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Minha vitória em SP é a derrota do Doria e o fim da


candidatura dele, diz Márcio França
JOELMIR TAVARES
● anteontem

SÃO PAULO, SP, 28.07.2020 - Retrato do ex-governador Márcio França, pré-candidato a prefeito de São Paulo pelo
PSB. (Foto: Karime Xavier/Folhapress)

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ainda é pré-campanha, mas o ex-governador Márcio


França (PSB), 57, tem se dedicado dia e noite a associar a imagem do prefeito Bruno
Covas (PSDB) à do governador João Doria (PSDB).

O cálculo é óbvio: França tentará repetir, na disputa com Covas pela Prefeitura de São
Paulo, o embate da eleição de 2018. Embora tenha sido derrotado por Doria no segundo
turno (52% a 48%), o socialista venceu na capital (58% a 42%).
Reações
"Uma vitória minha é uma derrota do Doria", diz à reportagem o pré-candidato, que fez
sua carreira política na Baixada Santista, mas mora há alguns meses na Vila Mariana (zona
sul).

Ex-aliado dos tucanos no estado, França foi vice de Geraldo Alckmin, que deixou o cargo
para ele ao renunciar ao Palácio dos Bandeirantes em 2018 para concorrer à Presidência.
Agora, quer ser a pedra no sapato de Doria em sua tentativa de disputar o Planalto em
2022.

Coligado com o PDT (de onde vem seu vice, o sindicalista Antônio Neto), o postulante do
PSB vê ainda chance de angariar simpatia entre apoiadores de Jair Bolsonaro (sem
partido), que veriam em Doria um adversário a ser combatido.

França pretende reeditar na campanha propostas como o alistamento civil de jovens, uma
de suas bandeiras prediletas. O projeto chegou a ser adotado por ele em seus nove meses
como governador. "Eu não me conformo que o Doria encerrou."

Pergunta - Os votos que o sr. teve em 2018 na capital foram pró-França ou anti-Doria?

Márcio França - No segundo turno, foi um voto contra João Doria, claro. O Doria, o PSDB
de maneira geral, torce agora para ir contra o PT, contra o [Guilherme] Boulos [PSOL].
Eles sabem que consigo entrar mais num pedaço de eleitorado que é o mesmo deles. Por
isso que eles já sabem: uma vitória minha é uma derrota do Doria.

O sr. encara esta campanha como uma revanche?

MF - Se houver um segundo turno 40 versus 45, será tratado dessa forma. Na última
eleição [no estado], foi essa a disputa. As pessoas agora terão a chance de mudar ou não
o voto. Se ninguém mudar aqui na capital, eu fico na frente.

A partir da eleição de São Paulo, o quadro nacional começa a se definir. A vitória do


Bruno, na minha visão, levará o Doria ao segundo turno na próxima eleição, contra o
Bolsonaro.

E, se eu ganhar a prefeitura, o Doria nem sequer sai candidato a presidente. Ele perde as
condições de disputar. Ele pode até ganhar [com candidatos apoiados] em todas as
cidades de São Paulo, mas, se perder na capital, não dá para promover o discurso de um
homem vitorioso.

Quem é seu maior oponente, depois de Covas?

MF - O PT. O [Jilmar] Tatto tem uma longa trajetória, mas não é ainda uma pessoa... Só
quem não entende nada pode desconsiderar que o Lula terá a sua influência. O PT tem
uma tradição.

Como o sr. avalia a gestão da crise do coronavírus na cidade?

MF - A marca [da pandemia] foi a bateção de cabeça [entre Covas e Doria]. Muitos
comerciantes estão confusos. Nossos números são desastrosos, tanto na capital quanto
no interior.

O que deveria ter sido feito diferente?

MF - A entrada por Cumbica deveria ter sido controlada a partir de dezembro. Não é
possível que alguém que se disponha a gerenciar a coisa pública não se antecipe a fatos
meio óbvios. O Carnaval não deveria ter acontecido como foi.

Vê parcela de responsabilidade de Bolsonaro nisso?

MF - Claro. Todos têm. Mas, tendo em vista que o Supremo interpretou que cada um [ente
da Federação] poderia fazer separadamente suas ações, cada um poderia fazer a sua
parte.

Já seria difícil em situação normal, mas, com o prefeito e o governador batendo cabeça,
fica mais difícil. Ele [Covas] foi e voltou em várias decisões, tipo rodízio, ônibus, fecha ou
não fecha [o comércio].

Existe aquela máxima de que, para quem está do lado de fora, é mais fácil falar. O sr.
apontaria algum aspecto positivo na atuação do prefeito?

MF - É verdade, claro. Acho que o positivo inegável foi a coragem, a determinação dele de,
mesmo com a doença [câncer], exercer a sua função. Agora, do ponto de vista do
resultado... A pandemia não deixou legados, por exemplo, na educação a distância ou na
rede hospitalar.

O que a pandemia muda na eleição?

