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Raízes, Vera Lúcia Silveira B. Ferrante


Ano XVI,



Nº 15,
Professora adjunta do Departamento


dez./1997


de Sociologia, UNESP, Campus de


Araraquara.






Assentamentos Rurais: Estratégias de
Recusa ao Modelo Estatal?

I – Introdução: Contextuali- questão agrária, na produção do legiadas para um outro olhar so-
discurso sobre os que lutam por bre o campo, não comprometido
zar é Preciso terra, na teia de relações constitu- com modelos teóricos unívocos e
Proponho-me a discutir o tivas dos assentamentos, nos atri- unidades de análise naturaliza-
tema a partir da análise de experi- butos impostos aos bóias-frias de das.
ências concretas de assentamen- serem dóceis herdeiros da moder-
tos rurais, confrontando a políti- nização, na naturalização desse Os assentamentos, como ex-
ca estatal traçada para tais proje- processo, usualmente apresenta- pressão de uma violência progra-
tos e o que vem sendo efetiva- do como um dado irreversível, mada, representam uma política
mente a constituição desse novo desvinculado de uma discussão estatal definida pelo jogo das for-
modo de vida que tem desafiado sobre o caráter violento da expro- ças sociais, dos interesses e rela-
previsibilidades e estilhaçado ca- priação, na difícil transição de ções de poder das classes envolvi-
tegorias teóricas. Parto do princí- bóias-frias a assentados, nas for- das.
pio de que os assentamentos, mas de estranhamento presentes
processos sociais complexos (Fer- nesse novo modo de vida, mani- Basta lembrar que a luta pela
rante, 1995)1, apresentam à análi- festam-se dimensões diferencia- Reforma Agrária entra na Nova
se, em seus diferentes momentos das de violência explícita, progra- República como elemento con-
constitutivos, formas variadas de mada e simbólica, que têm, signi- traditório das estratégias de con-
violência. Tomo como material ficativamente, a marca da dissi- ciliação, pactos e recomposições
analítico assentamentos forma- mulação. firmados em um momento em
dos em sua maioria, por ex-bóias- que exigia-se a reabilitação insti-
frias, localizados no decantado Parto do princípio analítico de tucional do Estado e, ao mesmo
paraíso da modernização da agri- que os assentamentos, entendi- tempo, impunha-se a adoção de
cultura paulista. Proponho-me a dos como um processo pleno de estratégias que, sem ferir os limi-
mostrar, passo a passo, que no rupturas, desconstruções, recons- tes fixados pelos proprietários ru-
enfrentamento do Estado da truções oferecem condições privi- rais, pudessem ter um efeito

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FERRANTE, V.L.S.B. A Aventura de Pesquisar Assentamentos Rurais: dilemas da multidiscipli-

nariedade e do pluralismo teórico. Adorno, S. (org). A Sociologia entre a Modernidade e a Contem-


poraneidade. Porto Alegre: Editora da Universidade, 1995.



Assentamentos Rurais: Estratégias de Recusa ao Modelo Estatal?

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anestésico sobre o crescimento Tais proposições buscam dissi-
acirrado das lutas dos trabalha- mular práticas autoritárias:
dores rurais. traditório jogo de forças, não
pode ser unicamente interpretada
No plano político de enfrenta- como um elemento de controle “ao Poder Público corresponde o
mento entre as diversas classes, acionado para fortalecer a reabili- direito de deslocar pessoas ou de fun-
tanto no campo direto de disputa tação institucional do Estado e dar uma nova vida social iniciada da
pela terra, como na arena de gre- alimentar a bem “protegida” estaca zero. Os beneficiários, apaga-
ves e negociações, os trabalhado- pressão dos proprietários rurais, dos como atores sociais, conformar-
res rurais avançavam, apesar das mas deve ser discutida no proces- se-iam à objetivação plena da vonta-
formas de violência, consubstan- so instituinte de conflitos ligados de política dos idealizadores da boa
4
ciadas em mortes, despejos, pri- à posse da terra. (Ferrante e Silva, sociedade”. (Neves, 1995) .
sões que tiveram em 1985, uma 1988)2.
marca histórica significativa em Dez anos após a implantação
termos do recrudescimento dos Nesse processo, o programa de dos projetos de assentamentos, a
movimentos e do circuito ampli- assentamentos idealizado pelo experiência de pesquisa nos tem
ado de repressão. Estado não corresponde com fre- revelado desencontros e ambigüi-
qüência ao que é posto em práti- dades nas ações dos agentes res-
Sob a justificativa da necessá- ca, nem implica no atendimento ponsáveis pela direção técnica e
ria defesa à referida violência, os às necessidades de reprodução por fazer cumprir metas concebi-
proprietários rurais assumiram social dos assentados. das a partir do modelo idealizado
posições autoritárias – dissimula- de reforma agrária. Por trás dos
doras da violência política – cris- Em um jogo de expectativas e princípios anunciados no discur-
talizadas na estratégia adotada idealizações, no campo do Esta- so competente – racionalidade,
pela União Democrática Ruralis- do, à reestruturação formal do objetividade, participação, pro-
ta e na utilização progressiva de aparato institucional – prática dutividade e eficácia – pudemos
milícias armadas, guardiãs de sua que vem reeditar atos de uma acompanhar a intervenção do
segurança e da defesa de sua pro- cultura de desqualificação de or- Estado e sua falta de vontade po-
priedade. ganismos “viciados” como tenta- lítica em construir efetivamente
tiva de justificar a falta de vonta- um projeto para os assentamen-
Nesse processo, no campo de de política e as irrealizações no tos, no qual os assentados fossem
disputas, a relação entre traba- campo da reforma agrária (Ne- respeitados em seus direitos e rei-
lhadores rurais, forças anti-refor- ves, 1995)3 – segue-se uma com- vindicações.
mistas e Estado, é tensa e move- plexa metodologia dirigida à
diça. A política de assentamentos, construção dos assentados e à Expressões de violência pro-
proposta no âmbito de arranjos e orientação dos padrões de socia- gramada por parte do Estado se
rearranjos do Plano Nacional de bilidade e de organização política contrapõem à estratégias familia-
Reforma Agrária, transformada que deveriam reger os projetos de res que têm criado condições para
em alternativa viável nesse con- assentamentos. se viver melhor na terra. A cultura
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FERRANTE, V.L.S.B. e SILVA, M. A.M. A Política de Assentamentos: o jogo as forças sociais no


campo. Revista Perspectivas 11, Edunesp, São Paulo, 1988, p. 33-51


3
NEVES, D .P. Reforma Agrária: Idealizações, Irrealizações e Plausibilidades. Reforma Agrária,

Campinas: ABRA, No. 1, Vol. 25, Jan/Abril/95.



