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UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
Graduação em Psicologia
Fortaleza
2018
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Fortaleza
2018
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Resumo
Após mais de duas décadas da criação da Lei de Cotas ainda é possível encontrar barreiras
não apenas para contratar, como também para manter pessoas com deficiência (PCDs) nas
organizações. Neste sentido, o processo de socialização organizacional se destaca como um
aspecto relevante da inserção desses sujeitos no ambiente profissional. O objetivo do estudo
foi analisar as estratégias de socialização organizacional de PCDs nas empresas e seus
efeitos. Como metodologia foi empregada a revisão integrativa de literatura a fim de
investigar as produções cientificas acerca do assunto. A coleta de dados foi realizada com uso
de descritores relacionados ao tema em bases de dados eletrônicas no período de agosto a
outubro de 2018. Na análise dos dados, foram identificadas três categorias: práticas de
socialização de PCDs nas empresas; dificuldades para fazer a inclusão de PCDs; e percepção
das PCDs acerca das práticas de socialização. Concluiu-se que as organizações ainda têm
dificuldades para desenvolver estratégias de socialização das PCDs, mas quando ocorrem,
essas práticas mostram ter impacto positivo na inclusão e no desempenho desses indivíduos.
Espera-se que esta revisão possa contribuir para ampliar a compreensão sobre formas de
favorecer o processo de inserção de PCDs nas organizações.
Introdução
A inclusão de pessoas com deficiência (PCD) nos ambientes corporativos, apesar da
importância e da imposição legal, ainda enfrenta barreiras. Diante do exposto, o tema vem se
caracterizando como relevante para estudos organizacionais. Percebe-se que, nos últimos
anos, as fiscalizações por parte de órgãos públicos estão mais presentes e fazendo com que, de
fato, as empresas cumpram suas cotas. Porém, será que isso é suficiente? Apesar das
empresas começarem a ver a importância de contratar pessoas com deficiência, mesmo que
seja para não descumprir a lei, surge outra questão: como incluí-las nesse ambiente
organizacional? Considerando as dificuldades no processo de inserção de pessoas com
deficiência no âmbito do trabalho, verifica-se a necessidade de identificar as práticas
organizacionais que estão sendo adotadas pelas organizações para a integração desses
indivíduos.
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Para abordar esta temática, entretanto, indaga-se: afinal, o que é deficiência? Diniz,
Barbosa e Santos (2009, p. 67) afirmam que existem duas maneiras de compreendê-la. A
primeira delas é como uma manifestação da diversidade humana e traz o termo ‘corpo com
impedimentos’, que é quando alguém vivencia limitações, sejam de ordem física, intelectual
ou sensorial. Já a segunda forma de entendê-la é vista como uma desvantagem natural, onde
se devem concentrar esforços em reparar os impedimentos corporais. Desse modo, essas
restrições são categorizadas como indesejáveis, em vez de serem percebidas simplesmente
como uma forma de diversidade humana, do mesmo modo como se deve compreender a
diversidade racial, geracional ou de gênero.
Silva (2006, p.424-434) afirma que “a deficiência inscreve no próprio corpo do
indivíduo seu caráter particular”. O corpo marcado pela deficiência pode ser
desproporcionado ou fora dos padrões, o que lembra a imperfeição da humanidade. A
estrutura funcional da sociedade requisita pessoas resistentes, que tenham o corpo “saudável”
e que sejam capazes de competir no mercado de trabalho. Esse mesmo corpo deficiente se
torna insuficiente para uma sociedade que exige o seu uso intenso, bem como o culto ao corpo
saudável, levando a um desgaste físico em virtude de trabalho subserviente.
No que diz respeito à lei de cotas, Vasconcelos (2010) diz que, embora já houvesse
iniciativas anteriores e as normas constitucionais de 1988, o sistema de cotas para
trabalhadores com deficiência no Brasil foi delineado a partir da lei de contratação de
deficientes nas empresas - Lei nº 8.213 (BRASIL, 1991) - que definiu que as empresas com
100 ou mais empregados passavam a ser obrigadas a preencher de 2% a 5% dos seus cargos
com beneficiários reabilitados ou com pessoas com deficiência habilitadas, sendo esses 2%
para empresas na faixa de 100 a 200 empregados; 3%, de 201 a 500 empregados; 4%, de 501
a 1000 empregados e 5% nas empresas com mais de 1.000 empregados.
