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ARTIGO ARTICLE 603

Modelo para avaliação da gestão de


recursos humanos em saúde

Evaluation model for human resource


management in health

Sirlesia Vigarani Scalco 1


Josimari Telino de Lacerda 1
Maria Cristina Marino Calvo 1

Abstract Introdução

1Programa de Pós- This paper presents an assessment model for hu- A necessidade de avanços na gestão de recursos
graduação em Saúde
Coletiva, Universidade
man resource management in health. This meth- humanos nos serviços públicos de saúde é moti-
Federal de Santa Catarina, odological research was structured through in- vo de debates há anos. As dificuldades presentes
Florianópolis, Brasil. dicators tested in evaluative research. The Basic nesta área geram desafios para gestores nas três
Correspondência Operational Standard for Human Resources in esferas de governo. A produção dos serviços de
J. T. Lacerda the Unified National Health System (NOB/RH- saúde depende da estrutura física, material e tec-
Programa de Pós-graduação
SUS) was used as the baseline, and the following nológica disponível e da existência de profissio-
em Saúde Coletiva,
Universidade Federal de Santa dimensions were analyzed: work management, nais qualificados e motivados para transformar
Catarina. workers’ development, workers’ health, and so- insumos em resultados. Devido à complexidade
Campus Universitário
cial control. The model was discussed and refined do setor, é fundamental dispor e gerenciar diver-
Trindade, Florianópolis, SC
88090-400, Brasil. during a consensus workshop involving experts sos saberes e habilidades para o desenvolvimen-
jtelino@gmail.com in human resources evaluation and manage- to das atividades.
jtelino@ccs.ufsc.br
ment, by defining an assessment matrix with 12 A municipalização da atenção à saúde e a
indicators. The model was applied to 15 munici- ampliação das políticas de saúde, em especial a
palities in Greater Metropolitan Florianópolis, Estratégia de Saúde da Família, demandaram a
Santa Catarina State, Brazil, and proved appli- necessidade de incremento do número de traba-
cable to municipalities with different population lhadores com perfil específico 1. Um dos maiores
sizes and administrative structures. Data were entraves para a implementação desse modelo é a
obtained from local information systems and of- formação dos profissionais, que sofre influência
ficial documents from the municipal health de- histórica da ideologia flexneriana e cognitivo-
partments. The model’s validity was demonstrat- tecnológica, com ênfase na assistência e nas es-
ed by the results of its application, consistent with pecialidades, não atendendo às necessidades e
data from the literature. concepções da proposta 2.
Questões como a precarização do vínculo e a
Health Manpower; Health Management; Health falta de incentivos não estimulam a permanên-
Services cia dos trabalhadores nas funções, levando-os a
buscar melhores oportunidades. Diversas pes-
quisas 3,4,5 têm demonstrado a alta rotatividade
dos profissionais de saúde no Brasil, a qual gera o
aumento de custos de reposição de pessoal, insa-

