as tensões sociais se tornaram tão graves que o mandato de
Jango foi interrompido pelo Golpe Militar de março de 1964. Desde o início de seu mandato, Jango não
dispunha de base de apoio parlamentar para aprovar com facilidade seus projetos políticos, econômicos
e sociais, por esse motivo a estabilidade governamental foi comprometida. Como saída para resolver os
frequentes impasses surgidos pela ausência de apoio político no Congresso Nacional, Jango adotou uma
estratégia típica do período populista, recorreu a permanente mobilização das classes populares a fim de
obter apoio social ao seu governo. Foi uma forma precária de assegurar a governabilidade, pois limitava
ou impedia a adoção por parte do governo de medidas antipopulares, ao mesmo tempo em que seria
necessário o atendimento das demandas dos grupos sociais que o apoiavam. Um episódio que ilustra de
forma notável esse tipo de estratégia política ocorreu quando o governo criou uma lei implantando o 13º
salário. O Congresso não a aprovou. Em seguida, líderes sindicais ligados ao governo mobilizaram os
trabalhadores que entraram em greve e pressionaram os parlamentares a aprovarem a lei.

As contradições da política econômica


As dificuldades de Jango na área da governabilidade se tornaram mais graves após o restabelecimento
do regime presidencialista. A busca de apoio social junto às classes populares levou o governo a se
aproximar do movimento sindical e dos setores que representavam as correntes e idéias nacional-
reformistas. Por esta perspectiva é possível entender as contradições na condução da política econômica
do governo. Durante a fase parlamentarista, o Ministério do Planejamento e da Coordenação Econômica
foi ocupado por Celso Furtado, que elaborou o chamado Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e
Social. O objetivo do Plano Trienal era combater a inflação a partir de uma política de estabilização que
demandava, entre outras coisas, a contenção salarial e o controle do déficit público. Em 1963, o governo
abandonou o programa de austeridade econômica, concedendo reajustes salariais para o funcionalismo
público e aumentando o salário mínimo acima da taxa pré-fixada. Ao mesmo tempo, Jango tentava obter
o apoio de setores da direita realizando sucessivas reformas ministeriais e oferecendo os cargos a
pessoas com influência e respaldo junto ao empresariado nacional e os investidores estrangeiros.

Polarização direita-esquerda
Ao longo do ano de 1963, o país foi palco de agitações sociais que polarizaram as correntes de
pensamento de direita e esquerda em torno da condução da política governamental. Em 1964 a situação
de instabilidade política agravou-se. O descontentamento do empresariado nacional e das classes
dominantes como um todo se acentuou. Por outro lado, os movimentos sindicais e populares
pressionavam para que o governo programasse reformas sociais e econômicas que os beneficiassem.
Atos públicos e manifestações de apoio e oposição ao governo eclodem por todo o país. Em 13 de março,
ocorreu o comício da estação da Estrada de Ferro Central do Brasil, no Rio de Janeiro, que reuniu 300
mil trabalhadores em apoio a Jango. Uma semana depois, as elites rurais, a burguesia industrial e setores
conservadores da Igreja realizaram a “Marcha da Família com Deus e pela Liberdade”, considerada o
ápice do movimento de oposição ao governo. As Forças Armadas também foram influenciadas pela
polarização ideológica vivenciada pela sociedade brasileira naquela conjuntura política, ocasionando
rompimento da hierarquia devido à sublevação de setores subalternos. Os estudiosos do tema assinalam
que, a quebra de hierarquia dentro das Forças Armadas foi o principal fator que ocasionou o afastamento
dos militares legalistas que deixaram de apoiar o governo de Jango, facilitando o movimento golpista.

Questões

01. (TRT-MG – Analista – FCC) O Ministro do Trabalho João Goulart provocou grande turbulência
política em 1954 ao
(A) ser nomeado para esse cargo à revelia da vontade de Vargas, uma vez que era o principal líder do
Partido Trabalhista, que nele via possibilidade de reverter o clima político desfavorável em razão da
oposição exercida pela União Democrática Nacional.
(B) propor um aumento de 100% no valor do salário mínimo, proposta que causou a indignação de
setores do Exército insatisfeitos com sua situação e incomodados com o fato de que o salário de um
operário, caso recebesse o aumento em questão, se aproximaria do salário de um oficial.
(C) comunicar o suicídio de Getúlio Vargas e ler, no rádio, sua carta-testamento, alegando que uma
conspiração política antivarguista havia influenciado a população que agora culpava a ele e ao ex-
presidente pela alta inflacionária e pela crise econômica em curso.
(D) renunciar a esse cargo diante da reação agressiva do empresariado e das Forças Armadas às
suas medidas trabalhistas, atitude que despertou o apoio da população a Jango e o clamor por sua
permanência no cargo, fenômeno apelidado de “queremismo”.

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(E) atender às pressões dos sindicatos e propor amplas reformas de base, insubordinando-se à
autoridade de Getúlio Vargas por considerar que seu governo não estava tomando medidas
suficientemente favoráveis aos trabalhadores.

02. (SEDUC-PI – Professor-História – NUCEPE)


“Bossa nova mesmo é ser presidente
Desta terra descoberta por Cabral
Para tanto basta ser tão simplesmente
Simpático, risonho, original".
(Juca Chaves. Presidente Bossa Nova. RGE, 1957).
Considerando o período apresentado na composição, e o governo de Juscelino Kubitschek (1956-
1961), podemos afirmar CORRETAMENTE:
(A) Com seu Plano de Metas, o governo de Juscelino propunha romper com a política econômica do
governo Vargas, investindo com capitais nacionais nas áreas prioritárias para o governo, como energia,
transporte, indústria e distribuição de renda.
(B) Como efeito da euforia e do crescimento econômico, o governo de Juscelino conseguiu reduzir
drasticamente as disparidades econômicas e sociais do país, permitindo uma tranquilidade social que
perdurou até vésperas do Golpe Civil-Militar.
(C) Apoiado em capitais externos, Juscelino pôde ampliar a base monetária do país e assim custear
investimentos produtivos que permitiram o controle do déficit do orçamento público e a redução da
inflação.
(D) Seu governo coincidiu com um período de forte otimismo, apoiado em uma visão de modernidade
industrializante, o que fez o presidente prometer 50 anos de desenvolvimento em 5 anos de mandato.
(E) Apesar de sua política populista, Juscelino agia de forma autoritária em sua forma de governar,
condição que pode ser exemplificada com o episódio em que puniu o ministro da Guerra, o general
Teixeira Lott, por ter contrariado um de seus aliados políticos, o coronel Jurandir Mamede, subordinado
do general.

03. (IF-AL – Professor – CEFET) O Governo João Goulart (1961/1964) foi marcado pela interrupção
e conseguinte instalação da ditadura militar no país. O governo Goulart, na prática, ficou caracterizado
em função das suas ações políticas, como um governo:
(A) Autoritário, com uma linha ideológica próxima ao socialismo chinês.
(B) Democrático, sendo apoiado durante todo seu curto período pelos partidos de esquerda, inclusive
o partido comunista.
(C) Conturbado, em que foi implantado o parlamentarismo, fato este, que não foi suficiente para
amenizar as crises políticas do período.
(D) Democrático, sendo apoiado incondicionalmente pelas forças armadas.
(E) Autor das reformas de base, sendo estas apoiadas por setores da chamada classe média, dos
trabalhadores e do empresariado mais progressista. Obteve, assim, êxito na proposta de modernizar o
país.

Respostas

01. Resposta: B
No início de 1954, Jango propôs um projeto de aumento do salário mínimo de 100%. Segundo ele,
devido à elevação do custo de vida, a questão salarial continuava explosiva e, para enfrentá-la, era
necessário elevar o salário mínimo de 1.200 para 2.400 cruzeiros. A reação contrária foi tamanha que
Jango acabou sendo exonerado do cargo em 22 de fevereiro do mesmo ano.

02. Resposta: D
O marco da proposta de campanha de JK foi o “Plano de Metas”, com previsões esperançosas para
acelerar o crescimento econômico através da indústria, produção do aço, alumínio, cimento, álcalis e
outros metais. Com a abertura do mercado estrangeiro a ampliação e investimentos na indústria se
tornariam ainda mais fáceis. O plano consistia de 31 metas, sendo a última, a construção de Brasília,
chamada de Meta Síntese.

03. Resposta: C

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Além implantação de um sistema parlamentar que não rendeu resultados, a aproximação de Jango a
figuras ligadas ao bloco comunista, como o revolucionário Che Guevara e o cosmonauta Yuri Gagarin
foram motivo de duras críticas da oposição.

O Regime Militar
Em 1º de abril de 1964 foi dado o golpe militar pelo exército. Contou com apoio de vários setores
sociais como o alto clero da Igreja Católica, ruralistas e grandes empresários urbanos. Devido a este
apoio este período atualmente é chamado de Ditadura Civil-Militar
(Ditadura militar com apoio civil). O argumento para o golpe foi afastar o “risco comunista”. Entre
1946 e 1964 o Brasil viveu um período democrático e muito rico culturalmente. Neste momento os
movimentos sociais e estudantis atuaram com bastante intensidade. Havia um movimento que lutava pela
reforma agrária (como o MST) chamado de “ligas camponesas”, a UNE (união nacional de estudantes),
teatros populares e sindicatos de várias categorias de trabalhadores. Muitas manifestações populares e
greves estavam ocorrendo naquele momento, sobretudo no início da década de 60. Nas eleições de 1959
foi eleito para presidente da república Jânio Quadros e como vice João Goulart (eram de partidos opostos
Goulart era PTB, partido de Vargas e Jânio era apoiado pela UDN. Jânio Quadros após pouco mais de
seis meses de mandato renunciou à presidência. O vice João Goulart estava em visita diplomática à
China. O congresso (deputados federais e senadores) brasileiro quis impedir a posse de João Goulart por
considerá-lo esquerdista comunista. Para tanto, enquanto ainda Jango estava no exterior o regime de
governo foi mudado de presidencialismo para parlamentarismo. Quando Jango retorna toma posse como
presidente, mas com poderes limitados.
No presidencialismo o presidente é ao mesmo tempo chefe de governo (quem governa realmente) e
chefe de Estado (representação diplomática)
No parlamentarismo o presidente é chefe de Estado (representação diplomática) e o chefe de governo
é o primeiro ministro (escolhido entre os deputados)
Jango passou seu governo tentando retomar o poder conseguiu um plebiscito para 1963 para a
população optar pelo presidencialismo ou pelo parlamentarismo. O presidencialismo ganhou e Goulart
tenta a reeleição. Realizou alguns comícios em que anunciou as reformas de base: A reforma agrária
(redistribuição das terras improdutivas), tributária (reordenamento dos impostos) , política (mudanças na
lei eleitoral). Essas reformas eram consideradas muito esquerdistas e radicais para a época, o que
reforçava a imagem de comunista de Jango. Além disso, como a crise econômica e uma pesada inflação
estava rolando à anos, as greves se espalharam. Espalharam-se manifestações de apoio ao presidente
e de repúdio a ele, como a “marcha por Deus, pela Família e pela Liberdade”
Diante deste contexto de fortes agitações sociais que o exército dá o golpe sob o argumento de afastar
o risco comunista que rondava os pais.
Quando inicia o governo militar realizam uma grande perseguição política aos líderes de esquerda,
que são presos na calada da noite. Os deputados e políticos em geral que tinham mandatos de partidos
de esquerda foram cassados (expulsos). Para tanto foi criado o SNI (serviço nacional de informação). Era
o serviço secreto do Exército e havia agente em todos os lugares como jornais, sindicatos, escolas ...
Bastava o agente do SNI apontar um suspeito para ele ser preso. Apesar das cassações de mandato o
congresso nacional foi mantido. Os militares passaram a governar através de Atos institucionais. Mesmo
após a constituição de 67, que institucionalizava o regime os militares continuaram governando através
de atos institucionais.

AI- 1: Ampliação dos poderes do presidente, eleição indireta e a cassação de parlamentares de


esquerda. (O início da instalação da Ditadura. Perseguem lideranças de oposição (lideres camponeses,
estudantis, sindicais, partidários e intelectuais) e são cassados mandados políticos e cargos públicos.
AI- 2: Instituiu bipartidarismo. Só podiam existir a ARENA e o MDB. Consolida as eleições indiretas.
Os voto dos congressistas para a presidência era aberto e declarado dito no microfone na assembleia.
Além disso, toda a oposição já teve seus mandatos cassados. Não havia oposição de fato. O congresso
aprovava tudo o que os presidentes militares mandavam.
AI- 3: Estabelecia eleições indiretas para governadores de estado. Votavam os deputados estaduais
por voto aberto e declarado.
AI- 4: convocação urgente da assembleia para a aprovação da constituição de 67
AI- 5: Concede poder excepcional ao presidente que pode cassar mandatos e cargos fechar o
congresso, estabelecer estado de sítio. Eliminou as garantias individuais.

Os presidentes eram escolhidos pelos próprios militares em colégio eleitoral, assim como os
governadores de estado e prefeitos de cidades com mais de 300 mil habitantes. O voto da população em

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nível federal limita-se aos deputados e senadores que eram ou da ARENA (partido do sim) ou do MDB
(partido do sim senhor). Não havia oposição real e concreta no congresso. Somente a permitida pelos
militares.

Foram presidentes militares:


Castelo Branco (64-67)
Costa e Silva (67-69)
Garrastazu Médici (69-74)
Ernesto Geisel (74-79)
Figueiredo (79-85)

A ditadura entre 1964 e 1967 durante o governo do Marechal Castelo Brancos foi um período mais
brando dentro do contexto do regime. Os partidos foram extintos (ficou o bipartidarismo) e a censura
ocorria, mas ainda que pequeno, havia um espaço para os trabalhadores e estudantes se manifestares,
sobretudo os artistas. As manifestações proliferaram. Ocorreram grandes greves operárias em Contagem
(MG) e São Paulo. O último ato de Castelo Branco foi a imposição de LSN (lei de segurança nacional),
que estabelecia que certas ações de oposição ao regime seriam consideradas “atentatórias” à segurança
nacional e punidas com rigor. Após enfrentamentos entre os estudantes e militares em que ocorreram
mortes de jovens, contra a repressão ocorreu a passeata dos 100 mil. Em dezembro de 1968, sob o
governo do Marechal Costa e Silva foi instituído o AI-5 o mais duro e repressor dos atos institucionais
acabava com as garantias civis (de ser preso após julgamento por exemplo), enrijecia a censura e a
perseguição. Concedia uma autoridade excepcional para o poder executivo. O Presidente poderia fechar
o congresso nacional e cassar mandatos parlamentares, aposentar intelectuais, demitir juízes, suspender
garantias do judiciário e declarar estado de sítio.
Alguns grupos políticos contra a ditadura passaram à atuar na clandestinidade. Alguns deles, devido
ao AI-5 optaram por partir para a revolta armada. Surgiram focos de guerrilha urbana (principalmente são
Paulo) e guerrilha rural (na região do rio Araguaia). A guerrilha nunca representou um grande problema
de verdade pois eram pequenos e poucos grupos, mas forneceu o argumento que a ditadura precisava
para manter e aumentar a repressão, pois tínhamos inclusive um inimigo interno comunista. O risco não
havia passado (lembra-se que o pretexto do golpe era afastar o risco comunista?).

Milagre econômico e repressão


Durante o Governo do General Médici o país viveu a maior onda de repressões e torturas da ditadura.
O AI-5 era aplicado com toda a força e a censura era plena. Ao mesmo tempo o pais vivia um período de
propaganda ufanista (nacionalismo de enaltecimento do Brasil) e experimentava um grande crescimento
econômico e urbano em razão do “milagre econômico”. Foram contraídos empréstimos e concedidos
créditos ao consumido, mas ao mesmo temo os salários foram congelados. Esta política nos primeiros
anos de aplicação gerou um enorme consumo e consequentemente gerou empregos (cada vez menos
remunerados). Ao final da década de setenta o pais amargava uma grande inflação, salários cada vez
mais defasados e um aumento da desigualdade social. O período Médici foi o qual viveu maior
propaganda ufanista crescimento econômico conciliada com a maior repressão do período.

Movimentos de resistência

O movimento estudantil
Entre os grupos que mais protestavam contra o governo de João Goulart para a implementação de
reformas sociais estavam os estudantes, mobilizados pela União Nacional dos Estudantes e União
Brasileira dos Estudantes secundaristas. Quando os militares chegaram ao poder em 1964, os estudantes
eram um dos setores mais identificados com a esquerda, comunista, subversiva e desordeira; uma das
formas de desqualificar o movimento estudantil era chamá-lo de baderna, como se seus agentes não
passassem de jovens irresponsáveis, e isso se justificava para a intensa perseguição que se estabeleceu.
Em novembro de 64, Castelo Branco aprovou uma lei, conhecida como lei "Suplicy de Lacerda", nome
do ministro da Educação, reorganizando as entidades e proibindo-as de desenvolverem atividades
políticas.
Os estudantes reagiram, boicotando as novas entidades oficiais e realizando passeatas cada vez mais
frequentes. Ao mesmo tempo, o movimento estudantil procurou assegurar a existência das suas
entidades legítimas, agora na clandestinidade.

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Em 1968 o movimento estudantil cresceu em resposta, não só a repressão, mas também em virtude
da política educacional do governo, que já revelava a tendência que iria se acentuar cada vez mais, no
sentido da privatização da educação, cujos efeitos são sentidos até hoje.
A política de privatização tinha dois sentidos: um era o estabelecimento do ensino pago (principalmente
no nível superior) e outro, o direcionamento da formação educacional dos jovens para o atendimento das
necessidades econômicas das empresas capitalistas (mão-de-obra e técnicos especializados). Estas
diretrizes correspondiam à forte influência norte-americana exercida através de técnicos da Usaid
(agência americana que destinava verbas e auxílio técnico para projetos de desenvolvimento
educacional) que atuavam junto ao MEC por solicitação do governo brasileiro, gerando uma série de
acordos que deveriam orientar a política educacional brasileira.
As manifestações estudantis foram os mais expressivos meios de denúncia e reação contra a
subordinação brasileira aos objetivos e diretrizes do capitalismo norte-americano. O movimento estudantil
não parava de crescer, e com ele a repressão. No dia 28 de março de 1968 uma manifestação contra a
má qualidade do ensino, realizada no restaurante estudantil Calabouço, no Rio de Janeiro, foi
violentamente reprimida pela polícia, resultando na morte do estudante Edson Luís Lima Souto.
A reação estudantil foi imediata: no dia seguinte, o enterro do jovem estudante transformou-se em um
dos maiores atos públicos contra a repressão; missas de sétimo dia foram celebradas em quase todas as
capitais do país, seguidas de passeatas que reuniram milhares de pessoas.
Em outubro do mesmo ano, a UNE (na ilegalidade) convocou um congresso para a pequena cidade
de Ibiúna, no interior de São Paulo. A polícia descobriu a reunião, invadiu o local e prendeu os estudantes.

Movimentos sindicais
As greves foram reprimidas duramente durante a ditadura. Os últimos movimentos operários ocorreram
em 1968, em Osasco e Contagem, sendo reavivadas somente no fim da década de 1970, com a greve
de 1.600 trabalhadores, no ABC paulista em 12 de maio de 1978, que marcou a volta do movimento
operário à cena política.
Em junho do mesmo ano, o movimento espalhou-se por São Paulo, Osasco e Campinas. Até 27 de
julho registraram-se 166 acordos entre empresas e sindicatos, beneficiando cerca de 280 mil
trabalhadores. Nessas negociações, tornou-se conhecido em todo o país o presidente do Sindicato dos
Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, Luís Inácio da Silva.
No dia 29 de outubro de 1979 os metalúrgicos de São Paulo e Guarulhos interromperam o trabalho.
No dia seguinte o operário Santos Dias da Silva acabou morrendo em confronto com a polícia, durante
um piquete na frente uma fábrica no bairro paulistano de Santo Amaro. As greves se espalharam por todo
o país.
Em consequência de uma greve realizada no dia 1º de Abril de 1980 pelos metalúrgicos do ABC
paulista e de mais 15 cidades do interior de São Paulo, no dia 17 de Abril, o ministro do Trabalho, Murillo
Macedo, determinou a intervenção nos sindicatos de São Bernardo do Campo e Santo André, prendendo
13 líderes sindicais dois dias depois. A organização da greve mobilizou estudantes e membros da Igreja.

Ligas Camponesas
O movimento de resistência esteve presente também no campo. Além da sindicalização, formaram-se
Ligas Camponesas que, sobretudo no Nordeste, sob a liderança do advogado Franscisco Julião, foram
importantes instrumentos de organização e de atuação dos camponeses. Em 15 de maio de 1984 cerca
de 5 mil cortadores de cana e colhedores de laranja do interior paulista entraram em greve por melhores
salários e condições de trabalho. No dia seguinte invadiram as cidades de Guariba e Bebedouro. Um
canavial foi incendiado. O movimento foi reprimido por 300 soldados. Greves de trabalhadores se
espalharam por várias regiões do país, principalmente no Nordeste.

A luta armada
Militantes da Esquerda resolveram resistir ao regime militar através da luta armada, com a intenção de
iniciar um processo revolucionário. Entre os grupos mais notórios estão:
Ação Libertadora Nacional (ALN), em que se destaca Carlos Marighella, ex-deputado e ex-membro
do Partido Comunista Brasileiro, morto numa emboscada em 1969;
Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), que era comandada pelo ex-capitão do Exército Carlos
Lamarca, morto na Bahia, em 17 de setembro de 1971. Em 1969 funde-se com o Comando de
Libertação Nacional (COLINA), e muda o nome para Vanguarda Armada Revolucionária Palmares
(VAR-Palmares), que teve participação também da atual presidente Dilma Rousseff;
A Ação Popular, que teve origem em 1962 a partir de grupos católicos, especialmente influentes no
movimento estudantil;

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Partido Comunista do Brasil (PC do B), que surge de um conflito interno dentro do PCB.

Um dos principais feitos da ALN, em conjunto ao Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR-8), foi
o sequestro do embaixador estadunidense Charles Ewbrick, em 1969. Em nenhum lugar do mundo um
embaixador dos EUA havia sido sequestrado. Essa façanha possibilitou aos guerrilheiros negociar a
libertação de quinze prisioneiros políticos. Outro embaixador sequestrado foi o alemão-ocidental Ehrefried
Von Hollebem, que resultou na soltura de quarenta presos.
A luta armada intensificou o argumento de aumento da repressão. As torturas aumentaram e a
perseguição aos opositores também. Carlos Marighella foi morto por forças policiais na cidade de São
Paulo. As informações sobre seu paradeiro foram conseguidas também através de torturas.
O VPR realizou ações no Vale do Ribeira, em São Paulo, mas teve que enfrentar a perseguição militar
na região. Lamarca conseguiu fugir para o Nordeste, mas acabou morto na Bahia, em 1971.
O último foco de resistência a ser desmantelado foi a Guerrilha do Araguaia. Desde 1967, militantes
do PCdoB (Partido Comunista do Brasil) dirigiram-se para região do Bico do Papagaio, entre os rios
Araguaia e Tocantins, onde passaram a travar contato com os camponeses da região, ensinando a eles
cuidados médicos e auxiliando-os na lavoura.
As Forças Armadas passaram a perseguir os guerrilheiros do Araguaia em 1972, quando descobriu a
ação do grupo. O desmantelamento ocorreria apenas em 1975, quando uma força especial de
paraquedistas foi enviada à região, acabando com a Guerrilha do Araguaia.
No Brasil, as ações guerrilheiras não conseguiram um amplo apoio da população, levando os grupos
a se isolarem, facilitando a ação repressiva. Após 1975, as guerrilhas praticamente desapareceram, e os
corpos dos guerrilheiros do Araguaia também. À época, a ditadura civil-militar proibiu a divulgação de
informações sobre a guerrilha, e até o início da década de 2010 o exército não havia divulgado informação
sobre o paradeiro dos corpos.
Situação Econômica Pós 1964, Redemocratização do País e Diretas Já.
O General Geisel assume em 74. Foi o militar que deu início à abertura política, assinalando o fim da
ditadura. O fim do regime foi articulado pelos próprios militares que planejarem uma abertura “lenta,
segura e gradual”. Nas eleições parlamentares de 74 os militares imaginaram que teriam a vitória da
ARENA, mas o MDB teve esmagadora vitória. Em razão deste acontecimento a ditadura lança a lei falcão
e o pacote de abril. A lei falcão acabava com a propaganda eleitoral. Todos os candidatos apareceriam
o mesmo tempo na TV, segurando seu número enquanto uma voz narrava brevemente seu currículo.
Apesar de uma oposição consentida o MDB estava incomodando e o pacote de abril serviu para
garantir supremacia da ARENA. A constituição poderia ser mudada somente por 50% dos votos
(garante a vitória da ARENA). Um terço dos senadores seria “senador biônico”, ou seja, indicado pela
assembleia (sempre senadores da ARENA) e alterou o coeficiente eleitoral de forma que a região
nordeste (que ainda ocorria claramente o voto de “cabresto” e os eleitores votavam em peso na ARENA)
tivesse um maior número de deputados. Geisel pôs fim ao AI-5 em 1978.
Em 1979 assumiu a presidência o General Figueiredo, sob uma forte crise econômica resultado da
política econômica do milagre brasileiro. Em 79 foi aprovada a lei da anistia (perdão de crimes
políticos), que de acordo com o governo militar era uma anistia “ampla, geral e irrestrita”. O que isso
queria dizer? Que todos os crimes cometidos na ditadura seriam perdoados, tanto o “crime” dos militantes
políticos, estudantes, intelectuais e artistas que se encontravam exilados (fora do pais por motivos de
perseguição política), e puderam voltar ao Brasil, como os torturadores do regime também foram.
Em 1979 são liberadas para a próxima eleição de 1982 a voto direto aos governadores. Também foi
aprovada a “lei orgânica dos partidos” que punha fim ao bipartidarismo e foram fundados novos 5
partidos:

PDS (Partido democrático social)


PMDB (Partido do movimento democrático brasileiro)
PTB (Partido trabalhista brasileiro)
PDT (Partido trabalhista brasileiro)
PT (partido dos trabalhadores)
Obs.: A lei eleitoral obrigava a votar somente em candidatos do mesmo partido, de vereador à
governador. A oposição ao regime, na eleição para governador de 1982, obteve vitória esmagadora.
Em 1984 o deputado do PMDB Dante de Oliveira propôs uma emenda constitucional que restabelecia
as eleições diretas para presidente. A partir da emenda Dante de Oliveira tem início o maior movimento
popular pela redemocratização do pais, as Diretas Já que pediam eleições diretas para presidente no
próximo ano. Infelizmente a emenda não foi aprovada. Em 1985 ocorreram eleições indiretas e formaram-
se chapas para concorrer à presidência. Através das eleições indiretas ganhou a chapa do PMDB em que

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o presidente eleito foi Tancredo Neves e seu vice José Sarney. Contudo Tancredo Neves passou mal
na véspera da posse e foi internado com infecção intestinal, não resistiu e morreu. Assumiria a presidência
da República em 1985 José Sarney.
O Governo de José Sarney foi um momento de enorme crise econômica, com hiperinflação, mas um
dos momentos mais fundamentais que coroaria a redemocratização, pois foi em seu governo que foi
aprovada a nova constituição. Foi reunida em 1987 uma assembleia nacional constituinte (assembleia
reunida para escrever e promulgar uma nova constituição).

A constituição de 1988
A nova constituição foi votada em meio a grandes debates políticos de diferentes visões políticas.
Havia muitos interesses em disputa. O voto secreto e direto para presidente foi restaurado, proibida a
censura, garantida a liberdade de expressão e igualdade de gênero, racismo tornou-se crime e o estado
estabeleceu constitucionalmente garantias sociais de acesso a saúde, educação, moradia e
aposentadoria.
Ao final de 1989 foi realizada a primeira eleição livre desde o golpe de 1964. Foi disputada em dois
turnos. O segundo foi concorrido entre o candidato Fernando Collor de Mello (PRN – partido da renovação
nacional), contra Luís Inácio Lula da Silva. Collor ganhou a eleição, com apoio dos meios de comunicação
e governou até 1992 após ser afastado por um processo de impeachment e ocorreram grandes
manifestações populares, sobretudo estudantis, conhecidas como o “movimento dos caras-pintadas”.

Questões

01. (TRT - 3ª Região (MG) - Analista Judiciário – História – FCC) O processo de abertura política
no Brasil, ao final do período de regime militar, foi marcado
(A) pela denominada “teoria dos dois demônios”, discurso oficial que culpava os grupos guerrilheiros
e o imperialismo soviético pelo endurecimento do autoritarismo no Brasil e nos países vizinhos.
(B) pelo chamado “entulho autoritário”, pois a Constituição outorgada em 1967 continuou vigente,
mantiveram-se os cargos “biônicos” e persistiu prática da decretação de Atos Institucionais durante a
década de 1980.
(C) pela lógica do “ajuste de contas”, pois, ainda que o governo encampasse uma abertura “lenta,
gradual e irrestrita”, os setores populares organizaram greves nacionais que culminaram na realização de
eleições diretas para presidente em 1985.
(D) pelo caráter de “transição negociada”, uma vez que prevaleceram pressões por parte dos setores
afinados com o regime e concessões dos movimentos pela democratização, em um complexo jogo
político que se estendeu pelos anos 1980.
(E) pela busca da “conciliação nacional” ao se instituírem as Comissões da Verdade que conseguiram,
com o aval do primeiro governo civil pós-ditadura, atender as demandas por “verdade, justiça e reparação”
da sociedade brasileira.

02. (TRT - 3ª Região (MG) - Analista Judiciário – História – FCC) A respeito dos Atos Institucionais
decretados durante o regime militar no Brasil,
(A) sucederam-se rapidamente totalizando cinco durante a ditadura, sendo o último, em 1968, o que
suspendeu a garantia do direito ao habeas corpus e instituiu a censura prévia.
(B) refletiram a intenção dos militares em preservar a institucionalidade da democracia, uma vez que
todos os atos eram votados pelo Congresso.
(C) prestaram-se a substituir a falta de uma nova Constituição, chegando a 20 decretações que se
estenderam até o governo Geisel.
(D) foram mais de dez e entre os objetivos de sua promulgação destaca-se o reforço dos poderes
discricionários da Presidência da República.
(E) concentraram-se nos dois primeiros anos de governo militar e instituíram o estado de sítio e o
bipartidarismo.

03. (TRT - 3ª Região (MG) - Analista Judiciário – História – FCC) O golpe de 1964, que deu início
ao regime militar no Brasil e que foi chamado pelos militares de “revolução de 64”, teve, entre seus
objetivos
(A) refrear o avanço do comunismo apoiado pelo presidente Jango que, após ver concretizado seu
programa reformista, articulava-se para adaptar o Estado aos moldes socialistas, por meio do projeto de
uma nova constituição difundido e aplaudido no histórico Comício da Central do Brasil.

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(B) reinstaurar o presidencialismo, uma vez que o regime parlamentarista pelo qual João Goulart
governava favorecia alianças entre partidos pequenos e grupos de esquerda liderados pelo PTB, que
tinha representação significativa na Câmara e no Senado.
(C) destituir o governo de João Goulart, contando com o apoio do governo dos Estados Unidos e de
parcelas da sociedade brasileira que apoiaram, dias antes, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade
organizada por setores conservadores da Igreja Católica.
(D) restaurar a ordem no país e garantir a recuperação do equilíbrio econômico, uma vez que greves
paralisavam a produção nacional e movimentos de apoio à reforma agrária se radicalizavam, caso das
Ligas Camponesas que haviam iniciado a guerrilha do Araguaia.
(E) iniciar um processo autoritário de transição política e econômica nos moldes do neoliberalismo, por
meio de uma estratégia defendida por entidades como o FMI, a ONU e a Cepal, com o aval do
empresariado brasileiro insatisfeito com o governo vigente.

04. (VUNESP) A partir dessa época, a tortura passou a ser amplamente empregada, especialmente
para obter informações de pessoas envolvidas com a luta armada. Contando com a “assessoria técnica”
de militares americanos que ensinavam a torturar, grupos policiais e militares começavam a agredir no
momento da prisão, invadindo casas ou locais de trabalho. A coisa piorava nas delegacias de polícia e
em quartéis, onde muitas vezes havia salas de interrogatório revestidas com material isolante para evitar
que os gritos dos presos fossem ouvidos.
(Roberto Navarro – http://mundoestranho.abril.com.br.)
Os aspectos citados no texto permitem identificar a época a que ele se refere como sendo a da
(A) repressão à Revolução Constitucionalista de 1932.
(B) Nova República, cujo primeiro presidente foi José Sarney.
(C) Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder.
(D) democracia populista, que durou de 1946 a 1964.
(E) ditadura militar, iniciada com o golpe de 1964.

05. (VUNESP) A imagem a seguir refere-se a um movimento da década de 1980 que contou com
grande participação popular em várias cidades do Brasil.

(Http://www.oabsp.org.br/portaldamemoria/historia-da-oab/ a-redemocratizacao-e-o-processo-constituinte)

Assinale a alternativa que indica corretamente o objetivo deste movimento.


(A) Devolver à população o direito de votar nos candidatos à presidência do país.
(B) Anistiar os presos políticos e permitir o retorno dos exilados ao Brasil.
(C) Reajustar o salário-mínimo de acordo com os índices reais de inflação.
(D) Autorizar a justiça comum a punir políticos envolvidos em crimes de corrupção.
(E) Permitir que leis propostas pela população fossem discutidas no Congresso Nacional.

Respostas

01. Resposta: D
A ideia de uma abertura “Lenta, gradual e segura” foi utilizada pelo governo militar. No final da década
de 70 e início da década de 80 ocorreram sim muitas greves, principalmente na região do ABC paulista.
A primeira eleição direta para presidente após a abertura ocorreu em 15 de novembro de 1989.

02. Resposta: D
Os Atos Institucionais foram normas elaboradas no período de 1964 a 1969, durante o regime militar.
Foram editadas pelos Comandantes-em-Chefe do Exército, da Marinha e da Aeronáutica ou pelo

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Presidente da República, com o respaldo do Conselho de Segurança Nacional. Foram 17 atos ao todo,
sendo o mais conhecido deles o AI-5, cuja descrição é: Suspende a garantia do habeas corpus para
determinados crimes; dispõe sobre os poderes do Presidente da República de decretar: estado de sítio,
nos casos previstos na Constituição Federal de 1967; intervenção federal, sem os limites constitucionais;
suspensão de direitos políticos e restrição ao exercício de qualquer direito público ou privado; cassação
de mandatos eletivos; recesso do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras de
Vereadores; exclui da apreciação judicial atos praticados de acordo com suas normas e Atos
Complementares decorrentes; e dá outras providências.

03. Resposta: C
Em 1º de abril de 1964 foi dado o golpe militar pelo exército. Contou com apoio de vários setores
sociais como o alto clero da Igreja Católica, ruralistas e grandes empresários urbanos. Devido a este
apoio este período atualmente é chamado de Ditadura Civil-Militar (Ditadura militar com apoio civil). O
argumento para o golpe foi afastar o “risco comunista”.

04. Resposta: E
Citando a própria matéria referida na questão:
Uma pesquisa coordenada pela Igreja Católica com documentos produzidos pelos próprios militares
identificou mais de cem torturas usadas nos "anos de chumbo" (1964-1985). Esse baú de crueldades,
que incluía choques elétricos, afogamentos e muita pancadaria, foi aberto de vez em 1968, o início do
período mais duro do regime militar. Durante o governo militar, mais de 280 pessoas foram mortas -
muitas sob tortura. Mais de cem desapareceram, segundo números reconhecidos oficialmente. Mas
ninguém acusado de torturar presos políticos durante a ditadura militar chegou a ser punido.

05. Resposta: A
Em 1984 o deputado do PMDB Dante de Oliveira propôs uma emenda constitucional que restabelecia
as eleições diretas para presidente. A partir da emenda Dante de Oliveira tem início o maior movimento
popular pela redemocratização do pais, as Diretas Já que pediam eleições diretas para presidente no
próximo ano. Infelizmente a emenda não foi aprovada. Em 1985 ocorreram eleições indiretas e formaram-
se chapas para concorrer à presidência. Através das eleições indiretas ganhou a chapa do PMDB em que
o presidente eleito foi Tancredo Neves e seu vice José Sarney.

A Noa República
Chamamos Nova República a organização do Estado Brasileiro a partir da eleição indireta de Tancredo
Neves pelo Colégio eleitoral, após o movimento pelas diretas já, o qual foi um dos mais importantes
líderes. No dia da posse foi hospitalizado e faleceu. Então a cadeira presidencial foi ocupada por seu vice
José Sarney

Eleições Diretas
Em novembro de 1980, foram restauradas as eleições diretas para governador. Realizadas as
eleições, as previsões do estrategista do regime se confirmaram. Apesar de a oposição (PMDB, PDT e
PT) ter recebido a maioria dos votos e eleito governadores de estados importantes (Montoro, em São
Paulo; Brizola, no Rio de Janeiro; Tancredo Neves, em Minas Gerais), o PDS conseguiu obter maioria no
Congresso (Câmara e Senado) e no Colégio Eleitoral, que deveria eleger o sucessor de Figueiredo em
1984. Os militares conseguiam assim criar as condições que garantiam a continuidade da abertura nas
sequências e no ritmo que desejavam, bem como a transferência do poder aos civis de sua confiança.

A Resistência às Reformas Políticas de Figueiredo


Assim como Geisel, o general Figueiredo teve de enfrentar resistência da linha-dura às reformas
políticas que estavam em andamento. As primeiras manifestações dos grupos que estavam descontentes
com a abertura vieram em 1980. No final desse ano e no início de 1981, bombas começaram a explodir
em bancas de jornal que vendiam periódicos considerados de esquerda (Jornal Movimento, Pasquim,
Opinião etc.). Uma carta-bomba foi enviada à OAB e explodiu nas mãos de uma secretária, matando-a.
Havia desconfianças de que fora uma ação do DOI-Codi, mas nunca se conseguiu provar nada.

O Caso Riocentro
Em abril de 1981, ocorreu uma explosão no Riocentro durante a realização de um show de música
popular. Dele participavam inúmeros artistas considerados de esquerda pelo Regime. Quando as
primeiras pessoas, inclusive fotógrafos, se aproximaram do local da explosão, depararam com uma cena

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dramática e constrangedora. Um carro esporte (Puma) estava com os vidros, o teto e as portas
destroçados. Havia dois homens no seu interior, reconhecidos posteriormente como oficiais do Exército
ligados ao DOI-Codi. O sargento, sentado no banco do passageiro, estava morto, praticamente partido
ao meio. A bomba explodira na altura de sua cintura. O motorista, um capitão, estava vivo, mas
gravemente ferido e inconsciente. O Exército abriu um Inquérito Policial-Militar para apurar o caso e,
depois de muitas averiguações, pesquisas, tomadas de depoimentos, concluiu que a bomba havia sido
colocada ali, dentro do carro e sobre as pernas do sargento do Exército, por grupos terroristas. Essa foi
a conclusão da Justiça Militar, e o caso foi encerrado.

A campanha das Diretas-já


As eleições de 1982, como dissemos, provocaram um clima de euforia na oposição, pois ela fora muito
bem votada, em especial o PMDB. Esse fortalecimento da oposição acabou motivando o deputado Dante
de Oliveira, do PMDB, a propor, em janeiro de 1983, uma emenda constitucional restaurando as eleições
para presidente da República em 1984. A iniciativa do deputado passou, a princípio, despercebida.
Entretanto, progressivamente, sua proposta foi ganhando adesões importantes. Em março, o jornal Folha
de S. Paulo resolveu, em editorial, apoiar a emenda para as diretas. Em junho, reuniram-se no Rio de
Janeiro os governadores Franco Montoro e Leonel Brizola, mais o líder do PT, Luís Inácio da Silva, para
discutir como os partidos políticos de oposição poderiam agir para aprovar a emenda das diretas. Vários
governadores do PMDB assinaram um manifesto de apoio. O PT e entidades da sociedade civil de São
Paulo convocaram uma manifestação de apoio à eleição direta. Ela reuniu cerca de 10.000 pessoas. A
campanha começava a ganhar as ruas. A seguir, ocorreram manifestações em Curitiba (40.000 pessoas),
Salvador (15.000 pessoas), Vitória (10.000 pessoas), novamente em São Paulo (200.000 a 300.000
pessoas). Em fevereiro de 1984, Ulisses Guimarães (PMDB), Lula (PT) e Doutel de Andrade (PDT) saíram
em caravana pelo Brasil, fazendo comícios nos estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Lula
começava a se firmar como liderança nacional. A campanha ganhava força. Novas manifestações
ocorreram no Rio de Janeiro, Belém, Belo Horizonte (250.000 pessoas). No dia 10 de abril de 1984, foi
convocada uma manifestação no Rio de Janeiro, com o apoio de Brizola, que reuniu na praça da
Candelária cerca de 1 milhão de pessoas. Era a maior manifestação pública realizada em toda a história
do país até aquela data. No dia 16 realizada no Anhangabaú, em São Paulo, uma manifestação que
quebrou o recorde do Rio. Reuniu mais de 1,7 milhão de pessoas. Não havia dúvida. O povo brasileiro
queria votar para presidente. O governo era contra. Figueiredo aparecia na televisão dizendo que a
eleição seria indireta. O governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, Mário Andreazza (ministro dos
Transportes de Figueiredo), Paulo Maluf, José Sarney, todos do partido do governo, o PDS, faziam de
tudo para evitar que a campanha produzisse efeito no Congresso. Mário Andreazza, Paulo Maluf e Sarney
disputavam a indicação pelo PDS como candidatos a presidente no Colégio Eleitoral. As emissoras de
televisão, principalmente a Rede Globo, tentaram ignorar as manifestações públicas. Quem só se
informava pelo Jornal Nacional teve a impressão de que a campanha das diretas surgiu do nada. Quando
as manifestações de rua superaram 1 milhão de pessoas, até a Globo teve de dar a notícia.
Finalmente, no dia 25 de abril de 1984, ocorreu a votação da emenda Dante de Oliveira. Foi derrotada.
Faltaram 22 votos para atingir os dois terços necessários. Da bancada do PDS, 112 deputados não
compareceram ao Congresso, contrariando a vontade popular, que se manifestara de forma cristalina nas
ruas. Um profundo sentimento de frustração e impotência tomou conta do país. O Congresso Nacional,
que deveria expressar a vontade da nação, na verdade, agia de acordo com a vontade e as conveniências
políticas de uma elite minoritária, mas que dominava o país. O poder dessa elite advinha da força
econômica, do controle que mantinha sobre o PDS, sobre vários políticos oportunistas e do comando que
detinha dos meios de comunicação, especialmente das emissoras de televisão.

As Articulações Políticas que Antecederam a Eleição Indireta de Janeiro de 1985


Derrotada a emenda das diretas, estava nas mãos do Colégio Eleitoral a escolha do novo presidente.
Ele era composto por senadores, deputados federais e delegados de cada estado. O PMDB iria lançar
um candidato. Desde meados de 1984, o nome estava praticamente escolhido. Era o governador de
Minas Gerais, Tancredo Neves. Político moderado, ligado aos banqueiros, era um homem de confiança
dos grupos conservadores, mas, ao mesmo tempo, respeitado pela oposição. Faltava, entretanto, definir
quem seria o vice-presidente na chapa de Tancredo. Do lado do PDS as coisas estavam cada vez mais
complicadas. Três grupos políticos debatiam-se para conseguir a indicação do partido. O primeiro era
liderado por Paulo Maluf; o segundo, por Mário Andreazza; e o terceiro, por um grupo de políticos do
Nordeste liderado por José Sarney e Marco Maciel. Com a aproximação da convenção do PDS, Paulo
Maluf, com seu estilo autoritário, arrivista e arrogante, tinha grandes chances de conseguir a indicação.

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O Surgimento da Frente Liberal: José Sarney, Marco Maciel, Antônio Carlos Magalhães e aliados já
se sentiam derrotados do PDS. Estavam também convencidos de que teriam pouca influência em um
possível governo malufista. Criaram, então, a Frente Liberal, embrião do futuro PFL (Partido da Frente
Liberal).

O Surgimento da Aliança Democrática


A Frente Liberal aliou-se ao PMDB, compondo uma frente política para derrotar Maluf no Colégio
Eleitoral. Surgiu a Aliança Democrática, que apoiou a chapa Tancredo Neves (presidente), pelo PMDB, e
José Sarney (vice-presidente), pela Frente Liberal. Enquanto Maluf representava uma fração de elite
econômica paulista, o leque de forças políticas que sustentavam a Aliança Democrática era muito maior.
Ela juntava o maior partido de oposição, o PMDB, lideranças de Minas Gerais e as principais expressões
políticas conservadoras dos estados nordestinos. Além disso, tais lideranças, como José Sarney e
Antônio Carlos Magalhães, eram políticos da confiança de Roberto Marinho, proprietário da Rede Globo
de Televisão. Ou seja, o apoio desses políticos à candidatura Tancredo trouxe junto o apoio da Rede
Globo. Maluf estava derrotado. Alguns militares acusaram os dissidentes do PDS, que formaram a Frente
Liberal, de traidores. Tiveram como resposta que traição era apoiar um corrupto como Maluf. Entre
xingamentos e agressões verbais, os meses finais de 1984 expiraram.

A Vitória da Aliança Democrática e a posse de Sarney


Em 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral elegeu Tancredo Neves, primeiro presidente civil em 20
anos. Ele obteve 275 votos do PMDB (em 280 possíveis), 166 do PDS (em 340 possíveis), que
correspondiam à dissidência da Frente Liberal, e mais 39 votos espalhados entre os outros partidos. No
total foram 480 contra 180 do candidato derrotado. O PT, por não concordar com as eleições indiretas,
não participou da votação. A posse do novo presidente estava marcada para 15 de março. Um dia antes,
entretanto, Tancredo Neves foi internado com diverticulite. Depois de várias operações, seu estado de
saúde se agravou, falecendo no dia 21 de abril de 1985. Com a morte do presidente eleito, assumiu o
vice, José Sarney. Figueiredo negou-se a lhe entregar a faixa presidencial, dando-a a Ulisses Guimarães,
presidente da Câmara, e este empossou Sarney.

O governo Sarney
José Sarney foi o primeiro presidente após o fim da ditadura militar. Durante seu governo foi
consolidado o processo de redemocratização do Estado brasileiro, garantido liberdade sindical e
participação popular na política, além da convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte,
encarregada de elaborar uma nova constituição para o Brasil.
Entre os princípios incluídos na Constituição de 1988 também chamada Carta Magna, estão:
- garantia de direitos políticos e sociais;
- aumento de assistência aos trabalhadores;
- ampliação das atribuições do poder legislativo;
- limitação do poder executivo;
- igualdade perante a lei, sem qualquer tipo de distinção;
- estabelecimento do racismo como crime inafiançável

No plano econômico, o governo adotou inúmeras medidas para conter a inflação, como congelamento
de preços e salários e a criação de um novo plano econômico, o Plano Cruzado.
No final de 1986, o plano começou a demonstrar sinais de fracasso, acentuado pela falta de
mercadorias e pressão por aumento de preços.
Além do Plano cruzado, outras tentativas de conter a inflação foram colocadas em prática durante o
governo Sarney, como o Plano Cruzado II, o Plano Bresser e o Plano de Verão. No último mês do
governo Sarney, março de 1990, a inflação alcançou o nível de 84%.

O governo Collor
No final de 1989, os candidatos Fernando Collor de Mello, do PRN (Partido da Renovação Nacional)
e Luiz Inácio Lula da Silva, do PT (Partido dos Trabalhadores) disputaram as primeiras eleições diretas
(com voto da população) para presidente após a redemocratização. Com forte apoio de setores
empresariais e principalmente da mídia, Collor vence as eleições.
Collor, durante a campanha presidencial, apresentou-se como caçador de marajás, termo referente
aos corruptos que beneficiavam-se do dinheiro público. Seus discursos possuíam forte influência do
populismo, principalmente do Peronismo argentino, dizendo-se representante dos descamisados
(população mais pobre)

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Seu governo ficou marcado pelos Planos Collor:

Plano Collor13
A inflação em um ano de março de 1989 a março de 1990 chegou a 4.853%, e no governo anterior
teve vários planos fracassados de conter a inflação. Depois de sua posse, Collor anuncia um pacote
econômico no dia 15 de março de 1990, o Plano Brasil Novo. Esse plano tinha como objetivo pôr fim à
crise, ajustar a economia e elevar o país, do terceiro para o Primeiro Mundo. O cruzado novo é substituído
pelo "cruzeiro", bloqueia-se por 18 meses os saldos das contas correntes, cadernetas de poupança e
demais investimentos superiores a Cr$ 50.000,00. Os preços foram tabelados e depois liberados
gradualmente. Os salários foram pré-fixados e depois negociados entre patrões e empregados. Os
impostos e tarifas aumentaram e foram criados outros tributos, foram suspensos os incentivos fiscais não
garantidos pela Constituição. Foi Anunciado corte nos gastos públicos, também se reduziu a máquina do
Estado com a demissão de funcionários e privatização de empresas estatais. O plano também prevê a
abertura do mercado interno, com a redução gradativa das alíquotas de importação. As empresas foram
surpreendidas com o plano econômico e sem liquidez pressionaram o governo. A ministra da economia
Zélia Cardoso de Mello, faz a liberação gradativa do dinheiro retido, denominado de "operação
torneirinha", para pagamento de taxas, impostos municipais e estaduais, folhas de pagamento e
contribuições previdenciárias. O governo liberou os investimentos dos grandes empresários, e deixou
retido somente o dinheiro dos poupadores individuais.

