Idolatria política , o novo ídolo e o ressurgimento de um ídolo
Em entrevista à revista Época Negócios no ano de 2016, o filósofo
britânico Roger Scruton, ao ser questionado sobre a frustação com líderes de esquerda e a ascensão de líderes de direita na América Latina respondeu: O ideal é que não se deposite esperança política em pessoas e famílias, mas, no governo das leis. Partindo de tal afirmação, podemos levantar duas questões aqui. O que é o messianismo político? E como ele se manifesta? Podemos definir messianismo político como: a tendência coletiva de esperança em um único indivíduo como solução de todos os problemas, um líder que será capaz de trazer a salvação e mudar os rumos da história. Consequentemente, sua principal forma de manifestação se dá tempos em tempos, com um tipo de “profecia política de salvação”. Mas, que orientação bíblica poderia nos ajudar sobre tal perigo? Há um caso emblemático e pedagógico em 1 Samuel 8. 1-22; onde podemos extrair valiosas lições para o discipulado cristão. O texto bíblico em tela apresenta a insatisfação do povo Israelita com os filhos de Samuel, estes eram juízes, então responsáveis pela liderança política da nação. Porém, estavam agindo de forma ímpia e injusta diante de Deus e do povo, não seguindo o exemplo de piedade do pai (Samuel), mas, se corrompendo por meio de subornos, sendo omissos com as necessidades do povo, bem como, não julgando as causas da sociedade com justiça. A reação enérgica do povo, diante de tais sacrilégios, foi pedir um rei como os das nações vizinhas. Samuel advertiu dos perigos, mas, os israelitas foram relutantes não abrindo mão em busca do seu líder-salvador (1Sm 8.7- 20). O que podemos aprender deste fato acontecido em Israel e sua aplicação ao nosso cenário político? Em primeiro lugar, o poder do Estado é transpolítico (vindo de fora), doado por Deus (Rm 13.1). Por isto, o Estado na pessoa dos representantes e membros do poder público, devem dirigir o povo com responsabilidade, visando sempre, o bem-comum na convivência em sociedade. Quando não agem assim, o povo sofre. Em segundo lugar, a falta de maturidade e de humildade do povo para ouvir as instruções vindas de Deus, também conduzem ao sofrimento. A solução de Scruton é equilibrada e democrática, mas, pode ser aprofundada pela afirmação do teólogo Joseph Ratzinger que disse: “O primeiro serviço que a fé cristã prestar à política é, pois, libertar o homem da irracionalidade dos mitos políticos, que constituem o verdadeiro perigo do nosso tempo”. Como cristãos é dever nosso, fugir da recalcitrante teologização da política, que ressurge de tempos em tempos, como substituta ao reino de Deus.