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Celso Furtado Minas Colonial PDF
Celso Furtado Minas Colonial PDF
Mauricio C. Coutinho
Professor do Instituto de Economia da Unicamp
tórica ou historiográfica. Procura, exclusi- café do Sudeste, nos séculos XIX e XX.
vamente, efetuar uma digressão em histó- Entre os três grandes ciclos da economia
ria do pensamento econômico, alimentada brasileira impulsionados pela demanda
pelo entendimento de que o modelo de externa – açúcar, mineração, café –, o da
economia da mineração proporciona um mineração apresenta posição ímpar, no
bom ângulo de abordagem à “teoria eco- sentido de estar mais bem definido pelas
nômica” de Celso Furtado. Vale dizer que diferenças em relação aos outros dois.
as interpretações do autor sobre a econo- Como é bem sabido, na visão de
mia de Minas Gerais, em particular, e sobre Furtado, o ciclo do café representou um
a mineração, de modo geral, contribuem ponto de virada no desenvolvimento eco-
para o esclarecimento das bases teóricas de nômico brasileiro, por ter aberto as portas
seu sistema de reconstrução racional da à utilização massiva de trabalho livre. Por
história – o núcleo da obra de Furtado. Por sua vez, o ciclo açucareiro segue o modelo
outro lado, e no sentido inverso, acredita- prototípico da plantation escravista. Já o ci-
mos que a “teoria econômica” de Furtado clo minerador do século XVIII é atípico:
permite entendermos o porquê de suas baseia-se no trabalho escravo, porém, ofe-
conclusões, assim como as lacunas de suas rece muitas oportunidades para o trabalho
hipóteses (e conclusões) a respeito da eco- livre; ao contrário do que ocorrera com a
nomia das minas e de Minas. atividade açucareira, estimulou os nexos com
setores econômicos fornecedores, fortale-
2_ A economia do ouro ceu a Coroa e as atividades urbanas, assim
do século XVIII como diversificou a economia. Enfim, ape-
sar de escravista, a economia do ouro con-
Na terceira parte de Formação Econô-
trasta fortemente com o modelo de plantation
mica do Brasil, em três breves capítulos,
açucareira, o que recomenda uma recapitu-
Celso Furtado trata da economia escra-
lação de suas (da plantation açucareira) prin-
vista mineira do século XVIII. A análise
cipais características.
articula-se em torno do esquema do flu-
A economia do açúcar nordestino, de
xo de renda da economia mineradora, do
acordo com Furtado, caracterizou-se por:
qual, a rigor, obtém-se melhor compre-
ensão mediante o contraste com os flu- 1. dominância da grande proprieda-
xos de renda da economia açucareira do de agrícola, ou das grandes uni-
Nordeste, nos séculos XVI e XVII, e do dades de capital;
dinheiro, teria ocorrido aumento geral do mitido no cálculo da renda (0,5) implica a
grau de monetização da economia, um re- geração de renda monetária fora do nú-
sultado crucial, já que, no esquema explica- cleo exportador.
tivo de Furtado, a ativação do mecanismo Além disso, fatores como a menor
multiplicador de renda depende da existên- concentração de renda, os elevados custos
cia de transações monetárias. O núcleo mi- de transporte inerentes a uma atividade
nerador chegou até mesmo a articular ati- econômica afastada do litoral contribuíram
vidades econômicas em outras regiões – é para modificar a composição da procura em
o caso das tropas de muares do extremo favor dos bens de consumo corrente. Em
Sul, da compra de gado bovino do Sul e do comparação com o Nordeste açucareiro, o
Nordeste –, assim contribuindo para elevar ambiente econômico tornou-se propício ao
o grau de monetização e de integração da desenvolvimento de atividades de mercado
economia em todo o território colonial. interno. O fato é que, admitido o dinamis-
A diversificação econômica e, par- mo das atividades internas, a coerência do
ticularmente, o pagamento de bens e servi- modelo passa a depender de dois elemen-
ços redefinem o fluxo de renda. Na econo- tos. Em primeiro lugar, das explicações pa-
mia açucareira, o grosso das transações ra o suposto declínio da economia aos ní-
monetárias envolvia o engenho e o exterior. veis de subsistência, após a exaustão das
Já na economia mineira do século XVIII, minas. Adicionalmente, de hipóteses sobre
as aquisições e o pagamento de serviços di- as razões do fracasso no desenvolvimento
3 No decênio 1750-60, versos em dinheiro espalhavam a renda pa- de manufaturas, uma vez que a constitui-
a exportação de ouro
manteve-se em torno de ra além da firma mineradora. Em um com- ção de uma base manufatureira representa-
2 milhões de libras. pacto (e confuso) cálculo com base nos ria o desdobramento natural das transações
4/5 correspondiam à região valores das exportações de ouro, Furtado monetárias e do acionamento do mecanis-
mineira (2 ´ 4/5 = 1,6). estima que a renda da região mineira tenha mo multiplicador.
