Você está na página 1de 22

Curso online

Triagem em
serviços de urgência
e emergência

DISPONÍVEL 24 HORAS LÍDER EM CUSTO EM CONFORMIDADE


POR DIA BENEFÍCIO COM AS LEIS VIGENTES
SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................................... 2

Setor de urgência e emergência ............................................................................ 2

A atuação do enfermeiro na urgência e emergência ........................................... 4

Importância da estrutura física e da classificação de risco ................................ 6

Sistema de classificação de risco ......................................................................... 7

Otimizando a priorização no atendimento de emergência ............................... 8

Acolhimento .............................................................................................................. 10

Protocolo de Manchester ........................................................................................ 13

Atuação do enfermeiro na classificação de risco .................................................. 15

Classificação de risco: reflexões e sugestões ....................................................... 17

Referência .................................................................................................................. 20
INTRODUÇÃO
O serviço de enfermagem é uma parte essencial nas instituições de saúde,
enfrentando diariamente o desafio de oferecer assistência de qualidade, eficiente
e eficaz de acordo com as necessidades do público atendido (YURI & TRONCHIN,
2010). As urgências são confrontadas diariamente com um grande número de
pacientes que apresentam uma variedade de problemas, sendo atendidos
predominantemente nos tradicionais prontos-socorros, independentemente de
estarem adequadamente estruturados e equipados (BRASIL, 2002) .

Infelizmente, muitos pacientes buscam as unidades de urgência por serem a porta


de entrada mais fácil e ágil, mesmo apresentando quadros tratáveis na atenção
primária, devido à falta de informação ou pressa (JONES, 1996). Com o intuito de
priorizar o atendimento daqueles que realmente necessitam de assistência
imediata e evitar óbitos precoces devido a um atendimento desorganizado, a
triagem ou classificação de risco tem sido utilizada em serviços de urgência em
todo o mundo, sendo uma ferramenta importante de manejo clínico de risco
(JONES et al., 2010).

A tomada de decisões é uma parte crucial da prática médica e de enfermagem,


pois requer avaliação clínica sólida do paciente, baseada tanto em raciocínio
quanto em intuição, apoiados por conhecimentos e habilidades profissionais
(JONES et al., 2010). Portanto, a classificação de risco deve ser conduzida
prioritariamente por enfermeiros ou médicos capacitados.

O SETOR DE URGÊNCIA
E EMERGÊNCIA NA SAÚDE
O setor de Urgência e Emergência é um componente vital da assistência à saúde,
conforme definido pelo Ministério da Saúde (2002). Para compreender esse tema,
é essencial esclarecer os termos frequentemente utilizados nesse contexto.
Diversos autores apresentam definições variadas, porém todas convergem para
os mesmos significados.

2
Urgência Emergência

Dicionário Do latim urgentia, que Do latim emergentia,


significa qualidade de que significa ação de
Aurélio urgente; caso ou emergir; situação
situação de crítica, incidente; caso
emergência, de de urgência.
urgência.

Constatação médica
Quando há ocorrência de condições de
imprevista de agravo à agravo à saúde que
saúde, com ou sem
Ministério impliquem em risco
risco potencial de iminente de morte ou
da saúde morte, cujo portador sofrimento intenso,
necessite de exigindo, portanto,
assistência imediata. tratamento médico
mediato

Conforme Santos (2008), a urgência refere-se a uma prioridade moderada de


atendimento, destinada a pacientes que necessitam de assistência imediata, mas
sem risco iminente de morte.

O Ministério da Saúde estabelece três modalidades para caracterizar os


procedimentos dos serviços de urgência e emergência, considerando a gravidade
e complexidade do caso a ser tratado (BRASIL, 2009):

a) Urgência de baixa e média complexidade: quando o paciente não corre risco de


morte;
b) Urgência de alta complexidade: o paciente apresenta um quadro crítico ou
agudo, mas sem risco de morte;
c) Emergência: casos em que há risco de morte.

3
A emergência é definida como uma categoria de triagem onde a assistência é
prestada em situações que apresentam prejuízo à saúde com risco de vida
potencial ou qualquer alteração no organismo que exige tratamento imediato. Da
mesma forma, a urgência é considerada outra categoria de triagem, porém o
atendimento é fornecido em casos de doença grave ou dano à saúde que não
conduzem a um risco de morte (BRUNNER & SUDDARTH, 2009, p.400).

