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LUCÍA SÁNCHEZ SAORNIL


A questão feminina em nossos meios1

I
Agradeço a M. R. Vázquez que com seu artigo publicado nessas mesmas colunas
“A mulher, fator revolucionário”, – muito bem enfocado, aliás, – deu-me a
oportunidade de voltar a me ocupar deste tema.
Em outros periódicos – “El Libertário”, “CNT”- e em distintas ocasiões tenho dito
sobre o muito que é necessário dizer acerca da importância que teria para nosso
movimento a captação da mulher.
Mas, neste assunto temos que falar claro, muito claro; entre nós não cabem
circunlóquios, devemos ser sinceros ainda que essa sinceridade nos amargue;
colocarmos nossas mãos à palmatória ainda que rasguemos a junta dos dedos; só a
custa disto estaremos no caminho da verdade.
Vázquez se queixa, como eu tenho me queixado repetidas vezes, de que não foi
feita propaganda suficiente de nossas ideias entre as mulheres, e depois de observar
os fatos, depois de tê-los analisado eu extrai esta conclusão: pouco interessa aos
camaradas anarco-sindicalistas – não ao anarco-sindicalismo, cuidado – o apoio da
mulher.
Pareço ouvir uma série de vozes raivosas que se levantam contra mim. Calma,
amigos: eu não comecei ainda. Quando afirmo uma coisa estou sempre disposta a
demonstrá-lo, e a ele vou.

1 Série de artigos publicados em Solidaridad Obrera, Barcelona, entre setembro e novembro de 1935. Título original:
La cuestión femenina en nuestros medios. Extr. do livro-coletânea SAORNIL, Lucía Sánchez, «A questão feminina
em nossos meios», São Paulo/Santiago: Biblioteca Terra Livre/Editorial Eleuterio, 2015. Tradução de Thiago
Lemos Silva..
Nada mais fácil que a propaganda entre a mulher – oxalá todos nossos objetivos
tivessem a mesma simplicidade! -. Propaganda nos sindicatos? Propaganda nos
ateneus? Propaganda em casa! A mais fácil e mais eficaz! Em que lar não há uma
mulher, companheira, filha, irmã? Pois ai está o nó da questão. Suponhamos que a
Confederação Nacional do Trabalho tem um milhão de afiliados. Não deveria ter
outro milhão, pelo menos, de simpatizantes entre as mulheres? Que trabalho então
custaria organizá-las se estima-se tanto sua organização? Como vemos, não está ai a
dificuldade, a dificuldade está em outra parte: na falta de vontade dos próprios
camaradas.
Vi muitos lares, não de simples confederados, mas de anarquistas(!?) regidos pelas
mais puras normas feudais. Para que servirão, pois, os mettings, as conferências, os
cursos, todo tipo de propaganda, se não são vossas companheiras, mulheres de suas
casas que tem de ir até vocês ? A que mulheres se referem então?
Por esse motivo, não é o bastante dizer “temos que fazer propaganda entre as
mulheres”, “temos que trazer as mulheres aos nossos meios”, etc. Mas que temos que
tomar essa questão de modo mais profundo, muito mais profundo. Na sua imensa
maioria os companheiros, com exceção de uma dúzia de bem orientados, tem uma
mentalidade contaminada pelas mais características aberrações burguesas. Enquanto
reivindicam contra a propriedade, são os mais furibundos proprietários. Enquanto se
erguem contra a escravidão, são os amos mais cruéis. Enquanto vociferam contra o
monopólio, são os mais encarniçados monopolistas. E tudo isso deriva do mais falso
conceito que a humanidade já pôde criar: a suposta inferioridade feminina. Erro que
talvez tenha atrasado séculos de civilização.
O último escravo, uma vez passadas as portas de seu lar, se transforma em
soberano e senhor. Um desejo seu, apenas esboçado, é uma ordem terminante para as
mulheres de sua casa. Aquele que há dez minutos engolia o fel da humilhação
burguesa, se levanta como tirano fazendo aquelas infelizes sentirem toda a amargura
de sua pretensa inferioridade.
Não me digam que exagero. Poderia oferecer exemplos de mãos cheias.
Não interessa o apoio da mulher aos camaradas. Cito casos verídicos.
Várias vezes tivera a ocasião de dialogar com um companheiro que parecia
bastante sensato e sempre o ouvira preocupado com a necessidade que se sentia em
nosso movimento o apoio da mulher. Um dia em que se realizava uma conferência no
centro, lhe perguntei:
– E sua companheira, por quê não veio ouvir a conferência?
A resposta me deixou paralisada:
– Minha companheira tem bastante o que fazer, como cuidar de mim e de meus
filhos.
Outro dia estava nos corredores da sala de audiência do Fórum. Encontrava-me
em companhia de um camarada que ostentava um cargo representativo. Saía de uma
das salas uma advogada, talvez defensora da causa de algum proletário. Meu
acompanhante a olhou de lado e cochichou enquanto esboçava um sorriso rancoroso:
– Esfregar o chão, eu a mandaria.
