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INTRODUÇÃO

ESTE ESPETÁCULO CONTA UM POUCO DE COMO FOI A FORMAÇÃO ÉTNICA


DO POVO DE MATELÂNDIA ATRAVÉS DA HISTÓRIA, DESDE A CHEGADA
DOS PRIMEIROS COLONIZADORES OS “SULISTAS” VINDOS DE SANTA
CATARINA E RIO GRANDE DO SUL, PASSANDO PELA CHEGADA DOS
“NORTISTAS” QUE VIERAM DO NORTE DO PARANÁ, ESSES TENDO COMO
ESTADOS DE ORIGEM SÃO PAULO, ESPIRITO SANTO, MINAS GERAIS E
ALGUNS DOS ESTADOS DO NORDESTE BRASILEIRO UM POVO
ORIGINADO DA MISTURA DE NEGROS, INDIOS E PORTUGUESES, TAMBÉM
VIERAM OS “POLACOS” DA REGIÃO DO TERCEIRO PLANALTO OU CAMPOS
DE GUARAPUAVA E POR FIM OS “ORIENTAIS” MAIS PRECISAMENTE OS
JAPONESES. E DESSA MISTURA FORMOU-SE O POVO QUE HOJE HABITA

ESTA TERRA QUERIDA E ABENÇOADA CHAMADA: MATELÂNDIA!


EMBARQUE CONOSCO NESSA AVENTURA E DIVIRTAM-SE COM AS
HISTÓRIAS, LENDAS E CAUSOS DESSES PIONEIROS, QUE REPRESENTAM
A ORIGEM DE TODOS NÓS.

Como diria o japonês - YOI KŌKEI! O alemão -


GUTES SCHAUSPIEL! Já o polonês falaria - DOBRE
WIDOWISKO ! E o italiano - BUON SPETTACOLO !
E nós dizemos:

BOM ESPETÁCULO A TODOS!!!


O ESPETÁCULO

ETNIAS:
MATELÂNDIA
HISTÓRIAS, LENDAS E CAUSOS.

CENÁRIO: Balcão de uma barraca de feira com um banco de jardim dispostos em


diagonal aberta. Observar o quadro abaixo que representa a divisão do palco em
duas partes uma onde acontece a cena fixa das cinco personagens que
representam as etnias a outra parte será destinada as cenas de memórias das
personagens principais, as danças e aos músicos.

A B

Cena fixa outras cenas, danças e músicas.

PERSONAGENS PRINCIPAIS: Representam as cinco principais etnias que


colonizaram Matelândia, sendo elas:

ALEMÃO --------- FRANZ ---------------- CLEBER

ITALIANO -------- ZOZÉ ------------------ LAIRTON

NORTISTA ------- ZÉ TORRESMO ----- ALADIR

POLONES ------- KOWALESKI-----------ZÉ/OUTRO

JAPONES -------- TOSHIRO--------------ZÉ/OUTRO

IDEALIZAÇÃO: GIANI MIRAFIORI

REALIZAÇÃO: CASA DA CULTURA

TEXTO E DIREÇÃO: Aladir Carlos Da Silva, colaboração: Lairton Massarollo.


FIGURINOS: trajes que caracterizem cada uma das personagens. Os demais
personagens terão seus figurinos definidos de acordo com cada uma das cenas
onde aparecerem, assim como os adereços e os elementos cênicos.

ATO ÚNICO

CENA I

(ZÉ TORRESMO ENTRA CARREGANDO SUA BARRACA DE FEIRA E COMEÇA A


MONTÁ-LA, CANTAROLA UMA MÚSICA SERTANEJA ANTIGA, COMEÇA A
TOCAR A MÚSICA PEDRAS QUE CANTAM, ENTRA GRUPO DE DANÇA ELE
DANÇA JUNTO DEPOIS CONTINUA O SEU TRABALHO, ZÉ FALA SOZINHO,
DURANTE A MONTAGEM VÁRIAS PESSOAS COMEÇAM A CIRCULAR PELO
LOCAL REPRESENTANDO TANTO OUTROS FEIRANTES COMO FREGUESES).