Recessão - No início do Plano Collor a inflação foi reduzida, pois o plano era ousado e radical, tirava
o dinheiro de circulação. Porém, com a redução da inflação, iniciava-se a maior recessão da história no
Brasil, houve aumento de desemprego, muitas empresas fecharam as portas e a produção diminuiu
consideravelmente, com uma queda de 26% em abril de 1990, em relação a abril de 1989. As empresas
foram obrigadas a reduzirem a produção, jornada de trabalho e salários, ou demitir funcionários. Só em
São Paulo nos primeiros seis meses de 1990, 170 mil postos de trabalho deixaram de existir, pior
resultado, desde a crise do início da década de 80. O Produto Interno Bruto diminuiu de US$ 453 bilhões
em 1989 para US$ 433 bilhões em 1990.
Privatizações - Em 16 de agosto de 1990 o Programa Nacional de Desestatização que estava previsto
no Plano Collor foi regulamentado e a Usiminas a primeira estatal a ser privatizada, através de um leilão
em outubro de 1991. Depois mais 25 estatais foram privatizadas até o final de 1993, quando Itamar Franco
já estava à frente do governo brasileiro, com grandes transferências patrimoniais do setor público para o
setor privado, com o processo de privatização dos setores petroquímico e siderúrgico já praticamente
concluído. Então se inicia a negociação do setor de telecomunicações e elétrico, existindo uma tentativa
de limitar as privatizações à construção de grandes obras e à abertura do capital das estatais, mantendo
o controle acionário pelo Estado.

Plano Collor II
A inflação entra em cena novamente com um índice mensal de 19,39% em dezembro de 1990 e o
acumulado do ano chega a 1.198%, o governo se vê obrigado a tomar algumas medidas. É decretado o
Plano Collor II em 31 de janeiro de 1991.
Tinha como objetivo controlar a ciranda financeira, extinguiu as operações de overnight e criou o Fundo
de Aplicações Financeiras (FAF) onde centralizou todas as operações de curto prazo, acabando com o
Bônus do Tesouro Nacional fiscal (BTNf), que era usado pelo mercado para indexar preços, passa a
utilizar a Taxa Referencial Diária (TRD) com juros prefixados e aumenta o Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF). Pratica uma política de juros altos, e faz um grande esforço para desindexar a
economia e tenta mais um congelamento de preços e salários. Um deflator é adotado para os contratos
com vencimento após 1º de fevereiro. O governo acreditava que aumentando a concorrência no setor
industrial conseguiria segurar a inflação, então se cria um cronograma de redução das tarifas de
importação, reduzindo a inflação de 1991 para 481%.

A queda de Collor
Após um curto sucesso nos primeiros meses de governo, a administração Collor passou por profundas
crises. Com a taxa de inflação superior a 20%, em 1992 a impopularidade do presidente cresceu. Em
maio do mesmo ano, o irmão do presidente, Pedro Collor, acusou Paulo Cesar Farias, que havia sido
caixa da campanha de Fernando Collor, de enriquecimento ilícito, obtenção de vantagens no governo e
ligações político financeiras com o presidente.

13 LENARDUZZI, Cristiano, Et al. PLANO COLLOR. Adaptado

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Em junho do mesmo ano, o Congresso Nacional instalou uma Comissão de Inquérito Parlamentar(cpi)
para que fossem apuradas as irregularidades apontadas. Em 29 de setembro a Câmara dos Deputados
aprovou a abertura do processo de Impeachment e em 3 de outubro o presidente foi afastado. Em
dezembro o processo foi concluído e Fernando Collor teve seus direitos políticos cassados por oito anos,
e o governo passou para as mãos de seu vice, Itamar Franco.

O governo Itamar Franco (1992-1994)


Durante seu período na presidência, Itamar Franco passou por um quadro de crescente dificuldade
econômica e alianças políticas instáveis, com inúmeras nomeações e demissões de ministros do
executivo.
Um plebiscito foi realizado em 1993 para definir a forma de governo, com uma vitória esmagadora da
Republica presidencialista. Outras opções incluíam a monarquia e o parlamentarismo.
No ano de 1993 a economia começava a dar sinais de melhora, com índice de crescimento de
aproximadamente 5%, que não ocorria desde 1986. Apesar do crescimento, houve um aumento na
população, deixando a renda per capita com menos de 3%.
Em 1994 a inflação continuou a subir, até que os efeitos do Plano Real começaram a surtir efeito.

Implantação do Plano Real14


O Plano de Fernando Henrique Cardoso, que era ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco,
consistia em três fases: o ajuste fiscal, o estabelecimento da URV (Unidade de Referência de Valor) e a
instituição de uma nova moeda, o Real. De acordo com os autores do plano, as reformas liberais do
Estado, que estavam em andamento naquele período seriam fundamentais para efetividade do plano.
A primeira fase, o “ajuste fiscal” procurava criar condições fiscais adequadas para diminuir o
desequilíbrio orçamentário do Estado, principalmente sua fragilidade com financiamento, que seria um
dos principais problemas relacionados à inflação. A criação do FSE (Fundo Social de Emergência), que
tinha por finalidade diminuir os custos sociais derivados da execução do plano e dos cortes de impostos,
foi uma das principais iniciativas do governo.
A URV, o embrião da nova moeda, que terminou quando o Real começou a funcionar em 1º de julho
de 1994, era um índice de inflação formado por outros três índices: O IGP-M, da Fundação Getúlio Vargas,
o IPCA do IBGE e o IPC da FIPE/USP. O objetivo do governo era amarrar o URV ao dólar, preparando o
caminho para a “âncora cambial” da moeda e também evitar o caráter abrupto dos outros planos, com
esta ferramenta transitória. Dessa forma, ao contrário da proposta de “moeda indexada” e da criação de
duas moedas, apenas separaram-se duas funções da mesma moeda, pois o URV servia como uma
“unidade de conta”.
A terceira fase do plano consistiu na implementação da nova moeda, que substituiria o Cruzeiro de
acordo com a cotação da URV que, naquele momento, valia CR$ 2.750,00. O governo instituiu que este
valor corresponderia a R$ 1,00 que, por sua vez, foi fixada pelo Banco Central em US$ 1,00, com a
garantia das reservas em dólar acumuladas desde 1993.
No entanto, apesar de amarrar a moeda ao dólar, o Governo não garantiu a conversibilidade das duas
moedas, como ocorreu na Argentina. Dessa forma, o Real conseguiu corresponder de uma forma mais
adequada às turbulências desencadeadas pela crise do México, que começou a se intensificar no final de
1994.
A política de juros altos, que promoveu a entrada de capitais de curto prazo, e a abertura do país aos
produtos estrangeiros, com a queda do Imposto de Importação, foram fundamentais para complementar
a introdução da nova moeda e para combater a inflação e elevar os níveis de emprego.
O sucesso do Plano Real garantiu a Fernando Henrique a vitória nas eleições de 1994 logo no primeiro
turno, contra o candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

O primeiro governo Fernando Henrique


Em seu discurso de posse, o presidente destacou como prioridades a estabilização da nova moeda e
a reversão do quadro de exclusão social dos brasileiros.
Assim como outros países ao redor do mundo, o Brasil começava a dar início ao MERCOSUL.

MERCOSUL15

Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai assinaram, em 26 de março de 1991, o Tratado de Assunção,


com vistas a criar o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). O objetivo primordial do Tratado de Assunção
14Adaptado de Ipolito.
15 Adaptado de: http://www.mercosul.gov.br/index.php/saiba-mais-sobre-o-mercosul

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é a integração dos Estados Partes por meio da livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos, do
estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEC), da adoção de uma política comercial comum, da
coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais, e da harmonização de legislações nas áreas
pertinentes.
A configuração atual do MERCOSUL encontra seu marco institucional no Protocolo de Ouro Preto,
assinado em dezembro de 1994. O Protocolo reconhece a personalidade jurídica de direito internacional
do bloco, atribuindo-lhe, assim, competência para negociar, em nome próprio, acordos com terceiros
países, grupos de países e organismos internacionais. O MERCOSUL caracteriza-se, ademais, pelo
regionalismo aberto, ou seja, tem por objetivo não só o aumento do comércio intrazona, mas também o
estímulo ao intercâmbio com outros parceiros comerciais. São Estados Associados do MERCOSUL a
Bolívia (em processo de adesão ao MERCOSUL), o Chile (desde 1996), o Peru (desde 2003), a Colômbia
e o Equador (desde 2004). Guiana e Suriname tornaram-se Estados Associados em 2013. Com isso,
todos os países da América do Sul fazem parte do MERCOSUL, seja como Estados Parte, seja como
Associado.
O aperfeiçoamento da União Aduaneira é um dos objetivos basilares do MERCOSUL. Como passo
importante nessa direção, os Estados Partes concluíram, em 2010, as negociações para a conformação
do Código Aduaneiro do MERCOSUL.
Na última década, o MERCOSUL demonstrou particular capacidade de aprimoramento institucional.
Entre os inúmeros avanços, vale registrar a criação do Tribunal Permanente de Revisão (2002), do
Parlamento do MERCOSUL (2005), do Instituto Social do MERCOSUL (2007), do Instituto de Políticas
Públicas de Direitos Humanos (2009), bem como a aprovação do Plano Estratégico de Ação Social do
MERCOSUL (2010) e o estabelecimento do cargo de Alto Representante-Geral do MERCOSUL (2010).
Merece especial destaque a criação, em 2005, do Fundo para a Convergência Estrutural do
MERCOSUL, por meio do qual são financiados projetos de convergência estrutural e coesão social,
contribuindo para a mitigação das assimetrias entre os Estados Partes. Em operação desde 2007, o
FOCEM conta hoje com uma carteira de projetos de mais de US$ 1,5 bilhão, com particular benefício
para as economias menores do bloco (Paraguai e Uruguai). O fundo tem contribuído para a melhoria em
setores como habitação, transportes, incentivos à microempresa, biossegurança, capacitação tecnológica
e aspectos sanitários.
O Tratado de Assunção permite a adesão dos demais Países Membros da ALADI ao MERCOSUL. Em
2012, o bloco passou pela primeira ampliação desde sua criação, com o ingresso definitivo da Venezuela
como Estado Parte. No mesmo ano, foi assinado o Protocolo de Adesão da Bolívia ao MERCOSUL, que,
uma vez ratificado pelos congressos dos Estados Partes, fará do país andino o sexto membro pleno do
bloco.
Com a incorporação da Venezuela, o MERCOSUL passou a contar com uma população de 285
milhões de habitantes (70% da população da América do Sul); PIB de US$ 3,2 trilhões (80% do PIB sul-
americano); e território de 12,7 milhões de km² (72% da área da América do Sul). O MERCOSUL passa
a ser, ainda, ator incontornável para o tratamento de duas questões centrais para o futuro da sociedade
global: segurança energética e segurança alimentar. Além da importante produção agrícola dos demais
Estados Partes, o MERCOSUL passa a ser o quarto produtor mundial de petróleo bruto, depois de Arábia
Saudita, Rússia e Estados Unidos.
Em julho de 2013, a Venezuela recebeu do Uruguai a Presidência Pro Tempore do bloco. A Presidência
Pro Tempore venezuelana reveste-se de significado histórico: trata-se da primeira presidência a ser
desempenhada por Estado Parte não fundador do MERCOSUL.
Na Cúpula de Caracas, realizada em julho de 2014, destaca-se a criação da Reunião de Autoridades
sobre Privacidade e Segurança da Informação e Infraestrutura Tecnológica do MERCOSUL e da Reunião
de Autoridades de Povos Indígenas. Uma das prioridades da Presidência venezuelana, o foro indígena é
responsável por coordenar discussões, políticas e iniciativas em benefício desses povos. Foram também
adotadas, em Caracas, as Diretrizes da Política de Igualdade de Gênero do MERCOSUL, bem como o
Plano de Funcionamento do Sistema Integrado de Mobilidade do MERCOSUL (SIMERCOSUL). Criado
em 2012, durante a Presidência brasileira, o SIMERCOSUL tem como objetivo aperfeiçoar e ampliar as
iniciativas de mobilidade acadêmica no âmbito do Bloco.
No segundo semestre de 2014, a Argentina assumiu a Presidência Pro Tempore do MERCOSUL.
Entre os principais resultados da Cúpula de Paraná, Argentina, destacam-se: a assinatura de Memorando
de Entendimento de Comércio e Cooperação Econômica entre o MERCOSUL e o Líbano; a assinatura
de acordo-quadro de Comércio e Cooperação Econômica entre o MERCOSUL e a Tunísia; e a aprovação
do regulamento do Mecanismo de Fortalecimento Produtivo do bloco.

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Em 17 de dezembro de 2014, o Brasil recebeu formalmente da Argentina a Presidência Pro Tempore
do MERCOSUL, que foi exercida no primeiro semestre de 2015. No dia 17 de julho de 2015 a Presidência
Pro Tempore foi passada ao Paraguai, que a exercerá por um período de seis meses.

Dados Gerais

Composição do Bloco
Todos os países da América do Sul participam do MERCOSUL, seja como Estado Parte, seja como
Estado Associado.
Estados Partes: Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai (desde 26 de março de 1991) e Venezuela
(desde 12 de agosto de 2012).
Estado Parte em Processo de Adesão: Bolívia (desde 7 de dezembro de 2012).
Estados Associados: Chile (desde 1996), Peru (desde 2003), Colômbia, Equador (desde 2004),
Guiana e Suriname (ambos desde 2013).

Objetivos
O MERCOSUL tem por objetivo consolidar a integração política, econômica e social entre os países
que o integram, fortalecer os vínculos entre os cidadãos do bloco e contribuir para melhorar sua qualidade
de vida.

Princípios
O MERCOSUL visa à formação de mercado comum entre seus Estados Partes. De acordo com o art.
1º do Tratado de Assunção, a criação de um mercado comum implica:
- Livre circulação de bens, serviços e fatores de produção entre os países do bloco;
- Estabelecimento de uma tarifa externa comum e a adoção de uma política comercial conjunta em
relação a terceiros Estados ou agrupamentos de Estados e a coordenação de posições em foros
econômico-comerciais regionais e internacionais;
- Coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os Estados Partes;
- Compromisso dos Estados Parte em harmonizar a legislação nas áreas pertinentes, a fim de
fortalecer o processo de integração.

O segundo governo Fernando Henrique

Em seu segundo mandato, vencido novamente através da disputa contra Luiz Inácio Lula da Silva,
houveram dificuldades para manter o valor do Real em relação ao Dólar.
A partir de dezembro de 1994 eclodiu a crise cambial mexicana, e a saída de capital especulativo
relacionada à queda da cotação do dólar nos mercados internacionais começou a colocar em xeque a
estabilização da economia nacional e o Plano Real, que dependia em grande parte do capital estrangeiro.
A crise mostrou que a política de contenção da inflação com a valorização das moedas nacionais frente
ao dólar não poderia ser sustentável no longo prazo.
Negando sempre à similaridade entre o Brasil e o México e a Argentina, o governo passou a
desacelerar a atividade econômica e a frear a abertura internacional com a elevação da taxa de juros,
aumento das restrições às importações e com estímulos à exportação. Com a necessidade de opor a
situação econômica brasileira à mexicana, como um sinal ao capital especulativo, o governo quis mostrar
que corrigiria a trajetória de sua balança comercial, atingindo saldo positivo.
Após retomada do crescimento entre abril de 1996 e junho de 1997, a crise dos “Tigres Asiáticos”, que
começou com a desvalorização da moeda da Tailândia, se alastrou para Indonésia, Malásia, Filipinas e
Hong Kong e acabou por atingir Nova York e os mercados financeiros mundiais.
A crise obrigou o governo a elevar novamente as taxas de juros e decretar um novo ajuste fiscal.
Novamente a fuga de capitais voltou a assolar a economia brasileira e o Plano Real.
A consequência foi a demissão de 33 mil funcionários públicos não estáveis da União, suspensão do
reajuste salarial do funcionalismo público, redução em 15% dos gastos em atividades e corte de 6% no
valor dos projetos de investimento para 1998, o que resultou em uma diminuição de 0,12% do PIB naquele
ano.
A crise se intensificou em agosto com o aumento da instabilidade financeira na Rússia, com a
desvalorização do rublo e a decretação da moratória por parte do governo.
A resposta brasileira foi a mesma de sempre, a elevação da taxa de juros básica para até 49% e um
novo pacote fiscal para o período 1999/2001. No entanto, diferentemente das outras duas crises, o
governo recorreu ao FMI em dezembro de 1998, com quem obteve cerca de US$ 41,5 bilhões,

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comprometendo-se a manter o mesmo regime cambial, desvalorizando gradativamente o Real, acelerar
as privatizações e as reformas liberais, realizar o pacote fiscal e assumir metas com relação ao superávit
primário.

O fim da âncora cambial


Nos primeiros dias do segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, em janeiro de 1999, a
repercussão da crise cambial russa chegou ao seu limite no Brasil. As elevadas taxas de juros
começavam a perder força como ferramenta de manutenção do capital externo na economia brasileira e
um novo déficit recorde na conta de transações correntes obrigou o governo a mudar a banda cambial,
que foi ampliada para R$ 1,32.
Logo no primeiro dia, o Real atingiu o limite máximo da banda, sendo desvalorizado em 8,2%, o que
influenciou na queda do valor dos títulos brasileiros no exterior e das bolsas de valores do mundo todo.
O Banco Central tentou defender o valor da moeda, vendendo dólares, mas a saída de capitais continuou
ameaçando se aproximar do limite de 20 bilhões, que foi acordado com o FMI no ano anterior. Nesse
momento, o governo não teve outra escolha senão deixar o câmbio flutuar livremente, alcançando a
cotação de R$ 1,98 em 13 dias.
Os índices de desemprego atingiram um alto nível, alcançando 7,6 milhões de pessoas em 1999,
número três vezes maior que os 2 milhões do final da década de 1980. Apenas a Federação Russa, com
9,1 milhões e a Índia com 40 milhões possuíam taxas de desemprego maiores que as do Brasil.
No plano político, foi aprovada em 2000 a Lei de Responsabilidade Fiscal, com o objetivo de controlar
os gastos do poder público e de restringir as dívidas deixadas por prefeitos e governadores a seus
sucessores.

O governo Lula
Pouco antes de encerrar seu primeiro mandato, Fernando Henrique aprovou uma emenda que alterou
a constituição, permitindo a reeleição por mais um mandato. Com o fim de seu segundo mandato em
2002, José Serra, que foi ministro da saúde e um dos fundadores do PSDB foi apoiado por Fernando
Henrique para a sucessão.
Do lado da oposição, Lula concorreu à presidência pela quarta vez, conseguindo levar a disputa para
o segundo turno com o candidato tucano, quando obteve 61% dos votos válidos.
A vitória de Lula foi atribuída ao desejo de mudança na distribuição de riquezas, entre diversos grupos
sociais.
Em seus dois mandatos, de 2003 a 2010, não foram adotadas medidas grandiosas, com o presidente
buscando ganhar progressivamente a confiança de agentes econômicos nacionais e internacionais. Foi
mantida a política econômica do governo FHC, com a busca pelo combate da inflação por meio de altas
taxas de juros e estímulos à exportação. Em 2005 foi saldada a dívida com o FMI.
Como resultado da política econômica, em julho de 2008 a dívida externa total do país era de US$ 205
bilhões, e o país possuía reservas internacionais acima dos US$ 200 bilhões.
As exportações bateram recordes sucessivos durante o governo Lula, com ampliação do saldo positivo
da balança comercial.
No plano social, o projeto de maior repercussão e sucesso foi o Bolsa-Família, baseado na
transferência direta de recursos para famílias de baixa ou nenhuma renda. Em janeiro de 2009 o programa
já contava com mais de 10 milhões de famílias atendidas, recebendo uma remuneração que variava de
R$ 20,00 a R$ 182,00. Para utilizar o programa, era exigência a frequência escolar e vacinação das
crianças. O programa teve como efeito a melhoria alimentar e nutricional das famílias mais pobres, além
de uma leve diminuição nas desigualdades sociais.
Em seu segundo mandato, destacou-se o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O Mensalão
Em 2005, o deputado federal Roberto Jefferson (PTB – RJ) denunciou no jornal Folha de São Paulo o
esquema de compra de votos conhecido como Mensalão.
No Mensalão deputados da base aliada do PT recebiam uma “mesada” de R$ 30 mil para votarem de
acordo com os interesses do partido. Entre os parlamentares envolvidos no esquema estariam membros
do PL (Partido Liberal), PP (Partido Progressista), PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro)
e do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro).
Entre os nomes mais citados do esquema estão José Dirceu, que na época era ministro da Casa Civil
e foi apontado como chefe do esquema. Delúbio Soares era Tesoureiro do PT e foi acusado de efetuar
os pagamentos aos membros do esquema. Marcos Valério, que era publicitário e foi acusado de arrecadar
o dinheiro para os pagamentos.

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Outras figuras de destaque no governo e no PT também foram apontadas como participantes do
mensalão, tais como: José Genoíno (presidente do PT), Sílvio Pereira (Secretário do PT), João Paulo
Cunha (Presidente da Câmara dos Deputados), Ministro das Comunicações, Luiz Gushiken, Ministro dos
Transportes, Anderson Adauto, e até mesmo o Ministro da Fazenda, Antônio Palocci.

PROCESSO DE IMPEACHMENT DE DILMA16


Às 13h34 desta quarta-feira (31/08/16), Dilma Rousseff (PT) sofreu impeachment e encerrou seu
mandato frente à Presidência da República. Em discurso após a votação no Senado, Dilma disse que
sofreu um segundo golpe e prometeu uma oposição “firme e incansável”. Às 16h49, Michel Temer (PMDB)
deixou a vice-presidência oficialmente e foi empossado presidente. Mais tarde, na primeira reunião
ministerial, respondeu aos opositores, prometendo não levar “desaforo para casa”: “golpista é você”.
Após 73 horas, o julgamento do impeachment no Senado terminou com o veredicto de condenação de
Dilma por crime de responsabilidade, pelas "pedaladas fiscais" no Plano Safra e por ter editado decretos
de crédito suplementar sem autorização do Congresso Nacional. Foram 61 a favor e 20 contrários ao
impeachment, sem abstenções. Em uma segunda votação, os senadores decidiram manter a
possibilidade de Dilma disputar novas eleições e assumir cargos na administração pública.
Governistas surpresos com a segunda votação prometeram recorrer. Segundo o colunista Gerson
Camarotti, a divisão foi costurada entre PT e PMDB para aliviar Dilma. O senador Aloysio Nunes (PSDB-
SP) decidiu entregar o cargo, mas Temer não aceitou. O senador Fernando Collor, que sofreu
impeachment em 1992, criticou: "dois pesos, duas medidas”.

Discurso de Dilma
Em seu primeiro pronunciamento, a agora ex-presidente Dilma Rousseff afirmou que a decisão é o
segundo golpe de estado que enfrenta na vida e que os senadores que votaram pelo seu afastamento
definitivo rasgaram a Constituição. Ao lado de aliados, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi
enfática: "Ouçam bem: eles pensam que nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos vamos
lutar. Haverá contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode
sofrer.

Posse de temer
Três horas após o afastamento de Dilma Rousseff, Michel Temer foi empossado o novo presidente da
República. A cerimônia durou apenas 11 minutos. Ao apertar a mão de Temer, o presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL), disse a ele: "Estamos juntos".
Na primeira reunião ministerial do governo, Temer afirmou que agora a cobrança sobre o governo será
"muito maior" e rejeitou a acusação de que o impeachment foi um golpe. "Golpista é você, que está contra
a Constituição", afirmou dirigindo-se a Dilma.
O novo presidente embarca para a China, onde participa, nos dias 4 e 5, em Hangzhou, da Cúpula de
Líderes do G20, grupo das 20 principais economias do mundo. Temer afirmou que vai "revelar aos olhos
do mundo que temos estabilidade política e segurança jurídica." Durante a ausência, assume
provisoriamente a Presidência o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente da Câmara.

Repercussão e manifestações
Após a votação final do impeachment, houve protestos a favor e contra Temer pelo país. Na Avenida
Paulista, um grupo protestava contra o impeachment, enquanto outro comemorava com bolo e
champagne.

Repercussão internacional
A rede norte-americana CNN deu grande destaque à notícia em seu site e afirmou que a decisão é
“um grande revés” para Dilma, mas "pode não ser o fim de sua carreira política". O argentino “Clarín”
afirma que o afastamento de Dilma marca “o fim de uma era no Brasil”. O “El País”, da Espanha, chamou
a atenção para a resistência da ex-presidente, que decidiu enfrentar o processo até o final, apesar das
previsões de que seu afastamento seria concretizado.

E como fica agora?17


O rito da destituição de Dilma foi consumado e o Partido dos Trabalhadores (PT), que a sustentava,
passa à oposição, depois de 13 anos no poder. Mas o Senado manteve os direitos políticos dela, o que
lhe permitirá se candidatar a cargos eletivos e exercer funções na administração pública.
16 31/08/2016 – Fonte: http://especiais.g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/2016/impeachment-de-dilma/
17 31/08/2016 – Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/09/01/opinion/1472682823_081379.html

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A saída da presidenta era desejada, segundo as pesquisas, por 61% dos brasileiros, o que não impede
que tenha sido uma comoção nacional.
Atualmente o presidente Temer está afundado em denúncias e escândalos e também sofre grande
pressão para deixar o cargo.

Questões

01. (IF-AL- Cefet) O Brasil, a partir do processo de redemocratização (1985), definiu-se por medidas
econômicas que foram significativamente adotadas. Podemos afirmar que entre as medidas citadas
consta:

(A) Processo de privatização em ramos da economia, como comunicação e mineração.


(B) Prioridade na ampliação do comércio internacional com os países africanos e asiáticos.
(C) Proteção da indústria nacional, por meio do aumento de tarifas alfandegárias de importações.
(D) Retirada da prioridade para exportações dos produtos agrícolas nacionais.
(E) Um intenso programa de reforma agrária no país, inclusive sem indenizações das terras
desapropriadas.

02. (CESGRANRIO) Nas cidades gregas da Antiguidade, a democracia limitava-se à minoria da


população. Os escravos e as mulheres não tinham direitos políticos. Além disso, só aqueles que nasciam
na cidade de Atenas podiam ser cidadãos.
De acordo com a Constituição Brasileira de 1988, quem NÃO pode votar no Brasil atualmente são os
(A) maiores de 70 anos.
(B) maiores de dezesseis anos.
(C) estrangeiros naturalizados.
(D) analfabetos.
(E) que estão cumprindo o serviço militar obrigatório.

03. (MPE-SP – VUNESP) Com o fim da ditadura e o restabelecimento da normalidade democrática, a


escolha do Presidente da República passou a ocorrer por meio do voto popular, exigindo que os
candidatos expusessem suas propostas e o histórico de sua atuação política. Nos anos 1980 e 1990,
respectivamente, o Brasil conheceu um candidato popularmente chamado de “O caçador de marajás” e
outro que, enquanto foi Ministro da Fazenda, ganhou notoriedade pela implantação do Plano Real,
responsável pela estabilização da economia nacional. Esses presidentes foram, respectivamente,

(A) Fernando Collor de Mello e Tancredo Neves.


(B) José Sarney e Fernando Henrique Cardoso.
(C) Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso.
(D) Tancredo Neves e Itamar Franco.
(E) Itamar Franco e Luiz Inácio Lula da Silva.

Respostas

01. Resposta: A
Entre as medidas tomadas para garantir o funcionamento da economia brasileira estiveram os
programas de privatização de algumas empresas estatais, como a Vale do Rio Doce, por exemplo.

02. Resposta: E
Os menores de 16 anos, os conscritos (o jovem prestando serviço militar obrigatório), e os presos com
sentença transitada em julgado que estejam cumprindo suas penas privativas de liberdade não podem
votar. A razão para isso é que todos eles seriam facilmente manipuláveis pelos pais, pelo comandante do
quartel ou pelo diretor do presídio.

03. Resposta: C
Collor, durante a campanha presidencial, apresentou-se como caçador de marajás, termo referente
aos corruptos que beneficiavam-se do dinheiro público. Seus discursos possuíam forte influência do
populismo, principalmente do Peronismo argentino, dizendo-se representante dos descamisados
(população mais pobre).

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O sucesso do Plano Real garantiu a Fernando Henrique a vitória nas eleições de 1994 logo no primeiro
turno, contra o candidato Luiz Inácio Lula da Silva.

IV - HISTÓRIA: tópicos de História geral. V - SINAIS DO TEMPO: a Primeira


Guerra Mundial, os regimes totalitários, a Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria
e a descolonização da Ásia e da África, Estados Unidos e União Soviética –
potências em crise.

Primeira Guerra Mundial

A Primeira Guerra Mundial ou Grande Guerra, como foi chamada na época, aconteceu entre os anos
de 1914 e 1918. Foi chamada assim por seus contemporâneos, pois nenhuma das guerras europeias
haviam atingido proporções globais.

I - Antecedentes

A Primeira Guerra Mundial, surgiu a partir de tensões formadas na segunda metade do século XIX. O
desenvolvimento do nacionalismo e do imperialismo – prática que consistiu no domínio de nações
poderosas sobre povos mais pobres – desencadeou a formação dos Estados nacionalistas. O capitalismo,
motivou o conflito entres as grandes potências europeias. O desejo de ampliar mercados, através do
imperialismo, aumenta ainda mais a tensão entre os países da Europa.
Um dos fatores que fez aumentar a insatisfação entre os países europeus, foi a má divisão da África e
Ásia, que ocorreu no final do século XIX. Como a Itália e a Alemanha haviam se unificado tardiamente,
fato que fez com que eles ficassem fora do processo neocolonial, enquanto a França e a Inglaterra
exploravam as novas colônias, ricas em matérias-primas, gerou descontentamento, e aumentou o
sentimento de rivalidade já existente entre a Alemanha e a França, já que os franceses haviam perdido
para a Alemanha a região da Alsácia-Lorena. As tensões crescem mais ainda quando a Alemanha, de
forma diplomática, exige o domínio de regiões afro-asiáticas, pertencentes a Inglaterra.
Apesar de ter se unificado tardiamente, a Alemanha conseguiu que seus produtos industrializados
ganhassem espaço. Os alemães conseguiram formar uma grande indústria que conseguiu superar a
tradicional potência britânica.
A partir do Imperialismo, um novo sentimento surge na paisagem pré Primeira Guerra. O nacionalismo,
aparece como uma fonte legitimadora da guerra. Esse sentimento aparece sob diversas formas, por
exemplo, na França o revanchismo aparece, provocado pela sua derrota na Guerra Franco-Prussiana.
Na Rússia, surge o pan-eslavismo, que se baseava na teoria de que todos os eslavos pertencentes a
Europa Oriental, deveriam constituir-se como uma família, e a Rússia como país mais poderoso dos
estados eslavos, deveria ser o líder e o protetor. Já na Alemanha, aparece uma forma de nacionalismo
que se manifesta na forma de pangermanismo, uma corrente ideologia que lutava para que todos os
povos germânicos se unissem sob a liderança alemã.
O grande sentimento nacionalista e a disputa imperialista, fazem com que as nações formem dois
blocos. O primeiro a surgir foi a Tríplice Aliança, formada pela Alemanha, Austro-Hungria e a Itália no
ano de 1882. Logo depois, surge a Tríplice Entente, aliança militar formada pela Inglaterra, França e
Rússia.
Dessa forma, as seis maiores potências europeias estavam prontas para a guerra, a Europa estava
dividida politicamente em dois blocos. A única coisa que faltava para iniciar um confronto era um pretexto,
e ele surge no dia 28 de junho de 1914, com o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro
do trono austríaco, na capital da Bósnia, Sarajevo, por um estudante sérvio.

II - A Guerra
Com a morte do arquiduque austríaco, a Áustria culpou a Sérvia e exigiu que providencias fossem
tomadas. Como a Sérvia não encontrou uma saída que agradece ambos, a Áustria declara guerra à
Sérvia. No dia 30 de julho a Rússia entra na guerra, mobilizando suas tropas para atacar a Áustria, em
resposta a Alemanha declara guerra aos russos. Logo em seguida, no dia 3 de agosto, a Alemanha
declara guerra à França e invade o território Belga, um país neutro. Devido a violação da neutralidade, a
Alemanha da motivo para a Inglaterra intervir e declarar guerra à Alemanha, no dia 4 de agosto.

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II.a - Primeira Fase da Guerra: Guerra de movimento
A primeira fase da guerra, iniciada em agosto de 1914, contou com ataques a França, realizados pela
Alemanha. Os alemães planejavam derrotar a França de forma rápida, contudo o exército francês
conseguiu deter o ataque, esse conflito ficou conhecido como a primeira batalha de Marne. Essa batalha
inaugurou a chamada guerra de trincheiras (frentes estáticas escondidas em valas cavadas no chão). Os
franceses conseguiram deter a ofensiva alemã, a apenas 40 km de Paris, graças à ajuda dos britânicos,
esse avanço é contido, mas a capital do país passa a ser Bordeaux. A Rússia, em 15 de agosto de 1914,
invade a Alemanha e a Austro-Hungria.

II.b - Segunda Fase da Guerra: Guerra de Trincheiras ou Guerra de posições


A segunda fase da Primeira Guerra Mundial, foi a época em que ocorreu os avanços estratégicos. O
uso das trincheiras foram amplamente utilizados. O armamento despertou um surto industrial fazendo
com que novas armas aparecessem.

Em 1917, com o triunfo da revolução Russa, a Rússia assina um acordo com a Alemanha, que
oficializava a sua saída da guerra, o acordo levou o nome de Tratado de Brest-Litovsk.
No mesmo ano os Estados Unidos entram na Guerra após ter seus navios mercantes atacados em
águas internacionais, por submarinos alemães. Apesar de manterem uma política de não-intervenção nos
assuntos europeus, depois do ataque, o presidente declara guerra à Alemanha.
Com a intensificação da guerra, as alianças estavam desenhadas da seguinte forma: A Tríplice
Aliança, antes de iniciar a guerra, reunia a Alemanha, Austro-Hungria e Itália. Com o início dos conflitos,
O império Turco-Otomano alia-se com a Alemanha, devido a sua rivalidade com a Rússia em 1914, a
Bulgária se une a eles em 1915. A Tríplice-Entente, antes formada pela Inglaterra, França e Rússia,
durante a guerra, mais 24 nações são incorporadas. Nações como o Japão (1915), Portugal e Romênia
(1916), Estados Unidos, Grécia e Brasil (1917). A Itália que antes pertencia a Tríplice Aliança, entra no
conflito em 1915 ao lado dos países da tríplice Entente.

III - O Final da Guerra


Depois da saída da Rússia e com a entrada dos Estados Unidos no conflito, a situação da Aliança foi
ficando cada vez mais crítica. E março de 1918 os alemães iniciaram mais uma ofensiva na frente
ocidental, utilizando aviões, canhões e tanques, nessa investida, chegaram a 46 km de Paris. Nesse
momento, com a ajuda dos norte-americanos, os alemães forma obrigados a recuar. A partir de então,
eles começaram a perder aliados até o ponto da situação ficar insustentável.
Neste momento o povo alemão sofria com a fome, devido a um bloqueio naval, a escassez de
alimentos levou a população a fazer uma manifestação pedindo o a saída da guerra. A população de
Berlim, em novembro de 1918, conseguiu tirar do poder o imperador Guilherme II, implantou-se então um
governo provisório, sob a liderança do Partido Social-Democrata, que assinou um acordo de paz com os
Aliados, terminando assim, a Primeira Guerra Mundial

IV – Consequências
Com a rendição dos países que formavam a Tríplice Aliança, um acordo foi assinado, nas proximidades
de Paris, apenas os países vencedores participaram. Pelo acordo a Alsácia-Lorena, voltava a pertencer
a França, além de ter perdido território para outros países. Este tratado também impôs fortes punições, a
Alemanha foi obrigada a pagar uma indenização aos países, afim de pagar os prejuízos da guerra, outra
imposição foi a de que deveria ser entregue aos países vencedores uma parte de sua f rota mercante,

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suas locomotivas e suas reservas de ouro. Seu exército teve de ser reduzido, assim como sua indústria
bélica. Esse tratado, assinado em junho de 1919 levou o nome de Tratado de Versalhes, pois foi
assinado na sala dos Espelhos do palácio de Versalhes.
A Primeira Guerra Mundial, deixou um legado de aproximadamente 10 milhões de mortos, e quase o
triplo de feridos. Campos a indústria foram destruídos, além dos grandes prejuízos.
O conceito de guerra mudou a partir da Primeira Guerra Mundia, o modelo aristocrático que
caracterizou as guerras de Napoleão, não existia mais. O uso de novas armas, como bombas, tanques,
rifles de precisão e metralhadoras, transformou os exércitos em uma máquina mortífera. Esse motivo fez
com que a guerra durasse mais do que se esperava.

As Influências da Primeira Guerra Mundial no Cenário Brasileiro 18


A primeira guerra representa para a industrialização brasileira um momento de desenvolvimento
acelerado. Por ser o Brasil geograficamente complexo, com suas unidades distantes e pobres,
representava um mercado interno incipiente. Somente através das medidas fiscais e protecionistas de
certos governos, pode-se localizar uma indústria caseira nos fins do século XIX e início do XX. Com a
Guerra dificultam-se as importações de produtos, incentivando-se o surgimento de novos ramos
industriais. Por ser este um processo de transformação das estruturas de certas zonas geográficas é um
processo lento. Esta expansão é liderada pelas regiões Sul e Leste, por serem ricas e variadas
climaticamente.
Os elementos da acumulação capitalista são a aplicação de pequeno capital e o baixo salário, que
acrescia, além dos lucros normais, pela inflação e pela aplicação de parte dos lucros do café, devido à
proibição de novos plantios em 1902.
Depois de 1914 surgem as grandes indústrias e uma concentração operária. Dá seus primeiros passos
a indústria pesada e vai ocupar parcialmente um mercado que demanda uma autossuficiência, somente
alcançada no período da Segunda Guerra, em Volta Redonda. Paradoxalmente, desenvolvem-se as
indústrias subsidiarias estrangeiras de petróleo e derivados, químicos e farmacêuticos, que
conjuntamente aos trustes estrangeiros, crescem acompanhando as necessidades do país.
As classes dominantes não apoiam esta expansão, por ser formada basicamente por proprietários de
terras. A indústria só superará a atividade agrária após a Segunda Guerra. Somente no governo de Afonso
Pena que se compreendeu a necessidade de um equilíbrio entre indústria e consumidor. No Governo de
Hermes da Fonseca e de Venceslau Brás, tentava-se rever as taxas alfandegárias. A guerra precipita a
solução, onde, nota-se a necessidade de desenvolver os recursos industriais de energia e ferro próprios.
Devido à guerra, ocorrem grandes dificuldades fiscais, levando o país a uma inflação acelerada, onde
a moeda circulante ultrapassa a casa de um milhão de contos de réis de emissão do tesouro, sem contar
as emissões bancárias. O presidente Epitácio Pessoa (1919- 1922), adota uma política de baixa cambial.
Com esta situação, aumenta as reivindicações operárias e pequeno-burguesas com relação a custo de
vida e moradia. Este governo foi o último que tentou uma política antiindustrialista. Os governos
posteriores tiveram de reconhecer a necessidade da industrialização.
Diferentemente da produção industrial, exclusivamente de consumo interno, a produção industrial,
exclusivamente de consumo interno, a produção agrícola é basicamente de exportação.
Esta produção primária aumenta progressivamente, acarretando em um saldo credor para o Brasil,
onde, se permitia cobrir compromissos externos e suprir algumas necessidades internas. Com a
concorrência das plantações africanas e asiáticas, onde ocorre aplicação de grandes capitais e uso de
técnica racional, com mão-de-obra mais barata e clima propício, fizeram com que certos produtos de
exportações brasileiras a partir da Primeira Guerra fossem declinando.
Por sua vez, o café, teve vários fatores a seu favor. O Brasil que possuía ¾ da produção mundial
expandia-se nas terras roxas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, principalmente. Aumenta
continuamente sua produção devido a interesses capitalistas estrangeiros, que participaram
principalmente de sua distribuição. Devido ao consumo ser menor que a produção, sente-se à
consequência da acumulação que se dá a partir da Crise de 1893.
Com estas ações protecionistas, que garantia a estabilidade, guerra, em um país como o Brasil, um
círculo vicioso entre bons preços e mais aplicações de capitais em novas lavouras, tendo como resultado
um acúmulo de estoque que tendia à crise, desenrolada e m 1929. (Esta crise de 1929 foi uma crise
mundial que assolou em especial os EUA com o Crack da bolsa de Nova York que depois da primeira
guerra viveram um fortalecimento da suas economias por tudo que produzirem ser exportado para a

18BRASIL ESCOLA. As influências da Primeira Guerra Mundial no cenário brasileiro. Brasil Escola. Disponível em:
<http://brasilescola.uol.com.br/historiab/influencias-da-primeira-guerra-cenario-brasileiro.htm> Acesso em 10 de maio de 2017.

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Europa que ficou destruída com a Guerra neste período já estavam quase que recuperada e não
precisava mais nem dos empréstimos em dinheiro americano ou de produtos dos demais países os
excedentes de produção levaram muitos destes países à crise econômica). Em continuação aos
prósperos anos de guerra, as mercadorias agrícolas e industriais atingem um superávit, com relação às
importações. Passada a euforia econômica de 1919, segue uma paralisação e a crise de 1920, acelerada
devido à política titubeante e antiindustrialista do governo.
Questões

01. (CVM - Agente Executivo – ESAF) Atritos permanentes decorrentes de disputas imperialistas,
profundas rivalidades políticas assentadas em extremado nacionalismo e constituição de dois blocos
antagônicos de alianças entre países, a Tríplice Aliança e a Tríplice Entente, configuram, entre outros
aspectos, o quadro histórico que resultou na:
(A) Segunda Guerra Mundial.
(B) Guerra Franco-Prussiana
(C) Guerra dos Boxers
(D) Guerra Civil Americana
(E) Primeira Guerra Mundial

02. (PC-MG - Escrivão de Polícia Civil – FUMARC) São conjunturas que precedem à eclosão da
Primeira Guerra Mundial, EXCETO:
(A) A presença de várias potências europeias na Ásia e na África fez com que interesses imperialistas
se antagonizassem, sobretudo, no que se refere ao controle de territórios.
(B) A política de alianças produzirá um “efeito dominó”, lançando à guerra, uma após outra as nações
signatárias dos acordos.
(C) O nacionalismo adquire grande importância na eclosão da guerra, uma vez que as alianças entre
as nações europeias, no período que precede o conflito, nortearam-se fundamentalmente, por questões
étnicas.
(D) A escalada inflacionária, o desemprego e o ódio racial favoreceram a subida ao poder de partidos
totalitários como o Partido Nacional dos Trabalhadores Alemães. Antissemitismo e expansionismo
territorial faziam parte da política desses partidos, o que acabou determinando a guerra.

03. (CONFERE – Auditor - INSTITUTO CIDADES) Vários problemas atingiam as principais nações
europeias no início do século XX. O século anterior havia deixado feridas difíceis de curar. Alguns países
estavam extremamente descontentes com a partilha da Ásia e da África, ocorrida no final do século XIX.
Alemanha e Itália, por exemplo, haviam ficado de fora no processo neocolonial. Enquanto isso, França e
Inglaterra podiam explorar diversas colônias, ricas em matérias-primas e com um grande mercado
consumidor. A insatisfação da Itália e da Alemanha, neste contexto, pode ser considerada uma das
causas da:
(A) Guerra Fria
(B) Grande Guerra
(C) Segunda Guerra Mundial
(D) Revolução Socialista Marxista

04. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) Acerca do processo histórico que desencadeou a I
Guerra Mundial, julgue (C ou E) os itens a seguir.
A expansão econômica da Alemanha levou-a a competir com a Inglaterra e com a França.
(A) Certo
(B) Errado

05. (SEE-AL - Professor – História – CESPE) No que se refere à Idade Contemporânea e ao período
que abrange as duas guerras mundiais e seus efeitos, julgue os itens a seguir.
Durante a Primeira Guerra Mundial, a Espanha, a Suíça e os Países Baixos mantiveram-se imparciais
e conseguiram permanecer relativamente distantes do conflito.
(A) Certo
(B) Errado

06. (Prefeitura de Betim – MG – Professor PII - História - Prefeitura de Betim – MG) É coerente
com as razões que levaram à 1ª Grande Guerra Mundial:

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(A) Um dos fatos que contribuiu para o final do confronto foi a entrada da Rússia na Guerra, pois tinha
um exército grande e bem preparado, impondo aos alemães derrotas vexatórias.
(B) O processo de Imperialismo, promovido pelas grandes potências capitalistas da Europa,
principalmente França, Inglaterra e Alemanha, gerou conflitos e até confrontos pela disputa de territórios,
ao ponto de desencadear a 1ª Guerra.
(C) Temendo uma ofensiva alemã, Japão, Inglaterra e França formaram a Tríplice Aliança.
(D) O início da Guerra se deu quando as tropas alemãs invadiram a Polônia, apresentando ao mundo
a famosa Guerra Relâmpago, deixando marcas desastrosas para os poloneses.

07. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) Acerca do processo histórico que desencadeou a I
Guerra Mundial, julgue (C ou E) os itens a seguir.
A ascensão econômica e política do Império Austro-Húngaro levou-o a confrontar os interesses
ingleses nos Bálcãs. O assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, em Sarajevo, permitiu que se
atribuísse ao imperialismo britânico a responsabilidade pelo clima de tensão regional, e constituiu o marco
inicial da guerra.
(A) Certo
(B) Errado

08. Os países envolvidos na I Guerra Mundial dividiram-se em duas coligações de nações que se
enfrentaram durante os anos da guerra, incialmente eram formados por seis países. Das alternativas
abaixo, qual está correta?
(A) Eixo, formado por Alemanha, Itália e Japão; e os Aliados, composto por França, Inglaterra e
Estados Unidos.
(B) Eixo, formado por Alemanha, Itália e Japão; e Tríplice Entente, formada pela França, Inglaterra e
Rússia.
(C) Tríplice Aliança, composta pela Alemanha, Áustria-Hungria e Itália; e a Tríplice Entente, formada
pela França, Inglaterra e Rússia
(D) Tríplice Aliança, composta pela Alemanha, Áustria-Hungria e Itália; e os Aliados, composto por
França, Inglaterra e Estados Unidos.

09. Após o início da guerra, os bloco antes formados por seis países, sofrem alterações, A Tríplice-
Entente, antes formada pela Inglaterra, França e Rússia, durante a guerra, mais 24 nações são
incorporadas. Nações como o Japão, Portugal e Romênia, Estados Unidos, Grécia e Brasil. Sobre a
formação da Tríplice Aliança, podemos afirmar que quais países compunham esse bloco?
(A) Alemanha, Império Turco-Otomano, Bulgária e Austro-Hungria.
(B) Alemanha, Rússia e Itália.
(C) Alemanha, Inglaterra e Rússia.
(D) Alemanha, Itália, Império Austro-húngaro

10. Qual foi o estopim para que acontece a Primeira Guerra Mundial?
(A) O não cumprimento do Tratado de Versalhes pela Alemanha.
(B) Assassinato do primeiro-ministro francês General De Gaulle.
(C) Assassinato do príncipe herdeiro do trono austríaco Francisco Ferdinando.
(D) A Revolução Socialista em 1917 na URSS.

Respostas

01. Resposta: E.
Podemos afirmar que os antecedentes da Primeira Guerra Mundial surgiu a partir de tensões formadas
na segunda metade do século XIX, com o desenvolvimento do nacionalismo e do imperialismo nos países
europeus. A partir dessas tensões dois blocos antagônicos se formas, a Tríplice Aliança, formada pela
Alemanha, Austro-Hungria e a Itália no ano de 1882 e a Tríplice Entente, aliança militar formada pela
Inglaterra, França e Rússia.

02. Resposta: D.
A opção D é a única que não se refere ao período que antecede a Primeira Guerra Mundial, pois a
afirmativa da questão, refere-se aos motivos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. As opções A,
B e C estão corretas a respeito dos motivos que precederam o início da Grande Guerra.

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03. Resposta: B.
A unificação tardia da Alemanha e da Itália, faz com que ambas as nação ficassem fora do processo
neocolonial, gerando um grande descontentamento. As tensões crescem mais ainda quando a Alemanha,
de forma diplomática, exige o domínio de regiões afro-asiáticas, pertencentes a Inglaterra.

04. Resposta: A.
Apesar de ter se unificado tardiamente, a Alemanha conseguiu que seus produtos industrializados
ganhassem espaço. Os alemães conseguiram formar uma grande indústria que conseguiu superar a
tradicional potência britânica.

