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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0000.20.039233-0/001 Númeração 5002966-


Relator: Des.(a) Moacyr Lobato
Relator do Acordão: Des.(a) Moacyr Lobato
Data do Julgamento: 30/07/0020
Data da Publicação: 02/08/2020

EMENTA: APELAÇÕES CÍVEIS. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.


ASSÉDIO MORAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO MUNICÍPIO.
DEVER DE INDENIZAR. OBSERVÂNCIA. DANO MORAL COMPROVADO.
QUANTUM INDENIZATÓRIO. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE
MORA. SENTENÇA MANTIDA.

- A exposição da servidora a situação humilhante e constrangedora durante a


jornada de trabalho e no exercício de suas funções, culminando em
perturbação emocional do ofendido, configura a ocorrência de assédio moral.

- Nos termos do art. 37, §6º, da Constituição da República, a


responsabilidade do Município é objetiva, sob a modalidade do risco
administrativo respondendo, a Administração Pública, pelos danos que seus
agentes, nessa condição, causarem a terceiros sendo, para tanto, suficiente
a prova do nexo de causalidade entre o ato praticado e o dano dele advindo,
e desnecessária a comprovação da culpa.

- Há dano moral indenizável quando comprovada a prática de atos de


perseguição e assédio moral no desempenho do trabalho junto à
Administração Pública.

- Ante os critérios da indenização por danos morais e à vedação do


enriquecimento sem causa da vítima, verifica-se que o quantum indenizatório
fora fixado em consonância com os princípios da proporcionalidade e
razoabilidade.

- A diferença devida deverá ser corrigida monetariamente nos termos

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da Tabela da Corregedoria-Geral de Justiça a contar da data do arbitramento


(Súmula nº 362 do STJ), acrescida de juros moratórios a contar do evento
danoso, nos termos do art. 1º-F da Lei Federal nº 9.494/1997, com redação
dada pela Lei federal nº 11.960/2009.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.20.039233-0/001 - COMARCA DE ITUIUTABA


- APELANTE(S): DIVOEMIA ASSIS SILVA, MUNICIPIO DE ITUIUTABA -
APELADO(A)(S): DIVOEMIA ASSIS SILVA, MUNICIPIO DE ITUIUTABA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 5ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em NEGAR PROVIMENTO AOS RECURSOS

DES. MOACYR LOBATO

RELATOR.

DES. MOACYR LOBATO (RELATOR)

VOTO

Trata-se de duas apelações cíveis, a primeira interposta por DIVOEMA


ASSIS DA SILVA e a segunda pelo MUNICÍPIO DE ITUIUTABA em face da
sentença de ordem 41, proferida pelo MM. Juiz de Direito da 3ª Vara Cível da
Comarca de Ituiutaba que, nos autos da AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS, ajuizada pela primeira apelante em desfavor do segundo,
julgou procedente o pedido para condenar o requerido no pagamento da
quantia correspondente a R$ 5.000,00

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(cinco mil reais) a título de indenização por danos morais, acrescida de juros
moratórios de 1% ao mês desde o evento danoso (20/11/17) e correção
monetária desde a data do arbitramento. A decisão condenou ainda o
requerido ao pagamento de honorários de sucumbência em 10% sobre o
valor da condenação.

Em suas razões ordem 43, a demandante primeira apelante - Diovema


Assis da Silva - alega, em síntese, que o valor condenatório arbitrado deve
ser majorado, haja vista que a quantia fixada em Primeiro Grau apresenta-se
irrisória e insignificante frente aos fatos graves e danosos comprovados no
presente feito.

Com efeito, destaca que fora diagnosticada com CID 10 - F33 -


Transtorno Depressivo Recorrente, conforme laudos juntados aos autos, em
razão das perseguições e barbáries ouvidas em seu ambiente de trabalho,
razão pela qual, faz jus a um ressarcimento imaterial superior ao definido
pelo d. Sentenciante.