ZÉ TORRESMO – Eita! Tempo bom! Saudades danada de dançar num bom baile
igual os de antigamente. Hoje em dia ou é tuche-tuche, ou esse tal de funk, ou o tal
sertanejo dos universitários, é tanta barulheira que a gente nem consegue escutar
os companheiros direito, nem dá pra prosear nos baile de hoje em dia.
(TERMINANDO A MONTAGEM DE SUA BARRACA, PRINCIPIA A VENDA DE
SEUS PRODUTOS).

Zé – Olha ai freguesia a barraca esta cheia e minha carteira tá vazia. Hoje tem
queijo mineiro, bom no preço e bom no cheiro. Você escolhe o queijo, e depois me
da o dinheiro. Vamos chegando minha amiga, tem salame pra encher sua barriga,
tudo aqui é muito bão, olha o doce de leite que pra tu comer com pão, produtos de
primeira só aqui na minha mão. A gente vende pra todo mundo, pro polaco, pro
italiano, pro japonês e pro alemão! (FRANZ VAI CHEGANDO À BARACA).

CENA II

FRANZ – Bom dia! Seu Zé Torresmo.

ZÉ – Dia seu Franz, como é que tá os trem?

FRANZ – Comigo esta tudo joia, ando meio saudoso dos tempos de outrora.

ZÉ – Não brinca homem! Estava pensando nisso agorinha mesmo. Sabe seu Franz
eu tenho curiosidade de saber como é que são as coisas lá na Alemanha, como é
que o povo se diverte?

FRANZ – A gente gosta muito de festa e alegria, ali viu. Por isso que nós
inventamos a Oktoberfest, uma festa tradicional alemã, que tem muitos produtos
típicos, comidas, bebidas e musicas também. _E sabe que uma das maiores
Oktoberfest do mundo é a de Blumenau, em Santa Catarina, só perde pra de Munich
na Alemanha, AQUI EM Matelândia tem a feira da cuca, e tem umas cuca danada
de boa ali viu, e ali na cidade de Missal acontece a Deutsches fest, que quer dizer
festa alemã, com um montão de atrações, tem comida de vários tipos, chucrutes,
Einsbein que é o famoso joelho de porco, o marreco recheado e a cuca Missal, tem
competições para todas as idades, a corrida do saco (sach huppse) pra piazada, o
concurso do serrote mais rápido (Drumsäge) que é disputado em casal de dois, mas
tem que ser um homem e uma mulher, senão não é casal, viu! A corrida de carrinho
de mão (Schubkarren) também é pra casal de dois, o concurso do Chopp de metro,
dai é cada qual contra si, também tem a escolha do casal de Fritz e Frida e a eleição
da rainha da Deutsches Fest e ainda tem o jogo do barril, pros homens e pras
mulher, mas cada qual separado um do outro, os homem contra os homem e as
mulher contra as mulher, viu!

Zé – Meu Deus seu Franz, quanta coisa. Mas, pera ai como é esse tal de Jogo do
barril?

FRANZ – Má tá loco seu Zé, o senhor nunca escutou falar do jogo do barril?

Zé – Eu não, me explique ai, por favor, que eu gosto de aprender coisas novas.

FRANZ – Bom presta atenção, viu, é uma brincadeira que tem várias regras,  No
meio do campo fica o carro do Chopp (Choppwagen), onde está o barril de Chopp, a
equipe que levar um gol deverá servir Chopp pra equipe fez o gol. A equipe que
chutar a bola e acertar o (choppwagen) também vai ter que servir Chopp à equipe
adversária. A equipe que cometer falta deverá servir Chopp pra equipe que sofreu a
falta, em caso de falta grave ou gravíssima, o coitado que sofreu a falta é carregado
na maca e ganha um copo de Chopp pra se recuperar da pancada. E cada vez que
o jogo parar, todos os atletas têm um minuto pra beber Chopp e repor as energias. A
arbitragem é muito rígida, e por isso quando os arbitro cansam, eles param o jogo
pra refrescar um pouco e aproveitam para tomar mais uns Chopp. Tem times que
passam sede, mas têm outros que bebem muito, mais muito Chopp.