As importações equivalem às
exportações. O coeficiente de
atingido 3,6 milhões de libras na época de Cabe ressaltar que, em relação ao
importações é 0,5; logo a maior prosperidade.3 Reconhece que, em não-desenvolvimento de uma base manu-
renda regional seria igual a relação à economia açucareira, [...] as impor- fatureira em Minas Gerais durante o ciclo
3,2 (1,6/0,5) = 3,2. Furtado tações representavam menor proporção do dispên- do ouro, Furtado não se prende a explica-
afirma que “a renda anual da
economia não seria superior a
dio total (Furtado, 1999, p. 79). Havia de- ções baseadas em vantagens comparativas
3,6 milhões de libras ...” manda (e produção) no mercado interno. da Europa ou normas impeditivas de cons-
(Furtado, 1999, p. 78). De fato, o coeficiente de importações ad- tituição de indústria no Brasil. As razões
aventadas chegam a ser prosaicas: teria fal- Note-se que, por agricultura de sub-
tado capacitação técnica, ou experiência sistência, não necessariamente se entende
manufatureira, aos imigrantes portugueses. agricultura não-excedentária. Os alimentos
Houvesse indivíduos com a devida qualifi- e as matérias-primas utilizados na econo-
cação, nem mesmo os tratados restritivos mia urbana e nas minas provinham dos
entre Portugal e Inglaterra teriam impedi- “setores de subsistência”, assim como a
do a erupção de atividades manufatureiras. criação de gado no sertão para o abasteci-
Furtado vale-se do exemplo norte- mento do litoral nordestino representou
americano para reafirmar que muitas das “economia de subsistência”. Posteriormen-
restrições estabelecidas por tratados inter- te, voltaremos a esse ponto.
nacionais ou pelo domínio colonial só não Por outro lado, e como foi visto, a
são contornadas na prática quando inexis- economia das minas articulou um sistema
tem as bases econômicas para tanto. Editos de trocas monetárias entre o núcleo mine-
governamentais não conseguem suprimir rador, as cidades e os produtores de bens
tendências econômicas vigorosas. Formação agrícolas. Pois bem, tal sistema desaparece
Econômica do Brasil utiliza o exemplo do de- quando o ouro escasseia. Ocorre um processo
senvolvimento da Austrália do século XIX de atrofiamento da economia monetária (Furtado,
para mostrar como o declínio de uma ativi- 1999, p. 85) e, em paralelo, um rebaixa-
dade mineradora pode levar à diversifica- mento do nível de produtividade na eco-
ção econômica. Em Minas, ao contrário do nomia como um todo.
