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O VOLP, Vocabulário da Academia Brasileira de Letras,

não tem valor oficial nem legal (segundo a própria ABL)


10/09/2016

https://dicionarioegramatica.com.br/2016/09/10/o-volp-vocabulario-da-academia-brasileira-de-letras-nao-tem-valor-oficial-nem-legal-segundo-a-propria-abl/

Uma crença comum entre brasileiros interessados pelo estudo


da língua portuguesa é a ideia, equivocada, de que o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (o chamado
VOLP) da Academia Brasileira de Letras teria algum valor
oficial ou legal; com base nessa
só existiria, em português (do Brasil), se estivesse no VOLP; e
a grafia correta de toda e qualquer palavra seria a constante do
VOLP.

Mas nada disso é verdade. Como afirma o próprio presidente


da Academia Brasileira de Letras, a ABL é uma organização
não governamental, sem fins lucrativos, mas não é um órgão
público , e o único vocabulário ortográfico oficial,
efetivamente ligado ao Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa , será o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOCLP), explicitamente previsto no
texto do Acordo, e que está ainda em fase de elaboração.

O próprio presidente da Academia Brasileira de Letras diz ser "curioso" que, "no Brasil", o VOLP seja por muitos
considerado a referência . Tudo isso foi dito pelo presidente da Academia Brasileira de Letras em entrevista na
Organização das Nações Unidas, em 2016, disponível aqui.

Sendo a Academia Brasileira de Letras uma simples ONG, e não instituição governamental, o VOLP não tem,
nem poderia ter, valor legal ou oficial. O único documento que rege oficialmente a ortografia da língua portuguesa
no Brasil, devidamente ratificado pelos poderes legislativo e executivo brasileiro, é o Acordo Ortográfico da
Língua Portuguesa.

Isso significa que, quando o VOLP da ABL diverge ou contraria o que diz o próprio texto legal do Acordo
Ortográfico (e há vários casos em que isso ocorre), é o Acordo que deve ser seguido, se se pretende seguir a
ortografia legal e oficial.

Para ficar em uns poucos exemplos: o texto do Acordo Ortográfico manda, expressamente, escrever com hífen a
palavra co-herdeiro; traz expressamente sem hífen a palavra zunzum; e diz expressamente que o gentílico do
Kuwait a ser usado em português é kuwaitiano. Já o VOLP da ABL não traz co-herdeiro, mas, sim, em evidente
contradição com o texto legal, coerdeiro; não traz zunzum, mas, sim, zum-zum; e não traz kuwaitiano, mas,
sim, cuaitiano. São casos em que o VOLP expressamente contraria a norma ortográfica oficial da língua
portuguesa. De modo que, se quiser seguir a norma oficial, não tenha dúvida: escreva zunzum, co-herdeiro
e kuwaitiano, e ignore o VOLP da ABL e suas recomendações extraoficiais, que não têm nenhum caráter legal.

Mesmo os dicionários escolhem não seguir (ou contrariar explicitamente) o VOLP em muitos casos: o VOLP da
ABL, por exemplo, traz a forma lacrimogênio; os dicionários (Houaiss, Aurélio, Michaelis, Aulete, etc.) ignoram
a recomendação da ABL e escrevem lacrimogêneo.

Segundo uma dessas lendas urbanas da Internet, o caráter oficial do VOLP da ABL dá delegação e
responsabilidade legal em cumprimento à lei n. 726, de 8/12/1900 . Mas basta a qualquer um procurar
a tal lei número 726, de 8 de dezembro de 1900, disponível aqui, para ver que não há absolutamente nenhuma
menção a vocabulário algum.

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