4
NEVES, D. P. Op. Cit., p. 188).

Vera Lúcia Silveira B. Ferrante

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da dádiva continua alimentando econômica e politicamente para o suas formas de ser através de suas
a atuação do poder público local acesso a um lote ou parcela de lutas5.
face aos assentamentos. Os as- terra, nem reuniriam, em princí-
sentados com freqüência se sub- pio, condições para viabilizar sua Submetidos a partir da década
metem à despolitização atribuída constituição como produtores de 50 à expropriação, que vai re-
à condição de beneficiários, ainda agrícolas. Assentamentos forma- sultar em um intenso processo de
que existam exceções. Procuran- dos por bóias-frias estariam, por proletarização, legalizada pelo
do estabelecer um equilíbrio en- tais atributos, destinados ao fra- Estatuto do Trabalhador Rural,
tre duas lógicas que se fazem pre- casso, pré-determinação que pro- cujas conseqüências traumáticas
sentes na organização do projetos curamos contrariar pelo acompa- são dissimuladas, como se a con-
de assentamentos, uma presidida nhamento de experiências con- dição de “herdeiros” desse aos
pelo imperativo da integração na cretas de inserção de bóias-frias bóias-frias garantia de emprego e
racionalidade capitalista, outra no movimento de demanda por de direitos, situação que efetiva-
constituída pelos assentados na terra e na construção de alternati- mente não se concretizou. Ao
orientação de suas ações, o Esta- vas de um novo modo de vida no longo desses 40 anos, sob formas
do busca orquestrar uma relação assentamento. O desinteresse diferenciadas de expropriação
de clientelismo que parece presi- pela terra, atributo imposto como acionadas por estratégias patro-
dir a interação entre os trabalha- parte da cultura do ser bóia-fria, nais – sob o acompanhamento vi-
dores assentados e os demais tem sido contrariado pela sua gilante do Estado – nutridas pela
agentes sociais envolvidos nas ex- crescente inserção em cadastros violência direta e/ou simbólica,
periências de assentamento. ou movimentos dirigidos à ocu- os bóias-frias têm lutado por fa-
pação de novas terras. zer valer seus direitos, ainda que
essas lutas tenham, até 1980,
Os bóias-frias aparecem como pouca visibilidade.
II – Os Bóias Frias na Con- protagonistas do movimento de
tramão das Idealizações do luta pela terra a partir de 1984/ Na condição de bóias-frias,
Estado 1985, mostrando, na prática, que cuja história compõe-se de mui-
a proletarização não tem cartas tos lugares percorridos, de rela-
A transformação possível dos marcadas, e que faz necessário ções vividas, de trajetórias força-
bóias-frias, sua constituição soci- aceitar o desafio de rediscutir in- das, a violência impõe-se explici-
al em proprietários ou candidatos terpretações usualmente dadas ao tamente em seu viver. Na recons-
a uma área de terra na condição processo de modernização/ex- tituição de sua trajetória, os bói-
de assentados não estaria nas pre- propriação no campo. as-frias relatam fatos e relações
visões traçadas pelo Estado para de uma memória coletiva pro-
o que deveriam ser os assentados, Tendo como princípio analíti- gressivamente esfacelada nas
em termos de padrões esperados co a contestação à referência aos fronteiras vigiadas de seu tempo
para maximizar a eficiência ma- bóias-frias como conseqüências de vida e de trabalho. Referem-se
terial nos programas de assenta- naturais do processo de moderni- as suas condições de bóias-frias
mentos. zação da agricultura, discuto sua como uma mudança forçada,
inserção no movimento de luta provocada, destino sobre o qual
Os bóias-frias não teriam o pela terra no interior de uma pes- não poderiam interferir, nem im-
PARTE II perfil desejado para se habilitar quisa que procurou, reconstruir primir outras vozes ou em distin-
OS MOVIMENTOS
SOCIAIS NO
CAMPO–ASSEN- ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

TAMENTOS: 5
CAMINHOS E FERRANTE, V.L.S.B. A Chama verde dos canaviais: uma história das lutas dos bóias-frias. Tese

DESCAMINHOS apresentada para concurso de livre-docência, UNESP, 1992.



Assentamentos Rurais: Estratégias de Recusa ao Modelo Estatal?

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Não se pode, evidentemente dida da produtividade, os roubos
dizer que toda categoria de bóias- do pagamento, a discriminação
to comando. Em suas falas, im- frias tem um projeto de vida ra- por ser mulher, são ingredientes
bricam-se a referência ao passado zoavelmente explicitado de lutar compulsoriamente inseridos no
– tempo de sossego e de fartura – pela terra ou pela seleção em um ciclo de vida dos bóias-frias. En-
a recusa ao atributo e às marcas assentamento. Entretanto, a terra tretanto, são outras as marcas que
negativas imprimidas à condição não se põe como algo absoluta- parecem pesar mais, justamente
de bóia-fria e a representação do mente estranho as suas necessi- as responsáveis pelo acúmulo de
presente como palco de violência, dades. Vontade de defesa, neces- privações: apesar de falarem com
privações, necessidades. sidade de sobrevivência. Não saudosismo de um tempo em que
existe homogeneidade no sentido o dinheiro não era necessário, é a
As formas de violência impos- que a terra passa a ocupar na vi- falta dele, as incertezas do ganho
tas aos bóias-frias no sistema de são de mundo dos assentados ex- no presente que nutrem suas ex-
medição e ordenação do seu tra- bóias-frias. Para muitos, a deci- pectativas de lutar pela terra.
balho, nos embustes e disfarces são de adesão a um movimento
detectados nas planilhas de pro- de invasão da terra foi motivada A análise das experiências
dução, no descumprimento dos pela fuga de estratégias patronais, concretas de assentamentos mos-
direitos trabalhistas e na insegu- punitivas, como a inclusão, nas tra-nos que os significados em-
rança do seu transporte, agrava- listas negras, de nomes dos bóias- butidos no querer a terra podem
das, se considerarmos relações de frias grevistas. Nesse caso, apare- ser violados no projeto traçado
gênero e de origem – dada a dis- ce a expectativa de viver, no as- pelo Estado para os assentamen-
criminação sofrida pelas mulhe- sentamento, relações não cons- tos. Há novas necessidades gera-
res e migrantes – são referidas truídas pela violência. Aparecem das na situação de assentamen-
brevemente nesse texto como pa- igualmente representações da ter- tos. As novas condições que dari-
râmetros para uma análise com- ra como canal de acesso a um me- am aos assentados ex-bóias-frias
parativa, face à perspectiva de sua lhor tempo, identificado no plano elementos para encontrar na de-
transformação em assentados. da possibilidade de defender co- fesa da terra, a defesa da regulari-
Entram igualmente como ele- mida, de poder ter criação e da dade de seu trabalho, de sua mo-
mentos explicativos do significa- desnecessidade do dinheiro. radia, a garantia de decidir sobre
do que tem para os bóias-frias a seu destino não podem ser pensa-
demanda por terra, como contra- Aparece fortemente, no pre- das em abstrato. Exigem, dentre
ponto possível ao viver sob estra- sente, a terra como alternativa ao outras, mudanças na correlação
tégias de controle e dominação desemprego estrutural crescente de forças dos assentamentos no
em seu espaço produtivo–repro- na região. A referência é dada por conjunto da economia regional.
dutivo orquestradas pelas práti- alguns trabalhadores a partir de
cas empresariais e pela violência uma situação já vivenciada, na Esta possibilidade está posta
institucionalizada dos aparelhos qual as relações sociais são dita- na conjuntura do momento. En-
do Estado. das pela solidariedade, por um tretanto, elementos do abandono
outro tempo social. Para os que dos projetos de assentamento por
Reflexões sobre a produção da nunca viveram ou tiveram uma parte do Estado são claramente
violência nos diferentes tempos relação de cultivo da terra, a for- perceptíveis e a pressão dos com-
constitutivos dos assentamentos, ma como se referem a ela não im- plexos agroindustriais da região
nos permitem discutir, em termos plica uma idealização do passa- tem se mostrado no interior dos
de representações, práticas e vi- do, mas em um querer mudar vários núcleos de assentamentos.
vências, o presente/passado dos face às privações sofridas. A disci- Por outro lado, a dinâmica de
assentados ex-bóias-frias. plina imposta pelo relógio, a me- modernização da agricultura,
Vera Lúcia Silveira B. Ferrante