05. Resposta: A.
A afirmativa da questão está correta, Espanha, a Suíça e os Países Baixos mantiveram-se imparciais
durante a Primeira Guerra, conseguindo manter uma certa distância dos conflitos acontecidos entre os
anos de 1914 a 1918.

06. Resposta: B.
O capitalismo, motivou o conflito entres as grandes potências europeias. O desejo de ampliar
mercados, através do imperialismo, aumentou ainda mais a tensão entre os países da Europa, pois como
a Alemanha e a Itália se unificaram tardiamente, ambas ficaram fora do processo neocolonial, o que gerou
grande descontentamento.

07. Resposta: B.
A Afirmativa da questão está errada. Primeiramente a responsabilidade pelo assassinado do
arquiduque Francisco Ferdinando, em Sarajevo, foi dada a Sérvia. A Inglaterra só entra na guerra a partir
do ataque a Bélgica, pais neutro, pelo exército alemão.

08. Resposta: C
O grande sentimento nacionalista e a disputa imperialista, fazem com que as nações formem dois
blocos. O primeiro a surgir foi a Tríplice Aliança, formada pela Alemanha, Austro-Hungria e a Itália no ano
de 1882. Logo depois, surge a Tríplice Entente, aliança militar formada pela Inglaterra, França e Rússia.

09. Resposta: D
A Tríplice Aliança, antes de iniciar a guerra, reunia a Alemanha, Austro-Hungria e Itália. Com o início
dos conflitos, O império Turco-Otomano alia-se com a Alemanha, devido a sua rivalidade com a Rússia
em 1914, a Bulgária se une a eles em 1915.

10. Resposta: C
Com a formação dos blocos formados, a única coisa que precisavam para iniciarem uma guerra era
um pretexto e ele surge no dia 28 de junho de 1914, com o assassinato do arquiduque Francisco
Ferdinando, herdeiro do trono austríaco, na capital da Bósnia, Sarajevo, por um estudante sérvio.

O Totalitarismo
O Totalitarismo é uma forma de governo em que uma ditadura controla o estado em todas as esferas
da sociedade. O controle sobre os meios de informação é muito forte e a repressão é utilizada como meio
de conter as revoltas da população e evitar novas ações. A educação vincula-se à propaganda como
meio de controle e promoção do regime, ressaltando suas realizações, obras, projetos e principalmente
a figura do líder do governo, que em muitos casos passa a ser venerado através da imposição. O modelo
totalitário ganhou força no século XX após a Primeira Guerra Mundial. Existem duas vertentes do
Totalitarismo: Esquerda e Direita
O Totalitarismo de Esquerda caracteriza-se pela abolição da propriedade privada, adoção das ideias
do socialismo, extinção da religião na esfera política e coletivização obrigatória de meios de produção
agrícolas e industriais.
No Totalitarismo de Direita as organizações sindicais estão sob olhar atento do Estado. A cultura,
religião e etnicidade são valorizados de maneira tradicionalista e a burguesia industrial é fortemente
apoiada.
Apesar das grandes diferenças, tanto o Totalitarismo de esquerda como o de direita possuem diversas
semelhanças, como a adoção de um único partido que comanda o pais e de onde partem as decisões
sobre os rumos que ele deve tomar. Ideias de supervalorização do sentimento de orgulho do

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país(patriotismo), seu enaltecimento e elogios ao potencial energético, natural e humano (Ufanismo) e a
defesa ferrenha e muitas vezes irracional do país (chauvinismo) são incentivadas e impostas à população
como forma de aumentar e garantir seu domínio. O culto à personalidade do líder do partido é também
imposto como forma de dominação carismática. Alguns dos maiores exemplos de culto à personalidade
são os ditadores Adolf Hitler na Alemanha Nazista e Joseph Stalin na União Soviética. Na atualidade a
figura de Kim Il-Sung na Coréia do Norte é um exemplo de culto à personalidade.
Entre os regimes totalitários mais significativos estão o Nazifacismo presentes em países como Itália,
Alemanha, Portugal e Espanha, e o Stalinismo na União Soviética.

O Fascismo Italiano

O fascismo italiano teve início no começo da década de 20, resultado da insatisfação com os resultados
da Primeira Guerra Mundial. Os tratados assinados após a guerra não garantiram para a Itália alguns
territórios de interesse, como o caso de algumas colônias alemãs na África e a região da Dalmácia,
atribuída à Iugoslávia. Além dos territórios desejados não serem entregues ao país, o saldo de mortos
durante a guerra foi enorme. Em torno de 650 mil pessoas morreram, além da região de Veneza ter sido
devastada.
A situação econômica do pais entrou em um momento de grande caos e crise. A Itália já possuía um
problema de superpovoamento e atrasos de desenvolvimento, que foram agravados após a I Guerra com
a alta inflação provocada pela emissão de moedas e empréstimos exteriores para financiar seu exército.
Como resultado, a Lira, que era a moeda nacional da época, ficou extremamente desvalorizada.
Com a crise econômica afetando até mesmo as grandes indústrias do país, o desemprego cresceu,
juntamente com o número de greves de operários. Revoltas e pilhagens de lojas pela população tornaram-
se constantes. Por volta de 1920, mais de 600 mil metalúrgicos das regiões piemonteses e lombardos
tomaram controle de fábricas e tentaram dirigi-las, tentativa que falhou por conta da falta de credito
bancário. Além das fábricas e cidades, no campo várias terras foram ocupadas e muitos camponeses
exigiam reforma agraria.
Com medo do avanço dos movimentos sociais, do avanço das ideias comunistas e a incapacidade do
governo em conter as revoltas, grupos burgueses acabaram aliando-se a um grupo contrário ao
comunismo e ao socialismo: os Fascistas.
Os fascistas tinham como representante Benito Mussolini. Nascido em uma família pobre e
crescendo em um meio de influencias anarquistas, ingressou no Partido Socialista e refugiou-se durante
algum tempo na Suíça para fugir do serviço militar. Mussolini possuía ideais pacifistas, tendo inclusive
trabalhado como redator do jornal Avanti. Suas opiniões mudariam após o início da I Guerra Mundial,
quando fazia pedidos de intervenção militar da Itália em favor dos aliados em seu próprio jornal, Popolo
d’Itália.
Mussolini participou da guerra, de onde voltou gravemente ferido. Em seu jornal exigia atendimento
aos ex-combatentes que não conseguiam empregos, além de propor reformas sociais e criticar a
degradação e perda de poder do Estado, exigindo um regime de governo forte.
Os fascistas culpavam a democracia e o liberalismo. Vestiam-se de preto, daí o nome como foram
conhecidos, “camisas negras de Milão”. Formavam grupos paramilitares, os Squadres, ou “Fascio
de combatimiento” que combatiam as greves e os comunistas. Em 1922 estava marcada uma grande
greve geral em Roma, liderada pelos comunistas. Os fascistas impediram violentamente esta greve e
realizaram uma grande passeata, a “Marcha sobre Roma”. Após a marcha e a grande popularidade
alcançada pelos fascistas, o Imperador italiano indicou Mussolini para Primeiro Ministro. Mussolini foi
responsável por uma grande manobra diplomática com a Igreja Católica. Através do Tratado de Latrão
foi criado o Estado do Vaticano, que conquista o apoio e reconhecimento do Estado Italiano pela Igreja
(reconhecimento que não havia ocorrido desde a unificação Italiana em 1870)

Salazarismo e Franquismo
As consequências do fim da I Guerra Mundial e da Quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque
causaram um efeito devastador na política e na economia de muitos países europeus. As crises
econômicas se alastravam, o desemprego aumentava junto com a insatisfação de operários de fabricas
que realizavam greves constantemente e muitos grupos políticos de esquerda chegavam ao poder. Com
medo de perder espaço e privilégios, os grandes empresários e a igreja católica aliaram-se e financiaram
a ascensão de grupos políticos de extrema-direita para conter as revoltas sociais e o avanço das ideias
socialistas que se espalhavam pelo continente. A década de 30 na Europa foi marcada pela ascensão do
nazifascismo. Esse modelo de governo surgido na Itália e Alemanha foi também praticado em Portugal
(Salazarismo) e Espanha (franquismo).

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Em Portugal, assim como na Alemanha, a crise de 1929 colocou a extrema direita no poder, o que
possibilitou a ascensão de Antônio Oliveira Salazar que em 1930 instaurou a ditadura do “Estado Novo”
e outorgou uma constituição autoritária, nacionalista, com unipartidarismo e a proibição de greves. O
ditador permaneceu no poder até 1970, quando faleceu. O modelo ditatorial permaneceu em vigor até o
ano de 1974, quando acontece a “Revolução dos Cravos” que derruba o governo autoritário promove
novamente a democracia. A revolução também coloca fim na Guerra Colonial portuguesa, conflito entre
tropas portuguesas e grupos separatistas de Angola, Guiné e Moçambique. Os separatistas buscavam a
autonomia, ou seja a independência do domínio colonial de Portugal. Salazar foi contrário à ideia de
separação e enviou tropas para suas colônias na África a partir de 1961 para conter os rebeldes. Com a
saída de Salazar do poder, a partir de 1975 tem início uma rodada de negociações para discutir a
descolonização dos territórios conflituosos com o Tratado de Alvor.
Com a queda do governo monárquico em 1931, após a renúncia do rei Afonso XIII, é proclamada a
Segunda Republica. Nas eleições ocorridas em dezembro do mesmo ano a esquerda sai vitoriosa. Alcalá
Zamora é eleito presidente da República. Com as reformas propostas pelo governo, que não se
mostraram significativas para nenhum dos lados, a insatisfação aumenta.
Manuel Azaña ficara encarregado por Alcalá Zamora de organizar o governo, que não consegue
resolver as questões agrária e trabalhista. Na questão religiosa, a companhia de Jesus é dissolvida na
Espanha, e as demais ordens religiosas apesar de continuarem, são proibidas de dedicar-se ao ensino.
As reformas foram consideradas moderadas em relação ao espirito anticlerical presente no parlamento
espanhol, que era composto por uma maioria de esquerda. As medidas tomadas não agradaram nem a
direita e a igreja, que enxergavam de forma negativa a laicização do Estado (Separação entre Estado e
religião) e do ensino, nem a esquerda, que considerava as reformas promovidas como medidas
insignificantes.
A polarização política (como no resto da Europa) entre a extrema direita e a extrema esquerda levou
o pais à uma guerra civil em 1936. Enfrentaram-se o “Nacionalistas”, grupo formado pelo Exército, a
Igreja e os Latifundiários (grandes proprietários de terra) e os “Republicanos”, grupo formado pelos
sindicatos, partidos de esquerda e os partidários da democracia. A Guerra Civil Espanhola
(1936-1939) teve apoio das tropas portuguesas da ditadura salazarista e também o apoio da Alemanha
nazista. O conflito serviu de laboratório para a nova nova tática de guerra nazista: a Blitzkrieg (termo
alemão para "guerra-relâmpago. A Blitzkrieg consistia em uma doutrina militar que consistia em utilizar
forças móveis em ataques rápidos e de surpresa, com o intuito de evitar que as forças inimigas tivessem
tempo de organizar a defesa.Com o desequilíbrio das forças militares os nacionalistas venceram a guerra
e subiu ao poder o General Francisco Franco, que governou até 1975, ano de sua morte. Seu governo
era fundamentado no militarismo, anticomunismo e no catolicismo.
A Guerra Civil Espanhola deixou um saldo de mais de 500 mil vítimas, além de muitos prédios
destruídos, metade do gado do país morto e uma estagnação econômica que durou pelos próximos 30
anos. A guerra causou impacto também em vários artistas, que manifestaram sua visão através de obras
e textos criticando o conflito. Entre as produções mais expressivas está a pintura de Pablo Picasso,
Guernica.
A obra, uma pintura a óleo em estilo cubista, retrata o bombardeio e a destruição da cidade basca de
Guernica, no norte da Espanha. O autor a produziu em 1937, enquanto o autor morava em Paris. Nela
estão retratados os sofrimentos e mutilações de pessoas e animais e a destruição edifícios atingidos pela
Luftwaffe (Força Aérea Alemã).

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Picasso, Pablo. Guernica. Óleo sobre tela.
Fonte:http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2009/08/guernica2.jpg

Além de Picasso, outros artistas como o pintor surrealista Salvador Dali, o poeta Federico García Lorca
e o escritor estadunidense Ernest Hemingway.

O Nazismo Alemão

O Nazismo era a sigla em alemão para “partido nacional socialista dos trabalhadores alemães”
(National Sozialistische Deutsche Arbeiterpartei ou N.S.D.A.P) fundado em 1920. Em 1923 membros do
partido tentam um golpe de Estado que ficou conhecido como Putch de Munique. O golpe foi frustrado e
os nazistas foram presos, entre eles um soldado que combatera na Primeira Guerra Mundial, chamado
Adolf Hitler. Na cadeia Hitler escreve seu livro com os princípios fundamentais do nazismo o “Mein Kampf”
(minha luta) no qual ele expressou suas ideias antissemitas, racialistas e nacional-socialistas. Após serem
anistiados (anistia = perdão de crime político) os membros do partido começaram um intenso trabalho de
divulgação de suas ideias, recebendo o apoio de grandes industriais e banqueiros alemães. Com o apoio
recebido os nazistas chegam ao poder. Após a vitória parlamentar do partido nazista, Hitler é nomeado
chanceler (primeiro ministro) da Alemanha em 1933.
Com a chegada de Hitler ao poder, tem início a implantação da ditadura totalitária nazista. O
parlamento foi incendiado e a culpa foi jogada nos grupos comunistas. As greves e os partidos comunistas
foram proibidos, e teve início a perseguição realizada aos Judeus. Hitler desobedece ao tratado de
Versalhes e inicia a militarização do país, pregando a necessidade de “espaço vital” alemão, ou seja o
espaço necessário para a expansão territorial de um povo, e a conquista de territórios ocupados pela
população Germânica. Inicia-se também a recuperação econômica com base em um programa baseado
na militarização do país e criação de empregos (principalmente na indústria militar).

A expansão Nazista
Os nazistas deram início em 1936 uma expansão militar com a participação em conflitos, a invasão e
anexação de territórios. Hitler leva a Europa à guerra (desta vez sim, a culpa é da Alemanha). O início da
expansão militar ocorre com a participação alemã na “Guerra Civil Espanhola”, em 1936, depois em
1938 anexam a Áustria, e em 1938/39 invadem e anexam os Sudetos da Tchecoslováquia (região
montanhosa à sudoeste do país).
A Guerra civil espanhola e a Blitzkrieg: Para muitos historiadores a Guerra Civil Espanhola foi um
laboratório para os alemães testarem sua nova tática de guerra, a Blitzkrieg (Guerra relâmpago). Era um
ataque surpresa e simultâneo entre a aviação (Luftwaffe), divisão de tanques blindados (divisão Panzer)
e a infantaria de soldados.
Questões

01. O fascismo se afirmou onde estava em curso uma crise econômica (inflação, desemprego, carestia
etc.), ou onde ela não tinha sido completamente superada, assim como estava em curso uma crise do
sistema parlamentar, o que reforçava a ideia de uma falta de alternativas válidas de governo.
(Renzo De Felice. O fascismo como problema interpretativo,
In. A Itália de Mussolini e a origem do fascismo. São Paulo: Ícone Editora, 1988, p 78-79. Adaptado)

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Interpretando-se o texto, pode-se afirmar que os regimes fascistas, característicos de alguns países
europeus no período entre as duas guerras mundiais, foram estabelecidos em um quadro histórico de
(A) abolição das economias nacionais devido à fusão de indústrias e de empresas capitalistas em
escala global.
(B) criação de blocos econômicos internacionais com a participação dos países de economia socialista.
(C) dificuldades econômicas conjugadas com a descrença na capacidade de sua solução pelos meios
democráticos.
(D) independência das colônias africanas devido ao desequilíbrio provocado pelas revoluções
nacionalistas.
(E) enfraquecimento do Estado na maioria das nações devido ao controle da economia pelos
trabalhadores.

02. (VUNESP PMSP) Leia a notícia.


Um jovem preso por planejar um massacre contra alunos da Universidade de Brasília (UnB) é suspeito
de atuar como representante de grupos neonazistas no Distrito Federal. A Polícia Federal (PF) investiga
a ligação de Marcelo Valle Silveira Mello, 26 anos, com radicais da Região Sul que pregam o ódio a
negros, homossexuais e judeus.
(Http://www.correiobraziliense.com.br.
Acesso em 14.05.2012. Adaptado)

Prática como essa tem como modelo o regime nazista (1933-45), que defendia
(A) o pluripartidarismo e a expansão militar.
(B) a xenofobia e o internacionalismo.
(C) a democracia e o irracionalismo.
(D) o nacionalismo e a intolerância.
(E) a guerra e a diversidade cultural.

03. São características da ideologia Nazista:


(A) racismo, totalitarismo e marxismo;
(B) racismo, defesa do capitalismo e humanismo;
(C) unipartidarismo; marxismo e totalitarismo;
(D) sociedade militarista; antissemitismo e racismo;
(E) nacionalismo; bolchevismo e totalitarismo.

04. (Fgvrj) O período entre as duas grandes guerras mundiais, de 1918 a 1939, caracterizou-se por
uma intensa polarização ideológica e política. Assinale a alternativa que apresenta somente elementos
vinculados a esse período:
(A) New Deal; Globalização; Guerra do Vietnã.
(B) Guerra do Vietnã; Revolução Cubana; Muro de Berlim.
(C) Guerra Civil Espanhola; Nazifascismo; Quebra da Bolsa de Nova York.
(D) Nazifascismo; New Deal; Crise dos Mísseis.
(E) Doutrina Truman; República de Weimar; Revolução Sandinista.

05. (Upe) Leia atentamente o trecho que se segue, extraído do livro de memórias do cineasta espanhol
Luis Buñuel (1900-1983):

“Em julho de 1936, Franco desembarcava à frente de tropas marroquinas, com a intenção inabalável
de acabar com a República e de restabelecer ‘a ordem’ na Espanha. Minha mulher e meu filho acabavam
de retornar a Paris, fazia um mês. Eu estava sozinho em Madri. Em uma manhã, bem cedo, fui acordado
por uma explosão, seguida de várias outras. Um avião republicano bombardeava o quartel de La Montaña,
e ouvi também alguns disparos de canhão. [...]. Eu mal podia crer. [...]. A revolução violenta que sentíamos
germinar havia alguns anos, e que pessoalmente eu tanto almejara, passava sob a minha janela, diante
dos meus olhos. Ela me encontrava desorientado, descrente.”
(BUÑUEL, Luis. Meu último suspiro. São Paulo: Cosac & Naify, 2009, p. 215. Adaptado.)

Baseando-se no texto acima e no fato histórico por ele mencionado, analise as afirmações seguintes:
I. Madri foi um dos palcos da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), que dividiu a Espanha entre radicais
conservadores de direita e republicanos de esquerda.
II. O general Franco tinha o apoio interno da Igreja, do exército e dos latifundiários, contando, ainda,
com o apoio internacional da Alemanha hitlerista.

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III. A fuga para o exterior, como fez a esposa e o filho de Buñuel, foi uma prática comum entre os
cidadãos espanhóis, durante a guerra, a qual recebia apoio dos republicanos.
IV. Apoiados pela Igreja, os republicanos não aceitaram a participação de voluntários estrangeiros em
seu exército.
V. Os republicanos de esquerda foram influenciados pelo pensamento socialista e anarquista.

Estão corretas
(A) I, III e IV.
(B) I, IV e V.
(C) II, III e IV.
(D) II, IV e V.
(E) I, II e V.

06. (Unesp) Nas primeiras sequências de O triunfo da vontade [filme alemão de 1935], Hitler chega
de avião como um esperado Messias. O bimotor plaina sobre as nuvens que se abrem à medida que ele
desce sobre a cidade. A propósito dessa cena, a cineasta escreveria: “O sol desapareceu atrás das
nuvens. Mas quando o Führer chega, os raios de sol cortam o céu, o céu hitleriano”.
(Alcir Lenharo. Nazismo, o triunfo da vontade, 1986.)

O texto mostra algumas características centrais do nazismo:


(A) o desprezo pelas manifestações de massa e a defesa de princípios religiosos do catolicismo.
(B) a glorificação das principais lideranças políticas e a depreciação da natureza.
(C) o uso intenso do cinema como propaganda política e o culto da figura do líder.
(D) a valorização dos espaços urbanos e o estímulo à migração dos camponeses para as cidades.
(E) o apreço pelas conquistas tecnológicas e a identificação do líder como um homem comum.

Respostas
01. Resposta C.
As inúmeras crises em que entraram diversos países após o fim da Primeira Guerra Mundial levaram
ao surgimento de muitos estados de governos extremistas, que levaram até mesmo a população a
acreditar que a melhor forma de governo seria a de um estado forte que controlava a economia.

02. Resposta D.
O Nazismo deriva do nome do partido que comandou a Alemanha de 1933 a 1945, o partido Nacional-
Socialista. Entre as crenças dos defensores do partido estava a de que o povo alemão derivava de uma
raça superior e de que muitos outros povos não chegavam nem perto do desenvolvimento alemão ou
como no caso dos Judeus, foram culpados pela situação econômica instável que o pais alcançou após o
final da Primeira Guerra Mundial.

03. Resposta D.
Entre as ideias defendidas pelo nazismo estavam as que pregavam o ódio a judeus, negros, ciganos,
homossexuais e outras minorias da sociedade, enquanto o povo alemão era celebrado como raça
suprema da humanidade. O alistamento militar tornou-se obrigatório a partir de 1936, além da existência
da juventude hitlerista, grupo paramilitar que alistava crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos.

04. Resposta C.
Os elementos apresentados na resposta mostram situações em que a polarização entre grupos de
direita e de esquerda tornou-se extrema. Os eventos apresentados ocorrem durante o período
mencionado, com o movimento nazifascista surgindo e ganhando força após o fim da Primeira Guerra
Mundial. A Bolsa de Nova York enfrenta momentos de crise com sua quebra em 1929, causando efeitos
devastadores na economia dos Estados Unidos, além de outros países. A Guerra Civil Espanhola ocorreu
de 1936 a 1939, surgindo do conflito entre grupos de esquerda e de direita na Espanha. Entre os tópicos
citados nas demais alternativas, a globalização surgiu após a queda da URSS no início dos anos 1990.
O Muro de Berlim foi erguido somente em 1961, época em que ocorria a Guerra do Vietnã, que durou de
1955 a 1975. A revolução cubana ocorreu em 1959 e a Crise dos Misseis, envolvendo Cuba e Estados
Unidos aconteceu no ano de 1962.

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05. Resposta E.
A Guerra Civil Espanhola teve conflitos por toda a Espanha, uma disputa entre radicais conservadores
de direita e republicanos de esquerda. O general Francisco Franco recebeu apoio de grupos
conservadores que apoiavam a ideia de uma Espanha livre do comunismo e do socialismo. Entre os
grupos que o apoiavam estavam a Igreja, o Exército e diversos latifundiários (grandes proprietários de
terras). Com a intenção de frear o avanço do comunismo na Europa, tropas nazistas auxiliaram o general
no confronto com grupos influenciados pelas ideias socialistas e anarquistas.

06. Resposta C.
O Totalitarismo que ganhou força após o fim da Primeira Guerra Mundial na Europa tinha como
característica o culto ao líder e sua figura. O trecho representa essa ideia ao relacionar a chegada do
Führer (Hitler) com a chegada de bons tempos, da calmaria. O cinema foi uma das formas de propaganda
mais utilizadas pelo regime Nazista para divulgar suas ideias para a população, seja para enaltecer e
celebrar a figura do líder, seja para culpar e hostilizar a figura do Judeu.

Segunda Guerra Mundial

A Segunda Guerra Mundial, ocorreu entre 1939 e 1945. Assim como a Primeira Guerra, ela ganhou
esse nome por não ficar confinada apenas ao continente europeu. Foi a maior guerra vista na história da
humanidade, setenta e duas nações foram envolvidas. O número de mortes é estimado em cerca de
cinquenta milhões.

I - Antecedentes

Com o final da Primeira Guerra Mundial e com o Tratados de Versalhes, nações como a Alemanha
entraram em uma profunda crise social e econômica. Com a quebra da bolsa de Nova York, em 1929, a
situação que estava começando a melhorar, piora novamente, gerando um grande descontentamento em
relação ao liberalismo americano.
Sob essa paisagem é que surge movimentos em diversos países da Europa, principalmente Alemanha
e Itália, governos totalitaristas. Em 1922, Benito Mussolini chega ao poder na Itália, iniciando uma
ditadura do Partido Fascista, e em 1932, na Alemanha, o Partido Nazista após vencer as eleições alcança
o poder e Adolf Hitler é nomeado chanceler alemão.
Com o objetivo de expandir e ter de volta as região que lhe foram tiradas pelo Tratado, o governo
Alemão, desafiando os acordos feitos pelo Tratado de Versalhes, volta a produzir armamentos e a
aumentar sua força militar. A região da Renânia, que fazia fronteira com a França, volta a se rearmar.
Através destas atitudes a Europa já começa a se alarmar e esperar uma outra guerra acontecer.
Em 1935, a Itália dá início ao seu processo de expansão, anexando a Etiópia e logo depois a Albânia.
Na Alemanha, esse processo começa em 1938 quando anexam a Áustria e a Tchecoslováquia. Itália e
Alemanha já haviam assinado um acordo de apoio mútuo, em 1936, chamado de Eixo Roma-Berlim. O
Japão entra nesse acordo apenas quatro anos depois.
As outras nações, como a França e a Inglaterra, só interviram nas ações desses países, quando em
1939, após ter assinado um pacto de não agressão com a União Soviética - Pacto Ribbentrop-Molotov -
ela invade a Polônia, que havia ficado dividida pelo acordo. A invasão à Polônia aconteceu no dia 1° de
Setembro de 1939, dois dias depois é declarado guerra à Alemanha.
A Segunda Guerra Mundial reuniu nações de grande parte do mundo, divididas em dois blocos, o Eixo,
liderado pela Alemanha, Itália e Japão, e os Aliados, liderados principalmente pelos Estados Unidos,
Inglaterra e União Soviética.

II- A Guerra

II.a - Invasão da França e URSS


Sob o comando do general Erich Von Manstein, a Alemanha inaugura uma nova forma de guerra.
Conhecida como Blitzkrieg - guerra relâmpago – consistia em destruir o inimigo através do ataque
surpresa. Usando essa tática, em abril de 1940, o exército alemão invade e ocupa a Dinamarca e a
Noruega. Um mês depois Luxemburgo, Holanda e Bélgica, países até então neutros foram invadidos. O
próximo destino dos alemão era atacar a fronteira da França, que pegados de surpresa não conseguiram
se defender, deixando o exército alemão se aproximar de mais de Paris. No dia 14 de julho de 1940 a
capital francesa é dominada, forçando o governo francês a se transferir para o interior do país e apenas
alguns dias depois o governo francês se rende.

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No acordo de rendição, metade do território da França passava a pertencer a Alemanha, a outra
metade ficaria com eles, desde que as autoridades francesas colaborassem com os alemães. O general
francês Charles de Gaulle, não contente com a situação, fugiu para a Inglaterra, de onde liderou
resistências contra a presença dos nazistas no país.
Em 1941, sem nenhum aviso, o exército alemão, invade a URSS (União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas), atacando durante três meses, três regiões diferentes – Leningrado, Moscou e Stalingrado).
Sabendo da força do exército, a posição tomada pela URSS foi de recuar. Contudo, Hitler, subestimando
as forças soviéticas, ordenou um ataque a Moscou e Leningrado, onde assistiu a sua tática de guerra
falhar. Além dos soviéticos terem se defendido bem, os alemães se viram enfrentando o rigoroso inverno
Russo.
Quando finalmente conseguem chegar a Stalingrado, a batalha acontece na própria rua, onde com
apenas 285 mil soldados a Alemanha se vê cercada por forças soviéticas. Apenas em janeiro de 1943 é
que, depois de vários meses de guerra, os sobrevivente alemães se rendem à força da URSS. Esse fato
marca o fim da fase próspera vivida pelo Eixo.

II.b Guerra no Pacífico e Entrada dos Estados Unidos na Guerra


Apesar do Japão estar aliado ao Eixo, ele permaneceu fora do conflito direto nos primeiros anos da
guerra. Até o ano de 1941, sua estratégia era pressionar os Estados Unidos, para que este reconhecesse
sua superioridade no continente Asiático. Quando perceberam que o governo americano não atenderiam
as suas exigências, o governo japonês ordenou um ataque surpresa à base norte-americana de Pearl
Harbor, no Havaí em dezembro de 1941. Após o ataque, o Governo dos Estados Unidos entram na guerra,
em favor aos Aliados.
Após o ataque, os japoneses conseguiram conquistar diversas regiões da Ásia, onde conseguiram o
domínio de matérias-primas importantes, como o petróleo, borracha e minério.
Em junho de 1942, os Estados Unidos conseguem vencer a força japonese no pacífico. Essa batalha
ganhou o nome de “Batalha de Midway”

II.c – Fim da Guerra


Após a derrota dos japoneses no pacífico, as forças inglesas e norte-americanas conseguiram expulsar
o exército alemão do norte da África. No ano seguinte, em 1943, os Aliados conseguiram chegar no sul
da Itália, enquanto isso, o exército soviético (Exército Vermelho) dava início a invasão da Alemanha. Em
1944, na Itália, Mussolini é fuzilado por guerrilheiros Antifascistas.
No mesmo ano, no dia 6 de junho, que ficaria conhecido como o “Dia D”, as forças inglesas e norte
americanas, com mais de 3 milhões de homens, conseguem chegar no norte da França, região da
Normandia. Em agosto, os Aliados conseguem entrar em Paris. O fim da guerra para os alemães era
apenas uma questão de tempo.
No dia 30 de abril de 1945, Hitler, com sua mulher Eva Braun, se suicidam na capital da Alemanha,
Berlim. Após a sua morte, os soviéticos conseguem chegar a Berlim, onde finalmente o exército alemão,
junto com seus comandantes, assinam a rendição.
Apesar da guerra ter acabado na Europa, o Japão se recusou a se render. Para forçar sua saída, no
dia 6 de agosto de 1945, os Estados Unidos ordena o lançamento de uma bomba atômica sobre a cidade
de Hiroshima, ode em questão de segundos mais de 80 mil pessoas foram mortas. Mesmo após o ataque
o Japão não concordou em assinar a rendição. Com isso três dias depois, outra bomba atômica é lança,
agora sobre a cidade de Nagasaki, matando mais de 40 mil pessoas. Depois do segundo ataque, o
governo japonês concorda em assinar a rendição.

II.d – Participação do Brasil na Segunda Guerra19


Neutralidade brasileira na primeira fase da guerra
Desde 1939, início do conflito, o Brasil assumiu uma posição neutra na Segunda Guerra Mundial. O
presidente do Brasil na época era Getúlio Vargas.
Ataques nazistas e entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial
Porém, esta posição de neutralidade acabou em 1942 quando algumas embarcações brasileiras foram
atingidas e afundadas por submarinos alemães no Oceano Atlântico. A partir deste momento, Vargas fez
um acordo com Roosevelt (presidente dos Estados Unidos) e o Brasil entrou na guerra ao lado dos Aliados
(Estados Unidos, Inglaterra, França, União Soviética, entre outros). Era importante para os Aliados que o

19 O Brasil na Segunda Guerra Mundial. Sua Pesquisa. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/segundaguerra/brasil.htm> Acesso em 03 de maio de 2017.

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Brasil ficasse ao lado deles, em função da posição geográfica estratégica de nosso país e de seu vasto
litoral.
Participação efetiva no conflito
A participação militar brasileira foi importante na Segunda Guerra Mundial, pois somou forças na luta
contra os países do Eixo (Alemanha, Japão e Itália). O Brasil enviou para a Itália (ocupada pelas forças
nazistas), em julho de 1944, 25 mil militares da FEB (Força Expedicionária Brasileira), 42 pilotos e 400
homens de apoio da FAB (Força Aérea Brasileira).
As dificuldades foram muitas, pois o clima era muito frio na região dos Montes Apeninos, além do que
os soldados brasileiros não eram acostumados com relevo montanhoso.
Vitórias
Os militares brasileiros da FEB (também conhecidos como pracinhas) conseguiram, ao lado de
soldados aliados, importantes vitórias. Após duras batalhas, os militares brasileiros ajudaram na tomada
de Monte Castelo, Turim, Montese e outras cidades.
Apesar das vitórias, centenas de soldados brasileiros morreram em combate. Na Batalha de Monte
Castelo (a mais difícil), cerca de 400 militares brasileiros foram mortos.
Outras formas de participação
Além de enviar tropas para as áreas de combate na Itália, o Brasil participou de outras formas
importantes. Vale lembrar que o Brasil forneceu matérias-primas, principalmente borracha, para os países
das forças aliadas.
O Brasil também cedeu bases militares aéreas e navais para os aliados. A principal foi a base militar
da cidade de Natal (Rio Grande do Norte) que serviu de local de abastecimento para os aviões dos
Estados Unidos.
Foi importante também a participação da marinha brasileira, que realizou o patrulhamento e a proteção
do litoral brasileiro, fazendo também a escolta de navios mercantes brasileiros para garantir a proteção
contra ataques de submarinos alemães.

III – Consequências
Com o fim da guerra em 1945, líderes dos três principais países vencedores – URSS, Estados Unidos
e Inglaterra – se reuniram em na Conferência de Potsdam, onde ficou decidido que a Alemanha seria
dividida em quatro áreas de ocupação, que foram entregues a França, Inglaterra, Estados Unidos e União
Soviética. A capital, Berlim, também foi dívida. Já o Japão teria seu território dominado pelos Estados
Unidos por tempo indeterminado.
Após a guerra, os Estados Unidos e a URSS saíram como grandes potência mundiais. As ideias
antagônicas desses países acabaram por dividir o mundo. De um lado estava o capitalismo e do outro o
socialismo. A partir dessa divisão, um conflito entre essas grandes potências se instaurou, começou a
chamada Guerra Fria.

III.a – Criação da Organizações das Nações Unidas


Em fevereiro de 1945, após uma das conferências de paz, ficou decido a criação de um órgão que
tentaria unir as nações, estabelecendo relações amistosas entre os países. A Carta das Nações Unidas
foi incialmente assinada por cinquenta países, onde foram excluídos de participar os países que
participaram do Eixo. A criação da ONU foi a segunda tentativa de promover a paz, a primeira tentativa
que fracassou, foi a formação da Liga das Nações, criada após a Primeira guerra.

Questões

1. (TJ-PR - Titular de Serviços de Notas e de Registros – IBFC) Sobre a Segunda Guerra Mundial
(1939/1945), assinale a alternativa incorreta:
(A) Uma de suas causas foram as severas sanções pecuniárias impostas pelo Tratado de Versalhes
à Alemanha e seus aliados, comprometendo a sua economia, elevando a inflação a índices astronômicos
e gerando um arraigado sentimento de humilhação nos alemães e a exacerbação do nacionalismo,
possibilitando a ascensão de Hitler e do Partido Nazista ao poder.
(B) O evento que deflagrou o conflito foi o ataque japonês à base americana de Pearl Harbor, situadano
Oceano Pacífico.
(C) O conflito envolveu basicamente dois grupos: o Eixo (integrado por Alemanha, Itália e Japão) e os
Aliados (entre eles: Inglaterra, Estados Unidos, França e União Soviética).
(D) Com a vitória aliada, foi dissolvido o Terceiro Reich e dividida a Alemanha (Oriental e Ocidental),
criada a ONU-Organização das Nações Unidas e iniciada a Guerra Fria, diante do estabelecimento dos
Estados Unidos e da União Soviética como superpotências.

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2. (SEDU-ES - Professor B — Ensino Fundamental e Médio — História – CESPE) Um mundo
dividido ideologicamente, além das marcas da destruição causadas por vigorosas máquinas de guerra —
eis a realidade que emerge da Segunda Guerra Mundial, oficialmente encerrada em 1945. No que
concerne à história mundial após o encerramento do grande conflito, julgue o próximo item.
A Organização das Nações Unidas (ONU) é considerada uma das mais significativas consequências
da Segunda Guerra Mundial e nela coexistem órgãos de participação igualitária entre os estados-
membros, como a Assembleia Geral, e outros dominados por alguns poucos, como o Conselho de
Segurança.
(A) Certo
(B) Errado

3. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) Na Segunda Guerra Mundial, o Japão aliou-se à
Alemanha, tal como já fizera na Primeira Guerra.
(A) Certo
(B) Errado

4. (SEDF - Estudantes Universitários – CESPE) As divergências econômicas entre França e


Alemanha foram o estopim do conflito de proporções mundiais conhecido como a Segunda Guerra
Mundial.
(A) Certo
(B) Errado

5. (SEE-AL - Professor – História – CESPE) Com relação à participação do Brasil na Segunda Guerra
Mundial, julgue os itens subsequentes.
A atuação da Força Expedicionária Brasileira não foi decisiva para a vitória dos Aliados na Segunda
Guerra Mundial, visto que o contingente militar brasileiro era relativamente pequeno e o envio de soldados
para o combate ocorreu tardiamente.
(A) Certo
(B) Errado

6. (SEDU-ES - Professor B — Ensino Fundamental e Médio — História – CESPE) Um mundo


dividido ideologicamente, além das marcas da destruição causadas por vigorosas máquinas de guerra —
eis a realidade que emerge da Segunda Guerra Mundial, oficialmente encerrada em 1945. No que
concerne à história mundial após o encerramento do grande conflito, julgue o próximo item.
A bipolaridade americano-soviético traduziu-se em um jogo de enfrentamento que se convencionou
chamar de Guerra Fria.
(A) Certo
(B) Errado

7. (MPE-SP - Auxiliar de Promotoria – VUNESP) Em relação à participação do Brasil na 2.ª Guerra


Mundial, é correto afirmar que o país
(A) manteve neutralidade política, não participando do conflito.
(B) enviou apenas um corpo médico para o conflito, e não soldados.
(C) lutou ao lado dos Aliados: Inglaterra, França, Estados Unidos e União Soviética.
(D) lutou ao lado do Eixo: Itália, Alemanha e Japão.
(E) participou do conflito, do início ao fim da guerra (1939- 1945).

8. (SEDU-ES - Professor B — Ensino Fundamental e Médio — História – CESPE) O intervalo entre


as duas guerras mundiais do século XX não foi outra coisa senão uma trégua. Nesse sentido, a Grande
Guerra de 1914 nada mais fez do que preparar a Segunda Guerra Mundial. Revanchismo, orgulho
nacional ferido e problemas econômico-sociais figuraram entre os fatores que levaram à eclosão do
conflito em 1939, sem contar com a desorganização da economia mundial determinada pela Crise de
1929. Em relação a esse quadro, cujo epicentro foi a Segunda Guerra Mundial, julgue o item subsequente.
Causas distintas e diferentes protagonistas inviabilizam qualquer análise histórica que estabeleça
vínculos entre as guerras mundiais do século XX.
(A) Certo
(B) Errado

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9. (SEPLAG-DF - Professor – História - CESPE) Em dezembro de 1941, os Estados Unidos da
América (EUA) uniram duas guerras paralelas, a da Ásia e a da Europa, em uma só.
(A) Certo
(B) Errado

10. (CONFERE - Auditor(a) VII - INSTITUTO CIDADES) No ano de 1939, em meio à atmosfera de
tensão política que desencadeou a sucessão de conflitos da Segunda Guerra Mundial, um acordo de não
agressão foi firmado entre a Alemanha e a União Soviética, o Pacto Germano-Soviético. Esse pacto
estabelecia que, se acaso a Alemanha entrasse em conflito com a Inglaterra ou a França em razão de
uma eventual investida da Alemanha contra a Polônia, a URSS, por sua vez, ficaria afastada, sem se
manifestar militarmente. Tal pacto também pode ser chamado de:
(A) Tratado de Moscou
(B) Tratado de Versalhes
(C) Pacto de Varsóvia
(D) Pacto Ribbentrop-Molotov

Respostas

1. Resposta: B.
A afirmativa “B” está errada pois o fato que desencadeou a guerra foi a quebra do pacto feito entre a
Alemanha e a União Soviética, quando o exército alemão invadiu a Polônia.

2. Resposta: A.
A criação da ONU, após a Segunda Guerra Mundial, pode ser considerada uma das principais
consequências da guerra. A Carta das Nações Unidas foi incialmente assinada por cinquenta países,
onde foram excluídos de participar os países que participaram do Eixo. A criação da ONU foi a segunda
tentativa de promover a paz.

3. Resposta: B.
A afirmativa da questão está errada, pois o Japão não se aliou a Alemanha na Primeira Guerra. O país
fez parte da Tríplice Entente.

4. Resposta: B.
O fato que serviu de estopim para a guerra foi a invasão da Polônia pela Alemanha, já que esta havia
feito um acordo com a União Soviética de não agressão e a região polonesa havia sido dividida. Após
esta invasão França e Inglaterra declararam guerra à Alemanha, iniciando assim a Segunda Guerra
Mundial.

5. Resposta: A.
Apesar da entrada do Brasil na guerra e do envio de soldados e pilotos, podemos considerar que a
sua participação do país não foi o fator decisivo para que os Aliados ganhassem a guerra. O país entrou
no conflito tardiamente, apenas em 1942

6. Resposta: A.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e a URSS saíram como grandes potência
mundiais. As ideias antagônicas desses países acabaram por dividir o mundo entre o capitalismo e
socialismo, conflito que ganhou o nome de Guerra Fria.

7. Resposta: C.
Após receber ataques em suas embarcações, o presente Getúlio Vargas, resolve fazer um acordo com
o presidente norte-americano Roosevelt, onde o país entrou na guerra ao lado Aliados Inglaterra, França,
Estados Unidos e União Soviética.

8. Resposta: B.
Tanto a Primeira como a Segunda Guerra Mundial estão intimamente ligadas, uma é decorrência da
outra. As feridas abertas no primeiro conflito é que resultam no início do segundo conflito.

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9. Resposta: A.
Quando em 1941 o Japão ataca a base norte-americana no Havaí, eles já estavam em guerra na Ásia,
pelo domínio da região. Após o ataque, os Estados Unidos entram na guerra, que acontecia na Europa,
e continuava a lutar com o Japão no Pacífico.

10. Resposta: D.
O Pacto de não agressão assinado pela Alemanha e União Soviética em 1939 ganhou o nome de
Pacto Ribbentrop-Molotov.

Guerra Fria
O período conhecido como Guerra Fria teve início logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em
1945, percorrendo praticamente todo o restante do século XX, e terminando em 1991, com o fim da União
Soviética.
Ela tem início partir da emergência de duas grandes potências econômicas no fim da Segunda Guerra
Mundial: Estados Unidos e União Soviética, defensores do Capitalismo e do Socialismo,
respectivamente.
A diferença ideológica entre os dois países era marcante, o que levou o período a ser conhecido
também como Mundo Bipolar.

A conferência de Potsdam

Logo após o término da guerra, em 1945, as nações vencedoras do conflito reuniram-se para decidir
sobre os rumos da política e da economia mundial.
No dia 17 de julho os Estados Unidos, a União Soviética e o Reino Unido estabeleceram as definições
sobre a Alemanha no pós-guerra, dividindo-a em zonas de ocupação. Sob o controle soviético ficaram os
territórios a leste dos rios Oder e Neisse. Berlim, encravada no território que viraria Alemanha Oriental,
também foi dividida em quatro setores. Ao final da conferencia foram definidas quatro ações prioritárias a
serem exercidas na Alemanha: desnazificar, desmilitarizar, descentralizar a economia e reeducar os
alemães para a democracia. Também foi exigida a rendição imediata do Japão.

As tensões começam
Desde a Revolução Russa, em 1917, vários setores do capitalismo, especialmente nos Estados
Unidos, temiam o aumento do socialismo, conflitante com seus interesses. Após o fim da Segunda Guerra
essa preocupação aumentou ainda mais, já que a União Soviética havia saído como uma das vencedoras
do conflito.
A definição de fronteiras estabelecidas durante acordos anteriores, como a conferencia de Yalta não
agradou a todos, e focos de conflitos começaram a aflorar. Em 1947 surgiram, tanto na Grécia quanto na
Turquia, movimentos revolucionários de caráter comunista, com o objetivo de aliar esses países à União
Soviética. Pelo acordo estabelecido na Conferência de Yalta, ambos os países deveriam ficar sob o
domínio do Reino Unido, o que levou as tropas estadunidenses a intervirem na região e sufocar os
movimentos revolucionários.
Como parte da justificativa para a invasão, o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, enviou
uma mensagem ao Congresso dizendo que os Estados Unidos deveriam apoiar os países livres que
estavam “resistindo a tentativas de subjugação por minorias armadas ou por pressões externas.” Com
esse discurso o presidente pretendia justificar também qualquer intervenção em países que estivessem
sob o domínio ou influência política comunista.
Essa atitude do presidente ficou conhecida como Doutrina Truman, iniciando efetivamente a Guerra
Fria. A partir de então, Estados Unidos e União Soviética passaram a buscar o fortalecimento econômico,
político, ideológico e militar, formando os dois blocos econômicos que dominaram o mundo durante
restante do conflito.
A oposição dos Estados Unidos ao comunismo gerou um pensamento maniqueísta, colocando
capitalismo como algo bom e o comunismo como algo ruim e mau. A análise desses sistemas econômicos
através de definições tão simples é algo equivocado, pois não é possível reduzi-los a uma comparação
tão rasa. O auge desse maniqueísmo político se deu através da figura do senador Joseph Raymond
McCarthy. Por meio de discursos inflamados e diversos projetos de lei, esse estadista conseguiu aprovar
a formação de comitês e leis que determinavam o controle e a imposição de penalidades contra aqueles
que tivessem algum envolvimento com “atividades antiamericanas”. Essa perseguição ao comunistas
ficou conhecida como Macarthismo.

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Incentivos Econômicos
Em 1947 os Estados Unidos lançaram uma política econômica de reconstrução da Europa, devastada
pela guerra. O Programa de Recuperação Europeia ficou popularmente conhecido como Plano
Marshall. Recebeu esse nome em função do Secretário de Estado dos Estados Unidos chamado
George Marshall, seu idealizador.
Entre os objetivos do Plano Marshall estavam:
- Possibilitar a reconstrução material dos países capitalistas destruídos na Segunda Guerra Mundial;
- Recuperar e reorganizar a economia dos países capitalistas, aumentando o vínculo deles com os
Estados Unidos, principalmente através das relações comerciais;
- Fazer frente aos avanços do socialismo presente, principalmente, no leste europeu.

Até o início da década de 1950, os Estados Unidos destinaram cerca de 13 bilhões de dólares aos
países que aderiram ao plano. O dinheiro foi aplicado em assistência técnica e econômica e, ao fim do
período de investimento, os países participantes viram suas economias crescerem muito mais do que os
índices registrados antes da Segunda Guerra Mundial. A Europa Ocidental gozou de prosperidade e
crescimento nas duas décadas seguintes e viu nascer a integração que hoje a caracteriza. Por outro lado,
os Estados Unidos solidificavam sua hegemonia mundial e a influência sobre vários países europeus,
enquanto impunha seus princípios a vários países de outros continentes. Entre os países que mais
receberam auxílio do plano estão a França, a Inglaterra e a Alemanha.
A União Soviética também buscou recuperar a economia dos países participantes do bloco socialista,
através da COMECON (Conselho de Assistência Econômica Mútua) auxiliando a Polônia, Bulgária,
Hungria, Romênia, Mongólia, Tchecoslováquia e Alemanha Oriental. Assim como os Estados Unidos, a
União Soviética também utilizou o plano para espalhar sua influência e sua ideologia para os países
beneficiados.
Baseados nesses programas de ajuda, os dois blocos que se formavam passaram a construir alianças
político-militares com o objetivo de proteção contra ataques inimigos. Essas alianças também eram
utilizadas como demonstração de força através do desenvolvimento armamentista.

As Alianças Militares
No dia 4 de abril de 1949 foi criada em Washington a Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN), formada pelos Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha Ocidental, Canadá, Islândia,
Bélgica, Holanda, Noruega, Dinamarca, Luxemburgo, Portugal, Itália, Grécia e Turquia. Ficava então
estabelecido que os países envolvidos se comprometiam na colaboração militar mútua em caso de
ataques oriundos dos países referentes ao bloco socialista.
A atuação da OTAN não ficou restrita apenas ao campo militar. Embora fosse seu preceito inicial, a
organização tomou dimensões de interferência nas relações econômicas e comerciais dos países
envolvidos.
Como resposta à criação da OTAN, em 1955 o bloco soviético também criou uma aliança militar, o
Pacto de Varsóvia, celebrado entre a União Soviética, Albânia, Bulgária, Tchecoslováquia, Hungria,
Polônia, Romênia e Alemanha Oriental.
A atuação do Pacto de Varsóvia se deu no âmbito militar e no econômico, e manteve a ligação entre
os países membros. As principais ações do Pacto de Varsóvia se deram na repressão das revoltas
internas. Foi o caso no ano de 1956 quando as forças militares do grupo reprimiram ações de revoltosos
na Hungria e na Polônia e também em 1968 no evento conhecido como Primavera de Praga, ocorrido na
Tchecoslováquia.
Os Conflitos

Com a criação das alianças políticas, tanto Estados Unidos como União Soviética estiveram presentes
em diversos conflitos pelo mundo, fosse com a presença militar ou com o apoio econômico. Apesar disso,
os países nunca enfrentaram um ao outro diretamente.