Zé – Entendi então o negócio não é joga bola, é ver que toma mais Chopp?

FRANZ – É mais ou menos isso, viu, mas, o melhor de tudo é o baile do sábado de
noite, que tem muita música de bandinha, dai a gente dança, dança até bambear as
canelinhas. Olha fiz até uma rima ali viu? (OS DOIS RIEM, E COMEÇA A
APRESENTAÇÃO DE UMA MÚSICA DE BANDINHA COM COREOGRAFIA).

Zé – Olha seu Franz, agora sim eu vi que o senhor é um alemão puro!

FRANZ- Burro não senhor, a gente vem aqui compra na sua barraca e o senhor
ofende a gente, burro é o senhor que não conhece a cultura da gente, e me dá logo
um salame, antes que eu mude de ideia, minha Frida fez um cuque e eu vou pra
casa tomar café. Quem sabe mais tarde eu volto, eu acho! (VAI SAINDO, PARA
OLHA PARA TRAZ E DIZ: WIRRE. SAI MEIO NERVOSO, ZÉ FICA SOZINHO
COM CARA DE ASSUSTADO).

Zé – Saúde seu Franz! Eu hein! Não entendi nada! Por fala em café, antigamente
tinha muito café por aqui, mas depois da famosa “GEADA NEGRA” de 1975, as
coisas mudaram, no começo todo mundo ficou meio assustado, morreram quase
todos os pés de café da região, e a grande maioria das pessoas que vieram pra cá,
por causa do plantio do café, acabaram indo embora, mas como diz aquele “velho
deitado” – quero dizer – aquele velho ditado, há males que vem pra bem, já que o
café não deu pé, (RISADINHA POR CAUSA DO TROCADILHO), os colonos daqui
começaram a diversificar suas lavouras, ai deu inicio ao plantio do milho, da soja e
também a criação de bovinos e suínos, pra quem não sabe bovino é boi e suíno é
porco tá, bom tinha vaca também né e as porca por que senão de onde iam nascer
os filhotes? Há vocês entenderam né. (VOLTA AS SUAS VENDAS). _ olha o pão de
queijo, com queijo de verdade, nós preparamos no interior e vende na cidade. Os
produtos do Zé torresmo são de primeira qualidade. Aqui o senhor é bem atendido
nunca vai ficar no vaco. Você põe na sacolinha, no balaio ou enche um saco. Chega
mais e vai pedido, o que é que manda seu polaco?

CENA III

(O POLACO QUE IA PASSANDO, PARA).

KOWALESKI – O seu Zé Torresmo, como vai essa força?

Zé – Esta meio fraca Kavaleski.

KOWALESKI – É KOWALESKI!

ZÉ – Ta! Ta! Ta! Esse negócio ai que o senhor falo. O que vai querer hoje?

KOWALESKI – Nada não só estou de passagem.

Zé – A é? Então o senhor me responde uma pergunta?

KOWALESKI – Se eu souber a resposta.

Zé – Eu só queria saber se faz tempo que o senhor veio aqui para Matelândia.

KOWALESKI – Olha tempo faz, mas antes de chegar aqui, os meus antepassados
passaram pela região de Curitiba, que tem uma das maiores colônias polonesa do
Brasil, depois ficamos um tempo ali na região de Guarapuava, ai chegamos por aqui
por volta da década de sessenta, por quê?

Zé – Só curiosidade mesmo, e a vida por aqui, como foi?

