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Winnicott e A Pulsão de Morte PDF
Winnicott e A Pulsão de Morte PDF
Em primeiro lugar penso ser necessário esclarecer que não tenho pretensão
de esgotar todas as questões implicadas neste tema tão complexo. O que eu
pretendo é apenas tentar esclarecer qual a posição de Winnicott diante deste
conceito de Pulsão de Morte, já que o mesmo ocupou e continua ocupando um
lugar bastante significativo dentro da psicanálise, tanto em seus aspectos clínicos,
como teóricos.
O conceito de Pulsão de Morte foi formulado por Freud no texto “Além do
Principio de Prazer”, no momento em que ele estava tentando compreender a
questão da compulsão à repetição e a agressividade humana.
Winnicott se recusou radicalmente a aceitá-lo, achando até mesmo que esta
proposta foi uma solução equivocada, e talvez “o único erro de Freud”. Se
recusou a aceitá-lo por considerar um conceito inútil para compreensão da
compulsão a repetição e agressividade humana. Winnicott, porém, não se limitou a
rejeitar, ele também propôs alternativas para a compreensão das raízes da
agressividade e da compulsão à repetição.
Nessa aula vamos falar apenas sobre a alternativa de Winnicott para a
compulsão à repetição. A questão da agressividade será vista em outra aula.
O conceito de pulsão de morte foi e continua sendo aceito por alguns
psicanalistas e contestado por outros. Tanto para os psicanalistas que adotaram,
como para aqueles que se recusaram a aceitar o conceito, é importante que
coloquem a sua posição, os motivos de suas discordâncias e foi isso o que fez
Winnicott.
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finita, mas pelo fato que precisamos continuar sendo. Esta é a grande tarefa
humana.
A compreensão de Winnicott, no que se refere à necessidade de retomar
(corrigir) as experiências passadas é diferente da proposta de Freud em relação à
compulsão à repetição. Ele pensa que pacientes que tiveram falhas ambientais
graves em momentos em que o ego não era capaz de integrar a experiência
dolorosa dentro da área de onipotência, essas experiências ficaram congeladas,
guardadas, cindidas, à espera de melhores condições ambientais e pessoais para ser
vivido e integrado à personalidade.
Quando há partes cindidas na personalidade, quando há situações que foram
vividas e não experienciadas, a necessidade de SER leva o homem a procurar
retomar seu processo de amadurecimento no ponto em que ele foi interrompido,
nas condições em que foi interrompido para dar continuidade a seu ser.
E é por conta dessa necessidade de integração, ou de colocar a experiência
na área de controle onipotente do Self, que a pessoa pode buscar situações que
possam repetir as mesmas situações traumáticas vividas no passado e produzir uma
repetição, mas uma repetição com o anseio de tentar colocar o que foi vivido e não
integrado, dentro da área de controle onipotente. Ou seja, poder experienciar o que
está cindido, descongelar o que estava congelado, integrar o não vivido. Se nessa
busca a pessoa encontrar uma situação favorável, um ambiente suficientemente
bom e essa busca for bem sucedida, o individuo alcançará a integração, a possível
continuidade do amadurecimento, e a continuidade de SER.
Winnicott é enfático quando diz que não se trata propriamente de voltar à
situação traumática, mas ao momento anterior ao trauma em que as defesas em
relação a essa situação ainda não tinham sido erguidas, para poder retomar o
processo de amadurecimento a partir deste ponto. Porém para a retomada do
processo de integração de amadurecimento, o paciente precisa regredir ao
momento anterior ao colapso da situação traumática. E se tudo correr bem a
repetição necessitada e procurada da mesma situação traumática pode ser vivida
noutras condições. Já agora (numa situação de análise) a situação traumática pode
ser experienciada sem que o indivíduo se sinta aniquilado e seu amadurecimento.
Então, com a recusa do conceito de pulsão de morte, Winnicott formulou
uma alternativa para pensar a compulsão à repetição como uma busca de si-mesmo
que não é propriamente procurada num interior da vida psíquica inconsciente, mas
num ambiente e na relação inter-humana de confiança. Nesse sentido, é
interessante retomar um comentário de Phillips: “Em Winnicott, o homem só pode
encontrar a si-mesmo em sua relação com os outros, e na independência
conseguida através do reconhecimento da dependência”.
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Bibliografia
Abram, Jan. A Linguagem de Winnicott. Rio de Janeiro: Reinventer Ltda, 2000.
Freud, Sigmund. (1911). Formulações sobre os Dois Princípios do Funcionamento Mental. In:
Obras Completas de Sigmund Freud. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
--------------------- (1920). Além do Princípio do Prazer. In: Obras Completas de Sigmund Freud.
São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
Fulgencio, L. Por que Winnicott? São Paulo: Zagodoni Editora Ltda, 2018.
Giovacchini, Peter L. Táticas e Técnicas Psicanalíticas – D.W. Winnicott. Porto Alegre: 1995.