Guerra da Coréia (1950-1953)


Após o termino da Segunda Guerra, a Coréia foi dividida em duas zonas de influência: o Sul foi
ocupado pelos Estados Unidos e o Norte foi ocupado pela União Soviética, sendo divididos pelo Paralelo
38º, determinado pela conferência de Potsdam
Em 1947, na tentativa de unificar a Coréia, a Organização das Nações Unidas – ONU - cria um grupo
não autorizado pela URSS, para pretensamente ordenar a nação através da realização de eleições em
todo o país. Esta iniciativa não tem êxito e, no dia 9 de setembro de 1948, a zona soviética anuncia sua
independência como República Democrática Popular da Coréia, mais conhecida como Coréia do

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Norte. A partir de então, a região é dividida em dois países diferentes - o norte socialista, apoiado pelos
soviéticos; e o sul, reconhecido e patrocinado pelos EUA.
Mesmo após a divisão entre os dois países, a região da fronteira continuou gerando tensões, com
tentativas dos dois lados para garantir a soberania sobre o território vizinho, principalmente através da
propaganda, de ambos os lados.
Em 25 de junho de 1950 a Coreia do Norte alegou uma transgressão do paralelo 38º pela Coreia do
Sul. A partir de então começa uma invasão que resulta na tomada da capital sul-coreana, Seul, em 3 de
julho do mesmo ano.
A ONU não aceitou a invasão propagada pela Coreia do Norte e enviou tropas para conter o avanço,
comandadas pelo general americano Douglas MacArthur, para expulsar os socialistas, que pretendiam
unificar o país sob a bandeira do Comunismo. A união Soviética não agiu diretamente no conflito, porém,
cedeu apoio militar para a Coreia do Norte.
Em setembro de 1950, as forças das Nações Unidas tentam resgatar o litoral da região oeste, sob o
domínio dos norte-coreanos, atingindo sem muitas dificuldades Inchon, próximo a Seul, onde se
desenrola uma das principais batalhas, e depois de poucas horas elas ingressam na cidade invadida,
com cerca de cento e quarenta mil soldados, contra setenta mil soldados da Coréia do Norte. O resultado
é inevitável, vencem as forças sob o comando dos EUA. Com o domínio do Sul, as tropas multinacionais
seguem o exemplo dos norte-coreanos e também atravessam o Paralelo 38º. Seguem então na direção
da Coréia do Norte, entrando logo depois em sua capital, Pyongyang, ameaçando a fronteira chinesa ao
acuar os norte-coreanos no Rio Yalu, sede de intensa batalha.
Com medo do avanço das tropas sobre seu território, a China resolve entrar na batalha, enviando
trezentos mil soldados para auxiliar a Coreia do Norte, forçando o general MacArthur a recuar e
conquistando Seul em janeiro de 1951. Em contrapartida, as tropas americanas avançaram novamente
entre fevereiro e março, expulsando as tropas coreanas e chinesas e obrigando-as a retornar para os
limites estabelecidos pelo Paralelo 38º, deixando os conflitos equilibrados entre os dois lados. A guerra
continua até meados de 1953, quando em 27 de julho o tratado de paz é assinado, com o Armistício de
Panmunjon. Após o tratado, as fronteiras estabelecidas em 1948 foram mantidas e foi criada uma região
desmilitarizada entre as duas Coreias. Apesar do fim da guerra as tensões entre os dois países continua
até a atualidade, com a corrida armamentista e as declarações da Coreia do Norte sobre a fabricação e
armazenamento de armamento nuclear.

Guerra do Vietnã (1959-1975)


O Vietnã está localizado na península da Indochina. Era uma possessão colonial francesa. Na
Segunda Guerra foi invadido pelos japoneses. Os vietnamitas expulsaram o Japão ao fim da guerra e
teve início o processo independência (chamado pelos franceses de descolonização). Ao norte as tropas
que expulsaram os franceses eram tropas lideradas por líderes socialistas. Em 1954, na Convenção de
Genebra, foi reconhecida a independência dos países da península da Indochina: Laos, Camboja e
Vietnã.
Foi estabelecida então a divisão do Vietnã pelo Paralelo 17º. O Vietnã do Norte manteve-se governado
pelo líder comunista Ho Chi Minh e o Vietnã do Sul, governado pelo rei Bao Dai, que nomeou Ngo Dinh
Diem como Primeiro-ministro.
Em 1955, Ngo Dinh Diem, aplicou um golpe de Estado e depôs o rei Bao Dai. Após a chegada ao
poder, Ngo Dihn Diem proclamou a República, recebendo apoio dos Estados Unidos. O governo de Ngo
Dihn Diem foi marcado pelo autoritarismo e pela impopularidade. Em 1956 o presidente suspendeu as
eleições estabelecidas pela conferência de Genebra, repetindo o ato em 1960.
Em oposição ao governo foi criada a Frente de Libertação Nacional, que tinha como objetivo depor
o presidente e unificar o Vietnã. A Frente de Libertação, possuía um exército guerrilheiro, o Vietcongue.
Após o cancelamento das eleições em 1960, o conflito teve início. O exército Vietcongue teve apoio
do Vietnã do Norte e em 1961 os Estados Unidos enviaram auxilio ao presidente do Vietnã do Sul. O
exército guerrilheiro dominou boa parte dos territórios do Sul até 1963, mesmo ano em que morreu o
presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, e o governo foi assumido por seu vice, Lyndon Johnson.
Em 1964, dois comandantes estadunidenses iniciaram o bombardeio do Vietnã do Norte, sob a
alegação de que o país havia atacados dois navios norte-americanos em Tonquim.
Os bombardeios norte-americanos sobre o Norte prolongaram-se até 1968, quando foram suspensos
com o início das conversações de paz, em Paris, entre norte-americanos e norte-vietnamitas. Como nos
encontros de Paris não se chegou a uma solução, os combates prosseguiram. Em 1970, o presidente dos
EUA, Richard Nixon, autorizou a invasão do Camboja e, em 1971, tropas sul-vietnamitas e norte-
americanas invadiram o Laos. Os bombardeios sobre o Vietnã do Norte por aviões dos EUA recomeçaram
em 1972.

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Desde 1968, a opinião pública norte-americana, perplexa diante dos horrores produzidos pela guerra,
colocava-se contrária à permanência dos EUA no conflito, exercendo uma forte pressão sobre o governo,
que iniciou a retirada gradual dos soldados. Em 1961, eram 184.300 soldados norte-americanos em
combate; em 1965, esse número se elevou para 536.100 soldados; e, em 1971, o número caía para
156.800 soldados. Em 27 de janeiro de 1973 era assinado o Acordo de Paris, segundo o qual as tropas
norte-americanas se retiravam do conflito; haveria a troca de prisioneiros de guerra e a realização de
eleições no Vietnã do Sul. Com a retirada das tropas norte-americanas, os norte-vietnamitas e o
Vietcongue deram início a urna fulminante ofensiva sobre o Sul, que resultou, em abril de 1975, na vitória
do Norte. Em 1976, o Vietnã reunificava-se, adotando o regime comunista, sob influência soviética. Em
1975, os movimentos de resistência no Laos e no Camboja também tomaram o poder, adotando o regime
comunista, sob influência chinesa no caso do Camboja. Os soldados cambojanos, com apoio vietnamita,
em 1979, derrubaram o governo pró-chinês do Khmer Vermelho.
A guerra do Vietnã é considerada o conflito mais violento da segunda metade do século XX, com
violações constantes dos direitos humanos e batalhas sangrentas. Durante todo o desenrolar da guerra,
os meios de comunicação do mundo inteiro divulgaram a violência e intensidade do conflito, além de
falarem sobre o mau desempenho dos americanos, que investiram bilhões de dólares e mesmo assim,
não conseguiram derrotar o Vietnã. Foi nesta guerra que os helicópteros foram usados pela primeira vez.
Entre as técnicas mais devastadoras utilizadas pelos Estados Unidos estavam o Agente Laranja e o
Napalm.
A característica de guerrilha do exército Vietcongue priorizava os ataques através de emboscadas,
evitando o combate direto. Para facilitar a identificação dos guerrilheiros nas matas, os norte-americanos
e sul-vietnamitas utilizaram o Agente Laranja, um desfolhante (produto químico que causa a queda das
folhas, normalmente utilizado como agrotóxico) lançando-o através de aviões, o que impedia que os
soldados se escondessem na mata. Calcula-se que tenham sido lançados 45,6 milhões de litros do
produto durante os anos 60, atingindo vinte e seis mil aldeias e cobrindo dez por cento do território do
Vietnã. O Agente Laranja causa sérios danos ao meio ambiente e à população, e seus efeitos, como
degradação do solo e mutações genéticas são sentidos até hoje.
Outro agente químico utilizado na guerra, foi o Napalm, que é um conjunto de líquidos inflamáveis à
base de gasolina gelificada, tendo o nome vindo de seus componentes: sais de alumínio co-precipitados
dos ácidos nafténico e palmítico.
O napalm foi usado em lança-chamas e bombas incendiárias pelos Estados Unidos, vitimando alvos
militares e cidades e vilarejos de civis posteriormente.

Conflitos árabes-israelenses (1948-1974)


Desde a criação de Israel, em 1948, por diversas ocasiões o estado judeu entrou em guerra com seus
vizinhos árabes. As diferenças entre esses grupos continuam no século XXI.
A parte do Oriente Médio conhecida como Palestina era a antiga terra do povo judeu. No século I d.C.,
os romanos expulsaram grande parte dos judeus da região, espalhando-os por outras partes do império.
Os muçulmanos tomaram posse da Palestina no século VII. De 1923 a 1948, a região foi dominada pelos
britânicos, e nesse período muitos judeus emigraram de volta da Europa para lá. Tanto os árabes como
os judeus que viviam na Palestina passaram a disputar o controle do território.
Quando os britânicos deixaram a região, as Nações Unidas (ONU) dividiram a região. Cada um dos
dois povos recebeu uma parte da terra, mas os árabes não concordaram com a partilha, dizendo que os
judeus receberam terras que pertenciam a eles.
Em 14 de maio de 1948, com a criação de Israel, os palestinos e os países árabes vizinhos declararam
guerra a Israel. Forças árabes ocuparam partes da Palestina, mas quando acabou a guerra Israel ficou
com mais terras do que tinha antes.
Em janeiro de 1949, Israel e os países árabes assinaram acordos sobre as fronteiras. Contudo, não
houve um tratado de paz. Os inúmeros palestinos que perderam suas casas foram acabar em campos de
refugiados nos países árabes.
Em meados de 1967, o conflito entre a Síria e Israel levou à Guerra dos Seis Dias. Israel viu que o
Egito estava se preparando para entrar na guerra para ajudar a Síria. Em 5 de junho, os israelenses
atacaram rapidamente a força aérea egípcia e destruíram-na quase por completo. Em apenas seis dias
Israel ocupou a Cidade Velha de Jerusalém, a península do Sinai, a Faixa de Gaza, o território da Jordânia
a oeste do rio Jordão (chamado Cisjordânia) e as colinas sírias de Golã, junto à fronteira de Israel.
Em 6 de outubro de 1973, dia do Yom Kippur (ou Dia do Perdão), que é sagrado para os judeus, e
época do ramadã, mês sagrado para os palestinos, o Egito e a Síria atacaram Israel. Nessa guerra, os
israelenses empurraram ambos os exércitos inimigos de volta a seus territórios, mas sofreram pesadas

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perdas. Ao terminar a luta, no início de 1974, a ONU estabeleceu zonas neutras entre esses países e
Israel.
Em 26 de março de 1979, Israel e o Egito assinaram um tratado de paz. Contudo, a tensão entre Israel
e as comunidades árabes continuou. A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) atacou Israel
em 1982, a partir de campos de refugiados no Líbano. Em 5 de junho de 19892, Israel contraatacou e
invadiu esse país. Após meses de bombaredeios israeleses, foi negociada a retirada da OLP da capital
libanesa. As tropas israelenses permaneceram ali até 2000.
No final da década de 1970, os israelenses começaram a construir assentamentos nas áreas ocupadas
por eles na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Em 1987, o aumento no número desses assentamentos
causou protestos dos palestinos. Estouraram rebeliões e ataques — conhecidos como intifada —, que
continuaram até o início dos anos 1990. Em 1993, Israel concordou em ceder aos palestinos parte do
controle dos territórios ocupados. Em 2000, porém, começou nova intifada. Isso paralisou as
conversações de paz entre Israel e os palestinos.

A questão Alemã e o muro de Berlim


Após a divisão alemã entre os vencedores da Segunda Guerra, os países capitalistas (Estados Unidos,
França e Inglaterra) resolveram unificar suas zonas de ocupação e implantar uma reforma monetária,
além de criar um Estado provisório sob seu controle. Para empresários e autônomos, a reforma era algo
extremamente favorável.
Com medo de que a população do lado oriental migrasse para a zona de domínio ocidental, Stalin
bloqueou o lado ocidental de Berlim, deixando-o isolado. Para incorporar essa parte da cidade à Zona de
Ocupação Soviética, Stalin mandou interditar todas as comunicações por terra.
Vale lembrar que pela divisão de territórios em Potsdam, Berlim estava situada dentro do domínio
soviético. Porém, a cidade também foi dividida, provocando isolamento da parte Ocidental por via
terrestre.

Isolado das zonas ocidentais e de Berlim Oriental, o oeste de Berlim ficou sem luz nem alimentos de
23 de junho de 1948 até 12 de maio de 1949. A população só sobreviveu graças a uma ponte aérea
organizada pelos Aliados, que garantiu seu abastecimento.
Em 23 de maio de 1949, os aliados criaram a República Federal da Alemanha (RFA). A URSS que
ocupava a parte leste do país decidiu também por transformá-la em um país, e em outubro do mesmo
ano foi fundada a República Democrática Alemã (RDA), com capital em Berlim Oriental. A RDA era
baseada na política comunista e de economia planificada, dando prosseguimento à socialização da

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indústria e ao confisco de terras e de propriedades privadas. O Partido Socialista Unitário (SED) passou
a ser a única força política na "democracia antifascista" alemã-oriental.
Com a criação dos dois Estados alemães, a disputa entre EUA e URSS foi acirrada, manifestando de
maneira intensa a disputa da Guerra Fria.
Auxiliada pelo Plano Marshall, em alguns anos a Alemanha Ocidental alcançou um nível de
prosperidade econômica elevada, garantida também pela estabilidade interna e pela integração à
comunidade europeia que surgia no pós-guerra. A RFA também integrou a OTAN.
A Alemanha Oriental integrou o pacto de Varsóvia, e apesar das despesas com a guerra e com a
reconstrução do país, também alcançou desenvolvimento significativo entre os países socialistas.
Apesar do avanço, com o passar do tempo as diferenças foram acentuando-se, e muitos alemães
residentes na parte Oriental migravam para a parte ocidental, atraídos pela liberdade democrática e pelo
estilo de vida.
A situação ficou crítica no final dos anos 50, com as tentativas de unificação. A RFA não reconhecia a
RDA como um país, e exigia a integração. Por outro lado, os soviéticos exigiam a saída das tropas norte-
americanas de Berlim Ocidental.
Entre 1949 a 1961, quase 3 milhões de pessoas fugiram da Alemanha comunista para os setores
ocidentais de Berlim. Somente em julho de 1961, 30 mil pessoas escaparam. A ameaça de esvaziamento
da Alemanha Oriental levou a URSS a construir uma barreira física no meio da cidade. Na manhã de 13
de agosto de 1961, soldados começaram a construir o Muro de Berlim, demarcando a linha divisória
inicialmente com arame farpado, tanques e trincheiras. Nos meses seguintes, foi sendo erguido em
concreto armado o muro que marcaria a vida da cidade até 1989. Ao longo dos anos, a fronteira
transformou-se numa fortaleza. Como os soldados tivessem ordem de atirar para matar, muitos que
tentaram atravessar acabaram morrendo.
A divisão imposta pelo Muro de Berlim também separou muitas famílias, o que levou muitas pessoas
a tentar atravessá-lo durante os 28 anos em que manteve-se de pé. Ao longo do tempo o muro foi sendo
fortificado com paredes de concreto, alarmes, e torres de vigia, dificultando cada vez mais a fuga.

Corrida Armamentista
Apesar de não terem travado batalhas diretas, os líderes dos blocos econômicos gastaram
massivamente na pesquisa, desenvolvimento e produção de armas. Assim que um novo armamento era
apresentado por um país, o outro buscava desenvolver algo semelhante e, se possível, melhor. Essa
busca pela superioridade bélica ficou conhecida como corrida armamentista, e preocupou muitos, pois
a capacidade de destruição alcançada pelos armamentos poderia até mesmo destruir o planeta, caso
usados com força total.
O ponto de partida da corrida armamentista se deu com as bombas nucleares lançadas pelos Estados
Unidos no Japão em 1945. Em 1949 a União Soviética também possuía a tecnologia para produzir tais
bomba. A possibilidade de ataque nuclear por ambos os lados criaram a ideia de uma Hecatombe
Nuclear, que aconteceria caso um dos países atacasse o outro, desencadeando uma guerra que
terminaria por extinguir os seres humanos.
Surgiu assim um jogo político-diplomático conhecido como "o equilíbrio do terror", que se transformou
num dos elementos principais do jogo de poder entre EUA e URSS. Os dois buscavam produzir cada vez
mais armamentos de destruição em massa, como forma de ameaçar o inimigo.
A corrida armamentista implicava também uma estratégia de dominação, em que as alianças regionais
e a instalação de bases militares eram de extrema importância. Os exércitos de ambos os lados possuíam
centenas de soldados, armas convencionais, armas mortais, mísseis de todos os tipos, inclusive
nucleares que estavam permanentemente apontados para o inimigo, com objetivo de atingir o alvo a partir
de longas distâncias.
Para se ter uma noção do poder destrutivo dos armamentos, em 1960 a União Soviética produziu a
maior bomba nuclear de todos os tempos, a Tsar Bomba. Com um poder de detonação de 100 megatons
a bomba era 3 mil vezes mais poderosa que a bomba lançada sobre Hiroshima em 1945, e era capaz de
destruir tudo em um raio de 35 quilômetros da explosão.
A necessidade de posicionar-se contra o inimigo deixou o mundo muito perto da Terceira Guerra
Mundial em 1962, durante o episódio conhecido como Crise dos Mísseis de Cuba.
Em 1961 os Estados Unidos haviam instalado uma base na Turquia, com capacidade de operação de
armamentos nucleares. A atitude desagradou os soviéticos, devido à proximidade geográfica da Turquia
e da URSS. Para revidar, a União Soviética decidiu instalar uma base de misseis em Cuba, sua aliada na
América, que havia passado por uma revolução socialista em 1959, e estava localizada a
aproximadamente 200 quilômetros da costa da Flórida, ao sul dos Estados Unidos.

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Desde a revolução socialista, os Estados Unidos tentavam derrubar o presidente da ilha, Fidel Castro.
Em 1961, apoiados pela CIA, agência secreta americana, um grupos de 1400 refugiados cubanos tentou
invadir a ilha pela baía dos Porcos, em um episódio desastroso que acabou com a morte de 112 pessoas
e a prisão dos restantes.
Buscando novas maneiras de depor o presidente, em 1962 os americanos sobrevoaram a ilha e
descobriram que a União Soviética estava instalando também plataformas de lançamento de armamentos
nucleares.
No dia 14 de agosto, o presidente americano, John Kennedy, anunciou para a população de seu país
sobre o risco existente com a possibilidade de um ataque altamente destrutivo, encarando o fato como
um ato de guerra. Do outro lado do Atlântico, o Primeiro Ministro soviético Nikita Kruschev alegou que a
base com os mísseis resultavam apenas de uma ação defensiva e serviriam também para impedir um
nova invasão dos Estados Unidos à Cuba.
Durante treze dias de tensão, foram realizadas diversas negociações que acabaram por resultar na
retirada dos misseis da Turquia e de Cuba.

Corrida Espacial
A tentativa de superioridade não esteve limitada ao campo bélico. Durante a Guerra Fria a disputa
também foi travada fora do planeta.
Durante a Segunda Guerra, os cientistas alemães desenvolveram a tecnologia de propulsão de
foguetes, que foram utilizados para equipar as bombas V-1 e V-2. Após o termino da guerra, muitos dos
cientistas que trabalharam no projeto de construção desses artefatos foram capturados por ambos os
lados, que buscavam o domínio dessa tecnologia.
Em 4 de outubro de 1957 a União Soviética lançou na órbita terrestre o satélite Sputnik I. Poucas
semanas depois, em novembro, os soviéticos inovaram novamente e lançaram o primeiro ser vivo ao
espaço, a cadela Laika, que morreu na volta.
Como reação por parte dos Estados Unidos, em 1958 foi criada a National Aeronautics & Space
Administration, NASA, que no mesmo ano lançou ao espaço o satélite Explorer 1.
Buscando superar suas conquistas, a união Soviética saiu na frente novamente, lançando o primeiro
ser humano em órbita terrestre. Em 12 de abril de 1961, durante uma hora e quarenta e oito minutos, o
cosmonauta Iuri Gagarin percorreu 40 mil quilômetros ao redor da terra, a bordo da capsula espacial
Vostok 1. Os Estados Unidos reagiram em 1962, ao enviar o astronauta John Glenn para o espaço.
Após os lançamentos de seres humanos ao espaço, o objetivo foi enviar um ser humano para a lua.
Os Estados Unidos investiram pesadamente no programa Apollo, que em 1968 enviou a primeira equipe
de astronautas para a órbita lunar e, em 1969 realizou o primeiro pouso, com os astronautas Neil
Armstrong e Edwin Aldrin.
A União Soviética não conseguiu acompanhar o passo dos Estados Unidos, e mudou seu foco para a
exploração e pesquisa do ambiente espacial e da gravidade zero com a estação espacial Salyut, lançada
em 19 de abril de 1971. Em resposta, os americanos lançaram, em maio de 1973, a Skylab. Em 1986, a
URSS lançou a Mir, que já foi destruída.
Durante a Guerra Fria, importantes projetos espaciais foram realizados. A sonda americana Voyager
1, lançada em 1977, foi a Júpiter e a Saturno e a Voyager 2, lançada no mesmo ano, visitou Júpiter,
Saturno, Urano e Netuno. As duas sondas encontram-se agora fora do sistema solar. O Telescópio
Espacial Hubble, a nave Galileu, a Estação Espacial Internacional Alpha, a exploração de Marte e o Neat
(Programas de Rastreamento de Asteroides Próximos da Terra) fazem parte dessa geração.
Em 1978, a Agência Espacial Europeia entra na corrida espacial com os foguetes lançadores Ariane.
A França passa a controlar sozinha o projeto Ariane em 1984 e, atualmente, detém cerca de 50% do
mercado mundial de lançamento de satélites.

O fim da Guerra Fria


A disputa entre União Soviética e Estados Unidos durante a Guerra Fria sofreu uma desaceleração
entre o fim dos anos 1970 e início de 1980. Durante esse período a União Soviética passou a enfrentar
crises internas nos setores políticos e econômicos. O gasto com armamentos e pesquisas espaciais para
equiparar-se aos Estados Unidos foi enorme, e os dois países buscam firmar acordos para reduzir o poder
bélico, e finalmente alcançar uma trégua.
Internamente, o país passava por crises de abastecimento e revoltas sociais. Desde a morte de Stalin,
em 1956, a URSS passou por pequenas reformas, porém manteve o perfil ditatorial, com controle sobre
os meios de comunicação e da população. Os líderes que sucederam Stalin mantiveram o mesmo
sistema, o que agravou a crise interna. Em 1985 o país colocou no poder o ultimo líder do Partido

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Comunista da União Soviética: Mikhail Gorbachev. Gorbachev defendia a ideia de que a URSS deveria
passar por mudanças que a adequassem à realidade mundial.
Durante a década de 1980 a União Soviética enfrentou momentos difíceis, como a invasão ao
Afeganistão, que gerou altos gastos, e o acidente na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia. Além disso,
boa parte das commodities, matérias-primas exportadas pelo país, como petróleo e gás natural sofreram
quedas nos preços. Buscando salvar o país de um colapso iminente, Gorbachev lançou dois planos: a
Perestroika e o Glasnost.

A Perestroika, Também chamada de reestruturação econômica, teve início em 1986, logo após a
instalação do governo Gorbatchev. A Perestroika consistia em um projeto de reintrodução dos
mecanismos de mercado, renovação do direito à propriedade privada em diferentes setores e
retomada do crescimento. Ou seja, acabar com a economia planificada existente na União Soviética.
A Economia planificada, também chamada de "economia centralizada" ou "economia centralmente
planejada", é um sistema econômico no qual a produção é previa e racionalmente planejada por
especialistas, na qual os meios de produção são propriedade do Estado e a atividade econômica é
controlada por uma autoridade central.
A perestroika tinha como objetivo acabar com os monopólios estatais, descentralizar as decisões
empresariais e criar setores industriais, comerciais e de serviços em mãos de proprietários privados
nacionais e estrangeiros. Apesar das mudanças, o Estado continuaria como principal proprietário, porém,
permitindo a propriedade privada em setores secundários da produção de bens de consumo, comércio
varejista e serviços não-essenciais. No setor agrícola foi permitido o arrendamento de terras estatais e
cooperativas por grupos familiares e indivíduos. A retomada do crescimento é projetada por meio da
conversão de indústrias militares em civis, voltadas para a produção de bens de consumo, e de
investimentos estrangeiros.

O Glasnost, Também chamado de transparência política, surgiu juntamente com a perestroika, e foi
considerado essencial para mudar a mentalidade social, liquidar a burocracia e criar uma vontade política
nacional de realizar as reformas.
Entre as medidas mais importantes estavam o fim da censura, da perseguição e da proibição de
determinados assuntos. Foi marcada simbolicamente pelo retorno do exílio do físico Andrei Sakharov, em
1986, e incluiu campanhas contra a corrupção e a ineficiência administrativa, realizadas com a
intervenção ativa dos meios de comunicação e a crescente participação da população. Avança ainda na
liberalização cultural, com a liberação de obras proibidas, a permissão para a publicação de uma nova
safra de obras literárias críticas ao regime e a liberdade de imprensa, caracterizada pelo número
crescente de jornais e programas de rádio e TV que abrem espaço às críticas.
A abertura causada pela Perestroika e pelo Glasnost impulsionaram os movimentos de independência
e de separação de países membros da URSS, enfraquecendo o Pacto de Varsóvia. Um importante
acontecimento nesse período foi a queda do Muro de Berlim, que simbolicamente representava o fim da
Guerra Fria.
O muro de Berlim formava uma barreira, sendo que Somente na região metropolitana de Berlim, o
Muro tinha mais de 43 quilômetros de comprimento, vigiado por torres militares para observação do
movimento nos arredores. Além disso, contava com cães policiais e cercas elétricas para manter a
população afastada. Mesmo com todos esses mecanismos, muitas pessoas tentaram atravessar essa
barreira, resultando em 80 mortes oficialmente.
A proibição existia apenas na passagem de Berlim Oriental para Berlim Ocidental. O trajeto contrário
era permitido. Durante a década de 70, havia oito pontos onde, obtidas as permissões e os documentos
necessários, as pessoas do lado ocidental podiam atravessar o muro. O mais famoso deles - conhecido
como Checkpoint Charlie - era reservado para visitantes estrangeiros, incluindo diplomatas e autoridades
militares do bloco capitalista.
Durante o tempo em que esteve de pé, o Muro de Berlim foi um ícone da Guerra Fria. Com as
mudanças políticas ocorridas na União Soviética, várias revoltas começaram a surgir nas duas partes da
Alemanha, pedindo a queda do Muro, que separava o país desde 1961. No dia 9 de novembro de 1989,
diante das pressões contra o controle de passagem do muro, o porta-voz da Alemanha Oriental, Günter
Schabowski, disse em uma entrevista que o governo iria permitir viagens da população ao lado Ocidental.
Questionado sobre quando essa mudança vigoraria, ele deu a entender que já estava valendo.
Finalmente, população revoltada resolve derrubar o muro por conta própria, utilizando marretas, martelos
e tudo o mais que estivesse disponível.
O muro só foi totalmente destruído entre julho e novembro de 1990, porém as pessoas e o próprio
governo iam abrindo passagens para facilitar o transito entre as duas partes da cidade. No dia 3 de

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outubro de 1991, após uma separação que dividiu a Alemanha em duas, o país foi novamente unificado
por lei, atendendo ao desejo da população alemã que celebrou a vitória.
Além da Alemanha, a Polônia e a Hungria abriam caminho para eleições livres, e revoltas pelo fim da
URSS aconteceram na Tchecoslováquia, Bulgária, e Romênia. As políticas adotadas por Gorbachev
causaram uma divisão dentro do Partido Comunista, com setores contra e a favor das reformas. Esta
situação repentina levou alguns conservadores da União Soviética, liderados pelo General Guenédi
Ianaiev e Boris Pugo, a tentar um golpe de estado contra Gorbachev em Agosto de 1991. O golpe, todavia,
foi frustrado por Boris Iéltsin. Mesmo assim, a liderança de Gorbachev estava em decadência e, em
Setembro, os países bálticos conseguiram a independência.
Em Dezembro, a Ucrânia também se tornou independente. Finalmente, no dia 31 de Dezembro de
1991, Gorbachev anunciava o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, renunciando ao cargo.
Assim termina a União Soviética, e também acaba oficialmente a Guerra Fria.

Questões

01. (VUNESP PMSP) Os dois lados viram-se comprometidos com uma insana corrida armamentista
para a mútua destruição. Os dois também se viram comprometidos com o que o presidente em fim de
mandato, Eisenhower, chamou de “complexo industrial-militar”, ou seja, o crescimento cada vez maior de
homens e recursos que viviam da preparação da guerra.
Mais do que nunca, esse era um interesse estabelecido em tempos de paz estável entre as potências.
Como era de se esperar, os dois complexos industrial-militares eram estimulados por seus governos a
usar sua capacidade excedente para atrair e armar aliados e clientes, e conquistar lucrativos mercados
de exportação, enquanto reservavam apenas para si os armamentos mais atualizados e, claro, suas
armas nucleares.
(Eric Hobsbawm. Era dos extremos – O breve século XX – 1914-1991.
São Paulo: Cia. das Letras, 1995, p. 233. Adaptado)
O historiador refere-se à situação da política internacional que resultou, em grande medida, da
Segunda Guerra Mundial, e que pode ser definida como a
(A) democratização do uso de armas nucleares, o que tornou possível o seu emprego por pequenos
grupos de guerrilheiros.
(B) existência de equilíbrio nuclear entre as maiores potências, somada à grande corrida armamentista.
(C) expansão da ideologia da paz armada, que estimulou as potências a equiparem os países pobres
com armas nucleares.
(D) predominância de uma potência nuclear em escala global, que interfere militarmente nos países
subdesenvolvidos.
(E) formação de uma associação internacional de potências nucleares, que garantiu uma paz
duradoura entre os países.

02. Período histórico denominado de Guerra Fria, refere-se


(A) à rivalidade de dois blocos antagônicos liderados pelos EUA e URSS.
(B) às sucessivas guerras pela independência nacional ocorridas na Ásia.
(C) ao conjunto de lutas travadas pelo povo iraquiano contra a dinastia Pahlevi.
(D) às disputas diplomáticas entre árabes e israelenses pela posse da península do Sinai.

03. Sobre a queda do muro de Berlim, no dia 10 de novembro de 1989, é correto afirmar que
(A) o fato acirrou as tensões entre Oriente e Ocidente, manifestas na permanência da divisão da
Alemanha.
(B) resultou de uma longa disputa diplomática, que culminou com a entrada da Alemanha no Pacto de
Varsóvia.
(C) expressou os esforços da ONU que, por meio de acordos bilaterais, colaborou para reunif icar a
cidade, dividida pelos aliados.
(D) constituiu-se num dos marcos do final da Guerra Fria, política que dominou as relações
internacionais após a Segunda Guerra Mundial.
(E) marcou a vitória dos princípios liberais e democráticos contra o absolutismo prussiano e
conservador.

04. O lançamento da bomba atômica sobre Hiroshima e Nagasaki, em 6 de agosto de 1945, provocou
a rendição incondicional do Japão, na Segunda Guerra. Nesse momento, o mundo ocidental vivia a

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dualidade ideológica, capitalismo e socialismo. Nesse contexto, o lançamento da bomba está relacionado
com
(A) o descompasso entre o desenvolvimento da ciência, financiado pelos Estados beligerantes (em
guerra), e os interesses da população civil.
(B) a busca de hegemonia dos Estados Unidos, que demonstraram seu poder bélico para conter, no
futuro, a União Soviética.
(C) a persistência da luta contra o nazifascismo, pelos países aliados, objetivando a expansão da
democracia.
(D) a difusão de políticas de cunho racista associadas a pesquisas que comprovassem a superioridade
da civilização europeia.
(E) a convergência de posições entre norte-americanos e soviéticos, escolhendo o Japão como inimigo
a ser derrotado.

05. (SEDUC-PI – História – NUCEPE) O século XX foi marcado por conflitos de diferentes matizes,
principalmente após a 2ª Guerra Mundial. Sobre esse período, podemos afirmar corretamente, EXCETO
que
(A) a Guerra do Vietnã, que durou entre 1967 e 1975, teve início quando as tropas do Vietnã do Norte
invadiram Saigon, capital do Vietnã do Sul. Considerada a maior derrota militar dos Estados Unidos no
século XX, teve entre seus motores de reação a guerrilha, a militância pacifista e a cobertura crítica da
imprensa.
(B) na União Soviética, o governo de Mikhail Gorbatchev implantou a glasnost no campo político e a
perestroika na área econômica, decisões que evidenciaram a crise do “socialismo real” naquele país,
contribuindo para seu esfacelamento político.
(C) na década de 1950, os Estados Unidos implantaram a política conhecida como macarthismo, que
restringiu-se ao apoio financeiro para a reconstrução das economias europeias, devastadas após a 2ª
Guerra Mundial.
(D) a Queda do Muro de Berlim, em 1989, é considerada a metáfora do fim da Guerra Fria, e
repercutiu no mundo inteiro, com o fim de diversos regimes socialistas do Leste Europeu, tendo
repercutido até nas eleições presidenciais brasileiras, ao promover um discurso de descrédito às
esquerdas brasileiras.
(E) a Revolução Cubana, na década de 1950, combateu o governo de Fulgêncio Batista e implantou
um governo dirigido pelo Partido Comunista na América Central.

Respostas

01. Resposta B.
O medo de um ataque nuclear desferido pelo inimigo fez com que as duas maiores potências do mundo
durante a Guerra Fria, EUA e URSS entrassem em uma disputa tecnológica para provar ao inimigo que
possuíam o melhor armamento. O clima de desconforto entre as duas nações criou um equilíbrio gerado
pela constante atualização de seus armamentos.

02. Resposta A.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, os dois países emergem como as duas grandes
superpotências do planeta, em uma disputa indireta que possuía ideias políticas diferentes. De um lado
os EUA com a defesa do Capitalismo enquanto do outro a URSS representava a ideia de uma sociedade
Socialista.

03. Resposta D.
A queda do muro de Berlim é um dos grandes marcos do fim da Guerra Fria. Após o fim da Segunda
Guerra e a divisão da Alemanha entre os vencedores do conflito e simbolizou a divisão do mundo durante
a Guerra Fria, separando em dois a cidade de Berlim e estabelecendo contraste entre o mundo capitalista
e o mundo socialista.

04. Resposta B.
Com o lançamento de duas bombas atômicas no Japão em 1945, os estados Unidos demonstram ao
mundo o seu potencial bélico. A demonstração de poder levou a URSS a desenvolver um programa
nuclear durante a Guerra Fria, dentro da ideia do medo de ser atacado pelo inimigo sem poder devolver
o ataque em poder de fogo semelhante.

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05. Resposta: C
O Macarthismo era uma ideia de perseguição aos comunistas dentro dos EUA. A política de auxilio
econômico após a Segunda Guerra Mundial ficou conhecida como Plano Marshall.

Descolonização da África e Ásia


Após o término da Segunda Guerra Mundial, a Europa entrou em declínio, e passou a sofrer forte
influência da União Soviética e dos Estados Unidos. O declínio europeu permitiu o fortalecimento do
nacionalismo e o crescimento do desejo de independência. Desejo esse que passou a se apoiar na Carta
da ONU, que reconhecia o direito à autodeterminação dos povos colonizados e que fora assinada pelos
países europeus (os colonizadores).
No ano de 1955, vinte e nove países recém-independentes reuniram-se na Conferência de Bandung,
capital da Indonésia, estabelecendo seu apoio à luta contra o colonialismo. A Conferência de Bandung
estimulou as lutas por independência na África e Ásia.
Os princípios emersos da Conferência de Bandung podem ser resumidos nestas dez disposições
descritas abaixo:

1.Respeito aos direitos fundamentais, de acordo com a Carta da ONU.


2.Respeito à soberania e integridade territorial de todas as nações.
3.Reconhecimento da igualdade de todas as raças e nações, grandes e pequenas.
4.Não-intervenção e não-ingerência nos assuntos internos de outro país. (Autodeterminação dos
povos)
5.Respeito pelo direito de cada nação defender-se, individual e coletivamente, de acordo com a Carta
da ONU
6.Recusa na participação dos preparativos da defesa coletiva destinada a servir aos interesses
particulares das superpotências.
7.Abstenção de todo ato ou ameaça de agressão, ou do emprego da força, contra a integridade
territorial ou a independência política de outro país.
8.Solução de todos os conflitos internacionais por meios pacíficos (negociações e conciliações,
arbitragens por tribunais internacionais), de acordo com a Carta da ONU.
9.Estímulo aos interesses mútuos de cooperação.
10.Respeito pela justiça e obrigações internacionais.

A independência dos países africanos e asiáticos recebeu apoio tanto do bloco capitalista quanto do
bloco comunista, que enxergavam a possibilidade de ampliar sua influência política nas novas nações.
A luta pela independência teve características próprias em cada país, com a transição por meios
violentos e também por meios pacíficos. No caso da via pacífica, a independência da colônia era realizada
progressivamente pela metrópole, com a concessão da autonomia político-administrativa, mantendo-se
o controle econômico do novo país, criando, dessa forma, um novo tipo de dependência.
As independências que ocorreram pela via da violência resultaram da intransigência das metrópoles
em conceder a autonomia às colônias. Surgiam as lutas de emancipação, geralmente vinculadas
ao socialismo, que levaram a cabo as independências.

O PROCESSO DE DESCOLONIZAÇÃO DA ÁSIA

O fim do domínio inglês na Índia


A partir da década de 1920, Mahatma Gandhi e Jawarharlal Nerhu, através do Partido do Congresso,
com apoio da burguesia, passaram a liderar o movimento de independência da Índia. Gandhi pregava a
desobediência civil e a não-violência como meios de rejeição à dominação inglesa, transformando-se na
principal figura do movimento indiano pela independência.
O desfecho da Segunda Guerra resultou na perda do poder econômico e militar pela Inglaterra, o que
retirou-lhe as condições para continuar a dominação na Índia.
Em 1947, os ingleses reconheceram a independência indiana, que levou — em função das rivalidades
religiosas — à formação da União Indiana, governada por Nerhu, do Partido do Congresso, com maioria
hinduísta, e do Paquistão (Ocidental e Oriental), governado por Ali Jinnah, da Liga Muçulmana, com
maioria islamita. O Ceilão também se tornava independente, passando a ilha a se denominar Sri-Lanka,
com maioria budista.
A independência da Índia resultava de um longo processo de lutas nacionalistas, permeadas pelas
divergências religiosas entre hinduístas e muçulmanos, o que levou, em 1949, ao assassinato de Gandhi.

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O Paquistão Oriental, em 1971, sob liderança da Liga Auami, separa-se do Paquistão Ocidental,
constituindo a República de Bangladesh.

A independência da Indonésia
A Indonésia é formada por cerca de dezessete mil ilhas das quais seis mil são habitáveis, com
destaque para Java e Sumatra, as duas maiores. Desde o século XVII até 1941, o arquipélago esteve
sob domínio holandês.
Em 1941, durante as ofensivas da Segunda Guerra, o Japão passou a dominar a Indonésia, o que
levou à formação de um movimento nacionalista de resistência liderado por Alimed Sukarno.
Com a derrota japonesa, em 1945, o movimento de resistência proclama a independência do país, que
não foi aceita pela Holanda, o que acabou gerando uma tentativa de recolonização da Indonésia. Sukarno,
aglutinando os nacionalistas, liderou a guerrilha contra a Holanda que, em 1949, reconheceu a
independência da Indonésia.

Indochina
A Indochina esteve sob o domínio francês entre os anos de 1887 e 1940, quando o país europeu foi
invadido pela Alemanha.
Em 1941 os japoneses aproveitaram-se da aliança feita com os nazistas e ocuparam toda a Indochina,
com o consentimento do Marechal Philippe Pétain, chefe do regime de Vichy, que executou as ordens de
Hitler na França.
A ocupação japonesa levou à formação do movimento de resistência nacionalista, comandado
pelo Vietminh (Liga Revolucionária para a Independência do Vietnã).
O Vietminh era liderado por Ho Chi Minh, dirigente comunista, que após a derrota do Japão na Segunda
Guerra proclamou a independência da República Democrática do Vietnã (parte norte).
Terminada a Segunda Guerra, os franceses não reconheceram o governo de Ho Chi Minh e tentaram,
a partir de 1946, recolonizar a Indochina, ocupando as regiões do Laos, Camboja e o Vietnã do Sul,
desencadeando a Guerra da Indochina, que se estendeu até 1954, quando os franceses foram derrotados
na Batalha de Dien Bien Phu.
No mesmo ano, realizou-se a Conferência de Genebra, na qual a França retirava suas tropas e
reconhecia a independência da Indochina, dividida em Laos, Camboja, Vietnã do Norte e Vietnã do Sul.
Laos e Camboja ficaram proibidos de manter bases militares estrangeiras em seu território, e no Vietnã
deveriam se realizar eleições num prazo de dois anos para decidir a reunificação.

Filipinas
As Filipinas, que desde o século XVI passava pelo domínio da Espanha, EUA e Japão, em 1946 é
retomada pelos norte-americanos, que lhe concedem a independência.

Birmânia
A Birmânia, em 1948, tornou-se independente da Inglaterra.

Malásia
A Malásia, em 1957, tornou-se independente da Inglaterra e integrante da Comunidade Britânica,
a Commonwealth.

A DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA
No início do século XX, 90,4% do território africano estava sob domínio do colonialismo europeu.
Apenas três Estados eram independentes: África do Sul, Libéria e Etiópia.
A descolonização da África ocorreu de forma veloz. Entre 1957 e 1962, 29 países tornaram-se
independentes de suas metrópoles europeias.

Egito
O Egito esteve sob domínio francês até 1881, quando a Inglaterra assumiu o controle do território. Em
1914, tornou-se um protetorado inglês. O fim do domínio colonial inglês cessou em 1936. Porém, a
Inglaterra não abriu mão do controle que exercia desde 1875 sobre o Canal de Suez.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Egito foi palco de manobras militares alemãs e italianas,
comandadas pelo general Rommel (Afrikakorps). Os ingleses, em 1942, expulsaram as tropas do Eixo e
impuseram o rei Faruk no poder.

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Em 1952, o general Naguib, com o apoio do Exército, depôs o rei e proclamou a República, assumindo
o poder. Em 1954, o coronel Gamal Abdel Nasser substituiu o general Naguib, mantendo-se no poder até
1970.

Argélia
A Argélia foi dominada pela França em 1830. A partir da década de 1880, iniciou-se um processo de
imigração francesa para o território argelino, ocupando as melhores terras, que passaram a ser
destinadas à vinicultura.
Os colonos franceses na Argélia, denominados pieds noirs (pés pretos), tinham condições de vida
superiores às dos argelinos e o grau de discriminação era muito grande.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a invasão da França pelos alemães provocou a divisão do
território francês e a formação de dois governos: Paris ficou diretamente controlada pelos nazistas, e em
Vicky estabeleceu-se o governo colaboracionista do marechal Pétain. O general Charles de Gaulle
comandava a França livre. A Argélia passou a responder ao governo de Pétain.
Em 1945 ocorreram as primeiras manifestações pela independência — em razão da crise econômica
do pós-Segunda Guerra na França, que nas áreas coloniais foi muito mais grave. Essas manifestações
foram lideradas por muçulmanos, grupo religioso predominante na Argélia, mas foram prontamente
sufocadas pelos franceses.
A derrota francesa na Guerra da Indochina, em 1954, evidenciava o enfraquecimento do seu poder.
Nesse mesmo ano, a população muçulmana da Argélia, movida pelo nacionalismo islâmico, voltou a
colocar se contra a França, através de manifestações que foram coibidas, mas que resultaram na criação
da Frente Nacional de Libertação.
A Frente Nacional de Libertação passou a se organizar militarmente para derrotar o domínio francês.
No próprio ano de 1954 eclodia a guerra de independência. Em 1957, ocorreu a Batalha de Argel, na
qual os líderes da Frente foram capturados e levados presos para Paris, onde permaneceram até 1962.
A violência praticada pelos franceses com a população civil na Batalha de Argel só fez aumentar ainda
mais os descontentamentos dos argelinos.
Em 1958 é proclamada a IV República francesa. O general De Gaulle sobe ao poder e recebe plenos
poderes para negociar a paz com o Governo Provisório da Argélia, estabelecido no Cairo (Egito).
As negociações de paz se estendem até 1962, quando foi assinado o Acordo de Evian, segundo o
qual a França reconhecia a independência da Argélia, pondo fim à guerra que já durava oito anos.

Congo (antigo Zaire)


Em 1867, a Bélgica funda a Sociedade Internacional para a Exploração e Civilização da África,
iniciando a ocupação do Congo, que se tornou possessão belga a partir de 1885, e colônia em 1908.
O congo presenciou um dos piores atos de genocídio já registrados. Sob o domínio de Leopoldo II,
que fazia da escravidão a principal forma de trabalho no território, foi criada a Força Pública, um temível
corpo de soldados reforçado por mercenários.
Para garantir a produção e exploração dos recursos naturais disponíveis no Congo, foi criado um
sistema de cotas. Assassinatos, amputações, estupros e saques eram comuns em casos de cotas não
cumpridas. Tentativas de resistência mais veementes eram contidas com violência tão brutal que
contribuiu para um total de mortos estimado por acadêmicos em 8 a 10 milhões de pessoas, o que
equivalia, na época, a metade da população congolesa.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os movimentos de emancipação se generalizavam na África
e, em 1960, na Conferência de Bruxelas, a Bélgica concede a independência do Congo, que passa a
constituir a República do Congo.
O governo passou a ser exercido pelo presidente Joseph Kasavubu e pelo primeiro-ministro Patrice
Lumumba.
Em seguida à independência do país, na província de Catanga, ocorre um movimento separatista
liderado pelo governador Moise Tchombe, que, apesar de proclamar a independência da província, não
obteve o reconhecimento internacional. Desencadeou-se, então, uma guerra civil. Catanga recebia apoio
de grupos internacionais interessados nos minérios da região e de tropas mercenárias belgas.
Em setembro de 1960, o presidente Kasavubu demite o primeiro-ministro Patrice Lumumba, e Joseph
Ileo assume o Gabinete. Lumumba não aceitou sua demissão e o Congo passou a ter dois governos.
Então, o coronel Mobutu dissolveu os Gabinetes. Kasavubu foi preservado. Lumumba foi aprisionado e
levado para Catanga, onde foi assassinado, em 1961. Sua morte provocou violentas manifestações
dentro e fora do Congo. Internamente, a crise política se alastrava, o Congo se fragmentava, e as lutas
dividiam a população.

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Em 1962, as forças da ONU intervieram no Congo para impedir a secessão de Catanga. Moise
Tchombe foi para o exílio.
Assumia o governo Cyrille Adula em meio aos movimentos liderados pelos partidários de Lumumba
(morto em 1961), que se tornaria o símbolo da luta congolesa.
Os partidários de Lumumba dominavam boa parte do país, em 1964, quando Adula convida Moise
Tchombe (recém-chegado do exílio) para auxiliá-los e vencer os rebeldes. Adula renuncia e Tchombe
assume o cargo de primeiro-ministro.
A guerrilha aumentava e, então, os EUA intensificaram a ajuda militar — que já vinha concedendo —
ao governo de Tchombe.
Os partidários de Lumumba, em resposta, transformaram 60 norte-americanos e 800 belgas em reféns
da guerrilha, o levou a Bélgica a preparar uma ação de resgate, provocando o fuzilamento de 60 reféns
pelos guerrilheiros; os demais foram libertados.
O presidente Kasavubu, em 1965, demitiu o primeiro-ministro Tchombe e logo em seguida o general
Mobutu dá um golpe e assume a presidência do país, que a partir de 1971, passa a se denominar
República do Zaire.