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tisfação no ambiente de trabalho e dificuldades balhos, direitos e deveres, afetando a vida dos
no atendimento ao usuário em razão de inter- trabalhadores.
rupções nos serviços. Conforme Silva & Formigli 14, a avaliação po-
As políticas de recursos humanos devem deria ser utilizada como prática sistemática na
contemplar ações de formação e desenvolvi- saúde para propiciar aos gestores as informações
mento dos profissionais e facilitar a gestão do necessárias para a intervenção, e muitas informa-
trabalho. As conferências nacionais de saúde ções registradas nos serviços acabam não sendo
e as conferências específicas de recursos hu- utilizadas para a tomada de decisões. Essas in-
manos, que acontecem na saúde desde 1941, formações poderiam constituir-se em uma base
detectaram muitos problemas da área, mas importante para o monitoramento contínuo das
muitas deliberações destes fóruns ainda não se ações de saúde.
efetivaram. Nos últimos anos, observou-se no país o deli-
A partir da criação da Secretaria de Gestão neamento de uma política de institucionalização
do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), da avaliação da atenção básica com o objetivo de
com os Departamentos de Gestão da Educação e transformar a avaliação em uma estratégia no co-
de Regulação do Trabalho, em 2003, o Ministério tidiano dos gestores e profissionais. A institucio-
da Saúde assumiu com mais clareza seu papel, nalização da avaliação está associada ao desafio
atuando na formulação e execução das políticas de consolidação do SUS por meio da qualificação
de Recursos Humanos para o Sistema Único de das práticas, possibilitando maior resolutividade
Saúde (SUS) 6. na atenção básica 15.
Iniciativas importantes foram desencadeadas Diante desse cenário, desenvolveu-se uma
nos últimos anos, tais como a Política Nacional proposta de modelo de avaliação da gestão em
de Educação Permanente; o Pró-Saúde; a Mesa recursos humanos na saúde, aplicado à atenção
Nacional de Negociação Permanente do SUS; as básica. Esse modelo poderá servir como instru-
Diretrizes Nacionais para a elaboração dos Planos mento para visualização da aplicação das políti-
de Carreira, Cargos e Salários dos trabalhadores cas nessa área, subsidiando a tomada de decisões
do SUS; a Rede Nacional de Saúde do Trabalha- nos diferentes níveis de gestão da saúde.
dor; a elaboração da Norma Operacional Básica
de Recursos Humanos (NOB/RH-SUS) 7,8,9.
Nesse cenário, conhecer o desempenho das Metodologia
políticas e ações de recursos humanos é funda-
mental para identificação dos problemas, para O estudo desenvolvido consiste em uma pes-
o planejamento e o acompanhamento da área. quisa metodológica direcionada à descoberta
Esse conhecimento pode ser gerado por meio de de instrumentos de captação, coleta de dados e
mecanismos de avaliação. intervenção em uma determinada realidade. A
A avaliação consiste em fazer julgamento de base conceitual do modelo desenvolvido funda-
valor a respeito de intervenções ou de seus com- mentou-se na classificação de avaliação para a
ponentes, para subsidiar a tomada de decisões, gestão apresentada por Novaes 16.
por meio de dispositivo que possa fornecer in- O modelo teórico foi orientado pelo docu-
formações válidas e legítimas 10. A necessidade mento Princípios e Diretrizes para a Gestão do
de maximizar o uso dos recursos aplicados nos Trabalho no SUS (NOB/RH-SUS) 1, que orienta a
programas sociais fez com que a avaliação ga- operacionalização de políticas e ações de recur-
nhasse importância na gestão pública. Os eco- sos humanos no SUS nas três esferas de gestão.
nomistas iniciaram a utilização de métodos de Está dividido em quatro grupos assumidos como
análises de custos para os programas públicos, dimensões na matriz avaliativa: Gestão do Tra-
servindo como instrumento de gestão capaz balho no SUS, Desenvolvimento do Trabalhador
de aperfeiçoar a ação governamental 11. Com do SUS, Saúde do Trabalhador do SUS, e Contro-
a necessidade de fortalecimento da democra- le Social da Gestão do Trabalho no SUS. Nessa
cia, a avaliação pode ser utilizada como meca- perspectiva, o modelo tem a função de aferir se
nismo de responsabilização do gestor perante a gestão municipal cumpre o previsto como fun-
terceiros 12. ção institucional no que se refere aos recursos
A gestão de recursos humanos é composta humanos em saúde.
por um conjunto de ações que envolvem a con- Os indicadores e medidas alocados nas di-
tratação dos trabalhadores, a capacitação, a ava- mensões foram elaborados em oficinas de con-
liação, a remuneração e o desenvolvimento de senso com um grupo de especialistas das áreas
um ambiente de trabalho adequado 13. Tomar de avaliação e gestão, incluindo técnicos da Se-
decisões nessa área implica modificar determi- cretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina
nadas realidades, processos, estruturas de tra- que atuam na Atenção Básica, Saúde do Traba-

