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Serviços públicos

Conceito
Não existe um consenso doutrinário sobre a definição de serviços públicos, pois o seu conteúdo varia de
acordo com o tempo e o espaço no qual ele seja aplicado. Nem mesmo o texto constitucional ou a lei
apresentam uma conceituação que possa servir de parâmetro para o desenvolvimento de uma teoria
precisa.
Em regra, os principais autores adotam três critérios básicos para definir o serviço público:
1º - o subjetivo, que considera a pessoa jurídica prestadora da atividade: o serviço público seria aquele
prestado pelo Estado;
2º - o material, que considera a atividade exercida: o serviço público seria a atividade que tem por objetivo
a satisfação de necessidades coletivas;
3º - o formal, que considera o regime jurídico: o serviço público seria aquele exercido sob regime de
direito público derrogatório e exorbitante do direito comum
No Brasil, o conceito de serviços públicos é formulado em conformidade com a corrente adotada por cada
doutrinador, e as principais delas são:
1ª) Escola essencialista: Para os adeptos desta corrente, serviço público é toda atividade que atenda
direta e essencialmente à vida em coletividade.
Nesses termos, para que um serviço seja considerado automática e obrigatoriamente público, basta que
estejam presentes algumas características imprescindíveis. Nesse caso, adota-se o critério material. Essa
corrente não é adotada no Brasil, pois existem alguns serviços que, apesar de satisfazerem o interesse
coletivo, não podem ser considerados públicos.
Exemplo: Quando o serviço de saúde é prestado por particulares, não pode ser considerado público e,
portanto, será regido pelas regras do direito privado.
2ª) Escola subjetivista: Neste caso, para que um serviço seja considerado público, basta que esteja sendo
prestado pelas entidades da Administração Direta ou Indireta, independentemente da atividade em si.
Nesse caso, adota-se o critério subjetivo, também chamado de critério orgânico. Como não poderia ser
diferente, essa corrente não é adotada no Brasil, pois sabemos que pessoas jurídicas de direito privado
que não integram a Administração, a exemplo dos delegatários, também podem prestar serviços públicos.
Da mesma forma, existem entidades que integram a Administração Indireta, mas que não prestam
serviços públicos, como acontece com as empresas públicas e sociedades de economia mista exploradoras
de atividades econômicas.
3ª) Escola formalista: Defende o entendimento de que não é possível definir um serviço como público pela
atividade em si, pois existem atividades essenciais, como a saúde, que quando prestadas por particulares
não podem ser consideradas serviço público.
Sendo assim, para que um serviço seja considerado público, é necessário que a lei ou o texto
constitucional o defina como tal. Essa é a corrente adotada no Brasil (critério formal).
Para o professor José dos Santos Carvalho Filho, serviço público “é toda atividade prestada pelo Estado ou
por seus delegados, basicamente sob regime de direito público, com vista à satisfação de necessidades
essenciais e secundárias da coletividade”.
Celso Antônio Bandeira de Mello apresenta um conceito mais amplo, afirmando que pode ser considerado
serviço público “toda atividade de oferecimento de utilidade ou comodidade material fruível diretamente
pelos administrados, prestado pelo Estado ou por quem lhe faça as vezes, sob um regime de direito
público – portanto, consagrador de prerrogativas de supremacia e de restrições especiais – instituído pelo
Estado em favor dos interesses que houver definido como próprios no sistema normativo”.
A professora Maria Sylvia Zanella di Pietro, de forma bastante elucidativa, apresenta algumas conclusões
acerca do conceito de serviço público:
“1. a noção de serviço público não permaneceu estática no tempo; houve uma ampliação na sua
abrangência, para incluir atividades de natureza comercial, industrial e social;
2. é o Estado, por meio da lei, que escolhe quais as atividades que, em determinado momento, são
consideradas serviços públicos; no Direito brasileiro, a própria Constituição faz essa indicação nos artigos
21, incisos X, XI, XII, XV E XXIII, e 25, § 2o, alterados, respectivamente, pelas Emendas Constitucionais 8 e 5,
de 1995; isso exclui a possibilidade de distinguir, mediante critérios objetivos, o serviço público da
atividade privada; esta permanecerá como tal enquanto o Estado não assumir como própria;
3. daí outra conclusão: o serviço público varia não só no tempo, como também no espaço, pois depende
da legislação de cada país a maior ou menor abrangência das atividades definidas como serviços públicos
(...)”