que viria a ocorrer na Austrália (100 anos É importante observar que, no sis-
depois...), o declínio da mineração levou a tema de Furtado, as elevações de produtivi-
uma regressão da atividade econômica. dade em uma economia primário-exporta-
Foi exatamente a falta de desdobra- dora decorrem de dois fatores. Em primeiro
mento da economia mineira [...] num sistema lugar, os produtos líderes de exportação
mais complexo [...] (Furtado, 1999, p. 84) – têm preço elevado, o que representa uma
um sistema manufatureiro –, que levou à elevação da renda monetária (ou do poder
regressão econômica. No entender de Fur- de compra) da comunidade. Em segundo
tado, não se haviam criado nas regiões mi- lugar, a integração da economia a uma cor-
neiras [...] formas permanentes de atividade eco- rente de comércio internacional possibilita
nômica – à exceção de alguma agricultura de a ativação de fatores – terra, mão-de-obra –
subsistência [...] (Furtado, 1999, p. 84). que de outro modo permaneceriam ocio-
sos. Pelos dois lados – elevação dos preços e pel especial desempenhado pela crise dos
aproveitamento de fatores ociosos –, cres- anos 30 na ruptura do padrão primário-ex-
ce a produtividade dos fatores. Simetrica- portador. Para conferir destaque à crise
mente, o colapso das exportações provoca econômica mundial e à decorrente com-
diminuição da produtividade, seja pela au- pressão da capacidade de importar, Furta-
sência de um produto de elevado valor na do deixa na penumbra a indústria preexis-
economia, seja pelo refluxo dos fatores pa- tente. Não obstante, e sempre de acordo
ra uma ou outra forma de ociosidade. Volta- com Furtado, foi o café que propiciou o
remos adiante à questão da produtividade. surgimento de uma economia urbana di-
Em suma, nunca é demais ressaltar versificada, a formação de um mercado de
a importância da demanda externa nos mo- trabalho assalariado e até mesmo de uma
delos de crescimento econômico de Furta- base industrial, cuja capacidade ociosa foi o
do. No limite, foi a ausência de demanda suporte para a recuperação econômica dos
externa que atrofiou a economia mineira anos 30.
ao término do ciclo do ouro. Até que o sur- Os comentários ao desenvolvimento
gimento do trabalho assalariado e o de uma norte-americano reforçam o papel decisivo
base industrial tivessem possibilitado o de- da inserção internacional. Como se sabe,
senvolvimento baseado no mercado inter- Furtado gostava de recorrer ao contraste
no, os surtos de crescimento dependeram entre as colonizações ibérica e inglesa, bem
sempre da conexão com uma fonte dinâ- como de ressaltar os fatores distintivos pre-
mica de demanda externa. Rompida a co- sentes na ocupação do território norte-
nexão, o declínio torna-se inevitável. americano: a capacitação da mão-de-obra e
Os próprios processos de industria- a absorção do excedente populacional na
lização bem-sucedidos, em países de ori- Inglaterra, o papel positivo da pequena
gem colonial, não deixam de estar associa- propriedade no novo território, a visão es-
dos a um mercado internacional dinâmico. clarecida das lideranças da república nas-
No caso do Brasil, a percepção da impor- cente... O autor não deixou de assinalar, no
tância do surto exportador do café para o entanto, a relevância do comércio triangu-
nascimento da indústria permanece semi- lar com as Antilhas, na época colonial, e,
submersa porque, no conhecido relato da após a independência dos Estados Unidos,
industrialização de Formação Econômica do o papel crucial da plantation algodoeira su-
Brasil, o objetivo principal é mostrar o pa- lista. Vale dizer, insistiu no papel decisivo
bem maior sobre o mercado interno. Por ou- das à produção de subsistência, mas ainda
tro, e em decorrência, salientar a existência assim dotadas de grande capacidade de ar-
de dualismo nas economias latino-ameri- regimentação política e de submissão da
canas, o que é bem mais visível nas econo- população de origem indígena.
mias mineradoras do que nas exportadoras É flagrante o contraste entre as di-
de produtos agrícolas.6 nâmicas das economias coloniais de ori-
O modelo de economia da minera- gem hispânica (mineração de prata) e por-
ção do século XIX contrasta também com tuguesa (açúcar e mineração de ouro). No
o modelo de produção de metais preciosos caso da plantation açucareira, a crise de mer-
da época colonial, em especial o dos países cado, decorrente da concorrência interna-
de colonização hispânica. Neste último ca- cional e da desregulamentação da oferta,
so, as regiões produtoras dos metais ... comporta- teria produzido unidades agrícolas estag-
ram-se como autênticos pólos de crescimento (Fur- nadas, mas capazes de reter mão-de-obra
tado, 1969, p. 35). Furtado refere-se à cons- escrava e sustentar o padrão de produção e
tituição de áreas produtoras de alimentos, de relações sociais típicos dos engenhos.
