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Fevereiro de 2010
CONTEÚDO
ABREVIATURAS ............................................................................................................... 2
1. ANTECEDENTES ............................................................................................................ 3
3. OBJECTIVOS................................................................................................................... 8
4. METODOLOGIA ............................................................................................................. 8
6. RECOMENDAÇÕES ..................................................................................................... 17
1
ABREVIATURAS
ACS Agente Comunitário de Saúde
APE Agente Polivalente Elementar
DPS Direcção Provincial de Saúde
HIV Vírus da Imunodeficiência Humana
IDS Inquérito Demográfico e de Saúde
ISCISA Instituto Superior de Ciências de Saúde
MICS Inquérito de Indicadores Múltiplos
MISAU Ministério da Saúde
MMAS Ministério da Mulher e Acção Social
OMS Organização Mundial da Saúde
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância
ONG Organização Não-Governamental
PARPA Programa de Apoio à Redução da Pobreza
ESAN Estratégia de Segurança Alimentar e Nutricional
PASAN Plano de Acção para a Segurança Alimentar e Nutricional
RAI Avaliação Rápida do Impacto
SAN Segurança Alimentar e Nutricional
SA Segurança Alimentar
SETSAN Secretariado Técnico para Segurança Alimentar e Nutricional
SIDA Síndrome de Imunodeficiência Adquirida
SMI Saúde Materna e Infantil
SSR Saúde Sexual e Reprodutiva
SWAp Abordagem Sectorial Alargada
InSAN Insegurança alimentar
US Unidade Sanitária
1. ANTECEDENTES
Nos últimos cinco anos a prevalência de desnutrição crónica em Moçambique diminuiu de 48% (IDS,
2003)1, para 44% (MICS, 2008). Contudo, esta permanece nos níveis mais altos da escala da OMS.
Alguns documentos de análise estratégica sobre nutrição elaborados há já alguns anos abordam a
questão da desnutrição crónica, como é o caso do Plano Estratégico de Nutrição para Moçambique
elaborado em 2002, e a Estratégia de Desenvolvimento Nutricional elaborada em 2004. Ambos fazem
uma análise excelente da situação nutricional em Moçambique e das possíveis abordagens para fazer
face à situação. A Estratégia de Segurança Alimentar e Nutricional II (ESAN II) também se refere à
relevância do problema da desnutrição crónica e seu impacto socioeconómico em Moçambique.
Em Outubro de 2009 uma missão de alto nível das Nações Unidas reuniu-se com o Ministro da Saúde
e representantes de outros ministérios para discutir a situação de nutrição no país e identificar
próximos passos a dar. No encontro ficou acordada a realização de um Seminário Nacional com o
objectivo de obter um consenso nacional sobre um Plano de Acção multissectorial para combater a
desnutrição crónica em Moçambique.
É neste contexto que, em preparação do seminário nacional, o MISAU solicitou a realização de uma
análise da situação do cometimento e capacidade na área de nutrição no país, tendo esta sido iniciada
a 12 de Janeiro de 2010 com o envolvimento de técnicos do MISAU e sectores relacionados e das
agencias das Nações Unidas. Este é um exercício recomendado pela OMS para todos os países com
alta prevalência de desnutrição crónica.
1
Prevalência recalculada com base na população padrão da OMS de 2006
2. INTRODUÇÃO: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA DESNUTRIÇÃO
CRÓNICA
A desnutrição em geral, é uma doença causada por uma combinação entre a ingestão inadequada de
alimentos e/ou doenças/infecções frequentes.
Existem 3 tipos de desnutrição, uma que se manifesta em crianças magras (desnutrição aguda), outra
que se manifesta em crianças com baixo peso para a idade, e por fim, a desnutrição crónica, que se
manifesta em crianças baixinhas para a sua idade. Destes três, o mais preocupante em Moçambique é
a desnutrição crónica, com uma prevalência de 44%2 em crianças menores de 5 anos. Portanto, quase
que 1 em 2 crianças sofrem de desnutrição crónica.
