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Universidade Federal de Campina Grande

Centro de Humanidades

Unidade Acadêmica de História

Disciplina: História da América III

Professor: Celso

Aluna: Roberta dos Santos Araújo

AVALIAÇÃO TERCEIRA UNIDADE

3- O autor Manuel Castells trata, no texto estudado, de ações de movimentos sociais contra a
globalização econômica. Explique como isso ocorre no caso dos zapatistas de Chiapas atuais
(quem são, o que querem etc).

O fenômeno da globalização, cada vez mais, tem se potencializado. De um lado


verifica-se significativa melhoria na capacidade produtiva, aperfeiçoamento da comunicação
e uma maior criatividade cultural, por outro lado, ocorre uma perda de controle social. Tudo o
que acontece ganha repercussão mundial. A globalização e a informacionalização são frutos
da tecnologia patrocinada por certas redes de poder, e a força que estes fenômenos portam
estão mudando o mundo. Quem dita as regras é a chamada "Nova Ordem Mundial", mas nem
todos apoiam tais regras e tais transformações.

Segundo Manuel Castells, grupos com projetos alternativos surgiram com intuito de
contestar a famigerada "Nova Ordem Mundial". Para estes grupos, ela representa uma
verdadeira desordem mundial. Dentre estes movimentos sociais está o Zapatismo do México.
Os Zapatistas são camponeses, em sua esmagadora maioria índios, que povoam a região da
floresta de Lacandon. Situados ali desde a década de 40, quando foram expulsos das fincas
(fazendas) dos grandes latifundiários. Sem segurança de propriedade, os zapatistas lutaram,
por duas décadas, com o governo pelo direito à terra.

Como se não bastassem todos os problemas envolvendo a questão terra, o governo do


presidente Salinas retirou os direitos da comunidade, restringiu a pecuária a pequenos grupos
de latifundiários, acabou com as barreiras alfandegarias para a importação do milho e do café,
principais condutores econômicos da região, desestruturou os camponeses com o objetivo de
ingressar o México no Acordo Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA). Em outras
palavras, o governo mexiano estava aderindo a Nova ordem Mundial, favorecendo o grande
capital local, ao mesmo tempo em que atingia profundamente a vida dos camponeses de
Chiapo.

Prejudicados, os camponeses reagiram. Entre os anos de 1992 e 1993, eles


organizaram-se, mobilizaram-se contra as políticas do governo Salinas. As primeiras reações
foram retirar as crianças das escolas, interromper a plantação de milho e café e vender o gado
para a compra das armas. Os camponeses de Chiapo contaram com o apoio da igreja católica,
em sua vertente simpática à teologia da libertação. Os padres educavam, organizavam o
movimento, além de angariar mais militantes para guarnecer o grupo de zapatistas. Vale
salientar que, apesar do apoio ao movimento, a igreja era contra a guerrilha armada.

Cientes de que o governo só fazia promessas e que a situação da comunidade


camponesa só piorava, os zapatistas passaram a planejar a guerra armada contra o governo.
Em 1993, eles se levantaram contra o exército, mas o levante foi abafado por medo de
interferência na negociação com o NAFTA, porém os revoltosos não desistiram e passaram
cerca de dois anos e meio insurretos declarados. Unidos, comunidade de Chiapo e de
Lacandon, lutaram contra as injustiças.

Para Castells, os zapatistas deram continuidade a luta histórica pelo fim da


colonização e opressão, eles veem na "Nova Ordem Mundial" a reencarnação da opressão
espanhola que durou mais de cinco séculos. O NAFTA, as reformas liberalizantes do
presidente Salinas, a contínua exclusão de índios e camponeses na modernização econômica
do México, o imperialismo norte-americano foram os principais alvos da revolta zapatista.

O movimento camponês mexicano foi estratégico. A forma que eles escolheram para
divulgar o ideário do zapatismo lhes rendeu o título de primeiro movimento de guerrilha
informacional. A fama é explicada pelo poderoso aparato midiático autônomo que eles
prepararam. Usando a internet, eles propagaram suas ideias para todo o México e para
mundo, com isso barraram as intenções do governo reprimir o movimento, criaram grupos de
apoio internacionais, conseguiram mecanismos de negociação e garantiram o sucesso do
movimento.