KOWALESKI – No começo não foi nada fácil, onde não tinha mato tinha café, era
um perigo andar por ai, mas, sempre que dava tempo a gente inventava um
bailezinho pra se divertir e tentar arrumar uma namorada, mais era difícil demais, os
pais das moças marcava em cima, no baile a gente dançava umas duas ou três
música com a moça o pai dela já ficava olhando de cara feia pra gente, ai tinha que
trocar de par, e os baile de antigamente não era essa barulheira que é hoje não, na
verdade era tudo meio improvisado, sabe, quando a gente acabava de fazer uma
casa, que era feita em mutirão, a gente se juntava e fazia uma casa, depois ia e
fazia a outra, era bonito ver a solidariedade dos pioneiro, ai antes de por as
repartição, sabe as paredes que divide os cômodos das casa? (ZÉ CONCORDA
COM A CABEÇA) ficava só aquele salão grande, a gente chamava os vizinhos que
sabiam tocar algum instrumento musical e convidava todo mundo pro bailezinho de
inauguração da casa. Eu me lembro como se fosse hoje, as pessoas vinham
vestidas do jeito que estavam, não tinha frescura, tinha gente que dançava até de pé
no chão, cada um trazia alguma coisa pra comer ou beber, o que tivesse em casa
estava bom. Como a gente se divertia, não tinha luz elétrica, eram tudo iluminado
com candeeiros, os tocadores na verdade eram sempre os mesmo, por que pouca
gente sabia tocar algum instrumento e cantar então sempre vinha o Selvino Petch, O
Maske, O Afonso, o Chico, O Virgílio Casagrande, o Adolfo Brochar, o Nilo Justen,
os irmãos Breda que vinha de Medianeira, mais o Telmo e o Iracildo Taquariano. Era
uma baita de uma banda, que tocava tudo de improviso, sem ensaio nem nada. (A
CENA VAI SE MONTANDO CONFORME A NARRAÇÃO DO POLONÊS) Na hora
do baile, de um lado ficava os rapazes e do outro lado ficavam as moças. Os
músicos iam se posicionando num canto pra não atrapalhar a dança, e como tinha
pouco instrumento eles revezavam cada um tocava um pouco, ai Sempre tinha um
que gritava, ABRE A GAITA GAITERO!!! (INICIA-SE A CENA, POUPORI DE
MÚSICAS GAUCHESCAS, VALSA, CHOTE, VANERA E VANERÃO. AO TERMINO
ESTÃO OS DOIS COM CARA DE SAUDADES).

ZÉ – Eita! Tempo bom em seu Provaleski?

KOWALESKI – Mas quantas vezes eu tenho que falar seu Zé, meu nome é
KOWALESKI, KO-WA-LES-KI, até logo, depois eu passo por aqui!

CENA IV

Zé – Até seu... PROVA... DIGO KAWA... É CHOWALESKI! Ah, vai ter nome difícil
assim lá na Polônia seu! Deixa pra lá! Que homem mais estressado. Deus me livre!
Deixa-me voltar pro meu trabalho, que até agora não vendi foi nada. Vamos
chegando minha gente tem salada pra vocês. Aqui sempre trazemos o melhor para
o freguês. Têm vários tipos de produtos, de salada uns cinco seis. De queijo tem
muito mais, mas de doce só tem três. E também tem torresminho, vai um saco
japonês?

TOSHIRO – Bom dia seu Zé torresmo, vendendo bastante?

Zé – Que nada seu chouriço...

TOSHIRO – É TOSHIRO!

Zé – Desculpa seu Toshiro, eu me confundo com esses nomes estrangeiros, mas


diz ai, o que é que o senhor manda hoje?
TOSHIRO – Bom seu Zé, eu vou querer uns legumes, pra fazer uma Sõsu
Yakissoba, né?

Zé – Fazer uma sosuyaqui... O que?

TOSHIRO – Sõsu Yakissoba, né? Mais conhecido como Yakissoba, é macarrão com
carnes e legumes grelhados ou fritos, com molho shoyu, muito bom né?