As crianças que sofrem de desnutrição crónica não conseguem atingir o seu potencial genético no que
se refere ao seu desenvolvimento físico, mental e cognitivo. O sinal principal desta doença nas
crianças é uma estatura significativamente mais baixa que a de outras crianças do mesmo grupo
etário. A desnutrição crónica não só conduz ao aumento da mortalidade infantil como também leva ao
atraso do desenvolvimento físico e mental da criança, o que afecta subsequentemente o desempenho e
a frequência escolar das crianças, e o aumento do risco de doenças crónicas na idade adulta. Isto tudo
tem um impacto no desenvolvimento e produtividade do indivíduo e da nação. Estudos realizados por
diferentes autores3 indicam que as perdas do PIB devido à fome e desnutrição variam entre 3-6%.
Isto é um fenómeno intergeracional, porque aquelas mulheres que sofreram de desnutrição crónica em
pequenas, tornam-se em adultas mulheres com baixa estatura que por sua vez também têm maior
probabilidade de dar à luz bebés com baixo peso à nascença e baixa estatura, perpetuando assim o
ciclo da desnutrição de geração para geração.
A desnutrição crónica resulta de uma variedade de factores que podem prejudicar o crescimento e
desenvolvimento da criança. Estes factores variam de acordo com as circunstâncias específicas em
que cada criança foi criada. Existem conjuntos de factores que interagem negativamente e que
agravam o problema, aonde se incluem o peso da criança à nascença, a forma como ela foi alimentada
2
Multiple Indicator Cluster Survey, Mozambique 2008
3
Roger Shripton (2003), Helder Martins (2004) e o SETSAN (2007) indicam que a fome e desnutrição causam perdas de
cerca de 5.9 % do PIB de 2006. Programas de erradicação da Fome no país exigem um custo de 185 milhões de dólares
4
na infância, as doenças/infecções frequentes na criança, a qualidade e conteúdo nutricional da sua
dieta, o estado nutricional da mãe antes e durante a gravidez, a higiene ambiental, a educação da mãe,
e cuidados inadequados durante a infância. Estes factores estão representados no quadro conceptual
da UNICEF (ver figura 1)
As causas imediatas e subjacentes da desnutrição crónica em Moçambique são várias. Não é possível
atribuir a “culpa” a um só factor, daí a importância do envolvimento e coordenação multissectorial de
sectores relacionados com a alimentação, saúde, água e saneamento, educação, género, entre outras
áreas relevantes.
5
As causas imediatas e subjacentes em Moçambique podem ser listadas como:
6. Falta de conhecimento das mães e dos cuidadores das crianças sobre as práticas alimentares
e de higiene mais adequadas, o valor nutricional dos alimentos e sua importância para as
crianças e sobre os cuidados a ter com elas. Uma das razões para esta falta de conhecimento
resulta de um baixo nível de educação das mães. Os dados do MICS 2008 mostram que o
6
estado nutricional das crianças varia substancialmente com o nível de escolaridade da mãe. O
risco de desnutrição crónica é duas vezes superior em crianças de 0-5 anos de idade cuja mãe
não foi à escola, em comparação com crianças cuja mãe tem uma educação secundária.
7. Desnutrição nas mulheres. Os dados do IDS 2003 mostram que 9% das mães tinham um
Índice de Massa Corporal inferior a 18,5 kg/m2, indicando desnutrição, e a média da altura
das mulheres entre os 25-49 anos de idade era de 155,2 cm, que é considerada baixa e
portanto sinal de desnutrição crónica. O estudo conduzido em 2002 à escala nacional mostrou
que a prevalência de deficiência de vitamina A e anemia em mães de crianças menores de 5
anos era de 11% e 48% respectivamente. Um estudo conduzido em alguns distritos da
Província da Zambézia em 2003 mostrou que 18% das mulheres eram desnutridas (Índice de
Massa Corporal inferior a 18,5 kg/m2). Ė importante também recolher os dados que reflictam
o estado nutricional das mulheres grávidas em Moçambique, pelo grande impacto que este
tem sobre o estado nutricional da criança. Infelizmente, estes dados não estão disponíveis.
