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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0027.16.018711-1/001 Númeração 0187111-


Relator: Des.(a) Alberto Deodato Neto
Relator do Acordão: Des.(a) Alberto Deodato Neto
Data do Julgamento: 04/04/2017
Data da Publicação: 17/04/2017

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - ROUBO MAJORADO PELO EMPREGO


DE ARMA E CONCURSO DE PESSOAS E CORRUPÇÃO DE MENOR -
CAUSA DE AUMENTO RELATIVA AO EMPREGO DE ARMA - AUSÊNCIA
DE PERÍCIA - IRRELEVÂNCIA - CONCURSO DE PESSOAS - BIS IN IDEM,
EM FACE DA CONDENAÇÃO PELA CORRUPÇÃO DE MENOR -
INOCORRÊNCIA - PENAS-BASE FIXADAS NO MÍNIMO LEGAL -
IMPOSSIBILIDADE DE REDUÇÃO PELO RECONHECIMENTO DE
ATENUANTES - CONCURSO DE CRIMES - ALTERAÇÃO NECESSÁRIA. I -
Para a configuração da majorante do emprego de arma é irrelevante que
esteja desmuniciada ou que se trate de simulacro, pois o que se considera é
a redução da capacidade de resistência da vítima e não a efetiva
potencialidade lesiva do objeto empregado pelo agente. II - O delito previsto
no art. 244-B da Lei nº 8.069/90 tem como vítima principal o adolescente
infrator, ao passo que a majorante do concurso de pessoas no roubo (ainda
que com adolescente) se presta a recrudescer a reprimenda em face da
reduzida capacidade de resistência da vítima, quando sofre violência ou
grave ameaça por mais de uma pessoa, de forma que inexiste bis in idem na
condenação pelo crime do estatuto menorista e na aplicação da causa de
aumento. III - Diante do teor da Súmula 231 do STJ, a incidência de
circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena para aquém
do mínimo legal cominado. IV - Praticados dois ou mais crimes mediante
ação única, impõe-se o reconhecimento do concurso formal, nos termos do
art. 70 do CP.

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.0027.16.018711-1/001 - COMARCA DE BETIM


- APELANTE(S): MATHEUS FELIPE FERREIRA DA SILVA -
APELADO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

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ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 1ª CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
à unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, COM
ALTERAÇÃO DE OFÍCIO.

DES. ALBERTO DEODATO NETO

RELATOR.

DES. ALBERTO DEODATO NETO (RELATOR)

VOTO

Trata-se de recurso de apelação interposto por Matheus Felipe Ferreira


da Silva contra a sentença de fls. 105/108, que o condenou pela prática dos
crimes previstos nos art. 157, §2º, I e II, CP, e art. 244-B da Lei nº 8.069/90,
na forma do art. 69 do CP, às penas finais de 6 (seis) anos e 4 (quatro)
meses de reclusão, em regime inicialmente semiaberto, e 13 (treze) dias-
multa, no valor unitário mínimo, negado o apelo em liberdade.

Denúncia às fls. 1D/1D-v.

Intimações regulares, fls. 108 e 150.

Pleiteia a defesa, nas razões de fls. 152v/157, o afastamento do delito de


corrupção de menor ou da majorante do concurso de pessoas, alegando que
configura bis in idem o reconhecimento do crime e a incidência da causa de
aumento. Quanto ao emprego de

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arma, sustenta não ter havido a perícia do objeto, o que impõe o decote da
majorante. Requer, ainda, a efetiva incidência da atenuante da confissão
espontânea, a fim de que as reprimendas basilares sejam reduzidas para
aquém do mínimo legal. Por fim, pede a isenção das custas recursais.

Contrarrazões às fls. 158/160v, em que o parquet pugna pelo


desprovimento do apelo, ao que aquiesce a Procuradoria-Geral de Justiça,
no parecer de fls. 165/169.

É o relatório.

Conheço o recurso, presentes os pressupostos de admissibilidade e


processamento.