Classificação
Serviços públicos próprios e impróprios
serviços públicos próprios são aqueles que visam à satisfação de necessidades coletivas e que são
executados diretamente pelo Estado (através de seus órgãos e agentes), a exemplo do Judiciário, ou
indiretamente, através de delegação a particulares (concessionários ou permissionários).
Por outro lado, os serviços públicos impróprios também visam à satisfação de necessidades coletivas, mas
não são executados ou assumidos pelo Estado, seja direta ou indiretamente. Neste caso, o Estado
somente autoriza, regulamenta e fiscaliza esses serviços. São atividades privadas, mas, em virtude de
atenderem necessidades coletivas, exigem uma maior atenção por parte do Estado, a exemplo dos
serviços de seguro e previdência privada (incisos I e II, do artigo 192, da CF/1988).
Para o saudoso professor, serviços públicos próprios “são aqueles que se relacionam intimamente com as
atribuições do Poder Público (segurança, polícia, higiene e saúde públicas) e para a execução dos quais a
Administração usa de sua supremacia sobre os administrados. Por essa razão só devem ser prestados por
órgãos ou entidades públicas sem delegação aos particulares”.
Já os serviços públicos impróprios seriam aqueles “que não afetam substancialmente as necessidades da
comunidade, mas satisfazem a interesses comuns de seus membros e por isso a Administração os presta
remuneradamente, por seus órgãos, ou entidades descentralizadas (autarquias, empresas públicas,
sociedades de economia mista, fundações governamentais) ou delega a sua prestação a concessionários,
permissionários ou autorizatários”.
Para responder às questões de prova: Alguns autores denominam os serviços públicos próprios como
“serviços públicos propriamente estatais”, definindo-os como aqueles cujo Estado atua no exercício de sua
soberania, sendo impossível a delegação a terceiros (a exemplo do Judiciário). Sendo assim, caso você se
depare com essa expressão em prova, também está correta.

Quanto aos destinatários ou à maneira como concorrem para satisfazer ao interesse geral
Serviços gerais ou uti universi
São serviços prestados indiscriminadamente à população, possuindo um número indeterminado e
indetermináveis de usuários. Nesse caso, os serviços são indivisíveis, não sendo possível mensurar quais
são os usuários que estão sendo beneficiados ou quanto cada usuário está utilizando do serviço prestado.
Serviços individuais ou uti singuli
Serviços individuais ou uti singuli são aqueles prestados a uma quantidade determinada ou determinável
de usuários, sendo possível mensurar quanto cada destinatário está usufruindo, a exemplo do serviço de
coleta domiciliar de lixo, fornecimento de água, telefonia, gás canalizado, etc.
Como é possível perceber, tais serviços são divisíveis e, portanto, podem ser remunerados mediante a
cobrança de taxas (espécie de tributo) ou tarifa(preço público), mas nunca por impostos (que
normalmente são cobrados pela prestação de serviços que não podem ser mensuráveis em sua utilização).

Quanto ao objeto
Serviços administrativos
São aqueles executados pela Administração Pública com o objetivo de satisfazer as suas necessidades
internas ou preparar outros serviços que serão prestados à coletividade, a exemplo da imprensa oficial.
Serviços comerciais ou industriais
Nas palavras do professor Hely Lopes Meirelles, “são os que produzem renda para quem os presta,
mediante a remuneração da utilidade utilizada ou consumida, remuneração esta que, tecnicamente, se
denomina tarifa ou preço público, por ser sempre fixada pelo Poder Público, quer quando o serviço é
prestado por seus órgãos ou entidades, quer quando por concessionários, permissionários ou
autorizatários”