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lhador e Educação Permanente. O objetivo das inserção nos quadros e as indefinições quanto à
oficinas foi envolver os profissionais do serviço melhor forma de vinculação destes trabalhado-
no processo de avaliação, aproximando a pro- res. Assumiu-se que os municípios com pelo me-
posta às necessidades do SUS. A etapa de iden- nos 94% de trabalhadores estatutários estejam
tificação dos indicadores teve caráter qualitativo em situação “adequada”, considerando-se que
e envolveu a discussão das questões mais rele- em torno de 6% dos cargos normalmente são co-
vantes da gestão de recursos humanos em cada missionados, conforme o estudo de Arias et al. 17.
uma das áreas, sendo as decisões tomadas por A “fixação dos trabalhadores no município” fun-
consenso. damentou-se na constatação de que altas taxas
Os dados para a composição dos indicadores de rotatividade prejudicam o funcionamento
foram coletados de duas formas: (a) diretamente dos serviços e geram custos desnecessários. Mu-
nos municípios por meio de formulário elabora- danças constantes de profissionais podem gerar
do e testado previamente; (b) em documentos e interrupção nas atividades e dificultar o vínculo
relatórios da comissão organizadora da Confe- dos profissionais com os pacientes e a comuni-
rência Estadual de Saúde e nas listas de presença dade. Significa que a gestão não está conseguin-
do Pólo Litoral Centro. do equilibrar as necessidades e expectativas dos
A amostra utilizada para testar a aplicabilida- profissionais com as dos serviços. Para aferir esse
de do modelo foi composta por todos os muni- indicador utilizou-se o total de médicos desli-
cípios da macrorregião da Grande Florianópolis, gados no período de 2005 a 2006 em relação à
Estado de Santa Catarina, Brasil, num total de média de médicos existentes neste mesmo perí-
22 unidades, sendo que, destes, 15 disponibiliza- odo. A definição do parâmetro adequado seguiu
ram todas as informações. Os objetivos do estu- o estudo de Campos & Malik 4. A “valorização do
do foram apresentados aos gestores municipais trabalhador” representa um dos fatores determi-
em reunião do Colegiado de Gestão Regional, nantes para a motivação e manutenção do traba-
momento em que apresentavam concordância lhador nos serviços. A análise considerou como
e agendavam horário de visita para coleta. Os for- “boa valorização” a gestão que possuía Plano de
mulários foram preenchidos pelos responsáveis Carreira, Cargos e Salários (PCCS) implantado.
e técnicos da área, com orientação pessoal ou Na dimensão Desenvolvimento do Trabalha-
por telefone, e conferidos pela pesquisadora no dor do SUS, o indicador “empenho da gestão na
momento da entrega. qualificação profissional” foi medido por meio da
A análise dos dados foi realizada de forma capacitação dos médicos durante o ano de 2006.
percentual e os parâmetros dos indicadores fo- Essa definição considerou a dificuldade em ob-
ram definidos com base nas recomendações en- ter a participação da categoria médica em cursos
contradas na literatura e nas normas vigentes. promovidos pelo sistema de saúde. Pressupôs-
Os dados utilizados no estudo são de domínio se que a gestão que realiza capacitações com a
público, não exigindo autorização do Comitê de participação do médico esteja conseguindo o
Ética em Pesquisa. mesmo para os demais profissionais. Tomou-se
como padrão que todo médico participe de pelo
menos uma capacitação durante o ano. A “reali-
Resultados zação da Educação Permanente em serviço” con-
siderou as oportunidades previstas ao desenvol-
O modelo proposto vimento das equipes, e que as reuniões mensais
de planejamento são ocasiões propiciadoras da
O modelo proposto permitiu analisar o subsis- educação em serviço e de planejamento e desen-
tema “Gestão de Recursos Humanos” de forma volvimento do trabalho de forma coletiva. Todas
integrada, com uma imagem detalhada do de- as Equipes de Saúde da Família deveriam contar
sempenho dos municípios em relação aos tra- com essa oportunidade. Na “inserção do muni-
balhadores do SUS. A matriz avaliativa resume a cípio nas decisões de educação permanente da
representação teórica do objeto avaliado, resul- região” considerou-se a vinculação do municí-
tante das oficinas de consenso e subsidiadas pela pio a um Pólo de Educação Permanente e sua
literatura e legislação vigente (Tabela 1). participação efetiva nas reuniões. Nas atividades
Na dimensão Gestão do Trabalho, com três de articulação do Pólo é importante haver o má-
indicadores, a “qualificação do vínculo” incorpo- ximo de freqüência para que os representantes
ra a idéia de que o trabalhador que possui in- acompanhem o raciocínio das discussões e par-
serção fixa no sistema tem melhores garantias ticipem das decisões de forma produtiva. A fre-
trabalhistas e está menos sujeito à precarização qüência mínima de 75% nas reuniões do Pólo foi
do trabalho. Foram excluídos da pesquisa os estabelecida com base nos padrões da área da
agentes comunitários de saúde, dada sua recente educação.

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Tabela 1

Matriz de avaliação: dimensões, indicadores, medidas e parâmetros de análise.

Dimensões Indicadores Medidas Parâmetros

Gestão do trabalho no SUS Qualificação do vínculo de trabalho Percentual de trabalhadores do SUS < 94%: Inadequado
com vínculo estatutário em 2005 e ≥ 94%: Adequado
2006
Fixação do trabalhador no município Índice de rotatividade na função de 0-25%: Bom
médico em 2005 e 2006 > 25%: Ruim
Valorização do trabalhador Existência de Plano de Carreira, Sim: Bom
Cargos e Salários em funcionamento Não: Ruim
em 2006
Desenvolvimento do Empenho da gestão na qualificação Percentual de médicos que partici- 100%: Bom
Trabalhador no SUS profissional param de capacitações em 2006 < 100%: Ruim
Realização de Educação Permanente Percentual de Equipes de Saúde da 100%: Bom
em serviço Família que realizaram reuniões de < 100%: Ruim
planejamento em 2006
Inserção do município nas decisões Percentual de presenças nas reuniões < 75%: Insatisfatória
sobre Educação Permanente dos Pólos de Educação Permanente ≥ 75%: Satisfatória
em 2005 e 2006
Saúde do Trabalhador Impacto das ações de prevenção e Percentual de acidentes de trabalho 0: Bom
do SUS controle de riscos ocupacionais em 2006 > 0: Ruim
Adequação do ambiente psicológico Percentual de afastamentos por 0: Bom
de trabalho depressão em 2006 > 0: Ruim
Assistência à saúde dos trabalha- Acesso a serviços de Comissões Sim: Bom
dores Locais de Saúde do Trabalhador ou Não: Ruim
Centros de Referência em Saúde do
Trabalhador em 2006
Controle Social da Gestão Organização do controle social para Existência de Comissões Intersetori- Sim: Bom
de RH no SUS atuar nas questões de RH ais de RH, Câmaras Técnicas de RH, Não: Ruim
ou outra, nos Conselhos Municipais
de Saúde em 2006
Participação dos Conselhos Munici- Existência de discussões sobre temas Sim: Bom
pais de Saúde nos problemas de RH de RH nos Conselhos Municipais de Não: Ruim
Saúde em 2006
Articulação com a sociedade na Existência de deliberações sobre Sim: Bom
definição de políticas de RH temas de RH nas Conferências Mu- Não: Ruim
nicipais de Saúde em 2007

RH: Recursos Humanos; SUS: Sistema Único de Saúde.

