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Revista de Fisioterapia 67 (2021) 5–11

Página inicial do jornal:www.elsevier.com/locate/jphys

Revisão Tópica Convidada

Tratamento fisioterapêutico da dor no pescoço

Arianne P Verhagen
Disciplina de Fisioterapia, Escola de Pós-Graduação em Saúde, University of Technology Sydney, Sydney, Austrália

PALAVRAS-CHAVE

Dor de pescoço [Verhagen AP (2021) Tratamento fisioterapêutico da dor cervical.Revista de Fisioterapia67:5–11] © 2020 Associação
Fisioterapia Australiana de Fisioterapia. Publicado por Elsevier BV Este é um artigo de acesso aberto sob
Revisão da literatura
a licença CC BY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).

Introdução
Dor no pescoço é definida como dor no pescoço com ou sem dor
referida em um ou ambos os membros superiores que dura pelo menos 1
dia.1,2Em 2008, a Força-Tarefa sobre Dor Cervical definiu a região anatômica
da dor cervical (figura 1).3Esta definição anatômica foi desenvolvida com
base no consenso porque a Força-Tarefa encontrou mais de 300 definições
de casos para dor cervical. Pessoas com dor no pescoço também podem ter
dor de cabeça ou dor no ombro, mas a dor no pescoço é a queixa principal.
Categorização
Em 2008, a Força-Tarefa sobre Dor no Pescoço propôs uma classificação
de pessoas com dor no pescoço em quatro categorias.3Esta classificação é
baseada na classificação de chicotada da Força-Tarefa de Quebec.4A única
diferença entre as duas classificações é que a Força-Tarefa de Quebec
também definiu um Grau 0, o que significa que houve trauma presente, mas
sem dor. Na classificação da Task Force on Neck Pain, a dor cervical de Grau
I a III é considerada como dor cervical inespecífica (tabela 1).3A dor cervical
de grau I e II distingue-se pela quantidade de interferência nas atividades da
vida diária. Uma pessoa com dor cervical grau III (também chamada de
radiculopatia cervical) também apresenta sinais neurológicos objetivos
(como diminuição dos reflexos tendinosos profundos, fraqueza ou déficits
sensoriais) e resultados positivos nos testes de provocação e redução.
Pessoas com dor cervical de grau IV sofrem de patologias graves, e este
grau corresponde a dores cervicais específicas.
Em 2017, o estudo Global Burden of Disease calculou que a dor cervical
tinha: uma prevalência pontual padronizada por idade de 3.551/100.000
pessoas, com um intervalo de incerteza (IU) de 95% de 3.140 a 3.978; e
incidência anual de 807/100.000 pessoas (95% UI 714 a 913).2Tanto a
incidência quanto a prevalência de dor cervical aumentaram com a idade e
foram maiores entre as mulheres do que entre os homens. A prevalência de
dor cervical não mudou substancialmente entre 1990 e 2010.2Até 70% das
pessoas podem esperar sentir alguma dor no pescoço durante a vida,
embora na maioria dos casos a dor no pescoço não interfira seriamente nas
atividades diárias e na participação.2,3,5
A incidência de patologia grave (Grau IV) é baixa, até 2% em pacientes
encaminhados,1enquanto a incidência de radiculopatia cervical (Grau III)
varia de 6,3 a 21 por 10.000 pessoas.6Essa ampla variação se deve à variação
nas definições de “sintomas radiantes ou radiculares” usadas na prática e na
pesquisa.6,7Muitas vezes a definição não se limita à “presença de sinais
neurológicos ou défices sensoriais”, mas inclui apenas sintomas irradiados.
De acordo com a Força-Tarefa sobre Dor no Pescoço, esses pacientes não
podem ser considerados como tendo dor no pescoço de Grau III. A grande
maioria dos pacientes apresenta dor cervical de grau I ou II,
frequentemente estimada em . 90% dos pacientes.1
Existem vários fatores que indicam um risco aumentado de desenvolver dor
no pescoço. Os mais importantes destes factores prognósticos são: trauma,
factores relacionados com o trabalho (baixa satisfação no trabalho, fraco apoio no
trabalho percebido, elevados níveis de stress no trabalho), factores psicológicos
(autopercepção de depressão, má saúde psicológica) e tabagismo.8–10
A degeneração do disco cervical não parece ser um fator de risco.8O
peso económico da dor cervical não foi avaliado extensivamente.1,2

