A partir de experiências vivenciadas por comunidades quilombolas,
indígenas e camponesas, o documentário “Desertos verdes” denuncia os
impactos socioambientais do uso sistemático de agrotóxicos em prol do beneficiamento produtivo em uma monocultura de eucalipto. Nesse sentido, correlacionar, assim como proposto pela obra documental, as consequências quanto ao uso de agroquímicos com as fragilidades das instituições governamentais de regulamentação de tais produtos se trata do melhor caminho para discutir a referida problemática. Convém analisar, antes de tudo, os malefícios provenientes da aplicação de insumos agronômicos. Sob esse viés, pesquisa realizada pela Fundação Oswald Cruz concatena a exposição, por via alimentar, a defensivos agrícolas com o desenvolvimento de distúrbios reprodutivos, os quais se estendem, ainda, a problemas neurológicos, respiratórios e hepáticos. Assim, apesar da necessidade de atendimento, por parte do agronegócio, à alta demanda por produtos agrícolas, consequência do aumento do consumo moderno, é necessário o incremento de meios alternativos de proteção agrária, a fim de associar a prática à saudabilidade por ela requerida. Dessa forma, vale ainda discutir a debilidade nas políticas estatais de proteção ambiental e fiscalização a produtos fitossanitários. À vista disso, a rotina neoliberal de produção agrária, bem como a postura lobista de uma bancada ruralista, trabalha, no Brasil, com o objetivo de minar deliberações políticas de fortalecimento de uma legislação contrária ao uso de pesticidas de alta toxidade, tanto ao solo, quanto ao consumidor. Tal postura revela, pois, a instrumentalização dos órgãos públicos, pelo complexo agroindustrial, para manutenção de benefícios privados, em detrimento da aplicabilidade de um modelo produtivo sustentável. Torna-se evidente, portanto, a necessidade de conciliar o emprego de agrotóxicos com práticas ambientalistas. Para tanto, o Poder Legislativo, por meio de Projetos de Leis, tem de fortificar o sistema jurídico de registro de agroquímicos de risco e suas conseguintes proibições, a fim de consolidar uma política regulamentadora de produtos fitossanitários. Cabe, ainda, à sociedade civil, com apoio técnico-informacional de ONGs, denunciar, junto ao Ministério Público Federal, situações irregulares no que diz respeito à presença de alto índices de insumos agronômicos em alimentos. Com essas medidas, os impactos socioambientais, como os apresentados pelo documentário, podem vir a ser minimizados.