Na dimensão Saúde do Trabalhador do SUS, Nenhum afastamento por depressão foi o pa-
o indicador “impacto de ações de prevenção e râmetro de boa adequação. A “assistência dos
controle de riscos ocupacionais” considerou a trabalhadores” pode ser viabilizada por meio de
responsabilidade do gestor na prevenção e con- ações realizadas diretamente pelo município,
trole de riscos no ambiente de trabalho. Uma não deixando apenas para o trabalhador a res-
boa gestão deve ter 0% de afastamentos por aci- ponsabilidade de buscar atendimento quando
dentes de trabalho. No indicador “adequação do necessário. Para esse indicador, adotou-se como
ambiente psicológico de trabalho” está a idéia de parâmetro o acesso a Comissões Locais de Saúde
que baixos índices de afastamentos por depres- do Trabalhador ou aos Centros de Referência em
são podem indicar a existência de preocupação Saúde do Trabalhador.
por parte da gestão com ações de manutenção A dimensão Controle Social da Gestão de Re-
da saúde dos trabalhadores, ou pelo menos com cursos Humanos no SUS procurou medir a rela-
a existência de um bom ambiente de trabalho. ção da sociedade com o SUS nas questões que

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envolvem a gestão dos trabalhadores. Segundo a em revelar a sua realidade quanto a questões
NOB/RH-SUS, devem ser instituídas Comissões trabalhistas.
Intersetoriais de Recursos Humanos (CIRH) nos O modelo proposto demonstrou viabilidade
Conselhos de Saúde. Essas comissões têm a res- de aplicação para municípios de diferentes por-
ponsabilidade de acompanhar a implementação tes populacionais, e o conjunto de indicadores
das deliberações dos conselhos sobre a gestão demonstrou ser adequado para a avaliação da
de RH no SUS, na respectiva instância de gestão. gestão de recursos humanos na atenção básica.
Os conselhos também podem instalar Câmaras Os dados coletados permitiram gerar as infor-
Técnicas que analisam preliminarmente as ma- mações necessárias, e não foram encontradas
térias para que possam ser deliberadas pelo con- dificuldades na utilização do instrumento de
selho facilitando a discussão. Essa idéia é repre- coleta de dados. Os dados da Tabela 2 demons-
sentada pelo indicador “organização do controle tram que o comportamento dos indicadores foi
social para definições e acompanhamento das diferenciado entre os municípios, mas não há
deliberações sobre RH no município”, medida indicação de tendências relacionadas ao porte
pela existência de CIRH, Câmaras Técnicas de populacional.
Recursos Humanos ou outro tipo de comissão de De maneira geral os resultados são pouco
RH nos Conselhos Municipais de Saúde, no ano animadores no seu conjunto. Os indicadores que
de 2006. Optou-se por considerar como “boa or- apresentaram melhores desempenhos foram:
ganização” a existência de uma ou outra comis- “impacto de ações de prevenção e controle de ris-
são. Para a análise do indicador “participação dos cos ocupacionais”, “adequação do ambiente psi-
Conselhos Municipais de Saúde nos problemas cológico de trabalho” e “realização de educação
de RH” considerou-se como positivo quando o permanente em serviço”. Os desempenhos mais
conselho discutiu temas de RH em suas reuniões. baixos na maioria dos municípios referiram-se
A existência de discussões sobre problemas de à “organização do controle social para atuar nas
RH nos conselhos demonstra sensibilidade da questões de RH”, “inserção dos municípios nas
comunidade na questão do trabalho e no con- decisões de educação permanente da região” e
trole sobre a ação do Estado, favorecendo a trans- “qualificação do vínculo de trabalho no SUS”.
parência e a democracia nas decisões. O indica- A Gestão do Trabalho no SUS apresentou
dor “articulação do município com a sociedade pior desempenho no indicador “qualificação
para a definição de políticas de RH” foi avaliado do vínculo de trabalho” – apenas um municí-
considerando-se a existência de propostas de RH pio teve pelo menos 94% de seus trabalhadores
na última Conferência Municipal de Saúde de contratados em regime jurídico único e 47% dos
cada município. Essa decisão fundamentou-se municípios estudados possuem mais de 50% de
na orientação da NOB/RH-SUS já mencionada, trabalhadores estatutários. A “fixação dos traba-
e no entendimento que as conferências de saúde lhadores de saúde” do município, medida pela
representam espaços importantes para a discus- taxa de rotatividade dos médicos, revelou-se um
são de propostas que fundamentam a construção pouco melhor que a situação dos vínculos tra-
democrática das políticas de saúde. Considerou- balhistas. Dentre os municípios estudados, 47%
se como “boa articulação” a existência de pelo apresentaram taxas de rotatividade aceitáveis,
menos uma proposta sobre RH (Gestão do Tra- ou seja, menor ou igual a 25%. Desses, seis mu-
balho, Desenvolvimento do Trabalhador e Saúde nicípios, pequenos e médios, não apresentaram
do Trabalhador) aprovada. rotatividade. A rotatividade geral variou de 0 a
Ainda com base na revisão da literatura, nor- 238%. Para os 15 municípios avaliados verificou-
mas e legislação, foi proposta uma matriz avalia- se a existência de alta rotatividade em mais de
tiva para emissão de juízo de valor (Figura 1). 50%, indicando que a fixação dos profissionais
é ruim nessa macrorregião. Na “valorização do
O teste de aplicabilidade trabalhador” identificou-se que apenas 40% dos
municípios estudados possuíam PCCS implanta-
Participaram da pesquisa 15 dos 22 municípios do no ano de 2006.
da macrorregião da Grande Florianópolis. A ex- No desenvolvimento do trabalhador do SUS
clusão de sete municípios foi ocasionada pela dois indicadores apresentaram desempenho
não disponibilidade de dados no período estu- ruim no conjunto de municípios. O “empenho
dado e pela dificuldade em obter informações da gestão na qualificação profissional” e a “in-
gerenciadas fora da Secretaria Municipal de serção dos municípios nas decisões sobre edu-
Saúde, tais como número e vínculo de profis- cação permanente” apresentaram-se adequados
sionais. Essas dificuldades apontam para a falta apenas em dois e um municípios, respectiva-
de mecanismos de registro de dados de recursos mente. Para o primeiro, destaca-se que em 73%
humanos e um provável desconforto da gestão dos municípios nenhum médico participou de

