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PROTEÇÃO DE MÁQUINAS

Equipamento seguro
Procedimentos auxiliam para que o programa de prevenção em prensas seja eficaz
Vladimir Kuse

BETO SOARES/ ESTÚDIO BOOM


Nos últimos anos, muito temos ouvido
falar em segurança de máquinas. Muitas
empresas estão criando programas de
adequação e instalação de dispositivos de
segurança tendo um foco especial as pren-
sas e similares, pelo grau de periculosida-
de que o trabalho com estas máquinas ofe-
rece. Mas observamos que máquinas fora
do contexto das indústrias, também pre-
cisam ser adequadas, tais como: máqui-
nas de panificação (cilindros, batedeiras,
masseiras e modeladoras), máquinas de
açougue (moedores de carne, amaciado-
res de bife), máquinas de friambreria (fa-
tiadores de frios, ralador de queijo).
Na indústria, surgiram programas como
o PPRPS e a NT 16, com um objetivo fun-
damental: reduzir o grande número de
acidentes com mutilações e amputações.
Criando soluções que eliminem o risco de
acidente e que atenda às normas de se-
gurança.
Um bom programa de adequação de
segurança em uma empresa deve obser-
var os seguintes itens: análise de risco,
definição do projeto e dos melhores dis-
positivos a serem instalados, instalação
correta dos dispositivos projetados (ex.:
grades, chaves de segurança, cortina de
luz, relés, bi-manual, pedais, calços, etc.),
treinamento de todos os envolvidos, ma-
nutenção eficiente, comprometimento e
conscientização da importância dos dis- trabalho da máquina, define seus limites Máquinas - Princípios para Apreciação de
positivos instalados e procedimentos se- e seu modo de utilização e relaciona to- Riscos). Esta norma descreve os proce-
guros. das as situações de risco, a severidade do dimentos básicos conhecidos como apre-
dano, a probabilidade de ocorrência do da- ciação de risco, pelos quais os conheci-
ANÁLISE no, a freqüência e duração da exposição mentos e experiências de projeto, utiliza-
Tomamos como referência uma prensa das pessoas ao perigo e as possibilidades ção, incidentes, acidentes e danos relacio-
mecânica excêntrica com freio embrea- técnicas e humanas para evitar ou limitar nados às máquinas são considerados con-
gem e o previsto na NT 16 (Nota Técnica o dano. Desta análise, define-se o tipo de juntamente. O objetivo é avaliar os riscos
16/DSST), que tem como ponto básico proteção e o conceito de segurança a ser durante toda a vida da máquina.
evitar o acesso às áreas de risco. A primei- utilizado e também a categoria de risco Conforme esta norma devemos primei-
ra etapa do trabalho, quando a empresa que a proteção deve atender. Nesta fase, ro definir os limites da máquina, todas as
vai começar a implantação de seu progra- devemos analisar todas as etapas do tra- suas formas de utilização, identificação de
ma de segurança de máquina, é a análise balho desta máquina e conhecer todas as operadores e técnicos de manutenção.
de risco. Nela, um profissional especialista necessidades do processo que ela está en- Devemos ainda fazer uma relação com-
no assunto, avalia todas as condições de volvida. Sejam elas de processo, ponto de pleta dos perigos associados à máquina,
alimentação de peças, set up, manuten- quer seja na sua utilização, processo, ma-
Vladimir Kuse - Técnico em eletrônica, especialista em
soluções de segurança de máquinas. Diretor da empresa ção e limpeza. nutenção, set up e limpeza.
Automasafety Consultoria, Indústria e Comércio de
Equipamentos de Segurança Ltda Para execução desta análise, tomamos O risco é derivado da combinação dos
automasafety@automasafety.com.br
www.automasafety.com.br como base a NBR 14009 (Segurança de seguintes elementos: severidade do feri-