Estes dois episódios, a primeira vista tão banais, quantas coisas tristes nos dizem?
Dizem, antes de tudo, que esquecemos algo muito importante: que enquanto
concentrávamos todas as nossas energias no trabalho de agitação, relegávamos o
trabalho educativo. Que a propaganda não deve ser feita entre as mulheres, mas entre
os próprios companheiros. Que devemos começar a arrancar de suas mentes a ideia
de superioridade. Que quando lhes disser que todos os seres humanos são iguais,
entre os seres humanos está incluída a mulher, ainda que vegete entre as coisas do lar,
confundida com as panelas e os animais domésticos. Tem que dizer-lhes que na
mulher existe uma inteligência igual a sua, uma sensibilidade aguda e uma
necessidade de superação: que antes reformar a sociedade, precisa reformar sua casa;
que o que é o sonho para o futuro – a igualdade e a justiça – deve implantá-lo desde
hoje entre os seus; que é absurdo pedir a mulher compreensão para os problemas da
humanidade se antes não a esclareça para que veja dentro de si, se não procura
despertar na mulher que compartilha com ele a vida, a consciência de sua
personalidade, se antes, por fim, não a eleva a categoria de indivíduo.
Esta, e não outra, é a propaganda que pode atrair a mulher aos nossos meios. Qual
delas deixará de abraçar a causa que construiu o “milagre” de revelar seu ser? À
tarefa, portanto, camaradas.
E se considerarmos que este tema é um problema interessante para o movimento
revolucionário, não o escondamos como uma vergonha entre as estreitas colunas das
páginas de informação telegráfica de nossos periódicos; pelo contrário, o coloquemos
ao alcance da visão de todo o mundo (Isto vai para ti, camarada diretor).
Quanto aos companheiros, perdoem-me a crueza, mas, é necessária se não
queremos enganar a nós mesmos.
E como não terminei, não digo-lhes senão até logo.
Solidaridad Obrera, Barcelona, 26-09-1935, n1075.
II
Ninguém acredite, porque se equivocaria em absoluto, que ao demandar a
capitação da mulher à propaganda individual, deixo de estimar o trabalho que pode
ser feito por outros meios mais amplos: a conferência, o meeting, o periódico. Mas,
antes de decidir empregá-los, é necessário que os camaradas levem em consideração
que precisam de um tato e uma habilidade extremas, para não realizar um trabalho
negativo. Tais meios só devem ser manejados por aqueles que, na intimidade de sua
consciência, reconheceram a necessidade e o valor da aquisição a que nos propomos.
Eu gostaria que cada um meditasse profundamente e antes de abrir os lábios,
entrasse em si mesmo, até suas intimidades mais profundas, até onde chegar todos
seus conhecimentos, mas com absoluta sinceridade, se dispusesse a falar a verdade
passando por cima de todas as coações sociais e procurasse descobrir em si mesmos e
na sociedade a leve marca que permitiu deixar a mulher no estado em que está ; e
apenas quando descobrir que ainda neste estado a que esteve relegada e por cima da
legenda mórbido-sexual com que a envolveram, aceitar que a mulher operou como
um elemento vital impulsionando a individualidade masculina, tanto quanto o da
humanidade; então, e só então, deduzido o beneficio que a sociedade futura
compartilharia com a incorporação plena deste elemento vital, pregar aos quatro
ventos a verdade recém descoberta. Aqueles que não conseguiram chegar até esta
conclusão é preferível que se calem e não perturbem com um trabalho negativo os
resultados aos quais este projeto nos lançou.
Existem muitos companheiros que desejam sinceramente o apoio da mulher na
luta; mas este desejo não corresponde a uma modificação de seu conceito de mulher,
deseja seu apoio como um elemento que pode dar-lhes facilidades para a vitória,
como um aporte estratégico, poderíamos dizer, sem que isso lhes faça pensar nem por
um instante na autonomia feminina, sem que deixem de considerar a si próprios o
umbigo do mundo. São estes os que dizem em momentos de agitação: “ Por que não
se organizam manifestações de mulheres? Uma manifestação de mulheres é “as vezes
mais eficaz e a força pública se detém com mais facilidade diante delas”. São também
os que, para atraí-las, escrevem alguns artigos como o que tivemos a dor de ler no
número 1053 de nosso diário, assinado com as iniciais R.P. e fechado em Vilassa del
Mar.
Especulou-se que o artigo foi escrito por uma mulher, mas permito-me duvidar
disso. Uma mulher que oferece um escrito de sua autoria à imprensa, pelo fato em si,
já deve ter alcançado certo grau de emancipação moral; e uma mulher emancipada
moralmente, que já passou por todas as dores, por todas as amarguras, que teve que
enfrentar a mais encarniçada luta com os seus e com os estranhos: a burla, a ironia, o
ridículo – este último o mais amargo e difícil de enfrentar – para alcançar aquela
meta, não pode escrever assim. Não pode depositar na mulher a culpa de todos os
sistemas sociais que existiram até então, pretendendo tomar os efeitos pelas causas.