MF - Na última eleição, nós tínhamos aquela questão do outsider, a pessoa que fosse de
outra área, como se fosse uma salvação. E agora temos: um prefeito, um governador e um
presidente que nunca tinham ocupado essas funções. Ficou nítido que, para a hora de
turbulência, as pessoas buscam alguém com mais experiência, maturidade, né? Acho que
isso vai dar reflexo eleitoral.

E outra discussão que ganhou espaço foi aquela: "O poder público presta ou não presta?".
Na hora da emergência, todo o mundo procura o [serviço] público.
Que mensagem o sr. planeja levar ao eleitor?

MF - O principal é que eu já fui prefeito de uma cidade grande [São Vicente, com 365 mil
habitantes], com muitos problemas, fui reeleito com 93% dos votos e cumpri meus oito
anos [1997-2004].

A eleição de São Paulo é a única com repercussão nacional, de impacto mesmo. Ela pode
reorientar o país em cima de menos essa discussão ideológica, que para muitos acabou
sendo uma corda para se segurar, e mais uma questão de eficácia, gestão eficaz.

Pretende se apresentar como um candidato progressista ou conservador?

MF - Do ponto de vista ideológico, é lógico que eu estaria mais para o lado progressista. É
que eu sou conservador em hábitos, comportamento. Sou casado há muitos anos, sou
católico.

Passei a vida inteira explicando que é como se eu fosse "a direita da esquerda". O
[Guilherme] Boulos acha que sou da direita, o Arthur [do Val] acha que eu sou da
esquerda.

Hoje não há um candidato claramente bolsonarista, mas o sr. acha que o presidente terá
um nome na disputa na capital?

MF - Acho que não. Mas, certamente, eu não seria [o escolhido]. Não tenho nenhuma
afinidade ideológica com ele. Agora, o que eu reconheço é que ele me parece sincero
naquilo que ele fala, mesmo eu discordando.

Tem essa posição neutra para tentar atrair um eleitor bolsonarista?

MF - Veja, eu não tenho por que ficar polemizando. Se eu fosse prefeito, eu não arrumaria
encrenca com o presidente da República, porque, para a população, é prejudicial você ter
um presidente adversário.

Acho muito pouco provável que quem apoia Bolsonaro vote no candidato do Doria, por
enxergar nele um adversário, um concorrente futuro. Esse sujeito vai procurar qualquer
coisa que não seja 45.

Então, na sua visão, novamente o sr. seria beneficiado pelo voto anti-Doria?

MF - Não tenho dúvida. Acho que é muito provável. As pessoas na rua me falam: "Ah, você
que brigou com o Doria no debate". Fiquei conhecido por essa polêmica.

Como responde às críticas por não ser paulistano?

MF - Sou santista de nascimento, como o Bruno também é. São Paulo sempre foi uma
cidade muito generosa em acolher as pessoas. [Ser de fora] não é um impeditivo. As
pessoas gostariam muito é que nós tivéssemos um prefeito que tivesse palavra e
cumprisse o seu mandato até o fim.

O sr. ainda é desconhecido para muitos dos paulistanos.


MF - [Ser de fora] não é uma coisa inexpressiva, faz parte das críticas. Tenho 40 anos de
vida pública, não respondo a nenhum processo criminal. Normalmente quem chega a esse
patamar já arrasta uma quantidade de confusões.

Covas pode ser prejudicado pelas denúncias envolvendo os tucanos José Serra e Geraldo
Alckmin. O sr. teme ser afetado também pelas suspeitas de caixa dois na campanha de
Alckmin em 2014, quando foi vice dele?

MF - É mais fácil você secar o oceano ou ver o Doria falando a verdade do que encontrar
um real de corrupção no bolso do Alckmin.

Agora, evidentemente que, em uma campanha de reeleição de governador, a gestão é do


governador. O vice não tem influência suficiente para ter acesso à gestão financeira. A
minha participação naquela campanha, do ponto de vista financeiro, foi zero.

O sr. pretende replicar na campanha alguma experiência sua como governador?

MF - O alistamento civil de jovens. A gente recruta essas pessoas, remunera com meio
salário ou integral e dá a oportunidade de estudar. Na capital, seriam em torno de 40 mil
jovens de 18 anos vulneráveis.

Fiz quando fui prefeito, e a [criminalidade na] cidade, que era uma das mais violentas do
estado, despencou. No governo do estado, chegamos a fazer o projeto em 30 cidades,
com 25 mil meninos. E o Doria, logo de cara, cortou.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, Boulos falou que o sr. não deve saber onde fica o Capão
Redondo.

MF - Eu vi [risos]. Falei que o Boulos é um jovem idealista. Ele é um menino idealista, mas
o meu neto Enzo, de nove anos, também é. E eu não vou num voo com ele pilotando o
avião, porque vai cair.

Respeito, é claro que ele [Boulos] tem que criar a polêmica, mas a minha vivência na
administração pública é um passaporte de quem já esteve em várias funções e em todas
elas foi aprovado.

São Paulo precisa de um líder. Não dá para ir de novo com quem não tem nenhuma
experiência. Na minha visão, o Boulos poderia começar como vereador, depois ser
deputado, quem sabe.

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