animais de tiro e produtos artesanais para o Furtado fala em “letargia secular”. Os seg-
abastecimento dos núcleos mineradores de mentos conexos, por outro lado, como a
prata, sob o regime de grande propriedade pecuária do sertão nordestino, até mesmo
e de arregimentação de trabalho indígena se expandiram, a despeito do isolamento e
por meio das encomiendas. Em poucas pala- do enfraquecimento dos vínculos com o
vras, a mineração colonial de metais precio- núcleo litorâneo. Nos momentos em que a
sos dinamizou a economia interna – algo demanda externa se rearticulava, os enge-
que também se aplica ao ciclo do ouro em nhos conseguiam responder sem muitas
Minas Gerais. alterações nas relações sociais e nos pa-
A exaustão das minas de prata pôs drões produtivos, em comparação aos pre-
em xeque a instituição da encomienda, ao en- valecentes nos séculos XVI e XVII.
fraquecer a demanda por produtos agríco- Já a exaustão das minas de ouro, co-
las, sem eliminar contudo o regime de grande mo vimos, teria provocado a dispersão da
6 Nos países exportadores de propriedade; apenas refizeram-se os víncu- população – proprietários, trabalhadores li-
produtos agrícolas, o dualismo era
menos visível, mas nem por isso
los de subordinação entre os fazendeiros e vres e escravos – na economia de subsis-
menos real, pelo menos na fase os trabalhadores rurais. As fazendas sobre- tência, ou seja, o retrocesso irrecuperável a
inicial (Furtado, 1969, p. 62). viveram como unidades isoladas, destina- atividades de baixa produtividade. Furtado
não esclarece o que são essas atividades, Furtado. Em contraste, as lacunas de sua
porém, descarta a possibilidade de que os visão da economia mineira após o esgota-
capitais aplicados na mineração tenham se mento das minas são gritantes.
transferido em massa para outras regiões O que interessa ao presente traba-
em busca de melhores oportunidades. Te- lho, no entanto, não é a acuidade histórica
ria prevalecido uma espécie de racionalida- das conclusões de Formação Econômica do
de de jogos de azar: os mineradores reluta- Brasil a respeito da economia de Minas Ge-
vam em desmobilizar o capital e vender os rais após a decadência das minas. O rele-
escravos, graças à expectativa de um novo vante para o entendimento do método teó-
golpe de sorte na descoberta de lavras. rico-histórico de Furtado é o exame das
Com isso, o capital desapareceu. características básicas do modelo de mine-
De todo modo, um novo surto de ração colonial português, e o estabeleci-
crescimento baseado na demanda externa mento de contrastes e/ou semelhanças com
viria a ocorrer apenas com a expansão da seus congêneres hispânicos, com o modelo
demanda externa pelo café, duas ou três de plantation açucareira e com o modelo de
gerações após o declínio da mineração. Te- economia mineral do século XIX. Como
ria havido um hiato no crescimento econô- vimos, a economia do ouro envolveu:
mico e, como se sabe, o texto de Formação a. diversificação social (coexistência de
Econômica do Brasil pouco discute o que trabalho livre e escravo) e descon-
ocorreu na região das minas com a desarti- centração da renda, em relação
culação do mercado externo, tanto imedia- ao modelo clássico de plantation;
tamente (século XVIII) quanto após o sur- b. ativação de núcleos fornecedores
gimento do núcleo dinâmico do café. A (a empresa mineradora não é auto-
bem da verdade, os modelos de explicação suficiente);
baseados em ciclos comandados pela de-
c. monetização da economia;
manda externa de produtos primários pou-
d. formação de uma economia urba-
ca atenção conferem ao que ocorre nas re-
na e, portanto, a admissão de que
giões onde se deu o surto de crescimento,
existia uma razoável diferencia-
uma vez cessado o dinamismo. Feita a res-
ção de ocupações.