9. Difícil acesso aos alimentos necessários para uma alimentação adequada para a família
porque as famílias não conseguem produzir e armazenar todos os alimentos que precisam
durante o ano, e não têm dinheiro para comprar os restantes alimentos que faltam. A
consequência disto é que 35% das famílias em Moçambique vivem em insegurança alimentar
crónica, muitas famílias (principalmente no Norte) só conseguem fazer 1 refeição por dia e a
diversidade da dieta é considerada baixa.
10. Doenças e infecções frequentes nas crianças: Os dados do MICS 2008 mostraram que 18%
das crianças menores de cinco anos sofreram de doenças diarreicas e 24% tiveram febres
(indicação de ocorrência de malária) nas duas últimas semanas antes do inquérito.
12. Taxas altas de HIV em mulheres grávidas (16%). A consequência disto é que: 1) as mulheres
grávidas vivendo com HIV têm um maior risco de ficar desnutridas, e por consequência os
seus filhos têm um maior risco de ficar com desnutrição crónica, 2) os adultos infectados e as
famílias com pessoas infectadas têm uma capacidade reduzida de cuidar das crianças, 3) as
crianças vivendo com HIV têm maior risco de desnutrição aguda e/ou crónica.
13. Acesso a serviços de saúde, condições de água e saneamento considerado baixo: O MICS
2008 mostrou que somente 36% da população tem acesso a cuidados de saúde num raio de 30
minutos das suas casas, que somente 19% das famílias no país tem acesso a saneamento
seguro nas suas casas, e que pouco menos da metade (48%) têm acesso à água potável.
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As causas imediatas e subjacentes em Moçambique já são mencionadas em outros documentos. O
documento de Roger Shrimpton, Plano Estratégico para a Nutrição em Moçambique (2002) já faz
referência e análise destas causas. O que não tem sido muito mencionado nem analisado em outros
documentos são as causas básicas da desnutrição crónica. Intervenções direccionadas a reduzir as
causas básicas não têm um impacto directo nem imediato na redução das desnutrição crónica como é
o caso das intervenções direccionadas a reduzir as causas imediatas e subjacentes. No entanto, os
factores que compõem as causas básicas definem a plataforma, ambiente e estrutura para o sucesso ou
insucesso das intervenções.
A definição das causas básicas em Moçambique formam a análise e a avaliação deste documento e
são mencionadas mais tarde neste documento.
Com base no reconhecimento das causas principais (imediatas, subjacentes e básicas) da desnutrição
crónica em Moçambique, os vários sectores do Governo e não governamentais devem mostrar
compromisso, envolvimento e devem-se coordenar para desenharem um pacote integrado de
intervenções dirigido a melhorar as causas da desnutrição crónica mencionadas acima.
3. OBJECTIVOS
4. METODOLOGIA
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Para esta análise, recorreu-se à administração de questionários semi-estruturados desenhados pela
OMS, uma metodologia intitulada de “Landscape Analyis”4. A análise destes dados foi efectuada de
forma participativa com os membros das equipes que estiveram envolvidos na colheita de dados, e
também com outros técnicos do Departamento de Nutrição.
O “Landscape Analyis” é um processo que permitiu identificar as grandes linhas para definir as
grandes acções do plano, mas uma análise das intervenções específicas por sector serão conduzidas no
momento da elaboração do plano de acção.
A análise, que foi predominantemente de carácter qualitativo, foi orientada para a identificação de
pontos fortes e fracos em relação aos várias factores que pertencem as causas básicas da desnutrição
crónica e que de um certo modo reflectem o envolvimento, compromisso e a capacidade do Governo
na implementação do Plano de Acção para a Redução da Desnutrição Crónica em preparação.
Pontos Fortes
Todos os entrevistados, a todos os níveis, mostraram-se preocupados e consideraram a
nutrição como um problema no país.
Nas entrevistas a nível central, a desnutrição crónica foi frequentemente identificada como
problema principal.