Requisitos ou princípios
Princípio ou requisito da Continuidade
Este princípio indica que os serviços públicos devem ser prestados de forma contínua, evitando-se
paralisações que possam prejudicar o cotidiano dos seus destinatários ou até mesmo causar-lhes graves
prejuízos.
Apesar da obrigatoriedade de prestação contínua, é válido ressaltar que os serviços públicos podem sofrer
paralisações ou suspensões, conforme previsto no § 3º, artigo 6º, da Lei 8.987/95, em situações
excepcionais:
§ 3º. Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou
após prévio aviso, quando:
I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e,
II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da Coletividade.
Princípio ou requisito da generalidade
O princípio da generalidade apresenta-se com dupla faceta. Significa, de um lado, que os serviços públicos
devem ser prestados com a maior amplitude possível, vale dizer, deve beneficiar o maior número possível
de indivíduos”.
Por outro lado, afirma o eminente professor, “é preciso dar relevo também ao outro sentido, que é o de
serem eles prestados sem discriminação entre os beneficiários, quando tenham estes as mesmas
condições técnicas e jurídicas para a fruição. Cuida-se da aplicação do princípio da isonomia ou, mais
especificamente, da impessoalidade (art. 37, CF)”.

Princípio ou requisito da eficiência


O princípio da eficiência impõe à Administração Pública a obrigatoriedade de se atualizar e valer-se das
inovações tecnológicas para garantir um serviço público de qualidade, sem desperdícios, e de baixo custo.
O próprio texto constitucional, no inciso IV, artigo 175, declara expressamente a obrigação dos
prestadores de serviços públicos manterem um serviço adequado.
Princípio ou requisito da modicidade
Em respeito ao princípio da modicidade, os serviços públicos não devem ser prestados com lucros ou
prejuízos, mas sim mediante taxas ou tarifas justas, que proporcionem a remuneração pelos serviços e
garantam o seu aperfeiçoamento e expansão.
Princípio ou requisito da atualidade
O princípio da atualidade exige da Administração Pública e dos delegatários de serviços públicos uma
constante atualização tecnológica dos instrumentos e técnicas utilizados na execução de suas atividades.
Nas palavras do professor Diógenes Gasparini, “a atualidade significa que a prestação dos serviços
públicos deve acompanhar as modernas técnicas de oferecimento aos usuários. Ademais, a atualidade
exige a utilização de equipamentos modernos, cuidando-se bem das instalações e de sua conservação,
visando, sempre, à melhoria e à expansão dos serviços públicos”.
Princípio ou requisito da mutabilidade
O princípio da mutabilidade, também denominado de princípio da flexibilidade dos meios aos fins, permite
alterações na execução dos serviços públicos com o objetivo de adaptá-lo ao interesse público e às
possibilidades financeiras da Administração.
Sendo assim, é incorreto afirmar que existe direito adquirido à permanência de uma determinada forma
de regime de prestação de serviços públicos, sendo assegurada a revisão ou rescisão unilateral dos
contratos administrativos com o objetivo de adequá-lo ao interesse da coletividade.
Princípio ou requisito da cortesia
O princípio da cortesia que se traduz em bom atendimento e digno tratamento para com o público na
fruição dos serviços públicos. A prestação em tais condições não é um favor do agente ou da
Administração, mas sim uma obrigação legal.
Princípio ou requisito da segurança
O serviço público deve ser prestado aos usuários com segurança, tendo em vista a natureza do serviço.
Nada deve ser menosprezado se puder, por qualquer modo, colocar em risco os usuários do serviço
público ou terceiros ou, ainda, bens públicos e particulares. Não deve haver qualquer descuido ou
omissão, por menor que seja, na execução dos serviços de manutenção dos equipamentos utilizados na
prestação dos serviços públicos. As falhas devem ser imediatamente corrigidas, substituindo-se as peças
impróprias ou promovendo a renovação do próprio equipamento”.