O objetivo dos serviços de urgência e emergência, segundo o Ministério da Saúde,


é reduzir a morbi-mortalidade e as sequelas incapacitantes. Para alcançar esse
objetivo, é fundamental garantir os elementos necessários para um sistema de
atenção de emergência, incluindo recursos humanos, infraestrutura,
equipamentos e materiais, a fim de proporcionar assistência integral, com
qualidade adequada e contínua (BRASIL, 2009). A Política Nacional de Atenção às
Urgências, instituída pela Portaria 1863/GM em setembro de 2003, visa assegurar
a organização dos sistemas regionalizados, bem como a universalidade, equidade
e integralidade no atendimento às urgências clínicas, cirúrgicas, gineco-
obstétricas, psiquiátricas, pediátricas e relacionadas às causas externas (BRASIL,
2009, p.256).

De acordo com Dallari et al. (2009), a atenção em urgência, o aumento do número


de acidentes, a violência urbana e a insuficiente estruturação da rede de serviços
de saúde têm contribuído significativamente para a sobrecarga dos hospitais.
Reconhecer essa realidade em nosso meio é de extrema importância para
evidenciar a necessidade de reestruturação do atual sistema de saúde, com vistas
à consolidação dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS).

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO
SETOR DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
Nos serviços hospitalares de atenção à urgência e emergência, a atuação do
enfermeiro é essencial e envolve múltiplas responsabilidades, sendo indispensável
para a gerência do cuidado a pacientes com necessidades complexas. Esses
pacientes requerem um cuidado aprimorado, que abrange conhecimento
científico, habilidades tecnológicas e uma abordagem humanizada que se estende
também aos familiares, os quais são impactados pela situação inesperada e
delicada que coloca em risco a vida de um ente querido. Dessa forma, é
fundamental analisar minuciosamente a organização desses serviços.

4
De acordo com o Conselho Regional de Enfermagem (2013), ao enfermeiro cabe a
direção do serviço de enfermagem em instituições de saúde e ensino, tanto
públicas quanto privadas. Além disso, o enfermeiro desempenha atividades de
gestão, como o planejamento da assistência de enfermagem, consultoria,
auditoria, consulta de enfermagem, prescrição de cuidados de enfermagem,
atendimento direto a pacientes em risco de morte e outras atividades de maior
complexidade técnica.

Na unidade de emergência, o enfermeiro desempenha um papel crucial conforme


descrito por Galvão & Wehbe (apud Fincke, 2011). Ele é responsável por obter a
história do paciente, realizar o exame físico, executar tratamentos e fornecer
aconselhamento e ensinamentos para a manutenção da saúde, orientando os
pacientes em relação à continuidade do tratamento e medidas vitais. Além disso, o
enfermeiro assume a coordenação da equipe de enfermagem, sendo uma parte
vital e integrante da equipe de emergência.

É essencial que os enfermeiros que atuam nessa unidade possuam


fundamentação teórica sólida, bem como habilidades de liderança, discernimento,
iniciativa, capacidade de ensino, maturidade e estabilidade emocional (GOMES,
1994, p. 2). Por isso, é imperativa a constante atualização desses profissionais, de
modo que desenvolvam habilidades em conjunto com a equipe médica e de
enfermagem para atuar de forma objetiva e sincrônica em situações inesperadas e
desafiadoras.

O enfermeiro da unidade de emergência deve possuir amplo conhecimento


científico, prático e técnico para tomar decisões rápidas e precisas, transmitindo
segurança a toda a equipe e, principalmente, diminuindo os riscos que ameaçam a
vida dos pacientes.

Dentre as atividades assistenciais exercidas pelo enfermeiro no setor de


emergência, as principais são definidas por Galvão & Wehbe (2006) como:

a) Fornecer cuidados ao paciente em conjunto com o médico;


b) Preparar e administrar medicamentos;
c) Realizar a coleta para a realização de exames especiais;
d) Realizar a instalação de sondas nasoenterais e vesicais em clientes;
e) Realizar procedimentos como troca de traqueostomia, punção venosa com
cateter, punção arterial, entre outros;
f) Realizar curativos de maior complexidade;

5
g) Auxiliar a equipe médica na execução de procedimentos diversos, dispondo
instrumentos para intubação, aspiração, monitoramento cardíaco e desfibrilação;
h) Aferir sinais vitais;
i) Realizar a sistematização da assistência de enfermagem e evolução dos
pacientes, fazendo anotações nos prontuários;
j) Fiscalizar as ações dos profissionais da equipe de enfermagem;
k) Conferir os materiais permanentes e psicotrópicos do setor;
l) Priorizar o atendimento aos pacientes dependendo do grau de complexidade;
m) Fazer relatos em livro de ordens e ocorrências;
n) Liderar a equipe de enfermagem no atendimento de pacientes críticos e não
críticos;
o) Observar as deficiências da equipe e promover a educação continuada.