Diante do exposto, podemos perceber que a atuação zapatista foi significativa para o
México. Por mais que todas as suas lutas não tenham sido vitoriosas, o movimento conseguiu
interferir, de forma incisiva, em alguns setores do país tais como, na reforma política, na
garantia de novos direitos para os indígenas com reforma constitucional, etc. Mesmo não
sendo uma das principais pautas do movimento zapatista, a identidade indígena pode ser
observada nas entrelinhas das reivindicações, uma vez que eles recorreram ao passado para
respaldar a luta contra as injustiças sociais, políticas e econômicas às quais o seu povo
sempre estiveram sujeitos.

REFERÊNCIA:

CASTELLS, Manuel. A outra face da terra: movimentos sociais contra a nova ordem global.
In, O poder da identidade. São Paulo. Paz e Terra. 1999.

4- Segundo a autora Cecilia Azevedo, explique a relação dos "semi-deuses" e dos homens-
comuns na gênese da construção da identidade norte-americana.

Para a historiadora Cecilia Azevedo, os Estados Unidos da América foram, dos países
do novo mundo, o mais heterogêneo no que diz respeito a formação de uma identidade
nacional, uma vez que a união de 13 colônias representou a junção de uma enorme
diversidade linguística, cultural e religiosa. Neste sentido, a identidade americana foi
entendida como inexistente, devido a complexidade de sua composição. Até mesmo a noção
de independência americana difere das demais da América Latina, uma vez que a
historiografia tradicional versa sobre uma certa cumplicidade entre colônia e metrópole.
Porém, estudos recentes revelaram que, por mais fragmentada que seja, a identidade nacional
existe.

Em um primeiro momento, as autoridades norte-americanas não recorriam ao passado


histórico do país por medo de que este interferisse na concretização do "destino manifesto" ao
qual a nação estava encarregado de cumprir. No entanto, a criação de heróis, "semi-deuses",
de um passado glorioso se faz necessário em certos momentos políticos da história de um
país. Nos Estados Unidos da América, a resistência aos mitos não foi eterna, mas eles foram
apropriados segundo interesses particulares de cada região do país.

Cecília Azevedo parte do principio de que os americanos, sob influências políticas,


impetram verdadeiras batalhas de memória para a construção da sua identidade. Em
momentos significativos para a história daquele país, dependendo de quem esteja no poder,
certos lugares, mártires, heróis, "semi-deuses" e até mesmo homens-comuns têm as suas
trajetórias de vida usadas para fins políticos. Neste sentido, vale ressaltar que, "semi-deuses"
e homens comuns estão, vez ou outra, nas batalhas de memória norte-americanas.

Para a construção da identidade norte-americana, os "semi-deuses", representados


pelos presidentes, principalmente por aqueles que foram assassinado, Lincoln e Kennedy por
exemplo, são exaustivamente lembrados como mártires do seu país. Não são raros os casos
em que, líderes políticos buscam se identificar com as figuras mitológicas da política
estadunidense. Além da rememoração da trajetória destes presidentes, as culturas políticas
fazem exacerbado uso de suas mortes para se promoverem, seja visitando os túmulos,
lembrando o assassinato, ou coisa do tipo.

Porém, nem só de deuses é constituída a história norte-americana. Os chamados


homens-comuns também conseguiram espaço na "indústria memorialística". O pioneiro
desbravador, o cowboy, o soldado-cidadão e o índio foram homens que emprestaram suas
histórias para compor a história dos Estados Unidos da América. Dependendo da cultura
política, estes homens foram lembrados nos discursos, nas investidas políticas de certos
grupos. O índio, por exemplo, apesar de encontrar dificuldades para que sua história fosse
registrada, passou também pela batalha memorialística das culturas políticas.

A história norte-americana está repleta de "semi-deuses" e de homens-comuns.


Ambos foram usados para legitimar uma identidade, que por mais heterogênea que seja, é a
identidade própria daquele país. Porém, o estudo de Cecilia Azevedo nos mostra que, a
história destes homens são lembradas conforme a necessidade de cada cultura política. As
apropriações da memória são seletivas. Dependendo da ocasião, do grupo político, do
objetivo político são homenageados os "semi-deuses", em outras circunstancias são
lembrados os homens-comuns. A análise de Azevedo confirma a complexidade,
heterogeneidade e fragmentação da identidade norte-americana.

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