Formas e meios de prestação dos serviços públicos


CONCESSÃO
A concessão é a forma mais complexa de delegação de serviços públicos, geralmente utilizada em
atividades que exigem alto investimento financeiro.
Sendo assim, as formalidades para a sua implementação são diferentes da permissão e, principalmente, da
autorização.
A definição de concessão está prevista no próprio texto legal, mais precisamente no artigo 2º da Lei
8.987/95:
a) Concessão de serviço público: A delegação de sua prestação, feita pelo poder concedente, mediante
licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre
capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado.
b) Concessão de serviço público precedida da execução de obra pública: A construção, total ou parcial,
conservação, reforma, ampliação ou melhoramento de quaisquer obras de interesse público, delegada
pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio
de empresas que demonstre capacidade para a sua realização, por sua conta e risco, de forma que o
investimento da concessionária seja remunerado e amortizado mediante a exploração do serviço ou da
obra por prazo determinado.
Fique atento, pois é muito comum as bancas elaborarem questões diferenciando os dois conceitos
apresentados acima. No concurso público para o cargo de Especialista em Finanças Públicas do MPOG, por
exemplo, realizado em 2008, a banca considerou correta a seguinte assertiva: “considera-se concessão de
serviço público a delegação de sua prestação, feita pelo poder concedente, mediante licitação, na
modalidade concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas”.
A concessão de serviço público, precedida ou não da execução de obra pública, será formalizada mediante
contrato administrativo, sempre se respeitando os termos da Lei 8.987/95 e as condições editalícias.
A Lei 9.074/95, em seu art. 2º, estabeleceu a proibição da União, Estados, Distrito Federal e Municípios
executarem obras e serviços públicos por meio de concessão e permissão de serviço público, sem lei
autorizativa estabelecendo os termos a serem respeitados.
Sendo assim, para que ocorra a execução indireta de serviços públicos, é necessário antes que uma lei
estabeleça quais serão os termos e condições a serem observados, independentemente do ente
federativo. É válido destacar, porém, que a própria Lei 9.074/95 reservou alguns serviços que poderão ser
prestados sem a necessidade de prévia autorização legal, sendo eles os serviços:
a) de saneamento básico;
b) de limpeza urbana;
c) e aqueles admitidos na Constituição Federal, nas Constituições Estaduais e nas Leis Orgânicas do Distrito
Federal e Municípios.
Além disso, é importante ressaltar que o próprio artigo 1º da Lei 9.074/95 estabeleceu para a União um rol
de serviços e obras públicas que também não dependem de autorização legislativa prévia para serem
prestados através de concessão ou permissão (se cabível):
a) vias federais, precedidas ou não da execução de obra pública;
b) exploração de obras ou serviços federais de barragens, contenções, eclusas ou outros dispositivos de
transposição hidroviária de níveis, diques, irrigações, precedidas ou não da execução de obras públicas;
c) estações aduaneiras e outros terminais alfandegados de uso público, não instalados em área de porto
ou aeroporto, precedidos ou não de obras públicas;
d) os serviços postais.