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que prossegue a passos largos na os, geralmente em terras públicas mas de desemprego, de habita-
região, repõe a problemática da sub-utilizadas, desafiando o mo- ção, de revigoramento de estraté-
luta pela terra. nopólio da posse da terra na re- gias patronais, de fortalecimento
gião. das organizações empresariais,
A intensificação da mecaniza- lhe dão a configuração de uma
ção do corte da cana, crescente alternativa buscada para o supri-
nos últimos anos, é um fator de mento das necessidades de repro-
instabilidade social na região. III – O Querer a Terra: dução social.
Enquanto informações oficiais O Discurso Produzido no
apontam para um índice de qua- Circuito da Violência Desafios a se impor ao pesqui-
se 50% de mecanização dessa ati- sador, a exigir o reconhecimento
vidade no Estado de São Paulo, Os bóias-frias inseridos na de que a relação expropriação/
em alguns estabelecimentos da construção de uma nova ordem proletarização tem que ser pen-
região, esse índice chega a 80%. social, enfrentam, no processo, a sada em movimento, a mostrar
O desemprego estrutural está denominação atribuída aos que que a luta pela terra pode ter no-
presente e a diminuição de postos lutam por terra: invasores desor- vas matizes. Não há como apagar
de trabalho não qualificado na deiros, baderneiros. Passar do a presença da terra no horizonte
agro regional não se reflete ime- atributo de dóceis herdeiros da dos bóias-frias, o que não se pau-
diatamente no fluxo migratório modernização ao de invasores ta por um “dever ser” homoge-
que ocorre à chamada Califórnia não lhes permite escapar das for- neizador da categoria ou por
Brasileira. Cresce o estigma e a mas nem sempre sutis da violên- qualquer comprometimento com
discriminação do migrante nas cia simbólica. Impõe-se sobre os afirmações de tendências nivela-
cidades da região, mas a dinâmi- assentados ex-bóias-frias outro doras. Dos expropriados pela
ca da economia regional ainda elemento de violência dissimula- modernização, há sem dúvida, os
atrai muitos trabalhadores, sazo- da: além de ameaçarem a comu- que não querem voltar à terra,
nais ou que não descartam a pos- nidade, passam a ser “olhados” decisão indissociável de suas con-
sibilidade de permanecer em São como únicos responsáveis pelo dições de existência social. No
Paulo. sucesso ou fracasso dos assenta- presente, o querer a terra pauta-
mentos. Estigmas utilizados para se pelas necessidades decorrentes
A luta pela terra, neste aspecto, criar ideologicamente a imagem de uma situação de exclusão e de
se coloca como conseqüência do de sua incompatibilidade com o miséria social, podendo não ter
processo selvagem de descarte de cultivo da terra, como se a condi- ligação com os caminhos percor-
mão-de-obra. Em 1992/93, 700 ção de bóia-fria fosse absoluta- ridos por sujeitos que vivencia-
famílias voltam a ocupar o horto mente incompatível com o saber/ ram diferentemente a expropria-
da FEPASA em Pradópolis e lá querer a terra. Estigmas produzi- ção.
permanecem acampadas como dos para reforçar a tese, a nosso
um sinal vivo de que os conflitos ver equivocada, de que a violên- De formas várias, a conquista
pela terra não arrefeceram. Há no cia no campo teria sujeitos pré- ou reconquista de um modo de
presente, terras ociosas na região, determinados. vida e trabalho está presente na
que poderiam estar sendo ocupa- reivindicação dos assalariados
das por cerca de 800/1000 famíli- Inserida em um processo com- rurais em converter-se em assen-
PARTE II as, processo que não se apresenta plexo de legalidade/ilegalidade, a tados. No caso dos assentamen-
OS MOVIMENTOS
SOCIAIS NO
como isento de tensões e contra- demanda pela terra parece ter, no tos investigados, temos a predo-
CAMPO–ASSEN- dições. Os trabalhadores procu- presente, um perfil ímpar, agluti- minância de ocupações negocia-
TAMENTOS:
CAMINHOS E
ram ocupar os interstícios dos ca- nando trabalhadores rurais e ur- das em terras públicas, o que não
DESCAMINHOS naviais e laranjais, espaços vazi- banos. Suas ligações com proble- significa a ausência de confrontos
Assentamentos Rurais: Estratégias de Recusa ao Modelo Estatal?