De acordo com Thompson (apud Galvão & Wehbe, 2006, p. 01), a Associação
Americana de Enfermagem (ANA), em 1983, estabeleceu os "Padrões da Prática
de Enfermagem em Emergência", classificando os enfermeiros de emergência em
três níveis de competência: a) Primeiro nível - requer competência mínima para o
enfermeiro prestar atendimento ao paciente traumatizado; b) Segundo nível - o
profissional necessita de formação específica em enfermagem de emergência; c)
Terceiro nível - o enfermeiro deve ser especialista em uma área bem delimitada e
atuar no âmbito pré e intrahospitalar.

O SETOR DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA:


IMPORTÂNCIA DA ESTRUTURA FÍSICA E
DA CLASSIFICAÇÃO DE RISCO
De acordo com Costa, Araújo e Barros (2008), o setor de urgência e emergência
deve ser um local adequado, permitindo o livre movimento da equipe de trabalho,
com espaços físicos apropriados para garantir eficácia no atendimento, sempre
considerando a privacidade do usuário. É essencial que esse espaço ofereça a
infraestrutura necessária para a realização de procedimentos de forma adequada,
minimizando a ocorrência de acidentes.

No entanto, Silva, Matsuda e Waidman (2012) apontam que, frequentemente, na


construção de hospitais, as necessidades estruturais dos usuários e trabalhadores
não são devidamente previstas. Isso acarreta problemas que só são evidenciados
após a conclusão da obra e a implementação das rotinas diárias.

6
A importância do ambiente físico é ainda mais evidente quando se considera a
situação emocional dos usuários que chegam à unidade de urgência. Ao
procurarem atendimento, eles estão angustiados e em dor, tornando crucial que o
espaço físico não cause desconforto adicional devido a inadequações estruturais
(Silva, Matsuda e Waidman, 2012).

O enfermeiro desempenha um papel fundamental como líder e gerente nessas


unidades, sendo responsável por conectar as atividades dos profissionais com a
estrutura física. Essa integração é essencial para o planejamento de um ambiente
seguro e confortável para todos (KURCGANT, 2008).

Para garantir um padrão adequado, a disposição do setor de urgência nas


unidades hospitalares deve seguir as normas da Resolução - RDC nº 50, de 21 de
fevereiro de 2002, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que
estabelece os requisitos mínimos (BRASIL, 2002).

Esses requisitos incluem a área externa para desembarque de ambulâncias, salas


para triagem médica e/ou de enfermagem, serviço social, higienização,
suturas/curativos, reidratação, inalação, aplicação de medicamentos, gesso e
redução de fraturas, exames, observação, posto de enfermagem, serviços,
isolamento, procedimentos especiais (invasivos), emergências, consultórios
médicos, sanitários para pacientes e acompanhantes, sanitários para funcionários,
sala administrativa e depósito de material de limpeza.

SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCO


O processo de classificação de risco, segundo Servin et al. (s.d), é essencial para
identificar os pacientes que buscam atendimento em unidades de saúde, como
Unidades de Pronto Atendimento, a fim de oferecer cuidados médicos e de
enfermagem para restabelecer sua saúde.

Esse processo eficiente requer a combinação de fatores importantes, como a


escuta qualificada, a tomada de decisão baseada em protocolos e a experiência
do profissional, juntamente com sua capacidade de julgamento crítico.

O Ministério da Saúde (BRASIL, 2009) destaca que a classificação de risco é uma


ferramenta para organizar a fila de espera, garantindo atendimento imediato aos
usuários com maior grau de risco.

7
A ordem de atendimento baseia-se nas queixas apresentadas pelos pacientes e
na avaliação clínica realizada no momento da consulta de enfermagem, em vez de
seguir a ordem de chegada (BRASIL, s.d).

A implementação do Sistema de Classificação de Risco (SCR) nos setores de


urgência e emergência tornou-se indispensável na admissão do paciente,
permitindo agilidade no atendimento dos casos mais críticos. Isso evita a
deterioração do quadro clínico e, em muitos casos, previne óbitos precoces.

É importante destacar que o processo de classificação deve ser contínuo, uma


vez que um paciente inicialmente classificado com um quadro menos crítico pode
rapidamente evoluir para um estado grave. Portanto, a avaliação contínua é
essencial para garantir uma intervenção adequada em todos os casos.

TRIAGEM: OTIMIZANDO A
PRIORIZAÇÃO NO ATENDIMENTO DE
EMERGÊNCIA
A prática da triagem foi implementada nos Serviços de Emergência (SE) como uma
medida para mitigar a superlotação e proporcionar cuidados imediatos aos
pacientes com maior urgência (HAY et al apud ALBINO, GROSSEMAN,
RIGGENBACH, 2007).

Albino, Grosseman & Riggenbach (2007) definem a Triagem (originária do francês


trier = classificar) como um processo sistemático para determinar a ordem de
atendimento, com o objetivo de reduzir a morbimortalidade dos pacientes no SE.