O fim do Império Colonial Português


Portugal foi o grande expoente durante o período das Grandes Navegações. No início do século XV,
mais precisamente em 1415, os portugueses conquistaram Ceuta, no Norte da África, o que permitiu o
avanço pela costa do continente.
No século XVII o Império formado por Portugal começou a entrar em declínio, o que resultou na perda
de grande parte de suas colônias para os espanhóis, holandeses e ingleses. Após a perca de territórios
no século XVI, as conquistas portuguesas não obtiveram o mesmo sucesso, e durante a corrida
neocolonialista no século XIX o país obteve Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e aos arquipélagos de
Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe.
Em 25 de abril de 1974, ocorreu a Revolução dos Cravos em Portugal, marcando a ascensão de um
regime democrático que substituiu o governo fascista do presidente Américo Tomás e do primeiro-ministro
Marcelo Caetano, já enfraquecido com a morte de Oliveira Salazar, que governou Portugal entre 1932 e
1970.
O novo governo empossado em 1974 reconhecia no ano seguinte as independências das colônias, o
que significou a desintegração do Império Colonial Português.

Angola
O MPLA, Movimento Popular pela Libertação da Angola, foi fundado em 1956, e em 1961 desencadeou
as lutas pela independência no país, sob a liderança do poeta Agostinho Neto.
Outros dois movimentos surgiram dentro do processo de lutas de independência: a União Nacional
para a Independência Total de Angola, Unita, e a Frente Nacional de Libertação de Angola, FNLA.
Em 1974, foi assinado o Acordo de Alvor, segundo o qual os portugueses reconheceriam a
independência de Angola em 1975, devendo ser formado um governo de transição composto pelo MPLA,
Unita e FNLA.
Os três grupos iniciaram entre si uma série de divergências que culminaram com uma guerra civil e a
invasão do país por tropas do Zaire e da África do Sul (apoiadas pela FNLA e Unita, respectivamente),
que recebiam ajuda militar norte-americana.
O MPLA, liderado por Agostinho Neto, solicitou então ajuda de Cuba e, em 1976, derrotou as forças
da Unita e da FNLA.

Moçambique
Em 1962, foi criada a Frente de Libertação de Moçambique, Frelimo, por Eduardo Mondlane, que
iniciou as lutas pela independência.
Samora Machel, em 1969, assumiu a direção do movimento, que passou a disputar, através da
guerrilha, o controle do território.
Em 1975, Portugal reconheceu a independência da República Popular de Moçambique.

Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe


Amilcar Cabral, em 1956, fundou o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde,
PAIGC, que desencadeia a luta pela independência a partir de 1961.
Em 1973, mais da metade do território da Guiné estava sob domínio do PAIGC. Nesse ano, Amilcar
Cabral é assassinado e assume Luís Cabral a presidência da recém- proclamada República Democrática
Anti-imperialista e Anticolonialista da Guiné.

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Em 1974, o governo português reconhece a independência da Guiné.
Em 1975, Cabo Verde tem sua independência reconhecida por Portugal.
São Tomé e Príncipe, no mesmo ano que Cabo Verde, tem sua independência reconhecida por
Portugal.

Consequências da descolonização afro-asiática


A principal consequência do processo de descolonização afro-asiática foi a criação de um novo bloco
de países que juntamente com a América Latina passaram a compor o Terceiro Mundo.
Os efeitos da exploração europeia nos dois continentes ainda podem ser observados, principalmente
através da divisão territorial que não respeitou limites étnicos e acabou confinando povos inimigos em um
mesmo país, gerando uma série de conflitos e guerras civis.

Questões

1. (Instituto Rio Branco – Diplomata – CESPE) Ao chegar ao fim, a Segunda Guerra Mundial
desvelava um novo cenário mundial. Ao declínio europeu e à emergência de um sistema internacional
bipolar, soma-se o movimento de independência na Ásia e na África. Relativamente a esse processo de
descolonização, julgue (C ou E) os itens que se seguem.
O processo de descolonização foi marcado pelo ambiente de tensão próprio da Guerra Fria, mas não
pode ser a esta debitada influência exclusiva sobre as motivações e a forma de condução da luta pela
emancipação das colônias.
(A) Certo
(B) Errado

2. (UFSM-RS) "A primeira coisa, portanto, é dizer-vos a vós mesmos: Não aceitarei mais o papel de
escravo. Não obedecerei às ordens como tais, mas desobedecerei quando estiverem em conflito com a
minha consciência. O assim chamado patrão poderá sussurrar-vos e tentar forçar-vos a servi-lo. Direis:
Não, não vos servirei por vosso dinheiro ou sob ameaça. Isso poderá implicar sofrimentos. Vossa
prontidão em sofrer acenderá a tocha da liberdade que não pode jamais ser apagada." (Mahatma Gandhi)
In: MOTA, Myriam; BRAICK, Patrícia. História das cavernas ao Terceiro Milênio. São Paulo: Moderna,
2005. p.615.
“Acenderá a tocha da liberdade que não pode jamais ser apagada” são palavras de Mahatma Gandhi
(1869-1948) que, no contexto da Guerra Fria, inspiraram movimentos como
(A) o acirramento da disputa por armamentos nucleares entre os EUA e a URSS, objetivando a
utilização do arsenal nuclear como instrumento de dissuasão e amenização das disputas.
(B) a reação dos países colonialistas europeus visando a diminuir o poder da Assembleia Geral da
ONU e reforçar o poder do Secretário-Geral e do Conselho de Segurança.
(C) as concessões unilaterais de independência às colônias que concordassem em formar alianças
econômicas, políticas e estratégicas com suas antigas metrópoles, como a Comunidade Britânica de
Nações e a União Francófona.
(D) o reforço do regime de “apartheid” na África do Sul que, após prender o líder Nelson Mandela e
condená-lo à prisão perpétua, procurou expandir a segregação racial para os países vizinhos, como a
Rodésia e a Namíbia.
(E) o não alinhamento político, econômico e militar aos EUA ou à URSS, decisão tomada pelos países
do Terceiro Mundo reunidos na Conferência de Bandung, na Indonésia.

3. A utilização maciça de desfolhantes “pretendia arrasar a cobertura vegetal, para impedir que o
adversário se camuflasse, e destruir as colheitas para matar de fome as populações e os combatentes.
O segundo objetivo era explícito: como as operações de guerrilha dependiam estreitamente das colheiras
locais para seu abastecimento, os agentes antiplantas possuíam um elevado potencial ofensivo para
destruir ou limitar a produção de alimentos.”
GRENDEU, Francis. Quem Faz as guerras químicas. Le Monde Diplomatique, 1º janeiro de 2006.

O texto acima se refere a táticas utilizadas em uma guerra inserida no contexto da Descolonização
Afro-asiática. À qual conflito se refere o texto?
(A) A guerra de independência da Indonésia.
(B) A guerra pela libertação da Argélia.
(C) A guerra do Vietnã.

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(D) A guerra separatista do Congo.
(E) A luta pela formação do Estado Palestino.

Respostas

1. Resposta: A
Após o término da Segunda Guerra Mundial, a Europa entrou em declínio, e passou a sofrer forte
influência da União Soviética e dos Estados Unidos. O declínio europeu permitiu o fortalecimento do
nacionalismo e o crescimento do desejo de independência.

2. Resposta: E
A luta pela descolonização e pela independência dos países africanos e asiáticos resultou também na
oposição às políticas imperialistas tanto dos EUA quanto da URSS, dando origem ao chamado movimento
dos Países Não Alinhados, que envolvia o chamado Terceiro Mundo.

3. Resposta: C
Foi na guerra do Vietnã que os EUA utilizaram uma grande quantidade de armas químicas para tentar
derrotar a guerrilha que eles enfrentavam. Apesar de todas as atrocidades cometidas, os vietnamitas
conseguiram vencer os estadunidenses.

VI - O MUNDO ATUAL: múltiplos conflitos mundiais.

Conflitos étnico-religiosos nos séculos XX e XXI20

Os conflitos territoriais do mundo multipolar


O mundo está cada vez mais complexo. A interdependência entre os lugares exige que tenhamos
conhecimento sobre a geopolítica mundial.
Atualmente, vivemos em um mundo de questionamentos às hegemonias. Muitas vezes grupos
contestadores usam do terrorismo como forma de combate e protesto.
Vamos estudar as tensões que afligem o mundo contemporâneo para assim criarmos a nossa própria
visão sobre temas de importância mundial.

A atual conjuntura multilateral


A palavra bipolaridade está diretamente relacionada ao período da Guerra Fria (1945-1991). Nessa
fase, o sistema de relações internacionais era fortemente marcado pelas disputas entre Estados Unidos
e União Soviética, países que dominavam a distribuição do poder mundial e influenciavam grande parte
das decisões políticas, econômicas, culturais e até mesmo o que havia de mais cotidiano na vida das
pessoas.
A atual conjuntura econômica do planeta, porém, aponta para outro caminho e o transforma em mais
do que necessário e praticamente indispensável: o multilateralismo.
O mundo está cada vez mais interligado, o que contribui de modo decisivo para a criação de uma
ordem política multilateral. Assim, o termo "multilateralismo" aplica-se a um sistema internacional, no qual
diversos Estados passam a se relacionar por princípios democráticos e a considerar os interesses de
cada um na tomada de decisões. Essas relações não podem ser discriminatórias e devem se basear na
reciprocidade. Dessa forma, todos os Estados nacionais devem lutar pelos seus interesses baseados no
respeito e nos limites dos interesses de outros Estados.

A evolução do multilateralismo até os nossos dias


Esse sistema de relações internacionais, formado por emaranhados complexos e baseado na
globalização econômica, vem exigindo formas mais eficientes de combater os problemas comuns em
escala global. Das mudanças climáticas às epidemias de Aids, das crises financeiras aos subsídios
agrícolas, todos os assuntos geram preocupações e tensões internacionais muito presentes em nosso
dia a dia.

20 TAMDJIAN, James Onning. Geografia; estudos para compreensão do espaço. 2ª edição. São Paulo: FTD.

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A ONU tem feito um trabalho de conscientização e capacitação de técnicos, diplomatas e governantes
que buscam abordar a totalidade de maneiras pelas quais os indivíduos e as instituições públicas e
privadas podem administrar seus problemas comuns, em um "amplo, dinâmico e complexo processo
interativo de tomada de decisão que está constantemente evoluindo e se ajustando a novas
circunstâncias", segundo o manual de governança global da instituição.
Mas o que é "governança"? De acordo com o direito internacional, esse termo está ligado a todas as
atividades diplomáticas, humanitárias, econômicas e de qualquer natureza que são feitas com objetivos
comuns entre os países, mesmo que alguns destes não sejam obrigados a participar legalmente. Quando
falamos em governança, trata-se de algo mais amplo que governo; trata-se das instituições
governamentais e também da participação de ONGs e outras instituições para a solução de determinados
problemas. Para isso, os governos e as instituições envolvidas devem se organizar e, assim, são criadas
condições de governança.
A cooperação internacional é cada vez mais necessária, mesmo para os Estados mais poderosos.
Até mesmo a ONU busca adaptar-se aos novos tempos. Seu maior desafio está na reformulação do
seu Conselho de Segurança, órgão responsável pela segurança mundial e o único capaz de aprovar
resoluções definitivas sobre guerras e outros tipos de confrontos internacionais. O principal objetivo do
Conselho de Segurança é solucionar esses impasses, e, portanto, ele possui autonomia para autorizar
uma intervenção militar ou enviar missões de paz a regiões conturbadas por violências e conflitos. Outro
papel fundamental do Conselho de Segurança, com frequência exercido, é a aplicação de sanções de
ordem econômica contra países que, no entender do \Conselho, violem leis, acordos ou princípios
internacionalmente aceitos.
Esse Conselho é formado por França, Inglaterra, Estados Unidos e Rússia (antiga URSS), pois são
considerados os países vencedores da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e que lutaram como Aliados
contra o Eixo formado por Alemanha, Japão e Itália.
Além desses países, a China, que foi uma das fundadoras da ONU em 1945, também ocupa um
assento permanente no Conselho de Segurança.
Principalmente nas duas últimas décadas têm crescido as pressões para uma reformulação do
Conselho de Segurança, fato que acompanha o processo de dinamização e multilateralização da
economia mundial.
Uma das propostas consiste em acrescentar ao grupo de países com poder de veto e assento
permanente dois países industrializados e três em desenvolvimento, além de um da África, um da Ásia e
outro da América Latina. Outra ideia é atribuir vagas permanentes relativas a regiões do globo - essas,
porém, seriam ocupadas de forma rotativa.
Existe um consenso de que a composição do Conselho de Segurança já não reflete de forma fiel a
realidade econômica e política mundial.

O multilateralismo nas relações internacionais e os grupos de interesse


A busca de maior sucesso nas relações internacionais uniu grupos de países que formaram coalizões
políticas e econômicas em torno de determinados temas. Os especialistas afirmam que as ações
conjuntas são fundamentais para que os países mais pobres e os países em desenvolvimento possam
aumentar seu poder de negociação em um mundo cada vez mais multilaterizado.
Vamos agora conhecer os principais arranjos e grupos dessa Nova Ordem Mundial.

G-77
Em 1964, a ONU realizou em Genebra, Suíça, a primeira Conferência das Nações Unidas sobre
Comércio e -Desenvolvimento (UNCTAD, sigla em inglês). A principal meta dessa reunião era valorizar
os produtos primários exportados pelos países em desenvolvimento, que não tinham poder de negociação
com os países ricos. Foi assim que surgiu o G-77. \;
Atualmente, o G-77 é composto por mais de 130 Estados - além da China, que é um Estado observador
- e é o maior grupo que atua de forma organizada em vários órgãos internacionais dentro da ONU. Em
2010, o G-77 foi liderado por um país asiático, dando continuidade ao rodízio que marca sua presidência
desde o princípio. Com a expansão do comércio mundial, é claro que um grupo de países tão grande
passaria a ter interesses conflitantes entre seus membros. Muitos desses interesses dissonantes estão
sendo evidenciados com o agravamento das questões ambientais no planeta.
Podemos identificar um grupo mais presente nas negociações internacionais, o Brics, formado por
Brasil, África do Sul, China e Índia. Eles têm muito poder de barganha no comércio internacional, mas já
são pressionados a adotar medidas importantes, por exemplo, no combate ao aquecimento global.

G-20

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Logo após a crise financeira russa, no final dos anos 1990, autoridades monetárias do mundo todo
passaram a se preocupar com a circulação de capitais em escala global. Em 1998 e 1999, grupos
chamados de G-22 e G-33 já discutiam a possibilidade de fazer mudanças radicais no sistema financeiro
global para evitar a fuga de capitais de um país que estivesse passando por uma crise. A ideia, portanto,
era formar um grupo de discussão que se reunisse constantemente para avaliar a situação internacional,
o que aconteceu em 1999 com a adesão de 20 países.
Atualmente, o G- 20 é um fórum de discussões, com reuniões periódicas, formado por ministros das
finanças e presidentes dos bancos centrais de 19 países mais um representante da União Europeia. Os
países-membros detêm juntos mais de 80 do comércio mundial.
Nas últimas reuniões do G-20, os países-membros passaram a se preocupar cada vez mais com o
combate à lavagem de dinheiro de atividades criminosas e com a transparência nos relatórios que
mostram a política fiscal de cada país, ou seja, o funcionamento da arrecadação de impostos e o destino
deles.

O G-20 agrícola
Com o desenvolvimento do comércio mundial, as trocas comerciais passaram por profunda
dinamização. Em 2003, um grupo de países resolveu tomar uma atitude conjunta e assim valorizar seus
produtos agrícolas. Eles representam cerca de 50 da população mundial e mais de 30 das exportações
agrícolas. A meta principal é abrir uma via de negociação para os produtos agrícolas, inclusive os
plantados e subsidiados nos países ricos.
Segundo o G-20 agrícola, os subsídios dados aos produtores dos países ricos são um entrave ao
desenvolvimento do grupo. Eles vêm lutando no âmbito da OMe para derrubar esses privilégios
comerciais e, assim, obter igualdade de condições nas disputas comerciais de produtos primários.

Os conflitos internacionais em tempos de globalização

A questão iraquiana
O Iraque vem ocupando as manchetes dos noticiários desde o início dos anos 1980. Naquele período,
o país havia entrado em guerra contra seu vizinho, Irã, em uma disputa pelo Canal de Shatt al-Arab, via
de escoamento da produção de petróleo, e por campos petrolíferos, localizados na fronteira sul dos dois
países, importantes produtores da região do Golfo Pérsico.
Existiram, porém, outros motivos para esse conflito. Além da tentativa expansionista, havia uma
profunda rivalidade entre os líderes iraquianos e iranianos pelo domínio e pela influência no mundo
muçulmano.
Em 1979, subiu ao poder no Irã um governo religioso muçulmano de linha xiita, derrubando a
monarquia iraniana, representada pelo xá (título de rei no Irã) Reza Pah1avi (1919-1980), um fiel aliado
dos Estados Unidos. Sua queda representava a subida ao poder de um grupo totalmente ante
estadunidense, liderado por aiatolá Khomeini.
Dessa forma, na fase final da Guerra Fria, os EUA passaram a oferecer um considerável apoio ao
governante do Iraque, Saddam Hussein, para que ele pudesse derrotar o Irã e seu governo religioso, que
naquele período já representava uma das maiores ameaças ao poder estadunidense.
A guerra estendeu-se por quase 10 anos e nem o apoio estadunidense ao Iraque foi suficiente para
determinar uma vitória das tropas de Saddam Hussein.
Calcula-se que morreram mais de 1 milhão de combatentes de ambos os lados em um conflito de
extrema violência. Mas, além do custo humano, a guerra teve um alto custo financeiro, que levou
praticamente à falência os dois países. A guerra Irã X Iraque foi tão intensa que a indústria armamentista
do mundo todo ampliou suas vendas em função das batalhas ocorridas.
Ao final de 1988, a falência econômica levou os dois países a decretar um cessar-fogo. Tanto Iraque
quanto Irã saíram do conflito arrasados e endividados.
Enquanto no Irã a teocracia tinha apoio considerável da população, no Iraque a situação era diferente.
Saddam Hussein passou a ser questionado e a sofrer críticas da oposição, que, mesmo reprimida,
conseguiu mostrar os problemas criados pela guerra.
Além disso, o Iraque é um país multirreligioso e multiétnico, com rivalidades entre os seguintes grupos:
• xiitas: os xiitas representam entre 60 e 65 da população, mas historicamente têm sido discriminados
pela minoria sunita, que, durante anos, foi liderada por Saddam Hussein. Esses grupos xiitas vêm se
aproximando cada vez mais dos xiitas iranianos.
• sunitas: os sunitas representam pouco mais de 20 da população e, desde a criação do país pelo
Reino Unido, em 1920, têm grande influência e forte poder de decisão na política iraquiana.

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• cristãos: os cristãos, cujo maior grupo são os caldeus, representam pouco mais de 3 da população
iraquiana.
• curdos: os curdos são descendentes de antigas tribos indo-europeias que vivem em partes do norte
do Iraque, Irã, Turquia e Síria. No Iraque, eles representam pouco mais de 15 da população.
Nesse quadro de tensão e de grave crise política e econômica, o Iraque partiu para uma nova ofensiva
militar.
No segundo semestre de 1990, tropas iraquianas invadiram o Kuwait, seu vizinho ao sul, alegando que
esse país era uma antiga província iraquiana. Na verdade, Saddam Hussein estava tentando dominar um
país produtor de petróleo e desviar a atenção dos problemas internos do Iraque.
Rapidamente, formou-se uma coalizão internacional, liderada pelos Estados Unidos, para libertar o
Kuwait.
Vale lembrar que a principal preocupação das grandes potências era evitar que o Iraque se
transformasse em uma potência regional, criando tensões em uma região importante para a economia
mundial, uma vez que é fornecedora de petróleo, matéria-prima fundamental para o funcionamento do
sistema capitalista.
Durante o conflito, alguns fatos criaram ainda mais tensões em todo o mundo.
Tentando atrair a simpatia do mundo árabe e dos muçulmanos, o Iraque lançou mísseis sobre Israel
De imediato, os Estados Unidos assumiram a proteção de Israel, criando um escudo de mísseis para
combater os ataques.
Internamente, Saddam Hussein aproveitou o conflito para tentar esmagar a oposição e algumas
minorias dentro do Iraque.
O que marcou esse conflito foi o fato de os Estados Unidos terem apoiado e encoberto inicialmente o
governo ditatorial de Saddam Hussein, e, no momento em que este se tornou uma ameaça, terem
passado a considerá-lo um perigo à paz internacional (principalmente por meio de sua mídia).
Em poucas semanas os Estados Unidos e seus aliados conseguiram expulsar as tropas iraquianas do
Kuwait e encerrar o conflito. Porém, a situação social no Iraque ficou muito preocupante, já que um pesado
bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos e seus aliados impedia a chegada de medicamentos,
alimentos e muitos outros produtos básicos para a população.
Para piorar a situação, as contas iraquianas no exterior foram bloqueadas, e o governo de Saddam
Hussein ficou sem dinheiro para pagar funcionários públicos e abastecer os bancos. A situação tornou-
se um caos.
Com o intuito de amenizar o grave quadro social, a ONU criou um programa pelo qual os recursos
obtidos com o petróleo iraquiano poderiam ser usados na compra de alimentos. Dessa forma, o dinheiro
da venda do petróleo do Iraque era depositado em uma conta não acessível ao governo iraquiano. A
ONU, então, usava esses recursos no pagamento de seus próprios gastos no Iraque e na compra de
alimentos básicos para a população carente do país.
Mesmo assim, os meios de comunicação continuaram uma campanha para desestabilizar ainda mais
o governo controlado por Saddam Hussein.
Depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, em Nova York, o governo dos Estados Unidos passou
a acusar o governo iraquiano de ter apoiado os terroristas e de estar preparando armas de destruição
em massa para serem usadas contra os estadunidenses. Em março de 2003, os Estados Unidos
invadiram o território iraquiano com apoio das tropas do Reino Unido, da Espanha, da Itália, da Polônia e
da Austrália.
A meta era derrubar o governo de Saddam Hussein e destruir as instalações que produziam armas
químicas e de destruição em massa. No entanto, essas instalações nunca foram encontradas.

Compreendendo com a História


Os ataques de 11 de setembro introduziram um grau de organização e uma capacidade de destruição
jamais vistos em atentados terroristas. Tal acontecimento foi um marco histórico importante não só para
a história estadunidense, mas também para todo o mundo contemporâneo.
Logo após os atentados, o governo dos Estados Unidos, na época comandado por George W. Bush,
assumiu o suposto papel de defensor dos valores ocidentais na luta contra o terrorismo. Com base em
seus conhecimentos, responda: quais ações são um exemplo concreto dessa postura política?

O povo curdo, a maior nação sem território


Os curdos estão espalhados principalmente pela Turquia, pelo Irã, pelo Iraque e pela Síria, países nos
quais são uma minoria que sofre discriminação pelos governos e não tem direitos políticos. Apesar de
não ter fronteiras estabelecidas, essa região é chamada de Curdistão. Desde o final da Primeira Guerra
Mundial, os curdos reivindicam, em vão, uma pátria livre.

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O Iraque foi um dos países que resultaram da divisão do Império Otomano, ao final da Primeira Guerra
Mundial. O Iraque, inicialmente, havia sido idealizado corno um país para dois povos: árabes e curdos.
No entanto, a aproximação dos ingleses com as lideranças árabes, que controlavam os poços de petróleo,
tirou dos curdos qualquer chance de formar urna nação.
Desde essa época, o Iraque passou a ser governado pelos árabes, que oprimiram os curdos,
fortemente discriminados também na Turquia. O governo iraquiano impediu a todo custo que os curdos
conquistassem sua independência, usando até mesmo armas químicas para conter o deslocamento
dessa população, concentrada no norte do país.
A vida dos curdos iraquianos começou a sofrer alterações quando estes apoiaram os Estados Unidos
na derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein. Dessa forma, passaram a desfrutar de certa
autonomia e, pouco a pouco, puderam administrar sua região. Os interesses dos Estados Unidos em
proteger os curdos estão claros, urna vez que, na região habitada pelos curdos no norte do Iraque, estão
alguns dos maiores poços de petróleo do Oriente Médio.
Enquanto isso, os curdos do lado turco vivem outra realidade. Concentrados no sudeste da Turquia,
sofrem forte repressão do governo. As tropas turcas são extremamente violentas nessa localidade, e a
discriminação é imperante, fato que leva muitos curdos a adotar identidades turcas corno forma de
conseguir trabalho, escondendo, assim, sua origem.
No fim dos anos 1970, grupos de resistência curda se organizaram e formaram o Partido dos
Trabalhadores do Curdistão (PKK, em curdo). Considerado terrorista, o PKK já sofreu diversas ofensivas
do exército turco, que objetiva reprimir essa organização.
Os governantes turcos acreditam que conceder autonomia ao Curdistão turco é colocar em risco uma
grande parte dos recursos hídricos e energéticos do país, concentrados nas bacias hidrográficas do sul
e do sudeste, notadamente nos rios Tigre e Eufrates.
A situação dos curdos do ponto de vista social é alarmante, uma vez que eles têm dificuldades em
encontrar empregos e vivem muitas vezes em situação de miséria absoluta.
A pequena autonomia que os curdos têm no Iraque, portanto, não interessa à Turquia, que acredita
que um Curdistão autônomo no Iraque pode representar uma base para que eles tentem dominar o
Curdistão que está sob domínio turco.
Em 2007, houve grande tensão no Iraque, uma vez que o exército e a aeronáutica turcos atacaram
acampamentos de guerrilheiros curdos em território iraquiano.

As tensões na URSS
A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) surgiu com a fusão política, econômica e militar
de vários países que aderiram ao socialismo, no fim da Primeira Guerra Mundial, e de outros que foram
anexados pelo exército soviético entre os anos 1920 e 1940.
Com a crise econômica agravando-se na década de 1980, alguns desses países manifestaram a
vontade de se separarem da URSS e se libertarem da influência da Rússia, a maior das repúblicas
socialistas.

A questão de Nagorno-Karabakh
Durante a fase de formação da URSS, joseph Stalin (1878-1953) utilizou o fracionamento territorial
como forma de enfraquecer as etnias que compunham as repúblicas soviéticas, dividindo-as, acirrando
as rivalidades e facilitando, assim, o domínio do poder central.
Nesse contexto, Stalin concedeu um pedaço do território armênio chamado Nagorno-Karabakh para
ser administrado como região autônoma do Azerbaijão.
Com a crise soviética, que começou a surgir nos anos 1980 e teve seu desfecho em 1991, a população
de Nagorno- Karabakh passou a reivindicar sua anexação à Armênia, desencadeando violenta reação do
Azerbaijão, o que resultou em uma guerra de relativa duração (1988-1994) e vitória dos armênios. Hoje,
Nagorno-Karabakh é uma república ligada à Armênia que não desfruta de amplo reconhecimento
internacional.
As tentativas diplomáticas de solucionar o problema continuam, mas sem muitos avanços. Os
armênios não aceitam fazer parte do Azerbaijão, o qual, por sua vez, não aceita perder essas terras para
a Armênia, ameaçando desferir um ataque contra esse território.

O conflito na Chechênia
A região autônoma da Chechênia, parte da grande Federação Russa, sofre enorme influência dos
russos desde o século XVII. Nesses territórios residem diversas etnias, entre elas uma população
muçulmana com fortes ligações com a cultura persa (atual Irã).

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Como entre Armênia e Azerbaijão, os problemas avolumaram-se na região durante a era Stalin (1927-
1953). Naquele período, o governo soviético reprimia as manifestações religiosas, consideradas um
atraso pelo regime socialista.
Stalin ordenou a deportação em massa de chechenos para trabalhos forçados no interior da Rússia.
Famílias inteiras foram separadas por décadas, o que causou grande revolta interna.
Durante a crise soviética dos anos 1980, muitos deportados e suas famílias retomaram às suas terras
e iniciaram um movimento de libertação contra a dominação russa. A guerrilha chechena lutou no início
dos anos 1990 para expulsar as tropas russas, que tinham como vantagem um maior poderio bélico. Entre
1994 e 1995, as tropas russas arrasaram a cidade de Grozny, capital da Chechênia,
Depois dessa ofensiva russa, os grupos chechenos passaram a praticar atos terroristas contra alvos
russos.

Os conflitos na Ossétia
Como vimos, há muitos séculos a região do Cáucaso foi ocupada por diversas etnias, entre elas a dos
ossetas. Tal qual outras regiões, a Ossétia também foi fracionada para atender aos interesses políticos
dos líderes da extinta URSS.
Assim, a parte norte da região passou a fazer parte da Federação Russa, enquanto a parte sul
transformou-se em uma região autônoma da Geórgia, uma das ex-repúblicas soviéticas.
Assim como os povos de outras regiões do Cáucaso, os ossetas do sul foram oprimidos pelo governo
georgiano. Com o fim da URSS, iniciaram um movimento de libertação contra a Geórgia, contando com
apoio russo. Segundo a Rússia, essa ajuda justificava-se pelo fato de a Ossétia do Sul possuir muitos
residentes russos.
O governo georgiano, temendo perder uma parcela de seu território, iniciou uma ofensiva militar contra
os ossetas do sul. De imediato, o exército russo partiu para a defesa dos ossetas, alegando risco à
integridade dos russos que moravam naquelas localidades.

A Primavera Árabe
Nos últimos anos, uma série de protestos populares vem ocorrendo em países de língua árabe e de
maioria de população muçulmana.
Eles são o estopim de uma onda enorme de lutas originárias de rivalidades políticas e étnicas, além
de graves problemas sociais e econômicos.
Nesses países, a população jovem, geralmente, não encontra empregos e grande parte dela é
obrigada a migrar ilegalmente em busca de oportunidades em outros continentes. A falta de um
dinamismo econômico leva muitos desses países a passar por fases de racionamento de produtos
básicos. Para piorar a situação, esses países foram ou ainda são governados por grupos hegemônicos
ou ditaduras militares que reprimem fortemente qualquer manifestação política de opositores.
Diferentemente do que muitos pensam, especialmente no Ocidente, essas manifestações não tiveram
necessariamente um viés religioso, como foi comum em outros tempos.
O fator desencadeador, usado como símbolo desse processo, aconteceu na Tunísia. Em 17 de
dezembro de 2010, o jovem Mohamed Bouazizi (1984-2011) ateou fogo ao próprio corpo em protesto
contra o confisco de seu carrinho - com o qual vendia frutas para ajudar sua família, já que não arrumava
emprego - e faleceu após dezoito dias de internação hospitalar. Em seu funeral, milhares de pessoas
tomaram as ruas e pressionaram Ben Ali, que estava no poder há mais de 23 anos de forma ditatorial,
para que se retirasse.
Esses protestos continuaram a ocorrer em outros países do norte da África e do Oriente Médio. No
Egito, milhares de pessoas passaram a protestar contra o governo de Hosni Mubarak, que estava no
poder havia quase 30 anos. A população ocupou a Praça Tahir, no Cairo, capital do país, e passou a
exigir a renúncia do ditador. Foram meses de protestos, durante os quais milhares de jovens acamparam
na praça, chamando a atenção dos meios de comunicação. Depois de inúmeros confrontos com forças
militares, a população conseguiu a renúncia de Mubarak em fevereiro de 2011. A luta por democracia e
transparência continua muito ativa no Egito.
Na Líbia, o ditador Muammar Gaddafi (1942-2011) estava no poder desde 1969. Denunciado como
líder de um dos mais violentos e corruptos regimes do mundo árabe, ele reprimia a oposição e se colocava
como inimigo de regimes ocidentais. Foi assim que os grupos opositores aproveitaram essa atmosfera de
mudanças e, com ajuda de governos estrangeiros, iniciaram uma ofensiva que acabou com a ditadura.
Durante as batalhas, Gaddafi foi capturado e morto por grupos rebeldes.

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O caso da Síria
Certamente um dos conflitos mais preocupantes é o da Síria. Os grupos opositores ao regime de
Bashar al-Assad vêm se unindo para derrubar a ditadura da família, que se iniciou em 1970 com Hafez
al-Assad (1930-2000), o pai do atual presidente.
Semanas antes de explodirem os protestos, em março de 2011, Bashar al-Assad lançou a Política dos
quatro mares. Por meio dela, o governo esperava que o território sírio se transformasse em uma
encruzilhada energética, por onde passariam gás e petróleo, ligando o Mar Cáspio, o Golfo Pérsico, o
Mar Negro e o Mediterrâneo. A Síria seria o fiel da balança na "distribuição" desses recursos, interligando
grandes gasodutos e oleodutos do Egito à Arábia Saudita, do Irã aos Bálcãs. Alguns contratos da Síria
para a construção dos oleodutos estavam sendo assinados com Irã, Turquia e Arábia Saudita, e parte do
capital para isso poderia -ir da China - que é ávida por energia. Para se fazer uma comparação, em 2012,
Arábia Saudita exportou mais petróleo para a China do que para os Estados Unidos, por exemplo.
A Turquia é beneficiária de megaprojetos energéticos como o oleoduto Baku-Tblisi-Ceyhan e o
Nabucco (por hora paralisado), que liga Ásia Central, Mar Cáspio, Turquia e Europa. Esses são
financiados com capital estadunidense e europeu.
Internamente, a minoria alauíta, facção religiosa do presidente Assad, favorecida durante décadas,
seria beneficiada mais uma vez pelos contratos para a realização dessas obras e por toda a soma indireta
gerada por elas. A maioria sunita estava sendo colocada mais uma vez à margem de todo o processo.
Em março de 2011, 15 jovens sunitas foram presos e torturados na cidade de Dar'a por protestar contra
o governo. Esse fato deu início a um sangrento conflito.

Os conflitos africanos persistem na Nova Ordem Mundial

O duro contato da África com a brutal realidade dos países dominantes ocorreu principalmente entre
os séculos XV e XIX, quando traficantes retiravam homens, mulheres e crianças do continente e os
vendiam como mão de obra escravizada na América e em alguns países da Europa.
Ao longo do século XIX, a Europa efetivou um domínio mais formal do continente africano,
estabelecendo colônias e entrepostos comerciais. Eram raras as nações africanas que tinham autonomia
ou algum tipo de governo próprio. Para concretizar esse domínio, os europeus promoveram a divisão do
continente entre eles, mediante tratados e acordos. A divisão dos territórios visava a satisfazer as
necessidades econômicas das metrópoles, incluindo limites que separavam um mesmo povo ou
aglutinavam diferentes etnias em um mesmo território. Essa prática mostrou-se desastrosa, pois acabou
gerando inúmeros conflitos em todo o continente africano. Basta observar nos napas as muitas fronteiras
retilíneas: algumas foram traçadas cessa forma pela ausência de, dentes naturais importantes grandes
rios, montanhas etc.); outras foram traçadas em linha reta apenas para atender aos interesses dos
europeus.
No período posterior à Se da Guerra Mundial, a atuação de diversos movimentos nacionalistas,
associada ao declínio antigas potências imperialistas e à expansão do socialismo, permitiu que os países
africanos alcançassem a independência. Mas essas nações recém-libertadas conservaram as fronteiras
postas pelos europeus. Em consequência, rapidamente numerosos conflitos explodiram todo o
continente.

Conflito no Sahel
Durante a década de 1980, ocorreram graves conflitos ao longo de todo o limite sul do deserto do
Saara. Essa região é conhecida como Sahel, de transição entre a aridez ao norte e as pastagens e matas
ao sul do deserto.
Nessa região, as populações praticavam uma agricultura de técnicas rudimentares que, ao longo
tempo, acabou com a fertilidade do solo, provocando fome e desnutrição. Essas populações tentaram
avançar para as terras mais férteis do sul e aram entrando em choque com outros grupos étnicos, que já
as ocupavam.
Durante a Guerra Fria, as potências armaram esses grupos rivais na expectativa de ampliar suas áreas
de influência. Tal prática gerou inúmeras tragédias de grandes proporções, que ainda apresentam efeitos
sobre as populações dessa parte da África. Os casos mais drásticos verificam-se na Somália, Etiópia,
Chade, Mali, Níger e Sudão, onde milhões de pessoas morrem de fome.

Os conflitos em Ruanda e Burundi


Ao longo dos séculos ocorreram inúmeros confrontos tribais em toda a África. Nas últimas décadas,
porém, verdadeiras tragédias abateram-se sobre as populações de diversos países.

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A população de Ruanda foi vitimada por um dos piores massacres do século XX. Em 1994, as duas
maiores etnias do país, os tutsis e os hutus, entraram em guerra, disputando poder e território. Essa
rivalidade, que existe desde o século XV, agravou-se durante o domínio alemão, no século XIX, e durante
o domínio belga, no início do século XX. Em meados de 1994, os confrontos ficaram cada vez mais
violentos, e milhões de ruandeses começaram a fugir do país. Cerca de 1 milhão de pessoas foram mortas
por grupos paramilitares ou pela epidemia de cólera que se alastrou no país. O problema estendeu-se a
outros países da região, como Uganda e Burundi, também habitados por tutsis e hutus em constante
clima de rivalidade.
Em outras nações africanas, os conflitos tribais estão associados à exploração de riquíssimas jazidas
minerais. Em Serra Leoa, o grau de violência dos confrontos afetou toda a infraestrutura do país.
Ocorreram mutilações em massa, e especula-se a participação de multinacionais mineradoras no
financiamento dessa barbárie.

Conflito em Darfur, no Sudão


Desde o final do século XIX até os anos 1950, foi crescente a influência britânica no Sudão. Da mesma
forma que outras nações africanas, o Sudão conseguiu romper com a metrópole europeia e declarar sua
Independência em 1956.
Formado por diversas etnias e religiões, o país sempre viveu sob a tensão de conflitos internos. Na
década de 1980, o governo, de maioria muçulmana, instalou um conjunto de leis de inspiração religiosa,
revoltando as populações do sul, que iniciaram movimentos de separação.
Desde então o governo do norte vem reprimindo violentamente as minorias, uma vez que teme perder
grande parte das terras férteis e das riquezas minerais, como o petróleo, concentrado no sul do país.
Organismos internacionais de ajuda humanitária acreditam que já morreram mais de 1,5 milhão de
pessoas nos últimos anos, vítimas desses embates. O caso mais grave vem sendo o da província de
Darfur.
Darfur está localizada na região oeste do Sudão e é formada por grande parte de terras semiáridas. A
área de Darfur é muito maior que a maioria dos países da Europa.
A escassez de terras agricultáveis e de pastagens, associada à pobreza extrema, criou um clima de
tensão entre os diversos grupos étnicos. Grupos muçulmanos nômades de cultura árabe reivindicam a
posse das poucas áreas de pastagens dominadas por fazendas pertencentes a diferentes grupos étnicos,
muitos deles também muçulmanos, porém de cultura africana.
O governo sudanês vem apoiando claramente os grupos muçulmanos árabes, levando a reações dos
grupos étnicos africanos locais. Em 2003, ocorreram os primeiros conflitos entre as facções rebeldes de
Darfur e as tropas do governo.
O exército sudanês entrou na região com muita violência, expulsando milhares de pessoas de suas
casas, que precisaram ir para campos de refugiados nas proximidades da fronteira oeste do país,
principalmente na divisa com o Chade.
Como agravante da situação, esses grupos étnicos africanos são perseguidos por uma violenta milícia,
conhecida como Janjaweed, que sequestra, principalmente, mulheres e as escraviza. As notícias de
violência sexual contra essas mulheres são muito frequentes, e a população com medo parte em fuga e
muitas vezes morre de sede e fome, tanto ao longo do caminho quanto nos campos de refugiados, que
já contam com mais de 2 milhões de pessoas e não recebem nem remédios, nem alimentos.
A situação se tornou tão grave que governos e organismos internacionais passaram a pressionar as
autoridades sudanesas para que abrissem uma negociação a fim de cessar essa catástrofe social. Em
janeiro de 2005 foi estabelecido um acordo que previa um referendo sobre o futuro da unidade do país.
Após anos de conflito, o referendo decidiu pela divisão do país e o surgimento do Sudão do Sul em 2011.

Os conflitos e tensões no continente americano

Canadá: a questão de Quebec


Apesar de ser um dos países com melhores índices sociais do mundo, o Canadá tem uma pendência
política interna. A região do Quebec é uma antiga colônia da França que mantém até hoje a língua e as
tradições francesas. Os habitantes dessa província reclamam de uma forte discriminação política e
econômica, uma que são minoria em relação às províncias de origem inglesa. Em 1969, o francês tornou-
se a língua oficial do país, ao lado do inglês.
Durante a década de 1990, diversas solicitações levaram à realização de um plebiscito pela autonomia
de Quebec. A autonomia foi rejeitada, porém ou plebiscitos estão sendo organizados e podem levar ao
surgimento de um novo país na américa.

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Questão dos inuítes
Os inuítes habitam há 5 000 anos a região que hoje é parte do Canadá. Os primeiros tatos com os
europeus foram feitos efetivamente em 1585 pela expedição de Martin Frobisher (1535-1594).
Com a chegada dos europeus, os inuítes firam de fora da formulação política que deu origem ao
Canadá. Eles acabaram sendo usados como mão de obra para os exploradores, foram deslocados de
seus territórios e perderam sua autonomia.
A partir dos anos 1970 os inuítes passaram lutar pelos seus direitos e pela autonomia de território,
Nunavut ("nossa terra', no idioma inuíte). A província inuíte foi criada em 1999, de hoje esse povo vem
desenvolvendo uma economia sustentável explorando de forma racional os recursos locais, como a oferta
de peixes e de madeira. Ao mesmo tempo, os inuítes querem poder aproveitar dos avanços tecnológicos
do mundo atual.

A explosão da violência na Colômbia


No início do século XXI, a Colômbia atravessou sua pior crise institucional.
Desde meados da década de 1970, o esfacelamento da pequena produção rural, sem condições de
competir com as grandes fazendas comerciais, estimulou a expansão do plantio de coca, utilizada na
fabricação de cocaína, uma vez que a remuneração oferecida pelos narcotraficantes é muito superior aos
ganhos obtidos com as plantações de gêneros alimentícios e matérias-primas.
O poder dos cartéis do tráfico tem crescido em escala vertiginosa, envolvendo grande parcela da
sociedade colombiana. Nesse mesmo ritmo, milhares de colombianos vão sendo marginalizados pelo
agravamento da situação econômica.
Atuam no país alguns grupos revolucionários de linha socialista que aglutinam jovens excluídos e
pregam a luta armada como forma de alteração profunda da sociedade. Originalmente, inspiraram-se na
guerrilha cubana comandada por Fidel Castro e Ernesto Che Guevara. Contudo, após décadas de luta,
muitos perderam seus propósitos iniciais.
Entre os grupos mais conhecidos destacam-se as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
(Farc). Seus guerrilheiros controlam uma porção do território a leste e são acusados pelas autoridades
colombianas de terem forte ligação com o narcotráfico.
A atual violência na Colômbia preocupa até mesmo o governo brasileiro, uma vez que a área de
atuação da guerrilha - e dos combates - está próxima da fronteira brasileira, na região amazônica.
Nesse sentido, o governo brasileiro vem estruturando projetos que visam também a conter os riscos
ao território nacional. O projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) tem capacidade de monitorar
essa região, observar e tentar prevenir a passagem de aviões do narcotráfico ou detectar desmatamentos.
Recentemente, por iniciativa dos Estados Unidos, foi implantado o Plano Colômbia. Tal plano prevê
investimentos financeiros na região, além de treinamento do exército colombiano por parte das forças
militares estadunidenses.

O conflito das Malvinas


O arquipélago das Malvinas localiza-se no Atlântico Sul, nas proximidades dos limites de águas
territoriais da Argentina. A região, ocupada pelos britânicos - que a chamam de Falklands - desde o século
XIX, tornou-se área de criação de ovinos para a produção de lã.
De forma inesperada, em abril de 1982 o governo ditatorial militar argentino realizou uma invasão na
ilha. A intenção era desviar a atenção da população argentina dos graves problemas econômicos e
políticos pelos quais passava o país, por meio da tomada de um território há muito tempo reivindicado por
essa nação.
O conflito ocorreu sobre uma pequena parcela do território, localizada, porém, em uma região de clima
muito frio sob uma forte influência das massas de ar geladas vindas do continente antártico. Isso exigia
de ambas as partes uma preparação especial para a guerra.
Não foi possível nenhum acordo diplomático, e as tropas inglesas rumaram cara o Atlântico Sul a fim
de retomar as ilhas. Nos primeiros combates, era evidente a superioridade técnica e militar das tropas
britânicas. Assim, apesar de lentos combates e centenas de mortos de ambos os lados, a Argentina foi
derrotada.
Inglaterra e Argentina rompe relações diplomáticas, e a relação tem sido feita de forma gradual. Um
exemplo disso foram os acordos de exploração conjunta dos recursos petrolíferos das Malvinas,
assinados em 1995 e em vigor até 2007, data em que os ingleses intensificaram o desejo de explorar o
petróleo na região unilateralmente, de tal modo que iniciaram projetos e estudos para a concessão de
áreas petrolíferas águas profundas. O governo argentino manifestou-se contrário a isso, passando a exigir
a posse das ilhas novamente, fato que gerou novo foco de tensão mundial.

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Acredita-se que (tal qual na área de exploração do pré-sal do Brasil) nessa regiao a menos de 500
quilômetros do litoral argentino, também haja um potencial bilhões de barris de petróleo a serem
explorados.
Como vivem os jovens em Dadaab: o maior campo de refugiados do mundo o Alto Comissariado da
ONU para Refugiados (Acnur) instalou os primeiros campos de refugiados em Dadaab, no Quênia, entre
1991 e 1992, para abrigar os refugiados dos conflitos que naquela época ocorriam na Somália. A intenção
original era que os campos de Dadaab abrigassem até 90 mil pessoas, entretanto, atualmente vivem no
complexo mais de 463 mil refugiados, incluindo cerca de 10 mil pessoas que conformam a terceira
geração nascida em Dadaab, cujos pais eram refugiados que também nasceram nos campos.
São esses jovens que estão tentando mudar essa realidade tão difícil, numa construção pequena e
modesta, onde fica a sede da Organização Juvenil de Ifo. Ali acontecem quinzenalmente reuniões e
debates acirrados entre os 27 partidos que compõem o Parlamento dos jovens. Eles têm cargos, funções
e muita vontade. Só lhes falta a legitimidade do "povo".
A Organização Juvenil de Ifo é formada por moradores dos acampamentos de Dadaab. Como são
refugiados, os habitantes de Dadaab não podem trabalhar, estudar, viajar ou ser representados
politicamente fora do campo. Dentro, eles tentam viver a juventude como podem.
Existem reuniões de gabinete para organizar campanhas de saúde. Uma delas é contra a mutilação
genital feminina, mas há também aquelas de vacinação. Além da promoção da saúde, há pouco sobre o
que os jovens e o seu Parlamento possam deliberar. O único projeto original de sucesso foi um
campeonato esportivo entre os jovens.
Muitos nasceram em Dadaab e nunca saíram, o que é quase uma prisão para a maioria deles. Se
nada for feito, muitos jovens podem ser cooptados por grupos marginais, ligados à criminalidade, que
existem nos campos.
Entre os planos futuros desses jovens, está a tentativa de registrar o grupo como agência humanitária
- o único tipo de entidade autorizada a se fixar e trabalhar em Dadaab com mais eficiência.
Eles lutam para que mais jovens possam deixar o acampamento para estudar em universidades -
inexistentes em Dadaab. Para muitos que ficam, a alternativa é trabalhar geralmente no comércio e casar
cedo. Muitos jovens declaram que optam por ter uma família para sentir a conquista de algo e, assim,
continuar acreditando em um futuro melhor.

Questões

01. (Enem-MEC) Do ponto de vista geopolítico, a Guerra Fria dividiu a Europa em dois blocos. Essa
divisão propiciou a formação de alianças antagônicas de caráter militar, como a Otan, que aglutinava os
países do bloco ocidental, e o Pacto de Varsóvia, que concentrava os do bloco oriental. É importante
destacar que, na formação da Otan, estão presentes, além dos países do oeste europeu, os EUA e o
Canadá. Essa divisão histórica atingiu igualmente os âmbitos político e econômico, que se refletia pela
opção entre os modelos capitalista e socialista.
Essa divisão europeia ficou conhecida como
(A) Cortina de Ferro.
(B) Muro de Berlim.
(C) União Europeia.
(D) Convenção de Ramsar.
(E) Conferência de Estocolmo.

02. (Enem-MEC) Os mapas a seguir revelam como as fronteiras e suas representações gráficas são
mutáveis.
Essas significativas mudanças nas fronteiras de países da Europa Oriental nas duas últimas décadas
do século XX, direta ou indiretamente, resultaram
(A) do fortalecimento geopolítico da URSS e de seus países aliados, na ordem internacional.
(B) da crise do capitalismo na Europa, representada principalmente pela queda do muro de Berlim.
(C) da luta de antigas e tradicionais comunidades nacionais e religiosas oprimidas por Estados criados
antes da Segunda Guerra Mundial.
(D) do avanço do capitalismo e da ideologia neoliberal no mundo ocidental.
(E) da necessidade de alguns países subdesenvolvidos ampliarem seus territórios.

03. (Enem-MEC) A figura apresenta as fronteiras entre os países envolvidos na Questão Palestina e
um corte, no mapa, da área indicada.