Para garantir o cumprimento de cotas, o Ministério do Trabalho promove ações de
fiscalização e conscientização junto às empresas. Aquela que não cumpre a legislação é
autuada e a multa varia de R$ 2.281,05 a R$ 284.402,57, a depender do porte do
estabelecimento e das vagas não preenchidas (SANTOS, 2017).
Apesar disso, entende-se que contratar pessoas com deficiência vai além de cumprir
cotas, pois requer atentar para o processo de inserção e integração da pessoa no ambiente de
trabalho. Lima (2013) explica que o trabalho também é uma possibilidade de inserção social,
devido ao encontro do trabalhador com muitos outros dentro do mesmo espaço ou fora dele,
deixando de ser apenas uma atividade para ser também uma forma de relação social.
Participar desse mundo social possibilita o aprimoramento da subjetividade, pois torna visível
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Van Maanem (1989), conforme citado por Shinyashiki (2002), explica que a
organização utiliza diferentes táticas de socialização dos colaboradores, levando em
consideração aspectos tais como: o agente que vai servir de fonte desse processo, o próprio
processo de aprendizagem em si, o sujeito desse processo que é a pessoa que está engessando
nessa organização e o resultado a qual está sendo aprendido. Assim, quando um novo
colaborador, seja deficiente ou não, ingressa na empresa se faz necessária sua integração no
sistema organizacional.
Para Carvalho-Freitas et al. (2010), de forma mais ampliada, a socialização
organizacional é o processo de aprendizagem de valores, crenças e formas de concepção do
mundo próprio de uma determinada cultura organizacional. Mas quando se trata dessa
socialização organizacional com pessoas com deficiência nas empresas, de forma mais
específica, a autora aborda o assunto a partir de três dimensões. A primeira delas é a
Dimensão Biológica que se refere a uma dimensão de análise onde o foco está no indivíduo.
Diz respeito a sua história no processo de socialização, de suas expectativas de inserção no
mercado de trabalho e a criação de uma futura identidade profissional. A segunda é a
Dimensão Relacional, que compreende a forma como o sujeito se identifica com os demais.
Refere-se a um ato de atribuição de identidade para com a organização e para com os outros
indivíduos que fazem parte desse processo de socialização. A terceira e última é a Dimensão
Organizacional que envolve o respeito das organizações e suas práticas que favorecem ou não
esse processo de inserção de PCDs, considerando o conjunto de ações proposto por essa
organização a fim de fazer esse indivíduo parte dessa empresa, bem como as condições de
trabalho, tais como espaço físico apropriado, mas não só isso, é sugerido que seja dado mais
atenção à organização social do espaço.
Carvalho-Freitas et al. (2010) mostram que a socialização de PCDs por parte das
empresas pode ser feita de através de ações de adequação, na qual envolvem três fatores:
sensibilização, adequação das condições de trabalho e adequação das práticas de Recursos
Humanos. A sensibilização se trata do fator que visa a percepção das pessoas sobre as ações
da organização com o intuito sensibilizar as chefias e funcionários para a inserção de PCDs e
oferecer informações sobre saúde e segurança no trabalho às PCDs contratadas. Adaptação
das condições é o fator que realça a percepção das pessoas às modificações no ambiente e
instrumentos de trabalho realizados pela empresa para ajudar na inserção de PCDs. O terceiro
é fator são as práticas de RH, que destacam a percepção das pessoas no que diz respeito à
adequação das formas de seleção, treinamento, promoção e transferência realizadas pela
empresa com objetivo de inserir as PCDs.