A implantação do Sistema Estruturado de Triagem (SET), de acordo com Brasil


(2011), envolve a disponibilidade de uma estrutura física, profissional e tecnológica
nos serviços, dispositivos e hospitais que atendem urgências e emergências. Esse
sistema permite a triagem dos pacientes segundo um modelo de qualidade
avaliável e continuamente passível de melhoria (p. 6).

A triagem estruturada foi inicialmente adotada nos departamentos de Emergência


da Austrália e atualmente é aplicada em praticamente todas as emergências
hospitalares do primeiro mundo (JELINK; ZIMMERMANN; TRAVERS et al apud
ALBINO, GROSSEMAN & RIGGENBACH, 2007).

8
Seu propósito é otimizar a alocação eficiente de recursos quando estes são
insuficientes para tratar todos os pacientes imediatamente, focando na resolução
imediata dos problemas em detrimento da criação de vínculos durante o
atendimento.

A triagem pode ser classificada em dois tipos principais: simples e avançada.

Triagem Simples Triagem Avançada

Utilizada para desviar recursos de


pacientes com poucas hipóteses de
Habitualmente utilizada no local de
sobrevivência, aumentando a
um acidente ou de desastre com
possibilidade de outros com maior
várias vítimas, categorizando os
taxa de sobrevida. A triagem
que necessitam de atenção crítica e
avançada tem implicações éticas,
transporte imediato daqueles com
uma vez que o tratamento é
lesões mais brandas.
intencionalmente retirado de
determinados pacientes.

Segundo Garcia et al (apud por Albino, Grosseman & Riggenbach, 2007), existem
atualmente cinco modelos de escalas de triagem estruturada em uso:

a) NTS – National Triage Scale (Austrália);


b) CTAS – Canadian Emergency Department Triage and Acuity Scale (Canadá);
c) MTS – Manchester Triage System (Reino Unido);
d) ESI – Emergency Severity Index (EUA); e
e) MAT – Model Andorra de Triajte (Espanha).

No contexto das unidades de urgência e emergência do Brasil, o MTS –


Manchester Triage System é o modelo mais frequentemente utilizado, o qual será
explorado mais detalhadamente ao longo do capítulo.

9
ACOLHIMENTO
O acolhimento é uma abordagem tecnológica que visa garantir o acesso dos
usuários, com o propósito de ouvi-los, resolver problemas simples ou encaminhá-
los para serviços de referência, quando necessário (CARVALHO & CAMPOS, 2000,
p.16).

O profissional enfermeiro desempenha o papel de observar o paciente de forma


integral, considerando não apenas suas queixas patológicas, mas também os
sinais subjetivos que possam estar presentes e precisam ser descobertos. Isso
acontece por meio de uma avaliação profunda e de uma escuta ativa, que são
partes essenciais do processo de acolhimento.

O acolhimento é uma ação técnico-assistencial que possibilita a análise do


processo de trabalho em saúde, enfocando as relações e pressupondo a mudança
nas relações entre profissionais e usuários, bem como entre profissionais, com
base em parâmetros técnicos, éticos, humanitários e de solidariedade. Isso leva
ao reconhecimento do usuário como sujeito ativo no processo de produção da
saúde (BRASIL, 2010, p.18).

Para que o acolhimento seja eficaz, é necessário que toda a equipe participe,
trabalhando de forma humanizada e transmitindo segurança e confiança ao
paciente durante o momento da doença. Isso promove uma verdadeira relação
entre os envolvidos (paciente e profissional) (SCHIMITH & LIMA, 2004).

O acolhimento não é apenas um espaço físico, mas uma postura ética que
demanda compartilhamento de saberes, angústias e inovações. Quem acolhe
assume a responsabilidade de abrigar e agasalhar o outro em suas demandas,
buscando soluções adequadas para cada caso (BRASIL, 2009, p.17).

Ao promover o acolhimento, cria-se um vínculo entre o profissional e o usuário,


estreitando sua relação. Isso permite que a assistência deixe de ser centrada
exclusivamente no médico, passando a ser realizada por uma equipe
multiprofissional, na qual o enfermeiro desempenha um papel fundamental no
processo de acolhimento.

O SUS tem como princípios doutrinários a universalidade, equidade e


integralidade, o que significa garantir acesso universal à saúde, atendimento de
acordo com as necessidades individuais e uma visão integral do indivíduo como
um todo (BRASIL, 1990).

10
A humanização do atendimento é um requisito essencial do SUS, e o acolhimento
é uma parte central desse processo, pois permite que o paciente seja tratado de
maneira integral e suas necessidades sejam devidamente ouvidas e atendidas,
utilizando os recursos disponíveis pelo sistema (BRASIL, 1990).