Em um dos parágrafos do escrito aludido, dizia-se: ”Não só o homem, mas a
sociedade em geral, tem um conceito muito pobre de mulher. Sabem por qual
motivo? Porque muitas, nessa idade exuberante em que se formam o coração e o
cérebro, não se preocupam com nada; pelo contrário, cansam-se rapidamente de tudo
que significa reflexão e quietude. O que querem? Querem tudo que adula a
imaginação e o amor próprio ”. E mais adiante. “A mulher, a força de olhar seu corpo
no espelho, se esquece de olhar seu coração no espelho de sua consciência ”.
Que infinita pena ler isto! Quem pode dizer que isto foi escrito por mãos
femininas?
Forçoso é que o cérebro da mulher albergue um vasto potencial de inteligência
para que não tenha naufragado definitivamente nas sombras da mais absoluta
animalidade, entre as quatro paredes do gineceu. A falta de horizontes criou nela um
princípio de miopia espiritual. Não pôde nem aprender a olhar dentro de si, porque
lhe asseguraram que não possuía nada dentro, e agora quando ela mostra a vocês
homens não tal como é, mas, como a criaram apenas está jogando em suas caras o
resultado de sua própria obra
A mulher foi na sociedade, até ontem mesmo, objeto do menosprezo mais
humilhante. No século VIII, quando o ideal da humanidade era ideal religioso, num
Concílio convocado em Flandres, iniciou-se uma discussão a fim de checar se a
mulher tinha alma. No primeiro terço do século XVIII, quando começavam a
germinar as raízes dos direitos dos homens, vieram à luz uma série de dissertações –
em tom jocoso para maior escárnio – nas quais se colocava o problema a saber se a
mulher era ou não um ser humano. E assim, através dos séculos, as sociedades
fundadas por homens e integradas por homens relegaram a mulher aos últimos pontos
da escala zoológica. Algumas vezes a chamaram de animal de prazer, mas eu lhes
asseguro que isso não foi senão o testemunho atormentado e passivo da voz do prazer
dos demais.
Sabe R.P. com que objetivo foi criada a mulher, com que objetivo foi educada a
mulher durante mil anos? Exclusivamente para excitar os sentidos do macho; para
este lhe dizer que para isto nasceu e que para isto lhe encaminhou toda a vida. Seu
único horizonte era, e ainda não deixou de ser, o prostíbulo ou o matrimônio, ambos
entrelaçados. Assim pôde dizer Charles Albert, em “Seu Amor Livre”: “Suponham
que uma cortesã ao invés de exercer seu comércio na rua, esteja mais segura ao
encontrar todos os dias, na mesma hora, o mesmo cliente. Assim, o homem teve o
tipo tão habitual de mulher obrigada a casar-se pela necessidade de precisar do salário
do homem”. Em torno desta solução única, giraram todas suas atividades. Quando
alguém se importou em despertar sua consciência? Quando alguém lhe disse que nela
residia um indivíduo com direitos, mas, também com deveres? Nascer, sofrer, morrer,
este foi todo seu destino e todo seu direito.
Não; uma mulher emancipada não poderia julgar assim suas irmãs; ao voltar o
olhar para trás, para essa imensa plêiade de escravas, que são em geral as mulheres do
povo, só podemos sentir angústia, indignação, vontade de chorar e, logo em seguida,
um desejo veemente de unir seu próprio esforço, sua própria individualidade com
aquelas que sinceramente entreviram a possibilidade de um mundo melhor . Unir sua
vontade ao vasto movimento de emancipação integral que implantará sobre a terra
um sistema de convivência mais justo e mais humano, o único em que a mulher
poderá falar de sua libertação definitiva.
Mas, não esqueçam nossos propagandistas que só as mulheres que alcançaram
certo grau de emancipação moral chegam a estas conclusões. Proporcionar, portanto,
esta emancipação deve ser nosso objetivo mais imediato; e não esqueçamos que, além
de ser pouco piedoso, não é o melhor caminho culpá-las por um crime do qual são
vítimas.
Solidaridad Obrera, Barcelona, 02/10/1935, n1080.

III
Conservo na memória a lembrança de certo ato de propaganda sindical no qual
tomei parte. Foi numa pequena capital da província. Antes do ato começar, um
camarada, membro mais importante do Comitê Central, aproximou-se de mim. “Com
sua intervenção – disse-me ele – conseguimos atrair a atenção de um número
considerável de mulheres; é necessário que as repreendam, pois elas possuem uma
ideia muito equivocada do que vem a ser sua missão aqui; desde algum tempo
começaram a invadir as fábricas e as oficinas, e hoje competem conosco, criando um
verdadeiro problema de desemprego. Por outro lado, e ciosas de sua independência
econômica, mostram-se refratárias ao casamento. Tem que lhes dizer, que sua missão
está em outra parte, que a mulher nasceu para destinos mais altos, mais em harmonia
com sua natureza, que ela é a pedra angular da família, que ela é antes de tudo e por
cima de tudo, a mãe, etc, etc ”. E a este teor, o camarada me empurrou uma conversa
mole de mais de meia hora.