Já o segundo apelante - Município de Ituiutaba - em razões de ordem 45,


volta-se, exclusivamente para os consectários legais incidentes no decisum,
pugnando, tão, somente, pela redução dos juros fixados na sentença para o
percentual de 6% ao ano, ou seja, 0,5% ao mês, assim como que a correção
monetária se adeque ao decidido pelo Supremo Tribunal Federal, quando do
julgamento das ADIN's 4.357, 4.425-DF e RE nº 870947, fazendo incidir
sobre os cálculos apresentados até o dia 25 de março de 2015 os índices
oficiais de remuneração básica da Caderneta de Poupança (TR) e, após esta
data, os Índices de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E).

Devidamente intimadas, as partes apresentaram suas contrarrazões à


ordem 46 e 50, respectivamente.

Recursos próprios e tempestivos, ausentes de preparo em face da


gratuidade judiciária e da isenção legal.

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço dos

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recursos.

Passo a decidir.

Para melhor compreensão do voto, os apelos serão conjuntamente


analisados.

Colhe-se dos autos que a requerente - primeira apelante - ajuizou a


presente demanda alegando que fora admitida na Prefeitura Municipal de
Ituiutaba no data de 04/02/16, para exercer função de Agente de Combate às
Endemias no setor de Zoonose, realizando controle do mosquito da dengue
através de visitas domiciliares, recebendo remuneração no valor de R$
1.175,00 (mil cento e setenta e cinco reais).

Ocorre que, argumenta ter desde o início do exercício de sua função


sofrido perseguições por parte de seu chefe geral, que vieram a intensificar
após o superior hierárquico ter conhecimento de que os servidores não o
queriam no cargo em virtude do seu comportamento.

Diante das agressões verbais e perseguições sofridas, alega a autora ter


sofrido transtornos emocionais ao ponto de receber auxílio doença do INSS
em razão de ter sido diagnosticada com Transtorno Depressivo Recorrente -
CID 10 - F33, requerendo, portanto, a condenação do réu no pagamento da
quantia de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais).

Na data designada da Audiência de Instrução e Julgamento, sendo


devidamente ouvidas as testemunhas arroladas, fora encerrada a instrução
do feito e proferida a sentença de ordem 41.

Esses são os fatos.

A questão trazida a lume diz respeito a pleito de indenização por danos


morais em razão de alegado assédio moral suportado pela servidora,
supostamente ocasionado por seu superior hierárquico.

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Por assédio moral entende-se o procedimento abusivo, degradante e


vexatório, imposto por parte hierarquicamente superior ao
trabalhador/servidor no ambiente de trabalho, caracterizado por práticas
desrespeitosas, tais como críticas reiteradas ou maliciosas, penalidades
ofensivas, ausência de atribuição de funções, ordem injustificada de
repetição de trabalho já executado, depreciação das características físicas,
apelidos constrangedores, e demais práticas aptas a afetar sua psique,
reduzindo sua autoestima e depreciando sua imagem.

No tocante à indenização por danos morais, como se sabe, para


configuração do dever de indenizar, necessária a comprovação da presença
dos requisitos da responsabilidade civil, quais sejam: o dano sofrido, o ato
ilícito que resultou no dano e o nexo de causalidade entre o ato e o dano
decorrente.

Nesse contexto, a responsabilidade civil impõe como imprescindível a


demonstração do nexo de causalidade entre o pretenso dano e a conduta
perpetrada pelo agente - independentemente da existência de dolo ou culpa,
bem como irrelevante se se trata de ato omisso ou comissivo -, evidência
necessária em todas as hipóteses, pois, sem tais elementos, não haveria o
relatado prejuízo imaterial.

Nos termos do art. 37, §6º, da Constituição da República:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, o seguinte:

(...)

§6º. As pessoas jurídicas de direito público e as pessoas de direito privado


prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus
agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de
regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

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Ante a citada norma, possível perceber que a hipótese dos autos reclama
a adoção da teoria da responsabilidade objetiva, segundo a qual o dever de
indenizar decorre da demonstração do fato administrativo, do dano e do nexo
de causalidade; contudo, a responsabilidade objetiva do Município foi
adotada pela ótica do risco administrativo, o que afasta a teoria do risco
integral, segundo o qual a responsabilidade sempre seria objetiva,
independente das circunstâncias.

Sobre o tema, a doutrina:

A marca característica da responsabilidade objetiva é a desnecessidade de o


lesado pela conduta do ente municipal provar a existência da culpa do
agente ou do serviço. O fator culpa, então, fica desconsiderado como
pressuposto da responsabilidade objetiva.