Licitação prévia
Nos termos do artigo 175 da Constituição Federal, as concessões e permissões de serviços públicos sempre
deverão ser precedidas de licitação. Não existem exceções a essa regra e a modalidade licitatória utilizada
nas concessões será obrigatoriamente a concorrência.
Intervenção na concessão Afirma o artigo 32 da Lei 8.987/95 que “o poder concedente poderá intervir na
concessão, com o fim de assegurar a adequação na prestação do serviço, bem como o fiel cumprimento
das normas contratuais, regulamentares e legais pertinentes”.
Além disso, é importante destacar que a intervenção far-se-á por decretodo poder concedente, que
conterá a designação do interventor (a pessoa que ficará responsável pela intervenção), o prazo e os
objetivos e limites da medida (sem a necessidade de contraditório e ampla defesa).
Após ter sido declarada a intervenção, o poder concedente deverá, no prazo de trinta dias, instaurar
procedimento administrativo, que deverá ser concluído no prazo de 180 dias, para comprovar as causas
determinantes da medida e apurar responsabilidades. Nesse caso, deverá ser assegurado o direito de
ampla defesa.
O artigo 34 da Lei 8.987/95 informa que “cessada a intervenção, se não for extinta a concessão, a
administração do serviço será devolvida à concessionária, precedida de prestação de contas pelo
interventor, que responderá pelos atos praticados durante a sua gestão”.
Extinção da concessão
A concessão de serviço público é sempre ajustada por prazo certo. Não existe concessão por prazo
indeterminado. Entretanto, durante a vigência do contrato, podem ocorrer certos acontecimentos
ensejadores de sua extinção. Nesse caso, retornam ao poder concedente todos os bens reversíveis,
direitos e privilégios transferidos ao concessionário, bem como ocorrerá a imediata assunção do serviço
pelo poder concedente, procedendo-se aos levantamentos, avaliações e liquidações necessários.
O artigo 35 da Lei 8.987/95 apresenta seis causas que extinguem ou servem de motivo para a extinção do
contrato administrativo referente à concessão.
É importante destacar que essas causas não precisam estar indicadas no edital de licitação, basta que
estejam no contrato de concessão, pois são cláusulas essenciais. Independentemente da causa que
extinguiu ou serviu de motivo para a extinção da concessão, será garantido ao concessionário o
pagamento de uma indenização pela parcela não depreciada ou amortizada dos bens reversíveis, assim
considerados os bens adquiridos pelo concessionário para a prestação do serviço e que, por manterem sua
utilidade, passam a ser de propriedade do poder concedente ao término do contrato, já que os serviços
públicos não podem ser interrompidos.
Extinção pelo decurso do prazo
Ocorre a extinção automática da concessão ao término do prazoestabelecido no contrato. A essa causa de
extinção dá-se o nome de reversão.
O professor Diógenes Gasparini informa que, nesse caso, a assunção independe de qualquer previsão
editalícia ou contratual, uma vez que está expressamente determinada pelo § 2º do artigo 35 da Lei
8.987/95. Contudo, se o poder concedente não providenciar a retomada do serviço público concedido,
não pode o concessionário, em razão do princípio da continuidade do serviço público, paralisar a sua
execução. Para tanto, deve o concessionário notificar a Administração Pública concedente com o objetivo
de obrigá-la, dentro de prazo razoável, a retomar o serviço, sob pena de sua consignação em juízo.
A reversão no advento do termo contratual far-se-á com a indenização das parcelas dos investimentos
vinculados a bens reversíveis, ainda não amortizados ou depreciados, que tenham sido realizados com o
objetivo de garantir a continuidade e atualidade do serviço concedido.
Encampação
O artigo 37 da Lei 8.987/95 considera encampação a retomada do serviço pelo poder concedente durante
o prazo da concessão, por motivo de interesse público superveniente, mediante lei autorizativa específica
e após prévio pagamento da indenização das parcelas dos investimentos vinculados a bens reversíveis,
ainda não amortizados ou depreciados, que tenham sido realizados com o objetivo de garantir a
continuidade e atualidade do serviço concedido.
A encampação será formalizada mediante decreto expedido pelo Chefe do Executivo, após a aprovação de
lei específica autorizando tal medida e o respectivo pagamento da indenização devida.
Caducidade
O inadimplemento ou adimplemento defeituoso por parte da concessionária pode ensejar a extinção da
concessão antes do termo final estabelecido no contrato. A essa causa de extinção a própria lei denomina
caducidade.
É de competência da própria Administração, discricionariamente, verificar se o inadimplemento (que pode
ser total ou parcial) é suficiente para causar, ou não, a extinção da concessão.
A declaração da caducidade da concessão deverá ser precedida da verificação da inadimplência da
concessionária em processo administrativo, assegurado o direito de ampla defesa. Entretanto, antes da
instauração do processo administrativo, deverá ser obrigatoriamente comunicado à concessionária os
possíveis descumprimentos de cláusulas contratuais, sendo concedido um prazo para corrigir as falhas e
transgressões apontadas.
Não efetuadas as devidas correções, será então instaurado o processo administrativo e, após o seu
término, a caducidade será declarada por decreto do poder concedente, independentemente de
indenização prévia, calculada no decurso do processo.
Declarada a caducidade, não resultará para o poder concedente qualquer espécie de responsabilidade em
relação aos encargos, ônus, obrigações ou compromissos com terceiros ou com empregados da
concessionária.
A caducidade poderá ser decretada, discricionariamente, quando ocorrer qualquer uma das seguintes
hipóteses (art. 38, § 1º, da Lei 8.987/95):
1ª) o serviço estiver sendo prestado de forma inadequada ou deficiente, tendo por base as normas,
critérios, indicadores e parâmetros definidores da qualidade do serviço;
2ª) a concessionária descumprir cláusulas contratuais ou disposições legais ou regulamentares
concernentes à concessão;
3ª) a concessionária paralisar o serviço ou concorrer para tanto, ressalvadas as hipóteses decorrentes de
caso fortuito ou força maior
4ª) a concessionária perder as condições econômicas, técnicas ou operacionais para manter a adequada
prestação do serviço concedido;
5ª) a concessionária não cumprir as penalidades impostas por infrações, nos devidos prazos;
6ª) a concessionária não atender a intimação do poder concedente no sentido de regularizar a prestação
do serviço;
7ª) a concessionária não atender a intimação do poder concedente para, em 180 (cento e oitenta) dias,
apresentar a documentação relativa a regularidade fiscal, no curso da concessão, na forma do art. 29 da
Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993.
Rescisão
Nos termos do artigo 39 da Lei 8.987/95, o contrato de concessão “poderá ser rescindido por iniciativa da
concessionária, no caso de descumprimento das normas contratuais pelo poder concedente, mediante
ação judicial especialmente intentada para esse fim”.
Nesse caso, os serviços prestados pela concessionária não poderão ser interrompidos ou paralisados, até a
decisão judicial transitada em julgado.
Anulação
O professor Diógenes Gasparini afirma que “o contrato de concessão de serviço público, embora
prestigiado pelo princípio da presunção de legitimidade dos atos administrativos, pode ter sido celebrado
com vícios que o maculam irremediavelmente, podendo ser declarados a qualquer tempo, desde que não
prescrito esse direito. Nesses casos, há uma ilegalidade que serve de motivo ao ato de extinção. O ato da
Administração Pública concedente que extingue a concessão de serviço público em razão de uma
ilegalidade é ato administrativo, comumente chamado de ato de anulação, tal qual o faz o inciso V do
artigo 35 da Lei Federal n. 8.897/95”.
Falência ou extinção da empresa concessionária e falecimento ou incapacidade do titular, no caso de
empresa individual Ocorrido esse fato previsto no inciso VI, artigo 35, da Lei 8.987/95, resta evidente que
se torna inviável a continuidade de execução do contrato. Sendo assim, extinta a concessão, o serviço
retorna ao poder concedente a fim de que seja realizada uma nova concessão.
SUBCONCESSÃO
Da mesma forma que acontece nos contratos administrativos em geral, as concessões de serviços públicos
são celebradas intuitu personae, ou seja, a concessionária é declarada vencedora da licitação não somente
pelo fato de ter apresentado a proposta mais vantajosa aos interesses da Administração, mas também por
ter comprovado que possui efetivamente condições de cumprir os termos da proposta apresentada.