A nível provincial, alguns entrevistados mencionaram os tabús, acesso a água potável, aos
serviços de saúde, deficiência em micronutrientes, e baixo peso à nascença como causas para
a desnutrição.
4
SCN, SCN News 37, Landscape Analysis on Countries’ readiness to accelerate action in nutrition, 2009
9
Pontos fracos
A nível provincial, foi comum observar uma confusão sobre a percepção do que é segurança
alimentar com a percepção do que é nutrição, com muitos entrevistados que consideraram que
uma coisa é igual a outra.
Pontos Fortes
A declaração do Ministro da Saúde em 2008 sobre a urgência de reduzir a taxa de desnutrição
crónica em Moçambique e a elevação da Repartição de Nutrição para o nível de departamento
é considerado um ponto forte importante. Tal foi consubstanciado no comunicado final da
Reunião Nacional de Nutrição a qual concluiu que a desnutrição crónica é o principal
problema de nutrição em Moçambique.
Outra demonstração de cometimento político foi a inclusão da SAN como tema transversal no
Plano Quinquenal do Governo para os anos de 2010-2015.
Pontos fracos
Apesar dos temas Nutrição e Segurança Alimentar serem mencionados no PARPA II (2006-
2009) dentro dos Pilares do Capital Humano e dos Assuntos Transversais, respectivamente ao
problema da desnutrição crónica (baixa altura para idade) não é dada muita ênfase.
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Pontos Fortes
Existe também a Comissão Coordenadora para o Sal Iodado que promove acções para
garantir a iodização do sal produzido e comercializado no país.
Pontos Fracos
Apesar da existência do SETSAN como órgão multissectorial de coordenação das acções e
políticas de SAN no País, que foi originalmente concebido para ser um órgão de alta
visibilidade e relevância, este órgão não tem autonomia suficiente (estatuto orgânico) para
fazer face aos desafios de coordenação multissectorial de SAN, implementar, avaliar e
monitorar o PASAN. Isto é assim reflectido nos desafios que o SETSAN tem sofrido para
conseguir coordenar actividades relacionadas com a segurança alimentar e nutrição.
O SETSAN, que foi concebido para ser um órgão de alta visibilidade e relevância cobrindo
com a mesma prioridade questões de segurança alimentar e de nutrição, acaba focalizando
principalmente a sua acção na área de segurança alimentar, por falta de ténicos na área de
nutrição.
Uma parte dos sectores do governo não reconhece a importância da integração das
actividades e multissectorialidade para incluir a nutrição como um assunto chave para os
sectores. A integração e ligação entre segurança alimentar, saúde e nutrição a nível
provincial, distrital e comunitário para os vários sectores, e o papel do SETSAN em
coordenar esta multissectorialidade é ainda fraca.
Foi constatado, durante as entrevistas de campo, que os outros sectores que não a saúde não
tinham uma idéia clara de como é que poderiam contribuir para a redução da desnutrição
crónica. Alguns mencionaram a produção de alimentos, mas não mencionaram outra
actividades que poderiam complementar e apoiar as actividades do sector de saúde, como por
exemplo promoção, educação e capacitação para a área de nutrição.
Foi também constatado durante as entrevistas de campo, que as DPS têm alguma dificuldade
em coordenar as actividades dentro da área puramente da nutrição entre as várias instituições
e organizações e de tentar integrá-la em outras actividades como a segurança alimentar e
12
dentro das actividades de outros sectores governamentais como o da educação e da mulher e
acção social.
Assim o problema da desnutrição crónica continua a ser tratado como um problema sectorial quando
na verdade é fortemente multissectorial. Estas fraquezas institucionais nos órgãos de coordenação e
no envolvimento dos sectores reflectem-se seriamente na capacidade de coordenação e supervisão
das acções dos múltiplos parceiros a nível central, provincial e distrital dirigidas a melhorarem as
causas subjacentes da desnutrição crónica e SA em Moçambique.