Eu, sem saber o que fazer, se ria ou se ficava indignava, o deixei falando e quando
chegou o momento disse às mulheres o que reputava ser oportuno; algo que se não
era oposto estava bem distante de ser o que ele desejava.
Hoje, depois de muito tempo, pergunto-me se aquele camarada era absolutamente
sincero, se no fundo de suas argumentações não havia uma terrível quantidade de
egoísmo masculino.
Porque não vale dourar a pílula. Através de seu entusiasmado ardor pela “sublime
missão” da mulher acrescenta-se a brutal afirmação de Okén – a quem ele
seguramente não conhecia mas ao qual estava unido por uma invisível linha do
atavismo – : “A mulher é somente o meio, não o fim da natureza. A natureza não tem
senão um único fim e objeto: o homem.”
As palavras daquele companheiro manifestam o que venho dizendo desde o início
desta campanha: a falta de preparação dos companheiros, o pouco que foi feito nesta
questão foi algo extremamente negativo. Acusa-se, antes de tudo, a falta de unidade
em torno do critério escolhido. A partir disso, seguiram-se muitos males para o nosso
movimento.
Ele se lamentava daquilo que para mim era a principal causa de satisfação: que as
mulheres romperam com a tradição que as tornavam dependentes dos homens e
saíram para o mercado de trabalho em busca de sua independência econômica. A ele
isso doía ao passo que mim causava regozijo, porque sabia que o contato da mulher
com a rua, com a atividade social seria um estímulo que acabaria despertando nela a
consciência de sua individualidade.
Seu lamento foi o lamento universal alguns anos antes, quando as mulheres
largaram o lar pela fábrica ou a oficina. Deduzo deste fato um mal para a causa
proletária? A incorporação da mulher no trabalho, coincidindo com a introdução do
maquinismo na indústria, tornou a competição entre os braços mais encarniçada,
originando, como consequência, uma diminuição sensível dos salários.
Olhando assim, superficialmente, diríamos que os trabalhadores tinham razão;
mas se, dispostos a falar a verdade, nos aprofundarmos no conteúdo do problema
descobriremos que os resultados teriam sido outros caso os trabalhadores não
tivessem sido arrebatados por sua hostilidade em relação à mulher, fundada no
preconceito da suposta inferioridade feminina.
A batalha foi apresentada a pretexto desta suposta inferioridade e foi tolerado que
lhes dessem diárias inferiores, retirando-as das organizações de classe sob a
justificativa de que o trabalho social não era missão da mulher, e que se estabeleceu
uma concorrência intersexual ilícita. A auxiliar de máquina era facilmente manejada
pela conformação simplista do cérebro feminino naquela época e, como efeito,
começou-se a empregar mulheres que, secularmente acomodadas à ideia de sua
inferioridade, não pretenderam impor condições aos abusos capitalistas. Os homens
ficaram relegados a trabalhos mais duros e às especializações.
Se ao invés de observar esta conduta, os trabalhadores tivessem dado apoio à
mulher, despertando nela o estímulo, elevando-a ao seu mesmo nível, atraindo-a
desde o princípio de classe, impondo aos patrões organizações com igualdade de
condições para ambos os sexos, as consequências teriam sido muito diferentes. De
imediato a força física teria lhes dado a supremacia em relação o patronato, mesmo
que essa força se desse as custas dos débeis, e quanto a mulher caso stivessem
despertado nela a ânsia de superação e, unidas aos homens em organizações de
classe, teriam avançados juntos com maior rapidez pelo caminho da libertação.
Já estou ouvindo uma série de objeções. Dir-me-ão que não se pode pedir a um
operário de quarenta ou cinquenta anos esta perspicácia, quando ele saia de um
estado semiconsciência; mas, levemos em conta que ao referir-me aos trabalhadores
não o faço na sua totalidade, mas, aqueles que colocaram sobre seus ombros a tarefa
de orientá-los, e que não é meu propósito tatno fazer a crítica daquela época quanto
fustigar os companheiros que mantem-se nos mesmos erros desdenhando as lições da
experiência.
Talvez me digam também que, com efeito, a natureza feminina impõe à mulher
outras atividades igualmente importantes e valoráveis que não o trabalho social… A
estes responderei no próximo dia.
Solidaridad Obrera, Barcelona, 09/10/1935, n1088.

IV
Na atualidade, está socialmente questionada a teoria da inferioridade intelectual
feminina; um número considerável de mulheres de todas as condições sociais
demonstrou praticamente a falsidade do dogma, poderíamos dizer, revelando a
excelente qualidade de suas aptidões, em todos os ramos da atividade humana.