PERMISSÃO
Conceito
A lei 8.987/95, em seu artigo 2º, conceituou a permissão de serviço público como “a delegação, a título
precário, mediante licitação, da prestação de serviços públicos, feita pelo poder concedente à pessoa física
ou jurídica que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco”.
Todas as regras previstas na Lei 8.987/95 para as concessões são também aplicáveis em relação às
permissões, com exceção de alguns detalhes que passaremos a analisar
É necessário que você saiba que a natureza jurídica da permissão é a de contrato de adesão e não a de ato
administrativo.
Principais diferenças entre Concessão e Permissão
1ª) A concessão não pode ser contratada com pessoas físicas, mas somente com pessoas jurídicas e
consórcio de empresas. Por outro lado, a permissão somente pode ser realizada com pessoas físicas ou
jurídicas (consórcios de empresas, não);
2ª) Trata-se de modalidade de delegação menos complexa que a concessão, recomendável para serviços
públicos de menor “envergadura”.
Sendo assim, enquanto na concessão exige-se licitação obrigatoriamente na modalidade concorrência, em
relação à permissão admitem-se outras modalidades;
3ª) A permissão, nos termos da lei, possui caráter precário, sendo revogável a qualquer tempo pela
Administração, desde que existente interesse público superveniente. Por outro lado, a concessão
constitui-se por meio de um contrato administrativo e, portanto, somente será extinto nos termos da lei.