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e impasses entre o querer dos as- individualidades separadas, os ais, em uma teia de situações até
sentados e a falta de vontade polí- desqualificaria dos atributos ide- então desconhecidas e não viven-
tica por parte do Estado. alizados pelo Estado para os as- ciadas, não podem ser enquadra-
sentados. Sua inexperiência na das em modelos teóricos classifi-
atividade agrícola, a perspectiva catórios.
de não saberem tocar a terra e a
IV – O Entrar na Terra: A sedução pelos valores da vida ur- Se no momento anterior, a
Construção do Assentado ou o bana seriam fatores suficiente- condição de demandante ou ocu-
Plano Jurídico–Formal do mente fortes para eliminá-los da pante parecia estruturar um es-
condição de assentado. No en- paço de iguais, nos momentos se-
Ocultamento da Violência tanto, as tensões constitutivas de guintes, a partir da entrada na ter-
A transformação dos invasores uma realidade excludente têm ra, esse espaço pode desestrutu-
em assentados, “protegida” por mostrado a possibilidade dos bói- rar-se, recompor-se ou ser ampli-
uma seleção e pontuação discutí- as-frias desmontarem tais atribu- ado à medida que, na implemen-
veis, coordenadas por órgãos go- tos, sendo protagonistas não su- tação dos assentamentos, intro-
vernamentais, poderia ser vista balternos do processo de constru- duz-se a vontade do Estado legis-
como uma tendência dissimula- ção dos assentados. lar sobre o “direito das famílias à
da de ocultamento das contradi- ocupação das terras, a escolha
ções e expressões da violência, na Cabe ressaltar que os assenta- inicial da forma constitutiva de
qual ao Estado, encarado como mentos nem eliminam a violên- implantação das famílias, en-
regulador imparcial acima dos cia em suas formas diferenciadas quanto escolha das relações nas
conflitos, como centro legítimo de expressão, assim como a pró- quais elas vão produzir” (ROY,
do poder, caberia resolver as for- pria transformação de invasor ou G., 1991)7.
mas de violência presentes no es- demandante de terra em assenta-
paço agrário brasileiro. do, não se faz acompanhar de um Concretamente, projetos de
atendimento das novas necessi- Estado e desejo de querer a terra
Na idealização estatal do pro- dades de reprodução que se apre- não são ou podem não ser com-
grama de assentamento, o assen- sentam, ou da produção do silên- patíveis. Na fase de assentamento
tado é concebido como um “sem cio. Há nessa transformação, cu- ocorre, às vezes, uma relação de
raiz” (Neves,1995)6 que deveria jos desdobramentos apresentam- “estranheza” com a terra que lhes
ser modelado segundo uma de- se como um campo aberto de é atribuída.
terminada lógica atribuída ao fu- possibilidades, novas formas de
turo agricultor. Tratando-se de expressão de violência a sinalizar Ao ser cadastrada, a família de
bóias-frias, cuja socialização ori- que a construção pelo Estado do trabalhadores rurais passa a su-
ginária já se deu dentro do inten- projeto de assentamento e da fi- jeitar-se a uma série de regras fi-
so processo de migração campo– gura do assentado não dissolvem xadas para ela e não por elas. A
cidade, o fato de não se apresen- ou domesticam as contradições. escolha das culturas, a constru-
tarem com uma história de agri- ção da moradia e da agrovila, a
cultores vivida em comum, mas A passagem da condição de as- forma de se explorar a terra são
terem vindo de um mercado de salariado para a de assentado, sua colocadas pelos “outros”. O fato
trabalho competitivo, enquanto inserção em novas relações soci- de se terem postos como iguais
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

6
NEVES, D .P. Op. Cit., p. 193.

7
ROY, Gerard. Do Trabalhador Assalariado ao Pequeno Produtor Livre: qual construção para as

experiências de Reforma Agrária?. Reflexões de Pesquisa, França: Orstom, 1991.



Vera Lúcia Silveira B. Ferrante

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O anseio pela terra, comparti-
lhado pelos demandantes da ter-
frustrados no seu dia-a-dia e ra, não sustenta, em si mesmo,
atingem diretamente a estrutura um espaço de iguais, nem a con-
no momento da luta, não signifi- familiar, a relação de homens e dição de assentado implica na su-
ca necessariamente sua disposi- mulheres no tocante à disposição jeição a uma lógica que lhe é es-
ção de estruturarem-se coletiva- de espaços masculinos e femini- tranha e pode entrar em rota de
mente para a organização social nos no interior do assentamento. colisão com as expectativas de
da produção, mesmo porque a seu querer.
perspectiva de construção de uma Categorias de incerteza im-
coletividade rural de produtores pregnam seu viver. Apesar de se
em cooperação não é necessaria- sentirem “donos”, “terem a ter-
mente produto da vontade dos ra”, revelam em suas práticas, a V – O Viver na Terra: A
trabalhadores, mas resposta a impotência advinda de não poder Construção do Espaço entre
uma decisão ao modelo coopera- interferir no ciclo de produção/ Dificuldades, Confrontos. Re-
tivo forjado nas instâncias do po- reprodução, cujas determinações
der. transcendem sua vontade e expe-
criação de Formas de Sociabi-
riências individuais. Impotência lidade e Manifestações de Vio-
Ser cadastrado e adentrar a ter- que não significa silêncio ou obe- lência
ra confere ao trabalhador um diência à regras modeladas.
novo estatuto que lhe é atribuído. Segundo dados do Censo de
Mais uma vez, a recriação de uma A incerteza do ganho no pró- Assentamentos Rurais do Estado
cidadania regulada de cima, na ximo ano agrícola, o desconten- de São Paulo (Ferrante e Berga-
qual as mulheres, especialmente, tamento face a algumas decisões masco, 1995), 66,5% dos assenta-
sentem barreiras concretas. Ao tomadas pelos técnicos, a pers- dos nestes núcleos vieram da
mesmo tempo, adquiriram o di- pectiva de ter maior controle do condição de assalariados rurais
reito, ainda que provisório, de ter próprio circuito de trabalho con- (os bóias-frias das lavouras de
a posse, de permanecer na terra, o tam nas experiências dos grupos. cana e laranja)8. Entre os vários
que não os isenta de enfrentar Igualmente, há possibilidade de núcleos, a maior freqüência de
problemas, não só econômicos, existir uma certa expectativa de ex-bóias-frias ocorre nos núcleos
mas políticos. que a “vida seria melhor se cada IV e III da fazenda Monte Alegre,
um fosse dono do seu próprio onde 90% e 83% dos agricultores
Obtida a terra, a partir de certo lote”. assentados, respectivamente, fo-
momento, coloca-se a provisorie- ram assalariados rurais; a seguir,
dade. Ao mesmo tempo em que Neste sentido, às vezes, suas encontra-se o núcleo I do mesmo
os trabalhadores estão estrutura- expectativas parecem pautar-se assentamento, com 71% de fre-
dos como cidadãos legitimamen- pela busca de manutenção da ter- qüência e o núcleo II, este com
te ocupantes da terra, adentram ra em termos privados, represen- 65% de ex-assalariados rurais.
numa rede de dificuldades, ansei- tada como situação de maior au- No projeto Bela Vista do Chibar-
os, expectativas que podem ser tonomia. ro, 50% dos assentados vieram do

PARTE II
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
OS MOVIMENTOS
○ ○ ○ ○ ○ ○

SOCIAIS NO 8
CAMPO–ASSEN- FERRANTE, V.L.S.B. e BERGAMASCO, S.M.P.P. (coords.). CENSO DE ASSENTAMENTOS
TAMENTOS: RURAIS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Araraquara, UNESP, 1995, p. 32. A partir do quadro I.2
CAMINHOS E – Ocupação antes de vir para o assentamento, o maior índice de assalariamento rural é dos assenta-
DESCAMINHOS mentos da DIRA de Ribeirão Preto – onde estão os projetos Monte Alegre e Bela Vista do Chibarro.
Assentamentos Rurais: Estratégias de Recusa ao Modelo Estatal?