Zé – Ah! Por que não falo antes, bom! Legumes eu tenho bastante, já vou separar
pro senhor, o seu Torisho...

TOSHIRO – É TOSHIRO, SEU ZÉ, TOSHIRO!!!

ZÉ – Tá é Toshiro! Desculpe-me de novo, vem cá, lá no Japão é cheio de tradições,


não é mesmo?

TOSHIRO – É verdade, né? Japonês tem muita tradição e cultura forte, né? Os
japoneses são apegados a terra e a agricultura. O senhor sabia que fomos nós os
japoneses que plantamos a soja pela primeira vez aqui em Matelândia?

Zé – Não brinca, enquanto eu separo seus legumes que tal o senhor me contar
como foi essa história?

TOSHIRO – Tranquilo seu Zé, bom nós saímos do Japão, pra vim para o Brasil na
década de cinquenta, depois de morarmos em umas cidades do estado de São
Paulo, chegamos por aqui na década de sessenta, primeiro tentamos plantar o café
que era a febre da época, mas naquele ano teve uma geada das bravas, não foi
igual à geada negra de 1975, mais foi o suficiente pra gente desistir de plantar café,
né, então a gente resolveu partir para o plantio da soja e também de cereais como o
arroz e o milho, foi difícil naquela época, por que não tinha maquinas pra nada, tinha
que fazer tudo no braço e nós chegamos a colher até 1000 sacas de soja por ano,
mas aqui o que mais fazia sucesso era o milho, porque tinha, tinha não, tem muito
Italiano, né, dai eles gostavam por que do milho a gente fazia a farinha com o que
eles faziam a polenta, lá no Japão a gente nunca tinha comido polenta, lá a gente
come muito e arroz, peixe e frango. O seu zé, por acaso o senhor conhece a música
da polenta?

ZÉ – Música da polenta, como é que é isso seu Sugiro?

TOSHIRO – (TOSHIRO FAZ CARA DE QUEM NÃO GOSTOU, ZÉ FICA SEM


GRAÇA) Bom! Essa música conta a história de como é feita a polenta desde quando
se planta até a hora que se como a polenta, é bem bonito de ver os italianos
cantando e dançando “LA BELA POLENTA”... (COMEÇA A COREOGRAFIA).

Zé – Ah! Eu já vi sim, a polenta é uma comida bem tradicional para os italianos, né


seu Shitoro?

TOSHIRO – Mas o senhor é muito atrapalhado?


Zé – É que esses nomes estrangeiros me enrolam os miolos. Oh! Tá aqui os seus
legumes, vai querer mais alguma coisa?

TOSHIRO – Não, muito obrigado, até logo.

CENA V

Zé – Até mais ver, bom já fiz um trocadinho, (RETOMA AS VENDAS) mas pra pagar
as contas ainda falta muito, voltemos ao trabalho. Bora, bora minha gente, aqui tem
produtos de primeira. Farinha de milho ou fubá, passadinhos na peneira. Pra fazer
aquele bolo ou uma polentinha bem ligeira. E pra acompanha tem um queijinho que
derrete na frigideira!

ZOZÉ – Buon Giorno! signore, Zé Torresmo!

ZÉ – Bom dia, mas, olha que coincidência eu e o seu Sugiro, estávamos agorinha
mesmo falando da cultura dos italianos, ai o senhor aparece aqui seu José!

ZOZÉ – No é José, é ZOZÉ!

Zé – Mas foi o que disse, José!

ZOZÉ – No, no, no, é ZOoooZÉ! Ció, ma parla piano, piano!

Zé – O que, tocar piano, não sei não senhor?

ZOZÉ – Repita de vagar! Vamos junto comigo! ZOoooZÉ! De novo ZOoooZÉ! Mais
uma vez ZOoooZÉ! (OS DOIS FAZEM UM JOGO DE REPETIÇÃO, DUAS VEZES,
DEPOIS ZÉ FALA SOZINHO, ERRADO).

