Você está na página 1de 15

2010

Elementos Fixação
PARAFUSOS

Professor Fiore
Construção de Máquinas I
ELEMENTOS DE FIXAÇÃO ROSCADOS
Os parafusos são utilizados tanto para manter coisas unidas, como no caso de parafusos de
fixação, quanto para mover cargas, como nos casos dos chamados parafusos de potência, ou
parafusos de avanço. Estudaremos estes dois tipos de aplicações.

Parafusos de fixação podem ser arranjados para resistir a cargas de tração, de cisalhamento ou
ambas. Exploraremos também a aplicação de pré-cargas em parafusos de fixação, as quais
podem aumentar sensivelmente a sua capacidade de sustentar cargas.

FORMAS PADRONIZADAS DE ROSCAS:

O elemento comum entre os vários fixadores é a rosca. Em termos gerais, a rosca é um


filete que faz com que o parafuso avance sobre o material ou porca quando
rotacionado. As roscas podem ser externas (parafusos atarrachante) ou internas
(porcas de furos roscados).

Após a Segunda Guerra Mundial, foram padronizados na Inglaterra, no Canadá e nos


EUA no que hoje se conhece como série Unified National Standard (UNS). O padrão
europeu é definido pela ISO e tem essencialmente a mesma forma da seção
transversal da rosca, usamos, porém, dimensões métricas e, portanto, não é
intercambiável com as roscas UNS.

UNS (americana) -> ângulo 60° -> fios por polegada

ISO (métrica) -> ângulo 60° -> passo em mm

Withworth -> ângulo 55° -> fios por polegada

O comprimento L da rosca é a distância que uma rosca avançará axialmente com a


revolução da porca. Se for uma rosca simples (com uma entrada) o avanço irá igualar o
passo. Parafusos podem ser feitos com roscas múltiplas, também chamadas de rosca
de múltiplas entradas.

Avanço = Passo x Nº de entradas

As roscas múltiplas têm a vantagem de avançar mais rapidamente sobre a porca com
capacidade de transmitir maior potência. As rosca simples resistem mais à vibrações,
resistindo mais ao afrouxamento.
Três séries padrão de famílias de diâmetro primitivo são definidas para as roscas de
padrão UNS, passo grosso (UNC), passo fino (UNF) e o passo extrafino (UNEF).

 Série grossa -> aplicações comuns que requerem repetidas inserções e


remoções do parafuso ou onde o parafuso é rosqueado em material mole.
 Série fina -> mais resistentes ao afrouxamento decorrente de vibrações que as
roscas grossas por causa de seu menor ângulo de hélice.
 Série ultrafina -> utilizadas onde a espessura do passo é limitada e suas roscas
pequenas são uma vantagem.

Os padrões Unified National e ISO definem intervalos de tolerância para roscas


internas e externas de maneira a controlar seu ajuste. A UNS define 3 tipos de classes
chamadas 1, 2 e 3. A classe 1 possui as tolerâncias mais largas e utiliza fixadores de
“qualidade comercial” (pouco custosos) para o uso casual em residências, etc. a classe
2 define tolerâncias mais estreitas para uma melhor qualidade de encaixe entre as
partes e é adequado para uso geral em projeto de máquinas. A classe 3 é de maior
precisão e pode ser especificada quando ajustes mais precisos são requeridos. O custo
aumenta com classes de ajustes mais altas. Outra designação diferencia roscas A
(externas) e B (internas). Exemplo de especificação:

ROSCA UNS: ¼ – 20 UNC – 2A

Rosca externa de diâmetro 0,25 inch (polegada) com 20 fios por polegada, série grossa,
classe 2 de ajuste.

ROSCA MÉTRICA: M8 x 1,25

Rosca ISO comum de 8 m de diâmetro por 1,25 mm de passo de hélice.

Todas as roscas padrão são de mão direita (RH – right hand) por padrão, a menos que
haja especificação em contrário por adição das letras LH (left hand) à especificação.

Uma rosca direita afastará a porca (ou parafuso) de você quando um ou outro
componente for girado na direção dos ponteiros do relógio.

DIMENSIONAMENTO DE FIXADORES ROSCADOS:

ÁREA SOB TRAÇÃO

Se uma barra rosqueada é submetida a uma carga de tração pura, é de se esperar que
sua resistência seja limitada pela área de seu diâmetro menor (da raiz) dr. Contudo,
testes das barras rosqueadas sob tração mostram que a sua resistência à tração é
melhor definida para média dos diâmetros menor e primitivo.
A área sob tração AT, é definida como:

Onde para roscas UNS:

E para roscas ISO:

Com:

d = diâmetro externo

N = número de filetes por polegada

p = passo em milímetros

A tensão em uma barra rosqueada devido a uma carga axial de tração F, é então:
EXERCÍCIOS:

τ
1) Verificar se um parafuso de aço SAE1030 com tensão admissível à tração de T = 1200
kgf/cm² suporta uma carga de 150 kgf, onde:
diâmetro externo do parafuso = 5,00 mm

parafuso com rosca ISO de passo = 1,25 mm

resolução:

dp = d – 0,649519 . p dp = 5 - 0,649519 . 1,25

dp = 4,19 mm

dR = d – 1,226869 . p dR = 5 – 1,226869 . 1,25

dR = 3,47 mm

2
  4,19  3,47 
AT   
4 2 
150
T 
0,1152
AT = 11,52 mm² => 0,1152 cm²

F
T 
A

 T  1.302,1kgf / cm 2   T   T
não suporta !