salva, deve-se admitir que a hipótese da
“letargia secular” do açúcar tem peso e Em suma, apesar de apoiada na mão-de-
consistência – chega a ser um clássico de obra escrava, a economia do ouro em tu-
súbito de produtividade, graças aos dois ra, a omissão tem maiores conseqüências. como Furtado faz, uma
contabilidade virtual da firma
elementos mencionados: preços elevados e Por um lado, Furtado admite que as transa-
para efeito de apuração da
utilização mais intensa de fatores antes ocio- ções monetárias são disseminadas. Por ou- rentabilidade do capital,
sos (terra, trabalho, natureza, capital). tro, do relato dos historiadores sabemos confrontando o preço dos
que o ciclo do ouro provocou em encareci- escravos, sua depreciação e
alocação nas diversas
4.3_ Preços relativos mento de todos os gêneros e insumos, tan-
atividades necessárias à
A ausência de considerações mais amplas to os de mercado interno quanto os im- produção, dado o preço
sobre preços relativos representa uma das portados (ver Hollanda, 1960a e 1960b; do açúcar.
em épocas anteriores seu locus no meio ru- de baixa produtividade (nos sentidos refe-
ral e na agricultura. ridos na seção 4.2). Seria o caso do litoral
A população excedente no meio ru- açucareiro nordestino, a partir do final do
ral formou-se nos tantos momentos de de- século XVII, e, em condições diversas, de
sagregação das atividades dinâmicas (açú- Minas Gerais, após a exaustão das minas.
car, mineração) ou ainda pela incorporação Imaginar que um cultivo pouco ren-
de contingentes não suscetíveis à escravi- tável, ou não rentável, possa manter uma
zação (descendentes de indígenas, brancos população ainda escravizada, requer um pou-
pobres, escravos libertos e seus descenden- co de imaginação, dado o valor do escravo.
tes). A base da formação de bolsões de po- Pensamos, mais uma vez, que a explicação
pulação excedente é a existência de terra li- de Furtado para a “letargia secular” do Nor-
vre, ou terra de ocupação acessível desde deste açucareiro é satisfatória. O entendi-
que o ocupante aceite as diversas formas mento de que o engenho tradicional é uma
de subordinação aos proprietários. Pois bem, unidade econômico-social capaz de resistir
tal população forma a base da “economia às intempéries, mantendo inclusive a escra-
de subsistência”; vale dizer, é uma força de vidão, parece apoiada tanto em relatos his-
trabalho que pode ser atraída a baixo preço, tóricos quanto nos estudos que tratam da
sempre que houver oportunidades. formação da estrutura social nordestina.
O curioso é que Furtado engloba nas Imaginar que os escravos tornados
“atividades de subsistência”, nos momen- ociosos pela exaustão das minas pudessem
tos que antecedem o término da escravidão, refluir às “atividades de subsistência”, con-
até mesmo a população escrava. Não nos servando-se o vínculo da escravidão, é mais
referimos, naturalmente, ao contingente es- difícil. Naturalmente, o razoável seria ad-
cravo ocupado em culturas dinâmicas e mitir que outras atividades rentáveis, com-
que dedica uma parte do tempo de traba- patíveis com o trabalho escravo, vieram a
lho à produção da própria subsistência. Re- se desenvolver ou até mesmo já existiam na
ferimo-nos aos escravos que ficam semi- região. Essa admissão, no entanto, indica
ociosos quando a cultura dinâmica decai, uma capacidade de adaptação da economia
os quais, no entendimento de Furtado, não ao término de um surto exportador que
sendo transacionados, permanecem a pos- colide com o núcleo explicativo de Furta-
tos para eventuais retomadas da atividade do. No sistema de Furtado, o dinamismo
principal e/ou são alocados em atividades só pode provir de surtos primário-exporta-
Referências bibliográficas