O acolhimento, como postura e prática nas ações de atenção e gestão, promove


uma relação de confiança e compromisso entre equipes e serviços (BRASIL,
2009).

A definição de acolhimento envolve uma ação de aproximação, um "estar com" e


um "estar perto", ou seja, uma atitude de inclusão (BRASIL, 2010).

No processo de acolhimento, é fundamental incluir o usuário independentemente


de sua queixa, seja ela subjetiva ou não, demandando atendimento imediato ou
não. Negar atendimento não é uma opção; nesses casos, é necessário encaminhar
o paciente para outros serviços e orientá-lo adequadamente.

Classificação de Risco no acolhimento:

A superlotação nas unidades de urgências e emergências no país tem levado a


longos tempos de espera para o atendimento, resultando em uma significativa
piora no estado dos pacientes. Para melhorar a qualidade do atendimento, o
Ministério da Saúde emitiu a Portaria n° 2048, de 5 de novembro de 2002, que
normatiza, organiza e regulamenta os serviços de urgência e emergência,
incluindo o Sistema de Classificação de Risco.

O sistema de classificação de risco busca otimizar o atendimento ao usuário,


priorizando-o de acordo com a complexidade do seu caso, em vez da ordem de
chegada à unidade. Essa abordagem visa evitar agravamentos no quadro clínico
do paciente (COFEN, 2012).

A classificação de risco é realizada por profissionais de nível superior, com


destaque para o profissional enfermeiro, que deve possuir conhecimentos
técnicos e científicos para executar a classificação corretamente. É um processo
de identificação dos pacientes que necessitam de intervenção médica e de
cuidados de enfermagem, com base no potencial de risco, agravos à saúde ou
grau de sofrimento (SERVIN et al., s.d., p.6).

O profissional enfermeiro tem se capacitado para realizar essa função,


participando de treinamentos direcionados ao sistema de classificação de risco,
visando tornar o atendimento mais ágil (COFEN, 2011).

11
O objetivo é proporcionar um tratamento humanizado ao paciente, explicando-lhe
o motivo pelo qual pode não ser atendido imediatamente, mas garantindo que
suas necessidades serão atendidas conforme a avaliação de risco.

O Protocolo de Classificação de Risco é uma ferramenta de inclusão, destinada a


organizar e garantir o atendimento a todos de acordo com suas necessidades,
não visando negar atendimento médico (COFEN, 2011, p.3). Ele estabelece tempos
de espera e prioridades para cada classificação de agravo, com base em
protocolos, e deve ser revisado periodicamente para assegurar que os prazos
estejam sendo cumpridos e que o atendimento seja adequado (BRASIL, 2009).

O sistema de classificação de risco tem como foco a melhoria do atendimento ao


paciente, garantindo que ele seja atendido conforme suas necessidades, evitando
agravamentos em seu quadro clínico. O processo de RAC (Recepção, Acolhimento
e Classificação) deve ser dinâmico e contínuo, proporcionando apoio emocional e
segurança ao usuário e seus familiares. Informações claras sobre o tempo de
espera e o encaminhamento de cada paciente geram confiança no sistema
(ALBINO, GROSSEMAN & RIGGENBACH, 2007, p.71).

A enfermagem tem a competência para realizar o acolhimento e a classificação de


risco em qualquer unidade de saúde, incluindo o atendimento hospitalar e pré-
hospitalar na urgência ou na atenção básica (COFEN, 2015, p.9). Essa função é
reservada a profissionais de nível superior, destacando o papel do enfermeiro na
equipe de enfermagem.

Com o acolhimento e a classificação de risco, o atendimento passou a ser mais


organizado, ágil e humanizado, envolvendo uma equipe multiprofissional e
interdisciplinar para elevar a qualidade da assistência prestada, resultando em
maior satisfação do usuário com o serviço recebido.

A superlotação nas unidades de urgências e emergências é um problema cultural


que pode ser mitigado por meio do acolhimento e da classificação de risco,
garantindo atendimento de acordo com a necessidade de cada paciente (BRASIL,
2009).

O sistema de classificação de risco, além de priorizar o atendimento conforme a


gravidade, tem o objetivo de organizar e garantir o atendimento a todos os
usuários, segundo suas necessidades (COFEN, 2011, p.3). A implementação de
protocolos permite observar o tempo de espera e fazer as intervenções
necessárias, assegurando que os pacientes sejam atendidos adequadamente.

12
PROTOCOLO DE MANCHESTER: A
OTIMIZAÇÃO DA TRIAGEM MÉDICA
O Sistema de Triagem Manchester (STM) surgiu em Manchester, Inglaterra, no
ano de 1997, com o objetivo de estabelecer um tempo de espera adequado para
atendimento médico em unidades de urgência e emergência. Ao longo dos anos,
sua eficácia e reconhecimento internacional levaram à sua adoção em outros
países europeus, incluindo Espanha, Holanda e diferentes regiões do Reino Unido.