Pontos fortes
Nos diversos sectores existem diversos planos estratégicos de acção e protocolos de
implementação. Um dos planos principais existentes é o Plano de Acção de Segurança
Alimentar e Nutricional (PASAN) ligado à ESAN II. No sector de saúde, os Planos
Estratégicos do Sector de Saúde são guiados pela Politica Nacional de Saúde. Os planos de
acção na área de nutrição são principalmente orientados pela Estratégia de Desenvolvimento
Nutricional de 2004.
Pontos fracos
Nas visitas às províncias observou-se a ausência, pouca disponibilidade e/ou acesso aos
documentos de políticas ou estratégias nacionais, provinciais e distritais específicos para a
área de nutrição. Por outro lado, a actualização das políticas, manuais de treino, normas e
protocolos é um processo demorado o que atrasa a sua implementação e ou leva à utilização
de protocolos e manuais não actualizados.
O próprio PASAN, o plano de acção que faz a uma referência a problemática da desnutrição
crónica, sugere intervenções muito gerais e, apesar de se referir ao nível provincial, este não
reflecte intervenções ao nível distrital. Principalmente, não especifica como é que estas
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intervenções poderão garantir que os grupos mais críticos para a redução da desnutrição
crónica, as mulheres grávidas, lactantes e as crianças menores de 24 meses, sejam abrangidos
e beneficiados.
Pontos Fortes
A revisão curricular para formação de técnicos de nutrição foi já finalizada. Para o pessoal já
formado está-se a trabalhar na promoção dos actuais agentes de nutrição para categoria de
técnico após um período de formação.
Já efectuada a redefinição do papel dos técnicos de nutrição para os tornar mais actuantes nas
acções dirigidas a reduzir a desnutrição crónica.
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Falta de actualização dos manuais de formação na área de nutrição para enfatizar a
abordagem em relação à desnutrição crónica.
Pontos Fortes
O Departamento de Nutrição estabeleceu recentemente postos sentinela em todas as
províncias do país para monitorização da situação nutricional no país. Esses postos têm como
função recolher e analisar sistematicamente dados que permitam calcular e seguir indicadores
nutricionais.
Para além disso há uma boa integração entre o MISAU e o SETSAN na recolha e partilha de
dados sobre a desnutrição crónica.
Pontos fracos
A metodologia usada nos postos sentinela requer muito tempo do ponto focal responsável
pela nutrição comprometendo a qualidade e regularidade da colheita, processamento e envio
dos dados. Por outro lado, parte dos dados recolhidos pelo sistema de vigilância nutricional
são colhidos paralelamente em todos os distritos do país e enviados para a Direcção Nacional
de Planificação e Cooperação/MISAU.
O pessoal de saúde está muito sobrecarregado para conseguir preencher todas as fichas
necessárias para o registo de dados. Para além disso, foi observado, que ainda há muita
dificuldade em preencher as fichas correctamente e não está a haver um seguimento adequado
das actividades nas US para poder melhorar e corrigir estes problemas.
15
5.7 Disponibilidade e Mobilização de Recursos Financeiros
A implementação de planos requer recursos financeiros em quantidade adequada, de forma atempada
e estável.
Pontos Fortes
Principalmente devido à pandemia do HIV e SIDA, os recursos directa ou indirectamente
alocados para acções na área da nutrição têm crescido de forma substancial.
Em geral reconhece-se que fundos específicos para outros programas devem contribuir para
acções na área de nutrição para que as suas acções específicas tenham o impacto desejado.
Pontos fracos
Quando comparada com outras áreas há poucos parceiros que trabalham na área especifica de
nutrição em comparação com outros programas. A maior parte dos parceiros é incapaz de
quantificar os fundos que dedica à nutrição. Isto acontece pelo facto de maior parte das vezes
a nutrição ser abordada como uma área integrada noutros programas. Assim, é também difícil
garantir que a nutrição receba os recursos que necessita pois compete com outras actividades
programáticas.
Pontos fortes
Quase todas as unidades sanitárias implementam as actividades de nutrição no Centro de
Saude marcadas na lista de actividades necessárias.