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de Cotas existem barreiras a serem vencidas não só em relação a atitudes de inclusão, assim
como questões básicas de espaços físicos. Então, o que as empresas devem fazer para recebê-
las assegurando o modelo da inclusão? Diante dessa problemática, este estudo visa, através de
uma pesquisa bibliográfica integrativa, contribuir para ampliar o conhecimento científico
sobre o assunto, já que percebe-se poucas pesquisas nesse enfoque, apesar de ser estratégico e
essencial para que se possa acreditar em sociedades mais justas possibilitando maiores níveis
de inclusão social dessa parcela da população. Portanto, assegurar direitos e ampliar
oportunidades compõem o pilar para conferir a transformação da realidade social.
O estudo teve como objetivo geral analisar as estratégias de socialização
organizacional de PCDs nas empresas e seus efeitos sobre esses sujeitos. Os objetivos
específicos foram descrever o processo de inserção de PCDs nas empresas; identificar as
práticas de socialização organizacional nas empresas; verificar os efeitos do processo de
socialização organizacional sobre as PCDs.
A relevância do tema para a pesquisa se deve à necessidade de aprofundamento em
temas como socialização e inclusão no que se refere à inserção de pessoas com deficiência no
âmbito organizacional, que muitas vezes é voltada apenas para o cumprimento da lei. Com
isto, percebe-se a importância de promover um conhecimento mais aprofundado desta
temática, atentando-se para suas nuances, como as potencialidades e limitações das práticas
de socialização, buscando melhor compreender como elas afetam o público em questão, bem
como as transformações de realidade que ocorrem a partir de uma socialização bem efetuada.
Metodologia
O estudo consistiu em uma Revisão Integrativa de Literatura, que segundo Mendes,
Silveira e Galvão (2008) é um método de pesquisa que permite a elaboração de uma análise
mais ampliada da literatura, colaborando para discussões sobre os métodos e resultados das
dessas pesquisas, possibilitando assim, que se façam reflexões que favorecerão estudos
futuros. Tendo como foco a entendimento mais aprofundado sobre um determinado assunto,
apoia-se em estudos anteriores, seguindo alguns critérios de inclusão e exclusão na
metodologia da pesquisa.
Conforme proposto por Mendes, Silveira e Galvão (2008), o estudo de revisão
integrativa seguiu seis etapas. A primeira etapa consistiu na definição do tema e elaboração da
questão de pesquisa. A segunda etapa diz respeito aos critérios de inclusão e exclusão dos
artigos, conduzindo de forma criteriosa já que isso impacta na qualidade e na confiabilidade
das conclusões finais da revisão. Na terceira etapa, foi feita a categorização dos estudos a fim
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de definir quais informações seriam extraídas. Na quarta etapa, fez-se a análise dos dados
incluídos na revisão integrativa. A quinta etapa consistiu na discussão dos principais
resultados, fazendo uma interpretação acerca dos mesmos. Foram identificadas as lacunas que
eram vistas como pertinentes e apontadas como futuras pesquisas. A sexta e última etapa
consistiu na formulação do artigo com os principais resultados obtidos da análise.
Duas questões nortearam o estudo: (1) Quais as estratégias de socialização
organizacional empregadas para inserção de PCDs nas empresas?; e (2) Quais os efeitos das
estratégias de socialização organizacional sobre as PCDs?
Como critérios de inclusão foram considerados: artigos publicados em português no
período de 2003 a 2018; pesquisas que abordem a inserção de PCDs em empresas; pesquisa
empírica realizada no Brasil, artigos disponíveis na íntegra e publicação em periódico
revisado por pares. Como critérios de exclusão foram aplicados: artigos em duplicidade;
textos sem resumo disponível na base de dados; e estudos de revisão.
A bases de dados eletrônicas consultadas foram: SciELO (Scientific Electronic Library
Online), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e
IndexPsi (Index Psi Periódicos). Para a busca nas bases de dados, foram utilizados os
seguintes descritores: socialização; inserção, PCD, pessoa com deficiência e trabalho. Os
operadores booleanos foram empregados em diferentes combinações dos termos como
estratégia de pesquisa, no intuito de propiciar uma busca mais ampla ao assunto pesquisado.