AUTORIZAÇÃO
Apesar de não estar prevista no artigo 175 da CF/88 como uma das modalidades de delegação de serviços
públicos (que se refere apenas à concessão e permissão), o inciso XII, do artigo 21, da CF/1988, afirma
expressamente que compete à União explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou
permissão:
a ) os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens;
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em
articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura aeroportuária;
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que
transponham os limites de Estado ou Território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres.

Assim, é possível concluir que a autorização é uma das modalidades de delegação de serviços públicos a
particulares. Entretanto, é importante esclarecer que não existe uma lei específica versando sobre o tema,
pois a Lei 8.987/95 restringiu-se às concessões e permissões de serviços públicos.
Para responder às questões, leve para a prova a informação de que a autorização é uma das modalidades
de delegação de serviços públicos a particulares.

CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


Quanto à extensão do controle:
Controle interno

É aquele exercido internamente, por cada um dos Poderes, em relação aos seus próprios atos. Podemos
citar como exemplo o controle exercido pela Corregedoria de Justiça em relação aos atos praticados pelos
servidores do Poder Judiciário, ou, ainda, o controle exercido por um Gerente Executivo do INSS em
relação aos seus subordinados.
Assim, é correto afirmar que o controle interno de seus próprios atos é exercido pelo Poder Legislativo,
pelo Poder Judiciário e pelo próprio Executivo, sempre amparados no poder-dever de autotutela.
Controle externo
Ocorre quando o controle dos atos administrativos é exercido por um Poder diferente daquele
responsável pela sua edição. Essa possibilidade está amparada no artigo 2º da Constituição Federal de
1988, ao afirmar que “são poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o
Executivo e o Judiciário”.

Quanto à natureza do controle


Controle de legalidade ou legitimidade
Controle de legalidade ou legitimidade é aquele em que se verifica a conformidade da conduta ou ato
administrativo com o direito vigente. Constatando-se a incompatibilidade da ação ou omissão
administrativa com a lei ou princípios gerais do Direito, a revisão da conduta ou do ato é medida que se
impõe
Controle de mérito
No controle de mérito, não se analisa a conformidade da edição do ato com a lei, mas sim a conveniência
e a oportunidade da conduta administrativa. O objetivo é verificar se aquilo que é mais conveniente,
oportuno, mais adequado ou mais justo está sendo adotado para que a Administração Pública possa
alcançar os seus fins.
O controle de mérito do ato administrativo, em regra, é exercido pelo próprio Poder responsável pela sua
edição. Assim, somente o Poder Executivo pode exercer o controle de mérito dos atos editados pelos seus
agentes, o que também acontece em relação aos demais poderes.