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assalariamento rural9. Neste últi- Trajetórias distintas, formas
mo projeto, a participação de tra- diferenciadas de enfrentar os de-
balhadores com passado de agri- nhecidas nos processo de luta safios, tensões e a necessidade de
cultor é bem maior, dado que se pela terra. Destaca-se nesse pro- fazer-se. Têm, em comum, no
explica pelo fato de a Bela Vista cesso, a atuação do sindicato de entanto, o cotidiano de dificulda-
ter recebido vários grupos de tra- Araraquara, um STR (Sindicato des alterado por enfrentamentos
balhadores oriundos de outras re- de Trabalhadores Rurais) que em a confrontos vivenciados, em ge-
giões do Estado de São Paulo, 1989 lidera o movimento de cria- ral, por ameaças de despejo, por
onde a proletarização não é tão ção da FERAESP (Federação dos iniciativas do Estado de ações de
intensa, e até de outros Estados, Assalariados Rurais do Estado de reintegração de posse, pelo viver
como Minas Gerais e Paraná. São Paulo), tornando-se Sindica- sob incertezas.
to dos Assalariados Rurais. Res-
A busca de recriar as condições pondendo a diferentes deman- Problemas não só causados
de vida e trabalho num espaço das, esta entidade organiza os pela força do outro a se impor,
novo e, muitas vezes, numa ocu- trabalhadores e intermedia, qua- mas pelas dificuldades de consti-
pação diferenciada são importan- se que exclusivamente, os proces- tuição de um nós. Momentos de
tes fatores no processo de consti- sos de negociação para regulari- euforia alternam-se a momentos
tuição de uma identidade social zação tanto do projeto Monte de desencantamento. Expectati-
para os assentados. Esses traba- Alegre quanto do projeto Bela vas de conseguir a titulação, de
lhadores, na sua maioria fugindo Vista do Chibarro. obter a regulamentação do mó-
do assalariamento, da carestia dulo, de obter crédito e verbas de
das cidades–dormitório, vindos, A trajetória do Sindicato dos custeio moldam seu viver.
em boa medida, das primeiras ex- Assalariados Rurais de Araraqua-
periências de greve dos bóias-fri- ra, que por um lado procura dar As relações com o técnico, com
as – ocorrências violentamente conta da demanda pela terra ad- o engenheiro, retratam situações
reprimidas nos anos de 1984 e vinda dos trabalhadores da região de confiança absoluta, nas quais
1985 – percorreram diferentes (muitos destes desempregados da a decisão sobre dimensões signi-
trajetórias até sua instalação nes- cana e laranja) e, por outro, pre- ficativas do assentamento lhes é
ses projetos. mido pelas tensões da moderni- delegada e elementos de olhar
zação na agricultura e pelas di- desconfiado, de depositar no téc-
A forma de organização e a vergências da estrutura sindical, nico as frustrações pelos sonhos
maneira de se encaminhar o pro- rompe com o modelo da CON- desfeitos. Retrato de um mundo
cesso que os levou até a condição TAG e funda uma novo sindica- de relações novas, cujas fronteiras
de assentados varia desde um to, exclusivo dos assalariados ru- lhes são, às vezes, totalmente des-
processo de seleção realizado rais, síntese da complexa realida- conhecidas.
pela Secretaria Especial de As- de vivida no campo paulista. As
suntos Fundiários (SEAF) e IN- idealizações programadas pelo Não têm, em seu passado re-
CRA, até a ocupação seguida de Estado para os programas de as- cente, experiências de um traba-
algum conflito, com pouca ou sentamentos não dão, efetiva- lho cooperativo, mas conviviam
quase nenhuma orientação das mente, conta da complexidade com a combinação das forças re-
entidades de mediação mais co- desse novo espaço social. guladas pelo tempo disciplinado;

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
○ ○ ○ ○ ○

9
Idem, p. 32. Obtivemos esses percentuais somando as colunas Assalariado Rural Permanente e
Assalariado Rural Temporário do quadro I.2. O referido Censo não registra informações do núcleo
V da Fazenda Monte Alegre, regularizado em 1992.
Vera Lúcia Silveira B. Ferrante