A coleta de dados foi feita no período de setembro a outubro de 2018. Na primeira
seleção, foi feita a leitura dos títulos e resumos dos artigos. Após a verificação dos critérios de
inclusão e exclusão, foram selecionados os artigos a serem lidos integralmente. Também,
utilizou-se um roteiro para a coleta de dados constando: objetivo e método do estudo;
participantes e local do estudo; intervenções/práticas de socialização empregadas; resultados
do estudo.
Os dados extraídos foram analisados com utilização do método de Síntese Temática
(THOMAS; HARDEN, 2008), que contempla as seguintes fases: codificação do texto,
desenvolvimento de temas descritivos e geração de temas analíticos.
Resultados e Discussão
A partir das buscas realizadas nas três bases de dados - SciELO, LILACS e IndexPsi -
foram encontradas 3333 referências. Após a exclusão dos artigos que não atendiam aos
critérios de elegibilidade, foram selecionados 8 estudos. A tabela 1 apresenta o fluxo das
etapas de seleção dos estudos.
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A partir da análise crítica dos estudos, foram encontradas três categorias temáticas:
práticas de socialização de PCDs nas empresas; dificuldades para fazer a inclusão de PCDs; e
percepção das PCDs acerca das práticas de socialização.
As práticas de socialização de PCDs nas empresas
Na primeira categoria, foram identificadas três subcategorias que surgiram como as
principais práticas utilizadas pelas empresas para a socialização do PCDs, são elas: gestão da
diversidade, adequação da estrutura organizacional e treinamentos.
A gestão da diversidade foi uma prática de socialização que apareceu em cinco artigos
(estudos 1, 2, 4, 5 e 8) dos oito analisados, o que revela ser um foco da atenção nas empresas
que se preocupam em criar um ambiente adequado para a inserção de profissionais com
deficiência. Por gestão da diversidade, compreende-se um processo de ações ativas e
conscientes de gestão, orientado a desenvolver o futuro de uma organização embasada em
valores. Essa base traduz-se na aceitação das diferenças entre as pessoas e no tratamento das
mesmas, sempre com um potencial possível de ser desenvolvido (MACCALI et al, 2015).
Sendo assim, a gestão da diversidade trata-se de uma política de gestão e a sua prática
perpassa por todos os processos do RH. Sua implantação requer um ordenamento das
estratégias de RH da empresa, envolvendo os subsistemas de gestão de pessoas, tais como
Recrutamento e Seleção (R&S), Treinamento e Desenvolvimento (T&D), Remuneração e
Cultura Organizacional (MACCALI et al, 2015).
Nas empresas em que ocorre a propagação adequada da gestão da diversidade, os
funcionários, como um todo, acabam por internalizar os valores que fomentam o respeito às
diferenças. Este tipo de gestão consiste em um desafio para as empresas, já que é preciso
investir, não só financeiramente, mas em políticas e estratégias para atuar junto ao mercado e
aos funcionários.
Um exemplo de como a gestão da diversidade foi implantada na organização é citado
no estudo 4, realizado em uma unidade do Serviço Social da Indústria (SESI)/Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) no Paraná. Inicialmente, o SESI/SENAI
realizava a capacitação de pessoas com deficiência intelectual com o objetivo apenas de
favorecer a entrada dessas pessoas no mercado de trabalho, no entanto, não tinha em seu
contexto organizacional a vivência dessa inserção. Com a criação do Projeto de Inclusão, os
alunos começaram, após o treinamento, a serem contratados como Aprendizes de auxiliar de
escritório e almoxarifado, tendo os mesmos benefícios que os demais funcionários, uma carga
horária de quatro horas e salários compatíveis. Além disso, o recrutamento passou a adotar
processo de seleção interna para as PCDs. Evidenciou-se também a mudança de postura por
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parte das pessoas que faziam esse processo, que passaram a agir proativamente para propiciar
a inserção, com formas de contratação flexível às necessidades das PCDs. Isso gerou
significativas transformações não só no cotidiano das atividades organizacionais, mas na
relação desses indivíduos, que tiveram a oportunidade de se inserir no mercado de trabalho.