Zé – Já entendi. SOZÉ!

ZOZÉ – Porca miséria! ‘Assa star! Esquece seu Zé. La me donna que fazer uma
polenta, pra comer com queijo e salame, mas o queijo tem que ser daquele que
derrete e fica puxa-puxa e não borrachudo, pó!

Zé – Mais claro que tenho, olha! O melhor fubá da feira, salame italiano fresquinho e
aquele queijo colonial de Minas que o senhor adora seu ZOZÉ!
ZOZÉ – Che bello. Ghe tu parla bene!

ZÉ – É? Foi sem querer. Desculpa!

ZOZÉ – Signore Zé Torresmo, esse seu jeito meio atrapalhado me faz lembrar um
personagem muito engraçado, que a gente falava muito nos tempos de antigamente.

ZÉ – E quem é ele?

ZOZÉ – Mi vui contar uma storieta la aventura do grande NANETTO PIPETTA?

ZÉ – Mas claro, manda ver seu JOSÉ!!!

ZOZÉ – Má! Zio Cane, (ZÉ FAZ CARA DE SEM GRAÇA E SINAL DE SILÊNCIO). –
Mas vê se presta atenção! Bem deixa ver, eram tantas as histórias que o povo
contava, por que nosso maior passatempo naquele tempo eram visitar os vizinhos
tomar chimarrão e jogar conversa fora, não se tinha muito que fazer, tinha uns
vizinhos lá perto de casa, que tinham vindo de Flores da Cunha – RS, como eu, que,
aliás, é de onde vieram a maior parte dos colonizadores da nossa cidade não sei se
o senhor sabia?

Zé – Pior que não sabia não seu José!

ZOZÉ – Mais eu já disse que meu nome é ZOZÉ! Ah! Deixa pra lá, como eu ia
dizendo, meus vizinhos, eram descendentes dos italianos que vieram da região do
Vêneto, como eu e muitos outros, e a gente têm como ídolo um personagem muito
conhecido o famoso NANETTO PIPETTA, que foi criado por Aquiles Bernardi,
conhecido na vida religiosa como Frei Paulino, esse personagem Vêneto, é o
símbolo da imigração italiana pro Brasil que começaram a se bandia pra cá no fim
do século XIX até a metade do século XX, nesse tempo vieram mais de um milhão
de italianos pro Brasil, vamos deixar a história para trás; e vamos ao NANETTO
PIPETTA, bom, a história dele e bem comprida, então eu vou fazer um resumo da
vida do nosso herói certo:

ZÉ – manda vê seu (ZOZÉ SE LEVANTA E OLHA DE CARA FEIA, MAS DESTA


VEZ ZÉ ACERTA, FALANDO PAUSADAMENTE) _ ZOOOZÉ! (ZÉ FAZ CARA DE
SATISFEITO, ZOZÉ SENTA E CONTINUA).

