Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Michael Löwy2
RESUMO
A referência decisiva para o pensamento religioso de Lukács não é o misticismo católico,
judeu ou hindu, mas muito mais (como para todo o círculo Max Weber) a espiritualidade
russa, e notadamente, Dostoiévski. Nessa época, Bloch e Lukács estavam fascinados pela
literatura e filosofia religiosas russas, e o seu reino coletivista-religioso sobre a terra era
concebido como “uma vida no espírito de Dostoiévski”3. Somente podemos compreender
essa atração deles pela Rússia entre eles, assim como de os outros membros do círculo,
através da sua repulsa contra o mundo individualista e seelenlos da sociedade industrial da
Europa ocidental.
PALAVRAS-CHAVE: Lukács; Dostoiévski; círculo de Max Weber; filosofia e literatura
russas
ABSTRACT
The decisive influence in Lukács’religious thought is not Catholic, Jewish or Hindu
mysticism, but above all (as it was for all Mar Weber’s circle) Russian spirituality and,
particularly, Dostoyevsky. In those times, Bloch and Lukács were fascinated by Russian
religious literature and philosophy, and their religiously collectivist kingdom on earth was
conceived as a “life in the spirit of Dostoyevsky”. We can only understand the attraction
towards Russia among them, as well as among other members of the circle, if we have in
mind their rejection of an individualistic world and the seelenlos of western modern
industrial society.
KEY-WORDS: Lukács; Dostoiévski; Max Weber’s circle; Russian philosophy and literature
________________
1
Recebido em 30/05/2016. Aprovado em 30/09/2016. Versão modificada de um artigo de Michael
Löwy (1978). A tradução em português foi feita por Iago Medeiros, com revisão de Adauto Villela,
no âmbito do projeto de extensão Traduções Acadêmicas do Bacharelado em Tradução da FALE-
UFJF, coordenado pela Profa. Dra. Mayra Barbosa Guedes e o Prof. Dr. Adauto Villela, com apoio da
Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Juiz de Fora.
2
Professor e Pesquisador da École des Hautes Études en Sciences Sociales
e do Centre d'Études Interdisciplinaires des Faits Religieux, Paris (França). Email:
michael.lowy1@gmail.com
3
Testemunho de Paul Honigsheim (1968, p. 91).
Michael Löwy
***
4
Niels Lyhne é o título de um romance naturalista do escritor nórdico Jens Peter Jacobsen, publicado
em 1880. O ateísmo de seu herói se caracteriza por uma resignação face à realidade, um
individualismo passivo e a convicção da solidão absoluta dos homens e da impossibilidade da fusão das
almas – em outros termos: uma visão de mundo situada no polo oposto daquela dos heróis de
Dostoiévski.
5
Ao mesmo tempo, Savinkov chama atenção para o fato de que Kaliayev não tinha nada em comum
com a religião estabelecida e recusou a assistência de um pope no momento da sua execução.
6
Sobre o assunto, veja SCHERRER, 1973.
***
7
Essa passagem se encontra em um capítulo significantemente intitulado: “Karl Marx, der Todund die
Apokalypse” (Karl Marx, morte e o apocalipse).
Referências Bibliográficas
10
Trata-se do artigo “Über den Dostojewski Nachlass”, Moskauer Rondschau, mars 1931. Ver a esse
respeito a nossa entrevista com Ernst Bloch (1974), anexada a nossa obra Pour une sociologie des
intellectuels..., p. 295. A versão de Lukács acerca da divergência é um tanto diferente e,
significantemente, ela coloca no centro do conflito a questão do misticismo de Bloch; em conversas
com os seus discípulos em Budapeste (notadamente com György Markus), durante os últimos anos
de sua vida, Lukács deixou implícito que as relações entre eles haviam esfriado nos anos 20, após um
escrito de Bloch sobre a filosofia da religião de Hegel, impregnada de um “misticismo intolerável”
(depoimento de G. Markus ao autor). É possível que Lukács faça referência à edição aumentada de
Geist der Utopie de 1923, em que Bloch critica Hegel se referindo ao místico alemão Franz von
Baader (Geist de Utopie [1923], Francfort/M., Suhrkamp, 1923, p. 231).
ERNST, Paul. Weiteres Gesprächmit Georg (von) Lukàcs (1917). In: Paul
Ernst und Georg Lukàcs; Dokumente einer Freundschaft. Emsdetten:
Verlag Lechte, 1974.
LUKÀCS, Gyorgy. Von der Armut am Geiste. Ein Gespräch und ein
Brief. In: Neue Blätter (Berlin), n. 5-6, 1912.
LUKÀCS, Gyorgy. Ariadne auf Naxos. In: Paul Ernst und Georg Lukàcs;
Dokumente einer Freundschaft. Emsdetten: Verlag Lechte, 1974.