Apenas nas camadas sociais inferiores onde a cultura penetra mais lentamente pode
sustentar-se, ainda, uma crença tão perniciosa.
Quando, porém, o campo parecia limpo, um novo dogma – este com garantias
científicas aparentes – obstaculizou o caminho da mulher, levantando novos
empecilhos à sua passagem; e é de tal qualidade que, por um momento, deve tê-la
deixado pensativa.
Frente ao dogma da inferioridade intelectual da mulher, levantou-se o da
diferenciação sexual. Já não se discute como no século passado, se a mulher é
superior ou inferior; afirma-se que é diferente. Já não se trata de um cérebro de maior
ou menor peso ou volume, mas de uns corpinhos esponjosos, chamados glândulas de
secreção, que imprimem um caráter peculiar à criatura, determinando seu sexo e com
este, suas atividades no campo social.
Nada tenho a objetar a esta teoria em seu aspecto fisiológico, mas sim às
conclusões que se pretendem extrair da mesma. Que a mulher é diferente? De acordo.
Embora talvez essa diversidade não se deva tanto à natureza, como ao meio ambiente
em que se desenvolveu. É curioso que, quando se extraíam tantas consequências da
teoria do meio na evolução das espécies, esta seja completamente esquecida quando
se trata da mulher. Considera-se a mulher atual como um tipo acabado, sem levar-se
em conta que não é mais do que o produto de um meio permanentemente coativo e é
quase certo que, restabelecidas no possível as condições primárias, o tipo se
modificaria ostensivamente, burlando, talvez, as teorias da ciência que pretendem
defini-la.
Pela teoria da diferenciação, a mulher não é mais do que uma matriz tirânica que
exerce suas influências obscuras até os últimos recantos do cérebro; toda vida
psíquica da mulher é subordinada a um processo biológico, e tal processo biológico
não é outro que o da gestação. “Nascer, sofrer, morrer”, dissemos num artigo anterior.
A ciência veio modificar os termos, sem alterar a essência desse axioma: “Nascer,
gestar, morrer”. E aí está todo o horizonte feminino.
É claro que se tentou cobrir essas conclusões com douradas nuvens apoteóticas.
“A missão da mulher é a mais culta e sublime da natureza”, dizem; “ela é a mãe, a
orientadora, a educadora da humanidade futura”. E, no entanto, fala-se em dirigir
todos os seus passos, toda a sua vida, toda a sua educação para esse único fim; único
ao que parece, em perfeita harmonia com sua natureza.
E novamente vemos, frente a frente, o conceito de mulher e o de mãe. Porque
resulta que os sábios não descobriram nenhum mediterrâneo; em todas as idades,
têm-se praticado a exaltação mística da maternidade; antes exaltava-se a mãe
prolífica, parideira de heróis, de santos, de redentores ou tiranos; de agora em diante,
exaltar-se-á a mãe eugênica, engendradora, gestadora, parideira perfeita; antes a
agora, todos esforços são convergentes para manter em pé a brutal afirmação de Okén
que citava outro dia: “A mulher não é o fim, mas o meio da natureza; o único fim e
objeto é o homem”.
Eu disse que tínhamos novamente os conceitos de mulher e de mãe frente a frente,
e disse mal; agora temos algo ainda pior: o conceito de mãe absorvendo o de mulher,
a função anulando o indivíduo.
Dir-se-ia que no transcorrer dos séculos, o mundo masculino tem oscilado, frente
à mulher, entre dois conceitos extremos: da prostituta à mãe, do abjeto ao sublime,
sem deter-se no estritamente humano: a mulher. A mulher como indivíduo racional,
pensante e autônomo. Se procurarmos a mulher nas sociedades primitivas, apenas
encontraremos a mãe do guerreiro, exaltadora do valor e da força. Se a procurarmos
na sociedade romana, apenas encontraremos a matrona prolífica que supre a
República com cidadãos. Se a procurarmos na sociedade cristã encontra-la-emos já
convertida em mãe de Deus.
A mãe é o produto da reação masculina frente à prostituta, que é para ele toda
mulher. É a deificação da matriz que o abrigou.
Contudo – e ninguém deve escandalizar-se pois estamos entre anarquistas e nosso
compromisso primordial é restabelecer as coisas em seus verdadeiros termos,
derrubar todos os falsos conceitos, por mais prestigiados que sejam – , a mãe como
valor social não deixou de ser, até o momento, a manifestação de um instinto, um
instinto tanto mais agudo quanto a vida da mulher só girou em torno dele durante
anos; porém, instinto, afinal; apenas, em algumas mulheres superiores, alcançou a
categoria de sentimento.
A mulher, em troca, é o indivíduo, o ser pensante, a entidade superior. Em nome
da mãe, quer-se excluir a mulher, quando se pode ter mulher e mãe, porque a mulher
não exclui nunca a mãe.