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Com base na análise dessa figura e considerando o conflito entre árabes e israelenses, pode-se
afirmar que, para Israel, é importante manter ocupada a área litigiosa por tratar-se de uma região
(A) De planície, propícia à atividade agropecuária.
(B) estratégica, dado que abrange as duas margens do rio Jordão.
(C) habitada, majoritariamente, por colônias israelenses.
(D) que garante a hegemonia israelense sobre o mar Mediterrâneo.
(E) estrategicamente situada devido ao relevo e aos recursos hídricos.

04. (UPE-PE) Observe o mapa a seguir:


A faixa destacada, apontada pela seta, corresponde CORRETAMENTE
(A) ao território conhecido como Sahel, que possui baixos índices pluviométricos anuais, com
incidência de secas e causas estruturais de crise alimentar, desnutrição de centenas de milhares de
crianças, além de diversos conflitos religiosos e étnicos.
(B) ao polo mais desenvolvido da economia da África. Está caracterizado atualmente como uma "zona
em crise" e passou a ser chamado de Frost Belt pelo fato de uma parte de sua agroindústria não ter
acompanhado o desenvolvimento tecnológico.
(C) ao deserto do Kalahari, caracterizado pelo baixo grau de ocupação humana e pelos aspectos
culturais bastante heterogêneos, com dialetos e costumes oriundos das diversas nações africanas e
intensos conflitos armados entre grupos inter-raciais e religiosos.
(D) à região do Saara Ocidental que possui médias pluviométricas bastante baixas e está localizada
nas latitudes próximas ao Equador. Essa área se caracteriza pela implantação de sistemas de irrigação
facilitados pelo afloramento de nascentes subterrâneas.
(E) ao território dos bantustões, onde a fome atinge níveis alarmantes, ocasionada por secas
periódicas. Essa região se notabiliza também por várias situações de instabilidade política e problemas
causados pela migração de milhares de refugiados, vindos da África Oriental.

05. (FGV-SP) o Conselho de Segurança da ONU aprovou nesta quarta-feira [3 de agosto] uma
resolução condenando o presidente Bashar al-Assad pela violenta repressão às manifestações pró-
democracia no país.
<http://noticias.uol.com.br/bbcj201lj08j03jem-meio-a-mais- via lencia-conse Iho-da-on u-aprova-resolucao-c ontra-si ri~. j htm > .
Sobre a crise da Síria, iniciada em março de 2011, e suas repercussões, assinale a alternativa correta:
(A) O Brasil não integra o Conselho de Segurança da ONU e, portanto, não assinou a resolução citada
na reportagem.
(B) Assim como ocorreu no Egito, as manifestações na Síria contam com o apoio de parcela importante
das forças armadas.
(C) As manifestações pró-democracia contam com o apoio do partido nacionalista Baath, único
movimento oposicionista legalizado na Síria.
(D) As manifestações visam pôr um fim ao regime da família Assad, no poder desde 1971.
(E) A Liga Árabe classifica as manifestações da Síria como atos de vandalismo e condena qualquer
forma de ingerência internacional na crise enfrentada pelo país.

06. (UFTM-MG) Na Turquia, o conflito do Estado com os curdos existe há 25 anos. Criado em 1978, o
Partido dos Trabalhadores do Curdistão quer a criação de um novo Estado independente na porção
asiática da Turquia, especificamente no sudeste da antiga Anatólia.
Indique a alternativa sobre o conflito na Turquia que melhor caracteriza a razão exposta.
(A) Luta étnica para ampliação dos direitos políticos.
(B) Luta pela liberdade religiosa.
(C) Luta armada para impedir o avanço das forças iranianas em território turco.
(D) Luta pela hegemonia geopolítica no Oriente Médio.
(E) Luta pela fronteira entre os países onde existem grandes reservas minerais a serem exploradas
comercialmente.

07. (Vunesp-SP)
No Oriente Médio, a água é um recurso precioso e uma fonte de conflito. A escassez de recursos
hídricos está aumentando as tensões políticas entre países e dentro deles, e entre as comunidades e os
interesses comerciais. A Guerra dos Seis Dias, em 1967, foi, em parte, a resposta de Israel à proposta
da Jordânia de desviar o rio Jordão para seu próprio uso. A terra tomada na guerra deu-lhe acesso não
apenas às águas das cabeceiras do Jordão, como também o controle do aquífero que há por baixo da
Cisjordânia, aumentando assim os recursos hídricos em quase 50.

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(Robin Clarke e Jannet King. O Atlas da Água, 2005. Adaptado.)
A partir da leitura do mapa e do texto, pode-se afirmar que a água é uma questão importante nas
negociações entre
(A) o Iraque e os turcos.
(B) os palestinos e a Síria.
(C) o Líbano e a Síria.
(D) os iranianos e o Iraque.
(E) Israel e os palestinos.

Respostas

01. Resposta A.
A expressão "cortina de ferro" foi muito utilizada no período da Guerra Fria para designar uma linha
imaginária que se estendia de norte a sul pela Europa, separando os países ocidentais dos países
orientais. Os países ocidentais referiam-se aos países orientais como ditaduras comunistas, "atrás" da
cortina. O termo originou-se de uma palestra proferida pelo primeiro ministro inglês Winston Chur-chill
nos Estados Unidos em 1946.
A alternativa B é falsa. O Muro de Berlim foi uma obra de engenharia civil que serviu para evitar a
evasão da população de Berlim Oriental em direção à parte ocidental da capital da Alemanha.
A alternativa C é falsa. A União Europeia é um grande bloco europeu integrado em termos de
circulação de pessoas e ideias, capital e produtos diversos, funcionando sob a administração do
Parlamento Europeu e com uma moeda padrão, o euro.
A alternativa D é falsa. A Convenção de Ramsar, elaborada em 2 de fevereiro de 1971, diz respeito à
criação de Zonas Úmidas de Importância Internacional, reconhecendo a interdependência do ser humano
e de seu ambiente, reguladora dos regimes de água, enquanto hábitats de flora e fauna, especialmente
de aves aquáticas.
A alternativa E é falsa. A Conferência de Estocolmo, realizada no mês de junho de 1972, foi o primeiro
grande encontro de autoridades mundiais para discutir problemas ambientais relacionados ao modelo de
produção econômica, utilitário de combustíveis fósseis e seus efeitos de longo prazo sobre
o ambiente.

02. Resposta D.
A retomada de autonomia política no pós-guerra resulta do avanço da industrialização do comércio e
da financeirização das novas economias.
A alternativa A é falsa. A URSS desapareceu ao final do século XX;
A alternativa B é falsa. A queda do Muro de Berlim favoreceu a expansão capitalista por toda a Europa.
A alternativa C é falsa. A Iugoslávia foi criada após a Segunda Guerra Mundial.
A alternativa E é falsa. Países subdesenvolvidos têm dificuldades ou falta de capacidade para ampliar
seu território.

03. Resposta E.
O Estado de Israel, reinstituído em 1947, faz fronteiras terrestres com países árabes, um dos fatores
de instabilidade regional. Na Guerra dos Seis Dias, Israel conquistou militarmente áreas de importância
estratégica para sua sobrevivência, na visão de seus líderes. O relevo elevado das colinas de Golã, as
nascentes do Rio Jordão e seu vale, passam a ter importância estratégica para a nação israelense.
A alternativa A é falsa. A região apresenta relevo movimentado.
A alternativa B é falsa. A margem esquerda do Rio Jordão fica na Jordânia.
A alternativa C é falsa. As colônias são predominantemente palestinas.
A alternativa D é falsa. Israel não tem a hegemonia do Mar Mediterrâneo.

04. Resposta A.
A faixa do Sahel localiza-se ao sul do Deserto do Saara. Trata-se de uma região com clima semiárido
e vegetação xerófila (savana espinhenta). O desmatamento e o uso incorreto do solo para a agricultura e
a pecuária extensiva nômade provocaram o processo de desertificação. O fenômeno causa perdas nas
safras agrícolas e agrava a subnutrição. Nos últimos anos, a situação social agravou-se em alguns países
por causa de conflitos políticos, étnicos e religiosos. São exemplos: Darfur (Sudão), independência do
Sudão do Sul, golpe militar, bem como o fundamentalismo islâmico e o separatismo tuaregue no Mali.

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05. Resposta D.
Na Síria, os rebeldes da Primavera Árabe, oriundos principalmente da maioria sunita, lutam contra o
regime autoritário que governa o país desde a década de 1970. O governo é liderado pelo presidente
Bashar al-Assad, pertencente a um clã (grupo familiar) oriundo da minoria alauíta (ramificação dos xiitas)
que detém poder militar e parte do poder econômico. O regime é apoiado também por parte da elite
econômica sunita do país. Em 2012, a Síria encontrava-se em guerra civil entre o governo e os rebeldes,
muitos organizados por meio do ELS (Exército Livre da Síria).

06. Resposta A.
Os curdos são o maior povo (mesma língua, história e mesmas tradições) sem um Estado
independente no mundo. Estão distribuídos pelo leste da Turquia, norte do Iraque, noroeste do Irã, parte
da Síria e parte da Armênia. Os curdos são muito reprimidos na Turquia. Em resposta à opressão surgiu
o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), grupo nacionalista, separatista e terrorista que luta pela
independência do Curdistão.

07. Resposta E.
A criação do Estado de Israel em 1947 provocou grandes impactos regionais e mundiais com a
expulsão dos palestinos dos territórios judeus (refugiados): a pressão dos países árabes vizinhos para
retomada do território (Guerra dos Seis Dias e do Yom Kippur, entre outros conflitos) e repercussões no
comércio de petróleo (alterações nas cotas de produção da OPEP para forçar a elevação dos preços).
Apesar dos territórios conquistados por Israel, a partir de 1967, a região sempre ficou sob tensão, com
inúmeros conflitos entre palestinos e israelenses. A água passou então a ter um papel estratégico como
forma de dominação.

Conteúdo relativo à BNCC e PC Ensino Medio e Fundamental do Governo de


Minas Gerais

PROPOSTA CURRICULAR DE HISTÓRIA DO ENSINO FUNDAMENTAL - 6º A 9º ANO21

Apresentação
Estabelecer os conhecimentos, as habilidades e competências a serem adquiridos pelos alunos na
educação básica, bem como as metas a serem alcançadas pelo professor a cada ano, é uma condição
indispensável para o sucesso de todo sistema escolar que pretenda oferecer serviços educacionais de
qualidade à população. A definição dos conteúdos básicos comuns (CBC) para os anos finais do ensino
fundamental e para o ensino médio constitui um passo importante no sentido de tornar a rede estadual
de ensino de Minas num sistema de alto desempenho.
Os CBCs não esgotam todos os conteúdos a serem abordados na escola, mas expressam os
aspectos fundamentais de cada disciplina, que não podem deixar de ser ensinados e que o aluno não
pode deixar de aprender. Ao mesmo tempo, estão indicadas as habilidades e competência que ele não
pode deixar de adquirir e desenvolver. No ensino médio, foram estruturados em dois níveis para permitir
uma primeira abordagem mais geral e semiquantitativa no primeiro ano, e um tratamento mais quantitativo
e aprofundado no segundo ano.
A importância dos CBCs justifica tomá-los como base para a elaboração da avaliação anual do
Programa de Avaliação da Educação Básica (PROEB), para o Programa de Avaliação da
Aprendizagem Escolar (PAAE) e para o estabelecimento de um plano de metas para cada escola. O
progresso dos alunos, reconhecidos por meio dessas avaliações, constituem a referência básica para o
estabelecimento de sistema de responsabilização e premiação da escola e de seus servidores. Ao mesmo
tempo, a constatação de um domínio cada vez mais satisfatório desses conteúdos pelos alunos gera
consequências positivas na carreira docente de todo professor.
Para assegurar a implantação bem-sucedida do CBC nas escolas, foi desenvolvido um sistema de
apoio ao professor que inclui: cursos de capacitação, que deverão ser intensificados a partir de 2008, e o
Centro de Referência Virtual do Professor (CRV), o qual pode ser acessado a partir do sítio da Secretaria
de Educação (http://www.educacao.mg.gov.br). No CRV encontrase sempre a versão mais atualizada
dos CBC, orientações didáticas, sugestões de planejamento de aulas, roteiros de atividades e fórum de

21 PROPOSTA CURRICULAR DE HISTÓRIA DO ENSINO FUNDAMENTAL - 6º A 9º ANO. Secretaria de Educação de Minas Gerais. Disponível em: <
http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/banco_objetos_crv/%7B8DCF0E86-80DC-4E81-B6A0-EC39E0A55C67%7D_proposta-curricular_historia_ef.pdf>

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1401188 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE PEIXOTO HELENO
discussões, textos didáticos, experiências simuladas, vídeos educacionais, etc; além de um Banco de
Itens. Por meio do CRV os professores de todas as escolas mineiras têm a possibilidade de ter acesso a
recursos didáticos de qualidade para a organização do seu trabalho docente, o que possibilitará reduzir
as grandes diferenças que existem entre as várias regiões do Estado.
Vanessa Guimarães Pinto

Introdução
As mudanças propostas no Conteúdo Básico Comum (CBC) foram norteadas pela preocupação de
torná-lo mais operacional e exequível de acordo com a diversidade da realidade das Escolas Estaduais.
Os tópicos obrigatórios foram estabelecidos com habilidades e conteúdos a serem ensinadas durante as
quatro séries finais do ensino fundamental. Dessa maneira, pretende-se construir uma base comum de
conhecimentos para os alunos da rede estadual de ensino.
• Foram considerados tópicos obrigatórios aqueles de relevância em uma das estruturas lógicas da
disciplina, conservando-se o CBC original;
• O tópico obrigatório envolve conceitos e conteúdos fundamentais para a construção do
conhecimento histórico, tendo com eixo principal a História do Brasil e a construção da cidadania; • Foi
considerada, para a seleção dos tópicos, a importância a eles atribuída pelos professores das Escolas
Referência, assim como as discussões realizadas no encontro de área realizado em novembro de 2005;
• Considerou-se, para a reestruturação do CBC, a metade da carga horária da disciplina ao longo
das quatro séries finais do ensino fundamental, tomando como parâmetro uma carga horária de 2
horas/aulas semanais. Feito o cálculo, os professores devem dispor de uma carga horária de, pelo menos,
160 horas/aula para o trabalho com os tópicos obrigatórios do CBC ao longo dos quatro anos finais do
Ensino Fundamental;
• Pensou-se a média de 6 horas/aula para o trabalho com cada tópico obrigatório, considerando-se
que alguns deles podem ser trabalhados com mais ou menos tempo. A distribuição dos tópicos
obrigatórios ao longo dos quatro anos precisa ser planejada, considerando-se o número de habilidades a
serem vencidas;
• O professor dispõe de metade da carga horária da disciplina para deter-se mais em determinados
tópicos obrigatórios e deve-se definir tempo para se trabalhar os tópicos complementares e/ou outras
demandas do projeto pedagógico da escola;
• Os tópicos obrigatórios são apresentados em algarismos arábicos na tabela do CBC; logo abaixo
deles, estão os tópicos complementares em algarismos romanos, ambos acompanhados das habilidades,
na coluna correspondente, discriminadas também em negrito e itálico;
• Foram realizadas mudanças de tópicos em termos de localização em tema ou subtema ou a fusão
de tópicos do CBC original;
• Algumas habilidades foram suprimidas, modificadas e/ou acrescentadas.

Sentido para o Estudo da Disciplina


No atual contexto político, social e educacional é atribuído ao ensino da História o papel de formar o
cidadão que, dentre outras características, seja capaz de compreender a história do País e do mundo
como um conjunto de múltiplas memórias e de experiências humanas.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, propostos pelo MEC, orientam os currículos em geral, e o de
História, em particular, para construção de uma nova concepção de cidadania. Este documento propõe
rupturas com uma história centrada na formação de um determinado tipo de representação de
nacionalidade, assim como numa história centrada na cultura branca europeia. A diversidade cultural e
sua importância para o avanço da cidadania no Brasil se constitue na ideia central para a formação das
identidades das novas gerações e das finalidades do ensino da História. Esta perspectiva sintoniza-se
com o que tem animado as atuais produções historiográficas e as muitas das inovações no ensino de
História, no Brasil e no mundo ocidental.
Uma das questões que mais tem desafiado os professores de História engajados em processos de
mudanças curriculares e de suas práticas de sala de aula é a de criar as condições para que os alunos
elaborem novos sentidos e significados para estudo da História. Tradicionalmente, a História é vista como
o estudo do passado e/ ou como memorização de fatos e datas dos principais acontecimentos, em geral
de ordem política, militar ou diplomática dos países. Essa representação da história funciona como um
dos obstáculos ao processo de ensinoaprendizagem da História e, portanto, um desafio para o trabalho
do professor em sala de aula. Além dessa representação da história e do seu ensino, podemos assinalar
um outro desafio.

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1401188 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE PEIXOTO HELENO
Concordando com Hobsbawm, diríamos que os jovens de hoje “crescem numa espécie de presente
contínuo, sem qualquer reação orgânica com o passado público da época em que vivem (...)”. Para esse
historiador, “a destruição do passado - ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa
experiência pessoal à das gerações passadas - é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres”
(...). Esse processo de esquecimento do passado pode, como assinala John Poster (1973), comprometer
o desenvolvimento da noção de temporalidade histórica, pois essa depende da aquisição do sentido do
tempo. Compreender a História requer um sentido da existência da relação presente, passado e futuro;
requer um sentimento de pertencer, de estar dentro da história. Requer, igualmente, que os sujeitos
tomem a história não como algo dado, como uma verdade acabada e imutável. Como nos lembram Laville
e Martineau, o ensino de História deve propiciar aos alunos“ Constatarem que as realidades presentes
não têm razão de ser por elas mesmas, não são imutáveis e fechadas, prisioneiras de uma espécie de
ordem natural, mas ao contrário se inscrevem num processo de mudança e de intervenções humanas; e
que, portanto, nós podemos agir sobre elas”.
Atualmente, propõe-se um ensino de História comprometido com o avanço da democracia e da
cidadania - processos sociais e políticos para os quais se espera a contribuição das novas gerações.
Hoje, a educação para a cidadania, prioriza a aquisição de instrumentos intelectuais e a formação de
atitudes para uma efetiva participação na esfera pública, de maneira motivada, consciente e esclarecida;
prioriza o estimulo a descoberta, o respeito e o reconhecimento do outro, de outras culturas e valoriza a
diversidade etnico-cultural e a convivência saudável com a diferença. Em síntese, a educação para a
cidadania orienta-se para a formação de cidadãos “livres, responsáveis, autônomos e solidários
promovendo o desenvolvimento do espírito democrático e pluralista, respeitador dos outros e das suas
idéias, aberto ao diálogo e à livre troca de opiniões, formando cidadãos capazes de julgarem com espírito
crítico e criativo o meio social em que se integram e de se empenharem na sua transformação progressiva
(...)” (PROENÇA, 1999:27).
Nesse sentido, esse programa visa, de um lado, possibilitar aos jovens (pré-adolescentes e
adolescentes) o desenvolvimento de habilidades e atitudes necessárias ao exercício de uma cidadania
participativa, crítica e comprometida com os valores democráticos. De outro, visa o desenvolvimento do
raciocínio histórico, a escolha e tratamento dos temas a partir das questões do presente, priorizando os
precedimentos e a diversidade de fontes na construção do conhecimento histórico.
A seguir, apresenta-se um conjunto de diretrizes que, em consonância com as novas finalidades
atribuídas ao ensino da História, visam orientar a prática docente na consecução de aprendizagens
(conhecimentos, habilidades, conceitos e atitudes) pelos alunos.

Diretrizes para as Quatro Últimas Séries do Ensino Fundamental


Buscar Sintonia com as Renovações Historiográficas
A partir dos meados dos anos 80, houve amplos debates, tanto em âmbito internacional como no
Brasil, em busca de novos caminhos para o ensino de História. Partindo do meio acadêmico, as
discussões chegaram no final da década até a escola de 1° e 2° graus. Esta intensificação de novas
buscas para se dar novo sentido ao ensino de história teve origens diversas: nas críticas aos programas
elaborados, naquela década e nas anteriores, expressas em suas orientações positivistas e, depois,
marxistas e, finalmente, na repercussão e divulgação das novas tendências historiográficas.
As tendências historiográficas francesas, que tiveram origem na Escola dos Annales, no final da
década de 20, e na sua terceira geração, que lançou a obra organizada por Le Goff e, posteriormente, a
História social inglesa e a nova história cultural, passaram a marcar de maneira definitiva a produção
historiográfica brasileira e, progressivamente, o ensino da História. Essa renovação historiográfica coloca
em evidência novos temas, novos objetos e novos métodos para a produção do conhecimento histórico.
O que os historiadores das novas tendências historiográficas têm em comum é o fato de realizarem
vários rompimentos com a história positivista e/ou metódica. Dentre esses se assinalam: a negação da
ideia de objetividade e de transparência absolutas dos documentos. Estes, enquanto registros das ações
e dos ideais dos homens no tempo, só podem servir como evidências para a construção de explicações
históricas se devidamente interrogadas pelo historiador a partir de questões do presente. O conhecimento
histórico deixa, assim, de ser mera duplicação do real. O conhecimento histórico, embora ancorado no
real e com o objetivo de explicá-lo, torna-se uma construção intelectual resultante do diálogo entre
categorias conceituais - e evidências; entre estas e a visão de mundo ao qual o historiador se filia.
Assinala-se, ainda, o abandono da visão linear da história, passando-se a atentar para as relações de
mudança e permanência ao longo do tempo, para a existência de múltiplas temporalidades coexistindo
num mesmo tempo cronológico; a interdisciplinaridade com as demais ciências sociais, como a
antropologia, a sociologia, a geografia a psicologia, entre outras.

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1401188 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE PEIXOTO HELENO
Além desses rompimentos, os objetos do conhecimento histórico se deslocaram dos grandes fatos
nacionais ou mundiais para a investigação das relações cotidianas, dos grupos excluídos e dos sujeitos
sociais construtores da história.
O que passou a dar significado à história foram as relações sociais existentes no cotidiano; as relações
de poder explícitas ou ocultadas, as resistências, as diversidades culturais e a percepção de múltiplas
temporalidades expressas em mudanças e permanências, a busca da construção da identidade dos
sujeitos históricos, da construção da história local, das interrelações do local com o regional, o nacional e
o mundial. É o conhecimento histórico se fazendo sob a pressão da própria história.
Neste contexto de mudanças historiográficas e sociais, a própria noção de nacionalidade se redefine.
Esta não se assentará mais sobre a idéia da homogeneidade, da unidade de interesses e de projetos,
mas sobre a idéia da diferença, dos conflitos, das contradições e complementaridades, e estas não só
sob o plano político-ideológico, ou sob o plano econômico, mas também sob o plano étnico-cultural, de
gênero, etc.

Paralelamente às renovações historiográficas assinaladas, novas concepções de ensino


aprendizagem oriundas da teoria sócio construtivista do conhecimento, das teorias genéticas e sócio
históricas da aprendizagem e do desenvolvimento cognitivo e social propiciaram a construção de novos
saberes históricos escolares e de novas concepções e práticas do ensino da História.

Desenvolvimento do Raciocínio Histórico


O desenvolvimento do raciocínio histórico, em oposição a um ensino que visa apenas à memorização,
implica várias mudanças nas concepções e práticas do ensino da História.
Esta perspectiva vem ao encontro da direção dominante que tem assumido as mudanças no ensino
de história a partir da década de 70, em várias partes do mundo, que pode ser confirmada por Thompson
(1984). Para esse pesquisador inglês, existe um traço central em todas as sugestões de mudança no
ensino de história nos últimos 30 anos. O que se tornou central a ser ensinado não é “o passado tal como
aconteceu”, mas sim a forma como podemos adquirir nosso conhecimento sobre o passado. Nesse
sentido, as práticas e estratégias pedagógicas devem visar ao desenvolvimento de capacidades
relacionadas à construção do conhecimento histórico: a observação, a formulação de questões, o
levantamento de hipóteses explicativas, a análise e interpretação de fontes históricas com vistas à
construção da escrita da história. Por sua vez, é necessário também que o professor possibilite aos alunos
desenvolver capacidades de ler e interpretar as fontes e produzir a sua própria interpretação oral e escrita.
As informações só nos serão reveladas se as situarmos no tempo e espaço de sua produção: quem as
produziu e com qual intencionalidade, quando, onde e sob que formas de registro. Além disso, devemos
considerar que cada forma de registro tem uma “linguagem própria”: a linguagem fotográfica, a pintura
artística, a linguagem oral, musical, poética, literária, cinematográfica, a linguagem oficial
(legislação, tratados, códigos). Essas linguagens exigem a aprendizagem de suas particularidades, de
suas técnicas, estilos, os quais guardam relação com o tempo e as culturas que as produziram.
A curiosidade é outro ponto a ser considerado no desenvolvimento do raciocínio histórico dos alunos
e deverá ser estimulada pelo professor. Parte-se do pressuposto de que os alunos, nessa faixa etária,
compreenderão a relação presente, passado e futuro ao tomarem consciência da condição humana no
passado, percebendo como homens, mulheres e crianças viviam e respondiam aos desafios impostos a
eles no seu tempo. Certamente, suas perguntas ao passado serão formuladas a partir dos seus
interesses, das suas vivências sociais presentes. E isto tem relação com a investigação científica na
medida em que se apoia em atitudes de questionamentos. A investigação pressupõe perguntas e não
apenas verificação de como as coisas ocorreram. Assim, eles devem ser estimulados a questionar: Por
que as coisas aconteceram desta maneira? Como as pessoas viveram e responderam a determinadas
situações no passado? O que estas respostas influenciaram o nosso presente? O que mudou e o que
permaneceu? As coisas mudaram da mesma forma em tempos e sociedades diferentes? Os homens
reagem de forma igual nas mesmas situações? Existem diferenças?

Desenvolvimento da Perspectiva Temporal


O desenvolvimento do raciocínio histórico supõe um trabalho diferenciado com a concepção histórica
do tempo e de suas formas de marcação e apreensão em diferentes culturas. O tempo histórico, como
uma construção social, não se limita ao tempo cronológico, à sucessão linear dos acontecimentos no
tempo físico. As capacidades de ordenação, de sucessão, de duração, de simultaneidade e de
quantificação do tempo necessárias para lidar com a temporalidade histórica não são suficientes para o
seu alcance. O tempo histórico é produto das ações, relações e formas de pensar dos homens, e essas
ações variam ao longo do tempo cronológico. Em cada tempo histórico - ou em cada presente - coexistem

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relações de continuidade e de rupturas com o passado, bem como perspectivas diferenciadas do futuro.
Assim, as mudanças e permanências que acontecem num determinado tempo não se explicam pelo que
aconteceu num tempo cronológico imediatamente anterior; no entanto, não podemos prescindir da
cronologia para construir demarcações dos processos históricos.

A História-Problema
A história–problema, preocupada em estudar e compreender as relações entre o presente e o passado
e as produções de conhecimento pelos alunos, tem sido constantemente evocada como alternativa para
se alcançar o objetivo pedagógico de prover de significado o ensino da História. No entanto, muitas
dúvidas são levantadas tanto quanto à sua aplicabilidade quanto aos aspectos teóricos e conceituais aí
presentes. O que se entende por história-problema e a sua adoção no processo de ensino-aprendizagem?
O que se entende por construção do conhecimento histórico pelos alunos? Quais as condições
necessárias para levar à sala de aula tais perspectivas? Em que medida esses aspectos se articulam?
A evolução recente da historiografia mostra, segundo Furet (1986), que nós passamos de uma
narração cronológica, de reconstituição de fatos encadeados ao longo do tempo - para uma história
problema. A história-problema, diferentemente da história tradicional, visa ao exame analítico de um
problema, de questões através de diferentes períodos históricos.
Na perspectiva da história-problema, o historiador, como ressalta Furet (1986), abandona sua
pretensão de narrar tudo aquilo que se passou de importante na história da humanidade ou de uma parte
da humanidade. O historiador se torna consciente de que ele escolhe algumas questões, em torno das
quais ele construirá o seu objeto de estudo, estabelecendo diálogo entre o presente e o passado. A
delimitação do período e do conjunto de acontecimentos que deste fazem parte - como é usual numa
perspectiva tradicional da história - não é suficiente. Exige-se, ainda, que a delimitação de problemas
para os quais se buscam respostas (nunca definitivas) estejam em relação com os problemas e questões
colocados pelo presente.
Para que a concepção de história-problema possa ser posta em prática, será necessário mudar a
dinâmica de sala de aula, passando-se dos percursos tradicionais, centrados na figura do professor,
expositor de conteúdos a serem memorizados pelos alunos, para a proposição de práticas escolares
calcadas na concepção de construção do conhecimento pelo sujeito da aprendizagem, mediadas pelo
professor.
Do ponto de vista didático-pedagógico, pretende-se que os alunos sejam sujeitos ativos de seus
processos de aprendizagem. Esta perspectiva vai ao encontro da direção dominante que tem assumido
as mudanças no ensino de história a partir da década de 70, em várias partes do mundo, que pode ser
confirmada por Thompson (1984). Para esse pesquisador inglês do ensino de história, existe um traço
central em todas as sugestões de mudança no ensino de história nos últimos 30 anos. O que se tornou
central a ser ensinado não é “o passado tal como aconteceu, mas sim o como podemos adquirir o
conhecimento sobre o passado.”

Projetos Interdisciplinares
O CBC de História do Ensino Fundamental busca a integração interdisciplinar. A exigência de hoje
não é mais somente o alargamento das fronteiras internas às disciplinas. Tornou-se fundamental a
escolha de temas, núcleos temáticos, problemas, que possibilitem aos alunos lançarem mãos de
conceitos, procedimentos científicos, habilidades de diferentes campos do saber para equacionarem as
questões propostas.
Esse enfoque favorece a formação de sujeitos capazes de lidarem com a complexidade da vida social
e com a complexidade dos problemas que se apresentam no tempo presente. A natureza complexa da
sociedade atual exige que se leve em conta, na análise e equacionamento dos problemas, um maior
número de pontos de vista, o que pressupõe a formação de visões mais globalizadoras e estruturas
mentais de raciocínio mais flexíveis. Espera-se assim, que as aprendizagens que incluam a articulação
das dimensões científicas, étnicas, históricas, culturais favoreçam a formação de alunos melhor
preparados para o exercício da cidadania.

Proposta Curricular – Critérios de Seleção dos Conteúdos


O CBC de História do Ensino Fundamental tem como eixo integrador o tema “História e Cidadania” no
Brasil. A escolha da questão-problema ou eixo norteador da proposta partiu de um problema
contemporâneo que pode ser traduzido na pergunta: Quais foram os processos históricos de construção
da cidadania e da democracia, considerando as características que essas apresentam hoje na sociedade
brasileira? O entendimento equilibrado dos dilemas e dos desafios hoje vividos pela sociedade brasileira
depende, em grande medida, da compreensão, dos obstáculos enfrentados para a construção de uma

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1401188 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE PEIXOTO HELENO
sociedade democrática e cidadã no passado. Depende ainda, do entendimento das conquistas até agora
logradas e dos caminhos ainda por trilhar. A percepção dessa dialética temporal é crucial para se entender
que o hoje não é uma mera extensão do ontem e, tampouco, o amanhã será a sequência linear da
atualidade. Porém, não há como negar que, em certa medida, o presente prolonga, reedita e recria, em
diversos níveis, experiências já afastadas no tempo. Em geral, somos levados a contemplar apenas as
experiências recentemente vividas. Tendemos a esquecer que nossas vidas trazem fragmentos das vidas
de outros tempos e, sem que o saibamos, estamos, aqui e ali, a lhes dar continuidade. A compreensão
desse emaranhado de questões é um dos requisitos básicos para que os jovens entendam a si mesmos
e, sobretudo, aprendam a respeitar e a conviver com as diferenças, sejam elas de que ordem for.
Nesta proposta, a ênfase atribuída ao estudo da dinâmica histórica brasileira visa, dentre outros
aspectos, permitir uma melhor compreensão acerca dos problemas vividos pelos próprios alunos. Foram
abordados inicialmente os temas relativos à dimensão “local” e regional da história – ou seja, relativos às
realidades mais próximas do aluno –, partindo-se então para a abordagem da dimensão histórica nacional
em suas articulações com a dimensão histórica internacional.
Em consonância com alguns documentos do Ministério de Educação e da Secretaria Estadual de
Educação de Minas Gerais, propõe-se um conjunto de objetivos para o ensino de História do segundo
segmento do Ensino Fundamental: Problematizar • visões representações e atitudes que, comprometem
o avanço dos sujeitos, dos grupos, das identidades sociais em direção à emancipação política e social;
Desenvolver a noção de historicidade das ações dos homens da realidade social e dos processos
históricos;
• Promover a confrontação de versões e interpretações sobre um mesmo acontecimento histórico;
• Promover a aquisição de ferramentas intelectuais e a formação de atitudes de que capacite os
alunos a participarem dos debates presentes no processo histórico brasileiro e nos processos
internacionais;
• Propiciar o desenvolvimento de atitudes de respeito e de compreensão com relação à diversidade
sociocultural das sociedades e da sociedade brasileira, em particular;
• Contribuir para a compreensão de problemas e questões do presente e de suas relações com a
dinâmica de mudanças e permanências dos processos históricos;
• Desenvolver habilidades necessárias ao estudo das diferentes fontes históricas;
• Desenvolver habilidades de leitura, interpretação e produção de textos históricos, de gêneros
diversos;
• Estimular a formação de atitudes e de negociações e proposições coletivas para resolução de
problemas comuns, reconhecendo o direito do outro de manifestar-se e apresentar suas ideias; •
Incentivar a reflexão sobre valores individuais, de grupos socioculturais de referência e valores de outros
grupos de tempos e espaços diferentes.

Avaliação em História
Esta proposta curricular, coerente com as renovações no campo da historiografia e das novas
concepções de aprendizagem já expostas, propõe a adoção de novas concepções e práticas de
avaliação. A avaliação é concebida como um processo que implica diagnóstico, acompanhamento, busca
de superação das dificuldades e não apenas provas e testes para medir o desempenho final dos alunos.
Isso significa compreender a avaliação como parte do próprio processo de aprendizagem, constituindo-
se num grande desafio não só para os professores de História, mas para o conjunto dos professores de
uma mesma escola.
A proposta de avaliação considera as habilidades a serem desenvolvidas em cada série ou ciclo de
escolaridade. O desenvolvimento do raciocínio histórico, da perspectiva temporal e da investigação
servirão de parâmetro para a avaliação do desenvolvimento cognitivo dos alunos. No entanto, é
necessário que o professor esteja atento ao fato de que muitas das capacidades requeridas para o
desenvolvimento do raciocínio histórico e da cidadania só serão consolidadas no decorrer de um período
maior, exigindo persistência no trabalho com um núcleo comum de habilidades e atitudes por meio de
estratégias de ensino e de avaliação, que estabeleçam diferentes graus de complexidade ao longo das
quatro séries do Ensino Fundamental. O desenvolvimento do raciocínio histórico supoe a ampliação das
capacidades de leitura e interpretação de informações diferentes fontes históricas, a identificação de fatos
principais, o estabelecimento de relações entre fatores, a construção de argumentações com base em
dados e interpretações históricas diversas, a elaboração de idéias-síntese, assim como aprender a lidar
com diferentes dimensões da temporalidade histórica. O desenvolvimento dessas capacidades requer
dos professores um trabalho cuidadoso, sistemático e muita sensibilidade às diferenças de ritmo de
aprendizagem dos seus alunos.

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As novas propostas de ensino-aprendizagem visam superar a aula puramente expositiva; valoriza
aulas dialogadas, com questões e problemas que demandam a observação, o estabeleci20 mento de
relações e atitudes de pensar e descobrir. Fazem parte destas novas práticas pedagógicas, o trabalho
em grupo, os debates em sala de aula, o exercício do diálogo, da polêmica e da argumentação. Essas
estratégias permitem a exposição de pontos de vista diferentes e exigem a formação de atitudes que vão
desde o respeito à diversidade de opiniões, a capacidade de ouvir e levar em conta o argumento do outro,
à colaboração na feitura de trabalhos coletivos. Os instrumentos de avaliação propostos visam contemplar
aspectos e atitudes de educação histórica na esfera da sociabilidade dos alunos, dando especial atenção
ao desenvolvimento de compromisso com o seu grupo, com a comunidade escolar, assim como com o
patrimônio histórico e cultural local e do País.
Prevê-se que a avaliação inclua, além das provas, as observações e registros dos professores,
permitindo acompanhar através de fichas individuais o desenvolvimento das habilidades de raciocínio, o
processo de construção de cada aluno, assim como incentivar a construção pelos alunos de instrumentos
(portifólios, memorial) que propiciem a formação da autonomia e reflexão sobre o processo de construção
do saber histórico e do sentido desse conhecimento para suas vidas.
A nova proposta de avaliação apresenta-se para professores e alunos, como um instrumento de
aprendizagem, de investigação e de formação contínua, e isto significa uma mudança significativa na
cultura e práticas escolares.
Conteúdo Básico Comum (CBC) de História no Ensino Fundamental da 6ª à 9ª Série
• Os tópicos obrigatórios são numerados em algarismos arábicos
• Os tópicos complementares são numerados em algarismos romanos

Eixo Temático I Tema 1: Histórias de Vida, Diversidade Populacional (Étnica, Cultural, Regional e
Social) e Migrações Locais, Regionais e Intercontinentais
Subtema 1 – Diversidade populacional e migrações em Minas Gerais e no Brasil
Histórias de Vida, Diversidade Populacional e Migrações
Ano / Carga Horária
TÓPICOS HABILIDADES
6º 7º 8º 9º

1. População 1.1. Conceituar migração e imigração. 1


mineira
e brasileira: várias 1.2. Identificar a diversidade populacional
origens, várias presente em sala de aula, na escola e na localidade
histórias do aluno, em termos sociais, étnicoculturais e de
procedência regional; analisar e interpretar fontes 3
que evidenciem essa diversidade.

1.3. Conceituar cultura, mestiçagem e hibridismo. 2

1.4. Analisar as festas étnico-culturais como


manifestação de hibridismo: Congado, Carnaval, 3
Maracatu, Bumba-meuboi, Reisado, Capoeira, festa
de Iemanjá, Folia de Reis, entre outras.
2.1. Caracterizar e diferenciar os povoadores de
origem asiática (mongolóides) e de origem africana
(negróides) e confrontar interpretações distintas 3
sobre sua identidade.
2. Primeiros
povoadores: os
ameríndios e suas 2.2. Problematizar a distinção entre história e
origens préhistória. 1

2.3. Caracterizar e analisar a origem, evolução e


diversidade da espécie humana. 3

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3.1. Identificar e caracterizar a cultura européia e
portuguesa nos séculos XV e XVI. 3
3. Os primeiros
europeus: os
3.2. Analisar o contexto e motivações para o
portugueses do Reino
início da colonização portuguesa no Brasil. 3

4.1. Identificar a diversidade étnica, espacial e


cultural dos povos africanos. 3

4.2. Conceituar escravidão. 2

4.3. Problematizar a existência da escravidão na


África antes da expansão marítima européia. 3
4. Os povos
4.4. Estabelecer diferenças entre o tipo de
africanos
escravidão existente na África e o tipo implantado 3
na América Portuguesa.
5.1. Analisar e compreender as especificidades e
complexidades dos povos indígenas brasileiros à
época de sua “descoberta” pelos europeus: origens,
movimentos migratórios e diversidade lingüístico- 4
cultural.

5. Os povos 5.2. Diferenciar as principais “nações” indígenas


indígenas: diversidade brasileiras, especialmente as reconhecidas como
e migrações
presentes em Minas Gerais: Pataxó, Xacriabá, 4
Krenak e Maxacali Caxixó, Aranã Paulíararu,
Xucuru, Kariri.
6.1. Identificar as características básicas do
6. Os imigrantes capitalismo industrial. 4
europeus nos séculos
XIX e XX 6.2. Identificar os grupos migratórios no Brasil nos 4
séculos XIX e XX dentro do contexto da expansão
do capitalismo.

I. Os “outros”
imigrantes nos séculos • Analisar os processos que dão continuidade às
XIX e XX: árabes, políticas de imigração no Brasil e a chegada de
judeus, orientais novas levas de imigrantes em Minas Gerais nos
séculos XIX e XX.

Subtema 2 - Transformações econômicas, diversidade populacional e colonização portuguesa no


Brasil
Ano / Carga Horária
TÓPICOS HABILIDADES
6º 7º 8º 9º

7. Expansão econômica
européia e descobrimentos 7.1. Analisar o processo da expansão
marítimos nos séculos XV e econômica e marítima européia nos séculos 4
XVI XV e XVI.

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8.1. Conceituar colonização. 2

8.2. Analisar as contradições inerentes ao


funcionamento do “sistema colonial” como
projeto metropolitano que foi
constantemente frustrado pelas 2
especificidades e diversidade da América
Portuguesa.

8.3. Analisar a formação de um mercado


interno na Colônia através do surgimento de
vários mercados locais e a constituição de 2
mercados regionais.

8.4. Conceituar mercado interno e


acumulação de capital. 2
8. O “sistema colonial” e a
realidade efetiva da 8.5. Identificar a existência de acumulação
colonização: política interna de capital no espaço colonial. 2
metropolitana versus
diversificação econômica e
8.6. Relacionar as atividades de
interesses locais
acumulação de capital na Colônia: controle 2
do abastecimento interno, tráfico negreiro e
indígena.

9.1. Analisar e compreender o processo de


implantação da agromanufatura do açúcar no
9. A agromanufatura do Nordeste brasileiro em conexão com o tráfico
de escravos e a fixação dos portugueses no 5
açúcar e a escravidão
território brasileiro.

10. A economia e a 10.1. Analisar a sociedade mineira colonial


sociedade mineira colonial: como concretização do ideal colonizador
dinamismo econômico e português, sendo ao mesmo tempo seu 5
diversidade populacional oposto.

10.2. Contextualizar o cenário cultural das

Minas colonial: arte e festas barrocas, 5


irmandades religiosas e o cotidiano da
população.

. 186
1401188 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE PEIXOTO HELENO

Conceituar colonização.

Analisar e comparar as experiências de
colonização concorrentes à colonização
portuguesa no Brasil: franceses e holandeses.
II. A colonização litorânea: • Contextualizar e relacionar a ação dos
a colonização portuguesa e primeiros missionários católicos entre os
as tentativas de indígenas brasileiros; a escravidão indígena na
colonização de franceses América espanhola; a União Ibérica; as
e guerras religiosas na Europa; as revoluções
holandeses inglesas do século XVII e surgimento do
parlamentarismo monárquico.

• Compreender e situar, espacial e


temporalmente, os vários processos de
III. Interiorização da expansão da colonização portuguesa: a
colonização: o pecuária no Nordeste e no Sul; o extrativismo
desbravamento do sertão no Norte; bandeiras e entradas.

• Analisar as disputas sobre o território


IV. As missões no Sul e sulamericano entre Portugal e outras potências
delimitação do território européias no século XVIII por meio dos
brasileiro principais tratados do período.

• Analisar o conceito de cidadão na


V. Cidadania e sociedade sociedade estamental da Colônia em sua
colonial: os “homens bons” e relação com a estrutura do poder local (as
a escravidão câmaras das vilas e cidades).

Eixo Temático II Tema 1: O Estado Brasileiro e a Nação: Monarquia X República


Subtema 1 – A “virada do século”: transformações políticas no Brasil do século XVIII para o século XIX
Construção do Brasil: Território, Estado e Nação

Ano / Carga Horária


TÓPICOS HABILIDADES
6º 7º 8º 9º

11.1. Compreender o contexto das


revoluções e seus impactos para a
constituição do mundo contemporâneo de 3
cidadania.
11. Revoluções liberais:
industrial, americana e 11.2. Conceituar historicamente no
francesa contexto
das revoluções: república, liberalismo e 3
cidadania.
11.3. Conceituar e identificar o sistema
capitalista emergente e a resistência dos 4
trabalhadores à nova organização do
trabalho.
11.4. Identificar e analisar o progresso
técnico e científico europeu do século XVIII. 3

. 187
1401188 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE PEIXOTO HELENO
12.1. Caracterizar e analisar os diversos
movimentos políticos no Brasil de fins do
3
século XVIII e início do século XIX.

12.2. Relacionar a independência do Haiti


com o medo da “haitinização” do Brasil. 3

12.3. Identificar as decorrências da


instalação da corte no Rio de Janeiro:
centralização administrativa na Colônia,
constituição de grupos de interesse no 4
12. Inconfidências e Sudeste brasileiro em torno da monarquia (a
Brasil Joanino: chamada “interiorização da metrópole”).
movimentos de
contestação e 12.4. Analisar os impactos da transferência
reorganização da
da corte portuguesa sobre o universo da vida
relação metrópolecolônia
cotidiana e cultural brasileira e, 3
especificamente, sobre a cidade do Rio de
Janeiro.
13.1. Perceber a constituição de uma
identidade brasileira, entre fins do século XVIII
e início do XIX, em paralelo com as
identidades locais (mineira, pernambucana, 3
baiana, paulista, etc.) e com a identidade
portuguesa.

13.2. Analisar o impacto da transferência


da corte portuguesa para o Rio de Janeiro
para o processo de emancipação política do
13. A Revolução de Brasil: de um lado, a eclosão de movimentos
1817 e a Independência
separatistas republicanos e, de outro, a 5
construção de uma independência pela via
da monarquia e da manutenção da
integridade territorial e das estruturas
socioeconômica assentadas na escravidão e
no latifúndio.

Subtema 2 – A experiência monárquica no Brasil


Ano / Carga Horária
TÓPICOS HABILIDADES
6º 7º 8º 9º

14. Bases do estado 14.1. Analisar e compreender as bases


monárquico e limites da socioeconômicas da monarquia brasileira,
cidadania: patrimonialismo, identificando continuidades e 3
escravidão e grande mudanças em relação à era colonial e
propriedade à época atual.

14.2. Conceituar patrimonialismo e


estado. 2

. 188
1401188 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE PEIXOTO HELENO
14.3. Compreender e analisar os limites

da cidadania no contexto da sociedade 3


escravista do Império.

14.4. Analisar a Lei de Terras de 1850


e
relacioná-la com a questão agrária no 3
Império.

15.1. Analisar e compreender as


mudanças na organização do trabalho e a
2
diversificação econômica no Império.

15.2. Analisar e discutir: o


abolicionismo, o republicanismo e a guerra
4
do Paraguai.
15. Mudanças
sócioeconômicas, crise política e
15.3. Analisar as tensões no interior do
fim da monarquia
Estado: a Coroa em conflito com os 3
militares e a igreja.


Compreender e analisar o
processo de implantação da monarquia no
Brasil e sua singularidade.
• Compreender o contexto político
VI. O Imperador e a da
Constituição de 1824: Assembléia Constituinte de
fundamentos jurídicos e políticos 1823,resultando na formulação da
da monarquia Constituição de 1824.
• Identificar as linhas gerais da
Constituição de 1988 com a
Constituição de 1824, sobretudo no que
se refere à cidadania.


Analisar e caracterizar os conflitos
entre o poder centralizador e o federalismo
das elites provinciais (revoltas e
rebeliões).
VII. Centralismo X • Analisar o processo de
federalismo, ordem X desordem “pacificação” das rebeliões provinciais
na Regência e início do Segundo como afirmação do estado monárquico
Reinado brasileiro.
• Analisar e discutir a relação do
Brasil com os países da Bacia do Rio da
Prata: questões platinas.

. 189
1401188 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE PEIXOTO HELENO

Analisar e compreender a
formulação de uma primeira identidade
nacional como projeto das elites políticas
do Império, e, portanto, excludente.
VIII. Construção da identidade • Analisar a importância das escolas
nacional: “branqueamento” e literárias (“indigenismo”, romantismo) e
elitismo criação de institutos acadêmicos para

Tema 2: Brasil, Nação Republicana


Subtema 1 – A “República de Poucos”: a República Velha e a dominação oligárquicofederalista
Ano / Carga Horária
TÓPICOS HABILIDADES
6º 7º 8º 9º

16.1. Conceituar oligarquia,


clientelismo, coronelismo e federalismo
e relacioná-los como elementos
constitutivos do sistema político 3
oligárquico.

16.2. Identificar a estrutura


jurídicoinstitucional do regime
republicano brasileiro, contida na 3
16. Primeira República: Constituição de 1891.
“modernidade”,grande
propriedade, coronelismo e
16.3. Compreender o significado da
federalismo
construção de Belo Horizonte em 3
termos da modernidade e do ideal
republicano.


Analisar os partidos políticos, o
processo eleitoral na república
oligárquica e os limites da cidadania
nesse contexto.
• Compreender o processo de
diversificação econômica no Brasil
aliado aos processos de imigração,
urbanização e industrialização. •
IX.Transformações econômicas,
Compreender o processo de
sociais e culturais no Brasil da
transformação da paisagem urbana da
Primeira República
cidade do Rio de Janeiro, associando
modernidade e exclusão social.
• Relacionar o modernismo e a
busca da nacionalidade: a Semana de
Arte Moderna de 1922.