A ampla aceitação do STM está embasada em suas vantagens, destacando-se


sua confiabilidade e validade, o que possibilitou sua bem-sucedida implementação
em diversos sistemas de saúde (ALBINO, GROSSEMAN & RIGGENBACH, 2010,
p.1). No Brasil, o protocolo foi introduzido em 2008, como parte da política de
saúde do estado de Minas Gerais, e recebeu um impulso adicional através do
Plano Nacional de Humanização, que estimulou sua adoção nos sistemas de
urgência do país.

Para assegurar a manutenção de um padrão internacional, bem como promover


ajustes, revisões e auditorias do STM, foi formado o Grupo Brasileiro de
Classificação de Risco. Graças a essa iniciativa, a implementação do Protocolo de
Manchester tem se fortalecido, estendendo-se para outras unidades de
emergência em diferentes estados brasileiros (GRUPO BRASILEIRO DE
CLASSIFICAÇÃO DE RISCO, 2010).

De acordo com Albino, Grosseman e Riggenbach (2010), assim como em outras


escalas de triagem, o STM possui cinco categorias ou níveis, cada um atribuído a
uma cor e um tempo-alvo desejável até o primeiro atendimento médico, conforme
ilustrado abaixo:

13
O Sistema de Triagem de Manchester (STM) reconhece a possibilidade de
agravamento do quadro clínico do paciente enquanto aguarda avaliação médica,
razão pela qual a prioridade de atendimento pode ser reavaliada por uma segunda
análise. A definição dessa prioridade é baseada na queixa apresentada pelo
paciente, seguindo 52 fluxogramas para os diversos problemas médicos. Esses
fluxogramas consistem em discriminadores, classificados como gerais e
específicos. (GRUPO BRASILEIRO DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCO, 2010)

Os discriminadores são sinais e sintomas que diferenciam as possíveis


prioridades, estabelecendo a ordem de atendimento com base em suas
gravidades. Os discriminadores gerais são aplicáveis a todos os pacientes,
independentemente de suas condições clínicas, como risco iminente de morte,
dor, presença de hemorragia, estado de consciência e temperatura. Já os
discriminadores específicos são aplicados individualmente, relacionados às
características clínicas apresentadas pelo paciente. (COUTINHO, CECILIO, MOTA,
2012, p.188)

Coutinho, Cecílio e Mota (2012) enfatizam que a triagem por meio do STM é um
processo dinâmico, podendo ser necessário reavaliar a prioridade clínica durante
o tempo de espera pelo atendimento médico, independentemente da gravidade
pré-estabelecida pelos fluxogramas.

14
A implementação do Protocolo de Manchester otimiza o atendimento, pois em
questões de saúde, o tempo pode significar a diferença entre salvar uma vida e
perder um paciente. O sistema proporciona uma organização adequada das
prioridades, permitindo encaminhar pacientes para outras unidades médicas
próximas e compartilhar a demanda, o que reduz o risco clínico. (GRUPO
BRASILEIRO DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCO, 2010, p.1)

A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO
NA CLASSIFICAÇÃO DE RISCO
E ACOLHIMENTO
O enfermeiro desempenha um papel crucial no acolhimento e classificação de
risco, indo além dos conhecimentos técnicos e científicos para abranger
habilidades de liderança e senso crítico no cuidado. No Brasil, sua atuação nessa
área é regulamentada pelas portarias do Ministério da Saúde que regem os
serviços de urgência e emergência.

Nos serviços hospitalares de atenção à urgência e emergência, o enfermeiro


enfrenta desafios específicos ao gerenciar o cuidado de pacientes com
necessidades complexas, que requerem expertise científica, uso de tecnologias e
humanização estendida aos familiares diante do impacto emocional de situações
de risco de vida para um ente querido.

No âmbito do protocolo de Manchester, o enfermeiro é responsável pelo


acolhimento e classificação dos pacientes, bem como pela atribuição correta das
prioridades e reconhecimento de riscos de deterioração do estado dos pacientes.
Dentro do processo de gerenciamento, o enfermeiro destaca-se por dominar
métodos como planejamento, tomada de decisão, supervisão e auditoria, sendo
essencial para a viabilização da classificação de risco. Guias e protocolos clínicos
também são utilizados para embasar e qualificar as decisões do enfermeiro.

Além das atividades de classificação de risco, o enfermeiro também desempenha


funções como prestação dos primeiros atendimentos em casos de reanimação,
administração de medicamentos de acordo com os protocolos de cada hospital,
fornecimento de informações sobre encaminhamentos, direcionamento para
especialidades e administração da sala de espera.