O estudo 5 analisou o Programa de Inclusão em uma empresa de grande porte, com
foco na gestão da diversidade. Inicialmente, foi criada a Política de Direitos Humanos da
empresa com o intuito de reforçar o respeito e valorização da diversidade e a não tolerância
quanto a práticas de discriminação. O programa foi estruturado contemplando ações, tais
como: mapeamento de cargos; verificação da acessibilidade e adequação de infraestrutura;
capacitação dos profissionais como médicos, engenheiros de segurança, RH, etc.;
sensibilização e capacitação dos gestores. No entanto, nos primeiros anos da implantação do
programa, observou-se que havia segregação das PCDs no cargo de aprendiz operacional,
sendo as contratações por tempo limitado de seis meses a um ano. Isto fez que a rotatividade
das PCDs aumentasse na organização, bem como gerou mal-estar nessas pessoas que não
viam perspectiva de permanecerem na empresa. Após avaliação do programa, foram
realizados ajustes de forma que a contratação passou a ser por tempo indeterminado e as
PCDs também começaram a ser acompanhadas como as demais, no que diz respeito aos
critérios de avaliação de desempenho e treinamentos. Com as mudanças, observou-se que,
apesar das dificuldades iniciais para a implantação, o Programa passou a ser visto como parte
natural da organização, de modo a tornar a empresa mais inclusiva.
A adequação da estrutura organizacional para favorecer a acessibilidade das PCDs foi
citada em todos os artigos. As adequações podem ser tanto na estrutura física como no
mobiliário e instrumentos de trabalho.
No que diz respeito a adequação das condições de trabalho, o estudo 8, realizado em
uma grande empresa de serviços e intermediação financeira, mostrou que foram feitas
modificações em todas as instalações físicas para favorecer a inserção das PCDs. Os prédios
novos já foram construídos dentro dos parâmetros exigidos por lei e nos prédios antigos as
modificações eram feitas conforme a necessidade do funcionário. Além da parte arquitetônica,
houve a adaptação nos instrumentos de trabalho e nos mobiliários, quando necessário.
Às vezes, as modificações no ambiente são feitas a partir das necessidades especiais de
cada PCD. Por exemplo, no estudo 1, uma das empresas que participou da pesquisa, fez uma
adequação no local de trabalho de uma funcionária que tinha deficiência múltipla (problema
na coluna, visão reduzida e deficiência intelectual), no intuito de possibilitar o seu conforto.
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Para isto, a altura da mesa e da cadeira foi ajustada à sua baixa estatura e postura diferenciada.
A funcionária também foi liberada para ficar em pé ou sentada quando melhor lhe conviesse.
Um dos profissionais que foi entrevistado no estudo 3 relatou que, após uma das
empresas ter feito todas as adaptações necessárias, se surpreenderam com o desenvolvimento
dessa mão de obra. Com esse resultado positivo, passaram a contratar pessoas a mais do que
exigia a cota, fenômeno raro de acontecer. Com a realidade de um mercado de trabalho
competitivo, imediatista e pouco adaptado às características de pessoas com deficiência,
muitas vezes esses indivíduos, por terem restrições de algumas habilidades, se veem em
desvantagem. Quando as empresas fazem as adaptações necessárias, essas pessoas passam a
poder trabalhar com maior igualdade de oportunidade, conseguindo serem autônomas e
mostrarem todos os seus potenciais.
Outro modo de promover a socialização comumente empregado pelas empresas são os
treinamentos (estudos 2, 3, 4, 5 e 8). Quando o RH encontra o candidato que atendeu ao perfil
da vaga, há algumas competências específicas que, muitas vezes, precisarão ser desenvolvidas
pela empresa e os treinamentos são opções para que isso ocorra.
Os treinamentos são projetos sistemáticos, que têm um tempo determinado e é
conduzido pela organização, a fim de promover novas aprendizagens, aumentar o
desempenho dos colaboradores em uma determinada tarefa, bem como fomentar mudanças no
modo de ser, pensar e agir (MAIA; CARVALHO-FREITAS, 2015).