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mento (gravidade do possível dano), pro- a passo no quadro Projeto de adequação cânica da cortina evitando que choques e
babilidade de ocorrência de dano (fre- em prensa excêntrica com freio e embre- pancadas destruam o equipamento.
qüência de acesso à zona de perigo e du- agem. - Válvula de segurança: este é um item
ração da exposição) e possibilidade de evi- muito importante em nosso conjunto de
tar ou limitar o dano (conforme prática INST ALAÇÃO
INSTALAÇÃO segurança. Devemos ter uma atenção es-
do operador, treinamento, alimentadores Após a definição do projeto e de todos pecial com relação à qualidade do ar: fil-
automáticos e velocidade da máquina). os dispositivos a serem instalados, temos tros e purgadores devem ser previstos.
Após a estimativa do risco, uma avalia- que observar a correta instalação de todo Verificar a correta instalação do reset da
ção deve ser procedida para determinar o conjunto, observando alguns aspectos válvula. A válvula de segurança não deve
se a redução de tal risco é necessária ou importantes: ser instalada longe do conjunto freio/em-
se a segurança foi alcançada. Se a redu- - Grades e proteções mecânicas: ob- breagem.
ção for necessária, medidas apropriadas servar a posição correta da fixação, aten- - Botões de emergência: precisamos
de segurança devem ser selecionadas e tar para que, em local algum, fiquem lu- ter o cuidado de instalar estes botões em
aplicadas. Então, o perigo deverá ser eli- gares desprotegidos, observar que as pro- caixas ou quadros que ofereçam uma re-
minado com um projeto de instalação de teções fixas devem ser presas por para- sistência adequada a sua função, para não
dispositivos de segurança que garanta que fusos além de dificultarem a sua retirada corrermos o risco de, numa situação de
a proteção selecionada elimine ou minimi- por profissionais não habilitados em pro- emergência, acionar o botão e quebrar o
ze os danos em caso de acidente. teção física móvel. Verificar a correta co- suporte, sem que a ação de desligar a
Sempre que formos projetar a proteção locação das chaves de segurança e certi- máquina seja efetivada. A sua instalação
de uma máquina, devemos analisar todas ficar-se de que as mesmas não deixam necessita ser em local onde o operador
as normas pertinentes a ela e as normas aberturas que permitam a passagem de tenha fácil acesso ao seu ponto de traba-
específicas para cada função de seguran- dedos ou mãos até a área de risco. lho e que tenham os outros, quantos fo-
ça a ser instalada. - Cortinas de segurança: analisar sem- rem necessário para a proteção completa
Um bom projeto de instalação de dis- pre a resolução e correta ligação do cir- de todo o perímetro da máquina.Ex: fron-
positivos de segurança precisa sempre cuito de segurança. Deve-se ter um cui- tal, pedestal de bimanual, quadro elétri-
levar em conta o que foi definido na aná- dado muito especial com os suportes de co, traseira da máquina, entre outras.
lise de risco e buscar nas normas, as refe- fixação, pois é preciso levar em conta a Todo botão de emergência deve ser liga-
rências necessárias para a correta adequa- vibração e trepidação da máquina. Tam- do em dois contatos para termos redun-
ção e redução dos riscos. Confira o passo bém devemos cuidar com a proteção me- dância elétrica e é preciso também ser li-

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gado em relé de segurança cat. 4. sionais originados nos locais de trabalho, O conteúdo programático mínimo é: ti-
- Chaves de segurança: devemos sem- seus meios de prevenção e limitação e as pos de prensas e equipamentos similares;
pre cuidar com o melhor posicionamento medidas adotadas pela empresa. No caso princípios de funcionamento; sistemas de
das chaves, avaliar com relação à vibra- específico de operação com prensas e si- alimentação; sistemas de proteção; pos-
ção e trepidação. Também é necessário milares, um programa de capacitação de- sibilidades de falhas em prensas e equi-
verificar a correta ligação com circuito em verá ser desenvolvido pela própria empre- pamentos similares; tipos de estampos e
dois contatos, para termos redundância sa com um currículo básico. matrizes e os meios de fixá-los às prensas
elétrica e sempre ligado em relé de segu- O sucesso na implementação de medi- e equipamentos similares; riscos residuais
rança cat. 4. das de segurança eficazes surge a partir e responsabilidades no manuseio, troca,
- Aterramento elétrico: deve-se provi- de um trabalho multidisciplinar, apoiado movimentação e armazenamento dos es-
denciar o correto aterramento da máqui- por todos os níveis hierárquicos da em- tampos e matrizes; lista de checagem de
na. presa. montagem (chek-list); responsabilidade
- Calço de segurança: devemos proje- A antecipação dos riscos prevista no do operador; responsabilidade da chefia
tar um suporte de fixação que permita fá- PPRA (NR 09), passa obrigatoriamente imediata; sistema de retenção mecânica
cil acesso do operador e observar a cor- pela seleção criteriosa quanto aos aspec- – calços de segurança; manutenção; aula
reta ligação da chave de segurança, com tos de segurança na aquisição de máqui- prática e primeiros socorros.
dois contatos, para termos redundância nas, equipamentos e projeto de novas fer- O processo de capacitação deverá ser
elétrica. Carece ser ligado em relé de se- ramentas. Devem estar envolvidos na registrado por escrito e realizado antes
gurança cat. 4. capacitação: operadores, preparadores de que o operador assuma suas funções, de-
máquinas, ferramenteiros, mecânicos, vendo ser reciclado periodicamente.
TREINAMENTO eletricistas, projetistas, SESMT, CIPA e A capacitação deverá ocorrer sempre
Esta é a etapa que vai nos assegurar que demais pessoas com atividades afins em que houver modificações no quadro fun-
os dispositivos instalados terão a eficiên- prensas e similares. A carga horária de- cional (troca de função, empréstimos,
cia desejada pois, sem que as pessoas en- verá ser compatível e suficiente para que promoções) ou atualizações tecnológicas.
volvidas no processo tenham capacitação, sejam desenvolvidos satisfatoriamente os
este programa de segurança não funcio- conteúdos teóricos e a parte prática. É MANUTENÇÃO
nará. necessário o registro do conteúdo do pro- Conforme o item 25 da NT 16 e item 9
A NR-01 (Disposições Gerais), determi- grama de treinamento, a qualificação dos da NBR 14153, manutenção preventiva ou
na em seu item 1.7 que o empregador in- instrutores, o controle de presença e a corretiva é, usualmente, necessária para
forme aos trabalhadores os riscos profis- avaliação. manter o desempenho especificado das