Para configurar-se esse tipo de responsabilidade, bastam três pressupostos.


O primeiro deles é a ocorrência do fato administrativo, assim considerado
como qualquer forma de conduta, comissiva ou omissiva, legítima ou
ilegítima, singular ou coletiva, atribuída ao Poder Público. Ainda que o agente
atue fora de suas funções, mas a pretexto de exercê-las, o fato é tido como
administrativo, no mínimo pela má escolha do agente (culpa in eligendo) ou
pela má fiscalização de sua conduta (culpa in vigilando). O segundo
pressuposto é o dano. Já vimos que não há falar em responsabilidade civil
sem que a conduta haja provocado um dano. Não importa a natureza do
dano: tanto é indenizável o dano patrimonial como o dano moral.
Logicamente, se o dito lesado não prova que a conduta estatal lhe causou
prejuízo, nenhuma reparação terá a postular. O último pressuposto é o nexo
causal (ou relação de causalidade) entre o fato administrativo e o dano.
Significa dizer que ao lesado cabe apenas demonstrar que o prejuízo sofrido
se originou da conduta estatal, sem qualquer consideração sobre o dolo ou a
culpa. Se o dano decorre de fato que, de modo algum, pode ser imputado à
Administração, não se poderá imputar responsabilidade civil a esta;
inexistindo o fato administrativo, não haverá, por consequência, o nexo
causal. Essa é a

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razão por que não se pode responsabilizar o Estado por todos os danos
sofridos pelos indivíduos, principalmente quando decorrem de fato de terceiro
ou de ação da própria vítima.

(...)

No risco administrativo, não há responsabilidade civil genérica e


indiscriminada: se houver participação total ou parcial do lesado para o dano,
o Estado não será responsável no primeiro caso e, no segundo, terá
atenuação no que concerne a sua obrigação de indenizar. Por conseguinte, a
responsabilidade civil decorrente do risco administrativo encontra limites.

(...)

A questão relativa à prova leva, primeiramente, em conta a defesa do Estado


na ação movida pelo lesado. Diante dos pressupostos da responsabilidade
objetiva, ao Estado só cabe defender-se provando a inexistência do fato
administrativo, a inexistência de dano ou a ausência do nexo causal entre o
fato e o dano. Mas há ainda outro fator que merece ser analisado. A
pretensão formulada pelo indivíduo para obter do Estado a reparação de
prejuízos atenua em muito o princípio de que o ônus da prova incumbe a
quem alega (onus probandi incumbit ei que dicit, non qui negat). Se o autor
da ação alega a existência do fato, o dano e o nexo de causalidade entre um
e outro, cabe ao Estado-réu a contraprova sobre tais alegações.
(CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 24ª
Edição. Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2010. páginas 516; 523 e 525)

Consoante a norma acima mencionada, a responsabilidade do Município


na espécie figura-se como objetiva, deflagrada mediante a teoria do risco
administrativo, segundo o qual a Administração Pública responde pelos
danos que seus agentes causarem a terceiros, devendo haver demonstração
do nexo de causalidade entre o ato

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praticado e o dano dali decorrente, independentemente da comprovação da


ocorrência de culpa.

Assim, para que exsurja o dever de indenizar, bastante a comprovação


do ato atribuído ao agente estatal, o dano e o nexo de causalidade entre um
e outro, sendo prescindível a prova da culpa.

Volvendo à hipótese do caso concreto, verifica-se que as provas


produzidas nos autos e determinantes para a resolução da lide
compreendem as oitivas testemunhais, onde se extrai uma relação
conturbada, abusiva e preconceituosa entre o superior e a autora.

Lado outro, o Magistrado "a quo", quando da oitiva testemunhal na


Audiência de Instrução e Julgamento, constatou a veracidade das alegações
de que a requerente fora constantemente ofendida pelo seu superior, com
insultos de "preta, negra, pobre e incompetente", pelo que inegável a prática
de ato ilícito ou de ato abusivo, de modo a violar o direito de personalidade
da servidora pública.

Destarte, tal comportamento compreende a exposição da servidora a


situação humilhante e constrangedora durante a jornada de trabalho e no
exercício de suas funções, culminando em perturbação emocional do
ofendido.