τ
2) Verificar se um parafuso de aço SAE8640 com tensão admissível à tração de T = 1200
kgf/cm² suporta uma carga de 350 kgf, onde:

diâmetro externo do parafuso = ½”


parafuso com rosca UNC (UNS grossa) de 13 fios por polegada

resolução:

25,4 25,4
dp  d  0,649519
25,.4  dp  12,7  0,649519
25,.4  dp  11,43mm  1,143cm
d R  d  1,299038.  d R  12,7  1,299038.
N  dp  10,16mm  1,016cm
13
N 13

AT = 0,9152 cm²

350
T 
0,9152 2
  1,143  1,016 
AT   
4 2 
 T  382,43kgf / cm2   T   T
OK suporta !

τ
3) Dimensionar um parafuso de aço SAE1045 com tensão admissível à tração de T = 1200
kgf/cm² sujeito a uma carga de 300 kgf, onde:

parafuso com rosca ISO de passo = 1,25 mm

resolução:

F F 4. F
T  T  2
 dR 
AT  .d R  . A
4

4.300
dR   d R  0,5641cm
 .1200
dR = d – 1,226869 . p → d = dR + 1,226869 . p

d = 5,641 + 1,226869 . 1,25

d = 7,17 mm → NORMALIZANDO = M8 x 1,25


Verificando:

dp = d – 0,649519 . p dp = 8 - 0,649519 . 1,25

dp = 7,18 mm ou 0,718 cm

dR = d – 1,226869 . p dR = 8 – 1,226869 . 1,25

dR = 6,46 mm ou 0,646 cm

2
  0,718  0,646 
 
AT 300   AT  0,3653cm
2

T  4 2 
0,3653

 T  821,24kgf / cm 2   T   T

OK suporta !

τ
4) Dimensionar um parafuso de aço SAE8640 com tensão admissível à tração de T = 1100
kgf/cm² sujeito a uma carga de 500 kgf, onde:

parafuso com rosca UNC (rosca grossa) com 12 fios por polegada

resolução:

F F 4. F
T  T   dR 
AT  .d R
2
 . A
4

4.500
dR   d R  0,7607cm  7,607 mm
 .1100
25,4 25,4
d R  d  1,299038.  7,607  d  1,299038.  d  10,35mm
N 12

d = 10,35 mm → d = 1,035 cm

UNC

3/8” → 16 → 09,52 mm

7/16” → 14 → 11,11 mm

1/2” → 13 → 12,70 mm

9/16” → 12 → 14,28 mm

Adoto rosca : 9/16” – 12 UNC – 2A

Verificando:

25,4 25,4
dp  d  0,649519.  dp  14,28  0,649519.  dp  12,9mm  1,29cm
N 12

25,4 25,4
d R  d  1,299038.  d R  14,28  1,299038.  dp  11,53mm  1,153cm
N 12

2
  1,29  1,153 
AT     AT  1,1719cm
2

4 2 

500
T    T  426,67 kgf
1,1719 cm 2
  T   T  1200 kgf  OK!
cm 2
TENSÃO DE CISALHAMENTO

Um possível modo de falha por cisalhamento envolve o rasgamento de filetes da rosca


tanto da porca quanto do parafuso. O que, se um ou outro desses cenários ocorrer,
depende das resistências relativas dos materiais da porca e parafuso. Se o material da
porca for mais fraco (como quase sempre ocorre), os seus filetes podem ser cortados
ao longo do seu diâmetro maior. Se o parafuso é mais fraco, pode ter os seus filetes de
roscas rasgados ao longo do seu diâmetro menor.

Se ambos os materiais possuem resistência idêntica, o conjunto pode ser rasgado ao


longo do diâmetro primitivo. Em todo caso devemos supor algum grau de
compartilhamento da carga entre os filetes das roscas a fim de calcular as tensões.

Um modo de proceder consiste em considerar que uma vez que uma falha completa
requer que todos os filetes da rosca sejam rasgados, estas podem ser consideradas
como compartilhando a carga igualmente. Essa hipótese é provavelmente válida,
desde que a porca ou parafuso (ou ambos) seja dúctil de modo a permitir que cada
rosca rasgue a medida que o conjunto começa a falhar. Contudo, se ambas as partes
são frágeis (por exemplo, aços de alta resistência ou ferro fundido) e o ajuste dos
filetes da rosca é pobre, podemos imaginar cada filete assumindo toda a carga por
turnos até que haja fratura e o trabalho seja repassado para o próximo filete. A
realidade está inserida nestes extremos. Se expressarmos a tensão sob cisalhamento
em termos do número de filetes de rosca engajados, um julgamento deve ser feito em
cada caso para determinar o grau de compartilhamento de carga apropriado.