As unidades sanitárias fazem actividades que contribuem para uma melhor nutrição nas
escolas.
Assim, as ONGs são quem mais fazem actividades de nutrição nas comunidades. No entanto,
estas não são muitas das vezes coordenadas e perdem a sustentabilidade quando os projectos
terminam. Também, não se tem bem a idéia de quem está a fazer o quê e aonde.
Deve se mencionar que não foi possível verificar a implementação das actividades como tal, as
observações acima foram tomadas com base nas entrevistas e poucas observações. É importante
fazer uma actividade de mapeamento para recolher informação sobre o tipo de actividades
directamente ou indirectamente de nutrição em curso no pais, para se analisar a cobertura e as
necessidades de mais intervenções.
6. RECOMENDAÇÕES
O propósito do “Landscape analysis” era principalmente o de traçar recomendações que pudessem
melhorar as condições estratégicas, institucionais e estruturas, em suma, as causas básicas,
mencionadas na secção acima, porque para que as intervenções/acções directas e imediatas tenham
sucesso é importante ter uma estrutura que funcione.
No entanto, é também importante definir intervenções/acções específicas que têm um impacto directo
e mais imediato na redução da desnutrição crónica. As intervenções listas na subsecção 6.2 resultam
de conhecimento técnico e científico das intervenções chaves para a redução da desnutrição, da
revisão de estratégias e planos desenhados para Moçambique (ESAN/PASAN II, Documento de RAI
para PARPAII – desnutrição crónica, Plano Estratégico para Nutrição 2002 – Roger Shrimpton, e o
Plano de Desenvolvimento Nutricional 2004 – Helder Martins) e do processo de consultas
multissectoriais como parte do “Landscape Analysis”. No entanto, durante o desenho do plano de
acção é importante que se faça uma análise mais detalhada de cada intervenção aqui recomendada de
forma a produzir acções específicas para cada intervenção e por nível de intervenção. Para tal, vai ser
preciso olhar para o seguinte:
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1. Que intervenções estão a ser implementadas em Moçambique, com potencial para reduzir a
desnutrição crónica?
5. Que outras intervenções inovativas e que mostraram sucesso noutros países podem ser
adequadamente implementadas em Moçambique?
7. Como é que cada sector pode contribuir para cada ou algumas destas intervenções?
8. Aonde, por quem e com que frequência é que estas intervenções tem que ser
implementadas?
10. Que tipo de monitoria e avaliação é necessária e com que frequência. Que indicadores
devem ser recolhidos?
Sempre que um problema de grande magnitude, como é o caso da desnutrição crónica é identificado,
há a tendência de se traçarem múltiplas recomendações. Por isso, seria recomendável que, de uma
forma mais abrangente e participativa possível, fossem estrategicamente seleccionadas e
hierarquizadas as prioridades mais “prioritárias” cuja adopção possa resultar num rápido e marcado
ímpeto nas acções tendentes a reduzir o problema. No processo de prioritização seria fundamental
traçar um cronograma para implementação das recomendações.
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6.1.1 Advogar para a Melhoria da Percepção do Problema a todos os Níveis
Implementar uma campanha alargada de advocacia a todos os níveis para sensibilizar sobre o
problema, especificamente sobre a natureza do problema, causas, consequencia e gravidade;
6.1.2 Reforçar o cometimento dos vários sectores e de alto nível para combate à
desnutrição crónica
O peso, impacto e multissectorialidade do problema da desnutrição crónica requerem coordenação de
alto nível que possa com facilidade promover a articulação das acções nesta área. Uma iniciativa deste
género poderia ser liderada por uma figura proeminente que trabalhasse no sentido de:
Cada sector deverá identificar acções a implementar e indicadores para medir o impacto
destas;
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Elevar o SETSAN ou qualquer outra instituição coordenadora a nível mais alto e
independente dos diferentes intervenientes;
Cada Ministério deverá nomear um ponto focal que responda pela implementação do plano de
acção;
Coordenar as acções de vários sectores para integrar a nutrição em outras actividades que não
são necessariamente de nutrição mas que se complementam e reforçam.