Na análise dos treinamentos realizados para as PCDs em duas empresas, o estudo 2
verificou que ambas realizam treinamento de integração e treinamento on-the-job. Em uma
das empresas é feito acompanhamento diário para orientação de tarefas. Na outra, os
treinamentos são setoriais e dependem do diagnóstico de necessidade de treinamento e da
gestão do desempenho. Ambas ainda possuem acompanhamento mensal pela Associação de
Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), que também serve de auxílio para orientar sobre
como lidar com as PCDs.
Os colegas ou pares das PCDs também recebem treinamentos a fim de favorecer a sua
inclusão e adaptação. Os estudos 3 e 4 descrevem o uso de treinamentos e palestras para os
funcionários da empresa, antes do ingresso das PCDs no ambiente organizacional, com a
finalidade de sensibilizar para a recepção dos novos integrantes e orientar sobre o tratamento
das PCDs.
No estudo 4, a capacitação das PCDs jovens aprendizes foi adaptada aos novos
participantes. O material didático foi modificado de acordo com a capacidade dos alunos,
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além da dinâmica de ensino voltada para o exercício das funções, favorecendo assim a
aprendizagem e a adaptação dos deficientes intelectuais.
Também na empresa do estudo 4, o treinamento não se restringiu apenas às PCDs, mas
envolveu os demais funcionários a fim de viabilizar um primeiro contato. Os funcionários
participaram de treinamentos e palestras que ensinavam como lidar com as deficiências, além
de atividades de sensibilização no convívio. Porém, alguns anos depois, as reuniões foram
limitadas ao repasse de algumas orientações de como lidar com os deficientes intelectuais, o
que resultou em maior dificuldade em tratar com essas pessoas. Com isto, é possível perceber
que atividades de treinamento, principalmente, envolvendo o corpo funcional para aprender a
lidar com PCDs, necessitam serem mantidos regularmente, tendo em vista que por mais baixa
que seja a rotatividade da empresa, sempre haverá a entrada de novos colaboradores e o
conhecimento acerca dessa questão precisa ser disseminado. Ofertar treinamentos regulares
ainda contribui para manter vivo o valor da aceitação da diversidade.
Além de treinamentos, o sistema de tutoria é uma estratégia utilizada no programa de
integração de PCDs. O estudo 4 descreve a prática da tutoria desenvolvida pela empresa, onde
os membros da organização se dispõem a acompanhar os novos integrantes, tornando-se
responsáveis por orientar sobre as atividades organizacionais. Esse tutor também passa a ser a
pessoa a quem outros funcionários podem buscar quando sentem alguma dificuldade em
relação ao colaborador com deficiência.
Os estudos ainda revelam a importância das práticas de socialização não só com os
pares, mas, principalmente, com os gestores. A empresa de grande porte, no estudo 8, utiliza
como sensibilização das chefias o repasse de cartilhas informativas e um programa na TV
Corporativa (intranet) que aborda sobre a inserção de PCDs e orienta quanto à adequação das
condições de trabalho.
Os resultados dos estudos analisados mostram que contratar uma PCD, ao contrário do
que muitos pensam, não é tão simples, pois acarreta algumas mudanças e investimentos por
parte das empresas, a começar pelo setor de Recursos Humanos. Para que ocorra a inclusão
das PCDs de forma eficaz, as práticas de RH são essenciais, já que se tratam de medidas que
visam facilitar a gestão da diversidade com ações de sensibilização e adaptação das condições
de trabalho.
A acessibilidade é um obstáculo na maioria das vezes presente no cotidiano das PCDs,
desde a parte urbanística até dentro do âmbito organizacional. Porém, é algo que as empresas
precisam rever, pois para que essas pessoas consigam desempenhar as tarefas para as quais
foram contratadas necessitam minimamente de um ambiente que condiz com as suas
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limitações, sejam elas quais forem. Quando se trata de estrutura organizacional, um simples
batente no caminho que para uma pessoa dita “normal” não seria nem percebido, para essas
pessoas pode ocasionar, inclusive, um acidente de trabalho. Como afirma Bahia (2006, p. 66),
uma empresa é considerada inclusiva quando não elimina o candidato ou funcionário por
qualquer condição individual, como nacionalidade, gênero, orientação sexual, cor, deficiência,
dentre outros, e além disso consegue que seus colaboradores com ou sem esses atributos
consigam conviver e trabalhar juntos.
exercer as atividades para as quais foram designadas da melhor forma, sendo culpabilizadas
por isso.