A área sob cisalhamento ou rasgamento A S para um filete de rosca é a área do cilindro


do seu diâmetro menor dR:

p → passo da rosca

Wi → fator que define a porcentagem do passo ocupado pelo metal no


diâmetro menor

A área para um passo da rosca, obtida a partir desta equação pode ser multiplicada por
todos, por um ou alguma fração do número total de filetes de rosca engajados de
acordo ao que julgar correto o projetista, sempre levando em conta os fatores
discutidos acima para cada caso em particular.
Para o rasgamento da porca no seu diâmetro maior, a área sob cisalhamento para um
filete de rosca é:

p → passo da rosca

Wo → fator que define a porcentagem do passo ocupado pelo metal no


diâmetro maior da porca

Fatores de área para área de cisalhamento por corte de roscas:

TIPO ROSCA Wi Wo

UNS/ISO 0,80 0,88

QUADRADA 0,50 0,50

ACME (trapezoidal) 0,77 0,63

BOTARÉ U 0,90 0,83

A tensão de cisalhamento para rasgamento da rosca é então calculada à partir de:

Exemplo:

1) Verificar se uma rosca ISO de 10mm de diâmetro externo com passo de 1,5 mm
resiste a uma tensão de cisalhamento de rasgamento para uma carga de
400kgf, sabendo que o material do parafuso é aço 8640 com uma τC = 900
kgf/cm².

Resolução:

dR = d – 1,226869 . p → dR = 10 – 1,226869 . 1,5

→ dR = 8,16 mm ou 0,816 cm
AS = π . 0,816 . 0,8 . 0,15 → AS = 0,308 cm²

Recalculando:

dR = 1,179 cm ou 11,79 mm

dR = d – 1,226869 . p → d = dR + 1,226869 . p

d = 11,79 + 1,226869 . 1,5 → d = 13,63 mm

Normalizamos: M14 X 2,0


dR = d – 1,226869 . p → dR = 14 – 1,226869 . 2

→ dR = 11,55 mm ou 1,155 cm

AS = π . 1,155 . 0,8 . 0,2 → AS = 0,581 cm²

2) Verificar se uma rosca UNC de 7/16” de diâmetro externo com 14 fios por
polegada resiste a uma tensão de cisalhamento de rasgamento para uma carga
de 350 kgf, sabendo que o material do parafuso é aço 1045 com uma τC = 800
kgf/cm².
d = 7/16” = 11,1125

p = 25,4/14 = 1,814 mm ou 0,1814 cm

Recalculando:

dR = 0,9596cm ou 9,596mm

dR = d – 1,299038 . (25,4/fpp) → d = dR + 1,226869 . (25,4/fpp)

d = 9,596 + 2,356 → d = 11,95mm

Normalizamos: ½” – 13 UNC – 2A
Verificamos:

dR = d – 1,299038 . (25,4/fpp) → d = ½” ou 12,7mm

para UNC ½” a quantidade fpp = 13 então p = 25,4/13

dR = 12,7- 2,54 → dR = 10,16 mm ou 1,016cm

AS = π . 1,016 . 0,8 . 0,1953 → AS = 0,4987 cm²


TENSÕES TORCIONAIS

Quando uma porca é apertada em um parafuso, ou quando o torque é transmitido


através de uma porca de um parafuso de potência, uma tensão de torção pode ser
desenvolvida no parafuso. O torque que torce o parafuso depende do atrito na
interface parafuso-porca. Se o parafuso e a porca estão bem lubrificados, uma porção
menor do torque aplicado é transmitida ao parafuso e uma maior é absorvida entre a
porca e a superfície engastada. Se a porca estiver agarrada ao parafuso por causa da
ferrugem, todo o torque aplicado irá torcer o parafuso. Oque explica porque os
parafusos enferrujados normalmente cisalham mesmo quando se tenta afrouxar a
porca. Em um parafuso de potência, se o colar de empuxo possuir um baixo atrito,
todo o torque aplicado a porca criará tensões torcionais no parafuso (uma vez que
pouco torque é levado ao chão por meio do pequeno atrito no colar). Assim, para
acomodar o pior caso de atrito nas roscas, utilize o torque total aplicado na equação
de cômputo das tensões de torção em uma seção circular:

Onde:

Τ = tensão de cisalhamento de trabalho

Τadm = tensão de cisalhamento admissível

WT = módulo de resistência à torção para seção circular

dR = diâmetro menor do parafuso

Exemplo:
1) Dimensionar um parafuso ISO sujeito a um momento torçor de M T = 390
kgf.cm, sabendo que o material do parafuso é aço SAE1045 com uma τadm=850
kgf/cm².

Resolução:

dR = 1,327 cm ou 13,27 mm

NORMALIZANDO: M14 x passo 2,0

Você também pode gostar