(AS CENAS ACONTECERÃO EM TORNO DE NANETTO QUE FICA PARADO E


TODOS SE MOVIMENTAM AO SEU REDOR INCLUINDO OS ELEMENTOS
CÊNICOS QUE SERÃO TRAZIDOS POR CONTRA REGRAS VESTIDOS DE
PRETO)
ZOZÉ – Muito bem seu ZÉ, NANETTO nasceu e viveu em Veneza, até os treze anos
quando resolveu fugir da Itália e vir para a América, o pobre coitado estava sozinho
no porto, esperando uma oportunidade de embarcar, (CENA DO PORTO COM A
MÚSICA MÉRICA-MÉRICA E COREOGRAFIA) então depois de sonhar com a
América, embarcou como clandestino em um navio, ficou escondido entre as caixas
e bagagens (ENTRA CONTRA REGRAS COM CAIXAS E MALAS, SOM DE NAVIO,
VOZ ANUNCIA A PARTIDA, NANETTO SE ESCONDE ATRÁS DAS BAGAGENS)
em busca de “catare lá cucagna”, que quer dizer encontrar a fortuna ou sorte
grande, mas o coitado só catou mesmo foi desgraças, durante a viagem de navio ele
foi descoberto pelo segurança, que o atirou na cadeia e ele passou a maior parte da
viagem preso, de vez em quando alguém lhe trazia um biscoito e meio copo d’água,
o coitado quase morreu de fome, finalmente quando chegou a América, teve que
fugir do navio a nado, por que pensou que os guardas iam mata-lo, perambulou
pelo Rio Grande do Sul em busca de trabalho, (CENA DE PESSOAS PASSANDO E
NANETTO PEDINDO INFORMAÇÃO MOSTRANDO QUE QUER TRABALHAR) por
muito tempo, passou muita fome, tanto que uma vez ele achou uma bananeira e
pensou que fosse um pé de fruta salameira, ficou maravilhado, pois nunca tinha
visto uma plantação de salame, mas depois que ele comeu ficou um tanto
decepcionado, por que não era salame, mas pelo menos matou um pouco da fome,
no seu caminho experimentou as grandes batatas doces, e provou pela primeira vez
o leite, que ele só conhecia de nome, foi perseguido por causa das trapalhadas que
arranjava, é que o coitado era muito ingênuo e inocente, e ainda tinha o problema do
idioma, já que NANETTO não falava português, encontrou também, Gelina, o grande
amor de sua vida, ficou noivo e partiu em busca de trabalho para ganha sua fortuna
e casar-se com sua amada, depois de muito tempo e muita confusão, ele chegou ao
Paraná, ali pelas bandas do Rio Iguaçu. Encontrou então uma família de também
imigrantes que o acolheu e lhe ofereceu uma meia colônia de terra pra pagar com
seu trabalho, NANETTO aceitou de pronto, trabalhava duro chovia ou fazia sol,
muitas vezes trabalhava até escurecer, ia tudo bem, mas quando faltando apenas
três meses e alguns dias para pagar sua rica terrinha, ele resolveu fazer uma visita a
sua noiva, GELINA, que ele havia deixado a sua espera e ele sempre dizia a ela:
Gelina cara mia, que te quero muito, mas muito mesmo, tanto, tanto que chega a me
dar medo”, (OS DOIS RIEM), a viagem de ida foi tudo bem, logo encontrou sua
noiva e lhe contou todas as novidades, mas na volta, depois de tudo que o coitado
passou para conseguir sua tão sonhada “cucagna”, o destino de NANETTO estava
traçado, durante seu retorno para completar os meses que faltava para pagar a sua
meia colônia, foi alcançado por uma chuva torrencial, (SOM DE TROVÃO E RAIOS
E MUITA CHUVA) ficou abrigado em uma casa por três dias, quando decidiu seguir
viagem andou muito até que de noitinha chegou as margens do Rio Iguaçu, que
estava muito cheio e não dava pra atravessar, mas NANETTO pegou uma canoa
que estava amarrada em uma árvore e resolveu arriscar, e quando já esta mais ou
menos na metade do caminho um enorme galho bateu em sua embarcação, e ele
naufragou, mas, como todo italiano NANETTO não se entregou agarrou-se ao galho
e foi rio abaixo, lutando com as águas bravias. (PAUSA). Alguns dias depois,
quando a maré baixou, encontraram NANETTO, (PAUSA). MORTO, (PAUSA) preso
a um monte de galhos, era o fim das aventuras do corajoso NANETTO PIPETTA, o
seu patrão homem bom e pessoa honrada que era, enterrou o pobre coitado, e na
mesma noite pegou o lampião, uma caneta, algumas folhas de papel e sozinho foi
para um quartinho com a intenção de escrever o testamento de NANETTO PIPETTA
e assim aconteceu...