. 190
1401188 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE PEIXOTO HELENO

Compreender a Revolução
Russa de 1917 e o processo de
construção do comunismo na União
X. Revolução Russa de 1917 e Soviética e sua repercussão no Brasil.
movimento operário, anarquismo e • Analisar o movimento tenentista
comunismo no Brasil e a Coluna Prestes.
• Analisar o período entre-guerras
e a crise de 1929.

Eixo Temático III Tema 1: A Era Vargas (1930-1945): fortalecimento do Poder Central, a Nação
Brasileira “re-significada” e a Cidadania
Subtema 1 – A Revolução de 1930, Estado e Industrialização: os avanços e recuos da cidadania,
extensão dos direitos sociais X cerceamento dos direitos políticos e civis Nação, Trabalho e Cidadania no
Brasil

Ano / Carga Horária


TÓPICOS HABILIDADES
6º 7º 8º 9º

17.1. Compreender o processo de crise do


sistema oligárquico brasileiro, relacionando-o à
ascensão de novas forças políticas e econômicas. 4

17. Revolução de
17.2. Identificar no Brasil dos anos 30 e início
1930 no Brasil
dos anos 40 a presença de embates entre 4
comunistas e fascistas.
18.1. Relacionar o autoritarismo do governo
Vargas com a ascensão do nazi-fascismo. 2

18.2. Identificar as ambigüidades da política


econômica nacionalista do governo Vargas. 2

18.3. Relacionar a II Segunda Guerra Mundial


e a industrialização no Brasil. 2

18.4. Analisar e compreender os avanços e


recuos da cidadania nesse período: extensão dos
direitos sociais (direitos trabalhistas, ampliação do
direito de voto) X cerceamento dos direitos 4
políticos e civis (autoritarismo).
18. A Era Vargas:
autoritarismo, estado
18.5. Analisar e compreender o processo de
e nação
constituição de uma nova identidade nacional 3
ligada à industrialização e à centralização do
poder.
18.6. Analisar o papel da propaganda oficial
para difusão do novo ideário nacional, utilizando
os meios de comunicação (rádio) e as 3
expressões artísticas (música, literatura, cinema).

. 191
1401188 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE PEIXOTO HELENO
• Compreender o processo de ascensão dos
XI. Ascensão do regimes extremistas de direita na Alemanha e
nazifascismo na Europa Itália.

• Compreender a constituição e difusão de uma


XII. O rádio, o cultura popular e, ao mesmo tempo, de uma
cinema, o carnaval e o cultura de massas, no Brasil da Era Vargas. •
futebol: a cultura de Conceituar cultura de massas e cultura popular.
massas no
Brasil

Tema 2: A República Democrático-Populista (1945-1964): Avanços e Recuos da Cidadania, Guerra


Fria e Internacionalização Econômica
Subtema 1 – A Guerra Fria, a internacionalização da economia e a industrialização do Brasil
Ano / Carga Horária
TÓPICOS HABILIDADES
6º 7º 8º 9º

19.1. Contextualizar a Guerra Fria e a divisão


do mundo em áreas de influência dos EUA e
URSS, identificando os conflitos em que essas
19. Novo contexto potências se envolveram na Europa, Ásia, África e 4
internacional: fim da América.
Segunda Guerra
Mundial e Guerra
19.2. Compreender a importância das
Fria
Revoluções Chinesa e Cubana para a história 4
do século XX, no mundo e no Brasil.
20.1. Analisar a influência do capital
estrangeiro na industrialização do Brasil e os
2
embates internos entre “entreguistas” e
“nacionalistas”.
20.2. Conceituar populismo. 2

20.3. Identificar e analisar a constituição dos


partidos políticos no Brasil nas décadas de 5060.
2

20.4. Analisar o “desenvolvimentismo” nos


anos dourados de JK (1956-1960). 4
20. Avanços do
capital estrangeiro e
20.5. Analisar e compreender os embates
crise do populismo
político-ideológicos entre direita e esquerda 4
nos governos Jânio Quadros e João Goulart: o
golpe militar de 1964.
20.6. Compreender os motivos, os pretextos e
as estratégias subjacentes ao golpe militar de 3
1964.
20.7. Analisar limites e avanços da cidadania
entre 1945 e 1964. 3

Tema 3: Anos de Chumbo e Anos Rebeldes: a Ditadura Militar (1964-1985)


Subtema 1 – Os avanços do capital estrangeiro, a crise do populismo e o golpe de 1964

. 192
1401188 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE PEIXOTO HELENO
Ano / Carga Horária
TÓPICOS HABILIDADES
6º 7º 8º 9º

21.1. Analisar o processo de implantação da


ditadura militar no Brasil. 3
21. Repressão,
resistência política e
produção cultural 21.2. Identificar as bases jurídicas e institucionais 3
no Brasil da ditadura militar: atos institucionais,
Constituição de 1967 e Emenda Constitucional de
1969.
21.3. Analisar o aparato repressivo militar e
paramilitar instituído pela ditadura, com apoio da 3
sociedade civil, para eliminação dos opositores
(“subversivos”) e sustentação do regime.
21.4. Analisar os principais movimentos de
resistência da esquerda (guerrilhas urbanas e 4
rurais).
21.5. Identificar e analisar as restrições à
cidadania
na ditadura e as limitações aos direitos políticos e 3
civis.
21.6. Analisar as mudanças no contexto
econômico brasileiro durante a ditadura:
internacionalização da
economia, industrialização, urbanização, 4
dependência econômica e constituição de uma
sociedade de consumo.
21.7. Analisar o contexto cultural brasileiro antes
do golpe de 64 e a forma como foi afetado; as
diversas
formas de resistência dos artistas e intelectuais 4
brasileiros: a MPB, os festivais da canção e o cinema
novo.
21.8. Analisar a implantação dos governos
autoritários e da luta armada na América Latina. 3

Tema 4: Estado e Cidadania no Brasil Atual: a República Democrática e o Neoliberalismo (1985 aos
dias atuais)
Subtema 1 – Estado, economia e sociedade: o papel do estado na organização econômica, a abertura
do mercado e os direitos sociais

Ano / Carga Horária


TÓPICOS HABILIDADES
6º 7º 8º 9º

22.1. Analisar o contexto de formulação da


22. Democracia e “Constituição Cidadã” de 1988 e os avanços da
4
cidadania no Brasil cidadania nela expressos.
atual

. 193
1401188 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE PEIXOTO HELENO
22.2. Contextualizar as transformações mundiais
do final do século XX a partir da desagregação do
3
socialismo real.

22.3. Analisar o contexto das tensões e


reivindicações sociais no Brasil atual: eleições
brasileiras de 2002, o Movimento dos Sem-Terra 6
(MST) e a reforma agrária; os semteto; movimento
negro; a questão das políticas afirmativas.
XIII.
Neoliberalismo • Analisar o contexto de estabelecimento de uma
e tensões sociais “nova ordem” mundial: ascensão dos governos
no Brasil conservadores e do neoliberalismo.
• Analisar a eleição de Fernando Collor de Mello
e a abertura econômica do mercado brasileiro.
• Analisar a mobilização popular e o
impeachment de Fernando Collor de Mello (1992).
• Analisar os dois governos de Fernando
Henrique Cardoso e a implantação do neoliberalismo
no Brasil.
• Analisar a criação dos blocos econômicos
regionais: Mercosul, Nafta e MCE.

Proposta Curricular – CBC de História - Ensino Médio22

APRESENTAÇÃO
Estabelecer os conhecimentos, as habilidades e competências a serem adquiridos pelos alunos na
Educação Básica, bem como, as metas a serem alcançadas pelo professor a cada ano é uma condição
indispensável para o sucesso de todo sistema escolar que pretenda oferecer serviços educacionais de
qualidade à população. A definição dos conteúdos básicos comuns (CBC) para os anos finais do ensino
fundamental e para o ensino médio constitui um passo importante no sentido de tornar a rede estadual
de ensino de Minas num sistema de alto desempenho.
Os CBCs não esgotam todos os conteúdos a serem abordados na escola, mas expressam os aspectos
fundamentais de cada disciplina, que não podem deixar de ser ensinados e que o aluno não pode deixar
de aprender. Ao mesmo tempo, estão indicadas as habilidades e competência que ele não pode deixar
de adquirir e desenvolver. No ensino médio, foram estruturados em dois níveis para permitir uma primeira
abordagem mais geral e semiquantitativa no primeiro ano, e um tratamento mais quantitativo e
aprofundado no segundo ano.
A importância dos CBCs justifica tomá-los como base para a elaboração da avaliação anual do
Programa de Avaliação da Educação Básica (PROEB), para o Programa de Avaliação da Aprendizagem
Escolar (PAAE) e para o estabelecimento de um plano de metas para cada escola. O progresso dos
alunos, reconhecidos por meio dessas avaliações, constituem a referência básica para o estabelecimento
de sistema de responsabilização e premiação da escola e de seus servidores. Ao mesmo tempo, a
constatação de um domínio cada vez mais satisfatório desses conteúdos pelos alunos gera
consequências positivas na carreira docente de todo professor.

Para assegurar a implantação bem-sucedida do CBC nas escolas, foi desenvolvido um sistema de
apoio ao professor que inclui: cursos de capacitação, que deverão ser intensificados a partir de 2008, e o
Centro de
Referência Virtual do Professor (CRV), o qual pode ser acessado a partir do sítio da Secretaria de
Educação (http://www.educacao.mg.gov.br). No CRV encontra-se sempre a versão mais atualizada dos
CBC, orientações didáticas, sugestões de planejamento de aulas, roteiros de atividades e fórum de
discussões, textos didáticos, experiências simuladas, vídeos educacionais, etc; além de um Banco de
22 Proposta Curricular – CBC de História - Ensino Médio. Secretaria de Educação de Minas Gerais. Disponível em: <
http://crv.educacao.mg.gov.br/banco_objetos_crv/%7BE7B70E89-27C8-442C-9636-
E8FF2D3BD79E%7D_CBC%20de%20Hist%C3%B3ria%20Ensino%20M%C3%A9dio%20vers%C3%A3o%20para%20impress%C3%A3o.pdf>

. 194
1401188 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE PEIXOTO HELENO
Itens. Por meio do CRV os professores de todas as escolas mineiras têm a possibilidade de ter acesso a
recursos didáticos de qualidade para a organização do seu trabalho docente, o que possibilitará reduzir
as grandes diferenças que existem entre as várias regiões do Estado.
Vanessa Guimarães Pinto

Introdução
Um dado inicial, obtido em avaliação feita por cerca de 1.500 escolas da rede estadual, motivou a
presente proposta de redução do CBC do Ensino Médio de História: as escolas avaliaram que o tempo
utilizado e necessário para o ensino dos 39 tópicos ultrapassava em muito o recomendado inicialmente -
1/3 da carga horária total. O que era para ser um currículo básico comum havia ocupado praticamente
toda a carga horária da disciplina, com os três eixos temáticos sendo distribuídos correspondentemente
aos três anos do ensino médio.
Esse fato não só inviabilizava uma preocupação central na proposta do CBC, a autonomia da escola
na definição dos temas complementares a serem trabalhados, como também patenteava que uma das
sugestões da proposta, o tratamento não sequencial dos eixos temáticos, não estava acontecendo.
Assim, tornava-se necessário fazer um ajuste do CBC que assegurasse uma base comum de
conhecimento de história para os alunos do Ensino Médio da rede estadual, e garantisse a autonomia
das escolas, em respeito às diferentes dinâmicas internas, e na opção pelos tópicos complementares
e/ou outras demandas do projeto pedagógico da escola. Também tornou-se necessário um ajuste que
estimulasse os professores a adotarem formas diferenciadas de ordenação e sequenciação dos temas
básicos e dos subtemas.
Foram essas preocupações que nortearam a presente proposta curricular. Ela compreende tópicos
obrigatórios, tópicos complementares e as respectivas habilidades. A escolha dos tópicos obrigatórios
teve como critério definidor a sua articulação com a problematização central da disciplina: as lutas pela
construção da cidadania e garantia dos direitos no Brasil, articulada à inserção do Brasil, desde sua
origem, no projeto burguês de sociedade que, já em seu início, apresentava-se como transnacional e
excludente. Também foi considerada a importância a eles atribuída pelos professores das
EscolasReferência, e pelos professores participantes do II Encontro de Representantes de Área, realizado
em novembro de 2005.
Alexandre José Gonçalves Costa

Sentido para o ensino da disciplina


A Constituição Brasileira de 1988 consagra a possibilidade de se exigir do
Estado o cumprimento do seu dever para com a educação básica obrigatória.
Após sua promulgação, observou-se a ampliação da rede pública escolar, em dois movimentos. Numa
primeira fase, a ênfase prioritária da educação como direito de todos concentrou-se, principalmente, no
aumento quantitativo da oferta escolar, consagrando a universalização do acesso à escola. Entretanto, a
educação como direito inalienável da cidadania só se realiza, como se tem insistido, mediante a ampliação
e o fortalecimento de um sistema educacional de qualidade e democrático em sua gestão - o que se tem
configurado como prioridade da segunda fase da ampliação da rede escolar de Minas Gerais.
A Emenda Constitucional nº 14/96 declara o Ensino Médio um direito (não obrigação, mas direito) de
todo cidadão e, como tal, obriga o Estado a oferecê-lo de maneira a promover sua universalização
gradual. A visão sobre este segmento de ensino modifica-se ainda mais com a LDB (Lei nº 9.394/96), que
o identifica como etapa conclusiva da educação básica - e não mais como etapa de “preparação”, seja
para o mundo do trabalho seja para a universidade.
Esta mudança de perspectiva do Ensino Médio, que passou a ser tratado como etapa da educação
com um objetivo em si mesma e oferecida pelo Estado, promoveu significativa ampliação do acesso a
este segmento de ensino. Segundo o Ministério da Educação, “de 1988 a 1997, o crescimento da
demanda superou 90% das matrículas até então existentes. Em apenas um ano, de 1996 a 1997, as
matrículas no Ensino Médio cresceram 11,6%” (PCNEM:7).
Portanto, a preocupação com a qualidade do Ensino Médio vem crescendo. Considera-se que é
necessário promover transformações de qualidade neste nível de ensino, para adequá-lo à promoção
humana de seu público atual, diferente daquele de há trinta anos, quando suas antigas diretrizes foram
elaboradas (PCN+, 2002: 8).
Além disso, como não se pode excluir a importância do Ensino Médio para a formação de cidadãos
em faixa etária de ingresso no mercado de trabalho. A melhoria da qualidade desse nível de escolarização
tem se mostrado essencial para responder a desafios impostos por processos globais, que têm excluído
da vida econômica os trabalhadores não qualificados, em virtude da formação exigida de todos os
partícipes do sistema de produção e de serviços (PCN+, 2002: 8). Nesse sentido, a construção da

. 195
1401188 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE PEIXOTO HELENO
cidadania no País exige, além do atendimento dos direitos universais e da igualdade formal, uma nova
compreensão das identidades sociais e da identidade nacional e das formas de inserção dos indivíduos
na vida social e no mundo do trabalho.
Neste atual contexto político, social e educacional é atribuído ao ensino da
História o papel de formar um novo cidadão que, dentre outras características, seja capaz de
compreender a história do País e do mundo como resultante de múltiplas memórias, originárias da
diversidade das experiências humanas, em oposição ao entendimento até então dominante de uma
memória unívoca das elites ou de um passado homogêneo.
A atual referência nacional curricular, os Parâmetros Curriculares Nacionais, orienta os currículos em
geral, e o de História, em particular, para construção de uma nova cidadania. Demonstra sensibilidade
relativa à dinâmica de constituição e interação da diversidade das culturas nacionais e mundiais e propõe
rupturas com uma história centrada na formação de um determinado tipo de representação de
nacionalidade, assim como numa história centrada na cultura branca europeia. A diversidade cultural e o
entendimento do avanço da cidadania no Brasil constituem-se, assim, em conceito central da formação
das identidades das novas gerações e das finalidades do ensino da história. Esta perspectiva sintoniza-
se com o que tem animado as atuais produções historiográficas e muitas das inovações no ensino de
História, no Brasil.
Autores que discutem a relação entre educação e cidadania hoje apontam, de um modo geral, que a
formação cidadã deve priorizar, no processo de ensinoaprendizagem, os instrumentos intelectuais e
práticos para uma efetiva participação na esfera pública - motivada, consciente e esclarecida, a partir do
cruzamento entre interesses pessoais e sociais. Indicam, ainda, a necessidade de se estimular a
descoberta, o respeito e o reconhecimento do outro; em outras palavras, apontam a preocupação em
fazer da educação escolar (e do ensino de História, em particular) um meio de aceitação da diversidade
de perspectivas e projetos individuais ou de grupos, promovendo a convivência saudável com a diferença
e uma aprendizagem baseada no conhecimento de outras culturas e visões de mundo.
O processo de democratização da sociedade brasileira e a perspectiva de formação de uma nova
cidadania colocam para educação em geral, e em especial para a educação histórica, alguns desafios
centrais que norteiam essa proposta.
• Problematizar visões, representações e atitudes que comprometem o avanço dos sujeitos, dos
grupos, das identidades sociais em direção à emancipação e participação política e social.
• Desenvolver atitudes de respeito e compreensão para com a diversidade e complexidade
sociocultural das sociedades e da sociedade brasileira, em particular.
• Desenvolver a noção de historicidade das ações humanas e da realidade social.
• Compreender os usos que diferentes grupos sociais e meios de comunicação fazem da memória
histórica.
• Relacionar temas centrais do processo histórico brasileiro aos processos mundiais.
• Preparar os jovens para participarem dos debates sobre temas relacionados ao seu contexto mais
imediato e ao contexto global.
A seguir, um conjunto de diretrizes de natureza historiográfica e pedagógica é proposto para
fundamentar as escolhas feitas para o enfrentamento desses desafios.

Diretrizes para o Ensino de História


Novas concepções da História: conhecimento e seus métodos de produção
A constituição da História enquanto uma disciplina cientificamente orientada data de fins do século
XIX, muito embora alguns de seus preceitos já tivessem sido elaborados entre os séculos XVII e XVIII. O
resultado desse trabalho redundou numa concepção de História que acabou por identificar conhecimento
histórico e realidade, conhecimento histórico e verdade.
Essa ausência de ruptura entre realidade e conhecimento era possível, segundo os historiadores da
chamada História Metódica (normalmente identificada como História Positivista), porque as narrativas
históricas apoiavam-se em dois pilares fundamentais: as provas documentais e a neutralidade do trabalho
dos historiadores. Com o primeiro, garantia-se a objetividade da pesquisa desenvolvida e, com o segundo,
a imparcialidade do relato histórico.
Ao historiador cabia separar os documentos falsos dos verdadeiros, via emprego do método crítico, e
classificar/ordenar os dados extraídos dos documentos “válidos”, porque autênticos, para, finalmente,
narrar a evolução das sociedades passadas numa sequência cronológica e espacial. Sabe-se que tais
narrativas tendiam a privilegiar o encadeamento das chamadas provas documentais, com o objetivo de
reunir os dados capazes de explicar questões e problemas que afligiam não apenas aos governantes da
época, mas também aos círculos intelectuais de então.

. 196
1401188 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE PEIXOTO HELENO
Ressalta-se que a maioria dos historiadores do século XIX tendia a selecionar e encadear os fatos de
modo que as narrativas construídas possibilitassem demonstrar a lógica de organização do universo
político-institucional, civil e militar. Trabalhando numa perspectiva mais moral que propriamente reflexiva,
muitos historiadores, afinados com os parâmetros da historiografia tradicional, fizeram do conhecimento
histórico um lugar de exaltação dos valores nacionais. Não por acaso deram ênfase a temas ligados à
constituição dos Estados Nacionais: a história dos heróis, dos reis, das guerras.
A partir de fins da década de 1970, já se percebe, no Brasil, um movimento de crítica a essa concepção
de conhecimento histórico. Junto à comunidade de historiadores brasileiros, destaca-se a influência das
reflexões historiográficas elaboradas, tanto por historiadores formados sob influência da Escola dos
Annales, quanto por historiadores ingleses integrantes da chamada história social inglesa.
Simultaneamente, uma parcela significativa dos docentes brasileiros, sobretudo das universidades
públicas, investe em seu processo de formação continuada ao ingressar nos programas de pós-
graduação dentro e fora do País.
Se for correto afirmar que a historiografia chamada positivista e/ou metódica ancorou-se nas premissas
da objetividade do documento histórico e da infalibilidade do método crítico para sustentar sua razão
científica, também é certo dizer que as novas abordagens historiográficas foram constituindo-se a partir
da crítica a esses e outros fundamentos históricos. Em um processo lento, cheio de idas e vindas, e por
vezes marcado por um tom inflamado e emotivo, os membros da nova comunidade de historiadores foram
problematizando o conceito de documento histórico; a natureza da prática da pesquisa histórica; a
concepção de ciência e o próprio ofício do historiador.
Ao invés de documento-verdade, expressão fiel da realidade, as fontes de pesquisas passaram a ser
concebidas como vestígios e/ou marcas de ações motivadas por interesses e intenções. Nesses
fragmentos do passado - agora não mais restritos aos documentos escritos - afirmou-se o interesse dos
historiadores na compreensão do jogo de intenções, explícitas e implícitas, que pudesse ter motivado as
atitudes e os desejos dos diferentes atores e grupos sociais que compõem as sociedades do passado.
Contrariamente a seus predecessores, os novos historiadores negam a ideia da objetividade e da
transparência absolutas dos documentos. Evidências das ações e dos ideais dos homens no tempo, as
fontes de pesquisa só podem servir como dados/evidências para a construção de explicações históricas,
se devidamente interrogadas pelo historiador.
Nesse movimento, anunciava-se um novo conceito de conhecimento histórico. Ainda que ancorado
na realidade e destinado a explicá-la, o conhecimento histórico deixava de ser a mera duplicação do real
para tornar-se uma construção intelectual, ancorada na articulação entre categorias conceituais e
evidências históricas.
Com novos parâmetros, a nova comunidade de historiadores não apenas pôs em xeque os pilares da
historiografia tradicional, como também propôs um novo papel para o historiador. Da antiga identificação
entre conhecimento histórico e realidade e/ou verdade, passou-se à tese de que o conhecimento histórico
é oriundo de construção intelectual dotada de incertezas, válida apenas no campo das probabilidades e
destinada a auxiliar na compreensão das relações sociais e das intenções dos diferentes atores sociais
do passado.
Na década de 1970, os historiadores franceses Jacques Le Goff e Pierre Nora organizaram uma
coletânea na qual é possível perceber para onde aponta essa nova topografia de questões a ordenar o
pensar e a reflexão historiográfica.
Os então chamados novos problemas, novas abordagens e novos objetos da História sinalizam, de
um lado, as tendências de uma nova historiografia, fruto de décadas de prática de pesquisa documental
de natureza múltipla. De outro, apontam alguns dos desafios teórico-metodológicos que permeariam, ad
infinitum, o exercício do ofício de historiador das gerações futuras.
Em meados da década de 1980, as questões postas por estes e outros estudos já integravam os
cursos de teoria e metodologia da história em muitas universidades brasileiras, além de influenciarem as
pesquisas desenvolvidas por alunos de graduação e de pós-graduação strictu sensu de diferentes
disciplinas e linhas de pesquisa.
Além de re-significar as ideias-chave que estruturaram os fundamentos da historiografia do século XIX,
as novas abordagens historiográficas vêm apontando para a necessidade de se compreender a dinâmica
de funcionamento de outras dimensões da realidade, como o entendimento das manifestações culturais
e/ou simbólicas.
Da mesma maneira que o primeiro movimento de crítica à historiografia tradicional fez-se sob o
impacto do diálogo da História com outras áreas do conhecimento científico - notadamente com a
Sociologia, a Economia e a Demografia -, nas três últimas décadas do século XX, os historiadores também
voltaram seu olhar para a Antropologia, a Arqueologia, a Semiologia, a Literatura, a Música, a História da
Arte, a Geografia, dentre outras áreas do conhecimento.

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Ao combinar diálogos interdisciplinares e análise de outras fontes de pesquisa, a História-
conhecimento tem deslocado sua prática de pesquisa para os campos da cultura. Ou seja, para “áreas”
da realidade em que as práticas sociais sinalizam, sob outro registro, a dinâmica (sempre tensa e
conflitiva) das relações sociais e materiais. Aí, mais do que em qualquer outra dimensão da realidade, os
atores sociais criam formas próprias para comunicar e exprimir seus atos. Nessa perspectiva de trabalho,
os historiadores, sempre em diálogo com teóricos de outras áreas do conhecimento, põem em xeque uma
das maiores certezas do século XIX: a unidade orgânica entre todas as manifestações dos atos sociais
de uma mesma época.
Tal corte com esta dimensão da tradição do pensamento do século XIX criará as condições para
enxergar-se as múltiplas faces do real e, consequentemente, tornar mais compreensível a tese, já antiga,
mas ainda não muito assimilada, de que a História-conhecimento, assim como as demais ciências, não
se destinam a revelar o real “tal qual ele é”. Seu papel, enquanto um modo de conhecer rigoroso e
socialmente produzido é, antes de tudo, tentar entender os sentidos atribuídos às ações sociais.
Hoje já não mais se confunde história e memória, por exemplo, como frequentemente ocorria na
historiografia oitocentista. Os diálogos interdisciplinares entre História e outros campos do saber têm sido
igualmente frutíferos no que tange ao estudo dos sistemas de representações históricoculturais, tão
necessários à compreensão das diferenças históricas e dos códigos culturais, os quais contribuem para
a criação de sistemas de representações das práticas sociais, por sua vez partilhados, de forma
diferenciada, por distintos grupos em uma mesma sociedade.
É mediante esses sistemas de representação que as instituições, sobretudo as de natureza política,
tendem a reforçar e até mesmo a inventar memórias e identidades coletivas destinadas a criar laços de
solidariedade e coesão social. Além de criar novos símbolos e/ou re-editar alguns dos que já contam com
a aceitação de grupos sociais, esses sistemas simbólicos também desempenham a função de criar o que
M. Halbwachs chama de “quadros coletivos impostos pela sociedade”, ou seja, referenciais partilhados
por diferentes grupos sociais que, por sua vez, permitem a comunicação entre eles.

Novas orientações pedagógicas sobre os saberes históricos escolares


Os saberes históricos escolares não são resultado da simplificação ou vulgarização do saber
acadêmico de referência. Ou seja, não são uma combinação simples entre conteúdos e métodos de
ensino. Para se compreender as especificidades do saber histórico escolar é necessário não só o exame
das relações entre historiografia (saber de referência) e ensino, mas também considerar as condições em
que este saber vem sendo produzido e difundido. Em outras palavras, importa questionar em que
circunstâncias o saber histórico escolar é constituído: Por quem, para quem, quando e onde é ensinado?
Sob que critérios e estratégias? Que sujeitos históricos vem formando e pretende formar?
Nesse sentido, o que os currículos e programas - oficiais ou não - propõem como conteúdo a ser
trabalhado é resultado, de um lado, de uma operação complexa que envolve um conjunto de elementos
teórico-metodológicos de dimensões da realidade social e, de outro, de uma operação não menos
complexa, que é a de selecionar dentre as inúmeras alternativas do conhecimento acumulado, aqueles
que melhor possam atender a finalidades sociais de um determinado momento histórico das sociedades
e aos sujeitos da aprendizagem.
Esse caráter político e social do qual se revestem os processos de elaboração dos currículos e
programas escolares requerem algumas considerações a respeito das finalidades que ora atribuímos a
essa proposta em questão, uma vez que essas são também fruto de uma construção social. Desde o
século XIX, quando no mundo ocidental, os Estados Nacionais se constituíram sob a forma como os
conhecemos hoje, que se tem atribuído ao ensino de história, a função social de fornecer às novas
gerações os elementos constitutivos da memória histórica da nação, e as representações coletivas
necessárias ao avanço dos projetos políticos e culturais dominantes. Função essa não isenta de conflitos
e negociações.
Em geral, a História guiada por um racionalismo utilitário e pragmático, conhecida como Positivista,
encontrou nos currículos escolares e nos manuais didáticos um campo fértil para a exaltação de
sentimentos patrióticos. Muitas vezes, seus temas e suas abordagens tendiam a promover e alimentar
práticas cívicas destinadas a conformar um perfil de cidadão que atendia mais a interesses político-
ideológicos específicos, o que, propriamente, ao desenvolvimento de posturas críticas e/ou reflexivas
acerca de seu papel na sociedade.
Segundo Laville (1999), durante muito tempo a História teve como aparelho didático de ensino peças
de uma narrativa cuidadosamente selecionada, quais fossem, “fatos seletos, momentos fortes, etapas
decisivas, grandes personagens, acontecimentos simbólicos e, de vez em quando, alguns mitos
gratificantes” (LAVILLE, 1999: 126). Essa situação retratava o objetivo de se formar, através do ensino
de História, cidadãos-súditos, fiéis e obedientes aos princípios da Nação.

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No caso do Brasil, essa foi a direção predominante nos currículos de História, desde a instituição desta
como disciplina escolar (no final da década de 1830) até meados dos anos 70. Muitas foram as variações
de conteúdo dos currículos - da História Sagrada à História Nacional, da História Universal à História da
Civilização - ao longo desse largo período. Mas a direção metodológica positivista e o objetivo de formar
cidadãos-súditos, a visão da História, como disciplina capaz de formar indivíduos, ora patriotas ora
civilizados, permaneciam como traço constituinte dos currículos oficiais.
Essa concepção de História encontra também seu eco nos livros didáticos mais utilizados no País.
Pode-se citar como exemplos tanto os dois volumes do manual didático de história de Joaquim Manoel
de Macedo (1820-1883), “Lições de História” do Brasil para uso dos alunos do imperial Colégio de Pedro
II, quanto às teses defendidas por João Ribeiro (1860-1934), autor de “História do Brasil”. A importância
destes e de outros manuais foi tal que alguns estudiosos da atualidade defendem a tese de que muitas
das ideias contidas no livro de João Ribeiro estiveram presentes na maioria dos manuais didáticos de
História até o início de 1960.
A partir da década de 1970, a presença da nova historiografia francesa e inglesa do século XX fez-se
marcante nas reuniões, nacionais e regionais, da Associação Nacional de História (ANPUH) que, cada
vez mais, passaram a funcionar como espaços para divulgação dos debates e embates historiográficos
em voga nas universidades brasileiras e estrangeiras. Em meio a esse clima de efervescência intelectual,
professores de História dos níveis Fundamental e Médio passaram, ainda que timidamente, a ingressar
nos cursos de pós-graduação lato sensu e stricto sensu. Esse deslocamento em direção às universidades
era, por sua vez, motivado tanto pela insatisfação com o trabalho em curso quanto pela necessidade de
discutir, de forma sistemática, o emprego de novas metodologias de ensino e outras demandas próprias
do universo escolar relativas à disciplina História. Esse movimento extraoficial não impediu, no entanto,
que as orientações curriculares oficiais mantivessem a mesma direção que marcava o ensino de História
desde sua instituição.
Para Fonseca (1995), a década de 1980 foi, além de período de redemocratização das instituições
escolares, um momento de tentativa de resignificar o papel da História como disciplina escolar através de
revisões curriculares. Nas duas propostas oficiais de maior repercussão na época, a escola e seus
sujeitos (professores e alunos) passam a ser interpretados como produtores de conhecimento.
Em São Paulo, procurou-se acabar com a hierarquização pesquisa/ensino, trazendo para a escola a
dimensão crítica, ativa do conhecimento. A proposta era direcionada pela Nova História francesa (com a
proposta de abordagem temática) e pela História Social Inglesa, com o tratamento da ação do homem
como tema central e a sugestão do eixo temático “trabalho”. Havia a preocupação de repensar a relação
discurso/poder, desmistificando heróis e fatos oficialmente instituídos.
Em Minas Gerais, a proposta curricular criticava a linearidade e o etapismo das abordagens anteriores.
Adotava, abertamente, a concepção marxista de história: a valorização do método como garantia de
objetividade e cientificidade, a valorização das teorias, dos conceitos instituídos para a produção do
conhecimento histórico (FONSECA, 1995: 96).
Embora possuíssem orientações teóricas e metodológicas diferentes, ambas mostravam a
necessidade de trazer para a sala de aula novos temas, novas abordagens, que contemplassem,
sobretudo, “os excluídos da história”. Ambas, também, apresentam um deslocamento do eixo da função
política da História: não mais nacionalizante ou civilizatória, mas a preocupada com a construção da
cidadania.
Nos últimos anos, não têm sido poucas as reformas do ensino no Brasil, incluindo as do ensino de
História. Em Minas Gerais, por exemplo, num período de pouco mais de uma década (entre a segunda
metade dos anos 80 e a segunda metade dos anos 90), assistimos à elaboração de três reformas de
programa de História (sendo esta a mais recente). Essas reformas foram promovidas assimilando certas
renovações historiográficas e educacionais, buscando consonância com os “novos ares” do tempo: de
uma sociedade que busca consolidar a democracia e de um mundo em acelerado processo de
globalização dos mercados e da cultura que exige, dos Estados, redefinições das bases sobre as quais
se assentam a identidade da nação. Estas se fizeram não sem confronto ou embates entre diferentes
projetos de formação da consciência social histórica das novas gerações.
No final dos anos 90, uma reforma de âmbito nacional propôs parâmetros, referências e diretrizes
curriculares nacionais para todos os segmentos de ensino e, especificamente, para as diversas disciplinas
escolares, a partir do Ensino Fundamental. No caso da História, os Parâmetros Curriculares Nacionais -
tanto de Ensino Fundamental (Anos Iniciais e Anos Finais; 1998) quanto de Ensino Médio (PCN/99 e
PCN+/02) - colocaram em discussão novas referências para o trabalho em sala de aula.
Os PCNs de História propõem reflexões importantes sobre as relações existentes entre a historiografia
(ali chamada de saber histórico) e o conhecimento veiculado e produzido nas escolas (chamado de saber
histórico escolar). Fazendo a distinção entre esses dois tipos de “saberes”, considera o aluno como sujeito

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ativo no processo de aprendizagem e ressalta que os processos internos de aprendizagem devem ser
considerados como parte importante do processo de construção do saber histórico escolar. Além disso,
os PCNs destacam a necessidade de se considerar, no ensino de História, as múltiplas dimensões do
tempo para garantir uma melhor compreensão histórica pelos alunos, e a necessidade de ter nas
competências cognitivas um dos objetivos da formação dos alunos.
Desde então, tem-se assistido à proliferação de manuais didáticos e de outros recursos pedagógicos,
como CD-roms e livros paradidáticos, por exemplo, afinados com o rumo dos debates historiográficos
contemporâneos e que consideram as especificidades do saber histórico escolar.

A História-problema e a Construção do Conhecimento pelos Alunos


Uma das questões que mais tem desafiado os professores de história engajados em processos de
mudanças curriculares e de suas práticas de sala de aula é a de como envolver ativamente os alunos nos
processos de aprendizagem da história, visando ao desenvolvimento de um raciocínio crítico e de
sensibilidades para a participação política e social nos processos de mudança que requerem o tempo
presente. Como nos adverte Hobsbawm , “a destruição do passado - ou melhor, dos mecanismos sociais
que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas - é um dos fenômenos mais
característicos e lúgubres” (...) Quase todos os jovens de hoje - irá ele nos alertar, “crescem numa espécie
de presente contínuo, sem qualquer reação orgânica com o passado público da época em que vivem. Por
isso, os historiadores cujo ofício é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se mais importantes do que
nunca (...)”.
Esse processo de esquecimento do passado pode, comprometer o desenvolvimento da noção de
temporalidade histórica, pois essa depende da aquisição do sentido do tempo. O tempo histórico requer
um sentido da existência do passado, bem como do presente; requer um sentimento de pertencer, de
estar dentro da história.
A história-problema, preocupada em estudar e compreender as relações entre o presente e o passado,
assim como as construções do conhecimento pelos alunos, têm sido constantemente evocada como
alternativa para se alcançar esses objetivos. E essas são as escolha que fizemos para orientar
pedagogicamente o programa. No entanto, muitas dúvidas são levantadas tanto quanto a sua
aplicabilidade quanto aos aspectos teóricos e conceituais aí presentes. O que entende por história-
problema e a sua adoção no processo de ensino-aprendizagem? O que se entende por construção do
conhecimento histórico pelos alunos? Quais as condições necessárias para levar à sala de aula tais
perspectivas? Em que medida esses dois aspectos se articulam?
A evolução recente da historiografia mostra, segundo Furet, que nós passamos de uma narração
cronológica, de reconstituição de fatos encadeados ao longo do tempo para uma história- problema,
diferentemente da história tradicional, visa ao exame analítico de um problema, de questões através de
diferentes períodos históricos. Pode-se dizer que, enquanto na perspectiva tradicional a explicação
histórica obedece à lógica da narração, na qual o antes explica o depois, a história-problema procura
compreender e explicar problemas (e em determinadas circunstâncias contribuir para sua solução), a
partir não só da formulação de problemas e questões para os quais buscamos respostas, como também
pela formulação de hipóteses conceituais que poderiam explicá-los.
Na perspectiva da história-problema, o historiador, como ressalta Furet, abandona sua pretensão de
narrar tudo aquilo que se passou de importante na história da humanidade ou de uma parte da
humanidade. O historiador se torna consciente de que ele escolhe algumas questões, em torno das quais
ele estará construindo o seu objeto de estudo, estabelecendo diálogo entre o presente e o passado.
Assim, a delimitação do período e do conjunto de acontecimentos que deste fazem parte - como é usual
numa perspectiva tradicional da história - não é suficiente. Exige-se, ainda, que a delimitação de
problemas para os quais buscamos respostas (nunca definitivas) estejam em relação com os problemas
e questões colocados pelo presente. Nessa proposta, como veremos mais adiante, propomos uma
questão - problema maior que orientou a escolha dos temas: Quais foram os processos (obstáculos,
recuos e avanços) de constituição da cidadania e da democracia no Brasil?
Para que a concepção de história-problema possa ser posta em prática, será necessário que a
dinâmica de sala de aula fuja dos percursos tradicionais, em que as aulas são, comumente, centradas na
figura do professor, que se encarrega, por sua vez, de expor conteúdos que, em seguida, devem ser
memorizados pelos alunos. Sugere-se a proposição de práticas escolares calcadas na concepção de
construção do conhecimento pelo sujeito da aprendizagem, mediadas pelo professor. Do ponto de vista
didáticopedagógico, os alunos serão investidos de um outro estatuto epistemológico, aquele de sujeitos
ativos de seus processos de aprendizagem. Esta perspectiva vem ao encontro da direção dominante que
tem assumido as mudanças no ensino de história a partir da década de 70, em várias partes do mundo,
que pode ser confirmada por Thompson. Para esse pesquisador inglês do ensino de história, existe um

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traço central em todas as sugestões de mudança no ensino de história nos últimos 30 anos. O que se
tornou central a ser ensinado não é “o passado tal como aconteceu”, mas sim como nós podemos adquirir
nosso conhecimento sobre o passado.
Ora, se nossa concepção de história e da produção do conhecimento histórico não é mais aquela do
discurso acabado e único, mas sim de um conhecimento em constante mutação, que se constrói a partir
de premissas variadas e, ainda, que é uma operação explicativa de um determinado problema que guarda
relações com a questão que nos colocamos para responder, várias mudanças deverão ocorrer no modo
de desenvolver nossas aulas.
Muito provavelmente, nós nos perguntaríamos se nossos alunos teriam as condições sociocognitivas
exigidas para lidar com uma história-problema. As operações mentais presentes nesses procedimentos
de produção e de raciocínio seriam acessíveis aos alunos?
Ensinar história através dos procedimentos de produção do conhecimento histórico, e não só a partir
de seu produto, aumenta em muito as chances de desenvolvimento de raciocínio histórico - esta é uma
hipótese que vem orientando muitas práticas inovadoras do ensino da história. É bem verdade que ensino
de história que, tradicionalmente, fez apelo à capacidade de memorização de um discurso tido como
pronto e único, impediu-nos de conhecer as capacidades potenciais, e diríamos mesmo as reais, dos
nossos alunos aprenderem história. Para que possamos conhecer sua capacidade e dificuldades em
raciocinar historicamente, não teremos outra maneira senão a de colocá-los em situações de ensino-
aprendizagem propícias a esse desenvolvimento. Isso requer que adotemos uma atitude de
professorinvestigador, de quem se indaga, de quem se pergunta, e busca os meios teóricos e práticos
para entendê-las e superá-las. Por exemplo, deveríamos nos perguntar a respeito da maneira como os
adolescentes pensam em história. O que eles trazem como conhecimentos prévios? São eles carregados
de potencialidades de compreensão ou ainda de preconceitos e estereótipos? Quais são as formas de
raciocínio ou hipóteses empregadas por eles quando são confrontados com problemas a serem
“resolvidos”? De que maneiras lidam com a relação passado-presente? Quais são as questões que
colocam as diferentes fontes documentais? Como constroem suas explicações a respeito dos
acontecimentos históricos? São capazes de estabelecer relações entre diferentes fatores e dimensões
da vida social? Essas perguntas nos impõem a necessidade de não só melhor conhecer a natureza do
pensamento histórico, mas, igualmente, o quê e como os alunos pensam e aprendem história?
A importância do desenvolvimento do raciocínio histórico para a compreensão histórica é inegável.
Compreende-se pelo raciocínio histórico a capacidade de identificar permanências e mudanças entre o
presente/ passado e futuro, a capacidade de relacionar os acontecimentos e seus estruturantes de longa
e média duração, a capacidade de identificar simultaneidade de acontecimentos no tempo, a capacidade
de relacionar diferentes dimensões da vida social e seus ritmos diferenciados de mudança, a capacidade
de elaborar contextos que deem significado aos fatos históricos, a capacidade de propor problemas a
serem respondidos pela relação passado e presente.
Para que os alunos desenvolvam raciocínio histórico, devemos nos indagar em que medida os
conteúdos, objetivos, metodologia de ensino empregada e a ação mediadora do professor, em sala de
aula, estariam possibilitando aos alunos desenvolverem estruturas cognitivas que acolham a
complexidade do conhecimento e do raciocínio histórico.
O conceito de zona de desenvolvimento proximal proposto por Vygotsky abre uma perspectiva
interessante para avançar nossa compreensão a respeito da importância do papel da ação mediadora do
professor nos processos de ensino
- aprendizagem. Para Vygotsky (1984), a “zona de desenvolvimento proximal é a distância entre o nível
de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e
o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de
um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes”. Para esse autor, a aprendizagem é,
portanto, um processo sócio histórico, mediado pela cultura, em que se atribui aos mais capazes (de
modo especial ao professor) o papel de impulsionar o desenvolvimento e a aprendizagem por meio das
interações realizadas em sala de aula.
Grande parte das atividades desenvolvidas pelos alunos em sala de aula é mediada pelo professor, o
que nos convida para uma reflexão a respeito de nossa própria ação nas relações que estabelecemos
não só com o conteúdo que ensinamos, mas igualmente nas interações que promovemos com alunos,
por meio das linguagens que empregamos e da nossa fala, de um modo especial. Como o professor
através da sua fala apoia o processo de aprendizagem de seus alunos? Qual a variedade de interações
que ocorrem nesses momentos? Como o professor trabalha as experiências e aprendizagens prévias
trazidas pelos alunos? Como o professor promove a construção coletiva de significados, em suas aulas
expositivas? Enfim, quais as mediações que o professor faz quando se propõe levar os alunos a

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desenvolverem o raciocínio histórico, a história-problema? De que maneira o professor promove o
trabalho dos alunos com as diferentes fontes de produção dos conhecimento histórico?
Propor-se-á aos alunos que construam conhecimentos a partir de questões colocadas às diferentes
fontes históricas, esperando-se que essas questões surjam da problematização do presente, de suas
experiências sociais, de seus conhecimentos prévios a respeito do tema em questão.
Como lembra Elza Nadai, não é suficiente desenvolver nos alunos a capacidade de propor questões
às diferentes fontes históricas. Nós devemos convidar os alunos a problematizarem as fontes, a
formularem problemas/ questões e, para isso, devemos torná-los capaz de fazer uso de conceitos, de
“manipular” o tempo histórico, de se apropriarem de conhecimentos já acumulados sobre o tema em
estudo. Supõe-se, ainda, que é a partir da escolha de temas - feitas, em geral pelo professor, importantes
à compreensão da realidade presente - que poderemos tornar o ensino de história mais atrativo e
formador de capacidades e atitudes necessárias à formação de cidadãos críticos e conscientes de seu
papel na vida social.
As fontes de informação histórica, tais como, iconográficas (mapas históricos, pinturas, fotografias),
os objetos da cultura material, as fontes orais e escritas, os gráficos e as tabelas, os “lugares da memória”:
museus, sítios arqueológicos, monumentos, traçados das ruas e outros, têm para o ensino e
aprendizagem de História o valor de trazerem para o tempo e espaço presentes representações e objetos
ausentes - ou situadas em outras temporalidades; têm também o valor de representarem a diversidade
da experiência e das intencionalidades humanas num mesmo tempo e espaço; têm o valor de serem
portadoras de memórias coletivas e históricas (DUTRA, 2003), de contribuírem para formação do
imaginário dos sujeitos e das identidades das nações (SIMAN, 2001), de construir conceitos e criar
“pontes” entre as representações dos alunos e o novo conhecimento a ser adquirido.
No entanto, como já foi dito, as fontes não são a verdade histórica, por essa razão o professor deverá
promover, junto aos alunos, a sua problematização. As formas de exploração de um documento devem
incluir, além da leitura do que se encontra visível ou mais facilmente identificável, a leitura do que não
está visível e, para tal, o professor deverá propor questões que auxiliem o aluno neste empreendimento.
Esses procedimentos ajudarão os alunos a compreenderem que existem, na história e no
conhecimento histórico, diferentes maneiras de ver, agir e de representar a realidade.
Os alunos poderão também compreender mudanças que se processam ao longo do tempo. Assim, o
uso dos documentos, além de ter um lugar fundamental na construção conhecimento histórico, permite o
desenvolvimento do raciocínio histórico.
Por meio da exploração dos documentos, pode-se desenvolver capacidades de formular problemas,
levantar questões, elaborar hipóteses susceptíveis de alcançarem respostas, além de desenvolver as
habilidades de observação, identificação, comparação, percepção de relações. Para tal é necessário
inserilas no contexto de sua produção (quem as produziu, quando, com que intencionalidade), além de
aprender a indagá-las segundo os problemas que queremos esclarecer.
Diante de um conjunto de fontes iconográficas, por exemplo, o professor poderá solicitar aos alunos
que descrevam a cena retratada, identificando os elementos comuns e não comuns aí presentes e que,
em seguida, identifiquem a época em que a cena poderia ter se passado e/ ou se produzido, o local onde
poderia ter acontecido, as intenções de quem as produziu, a fim de que possam atribuir significado para
o que foi observado.
Na escolha dos documentos não podemos também perder de vista o seu aspecto motivador, sua
riqueza de detalhes, a sua adequação ao conhecimento e a experiência sociocultural dos alunos.

Projetos Interdisciplinares
Além dessas diretrizes, não podemos nos esquecer de que essa proposta curricular de História busca
a integração interdisciplinar. A exigência que hoje nos apresentamos não é mais somente o alargamento
das fronteiras internas às disciplinas. Precisamos identificar temas, núcleos temáticos, problemas, que
possibilitem aos alunos lançarem mãos de conceitos, procedimentos científicos, habilidades atinentes a
diferentes campos do saber para solucionarem as questões propostas.
Do ponto de vista educacional, pretende-se, portanto, formar sujeitos capazes de lidar com a
complexidade da vida social, com a complexidade dos problemas que se apresentam no tempo presente.
A natureza complexa dos problemas da sociedade atual exige que se leve em conta, na análise e solução
dos problemas, um maior número possível de pontos de vista, o que pressupõe a formação de visões
mais globalizadoras e estruturas mentais de raciocínio mais flexíveis.
Como argumenta Santomé, a complexidade das sociedades nas quais vivemos, onde a “interligação
entre diferentes nações, governos, políticas e estruturas econômicas e sociais, levam a análises também
integradas, nas quais devem se consideradas todas as dimensões de foram interrelacionada, integrada”.
Nesse sentido, espera-se que as aprendizagens que incluam a articulação das dimensões científicas,

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étnicas, históricas, culturais favoreçam a formação de alunos melhor preparados para o exercício de suas
atividades profissionais e de cidadania.
Por fim, ressaltamos que é nesse contexto de debates e empreendimentos de inovações
historiográficas, educacionais e de atendimento às exigências e urgências sociais de nosso tempo que
essa proposta se constrói, propondo para discussão uma seleção de conteúdos, habilidades, atitudes,
competências, atividades e perspectivas escolhidas para apreciação, complementação dos professores.
Comecemos pelos critérios utilizados para a seleção dos conteúdos para, em seguida, apresentarmos o
que se segue.