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Figura 1

Modelo de classificação para avaliação da gestão de Recursos Humanos (RH) do município.

qualquer capacitação promovida ou articulada Em Saúde do Trabalhador do SUS estão os


pelo município. A inserção nas decisões sobre dois indicadores que apresentaram os melhores
educação permanente foi incipiente, com um resultados na avaliação. O indicador “impacto
município apresentando 78% de freqüência às das ações de prevenção e controle de riscos ocu-
reuniões e um com 50%. O indicador de “realiza- pacionais” demonstrou que 90,3% dos municí-
ção da educação permanente em serviço” foi um pios estudados não apresentaram casos de afas-
dos que demonstrou o melhor desempenho. Na tamentos por acidentes de trabalho. Os demais
maioria dos municípios (60%), todas as Equipes (6,7%) referem-se à resposta não informada, que
de Saúde da Família realizaram reuniões mensais foi considerada como negativa para a gestão. Na
de planejamento no ano de 2006. Os demais mu- “adequação do ambiente psicológico de trabalho
nicípios informaram que menos da metade das para o desenvolvimento das atividades” a maio-
Equipes de Saúde da Família realizaram reuniões ria dos municípios (66,7%) não relatou casos de
mensais naquele ano. depressão no período estudado. A ausência de

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AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS 609

Tabela 2

Resultados da avaliação da gestão de Recursos Humanos (RH) segundo dimensão e indicador, por município, na Macrorregional da Grande Florianópolis,
Santa Catarina, Brasil.

Municípios População Gestão do Trabalho Desenvolvimento do Saúde do Trabalhador Controle Social de Resultados
Trabalhador Gestão de RH

G1 G2 G3 D1 D2 D3 S1 S2 S3 C1 C2 C3 Total %

1 2.668 4 33,3
2 2.841 4 33,3
3 2.992 5 41,7
4 3.101 5 41,7
5 3.348 5 41,7
6 3.868 3 25,0
7 5.138 6 50,0
8 5.410 6 50,0
9 7.042 4 33,3
10 13.050 2 16,7
11 15.562 4 33,3
12 16.410 3 25,0
13 18.245 3 25,0
14 58.433 2 16,7
15 406.566 5 41,7
Total 1 7 6 2 9 1 14 10 2 0 6 3
% 6,7 46,7 40,0 13,3 60,0 6,7 93,3 66,7 13,3 0,0 40,0 20,0

G1: Qualificação do vínculo de trabalho; G2: Fixação do trabalhador no município; G3: Valorização do trabalhador; D1: Empenho da gestão na qualificação
profissional; D2: Realização de Educação Permanente em serviço; D3: Inserção do município nas decisões sobre Educação Permanente; S1: Impacto das ações
de prevenção e controle de riscos ocupacionais; S2: Adequação do ambiente de trabalho; S3: Assistência à saúde dos trabalhadores; C1: Organização do
controle social para atuar nas questões de RH; C2: Participação dos Conselhos Municipais de Saúde nos problemas de RH; C3: Articulação com a sociedade
na definição de políticas de RH.
Legenda: Parâmetro alcançado
Parâmetro não alcançado