(SEGUE-SE A SEGUINTE CENA: MESA COM CADEIRA, LUZ APENAS DO


LAMPIÃO, PATRÃO DE NANETTO ENTRA EM CENA COM O LAMPIÃO COLOCA
NO CANTO DA MESA A SUA FRENTE E PRINCIPIA A ESCREVER, ENTRA
GRAVAÇÃO DA VOZ DO PATRÃO NARRANDO O TEXTO QUE SEGUE).

TESTAMENTO

Eu, NANETTO PIPETTA, que morri afogado no Rio Iguaçu, com a posse de meia
colônia, quase toda paga, faltando apenas três meses e alguns dias para completar
o pagamento, declaro, aqui na presença do lampião, que deixo toda a posse da
minha meia colônia para a minha mãe e meu pai que estão na Itália lá longe do
outro lado do oceano, em Veneza, muito tristes por que eu morri afogado aqui na
América. Declaro também que eles venham completar o tempo que falta para pagar
a minha meia colônia, e tomar posse dela, pois, eu não a quero mais, já que estou
morto e enterrado. Declaro também que os meus irmãos e irmãs mais novos do que
eu e que estão vivos, podem plantar a cana-de-açúcar que muito doce e boa pra
fazer melado e rapadura também, além de plantar o milho que é para fazer a farinha
e da farinha fazer a polenta que me apetece muito, bom, agora que estou morto não
vou poder saborear a polenta junto com vocês, mas peço que comam em meu lugar,
e não se esqueçam de reunir a família antes de comer a polenta com radicci e rezar
todos juntos um “DAI-LHE, SENHOR O DESCANÇO ETERNO” por minha pobre
alma. Ponto. Este testamento uma vez apresentado as autoridades e devidamente
carimbado será encaminhado ao seu destino. Feito e escrito à noite pelo senhor
meu patrão, a luz do lampião que é alimentado com banha de porco, isso no mesmo
ano, mês e dia em que me afoguei. Eu que sou o patrão do coitado que está morto e
enterrado desde hoje à tarde, digo, assino e escrevo que estou em seu lugar, mas
não no túmulo, que lá esta ele, claro.

Loardo Sucatti, em nome de Nanetto Pipetta. Ponto e basta.

Zé – Eita! Que história triste não é mesmo, coitadinho do NONATO PAPITO, né seu
José!

ZOZÉ – Mais que coisa seu Zé! É NANETTO PIPETTA e o meu nome é ZOOOZÈ.

ZÉ – Tá legal, eu já entendi! Não precisa ficar nervoso.


CENA FINAL

(VOLTAM OS OUTROS PERSONAGENS PARA A CENA FINAL)

Zé – Olha! O pessoal tá chegando de volta, até parece combinado.


(CUMPRIMENTOS E ETC.) Gente me deixa falar uma coisa, eu estou muito feliz,
hoje apesar de não ter vendido quase nada, eu aprendi um monte de coisa nova, um
pouco da cultura de cada um de vocês, que são descendentes dos colonizadores de
nossa cidade, aprendi um pouco mais da história da nossa terra, sobre as várias
raças e a contribuição que cada uma deu para o nosso desenvolvimento. Por falar
em colaboração, terra, e nosso povo, tem uma música de um compositor aqui de
Matelândia que fala justamente disso a música se chama minha terra, alguém sabe
como é o nome dele?

FRANZ – Sim claro, eu conheço, é o ITO MASSAROLLO.

Lairton – Vocês não tão me reconhecendo, sou eu, (TODOS SAEM DOS
PERSONAGENS, TOMAM POSIÇÃO) bom, (INTRODUÇÃO DE LAIRTON SOBRE
A MÚSICA) e pra homenagear a nossa terra, vamos TODOS juntos cantar “MINHA
TERRA”.

(COMEÇA A MÚSICA SOLO DE LAIRTON NA PRIMEIRA PARTE DEPOIS TODOS


JUNTOS, MONTA-SE O CORAL DURANTE A PRIMEIRA PARTE, E CANTAM A
MÚSICA).

FIM

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