Em suma, as dificuldades para inserção das PCDs apresentadas nos estudos apontam
para questões sociais mais amplas, em que a empresa é apenas parte do contexto maior da
sociedade. Os desafios para as PCDs começam pelo seu primeiro ambiente social: a família.
Ter um membro da família com algum tipo de deficiência, seja ela qual for, muda toda a
organização familiar. É dentro desse primeiro contexto que ela aprende a ser autônoma, como
se relacionar com os demais, como lidar com as frustações e aprender como lidar com a vida
social. Quando ingressa na escola, a instituição muitas vezes não consegue dar conta de fazer
acontecer a inclusão, seja por questões de despreparo, o que pode estar ligado a falta de
investimentos por parte do governo e a necessidade de criação de políticas públicas efetivas.
Isso consequentemente impactará na inserção das PCDs nas empresas, na maioria das vezes
de uma forma negativa, pois tanto ela encontrará barreiras devido à sua própria história de
vida e meio social como também por parte da comunidade em que vive, já que a nossa
sociedade em geral não é incentivada desde cedo a lidar bem com a diversidade.
Considerações Finais
Ao final deste estudo, constata-se que a Lei das Cotas contribuiu para que as empresas
contratassem PCDs, a fim de cumprir com essa determinação legal. Porém, fazer essas
pessoas permanecerem na empresa e, dentro de suas possibilidades, contribuir para o
desenvolvimento organizacional dependerá de vários fatores.
Um deles que está em ascensão nas empresas é a implantação da gestão da
diversidade, mas a sua efetividade mostra-se bem mais complexa, pois engloba todas as
práticas de RH e as políticas da empresa e, consequentemente, precisarão passar por diversas
mudanças, as quais envolvem investimento financeiro. Além disso, modificar o valor de
aceitação da diversidade no âmbito de trabalho não é uma das tarefas mais fáceis, já que
perpassa todo um construto social.
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No subsistema de R&S, por exemplo, os ajustes poderão ser feitos desde os processos
seletivos, os quais buscarão encontrar candidatos que se adequem ao perfil da vaga. Já no
subsistema T&D é preciso promover ações a fim de trabalhar questões como adaptação e
desenvolvimento profissional não apenas das PCDs, como também de todos os seus
funcionários, colaborando para a socialização organizacional.
A acessibilidade foi outro ponto bastante presente em todos os estudos. O aumento da
presença de PCDs no mercado mobiliza as organizações para que repensem desde a questão
de mobília até suas instalações arquitetônicas com o intuito de acolher seus novos
colaboradores de forma adequada.
No atual contexto, marcado pelo desemprego, vemos a crescente superação das PCDs
frente a essa realidade. A cada dia, lutam por seus direitos e buscam demonstrar, através do
trabalho, que têm capacidade para tal e que não precisam do olhar de pena e sim de serem
vistas como profissionais que são.
Em relação às implicações práticas, percebe-se que as empresas que investem em
estratégias de socialização para PCDs precisam fazer algumas mudanças, o que, na maioria
das vezes, a curto prazo, lhes trazem custos. Todavia, se as organizações tiverem uma visão
mais ampla, entenderão que isso trará um retorno positivo no futuro, pois quando oferecem
condições adequadas de trabalho, tornam-se geradoras de um ambiente favorável e
contribuem para uma socialização que favoreça a inclusão de seus colaboradores, fazendo
com que os mesmos se sintam valorizados, reconhecidos e motivados.
Por fim, vemos que as hipóteses levantadas no início da pesquisa de que as
organizações ainda têm dificuldades para desenvolver estratégias de socialização e que a
presença das mesmas impacta positivamente na inclusão e no desempenho das PCDs, foram
comprovadas através dos estudos. Deixa-se como incentivo a temática para futuras pesquisas
e contribuições para a área organizacional.
Referências
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