Fazer uma estimativa de custo de implementação do plano de acção e inserir no cenário fiscal
do médio prazo;
Criar mecanismos para tornar visível e monitorar a proporção de fundos alocados a nutrição
nos planos dos diferentes sectores a todos os níveis;
Advogar junto aos parceiros para alocar fundos necessários para a formação de quadros
qualificados em nutrição.
Reforçar o SETSAN com técnicos da área de nutrição, de forma a assegurar uma abordagem
holistica da nutrição;
A longo prazo, aumentar o número de técnicos de nutrição nas DPS, distritos e a curto prazo
reforçar o conhecimento do pessoal de saúde a todos os níveis sobre um leque de intervenções
essenciais para a redução da desnutrição crónica;
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Assegurar a componente de nutrição com enfoque na redução da desnutrição crónica em
todos os curricula de formação do pessoal médico, técnico e paramédico;
Assegurar que o gestor do programa de nutrição seja uma pessoa capacitada e com
competência em nutrição, gestão, planificação, monitoria e avaliação tanto a nível distrital
como ao nível das principais US;
Assegurar que os diferentes sectores e a vários níveis tenham uma biblioteca com materiais
técnicos de nutrição para consulta;
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6.2.7 Reforçar a Capacidade para Monitoria e Avaliação
A implementação adequada de um plano de acção requer que haja mecanismos eficazes de monitoria
e avaliação que permitam avaliar o progresso e impacto por forma a realinhar as acções se tal se
verificar necessário. Para isso recomenda-se:
Estimular o uso de dados a nível local para tomada de decisões e revisão de estratégias e
planos de acção;
Produzir regularmente informação sobre a situação nutricional (boletim) de modo a que todos
os intervenientes a todos os níveis tenham acesso;
Garantir que os parceiros de implementação na área de nutrição partilhem os seus dados com
as entidades do governo e outros;
3. Suplementação nutricional para crianças dos 6-24 meses para prevenir a desnutrição crónica;
4. Produção local de suplementos nutricionais que podem ser vendidos a baixo custo em
mercados e assim facilitando o acesso das mães a produtos nutricionalmente ricos, e de
simples preparação;
22
7. Intensificar actividades (incluindo capacitações) e construção de infra-estrutura para
armazenamento e processamento de alimentos;
10. Transferência de dinheiro (“cash transfers”) para mulheres grávidas e lactantes e famílias de
crianças dos 6-24 meses com condições socioeconómicas consideradas baixas;
11. Promover e facilitar para as mulheres grávidas e lactantes e famílias de crianças dos 6-24
meses com condições socioeconómicas consideradas baixas a aquisição de animais de
criação;
13. Criação de stocks de alimentos a nível provincial para os casos de crises alimentares e
choques naturais.
23
8. Criação de grupos de mães nas comunidades para fortalecer e apoiar as recomendações 1- 7;
9. Criação de uma cadeira sobre saúde escolar no currículo do ensino primário que entre outras
matérias devera incluir segurança alimentar e nutrição;
10. Pesquisas cientificamente validas sobre o conteúdo nutricional (calórico, proteico, e de micro
nutrientes) e diversidade das dietas das crianças dos 6-24 meses, o custo de uma dieta
adequada e a capacidade financeira das famílias em assegura-las;
12. Promoção de uma campanha de “mass media” para despertar a atenção, informar, convencer e
mudar o comportamento da população/sociedade, e em especial dos grupos mais relevantes
sobre as causas da desnutrição crónica, e como combatê-la.
7. Garantir que os centros de saúde não tenham falta de stock de suplementos nutricionais e de
micro nutrientes, de Mbendazol, anti-malárico, soro fisiológico, de balanças e altímetros,
fichas de registo e normas de avaliação nutricional, guiões para tratamento e procedimentos e
material IEC para aconselhamento nutricional e de higiene;
24
9. Intensificar actividades de construção de infra-estruturas de recolha da água da chuva como
agua potável para beber.
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