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partes relacionadas à segurança. Com o engajada neste processo. Não adianta a adotados. Estes procedimentos nos ensi-
tempo, o desvio do desempenho especifi- empresa gastar uma fortuna se os seus nam a maneira correta de se proceder no
cado pode levar à deterioração da segu- colaboradores não tiverem comprometi- momento de operação, set up ou quando
rança ou das situações de perigo. Para mento com o que foi proposto. Para tanto, da manutenção da máquina em questão
identificar tais desvios, inspeções manu- deverá ser criado um programa de cons- para garantir a proteção dos operadores.
ais periódicas são necessárias. Essas ins- cientização e ajuda na manutenção e uso
peções devem ser realizadas conforme correto dos dispositivos. Uma ação impor- CUL TURA
CULTURA
cronograma de manutenção. A empresa tante é o envolvimento de toda a equipe Os números e estatísticas de acidentes
deve manter arquivos e planilhas que e a participação de todos, desde o início de trabalho, com grande quantidade de
comprovem a execução deste cronogra- do processo de implantação, seja na tro- amputações e mutilações nos levam a
ma. Este cronograma de manutenção de- ca de idéias ou mesmo na correta utiliza- acreditar que temos de fazer alguma coi-
ve ser criado e ter um engenheiro que emi- ção de tudo o que foi instalado. Uma ação sa.
ta uma ART do serviço, precisando con- importante é envolver os operadores nu- Por este motivo, muitas empresas es-
templar todas as partes da máquina per- ma análise de sua máquina, onde eles de- tão criando programas de prevenção e ris-
tinentes à segurança. Deverá ser feito uma verão fazer um check list diário de todos co em prensas e similares. Eles dotam
análise dos itens elétricos e, principalmen- os dispositivos instalados. Conferir item suas máquinas de equipamentos e dispo-
te, da fadiga mecânica das partes móveis. por item e informar a sua chefia imediata sitivos de segurança que, muitas vezes,
As condições das grades e das proteções as não-conformidades e solicitar a corre- são mais caros que a própria máquina.
mecânicas dependem da eficiência dessa ção do problema. Nunca pode-se trabalhar Mas, só isto, não basta. Temos, na ver-
manutenção, pois elas podem sofrer de- com proteções abertas e fazer o uso de dade, é que criar uma cultura de seguran-
formações e danos. Se não consertadas, dispositivos que permitam a burla do ça onde todos pensem efetivamente em
colocam em risco as pessoas envolvidas sistema.Verificar se todas as grades estão manter os dispositivos instalados e me-
no processo. no lugar e, se tudo o que foi instalado, está lhorar a sua eficiência a cada dia.
de acordo com o treinamento que rece- Acreditar que os dispositivos instalados
ENVOLVIMENTO
ENVOL VIMENTO beu, é mais uma tarefa do funcionário. não estão ali para atrapalhar a produção,
O comprometimento de todos é o pon- Depois de todos estarem comprometi- mas sim, para garantir a integridade físi-
to principal de uma adequação de segu- dos com a segurança e que as máquinas ca de nossos colaboradores.
rança. Quando a empresa optou por do- estiverem adequadas, devemos criar uma Segurança de máquinas: conscientiza-
tar suas máquinas de dispositivos de segu- cultura na qual grande parte do sucesso ção, comprometimento, treinamento e
rança, espera que toda sua equipe esteja do programa dependa dos procedimentos responsabilidade.

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