casos de depressão sugere que na maioria dos para atuar nas questões de recursos humanos
municípios estudados existe um ambiente psi- foi inexistente na totalidade dos municípios. Em
cológico de trabalho propício para a realização 100% dos municípios estudados não havia algum
das atividades. Os casos de depressão apontados tipo de comissão para RH em funcionamento em
ocorreram por mais de uma vez durante os anos 2006. Isso demonstra que os Conselhos Munici-
de 2005 e 2006, podendo estar associadas com pais de Saúde, de maneira geral, não se encon-
as questões relacionadas ao trabalho. Por outro travam organizados para melhor discutir e fazer
lado, “a assistência à saúde dos trabalhadores”, acontecer suas deliberações. Da mesma forma,
medida pelo acesso a Comissões Locais de Saú- na “participação do Controle Social nos proble-
de do Trabalhador organizadas pelo município mas relacionados a RH”, detectou-se que no ano
ou acesso a serviços de Centros de Referência de 2006 apenas 40% dos municípios estudados
de Saúde do Trabalhador na região, apresentou discutiram assuntos ligados a RH. A “participa-
resultados ruins – apenas dois municípios es- ção da sociedade na definição de políticas de
tudados (13,3%) relataram acesso a serviços de recursos humanos” foi analisada com base na
Centros de Referência e nenhum identificou a existência de definições sobre RH nas Confe-
existência de Comissões Locais de Saúde do Tra- rências Municipais de Saúde. Como resultado,
balhador no município. identificou-se que apenas 20% dos municípios
O Controle Social da Gestão de Recursos apresentaram definições nessa área.
Humanos no SUS foi a dimensão com os piores O modelo proposto avaliou o resultado de
resultados. A “organização do Controle Social” quatro dimensões, com 12 indicadores, identifi-

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cando seu comportamento apenas no conjunto adicionais; recompensas não-financeiras ofere-


de municípios estudados em razão do tamanho cidas em forma de oportunidades de desenvolvi-
reduzido da amostra. Na Figura 1 propõe-se o mento, reconhecimento, segurança no emprego,
complemento do modelo destinado à avaliação qualidade de vida no trabalho, promoções, liber-
do desempenho dos municípios de forma in- dade, autonomia 20. Os relatos da literatura e os
dividual e global, estabelecendo-se julgamento resultados encontrados na aplicação do modelo
de valor por indicador e dimensão que pode ser demonstram a necessidade de analisar esse as-
aplicado em amostras maiores. pecto nos sistemas de saúde, haja vista que so-
mente 40% dos municípios estudados relataram
a presença de PCCS. Os resultados da aplicação
Discussão do modelo são compatíveis com as indicações
da literatura, sugerindo a validade dos indica-
A aplicação do modelo demonstrou-se viável dores propostos nessa dimensão, uma vez que
e evidenciou a precariedade ou dificuldade de foram capazes de constatar desempenhos ruins
acesso aos sistemas de informação no que se na amostra de municípios.
refere aos recursos humanos em saúde. A pre- Na dimensão Desenvolvimento dos Trabalha-
ocupação em preservar o sigilo do servidor e a dores do SUS, os indicadores conduzem a gestão
pulverização das informações de recursos huma- à reflexão sobre suas atribuições na formação de
nos em diferentes subsistemas são limitações de seus profissionais. A lógica da educação perma-
gestão já reportadas por outros autores 18. Toda- nente para o SUS enfatiza as necessidades locais
via, modelos de avaliação que façam uso dessas e propõe a transformação das práticas profissio-
informações constituem estímulo à organização nais por meio da reflexão crítica do processo de
racional desses dados para que possam subsidiar trabalho. Nessa perspectiva, os processos de ca-
o planejamento e a decisão nos sistemas munici- pacitação do pessoal da saúde devem ser estru-
pais de saúde. turados a partir da problematização do processo
Os indicadores utilizados na dimensão Ges- de trabalho, tomando como referencial as neces-
tão do Trabalho no SUS abordam questões sen- sidades de saúde das pessoas, a gestão setorial
síveis no sistema público. Admitir a ausência e a promoção da saúde 8. Alternativas simples,
de PCCS e a existência de vínculos trabalhistas como as reuniões em serviço, podem contribuir
precários nos municípios não é uma posição na qualificação dos profissionais, na aproxima-
confortável para os gestores, tanto quanto evi- ção dos membros das equipes e na produção de
denciar a alta rotatividade dos profissionais da soluções para a melhoria das ações e serviços de
saúde. Arias et al. 17, quando estudaram os PCCS saúde. Realizar reuniões periódicas deveria fazer
das Secretarias de Estado e dos Municípios, em parte do cotidiano da coordenação das equipes,
2004, identificaram que apenas 38,5% das secre- podendo ser organizadas sistematicamente sem
tarias municipais de saúde possuíam PCCS im- implicar aumento de custos. O indicador pro-
plantado. Da mesma forma, Pierantoni et al. 19 posto – reunião de planejamento, inserida como
detectaram apenas 20% de secretarias de saúde uma estratégia de educação permanente em ser-
com PCCS específicos para os trabalhadores da viço – apresentou bom desempenho na maioria
saúde e outros 29% com PCCS geral para todos dos municípios. Todavia, o indicador pode ser
os funcionários. Os entrevistados reportaram aprimorado, incluindo alguns aspectos das pau-
inúmeras dificuldades – legais, financeiras, téc- tas e atas dessas reuniões para verificar se elas
nicas e políticas – como entraves para o estabe- cumprem o seu papel na educação permanente
lecimento de PCCS. O mesmo estudo detectou dos trabalhadores ou apenas tratam de questões
uma parcela reduzida de gestores que não con- administrativas do serviço.
tavam com trabalhadores desprotegidos em seus Os outros dois indicadores reportam a res-
quadros. Pesquisa realizada por Borrelli 3, com ponsabilidade do município em oferecer cursos,
profissionais de saúde da zona rural de Sergipe, aperfeiçoamentos e capacitações para o bom
identificou taxas de rotatividade variadas ficando desempenho profissional de seus trabalhado-
entre 0 a 300% nos municípios estudados, com res. Isso pode ocorrer por meio da realização
uma média geral de 84,9%, também considerada de eventos por sua própria iniciativa ou partici-
alta pela pesquisadora. pando ativamente das decisões sobre Educação
A valorização do trabalhador pode ser rea- Permanente na região, indicando e reivindican-
lizada por diferentes meios capazes de recom- do suas necessidades de formação. Os sistemas
pensar o trabalho realizado: recompensas finan- municipais de saúde ainda não assumiram essa
ceiras diretas, como salário, prêmios, comissões; responsabilidade e os resultados da aplicação
recompensas financeiras indiretas em forma de do modelo foram coerentes com essa realidade,
férias, gratificações, horas-extras, 13o salário, demonstrando a existência de poucas oportuni-