Desdenha-se a mulher como valor determinante na sociedade, dando-lhe a
qualidade de valor passivo. Desdenha-se o aporte direto de uma mulher inteligente
por um filho talvez inepto. Repito que há que se restabelecerem as coisas em seus
verdadeiros termos. Que as mulheres sejam mulheres antes de tudo; somente sendo
mulheres e que se terão as mães de se necessita.
O que verdadeiramente me assusta é que companheiros que se chamam de
anarquistas, alucinados, talvez, pelo princípio científico sobre o qual se pretende estar
assentado o novo dogma sejam capazes de sustentá-lo. Frente a eles, assusta-me essa
dúvida: se são anarquistas, não são sinceros; se são sinceros, não são anarquistas.
Na teoria da diferenciação, a mãe é o equivalente do trabalhador. Para um
anarquista, antes que o trabalhador, está o homem, antes que a mãe, deve estar a
mulher (falo em sentido genérico). Porque para um anarquista, antes de tudo e acima
de tudo, está o indivíduo.
Solidaridad Obrera, Barcelona, 15/10/1935, n1090.

V
Acreditamos, com nosso último artigo, ter conseguido atingir o propósito inicial
destes trabalhos, sublinhar o ângulo nitidamente anarquista a partir do qual se deve
enfocar daqui em diante a propaganda sobre a mulher.
Não posso escapar dos arranhões mais ou menos profundos – segundo a cultura e
a psicologia de cada um – que meu trabalho marcou na pele dos camaradas do sexo
contrário. O companheiro M. R. Vázquez – tão equilibrado quanto comum- deu-me a
medida com seu artigo, “Pela elevação da mulher”, sobre o qual direi algo no
próximo dia. Mas, volto a repetir que somente com a condição de sermos valentes
daremos conta da verdade.
Enfim, o interessante é que conseguimos não só, como disse antes, colocar o
problema em um campo nitidamente anarquista, mas também atualizá-lo, como pude
deduzir pelos diferentes escritos que aludiram aos meus trabalhos sobre o tema em
particular nestas mesmas colunas.
Mesmo que conseguido meu primeiro objetivo poderia dar meu trabalho por
encerrado, não o farei assim, decidida como estou – é uma aspiração que data de
longo tempo – a trabalhar sem descanso para conseguir a incorporação definitiva da
mulher em nosso movimento. Não quis deixar de lado nenhuma circunstância, fato ou
atuação sem assinalar em que medida podem ser proveitosos ou perniciosos para a
realização de nossos fins em relação às mulheres.
Duas manifestações – uma muito discreta de M. R. Vázquez e outra, concretíssima
desta valente mulher que é Maria Luisa Cubos – impeliram-me a um tema que
apaixona o mundo atualmente – o sexual – ; tão estreitamente ligado ao que vem nos
ocupando que diria que um é fundamento do outro. Sem o problema sexual não
haveria problema feminino nas sociedades. Eu não vou tratar do problema em si –
outros são os chamados a fazê-lo com maior competência – mas no que sua
formulação por parte dos jovens camaradas pode tocar, bem ou mal, na tarefa de
atrair a mulher.
Um dia o camarada M. R. Vázquez, referindo-se a conduta observada por parte
dos companheiros frente à mulher, escreveu: “sejamos capazes de dominar a besta e
vejamos a irmã como o irmão quando falarmos de salário”. E Maria Luisa Cubos,
tornando o tema mais concreto, disse: “Não há muito tempo, quis formar um grupo
misto por aqui e no pude leva-lo a cabo – ainda que seja doloroso confessá-lo –
porque preliminarmente o Don Juan tomou o lugar do orientador, fazendo com que os
demais se dispersassem”. Ambos tocaram numa questão que me doía há muito tempo.
É lamentável, mas as campanhas em prol de uma maior liberdade sexual nem
sempre foram bem compreendidas por nossos companheiros e, em muitos casos, estas
atraíram aos nossos meios um grande número de pessoas pertencentes a ambos os
sexos, aos quais não preocupava nem pouco, nem muito a questão social e só
buscavam um campo propício para suas experiências amorosas. Interpretaram a
ordem da liberdade como um convite ao excesso e cada mulher que passa ao lado um
objeto de seus apetites.
“Entre a juventude masculina – escreveu pouco tempo atrás o Doutor Martí Ibáñez
– estimo que o problema esteja mal colocado e sua espinhosa questão não deixará de
assim o ser enquanto não desapareça o equívoco que trouxe consequências tão
penosas que o originou: a confusão entre o sexual e o genital”.
Com efeito, baseada geralmente em alguns folhetos nem sempre escritos por
pessoas competentes, toda a cultura sexual de nossos jovens reduziu-se a alguns
conhecimentos rudimentares de fisiologia, o fundo moral seguiu inalterado. Dai ser
comum entre eles a ideia de que a potência genital é o expoente mais genuíno da
sexualidade e ignorarem, em troca, como ela pode ser canalizada para atividades de
valor ético mais elevadas. Liberdade para eles é o contrário do controle. E nada mais.
Ai termina o problema. Frente à mulher seguem pensando, em geral, o mesmo que
seus antepassados.
