1 A partir da proposta de analisar o esporte, o teólogo Leonardo Boff
2apresenta o futebol como a religião secular mundial, sendo os estádios seus
3templos de culto sagrado. Contudo, a referida sacralização convive com um 4paradoxo no contexto brasileiro: os espaços de comemoração e de festividade 5passaram a ser convertidos em ambientes de violência. Diante disso, faz-se 6necessário correlacionar os aspectos de potencialização de tal problemática, a 7fim de direcionar possíveis soluções
8 Convém discutir, em primeiro plano, as origens da violência física que se
9processa nos estádios futebolísticos. Sob esse viés, ao passo que se percebe 10o futebol enquanto esporte-competição, visualiza-se o surgimento de 11rivalidades intrínsecas aos enfrentamentos entre os times, os quais, no Brasil, 12carregam consigo interligações com fatores regionais de proximidade entre os 13adversários. Nesse contexto, conforme conceitua Sérgio Buarque de Holanda, 14a cordialidade correlata à identidade brasileira direciona estes a agir guiados 15pelos sentimentos em detrimento da razão, de modo que o extravasamento 16dessas emoções construa âmbitos propícios para a concretização de atos de 17violência.
18 Vale observar, em segundo plano, que as sequências das agressões
19físicas supracitadas geram um estado de violência psicológica. Acerca dessa 20lógica, de acordo com dados apresentados pelo Instituto Stochos, estima-se 21que 43% dos torcedores deixaram de frequentar a jogos futebolísticos devido à 22sensação de falta de segurança, demonstrando que as manifestações 23agressivas, além de ser um atentado à integridade corporal dos que são alvos, 24contribuem para vitimar, psicologicamente, aqueles que as presenciam. Vê-se, 25então, a prática de um ciclo vicioso de retroalimentação, no qual a autocensura 26de expressões de ódio se reduz ao mínimo, mas findam prejudicando ao 27máximo a fraternidade do futebol brasileiro.
28 Torna-se evidente, portanto, a essencialidade de medidas para associar
29o esporte mencionado à harmonia que lhe é característica. Para tanto, os 30Legisladores do Esporte, com o apoio técnico-informacional do Superior 31Tribunal de Justiça Desportiva, têm de ampliar a aplicar o Estado do Torcedor, 32promovendo punições exemplares, com efeito preventivo, aos clubes e aos 33praticantes de ações violentas. Essas sanções poderão ser efetivadas por meio 34do aparelhamento de tecnologias de reconhecimento facial, a fim de agregar 35eficiência ao processo. Com essas medidas, pode-se minorar o paradoxo 36agressivo que tem marcado a sacralidade dos estádios futebolísticos, como 37apontado por Leonardo Boff.