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AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS 611

dades de capacitação e baixa participação dos de Estado de Administração em Santa Catarina,


municípios pesquisados na Política Nacional de no período de 1995 a 2005, demonstrou que os
Educação Permanente. O indicador “empenho principais motivos dos afastamentos do período
da gestão” detectou a pequena capacidade que estavam relacionados aos transtornos mentais e
os municípios tiveram em mobilizar os profis- comportamentais (25%), tendo como maior fre-
sionais para participação em atividades promo- qüência os transtornos depressivos moderados e
vidas ou articuladas pelo município. As capaci- os episódios depressivos (32% dos casos).
tações são indispensáveis para a motivação dos O indicador “assistência à saúde dos traba-
profissionais e para a manutenção da qualidade lhadores” evidenciou a ausência de estruturas
dos serviços. Cabe à gestão municipal promover de Comissões Locais de Saúde do Trabalhador e
capacitações para seus trabalhadores ou buscar baixo acesso aos Centros de Referência de Saúde
parcerias para sua viabilização, por meio da Po- do Trabalhador. A ausência de estratégias para
lítica Nacional de Educação Permanente 1,21. A viabilizar o acesso dos trabalhadores à assistên-
participação do município nas discussões da po- cia por problemas originados no trabalho pode
lítica de educação permanente na região repre- revelar uma baixa preocupação da gestão com
senta um espaço importante para articulação de a recuperação da saúde dos trabalhadores e um
capacitações para os trabalhadores com recur- provável distanciamento dos municípios com
sos do Ministério da Saúde e, atualmente, uma relação às políticas nesta área. Os resultados da
responsabilidade da gestão quanto à condução aplicação indicam a manutenção do indicador,
da política em âmbito local por intermédio dos uma vez que foi capaz de detectar evidências
Colegiados de Gestão Regional 21. empíricas quanto ao cuidado com a saúde dos
Na dimensão Saúde do Trabalhador foram trabalhadores em saúde.
observados os melhores resultados, porém al- Na dimensão Controle Social da Gestão de
guns fatores que demandam atenção. O indica- Recursos Humanos no SUS estão os indicadores
dor “impacto das ações de prevenção e controle menos freqüentes nas análises deste tópico. As
de riscos ocupacionais” foi medido pelo percen- CIRH ou similares nos Conselhos Municipais de
tual de acidentes de trabalho no ano, mas não Saúde cumprem a função de facilitar a participa-
detectar acidentes de trabalho pode estar asso- ção da comunidade na formulação de estratégias
ciado ao não registro de acidentes de trabalho, de operacionalização das políticas de saúde e no
comum em muitas instituições; também, os aci- controle da sua execução. As propostas e estraté-
dentes de trabalho podem ser evitados pela ação gias de seleção, contratação, fixação, alocação e
do trabalhador no cuidado de sua própria saúde. estímulo dos profissionais que atuam na saúde
De qualquer forma, a falta de atenção da gestão devem ser matéria de interesse dos Conselhos
em ações de prevenção aumenta as chances de de Saúde e necessitam de discussões fundamen-
riscos aos trabalhadores, reafirmando a impor- tadas nos aspectos legais, técnicos e sociais para
tância da mensuração desse indicador. A leitura serem deliberados com responsabilidade 1. Além
dos resultados deve ser realizada sob olhar crítico dos Conselhos Municipais de Saúde, as Confe-
em cada realidade estudada. Na “adequação do rências de Saúde constituem espaço privilegiado
ambiente psicológico de trabalho para o desen- de discussão da sociedade a respeito dos pro-
volvimento das atividades” a medida utilizada foi fissionais que atuam em saúde nos municípios.
o número de casos de depressão no período es- Cabe à gestão local estimular e propiciar esses
tudado. Embora a relação entre as causas da do- espaços e a inserção dessa pauta nas comissões,
ença e o processo de trabalho não seja facilmente reuniões, conselhos e conferências para garantir
estabelecida, a ausência de casos de depressão a legitimidade das políticas públicas de recursos
tem potencial para demonstrar a existência de humanos no município.
um ambiente psicológico de trabalho propício A aplicação do modelo indicou mais de 50%
para a realização das atividades. Estudos têm dos municípios com desempenhos classificados
demonstrado que os transtornos mentais e do como “ruim” em todos os indicadores nessa di-
comportamento estão entre as causas relevan- mensão de análise. Foi constatada a inexistência
tes das doenças do trabalho nos órgãos públi- de Comissões Intersetoriais em 100% dos muni-
cos. Pesquisa desenvolvida em 2006 22, com os cípios, 40% discutiram assuntos ligados a RH e
servidores públicos federais civis do poder exe- apenas 20% apresentaram definições de RH em
cutivo no Estado de Santa Catarina, revelou que Conferências Municipais de Saúde. Tais resul-
os transtornos mentais e do comportamento re- tados sugerem que as discussões sobre RH nos
presentaram a segunda causa dentre as doenças Conselhos de Saúde, quando acontecem, são
relacionadas ao trabalho. Outro estudo 23, sobre ocasionais e improvisadas. Frente à alta rotativi-
os problemas de saúde dos servidores públicos dade de pessoal observada, considera-se pouco
da Secretaria de Estado da Saúde e da Secretaria provável que no período estudado não houvesse