Em nossos centros, parcamente frequentados pela juventude feminina, observei
que as conversas entre ambos os sexos raramente giram em torno da questão social,
ou, simplesmente um assunto profissional. Basta um jovem se enfrentar com alguém
do sexo contrário que a questão sexual surge como que por encanto e a liberdade de
amar torna-se o único tema da conversa. Vi dois modos de reação feminina ante esta
atitude. Uma, é a de render-se imediatamente à sugestão; caminho pelo qual a mulher
não demora muito em ser reduzida a um joguete dos caprichos masculinos,
distanciando-se por completo das inquietações sociais. Outra, a de desencantamento;
no qual a mulher que trazia inquietudes superiores e aspirações mais altas, se retrai
decepcionada e acaba saindo de nossos meios. Somente conseguem se salvar algumas
poucas, que possuem personalidade forte e aprenderam a mensurar o valor das coisas
por si próprias.
Quanto à reação masculina, permanece a mesma de outrora. Apesar de sua
pomposa cultura sexual, ela se manifesta quando encontra, depois de várias aventuras
amorosas, a mulher que estimam para companheira. O “Don Juan” se converte no
”Otelo” e a mulher só é subtraída do movimento, isso quando não desaparecem os
dois.
O caso que denuncia Maria Luisa Cubos e que foi transcrito mais acima, nós
devemos sempre tê-lo presente quando tratar-se de formar um grupo, um sindicato
etc.
Pretender introduzir nossas jovens de hoje no campo da liberdade amorosa sem
nenhuma preparação cultural e ética diferente, tal como a entendem os jovens, é
ingênuo disparate. Quando permanecem em seu espírito e psicologia os preconceitos
que a sociedade acumulou nelas, iniciar desse modo a liberdade sexual é romper
torpemente o falso ou verdadeiro equilíbrio de suas vidas.
Valeria a pena encomendar que a orientação sexual de nossos jovens fique a cargo
de conferencistas capacitados na matéria que lhes compete, ao passo, as leituras
eficientes, que são neste aspecto, junto a livros e folhetos de grande utilidade, uma
vez que existe uma enorme quantidade de literatura que mais atrapalha do que resolve
o problema.
Em definitivo, considero que o problema sexual da mulher está apenas na própria
solução do problema econômico. Na revolução. Nada mais. Outro é mudar de nome a
mesma escravidão.
Solidaridad Obrera, Barcelona, 30/10/1935, n1104.

RESUMO À MARGEM DA QUESTÃO FEMININA


Para o companheiro M. R. Vázquez
Ao começar minha série de artigos sobre a questão feminina, não me guiava o
desejo de preencher em vão algumas colunas de nosso diário, mas começar a dar
forma a anelo largamente sentido.
Talvez eu esteja colocando sobre meus ombros uma tarefa superior às minhas
forças; talvez as difíceis circunstâncias em que minha vida se desenvolve me
impeçam de alcançar meu objetivo, mas não me importo. Iniciado o trabalho, com
vistas de uma colheita promissora, não faltaria quem, talvez com mais títulos e
capacidades que eu, possa corloca para si a obrigação de continuá-la.
Propus-me a abrir para a mulher as perspectivas de nossa revolução, oferecendo-
lhes elementos para que se forme uma mentalidade livre, capaz de discernir por si
própria o falso do verdadeiro, o político do social. Porque eu creio que mais urgente
que organizá-las nos sindicatos – sem que desdenhe esse trabalho – é colocá-las em
condições de compreender esta organização.
Sei que a tarefa é grande e difícil, e adivinho que algum camarada – se é que os
camaradas me leem – desses que veem a revolução por detrás de cada esquina, rirá
com arrogância, e me dirá que é demasiado tarde para empreender por este caminho.
Mas, eu também ei de rir, recordando-lhe que para ter a revolução ao alcance das
mãos todos os dias – sem conseguir pegá-la – , vi abandonada a educação de nossos
jovens, muitos dos quais, para chamaram-se anarquistas, entendem que basta saber
carregar uma pistola. Tudo bem em esperar a revolução todos os dias, mas melhor
ainda é ir em sua busca, forjando-a minuto a minuto nas inteligências e nos corações.
Não sei até que ponto meus propósitos podem interessar os camaradas; suspeito
que muitos já encolheram os ombros pensando que existem problemas mais
importantes a resolver para gastar seu tempo e sua atenção com coisas de mulheres.
Entretanto, eu, que conheço toda a transcendência da questão, não me deterei, e
quero, uma vez mais, resumindo meus artigos anteriores, antes de enfocar outros
aspectos, deixar bem claro as conclusões assentadas naqueles que, por alguns
indícios, suponho que não foram perfeitamente compreendidos.
Deve-se ter presente que meus artigos se intitulavam “A questão feminina em
nossos meios”; isto é, não a questão em termos gerais, não a questão no terreno
filosófico, mas a questão em termos anarquistas.
