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David da Conceição1
1Docente da rede pública do Estado do Rio de Janeiro. Graduado em Letras (UERJ) e em História
(UERJ).
I - Introdução
II – Cidade e Cosmopolitismo
de Pereira Passos (1903-1906), uma vez que, neste período, apenas se acentua
Esse processo como um todo foge à análise deste estudo, por isso, far-se-á
períodos históricos.
condizentes com a nova situação do Rio de Janeiro – sede da Corte. Com Pereira
Bilac, por sua vez, podemos perceber o drama da população pobre afetada pela
com Pereira Passos essa característica será exacerbada como uma das formas de
a sua artificialidade, ou seja, o cosmopolitismo, que não podia ser julgado pelos
Estado tinha de ser reconhecido internacionalmente como moderno, pois, “as obras
melhor defini-la como a maneira de viver de uma sociedade, ou seja, tudo aquilo
que uma sociedade faz ou pensa. Neste sentido, o termo cultura abrange dois tipos
de relações: a dos homens com o mundo que o cerca e a dos homens entre si.
3 Sérgio D. T. Macedo (1964, p. 74) confere esse novo status à clientela dos quiosques,
considerados “pontos de reunião dos malandros que ficavam encostados no seu balcão, o dia
inteiro, bebericando, discutindo, brigando, provocando transeuntes e promovendo desordens”.
4 Em concordância, Gastão Cruls observa que a obra de Oswaldo Cruz foi realizada “ainda mesmo
ela saiu para as ruas, o que fica evidenciado pela mudança nos trajes e modas. Era
populares. Era um conchavo necessário para o controle social. Era no cinema que
projetada na tela, incorporando novos valores ao seu modus vivendi. Dessa forma,
modernidade5.
sob leis comuns, perseguindo ideais também comuns, veremos que o Estado
brasileiro (voltado para fora) estava longe de constituir-se em uma Nação. Desta
5O primeiro a formular o conceito de progresso foi Kant, onde “o fio condutor da natureza” levaria o
homem a este progresso, independente da individualidade.
do tempo como uma questão básica da Modernidade. O Homem moderno não pode
desperdiçar o tempo, ele “caminha” para o futuro, ou seja, não deve haver nenhum
impedimento para a consecução dos seus objetivos. Por que a aliança tempo e
beleza?
Para que tal intento fosse conseguido, foram criadas leis de ocupação do espaço
fachadas.
é óbvio que o setor ligado à construção civil, enquanto, no outro, fica evidente a
estava presente este caráter de demolição dos aspectos coloniais da cidade do Rio
de Janeiro, já que era incompatível com os tempos modernos: “Era preciso eliminar
6Embora haja discordância com relação à quantidade dos prédios destruídos, pode-se evidenciar
que foram em número significativo, trazendo transtorno para a população envolvida. Segundo Sérgio
D. T. Macedo, foram demolidos 641 prédios, enquanto para Marc Ferrez, totalizou-se 585
construções.
qual seja: ligar o centro da cidade ao porto. Este porto era mais um lugar de entrada
para abastecer a classe dominante daqueles produtos que a tornavam igual aos
Como era óbvio que não só mercadorias passavam pela avenida, uma outra
função para o seu traçado e ampliação era dar a este homem um sentido de
sua salutar e livre amplidão, fazia perdidos os protestos teimosos dos renitentes”
quando observam as outras ruas do Rio de Janeiro. De acordo com Marc Ferrez
da Avenida Central tinham 7 metros. Era uma avenida para ser observada
IV - Conclusão
dos referenciais dos habitantes do Rio de Janeiro. Isto porque o homem que
Logo, deveria haver um processo de readaptação deste homem ao seu meio, após
porque ele é apenas um elo de uma engrenagem complexa e não toda ela.
Era o Rio mais uma vez expressando a modernidade por meio da artificialidade e
cosmopolita procurado pelo Estado brasileiro, uma vez que o Rio de Janeiro era
Rio. Sem esquecermos que a cultura dominante tentou, até mesmo, “esconder” os
negros.
(...) estava abrindo novas avenidas, alargando ruas, jardinando praças, mudando
com isso, usos e hábitos arraigados havia trezentos anos” (FERREZ, 1983, p. 31).
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Abstract: The present article analyses the Urban Reform undertaken in the city of
Rio de Janeiro, the Federal District, carried out by the municipal administration of
Francisco Pereira Passos in the beginning of the 20th century. From a dialogue
between Literature and Social History, the objective of this article lies in
understanding the unfoldings of such urban reform in daily life of the Carioca society
of the Belle Époque.
Keywords: Urban Reform - Pereira Passos – History of the city of Rio de Janeiro.
Recebido em 25/09/2017.
Aprovado em 25/10/2017.