Ausentes preliminares, arguidas ou apreciáveis de ofício.

Pretende a defesa, inicialmente, o afastamento da causa de aumento


relativa ao emprego de arma, alegando que o objeto não foi periciado, sendo
impossível atestar sua capacidade lesiva.

Contudo, o que se deve considerar é a redução da capacidade de


resistência do ofendido, e não a efetiva capacidade lesiva do objeto utilizado
pelos criminosos, razão pela qual pouco importa se a arma é real ou de
brinquedo, eficiente ou ineficiente, municiada ou desmuniciada.

A vítima, Nataniel Cássio Leão, tanto na Depol, como em juízo, declarou


que o acusado desceu do veículo para anunciar o assalto empunhando arma
de fogo (fls. 8/9 e 132).

O concurso de pessoas se encontra igualmente demonstrado,


independentemente da não identificação dos comparsas de Matheus, pois
inexiste qualquer dúvida do prévio ajuste e da ação em unidade de
desígnios.

Não há que se falar, ainda, em ocorrência de bis in idem, diante

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do reconhecimento do concurso de pessoas e da condenação simultânea


pelo crime de corrupção de menor.

Ora, o delito previsto na Lei nº 8.069/90 tem como vítima principal o


adolescente infrator, ao passo que a majorante do concurso de pessoas no
roubo (ainda que com adolescente) se presta a recrudescer a reprimenda em
face da redução da capacidade de resistência da vítima, quando sofre
violência ou grave ameaça por mais de uma pessoa.

Assim, não se trata de punir o apelante duas vezes pela presença do


menor na empreitada criminosa, havendo ofensa a dois bens jurídicos
completamente distintos.

Também sem razão a defesa quando pede a redução das penas-base


para aquém do mínimo legal, em face do reconhecimento da atenuante da
confissão espontânea.

A Súmula 231 do STJ não deixa dúvidas sobre o tema ("A incidência da
circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do
mínimo legal."), bem como a Súmula 42 deste egrégio TJMG ("Nenhuma
circunstância atenuante pode reduzir a pena aquém do mínimo legal, como
nenhuma agravante pode aumentá-la além do máximo cominado").

Nesse sentido, também: "Inadmissível a impugnação do critério de


fixação da pena-base, em razão de não terem sido consideradas as
circunstâncias atenuantes decorrentes de confissão espontânea e da
menoridade, quando a sanção penal foi fixada no mínimo legal previsto para
o delito." (STF - RT 752/521).

Impõe-se, todavia, de ofício, alterar o concurso de crimes reconhecido na


sentença.

É que, mediante uma única ação - praticar o roubo em companhia de


menor - o recorrente cometeu dois delitos, o que atrai a incidência do art. 70
do CP.

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Desta forma, aumento a reprimenda privativa fixada para o crime de


roubo (5 anos e 4 meses de reclusão), já que mais grave, em 1/6 (um sexto),
concretizando as sanções em 6 (seis) anos, 2 (dois) meses e 20 (vinte) dias
de reclusão, além de 13 (treze) dias-multa, no valor unitário mínimo.

Mantenho as demais disposições da sentença, inclusive a imposição de


regime inicialmente semiaberto.

Diante do exposto, nego provimento recurso, porém, de ofício, afasto o


concurso material e reconheço o concurso formal de crimes, ficando Matheus
Felipe Ferreira da Silva condenado a 6 (seis) anos, 2 (dois) meses e 20
(vinte) dias de reclusão, em regime inicialmente semiaberto, e 13 (treze) dias
-multa, no valor unitário mínimo.

Sem custas.

Comunique-se o juízo da execução do inteiro teor desta decisão


(Resolução 237/2016 do CNJ).

DES. FLÁVIO BATISTA LEITE (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a).

DESA. KÁRIN EMMERICH - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO E


PROCEDERAM A ALTERAÇÃO DE OFÍCIO, COM RECOMENDAÇÃO."

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