Quanto ao âmbito da Administração


Controle por subordinação ou hierárquico
Essa forma de controle é consequência das relações hierárquicas existentes no interior da Administração
entre os diversos órgãos e agentes públicos. Ocorre tipicamente no Poder Executivo, caracterizando-se
como um controle interno, pois, em regra, os órgãos públicos integram uma mesma pessoa jurídica.
Como exemplo, podemos citar o controle que uma Secretaria Municipal de Saúde exerce em relação aos
Postos de Saúde do Município, que são órgãos públicos

Quanto à oportunidade
Controle prévio
Controle prévio (ou a priori) é aquele exercido antes da consumação do ato administrativo, possuindo
natureza preventiva. Como exemplo, podemos citar a aprovação, pelo Senado Federal, da escolha do
Procurador-Geral da República (artigo 52, III, “e”, da CF/88).
Assim, antes de o Procurador-Geral da República ser empossado no cargo é necessário um controle prévio
do Senado Federal, que irá aprovar a indicação efetuada pelo Presidente da República mediante o quorum
de maioria absoluta. Caso os Senadores entendam que a pessoa indicada pelo Presidente da República
não preenche as condições necessárias para o exercício do cargo, será rejeitada a indicação
Controle concomitante
É aquele que acontece ao mesmo tempo em que o ato administrativo ou a atividade da Administração
estão sendo executados, permitindo-se, assim, tanto o controle preventivo quanto o repressivo, conforme
o andamento do ato ou atividade.
Como exemplo, podemos citar o acompanhamento de um concurso público por uma comissão de
servidores especialmente constituída com essa finalidade, que irá controlar todas as etapas do certame,
desde a elaboração do edital até a homologação do concurso.
Controle subsequente ou posterior (a posteriori)
Controle subsequente ou corretivo é aquele efetuado após a conclusão do ato ou atividade administrativa
com o objetivo de confirmá-los ou corrigi-los, a exemplo do que ocorre na homologação de um
procedimento licitatório ou no controle judicial de atos administrativos.

Quanto à iniciativa
Controle de ofício
É aquele praticado pela própria Administração, no exercício do poder de autotutela, independentemente
da provocação de terceiros. Ocorre, por exemplo, quando uma autoridade administrativa anula ou revoga
um ato administrativo praticado por subordinado.
Nesse caso, nenhum “terceiro” solicitou a revogação ou anulação do ato administrativo. A própria
Administração Pública, através de seu agente, entendeu que o ato administrativo deveria ser anulado
(caso ilegal) ou revogado (caso inconveniente ou inoportuno).
Controle provocado
Controle provocado é aquele que tem o seu início mediante o acionamento ou provocação de terceiros, a
exemplo do que acontece nos recursos administrativos.
Se a Administração Pública proferiu uma decisão que não é de interesse do particular, por exemplo, este
poderá recorrer à autoridade superior com o objetivo de tentar rever a decisão.

Controle administrativo
É possível definir como controle administrativo (ou autocontrole) o poder de fiscalização e correção
exercido pelo Poder Executivo e pelos órgãos de administração (no exercício da função administrativa) do
Poder Judiciário e Legislativo sobre os seus próprios atos e atividades.
Através do controle administrativo, o Poder Executivo e os órgãos de administração dos demais Poderes
exercem um controle de legalidade e de mérito sobre seus atos e atividades, confirmando-os ou
desfazendo-os.
A prerrogativa de anular os seus próprios atos, quando ilegais (controle de legalidade), ou revogá-los,
quando inconvenientes ou inoportunos (controle de mérito), está fundamentada no dever-poder de
autotutela e encontra amparo na Súmula 473 do STF, que é expressa ao afirmar:
A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque
deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os
direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
ATENÇÃO: Perceba que o controle administrativo é interno, ou seja, ocorre no interior da própria
Administração ou nos órgãos de administração dos demais Poderes, sempre inserido em uma relação
hierárquica entre órgãos e agentes públicos.
O controle administrativo ocorre, por exemplo, quando é revogada uma licença para tratar de assuntos
particulares concedida a um servidor do Senado Federal (Legislativo). Nesse caso, o controle
administrativo foi exercido no âmbito do Poder Legislativo, porém em relação à função administrativa
(concessão da licença), que é atípica. Da mesma forma acontece quando o Tribunal Regional Federal da 1ª
Região (Judiciário), por exemplo, anula de ofício um ato administrativo realizado no âmbito de um
procedimento licitatório realizado pelo próprio tribunal.
Em ambos os casos, o controle ocorreu internamente, no exercício da função administrativa.

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