Portanto, vislumbra-se do conjunto probatório que de fato houve assédio


moral contra a autora, ora primeira apelante, sendo esta humilhada em seu
ambiente laboral.

Outrossim, o Município requerido não buscou realizar qualquer prova,


seja documental, seja testemunhal, a fim de "desdizer" o sustentado e
comprovado pela requerente.

Acrescente-se, ainda, que a configuração do dano revela-se


incontroversa, eis que não há qualquer impugnação recursal pelo ente
Municipal quanto ao dever de indenizar por alegado assédio moral pelo ente
Municipal, que se limitou a rechaçar os critérios adotados na sentença em
relação à aplicação dos juros e correção monetária.

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Passa-se à análise do quantum indenizatório criticado no primeiro


recurso.

A quantificação do dano moral deve dar-se com prudente arbítrio, para


que não haja enriquecimento à custa do empobrecimento alheio, mas
também para que o valor não seja irrisório.

Referentemente à fixação dos danos morais, Caio Mário da Silva Pereira


leciona:

O problema de sua reparação deve ser posto em termos de que a reparação


do dano moral, a par do caráter punitivo imposto ao agente, tem de assumir
sentido compensatório. Sem a noção de equivalência, que é própria da
indenização do dano material, corresponderá à função compensatória pelo
que tiver sofrido. Somente assumindo uma concepção desta ordem é que se
compreenderá que o direito positivo estabelece o princípio da reparação do
dano moral. A isso é de se acrescer que na reparação do dano moral insere-
se uma atitude de solidariedade à vítima. (Responsabilidade Civil, 6ª ed.,
Forense, 1995, p. 60).

Destarte, atento aos critérios da indenização por danos morais e à


vedação do enriquecimento sem causa da vítima, e levando-se em
consideração as peculiaridades do caso concreto, hei por bem manter o valor
arbitrado em primeira instância, qual seja, R$ 5.000,00 (cinco mil reais), pois,
condizente com a dimensão do dano causado, levando em consideração a
ausência de prova suficiente de que a moléstia que acomete a autora tenham
sido originadas exclusivamente do assédio reconhecido

Neste sentido já se manifestou este e. Tribunal:

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EMENTA: APELAÇÃO - 'QUANTUM' INDENIZATÓRIO - PRINCÍPIOS DA


PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE - REDUÇÃO. - O critério para
fixação do valor da indenização é subjetivo. Exige, assim, prudente arbítrio
do julgador, de modo a não implicar em enriquecimento ilícito da vítima, mas
ser eficaz para produzir, no causador do dano, impacto capaz de inibir a
prática de nova conduta ilícita. V.V. EMENTA: APELAÇÕES CÍVEIS - AÇÃO
INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS - AGRESSÃO VERBAL E
DESCASO - SERVIDORA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE TRÊS CORAÇÕES
- MAJORAÇÃO DA INDENIZAÇÃO - PROVA DO ASSÉDIO MORAL E DO
ABALO PSICOLÓGICO SOFRIDO - RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. - A configuração do assédio moral exige a prova da prática
reiterada de atos que exponham o trabalhador, em posição hierarquicamente
inferior, a situações de constrangimento e de humilhação, de modo a ferir
sua dignidade, quer no âmbito pessoal ou quer no profissional, para que se
justifique a indenização. - Comprovado por prova documental e testemunhal
o assédio moral suportado pelo servidor em seu local de trabalho, deve o
ente municipal ser condenado ao pagamento da correspondente
indenização. - Os danos morais devem ser arbitrados à luz do cânone da
proporcionalidade, em que há relação de causalidade entre meio e fim, entre
a ofensa e os objetivos da exemplaridade, e não, da razoabilidade, aplicável
quando há conflito entre a norma geral e a norma individual concreta, entre o
critério e a medida. (TJMG - Apelação Cível 1.0693.14.013724-3/001,
Relator(a): Des.(a) Luís Carlos Gambogi , 5ª CÂMARA CÍVEL, julgamento
em 27/06/2019, publicação da súmula em 02/07/2019)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - ASSÉDIO