70
em muitas situações, nunca havi- produzirem para eles mesmos, mos, inclusive com ameaças de
am tido oportunidade de tomar por não terem gastos na cidade, morte. Com a produção total-
decisões sobre seu tempo de vida pela tranqüilidade, por ter casa mente individualizada, sem con-
e de trabalho. Desconheciam re- para morar. Fatores de constru- dições sequer de gerir coletiva-
gras de financiamento, crédito, e ção da liberdade aliados à pers- mente as máquinas, ocorreu sua
a própria engrenagem mercantil. pectiva de melhor arcarem com venda e repartição do dinheiro.
Têm, ainda mais, que gerir seu as necessidades de reprodução Alguns compraram gado, os mais
próprio espaço, vindos de um social. Dificuldades de caráter capitalizados tentaram diversifi-
tempo regido pelo olhar do outro. econômico-financeiro são apon- car, investindo no quintal. Cons-
tadas como o maior problema tatou-se igualmente o crescimen-
Falhas e problemas alimentam dos assentamentos. to do arrendamento das parcelas
outros atributos centrados na in- e do assalariamento dos assenta-
competência de tocar a terra. Res- Não têm, na verdade, uma si- dos. Hoje, a pecuária aparece
ponsabilidade atribuída ao fato tuação de liberdade. Sem condi- com boas perspectivas no assen-
de terem sido bóias-frias. ções de enfrentar a economia do tamento.
mercado capitalista, os assenta-
Índices de evasão crescentes dos não podem agir como se, de Contrariamente ao núcleo II,
são alardeados para divulgar a in- fato, pudessem dispor da terra. o projeto Silvânia IV, formado em
viabilidade das experiências. De Nesse complexo caminho esbo- sua maioria por ex-bóias-frias
fato, há um movimento significa- çado na trajetória dos assenta- militantes das greves de Guariba,
tivo de saída/entrada de famílias mentos, de resultados não previ- alguns com experiência anterior
nos assentamentos. É interessan- síveis, os assentados ex-bóias-fri- de arrendamento, conseguiu reti-
te salientar que os índices de eva- as, homens e mulheres, lutam rar de todos os vários interesses
são são muito menores, quase para construir esse complexo existentes, uma forma de auto-
nulos, nos núcleos onde se man- modo de vida. Lutam, no caso organização, dando ao grupo a
tém parcialmente um projeto de das mulheres, contra o patriarca- estabilidade necessária para uma
cooperação nutrido por experiên- lismo presente nos critérios de se- experiência até agora bem suce-
cias comuns vivenciadas num leção propostos pelo Estado que dida. Para isso, contou significa-
tempo anterior. vedam à mulher a condição de ser tivamente o fato de terem recupe-
ela própria cadastrada e assenta- rado dimensões de uma sociabili-
As dificuldades de se manter, da, a não ser em situações em que dade própria das comunidades
de aprender novos códigos, de su- prove ser chefe de família, o que rurais tradicionais – tais como re-
bordinar-se a uma lógica da con- mostra a persistência da violência lações de compadrio – que tem
tabilidade, não são, no entanto, de gênero. alimentado as possibilidades de
apontadas como insuperáveis, convívio em um espaço de iguais,
nem levam os assentados a afir- Voltam, com freqüência, à si- prática comandada pelas mulhe-
mar sua intenção de sair das ter- tuação de assalariamento anteri- res. O fato de gerirem os proble-
ras. Em sua grande maioria, com ormente vivida, às vezes, como mas internos sem a necessidade
percentuais que vão de 83,3% a forma de ampliar a renda e per- de interferência do sindicato ou
100% afirmaram pretender conti- manecer na terra. dos técnicos coloca os assentados
nuar no assentamento. Admitem, em uma posição de força diante
PARTE II também em maioria, que suas Em alguns núcleos, como o desses mediadores. Marca a rede
OS MOVIMENTOS
SOCIAIS NO
condições e de sua família muda- projeto II da Fazenda Monte Ale- de estratégias utilizadas para não
CAMPO–ASSEN- ram depois que vieram para o as- gre, as discórdias por ocasião da aceitar imposições, a resistência
TAMENTOS:
CAMINHOS E
sentamento, principalmente pela partilha da renda obtida na pri- do núcleo IV à mudança para a
DESCAMINHOS possibilidade de trabalharem e meira safra, chegaram a extre- área da agrovila, espaço geográfi-
Assentamentos Rurais: Estratégias de Recusa ao Modelo Estatal?

71
Segundo os funcionários do gre. Observa-se, porém, que esses
co mais facilmente controlável, Departamento de Assuntos Fun- números são desiguais de núcleo
elemento de fragmentação entre diários, órgão atualmente extin- para núcleo, o que revela nuances
o espaço produtivo e reprodutivo. to, é muito difícil precisar com a serem melhor discutidas nos
Imposta por um plano técnico exatidão quantas famílias estão apontamentos individualizados
proposto pelo Estado, as agrovi- realmente vivendo nos assenta- de cada núcleo.
las, expressão de violência, apre- mentos, bem como controlar to-
sentam aspectos da “desruraliza- dos os lotes ocupados irregular- De antemão, o núcleo IV é o
ção” relevadora de controles. O mente. A ocupação irregular de que se comporta de forma mais
núcleo IV, negando-se a esse en- lotes (invasões individuais, ocu- estável no decorrer dos anos, o
quadramento – na verdade, a pação por agregados ou por outro que lhe confere um “status” de
uma transposição ineficaz para cadastrado, venda ilegal de direi- melhor grupo, na opinião dos
os assentados de um modelo ur- tos) – a expressar a continuidade técnicos. A investigação acerca
bano – recriou, do ponto de vista da rotulada “ilegalidade” na luta das alternativas de produção nos
espacial, cultural, econômico e pela terra – é um dos maiores assentamentos revelaram, a partir
político, caminhos para empre- problemas que o Departamento da ótica dos agricultores assenta-
ender uma mudança significativa enfrenta, o que denota a falta de dos, um certo desânimo devido às
em seu modo de vida, pondo em instrumentos ágeis e eficientes de grandes dificuldades enfrentadas.
prática processos cooperativos a acompanhamento da vida do as- Segundo informações coletadas
partir do seu próprio projeto, não sentamento. É comum, por parte junto a vários assentados, o nú-
de outros. Práticas a se contrapor dos assentados, a crítica ao aban- mero de famílias que subsistem
à manifestações de violência, à dono do assentamento. Os técni- exclusivamente do trabalho no
modelagem associativista impos- cos, por sua vez, reagem com de- lote é muito baixo.
to pelo Estado aos programas de sânimo, apontando a falta de
assentamentos. apoio do governo aos projetos de O senhor Wanderley Zanin,
assentamentos como um todo. que foi representante do núcleo
“Falta até combustível para nossa II no ano de 1993, estimou em
locomoção”, desabafa um agrô- cerca de 10% a parcela das famíli-
VI – Dificuldades Econômi- nomo. as que obteve essa “estabilidade”
cas, Político-Organizacionais: no seu núcleo. Segundo ele, tam-
Assentados/Assentamentos em Esclarece-se que em determi- bém giraria em torno de 10% essa
nados anos o registro de entrada parcela nos núcleos I e IV, ficando
Novos Campos de Lutas de novas famílias pode camuflar um pouco maior (20%) no núcleo
Instalados a partir do ano de o cálculo das evasões. Em 1990, III. No geral, o informante calcu-
1985 (o último núcleo só foi re- novas famílias foram incorpora- la que no máximo 20 famílias es-
gularizado no ano de 1992), a tra- das aos projetos já instalados. A tejam vivendo exclusivamente do
jetória dos assentamentos da Fa- partir daí pode-se falar em “no- trabalho nos lotes.
zenda Monte Alegre compõe um vos” e “antigos” assentados. Ain-
panorama complexo devido às da segundo uma informante, De maneira genérica, a busca
dificuldades na organização in- funcionária do D.A.F., em 1993 de se priorizar a produção de
terna e às pressões sofridas por havia um acampamento de 23 fa- grãos, presente nos primeiros
parte de representantes do setor mílias no núcleo II. O relativa- anos de trabalho na terra, foi ce-
agroindustrial sucro-alcooleiro, mente alto índice de evasão apre- dendo terreno para outras alter-
no sentido de se implantar a cul- senta-se como indicador das difi- nativas. Hoje, a produção que
tura da cana-de-açúcar em larga culdades de gestão dos assenta- parece mais lucrativa nos assen-
escala no projeto como um todo. mentos na Fazenda Monte Ale- tamentos é a pecuária (sendo que
Vera Lúcia Silveira B. Ferrante