Critérios de Seleção de Conteúdo Curricular


As recentes discussões que vêm se desenvolvendo no campo da Teoria do Currículo convergem num
ponto que é fundamental apontar a essa altura da exposição: toda proposta curricular é alicerçada em
uma seleção cultural de conteúdos.
A elaboração de propostas curriculares implica, por um lado, a reiteração da função social da escola
como locus de perpetuação e reconstrução de alguns saberes socialmente constituídos. Por outro lado,
a inclusão de determinados conteúdos nas propostas curriculares de uma disciplina escolar implica o
reconhecimento cultural de saberes socialmente construídos.
Nessa perspectiva, o debate atual sobre a seleção de conteúdos para propostas curriculares aponta
para duas direções. Uma, a de manutenção, nos currículos, de alguns saberes escolares tradicionais,
considerando-se sua dinâmica de construção e reconstrução. Outra, a de inserção de novos saberes que
se apresentam, tanto nas propostas curriculares e manuais didáticos e paradidáticos, como no cotidiano
escolar, orientando para o atendimento de sua importância, para o contexto cultural atual e local.
Em concordância com as diretrizes para o Ensino Médio anteriormente expostas que apontam para a
necessidade de construção de parâmetros de uma nova cidadania, a presente versão preliminar da
Proposta Curricular de História, do Ensino Médio para a rede estadual de Minas Gerais fundamentase,
por um lado, nos princípios metodológicos da “história-problema” e da construção do conhecimento pelos
alunos, e, por outro, no par conceitual cidadania/democracia. Espera-se assim que a escolha desse
grande eixo norteador da proposta represente uma seleção socialmente significativa para o momento em
que vivemos.
No que se refere à opção pela “história-problema”, é importante retomar a discussão desenvolvida no
item 3.1 e no item 3.3 deste texto. Discutiram-se, no item 3.1, os caminhos que historiografia vem tomando
desde o século XIX, quando a História Metódica propunha uma narrativa calcada na reconstituição de
fatos encadeados unicamente pelo tempo linear e sinônimos de verdade, para uma concepção de história
que propõe a análise de um tema ou de um problema, através de diferentes períodos históricos e
temporalidades múltiplas, à luz de uma determinada rede conceitual. E no item 3.3 discutiram-se as
implicações da sua utilização no campo didático-pedagógico escolar.

A presente proposta visa estimular o raciocínio histórico, lógico e compreensivo, acerca de questões
importantes para o entendimento da história de qualquer sociedade, principalmente da brasileira. Na atual
proposta curricular, parte-se do pressuposto de que compreender o processo de formação, constituição
e desenvolvimento da sociedade brasileira é imperativo para o exercício da cidadania e da prática
democrática - categorias-chave da articulação de temas da proposta curricular, como se verá adiante -
no Brasil contemporâneo.
Vale ressaltar que a importância de se estudar a história do Brasil não significa excluir a história de
outras sociedades das salas de aula do Ensino Médio. Propõe-se que a dinâmica histórica brasileira seja
pensada em suas estreitas e constantes relações com o contexto internacional. Tampouco se pretende
privilegiar a história do Brasil para exaltar sentimentos de nacionalismo e/ou de patriotismo, pois não se
compreende que tais valores devem constituir nem o saber histórico nem o saber histórico escolar.
Assim sendo, a ênfase atribuída ao estudo da dinâmica histórica brasileira visa, dentre outros aspectos,
permitir uma melhor compreensão acerca dos problemas vividos pelos próprios alunos, cidadãos
brasileiros, jovens que têm, em média, entre quinze e dezoito anos e que já têm uma visão da história do
Brasil e de suas articulações com a chamada história universal. Como já foi dito, os temas relativos à
dimensão “internacional” da história - ou seja, relativos a outras realidades, diferentes da “nacional”
(nacional que pode também ser compreendido como regional ou local, em função da escolha do tema ou
subtema que se venha propor para estudo) - funcionarão, ora como contraponto, ora como
complementares ou imprescindíveis para o entendimento de questões específicas da história do Brasil.
Será fundamental para os alunos, ao buscarem explicações possíveis para essa questão, conhecer
as especificidades da sociedade brasileira, cuja história é fortemente marcada, por um lado, pela herança
colonial e escravista e, por outro, pelos constrangimentos estruturais resultantes de sua inserção

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dependente na órbita do capitalismo internacional. E, ainda, que relacionem tais especificidades da
sociedade brasileira com momentos-chave da dinâmica histórica de diferentes sociedades desde o
alvorecer da Era Moderna. Por isto, foi eleito como dimensão de análise comum a três eixos temáticos,
o nacional e o internacional.
A presente proposta curricular alinha-se com os princípios da históriaproblema na medida em que
propõe que o ensino de história busque a construção de explicações para problemas, a partir não só da
formulação de questões para os quais buscamos respostas, como também da formulação de hipóteses
conceituais que poderiam explicá-las - tomando como objeto de análise o conteúdo histórico. É a partir
das categorias-chave (democracia/cidadania) e das temporalidades (presente/ passado), acima referidas,
que o programa-referência foi pensado, concebido e estruturado.
A escolha da questão-problema, ou eixo norteador da proposta, partiu de um problema
contemporâneo importante para o corpo discente do Ensino Médio de Minas Gerais, que pode ser
traduzido na pergunta: Quais foram os processos históricos de construção da cidadania e da democracia,
com as características com se apresentam hoje na sociedade brasileira? O entendimento equilibrado dos
dilemas e dos desafios hoje vividos pela sociedade brasileira depende, em grande medida, da
compreensão, de um lado, dos obstáculos enfrentados para a construção de uma sociedade democrática
e cidadã no passado e, de outro, das conquistas até agora logradas e dos caminhos ainda por trilhar. A
percepção dessa dialética temporal é crucial para se entender que o hoje não é uma mera extensão do
ontem, e tampouco o amanhã será a sequência linear da atualidade. Porém, não há como negar que, em
certa medida, o presente prolonga, reedita e recria, em diversos níveis, experiências já afastadas no
tempo. Em geral, somos levados a contemplar apenas as experiências recentemente vividas. Tendemos
a esquecer-nos que nossas vidas trazem fragmentos das vidas de outros tempos e, sem que o saibamos,
estamos, aqui e ali, a dar-lhes continuidade. A compreensão desse emaranhado de questões é um dos
requisitos básicos para que os jovens entendam a si mesmos e, sobretudo, aprendam a respeitar e a
conviver com as diferenças, sejam elas de que ordem for.
Por todas essas razões, essa proposta foi pensada em função de uma lógica problematizadora.
Acredita-se que a história-problema será ainda mais possível de ser compreendida e trabalhada por
alunos que já se aproximam da maioridade e, portanto, transitam por lugares interditados às crianças,
vivenciam experiências díspares em seus diversos grupos de convívio, têm noções das diferenças entre
o que venha a ser um espaço público e um espaço privado, e até mesmo dos laços que vinculam um e
outro. Por essas especificidades próprias da faixa etária e das inserções sociais que conformam o perfil
majoritário do público a que se destina essa proposta curricular, é crucial que ela permita pensar o real a
partir de problemas. Quer dizer, de indagações de natureza analítica.
Sendo assim, além de retomar a questão-base da proposta - anteriormente destacada - ao analisar os
temas históricos em sala de aula, o professor deve construir, com os alunos, novas questões relacionadas
à questão-base da proposta. Por exemplo, ao analisar temas referentes ao período colonial, o professor
deve relacioná-los, entre si, a partir de questões outras, tais como: Em que medida a longa duração do
sistema colonial-escravista, fortemente centralizador e autoritário, pode ter contribuído para a
permanência de uma cultura excludente e antidemocrática ainda hoje presente em muitos níveis da vida
sociocultural e política do País?
Ou, ainda, pensando de uma maneira mais genérica, como sugere Canclini, pode indagar: Por que,
na democracia moderna dos países latino-americanos, as camadas populares e as elites lançam mão de
relações arcaicas de poder? E mais, até que ponto que a construção de uma visão analítica de nossas
heranças histórico-culturais poderá nos auxiliar na escolha equilibrada de condutas sociais, éticas e
políticas que apontem, cada vez mais, para a defesa e a ampliação da democracia e da cidadania?
Uma construção lógica dessa natureza exige não somente a identificação de questões históricas-chave
como a que foi posta na base deste currículo e as que foram apontadas acima - como a delimitação do
período cronológico e do conjunto de acontecimentos a ele relativo, o que pode parecer uma perspectiva
tradicional de história.
A partir dessa perspectiva, estruturou-se a presente versão preliminar da Proposta Curricular de
História em três eixos temáticos, delimitadas cronológica e conceitualmente, a fim de permitir que
professores e alunos interajam com o conteúdo histórico no sentido de buscar explicações possíveis para
o problema fundamental proposto - a construção da cidadania e da democracia no Brasil contemporâneo.
A proposta curricular propõe três cortes temporais para a análise da história do Brasil e,
consequentemente, do contexto internacional. O primeiro abarca os séculos tradicionalmente conhecidos
como Período Colonial, indo, pois, desde o início da colonização portuguesa na América até a
transferência da corte de D. João VI para o Brasil. Optamos por chamá-lo de Mundo Moderno, colonização
e fronteiras étnico-culturais, uma vez que, de acordo com a historiografia atual - que cada vez mais ilumina
e esclarece as especificidades do universo colonial - as ações sociais estiveram fortemente marcadas

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pela rede de tensões que permeou tanto os interesses e desejos colonialistas quanto os dos diferentes
grupos étnico-culturais radicados no território em processo de colonização. Enquanto os primeiros
estavam claramente expressos nas regras do sistema colonial organizado, externamente, pela Metrópole,
os interesses “internos” eram definidos pelos grupos que viviam na colônia e definiam normas próprias
de convivência social e política. Exclusão social, violência física e simbólica e centralismo jurídico e
político foram uma constante dessa longa duração histórica, engendrados na interseção entre os
interesses “internos” e “externos”.
O segundo corte cronológico proposto cobre os anos entre a vinda da Família Real portuguesa para
o Brasil e a Revolução de 1930, e tem como tema, questão central, a compreensão da “Cultura e Política
na construção do Estado Nacional Brasileiro (1822-1930)”.
Ora, nesse interregno, o Brasil vive dois movimentos distintos em torno de uma mesma questão: a
construção da identidade nacional. Ao longo do período imperial, as elites dirigentes e a monarquia
empenharam-se, em atos e ideias, na construção das bases da identidade nacional, cuidadosamente
estruturada para ressaltar seus vínculos com a história colonialista. Para tal, não se mediram recursos,
materiais e ideais, a fim de manter a integridade física do território conquistado pela monarquia portuguesa
e para se propor uma imagem padrão do brasileiro. Referimo-nos à defesa da tese do “branqueamento”,
de pele e alma, do brasileiro, objeto até mesmo dos programas escolares das escolas públicas do País.
O terceiro corte temporal articula os conceitos de Mundo contemporâneo, República e Modernidade,
tomando como marco cronológico o período entre 1930 e os dias atuais. Essa delimitação, tanto
conceitual quanto cronológica, foi assim delineada tomando como referência o fato de que nesse período
várias foram as transformações no cenário político nacional que engendraram modelos de participação
política que constituíssem um país alinhado à ordem social, políticas e econômicas globais. Neste período
traços marcantes da modernidade são o desejo de urbanização e industrialização, bem como, o de
construção de um modelo de Estado articulador das relações sociais.
Além desse desejo de modernidade relacionado ao progresso - ao desenvolvimento econômico e
social, à ideia de “Brasil Grande” -, a cidadania no Brasil da Nova República vive a constante contradição
da Modernidade contemporânea. Por um lado, o Brasil republicano “moderno”, desde a Era Vargas, foi
sendo habitado e constituído por novos sujeitos políticos - trabalhadores, mulheres, analfabetos, crianças,
minorias, excluídos, etc. -, o que implica avanços no modelo democrático, sobretudo no que se refere à
inclusão legal de novos grupos sociais na esfera de participação política. Por outro lado, o País continua
convivendo a realidade da desigualdade social e econômica, reflexo da exclusão que limita a cidadania
na história do País, desde os tempos coloniais.
Com esta periodização pretende-se ressaltar tanto os ritmos das continuidades e das transformações
que explicam as particularidades da história brasileira quanto apontar suas similitudes e diferenças em
relação a outras sociedades. Urge aqui reafirmar que, para o público-alvo desse programa, é a macro-
história - quer dizer, a compreensão processual da dinâmica histórica do Brasil em contraponto à dinâmica
histórica internacional. Sem embargo, não se pode esquecer que transformações miúdas, próprias do
tempo curto e do espaço reduzido, muito têm a dizer sobre as bases que as sustentam. Nessa medida, a
combinação, sempre necessária, entre macro e micro-história não deve ser descartada do cotidiano da
sala de aula.
Não é demais lembrar, ainda, que cada um dos períodos propostos deverá ser analisado em seus
próprios termos, evitando, assim, os riscos do anacronismo e do determinismo históricos, anteriormente
já referidos. Para tal, sugere-se o uso de documentos de época sejam eles visuais, textuais e orais; de
estudos de caso e análises produzidos pela historiografia, clássica e contemporânea; bem como a adoção
de outros recursos pedagógicos capazes de estimular, nos alunos, o desenvolvimento do raciocínio
histórico. Cada eixo temático está dividido, ainda, em temas, subtemas, tópicos básicos e temas
complementares. É importante relembrar que a escolha dos temas e subtemas propostos está
diretamente ligada aos propósitos gerais da Proposta Curricular: pensar e refletir acerca de questões
ligadas aos temas da democracia e da cidadania no Brasil. Não por acaso, as tensões entre diferentes
formas de poder e autoridade, bem como entre diferentes práticas sociopolíticas e culturais, perpassarão
os três eixos temáticos da proposta.
É importante salientar, no entanto, que a pertinência teórica e social que levou à opção pelos três
eixos temáticos expostos acima, deverá ser norteada por algumas premissas constitutivas do processo
de cognição no campo da história. Refere-se, em primeiro lugar, à necessidade de serem criadas as
condições para que o aluno evite os anacronismos históricos. Quer dizer, é importante que a proposição
de um diálogo entre tempos históricos, cujo vetor se move do presente para o passado, leve em conta o
princípio da especificidade temporal, espacial e cultural das sociedades em questão.

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A segunda premissa, presente na proposta, está diretamente ligada à convicção, hoje assentada no
seio da comunidade de historiadores, da impossibilidade de se identificar conhecimento histórico e
verdade sobre o passado. A negação de uma antiga tese, ainda hoje veiculada em tantos livros didáticos,
não significa, no entanto, afirmar que a lógica histórica - para utilizarmos uma expressão cara a E. P.
Thompson - seja dotada de absoluta maleabilidade. Como lembra esse e outros teóricos da História, a
análise histórica é sempre pautada pelo diálogo intermitente entre os paradigmas que informam o pensar
do historiador, aqui entendido como membro de uma comunidade científica, e os fragmentos de
evidências históricas produzidas no passado.
Às duas premissas, acima assinaladas, agrega-se uma terceira: a história de toda e qualquer
sociedade é fruto da combinação, singular, entre suas tradições e suas aquisições modernas. Por isso, o
estudo da história de uma ou mais sociedades só se torna viável quando feito a partir da articulação entre
suas permanências e suas mudanças. A conjugação dessas premissas é condição sine qua non para o
desenvolvimento de um raciocínio historicamente orientado.

Conforme orientação da Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais, a Proposta Curricular de


História está estruturada em dois níveis. Um deles é constituído de temas considerados básicos, a partir
da problematização inicialmente proposta, qual seja: Quais foram os processos de constituição da
cidadania e da democracia no Brasil? O outro contém um conjunto de temas complementares, cuja
adoção dependerá da dinâmica interna de cada escola, guardando, sempre que possível, a mais estreita
relação com a questãoproblema ou eixo nortear da proposta.
Às escolas também caberá a definição da forma de ordenação e sequenciação dos temas básicos e
dos subtemas em seu trabalho cotidiano - o que deverá ser feito a partir da definição dos problemas
correlatos à problematização de base da proposta curricular, realizada na dinâmica da sala de aula, pelo
conjunto de professor e alunos. Essa opção reforça a tese de que a compreensão histórica não depende,
necessariamente, do estudo dos fatos em sequência cronológica.
Não obstante, a equipe de elaboração dessa Proposta Curricular entende que a escola deve avaliar
cuidadosamente a forma de ordenação e sequenciação dos eixos temáticos sugeridas, tomando como
referência central o perfil de seu alunado. Não é demais lembrar que a compreensão dos níveis de
entrelaçamento entre o específico e o geral, entre o internacional e o nacional, está diretamente
relacionada com as heranças históricas de cada sociedade. Se estas não devem ser vistas enquanto
gênese que determina o devir histórico, tampouco podem ser desconsideradas, pois o processo histórico
de cada sociedade depende, em grande parte, da maneira como suas tradições se articulam com suas
novas aquisições.
Assim sendo, no caso de as escolas optarem pelo tratamento não sequencial dos eixos temáticos, tal
como é sugerido nesta Proposta Curricular, chamamos a atenção para o fato de que não devem deixar
de trabalhar com as permanências e rupturas presentes em determinado contexto, fazendo referência
clara a práticas socioculturais anteriores a ele.

Apresentação CBC de História - 2007


A estrutura da atual Proposta Curricular de História segue as normas dispostas pela Resolução/SEE-
MG Nº. 833, de 24 de novembro de 2006.
Ela abrange os Conteúdos Básicos Comuns (CBC) de História que devem ser ensinados para todos
os alunos do 1º Ano do Ensino Médio, bem como uma proposta de Conteúdos Complementares
destinados ao aprofundamento e ampliação dos conteúdos propostos para o 1º Ano. Os Conteúdos
Complementares estão previstos para serem trabalhados no 2º Ano com os alunos que optarem pela área
de ciências humanas. Estes receberão um tratamento temático de modo a permitir um diálogo entre
diferentes temporalidades e escalas espaciais: local, nacional, mundial. Entretanto, mesmo os alunos que
optarem pelas outras áreas poderão estudar um subconjunto desses Conteúdos Complementares. No 3º
Ano, a escola poderá decidir sobre os conteúdos a serem ensinados, podendo optar pela revisão dos
tópicos dos anos anteriores, seu aprofundamento ou ampliação.
O atual CBC de História mantém a orientação das versões anteriores de priorizar o contato dos
estudantes com o modo como a História é construída.
Da utilização de fontes as mais diversas, articulada com conceitos próprios à disciplina, elaboram-se
interpretações, formulações que fornecem inteligibilidade ao evento estudado. A familiaridade com o ofício
do historiador visa estimular no estudante o desenvolvimento de uma habilidade fundamental: saber ler,
interpretar e problematizar as fontes, identificando o que é próprio a todo discurso, a todo tipo de
documento: seus interesses, sua visão de mundo. Quanto aos conteúdos a serem ensinados no 1º Ano
do Ensino Médio, priorizamos aqueles que se relacionam com o cerne da proposta original, ou seja, a luta
pelos direitos e conquista da cidadania, sobretudo no âmbito da História do Brasil. No 2º Ano, os

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conteúdos propostos, de natureza temática, expandem a compreensão dos eventos e processos
históricos a partir da perspectiva da reorganização de fronteiras econômicas, culturais e políticas do
mundo moderno ao pós-moderno.
Outra preocupação foi a de colocar em destaque a contribuição fundamental dos africanos e
afrodescendentes na construção de nosso país. Essa opção não só vai ao encontro da Lei nº. 10.639, de
9 de janeiro de 2003, que instituiu o ensino obrigatório da História e Cultura Afro- Brasileira, como também
sinaliza para o rompimento com o predomínio da perspectiva eurocêntrica de nossa história,
aproximando-a das raízes da maioria da nossa população, o que implica incitar uma outra visão,
positivada, de nós mesmos.

Conteúdo Básico Comum – CBC para o 1º ano


Eixo Temático I
Tema 1: Representações Europeias do Novo Mundo
Mundo Moderno, Colonização e Relações Étnico-Culturais (1500-1808)

TÓPICOS HABILIDADES

1.1. Ler e analisar fontes: relatos dos cronistas dos impérios


coloniais (Pero Vaz
Caminha), descobridores (Cristóvão
1. O Novo Mundo nos relatos de Colombo) e viajantes em geral (Hans Staden, Jean de Lèry,
viagem dos navegantes, Thevet), visando à construção de uma narrativa histórica 1.2. Ler
descobridores e cronistas: mitos e e analisar fontes iconográficas europeias que evidenciem suas
visões representações mentais sobre o Novo Mundo.

Tema 2: Escravidão e Comércio no Mundo Moderno


TÓPICOS HABILIDADES

2.1. Compreender e analisar a importância do alargamento das


antigas rotas comerciais; o ressurgimento e expansão do comércio, as
novas mercadorias e o tráfico de escravos.
2. Circuitos do tráfico de 2.2. Identificar a origem étnica e geográfica dos escravos trazidos
escravos (Novo Mundo, África para o Brasil.
e Europa) 2.3. Estabelecer relações entre escravismo colonial e capitalismo.

Tema 3: Colonização Portuguesa e Resistência


TÓPICOS HABILIDADES
3. Escravidão e

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liberdades 3.1. Analisar as contradições entre trabalho escravo, mobilidade
• Alforrias, coartações: social e resistências à escravidão na sociedade colonial.
mobilidade social e 3.2. Ler e analisar fontes: correspondências, anúncios para captura
econômica • Quilombos e de escravos, documentos oficiais e mapas identificando a localização
outras resistências negras • dos principais quilombos e seus efeitos sobre os colonos.
Negociações entre 3.3. Identificar e analisar diferentes formas e relações de trabalho
comerciantes e quilombolas • escravo na América Portuguesa.
Palmares e
Revolta do Malês

Tema 4: Das Crises no Sistema Colonial ao Período Joanino


TÓPICOS HABILIDADES

4.1. Compreender e analisar a crise do sistema colonial em


seus processos internos e em suas conexões com o ideário
liberal.
4.2. Estabelecer relações entre a Conjuração Baiana e a
4. Manifestações populares e Revolução Francesa.
Conjuração 4.3. Comparar os movimentos de resistência contra a
Baiana; elites coloniais e colonização portuguesa, identificando suas especificidades.
Inconfidência Mineira

5.1. Compreender e analisar o processo


de ruptura dos pactos coloniais, dinamização econômica e
social e mudanças políticas; o anfiteatro da Independência.
5.2. Leitura e análise dos novos tratados comerciais
firmados entre a Coroa portuguesa e as potências europeias.
5. Transferência da Corte 5.3. Analisar os impactos da transferência da Corte
Portuguesa para o Brasil Portuguesa sobre os hábitos e costumes da vida

colonial.
5.4 Analisar as imagens produzidas pelos europeus no
Brasil Joanino e I Império.

Eixo Temático II
Tema 1: Embates Políticos e Culturais no Processo de Construção e Afirmação do Estado Nacional
Cultura e Política na Construção do Estado Nacional Brasileiro (1822-1930)

TÓPICOS HABILIDADES

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6.1. Confrontar as periodizações históricas tradicionais a partir
das noções de múltiplas temporalidades, permanências e
mudanças, simultaneidade de processos históricos.
6.2. Analisar as configurações das elites brasileiras no Império,
seus interesses e agrupamentos político-partidários.
6.3. Analisar as posições das elites brasileiras frente ao ideal de
civilização nos
trópicos e sua opção pelo sistema monárquico: acentuar a
singularidade dessa opção no contexto latino-americano.
6. Estrutura constitucional, 6.4. Analisar fontes (festas, monumentos, pinturas e fotografias):
agrupamentos os significados simbólicos da monarquia; o exercício e legitimação
políticos, forças sociais e do poder; e sua relação com as liturgias políticas ao longo da história
simbologia brasileira.
do poder 6.5. Analisar fontes (jornais e revistas da época) que expressam
as sátiras ao poder: o Império em caricaturas.
6.6. Analisar manifestações culturais: festas e celebrações
religiosas e profanas.

7.1. Analisar o conceito de liberalismo, suas


apropriações no Império e suas reapropriações ao longo da
história brasileira.
7.2. Confrontar os conceitos de monarquia e república.
7.3. Comparar a Constituição do Império (1824) com a primeira
Constituição Republicana (1891): o que se explicita, o que se
7. Confrontos: fim da monarquia silencia, avanços e recuos dos direitos de cidadania.
no Brasil e início da República 7.4. Analisar o movimento abolicionista e republicano, suas
características e efeitos

sobre a sociedade brasileira.


7.5. Debater a inserção/exclusão das camadas populares no
processo político. 7.6. Relacionar as políticas de imigração com o
processo de abolição da escravatura.

8.1. Analisar o conceito de cidadania e sua historicidade.


8.2. Estabelecer relações entre as teorias raciais e o ideário
civilizatório das elites brasileiras.
8.3. Analisar fontes (jornais e revistas da época) que expressam
reações à mestiçagem no Brasil.
8.4. Caracterizar as teorias raciais europeias do século XIX e
8. Cidadania e racismo suas ressonâncias no Brasil: as teses sobre o branqueamento e a
mestiçagem.

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9.1. Analisar os impactos da prática política e do liberalismo
brasileiros da Primeira República sobre os segmentos menos
favorecidos da população (trabalhadores urbanos, camponeses e
setores médios). 9.2. Discutir os movimentos sociais da época:
exclusão social e poder messiânico; questão fundiária, banditismo
social e movimentos místico-religiosos como reações às práticas
liberais, em análise comparativa com situações do tempo presente.
9.3. Analisar as ações do Estado republicano em favor da
modernização e seus impactos sobre a população, considerando a
reação ao papel do discurso científico (higienismo).
9. Resistências e conflitos na 9.4. Analisar fontes (jornais e revista da época) sobre a Revolta
Primeira da Vacina. 9.5 Analisar as diversas imagens sobre a
República Revolta da Chibata em fontes como música, fotografias, jornais.

Tema 2: Trabalho e Produção na Sociedade Brasileira entre o Império e a Primeira República


TÓPICOS HABILIDADES

10.1. Identificar e analisar por meio de dados quantitativos (dados


censitários na forma de gráficos e tabelas) impactos do processo de
industrialização/ urbanização, imigração sobre a organização do
trabalho e práticas sociais e políticas.
10. O Brasil no quadro do 10.2. Identificar e analisar por meio de dados quantitativos (dados
capitalismo ocidental no censitários na forma de gráficos e tabelas) a preponderância da
início do século XX cafeicultura sobre os outros setores da

economia brasileira.
10.3. Analisar as diferentes formas de sobrevivência dos libertos.

Eixo Temático III


Tema 1: Conflitos no Mundo Contemporâneo
Mundo Contemporâneo, República e Modernidade. Cidadania e Democracia:
de 1930 aos dias Atuais

TÓPICOS HABILIDADES

11.1. Analisar filmes que enfoquem os anos da depressão.


11. O período entre guerras e a 11.2. Mostrar o impacto da Crise de 1929 e a economia
Crise de 1929 brasileira e mundial.

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12.1. Estabelecer relações entre os sistemas totalitários de
governo e a Segunda Grande Guerra.
12. II Grande Guerra, bipolaridade 12.2. Analisar as permanências e as transformações nos
ideológica e a “nova ordem mundial” • processos históricos de constituição de governos ditatoriais no
Os regimes autoritários no Brasil Brasil.

Tema 2: O mundo em Processo de Globalização


TÓPICOS HABILIDADES

13.1. Ler e escrever textos históricos, utilizando


corretamente os conceitos da disciplina em estudo
(nacionaldesenvolvimentismo, neoliberalismo, etc.).
13.2. Analisar reportagens de periódicos nacionais
(tanto especializados, quanto de grande circulação),
relacionando seu conteúdo com produções
historiográficas sobre o tema em estudo.
13. Abertura do mercado brasileiro para o 13.3. Desenvolver e utilizar instrumentos de
capital estrangeiro: do sistematização de dados de pesquisa colhidos na
nacionaldesenvolvimentismo à internet.
implementação de políticas neoliberais

Tema 3: A Construção da Cidadania Moderna


TÓPICOS HABILIDADES

14. Partidos políticos, sindicatos e a 14.1. Investigar por meio de depoimentos na


consolidação da democracia comunidade as

brasileira: do peleguismo ao novo sindicalismo diversas visões a respeito dos programas e ações
urbano dos partidos políticos e sindicatos.

15.1. Debater, por meio do exame


de jornais, revistas, dados censitários, os impactos
das políticas públicas de assistência e de inclusão
social sobre a realidade social.
15. Do Estado do Bem-Estar Social ao 15.2. Analisar as revoltas populares e movimentos
desenvolvimento do neoliberalismo: as políticas operários e seu papel no surgimento do Estado do
de assistência e inclusão social Bem-Estar Social

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16.1. Debater a legislação atual sobre política de
16. A construção dos direitos civis, políticos e direitos (políticas universais e políticas afirmativas) e
sociais na suas repercussões no plano social operando com
República brasileira: demandas sociais e conceitos tais como:
legislação (Estatuto da xenofobia, discriminação, preconceito.
Igualdade Racial, Políticas
Afirmativas e outras)

Tema 4: Demarcação de Territórios de Identidades Socioculturais


TÓPICOS HABILIDADES

17.1. Operar com conceitos ligados às convenções


históricas (mundo contemporâneo, mundo pós-
moderno).
17.2. Operar com os conceitos de etnia, cultura,
fundamentalismo, multiculturalismo e alteridade.
17.3. Analisar conflitos contemporâneos que
envolvam questões de ordem étnica – cultural e
17. Fundamentalismos étnicos, religiosos religiosa.
e ambientalistas: o choque entre o 17.4. Analisar filmes de diferentes nacionalidades,
multiculturalismo e a intolerância como fontes históricas, contextualizando seu
local/tempo de produção e observando as
especificidades desse tipo de linguagem.

Conteúdos Complementares de História do Ensino Médio - 2º ano


Eixo Temático I
Tema 1: O Encontro das Diferenças e a Construção da Imagem do Outro

Expansão das Fronteiras: a Questão da Alteridade na Modernidade


TÓPICOS HABILIDADES

• Pesquisar sobre os diferentes grupos indígenas, suas


especificidades e localização no território brasileiro.
• Elaborar gráficos sobre a quantidade de grupos indígenas
antes da chegada dos portugueses e atualmente.
• Analisar e interpretar fontes sobre a estrutura social e de
produção dos tapuias e tupis-guaranis.
• Analisar a representação do indígena brasileiro no
I. Tapuias e tupisguaranis romantismo, confrontando com a política indígena no governo
imperial. • Pesquisar manifestações culturais de origem indígenas no
Brasil.

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• Ler e interpretar narrativas indígenas preservadas pela
tradição oral – sobre a chegada e encontro com os portugueses. • Ler
e interpretar mitos que expressem a visão de mundo dos tupis-
guaranis e outros povos indígenas.
II. Visões da chegada dos • Analisar filmes e obras literárias que reinterpretam a visão do
europeus europeu sob a ótica do colonizado.

• Situar Rousseau no contexto do século XVIII francês.


• Relacionar a imagem do bom selvagem com outras
representações europeias dos ameríndios.
III. Jean-Jacques Rousseau e • Ler e interpretar trechos da obra “Do
o bom selvagem Contrato Social” (bom selvagem como contraponto crítico à
civilização moderna).

• Analisar filmes sobre o tema, identificando como índios,


jesuítas e colonizadores são retratados. • Interpretar os eventos da
“Guerra dos Guaranis”.
• Analisar fontes que expressem o olhar jesuítico (e seus
IV. Os jesuítas e as missões interesses) sobre os indígenas.

V. Astecas, maias e incas • Analisar e interpretar fontes sobre a estrutura social, de produção
e cultura dos astecas, maias e incas.
• Localizar geograficamente os três impérios.

• Ler e analisar relatos de cronistas (Sahagún, Dúran, etc.) da


conquista do império Asteca pelos espanhóis. • Analisar a atitude de
Montezuma em relação aos espanhóis.
VI. Visões de • Analisar as profecias astecas que anunciavam a vinda dos
Montezuma espanhóis (profecias do fato acontecido).

• Analisar a atitude de Cortez em relação à cultura Asteca.


• Analisar os métodos utilizados por Cortez na conquista do
império Asteca.
VII. Visões de Cortez • Identificar os interesses representados por Cortez no
empreendimento da conquista.

• Ler e analisar trechos das obras de Las Casas.


• Comparar a atitude de Las Casas diante da cultura dos
VIII. Visões de frei astecas com a de Cortez.
Bartolomeo de Las • Problematizar a aliança Estado-Igreja na conquista da
Casas América.

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Eixo Temático II
Tema 2: O Mundo do Trabalho e os Deslocamentos Populacionais

Expansão de Fronteiras e Mundo do Trabalho


TÓPICOS HABILIDADES

• Produzir texto analítico relacionando tráfico


negreiro e capital mercantil.
• Distinguir colônias de povoamento e colônias de
exploração. • Mapear o comércio triangular nas Treze
Colônias inglesas. • Analisar mapas situando os impérios
coloniais dos séculos XVI e XVII.
• Pesquisar manifestações culturais de origem
IX. Transnacionalização da economia e da africana no Brasil. • Analisar a dinâmica das
cultura no início do mundo moderno sociabilidades (festas cívicas e religiosas) e do hibridismo
cultural na América portuguesa.

• Ler e interpretar textos sobre o cercamento dos


X. Trabalho e indústria campos na
Inglaterra dos séculos XVI e XVIII.
• Produzir texto analítico sobre o processo de
constituição do capital industrial.
• Ler e interpretar documentos sobre a organização
e o trabalho fabril durante a Revolução Industrial. •
Analisar movimentos de resistência à industrialização e de
resistência à exploração fabril.
• Contextualizar as trade-unions e o início dos
sindicatos modernos. • Ler e interpretar textos de Marx e
Bakunin.
• Analisar dados estatísticos sobre o êxodo rural e a
favelização das metrópoles no Brasil e na América Latina.

• Pesquisar o impacto da robotização sobre a


produção e o trabalho industrial.
• Identificar e analisar, por meio de dados
quantitativos (gráficos, tabelas), a situação dos setores
econômicos no mundo globalizado. • Fazer levantamento
de novas profissões surgidas nas últimas décadas.
XI. Desenvolvimento tecnológico e • Relacionar as novas profissões com as
mudanças no mundo do trabalho transformações tecnológicas e com a globalização.

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• Analisar reportagens em revistas, sites, jornais,
sobre a fronteira México-EUA.
• Analisar dados estatísticos sobre a emigração de
brasileiros para os EUA.
• Analisar reportagens em revistas, sites, jornais,
sobre a situação do imigrante brasileiro nos EUA. •
XII. O muro de Bush e a nova “invasão Analisar legislação e propostas antiimigrantes na Europa
bárbara” na e EUA. • Analisar reportagens em revistas, sites, jornais,
Europa sobre a situação dos imigrantes na Europa.

Eixo Temático III


Tema 3: Expansão e Guerra

Expansão das Fronteiras: a Guerra como Possibilidade Permanente


TÓPICOS HABILIDADES

• Analisar as características da chamada Segunda Revolução


Industrial e seus efeitos na correlação de forças entre as nações europeias.
• Conceituar capitalismo monopolista, estabelecendo diferenças
entre o capitalismo comercial e o capitalismo industrial. • Analisar o papel
das teorias raciais na sustentação do imperialismo.
• Analisar mapas com a partilha da África e da Ásia.
• Analisar filmes que tratam da relação colonizador-colonizado.
• Analisar movimentos de resistência à expansão europeia.
• Situar temporal e espacialmente os diferentes processos de
XIII. A expansão descolonização da África e da Ásia.
capitalista e o imperialismo • Analisar reportagens em revistas, sites, jornais, sobre a situação
atual das nações africanas.

• Identificar as inovações tecnológicas que sustentaram a euforia


europeia no início do século XX.
• Caracterizar a Belle Époque, por meio da análise de diferentes
fontes iconográficas.
• Explicar como se definiram os dois blocos de nações rivais a partir
do início do século XX. • Localizar geograficamente os principais impérios
coloniais às vésperas da Primeira Grande Guerra.
XIV. A Primeira Grande • Contextualizar a eclosão do conflito.
Guerra • Caracterizar as duas fases da guerra.
• Estabelecer relações entre a guerra e a Revolução Russa de 1917.
• Analisar dados estatísticos sobre o número de mortos civis e
militares na guerra.

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• Operar com os conceitos: regime totalitário, regime autoritário,
XV. A Segunda Grande democracia liberal. • Analisar charges que contextualizam a antevéspera
Guerra da guerra.
• Caracterizar a ideologia nazista através da análise de
documentários sobre os campos de concentração.
• Analisar filmes, documentários, sobre o desenrolar da guerra.
• Analisar o papel dos partisans e da resistência
francesa na derrota do Eixo.
• Analisar filmes, poemas, músicas, que retratam o impacto das
bombas atômicas, jogadas em Hiroshima e Nagasaki, sobre a consciência
mundial.
• Analisar estatísticas sobre o número de mortos civis e de mortos
militares no conflito.
• Pesquisar em revistas, sites, jornais, sobre os atuais movimentos
neonazistas.

• Analisar mapas com a situação geopolítica do mundo pós-guerra.


• Contextualizar a construção do Muro de Berlim. • Analisar filmes
sobre a Guerra da Coréia.
• Pesquisar em revistas, sites, jornais, sobre a situação atual da
Coréia do Sul e da Coréia do Norte.
• Analisar filmes sobre a Guerra do Vietnã.
XVI. Guerra Fria e • Situar a Revolução Chinesa no mundo bipolar. • Situar a Revolução
mundo bipolar Cubana no contexto da Guerra Fria.
• Situar o Golpe de 1964 e a ditadura militar no Brasil no contexto da
Guerra Fria.

• Analisar os motivos da derrocada do sistema comunista.


• Analisar o impacto simbólico da queda do Muro de Berlim sobre as
XVII. A queda do Muro esquerdas no mundo. • Analisar a configuração geopolítica do mundo após
de Berlim o fim do império soviético.

• Localizar, geograficamente, os principais conflitos no mundo pós-


queda do Muro de Berlim.
• Identificar as motivações de conflitos no mundo pós-queda do Muro
XVIII. Conflitos regionais de Berlim, por meio de reportagens e análises veiculadas por revistas,
no mundo atual sites, jornais, sobre os conflitos regionais.

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• Identificar as motivações da invasão/ocupação e situação atual do
Iraque, por meio da leitura de reportagens e de análises veiculadas por
revistas, sites, jornais.
• Comparar diferentes interpretações sobre a invasão do Iraque,
XIX. A invasão do Iraque situando social e politicamente os autores que as produzem, por meio da
leitura de reportagens e de análises veiculadas por revistas, sites, jornais.

Eixo Temático IV
Tema 4: Demarcação de Territórios de Identidades Socioculturais

Redefinição de Fronteiras : a Questão da Alteridade no Mundo Contemporâneo e Pós-Moderno


TÓPICOS HABILIDADES

• Operar com o conceito de contracultura. • Contextualizar o


surgimento do movimento da contracultura da década de 1960.
• Identificar as principais manifestações da contracultura na
década de 1960. • Analisar músicas, filmes, poemas significativos
das reivindicações do movimento da contracultura.
• Analisar o contexto do surgimento do movimento feminista
contemporâneo nos EUA.
• Contextualizar o surgimento do
XX. Contestações político- Movimento pelos Direitos Civis nos EUA.
culturais na década de 1960 • Analisar músicas, poemas, que expressem o olhar do
movimento tropicalista sobre o Brasil.

• Analisar a diluição das fronteiras econômicas no mundo


globalizado, em contraposição à busca de afirmação das
identidades culturais locais.
XXI. Indústria cultural x • Analisar manifestações de diluição de fronteiras culturais e
identidades culturais identitárias no mundo da comunicação virtual.

Tema 5: Cidadania e Democracia


TÓPICOS HABILIDADES

• Produzir síntese histórica do processo de redemocratização do


Brasil (Movimento pela
Anistia, greves do ABC, Movimento Diretas-
XXII. A redemocratização Já, eleição indireta de Tancredo Neves, Constituição de 1988),
do Brasil utilizando diferentes fontes: escrita, oral, iconográfica, artística, etc. •
Operar com o conceito de democracia no mundo atual.

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• Operar com os conceitos de cidadania no mundo atual (em sua
forma expandida, envolvendo meio ambiente, direito de minorias,
justiça social, participação direta nas políticas públicas, etc.) e suas
XXIII. A cidadania no relações com o contexto de seu surgimento no mundo moderno
mundo atual (Revolução Francesa).

• Analisar gráficos, tabelas, dados estatísticos sobre a situação


ambiental no mundo e no Brasil.
• Produzir texto analítico relacionando crescimento econômico,
XXIV. O movimento consumo e preservação ambiental.
ambientalista • Analisar a relação de grupos indígenas com o meio ambiente.

• Identificar as principais reivindicações e estratégias adotadas


pelo movimento negro no Brasil.
XXV. O movimento negro • Analisar e problematizar a idéia da existência de uma
no Brasil democracia racial no Brasil.

Competências, Habilidades e Atitudes a Serem Desenvolvidas


O ensino da História para o Ensino Médio, em consonância com os Parâmetros Curriculares Nacionais
e em uma perspectiva de educação histórica, tem como objetivo, além dos conteúdos e conceitos, o
desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes próprias do desenvolvimento do pensamento
histórico e dos processos educativos em geral.
Aponta-se, a seguir, uma seleção das competências que se consideram básicas no processo de
ensino-aprendizagem em História para o Ensino Médio. A divisão das competências em três grupos é
baseada nos PCNs de Ensino Médio e tem caráter puramente didático. Os três grupos de competências
e um de atitudes indicadas se entrecruzam e só fazem sentido se pensados em conjunto, quando da
elaboração de propostas de curso e de atividades pelos professores de cada escola.
Investigação e Compreensão
• Trabalhar com fontes históricas de diversos tipos, identificando seu contexto de produção
(tempo/espaço/sujeito) e relacionando-as entre si. • Criticar, analisar e interpretar fontes documentais de
natureza diversa, reconhecendo o papel das diferentes linguagens, dos diferentes agentes sociais e dos
diferentes contextos envolvidos em sua produção. • Formular questões e elaborar estratégias para o
estudo de problemas históricos.
• Ler e escrever textos históricos, utilizando corretamente os conceitos específicos da disciplina.
• Interpretar textos, sobretudo textos históricos, discernindo o seu conteúdo essencial.
• Interpretar dados numéricos, bem como conteúdo científico e estético, relacionando esses
conhecimentos com o conhecimento histórico.
• Analisar os usos sociais da História, como disciplina, pelas diversas instâncias de poder das
sociedades.
• Compreender o processo de produção da narrativa histórica (historiografia).
• Realizar atividades de reflexão historiográfica, distinguindo narrativas diferentes sobre um mesmo
tema histórico.
• Operar conceitos ligados às convenções históricas (Idade Moderna, Idade, Contemporânea, etc.)
e conceitos de referência para a disciplina (política, cultura, economia, etc.)

Representação e Comunicação
• Produzir textos analíticos e interpretativos sobre os processos históricos, a partir das categorias e
procedimentos próprios do discurso historiográfico.
• Fazer síntese histórica de processos em estudo, utilizando diferentes linguagens (escrita, oral,
videográfica, iconográfica, artística, etc.).
• Explicar e comparar diferentes pontos de vista ou interpretações históricas sobre um mesmo tema.

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• Exercer seus valores, reconhecendo a necessidade de atender aos interesses da comunidade e
respeitando a existência legítima de valores diferentes.
• Desenvolver e utilizar instrumentos de sistematização dos dados de pesquisa.
Contextualização Sociocultura.
• Situar as diversas produções da cultura - as linguagens, as artes, a filosofia, a religião, as ciências,
as tecnologias e outras manifestações sociais - nos contextos históricos de sua constituição e
significação.
• Situar os momentos históricos nos diversos ritmos da duração e nas relações de sucessão e/ou
de simultaneidade.
• Relativizar as diversas concepções de tempo e as diversas formas de periodização do tempo
cronológico, reconhecendo-as como construções culturais e históricas.
• Estabelecer relações entre continuidade/permanência e ruptura/transformação nos
processos históricos.
• Comparar problemáticas atuais e de outros momentos históricos. • Posicionar-se diante de fatos
presentes a partir da interpretação de suas relações com o passado.
• Fazer ordenação cronológica correta do ponto de vista histórico.
• Reconhecer o valor da coletividade na constituição dos processos históricos estudados e
vivenciados.
• Relacionar uma interpretação histórica com seu contexto de produção. • Confrontar um discurso
histórico com seu contexto de produção.
• Identificar correspondências e contradições entre o discurso e a realidade.
• Discutir valores que estiveram em jogo em determinado tempo/espaço, relacionando-os com
valores de outros tempos/espaços, procurando compreender os sentidos das ações de sujeitos históricos
(“empatia histórica”). • Avaliar a aplicação de valores em determinado contexto histórico.
• Operar conceitos históricos, relacionando-os corretamente ao seu contexto de produção ou a
contextos em que façam sentido, não cometendo anacronismo.

Atitudes
• Reconhecer e respeitar a diversidade étnico-cultural das sociedades.
• Atuar sobre os processos de construção da memória social, com base na diversidade étnico-
cultural.
• Refletir sobre os seus valores individuais e os partilhados no grupo sociocultural de referência;

• Descobrir e reconhecer a existência de valores diferentes dos valores de seu grupo sociocultural
de referência.
• Negociar soluções coletivas para problemas comuns, propostos em sala de aula.
• Reconhecer o direito do outro de manifestar-se e apresentar suas ideias.

Avaliação
Esta proposta curricular traz em seu bojo uma proposta de avaliação que corresponde às escolhas
feitas em termos de suas diretrizes e que implica mudanças de ordem mais geral ligada à cultura escolar.
Em primeiro lugar, precisamos romper com uma cultura escolar que pratica a avaliação como sendo
apenas um instrumento que permite a constatação de resultados finais ou quantitativos, desacompanhada
da análise e aprofundamento da sua dimensão pedagógica.
A avaliação não deve, portanto, ter por função avaliar apenas o desempenho final dos alunos, mas
também diagnosticar suas dificuldades e acompanhar o percurso de superação delas; o que significa vê-
la como parte do próprio processo de ensino-aprendizagem, constituindo-se assim num grande desafio
não só para os professores de História.
A maioria das atividades desenvolvidas pelos alunos representa oportunidades para os professores e
para os próprios alunos de identificarem as dificuldades a serem superadas, as capacidades já adquiridas
e aquelas a ser expandidas. Enfim, as atividades desenvolvidas podem servir para confirmar ou identificar
progressos e obstáculos de aprendizagem.
As habilidades a serem desenvolvidas em cada série deverão servir de parâmetros para avaliar os
alunos. No entanto, o professor deverá estar atento ao fato de que muitas das capacidades requeridas
para o desenvolvimento do raciocínio histórico e da cidadania só serão consolidadas no decorrer de um
período maior, exigindo dos professores responsáveis pela disciplina o estabelecimento de um núcleo
comum de habilidades e atitudes a serem desenvolvidas, assim como a adoção de estratégias de ensino

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e de avaliação, que se complexifiquem ao longo dos três anos do Ensino Médio. Por exemplo, a
capacidade de leitura e interpretação de informações contidas nas mais diferentes fontes históricas, a
elaboração síntese das ideias, a construção de narrativas com base em dados e interpretações históricas
diversas, as relações entre diferentes dimensões da temporalidade histórica, o estabelecimento de
relações entre eventos de modo a construir ideias de contexto histórico, a explicação das mudanças e
permanências, dentre outras, não são de fácil alcance ou de domínio imediato. O desenvolvimento dessas
capacidades requer dos professores um trabalho cuidadoso e sistemático e, ainda, muita sensibilidade
às diferenças de ritmo de aprendizagens dos seus alunos. Não são também de fácil e de imediato alcance
as atitudes necessárias ao trabalho em grupo, à convivência social em sala de aula e no espaço escolar.
Fazem parte do trabalho em grupo e das discussões em sala de aula o exercício do diálogo, da polêmica
e da argumentação de pontos de vista diferentes, que exigem atitudes que vão desde o respeito a
diversidade de opiniões, a capacidade de ouvir e levar em conta o argumento do outro, a colaboração na
feitura de trabalhos coletivos.
Os instrumentos de avaliação propostos devem, pois, contemplar as atitudes dos alunos na esfera de
sua sociabilidade, dando especial atenção ao desenvolvimento do compromisso do aluno com seu grupo
de estudo, com os que participam da comunidade escolar, e com desenvolvimento de atitudes de respeito
ao patrimônio cultural. Esses aspectos não podem estar ausentes de um processo de educação histórica.
Além das atividades desenvolvidas dentro e fora da escola e das provas se constituírem em
importantes momentos e instrumentos de avaliação, o acompanhamento do progresso individual dos
alunos e dele no seu grupo de trabalho, poderá se apoiar na construção de fichas de avaliação, nas quais
estejam discriminadas as capacidades e atitudes centrais a serem desenvolvidas durante cada ano letivo
de trabalho. Estas fichas terão maior significado se contarem com a participação dos alunos na sua
elaboração e nas discussões das apreciações dos professores sobre o curso de seus desenvolvimentos
cognitivo e social.
Estas fichas poderão se constituir, igualmente, num instrumento valioso para os professores avaliarem
sua própria prática pedagógica: o que deve ser melhorado, mudado, mantido. A avaliação assim
entendida adquire, para os professores, um caráter investigativo e formativo e, para os alunos, um caráter
formativo contínuo e progressivo, do ponto de vista intelectual e social.

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