15
De acordo com a resolução COFEN (2009), a classificação de risco e priorização
da assistência em serviços de urgência e emergência são atribuições exclusivas
do enfermeiro dentro da equipe de enfermagem.

A atuação do enfermeiro em emergências requer capacitação específica, bem


como autocontrole e disposição para lidar com os usuários nessa situação. Sua
função tem se destacado pela autonomia nas decisões, avaliação cuidadosa e
foco no acolhimento e satisfação do usuário, garantindo assistência resolutiva e
bem-estar tanto da equipe quanto do paciente.

O uso de protocolos contribui para aumentar a resolutividade do enfermeiro na


assistência, otimizando o tempo e rendimento de trabalho e possibilitando uma
avaliação clínica completa.

O enfermeiro exerce sua autonomia plena durante a assistência, sendo


responsável por avaliar o processo de trabalho e tomar decisões embasadas.
Nesse contexto, a classificação de risco também é influenciada por aspectos
sociais e pelo contexto de vida do usuário.

O enfermeiro que atua na triagem possui formação enfatizada na valorização das


necessidades do paciente, considerando tanto as questões biológicas quanto as
sociais e psicológicas. A avaliação deve ser contínua, com planejamento e
reavaliações dos usuários ao longo do período de espera.

Assim, fica evidente que o enfermeiro desempenha um papel fundamental como


primeiro contato da equipe de emergência com o paciente, orientando e coletando
informações essenciais para realizar a classificação de risco de forma precisa e
cuidadosa.

16
REFLEXÕES E SUGESTÕES PARA
IMPLEMENTAÇÃO DO ACOLHIMENTO E
CLASSIFICAÇÃO DE RISCO NOS
SERVIÇOS DE URGÊNCIA
Considerando a relevância do acolhimento com Classificação de Risco como uma
ferramenta para aprimorar a qualidade dos serviços de urgência e sua importância
na construção de redes de atenção, propomos algumas etapas para a
implementação desse processo no sistema de Urgência do SUS. Essas etapas
visam favorecer a participação e o envolvimento dos gestores, trabalhadores e
usuários, garantindo maior legitimidade e continuidade ao processo.

Sensibilização Ampliada: Recomendamos realizar encontros abertos e


abrangentes, envolvendo gestores, gerentes, chefes, dirigentes, profissionais
e usuários dos sistemas de urgência, emergência e atenção hospitalar em
todos os níveis de atenção e gestão. Esses encontros visam construir a
adesão ao acolhimento com Classificação de Risco e à construção de redes de
atenção.
Oficinas de Trabalho: Promover oficinas direcionadas aos profissionais
envolvidos diretamente com o serviço de urgência nas unidades hospitalares e
não hospitalares. Nessas oficinas, será discutida a implementação do
acolhimento com Classificação de Risco, buscando a compreensão dos
princípios e diretrizes do SUS, a reflexão sobre o processo de trabalho e o
trabalho em equipe, e a apropriação das tecnologias de classificação de risco.
Capacitação Específica: Realizar capacitação específica para a equipe de
enfermagem na utilização do protocolo de classificação de risco.
Monitoramento e Avaliação: Estabelecer um acompanhamento sistemático,
monitoramento e avaliação contínua das ações implementadas, buscando
identificar melhorias e realizar correções necessárias ao longo do processo.

Para potencializar a implementação do acolhimento com Classificação de Risco,


sugerimos também as seguintes iniciativas:

Manual de Informações sobre o SUS Local: Criar um "Manual de informações


sobre o SUS Local", atualizado de forma contínua, que sirva de apoio aos
profissionais que orientam os fluxos entre diferentes serviços.

17
Capacitação Técnica Multiprofissional: Proporcionar capacitação técnica,
incluindo suporte básico e avançado de vida, para todos os profissionais que
atuam na urgência, inclusive aqueles que não são da área da saúde, como
assistentes sociais, administrativos e porteiros.

Nas oficinas de trabalho nas unidades de atendimento às urgências, os seguintes


objetivos devem ser contemplados:
Compreender a articulação entre o acolhimento com classificação de risco e
os princípios do SUS.
Refletir sobre a organização do processo de trabalho e o trabalho em equipe.
Compreender o conceito de acolhimento nas dimensões relacional, técnica,
clínica e de cidadania.
Promover a apropriação das tecnologias de classificação de risco.
Elaborar propostas para a implementação do acolhimento com classificação de
risco e para a construção de redes que garantam a continuidade do cuidado
em saúde.
Envolver as equipes e gerentes dos serviços em uma reflexão crítica sobre
suas práticas.