72
a de leite supera a de corte), es- a se comprovar. questão do cultivo da cana-de-
tando presente em todos os nú- açúcar volta à tona em 1993 –
cleos, inclusive no de número V, o Nesse contexto, cresce a alcu- tendo outros personagens como
mais recente. Pouquíssimas fa- nha de “favela rural”, termo per- protagonistas – e numa conjun-
mílias se dedicam à horticultura, jorativo criado pelos setores polí- tura bastante diferenciada, atra-
já que esse trabalho depende da ticos antireformistas (notada- vés de um consórcio, que levaria
abundância de água e da capaci- mente a U.D.R.), presente desde os assentados, sob o rótulo de ca-
dade de se instalar algum sistema os primeiros tempos do projeto e dastrados, a voltar à condição de
de irrigação. A sericicultura (pro- que chegou a fazer parte do dis- assalariados. No presente, as al-
dução de casulos de bicho-da- curso político do Prefeito de Mo- ternativas de diversificação da
seda) também está presente, se tuca, que defendeu, até sua saída produção dificultavam efetiva-
bem que mais localizada no nú- em 1995, o plantio de cana nos mente a implantação do consór-
cleo IV. A fruticultura vem ga- assentamentos. cio como havia sido idealizado
nhando crescente espaço. pelas usinas e poder local.

No tocante à produção de Na Bela Vista do Chibarro


grãos, ela se dá sobretudo para a VII – A “Alternativa” Cana- (constituída em 1989) os proble-
subsistência, embora a soja ainda de-Açucar: Expansão de Vio- mas têm contornos distintos. Sua
esteja presente – se bem que, em lência Programada? trajetória é marcada pelas dificul-
sua maioria, seu cultivo seja rea- dades de convívio, pela diferenci-
lizado por sitiantes da região que A busca de soluções alternati- ação de portas de entrada – inter-
arrendam os lotes das famílias as- vas para a viabilidade econômica ferência de órgãos do Estado em
sentadas (prática irregular mas do projeto de assentamento rural transferir famílias de outros lo-
persistente em todos os núcleos). na fazenda Monte Alegre sempre cais em lugar da convocação das
Além dessas culturas, apenas a foi o grande desafio dos técnicos e famílias classificadas – pelas di-
mandioca aparece como relevan- agentes políticos que acompa- vergências que ainda hoje pare-
te, sendo parte da produção para nham essa realidade. Dentre inú- cem separar “os do lugar” e os
o consumo e parte para a venda. meras tentativas e projetos não “de fora”, somadas às disputas
realizados, destaca-se, já em para direção política do assenta-
Alguns assentados se assalari- 1990, uma proposta de cultivo de mento. O sindicato de assalaria-
am fora do projeto, algo que é ad- cana-de-açúcar nos assentamen- dos rurais, na condução da luta e
mitido por todos os informantes e tos. organização para a entrada na
denunciado pela observação de terra parecia não ter concorren-
alguns caminhões de turma cir- Essa proposta, aventada pelo tes. No momento da entrada das
culando nos assentamentos. O próprio D.A.F., vislumbrava a famílias de Promissão pelas mãos
abandono dos lotes, visível quan- utilização alternativa dos subpro- do Incra, teme-se uma possível
do das visitas a campo apenas dutos da cana como forma de se invasão do Movimento dos Tra-
confirma essa tendência do as- “escapar” do controle absoluto balhadores Rurais Sem Terra, o
sentamento vir a se tornar um lo- das usinas. Assim, o aproveita- que poderia criar um paralelismo
cal de moradia, servindo para a mento do bagaço para a transfor- na direção dos assentamentos.
produção de bens alimentícios mação em ração ou a confecção Isso não chega a acontecer, mas a
PARTE II básicos em quantidade capaz de vasos para plantas ornamen- partir de 1992, a Comissão Pasto-
OS MOVIMENTOS
SOCIAIS NO
apenas de suprir a família assen- tais era visto com entusiasmo ral da Terra passa a ter importân-
CAMPO–ASSEN- tada, enquanto o lote de produ- pelo então coordenador do De- cia no processo organizativo, o
TAMENTOS:
CAMINHOS E
ção acabaria vazio ou cedido para partamento. Arquivado esse que vai estimular conflitos e con-
DESCAMINHOS arrendatários, situação que tende “projeto”, como muitos outros, a corrência.
Assentamentos Rurais: Estratégias de Recusa ao Modelo Estatal?