MORAL - COMPROVAÇÃO - DANOS MORAIS CONFIGURADOS -
QUANTUM INDENIZATÓRIO - RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. Considera-se assédio moral a conduta de agente
público que tenha por objetivo ou efeito degradar as condições de trabalho
de outro agente público, atentar contra seus direitos ou sua dignidade,
comprometer sua saúde física ou mental ou seu desenvolvimento profissional
(artigo 3º da Lei Complementar nº 117/2011, que dispõe sobre a prevenção e
a punição do assédio moral na Administração Pública Estadual de Minas
Gerais). Resta justificada a reparação moral

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pretendida se a autora suportou aflição e perturbação diante não apenas de


sindicância instaurada e de ato de sanção por transgressão disciplinar a ela
aplicado, posteriormente anulado pelo Comandante-Geral da Polícia Militar
de Minas Gerais, mas também da exposição pública e desnecessária de sua
vida privada no ambiente militar e masculinizado em que trabalha, além do
atentado contra seu direito e dignidade, sentimentos esses que alcançam
contornos de grave perturbação. A indenização por dano moral deve ser
arbitrada segundo o prudente arbítrio do julgador, sempre com moderação,
observando-se as peculiaridades do caso concreto e os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade, de modo que o quantum arbitrado se
preste a atender ao caráter punitivo da medida e de recomposição dos
prejuízos, sem importar, contudo, enriquecimento sem causa da vítima.
(TJMG - Apelação Cível 1.0701.14.045607-3/001, Relator(a): Des.(a) José
de Carvalho Barbosa , 13ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 22/08/2019,
publicação da súmula em 30/08/2019)

Finalmente, quanto aos consectários legais, tenho o entendimento de que


os valores devidos devem ser pagos com a incidência de correção monetária
pela tabela da CGJ/MG (que não destoa do IPCA) desde a data do
arbitramento (Súmula nº 362 do STJ), acrescidos de juros de mora desde a
data do evento danoso (20/11/17), conforme fixado pelo Magistrado "a quo",
nos termos do artigo 1º-F da Lei Federal nº 9.494/1997 com a redação dada
pela Lei Federal nº 11.960/2009.

Mediante tais considerações, NEGO PROVIMENTO AOS RECURSOS,


mantendo incólume a sentença.

Em face da sucumbência recursal, majoro a condenação do primeiro


apelante em honorários advocatícios ao montante 12% (doze por cento) do
valor da condenação, nos termos do art. 85, §11, do CPC/2015.

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Custas recursais, na forma da lei.

DES. LUÍS CARLOS GAMBOGI

VOTO

Manifesto-me de acordo com o r. voto do em. Des. Relator, ressaltando,


apenas, que na hipótese de omissão (Faute du service), meu entendimento é
no sentido de que estará configurada a responsabilidade subjetiva.

Na hipótese, perfilho e acompanho o em. Des. Moacyr Lobato, eis que, a


meu modesto inteligir, as provas colacionadas foram firmes o bastante para
me convencer da responsabilidade do município pelo dano moral. No
presente caso, inolvidável os sentimentos de dor e humilhação suportados
pela autora, que se viu assediada em seu local de trabalho, tendo ficado
emocional e psicologicamente abalada.

Constitui dano moral a lesão decorrente do sentimento de dor,


humilhação, sofrimento físico ou espiritual, que impinge tristezas,
preocupações ou angústias, que afetam o psicológico do ofendido, servindo,
a indenização, como forma de compensar a lesão sofrida.

No que tange ao quantum relativo aos danos morais, entendo que


devem ser arbitrados à luz do cânone da proporcionalidade, em que há
relação de causalidade entre meio e fim, entre a ofensa e os objetivos da
exemplaridade, e não, da razoabilidade, aplicável quando há conflito entre a
norma geral e a norma individual concreta, entre o critério e a medida. Assim,
considerando as particularidades do caso apresentado, estou em que o valor
da indenização em R$ 5.000,00 (cinco mil reais) é adequado à espécie,
sendo suficiente para amenizar o sofrimento suportado, sem se mostrar
exorbitante ou insignificante.

Portanto, acompanho o em. Relator, e também nego provimento aos


recursos e confirmo a r. sentença de primeiro grau.

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É como voto.

DES. WANDER MAROTTA - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AOS RECURSOS"

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