Para atingir esses objetivos, é fundamental a formação de grupos


multiprofissionais com a participação de profissionais que atuam diretamente na
área de urgência, gestores, técnicos e profissionais de outras áreas relacionadas.
Além disso, é importante criar estratégias de mobilização, como rodas de
conversa em diferentes horários, para coletivizar a análise e a produção de
estratégias conjuntas de enfrentamento dos problemas.

A seguir, listamos algumas questões que devem ser consideradas e analisadas


pelo grupo durante as rodas de conversa:

Acesso e Demanda:
Como acontece o acesso do usuário ao atendimento no serviço?
Quem procura o serviço e como são feitos os encaminhamentos?
Quais critérios são adotados para a organização da atenção ao usuário?

Fluxos e Critérios de Atendimento:


Como o usuário é recebido na unidade e como se dá o acolhimento?
Quem define quem será atendido e quais são os critérios?
Que tipos de casos são considerados prioritários e como é a resolutividade do
serviço?

18
Relações de Trabalho e Ambiência:
Como são compostas as equipes de atendimento na unidade?
Existe trabalho em equipe multiprofissional e quais as dificuldades
encontradas?
Como são as relações de trabalho entre a equipe e os usuários/familiares?
Existem espaços de discussão entre gerentes e trabalhadores sobre os
processos de trabalho?
Qual é a participação dos trabalhadores e usuários nas mudanças do espaço
de trabalho?
Como é a ambiência do serviço e sua contribuição para o acolhimento?

Relações com Outros Serviços:


Quais são as responsabilidades das portas de urgência no SUS na região?
Como o serviço de urgência se relaciona com outros serviços do sistema de
saúde?
Como é feito o encaminhamento dos casos não atendidos e como funciona a
articulação com a rede de serviços de saúde?

Essas questões e reflexões podem guiar a implementação efetiva do acolhimento


com Classificação de Risco nos serviços de urgência, visando sempre aprimorar a
qualidade do atendimento e garantir o cuidado adequado aos usuários que
buscam assistência nesses momentos delicados.

19
REFERÊNCIAS
FARIA, FAB; SILVA, NF; GUEDES, MVC. Acolhimento com Classificação de Risco
em serviços de urgência: desafios para a integralidade do cuidado. Texto &
Contexto - Enfermagem, Florianópolis, v. 20, n. 1, p. 52-59, jan-mar. 2011.
GONÇALVES, CGO; FÁVERO, N. Acolhimento com classificação de risco na visão
de usuários de um serviço de urgência. Revista Latino-Americana de Enfermagem,
Ribeirão Preto, v. 17, n. 6, p. 992-997, nov-dez. 2009.
HOLLANDA, R et al. Classificação de risco e tempo de espera no atendimento de
emergência: análise da satisfação dos usuários. Revista Latino-Americana de
Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 24, e3181, 2016.
LOPES, RB et al. A utilização do protocolo de Manchester na triagem de pacientes
em unidades de emergência. Revista de Enfermagem Referência, Coimbra, v. 5, n.
5, p. 119-127, nov. 2011.
MARTINS, R. de A; OLIVEIRA, SR. Classificação de risco em uma unidade de
emergência: percepção dos profissionais de saúde. Revista Eletrônica de
Enfermagem, Goiânia, v. 16, n. 2, p. 264-270, abr-jun. 2014.
PAULA, MA; BARATTO, DM; CASSINI, MF. O acolhimento com classificação de
risco no contexto hospitalar. Revista Eletrônica de Enfermagem, Goiânia, v. 10, n.
1, p. 97-105, jan. 2008.
REIS, EL; MIRANDA, FC. Acolhimento com classificação de risco no serviço de
emergência: percepção dos profissionais. Revista de Enfermagem UFPE On Line,
Recife, v. 6, n. 10, p. 2443-2449, out. 2012.
SILVA, R de S et al. Acolhimento com classificação de risco no pronto atendimento
de adultos: percepção de profissionais e usuários. Revista de Enfermagem UFPE
On Line, Recife, v. 9, n. 3, p. 6261-6270, mar. 2015.
SOUZA, CC et al. Classificação de risco em serviços de urgência e emergência:
percepções de profissionais de saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.
17, n. 7, p. 1903-1912, jul. 2012.
TAVARES, TS et al. Percepções dos profissionais de saúde sobre o acolhimento
com classificação de risco em um serviço de urgência e emergência. Revista
Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 66, n. 6, p. 896-901, nov-dez. 2013.

20
OBRIGADO POR ESTUDAR CONOSCO!

NÃO ESQUECE DE REALIZAR A SUA AVALIAÇÃO


PARA OBTER O SEU CERTIFICADO, TÁ?

WWW.INEVES.COM.BR

Você também pode gostar