73
A existência de várias associa- nifestações de violência. peculiaridades de cada um, dei-
ções e de uma Cooperativa ex- xando de ser atendidas as reais
pressa a diversidade que persiste necessidades dos assentados. Po-
na construção deste novo espaço ços artesianos que não funcio-
de vida. Os assentados dividem- VIII – O Abandono dos As- nam, por razões várias, pairam
se igualmente no tocante às deci- sentamentos pelo Estado: Irra- soberanos da altura de seus pos-
sões sobre produção: se o convê- cionalidade ou Violência Pro- tes, sobre os poços perfurados nos
nio com a indústria Refinação de quintais de cada casa; os fios de
Milho Brasil é comemorado
gramada? energia que no máximo chega-
como o principal acontecimento O Estado não tem, de fato, um ram às casas mais próximas dos
de 1993, as promessas não cum- projeto para os assentamentos, centros comunitários da Monte
pridas caracterizam, nas palavras tanto é assim que os técnicos de- Alegre, convivem com o lampião
do presidente da Federação dos signados para a gestão dos núcle- à gás e a lamparina de querosene.
Assalariados Rurais do Estado de os insistem com freqüência na O posto de atendimento médico e
São Paulo, uma armadilha políti- falta de competência dos traba- o escritório do D.A.F. construídos
co-eleitoreira. lhadores para a atividade agríco- no núcleo I continuam paralisa-
la, como se o saber tocar a roça dos. Para o atendimento das ne-
A complexa discussão da par- lhes tivesse sido extirpado, por cessidades de escolarização, pra-
ceria com a iniciativa privada conta do processo de proletariza- ticamente nada foi feito na Mon-
para o plantio de cana se faz pre- ção. O Estado legaliza a desapro- te Alegre. Concretamente, a inte-
sente igualmente no Bela Vista. priação da área de terra, mas sem ração dos diversos órgãos estatais
Denúncias de que havia assenta- investir nela o capital necessário para a implantação e desenvolvi-
dos plantando cana em parceria – dentro de um planejamento de mento do projeto Monte Alegre
com Usinas detonaram conflitos, longo prazo – põe efetivamente não saiu do papel.
tais como a decisão de embargar em risco as perspectivas da pro-
a plantação de cana, através da dução/produtividade. A ausência Sente-se a omissão do Estado
destruição de mudas já plantadas de uma linha de crédito de cus- na falta de uma assistência técni-
e das que estavam por plantar e a teio voltada especialmente para o ca na inserção mais efetiva dos
ocupação de escritórios do D.A.F. plantio nos assentamentos e a de- órgãos públicos, na ausência de
Às dificuldades de ordem finan- mora na liberação dos recursos equipamentos coletivos necessá-
ceira, nas quais conta a falta de do PROCERA transformaram-se rios à reprodução das condições
vontade política do Estado ex- de fato em problemas sérios. de vida social. Essa omissão, poli-
pressa na ausência de suportes Cabe acrescentar que a prioriza- ticamente séria, permite diagnós-
institucionais e de orientação téc- ção de investimentos por parte do ticos de fracasso dos núcleos da
nica – acrescentaram-se manifes- Estado nas áreas de assentamen- Monte Alegre, atribuídos ao des-
tações de uma prática clientelista tos é uma seqüência de equívo- preparo dos trabalhadores, sem
que tem levado os assentados a se cos. atentar para elementos do aban-
sujeitarem ao querer social e po- dono do Estado que poderiam
lítico de representantes do poder As agrovilas dos assentamen- caracterizar uma violência pro-
local. A reativação da Usina Ta- tos são um retrato privilegiado da gramada.
moio no próprio espaço físico do ineficaz e equivocada política de
assentamento vêm , de forma investimento do Estado. Ao ado- Comemoram-se projetos de
ameaçadora, mostrar que a rela- tar-se “pacotes de investimentos” municipalização da agricultura,
ção assentados/assentamentos ou tentar adequar as mesmas in- dos quais os assentamentos estão
não navega por mares tranqüilos, fra-estruturas em todos os assen- ausentes. A Prefeitura de Matão,
nem está isenta de tensões e ma- tamentos, desconsideram-se as apesar da orientação assistencia-
Vera Lúcia Silveira B. Ferrante

74
lista é uma das exceções, promo- ciário. A titulação aparece mais do de São Paulo. Na expressão de
vendo atividades como feiras de como retrato da cultura da dádiva suas reivindicações, na demarca-
produtores assentados, fornecen- que tem sido, em distintos tem- ção de competências e responsa-
do igualmente condução para es- pos, alimentada pelo Estado bilidades, demostraram perspec-
tudantes e pacientes da Monte como forma de dissimular focos tivas de inverter a situação de be-
Alegre. Na prefeitura de Arara- de resistência. A titulação da terra neficiários apassivados que lhes é
quara, prevalece uma política cli- não mudou efetivamente a situa- atribuído pelo ideário programa-
entelística episódica, que acaba ção de abandono e as dificulda- do pelo Estado, construindo es-
por reforçar a “exclusão” imposta des enfrentadas pelos assentados. paços para a politização conjunta
aos assentados. Discutiu-se, em Aqueles que têm conseguido vi- de decisões que afetam seu pre-
1993, com os assentados do nú- ver melhor na terra, o fazem, em sente e seu futuro.
cleo Bela Vista, a Lei de Diretri- dimensão significativa, por força
zes Orçamentárias do Município. de estratégias familiares. Assentamentos, relações de
As propostas, elaboradas em con- poder, formas de violência e pers-
junto com os assentados, recebe- Estudos têm demonstrado que pectivas de reversão da presente
ram sinal vermelho por parte da a solidariedade no trabalho na exclusão social, não são pois, si-
Prefeitura. A Prefeitura de Motu- terra, e a interação de grupos de tuações pré-definidas, ou capazes
ca, acenou com a perspectiva de parentesco conseguem, através da de serem resolvidas por receituá-
converter os assentamentos em extensão da rede familiar, conso- rios. Delineiam-se perspectivas
celeiros de cana. Mais recente- lidar uma estrutura interna a par- de construção de trajetórias soci-
mente, no caso de um conjunto tir de códigos de reconhecimento ais possíveis para os bóias-frias,
de assentamentos analisados – os social (Barone, 1996.)10 para os “mediadores” e para o
da Fazenda Monte Alegre – a ti- Estado que se fizeram presentes
tulação foi regularizada para cer- Procurando harmonizar as no campo de lutas investigado,
ca de 140 famílias em outubro de duas lógicas que se fazem pre- enquanto virtualidades, não defi-
1995, em um momento crítico da sentes na organização dos proje- nidas por critérios estruturais ou
relação do governo estadual com tos de assentamentos, a ação–res- identidades internalizadas.
o movimento dos sem-terra, acir- posta paternalista do Estado tem
rado por prisões e ações políticas que ser compreendida em um O acirramento do movimento
que tiveram profunda repercus- complexo quadro de conquistas, de luta pela terra tem forçado o
são na sociedade civil. A titulação revoltas e tentativas de dissimula- Estado a rever seu imobilismo no
aparece nesse contexto, como ex- ção da violência. Entretanto, há tratamento da política de Refor-
pressão da boa vontade do Estado perspectivas novas a despontar ma Agrária e a reconsiderar o
em solucionar conflitos envol- no horizonte. Refiro-me ao fato “grau de efetividade social” (Cos-
vendo a posse da terra, em uma dos assentados terem participado ta et alii, 1995)11 dos programas
lógica de reciprocidade empe- em 1996, pela primeira vez, de de assentamento. No campo dos
nhada em dissimular a violência uma experiência piloto de orça- possíveis, a história exige a dis-
presente nas ações dos fazendei- mento participativo coordenada cussão das alternativas represen-
ros respaldadas por atos do Judi- pelo Instituto de Terras do Esta- tadas pelos assentamentos à pre-

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

PARTE II 10
BARONE, L.A. Revolta, Conquista e Solidariedade: A Economia Moral dos Trabalhadores em Três

OS MOVIMENTOS
Tempos. Tese de Mestrado defendida pelo Programa de Pós-graduação em Sociologia, FCL/Unesp,

SOCIAIS NO
CAMPO–ASSEN- Araraquara, 1996. (mimeo).

TAMENTOS:

11
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Assentamentos Rurais: Estratégias de Recusa ao Modelo Estatal?

75
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