Fora do nosso campo camarada Vázquez – e me dirijo ao companheiro Vázquez
porque em seu artigo “Pela Elevação da Mulher” resume seguramente o pensamento
de muitos outros camaradas – ; fora do nosso campo é muito discutível e até
desculpável, e se quiser, até muito humano, que o homem deseje conversar sua
hegemonia e se sinta satisfeito de ter uma escrava, como o burguês defende sua
situação de privilégio e de comando. Mas, eu não falava a todos os homens,
camarada; eu falava para os anarquistas exclusivamente, para o homem superado,
para aquele, inimigo de todas as tiranias, se quiser ser coerente, deve arrancar de si
qualquer foro de despotismo que sinta surgir. Isto é o muito humano, que é a razão –
atributo genuinamente humano – , sobre o outro, que é o instinto, o subumano.
Por isso disse o anarquista – fixaste bem – que pede sua colaboração à mulher
para obra de subversão social, deve reconhecer a reconhecer nela uma igual, com
todas as prerrogativas de sua individualidade. O contrário será “muito humano”, mas
não será anarquista.
E é por isso, precisamente, que eu acredito que não é ele quem deve estabelecer as
funções da mulher na sociedade, por mais elevadas que as considere. Ser anarquista,
repito, é deixar que a mulher atue no uso de sua liberdade , sem tutelas nem coações;
que ela se inclinará a fazer o que sua natureza e a índole de suas faculdades lhe ditem.
E agora, uma pergunta, camarada Vázquez. Como pôde ocorrer-lhe comparar a
situação da mulher em relação ao homem, com a do assalariado em relação ao
burguês?
Esquece que os interesses do patrão e os do operário são oposto, são
incompatíveis, enquanto que os do homem e da mulher – que são os interesses da
humanidade, os da espécie, – são complementares, ou, por melhor dizer, são um só.
Somente no absurdo sistema atual podem existir interesses de sexo, incompatíveis, de
todo ponto, com a concepção anarquista de vida.
Concebe um burguês dizendo que é preciso emancipar os trabalhadores? Pois se
você acredita que o anarquista, enquanto homem é lógico que tenha a mulher
algemada, tal como o burguês faz com o assalariado, então é um absurdo ouvir o grito
“é preciso emancipar a mulher”. E se grita, como não dizer-lhe: “comece por você
mesmo?”.
Porque já faz tempo que a mulher começou a tarefa de sua emancipação. Ninguém
pode reprová-la nesse sentido. Compare-se o mundo feminino de apenas 50 anos
atrás com o de hoje, e diga-me se não avançou. Mas agora não se trata somente de
sua emancipação, mas que coopere na emancipação da humanidade. E se a convida
para que se estabeleça previamente uma luta entre os sexos – porque acha que o é
muito natural que o homem, ainda que seja anarquista, queira ter uma escrava -, mal
se compadece de uma obra comum. Como dirá à companheira “ ajude-me a levar este
peso”, quando ela não é dona de seus pés e de suas mãos?
Aos proletários não convém à luta de sexos, mas, pelo contrário, estabelecer a
compenetração de interesses entre o homem e a mulher. E isto não por capricho, mas
sim porque o mundo só terá seu equilíbrio quando estiver organizado e regido pelos
dois. Porque sendo, com efeito, diferentes, suas qualidades se complementam e
formam um todo harmônico, porque a rudeza e a secura masculina, correspondem a
graça e a ternura da mulher, porque o egoísmo de um, convém à abnegação da outra;
e a natureza arrebatada e violenta dele, a doçura e a ponderação dela; a gravidade
dele, a agudeza dela. E não haverá harmonia na vida futura, se todos estes elementos
não entram proporcionalmente em seu campo de constituição.
Compreende melhor agora que não se trata tanto da emancipação da mulher, mas
da edificação do futuro, e que os anarquistas, se forem sinceros, se não estão no
anarquismo por puro esporte, se veem obrigados a seguir o caminho que assinalo?
Isso sim que será aproveitar o tempo, camarada Vázquez, porque o importante
para realizar uma obra em comum, não é brigar, mas sim colocar-se de acordo.
E não há que culpar o escravo por sua escravidão, senão quando esta é aceita com
plena consciência e bom grado, e não quando esta lhes é imposta pela violência,
como no caso da mulher.
Coincidiremos ao final? Terei, ao cabo, conseguido ser compreendida? Esforço-
me o quanto posso para fazer-me fácil e compreensível para os camaradas, se não o
consigo, culpe a minha pena, que não sabe ser o órgão adequado de meu pensamento.
E, agora só algumas palavras para terminar, amigo Vázquez. Não acolho sua
sugestão para a página feminina em SOLIDARIDAD OBRERA, ainda que seja
muito interessante; porque minhas ambições vão mais longe, tenho o projeto de criar
um órgão independente, para servir igualmente aos fins a que me propus. Dele
falaremos mais adiante.
Solidaridad Obrera, Barcelona, 08/11/1935, n1112

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