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demandas para discussões junto aos conselhos. O estudo apresentado teve como foco o de-
A garantia de espaço para discussão colegiada senvolvimento e aplicação de um modelo para
e deliberativa favorece o diálogo, a contestação avaliação da gestão de RH, não tendo como prio-
e a negociação democrática das necessidades ridade a avaliação do desempenho dos municí-
e interesses de cada segmento participante – pios pesquisados.
usuários, prestadores de serviços, profissionais Por meio do teste de aplicabilidade verificou-
e governo 24. Logo, a realização de conferências se que o modelo é viável na atenção básica, em
municipais e a atuação dos conselhos nas ques- municípios de diferentes tamanhos, uma vez que
tões de recursos humanos são indispensáveis os resultados encontrados não apresentaram va-
para o avanço das políticas de recursos huma- riações importantes em razão do porte popula-
nos no SUS. A importância da manutenção cional.
desses indicadores reside na possibilidade de Os indicadores utilizados demonstraram
alertarem os gestores sobre a necessidade de validade para a avaliação da gestão de recursos
construir propostas democráticas para a gestão humanos dentro das políticas vigentes. Os da-
de recursos humanos, com a participação dos dos coletados foram capazes de gerar as infor-
principais interessados na conformação de qua- mações necessárias à medição dos indicadores
dros funcionais qualificados e satisfeitos. definidos.
Os sistemas de informação existentes na área
de recursos humanos da saúde ainda não favore-
Conclusão cem a geração de dados contínuos e sistemáticos
que facilitem a institucionalização da avaliação e
A proposta permitiu analisar o subsistema gestão a realização de estudos ampliados. Todavia, a re-
de recursos humanos de forma integrada nos as- alização de estudos avaliativos nessa área é fun-
pectos de gestão do trabalho, desenvolvimento damental para a transformação dessa realidade.
do trabalhador, saúde do trabalhador e controle
social da gestão de recursos humanos, trazendo
uma imagem ampliada da área, propondo um
instrumento para avaliação global das políticas
vigentes.

Resumo

Este artigo apresenta um modelo de avaliação da ges- gião da Grande Florianópolis, Santa Catarina, Brasil.
tão de recursos humanos na saúde. Trata-se de uma O modelo demonstrou viabilidade em municípios de
pesquisa metodológica, estruturada por meio de in- diferentes portes populacionais e estruturas adminis-
dicadores testados a partir de pesquisa avaliativa. trativas. Os dados foram obtidos nos sistemas locais de
Utilizou-se como base a Norma Operacional Básica de informação e em documentos oficiais das Secretarias
Recursos Humanos (NOB/RH-SUS), estabelecendo-se de Saúde. A validade do modelo pode ser inferida pelos
como dimensões: Gestão do Trabalho, Desenvolvimen- resultados da aplicação que foram compatíveis com a
to do Trabalhador, Saúde do Trabalhador e Controle literatura.
Social. O modelo foi discutido e aperfeiçoado em ofici-
nas de consenso com especialistas em avaliação e ges- Recursos Humanos em Saúde; Gestão em Saúde; Ser-
tão de recursos humanos, configurando uma matriz viços de Saúde
de avaliação com 12 indicadores. A aplicabilidade da
proposta foi testada em 15 municípios da macrorre-

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AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS 613

Colaboradores

S. V. Scalco, J. T. Lacerda e M. C. M. Calvo participaram


da concepção, projeto, análise e interpretação dos da-
dos e, redigiram o artigo.

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