Incidência e prevalência

No estudo Global Burden of Disease, das 291 condições estudadas, a dor no
pescoço ficou em 21º lugar em termos de carga geral e em quarto lugar em
termos de incapacidade geral; portanto, a dor cervical é um grave problema de
saúde pública na população em geral.1,2Entre todas as doenças músculo-
esqueléticas, a dor lombar (classificada em primeiro lugar) e a dor cervical
(classificada em quarto lugar) são as mais comuns em todo o mundo. No entanto,
a quantidade de pesquisas envolvendo pessoas com dor lombar supera em muito
a que envolve pessoas com dor no pescoço.2
Diagnóstico e avaliação
O processo diagnóstico na prática fisioterapêutica consiste na
anamnese, exame físico e, se necessário, (encaminhamento para)
diagnóstico por imagem. O objetivo da anamnese é encontrar informações
que informem o prognóstico do paciente e se o paciente pertence a um
subgrupo que justifique uma estratégia de manejo diferente. A tomada de
história leva a uma hipótese inicial, que pode ser

https://doi.org/10.1016/j.jphys.2020.12.005
1836-9553/© 2020 Associação Australiana de Fisioterapia. Publicado por Elsevier BV Este é um artigo de acesso aberto sob a licença CC BY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/
by-nc-nd/4.0/).
6 Verhagen: Tratamento fisioterapêutico da dor no pescoço
Figura 1.Vistas posterior e lateral da região anatômica do pescoço usada na definição de dor cervical da Task Force on Neck Pain.3
confirmado ou excluído por exame físico (ou diagnóstico por imagem). Um
fluxograma do processo de diagnóstico é apresentado emFigura 2.
bandeiras vermelhas
Primeiro, um fisioterapeuta deve descartar patologias graves ou sinais de
alerta. Os sinais de alerta são padrões de sinais ou sintomas (sinais de alerta) que
podem indicar uma patologia grave que requer procedimentos de diagnóstico
médico adicionais.
Os métodos de triagem mais conhecidos para fratura entre pacientes com dor
cervical após trauma são a regra canadense da coluna cervical (C-Spine) e o
National Emergency X-Radiography Utilization Study (NEXUS).11,12Segundo uma
revisão sistemática, a sensibilidade de ambos os métodos é elevada; portanto,
para pacientes com resultado negativo para qualquer um dos métodos de
triagem, a possibilidade de fratura poderia ser excluída com segurança (altaS en
sitividade e umaN regras de teste negativasFora o diagnóstico; SnNOut).11
Nenhum sinal de alerta para malignidade foi avaliado.
Outros testes de triagem conhecidos são testes para instabilidade
cervical superior (ligamento) ou insuficiência da artéria vertebral. O objetivo
desses testes é identificar pacientes com alto risco de complicações graves
ao receberem manipulação da coluna cervical. No entanto, estes métodos
de rastreio foram pouco pesquisados e até à data não foram validados.13,14
Apesar disso, a maioria das diretrizes para terapeutas manuais e
quiropráticos recomenda a realização desses testes de triagem.15,16
Fazendo história
O próximo passo no processo de diagnóstico é observar os fatores
prognósticos e de diferenciação, a fim de fazer uma estimativa do
prognóstico ou subgrupo do paciente, relevante para a estratégia de
tratamento (Figura 2).
tabela 1
Graus de dor cervical definidos pela Força-Tarefa sobre Dor Cervical.3
Nota Explicação
EU Dor cervical e distúrbios associados sem sinais ou sintomas sugestivos de patologia
estrutural importante e nenhuma ou pequena interferência nas atividades da vida
diária
II Sem sinais ou sintomas de patologia estrutural grave, mas com grande interferência
nas atividades da vida diária
III Sem sinais ou sintomas de patologia estrutural importante, mas presença de sinais
neurológicos, como diminuição dos reflexos tendinosos profundos, fraqueza ou déficits
sensoriais na extremidade superior
4 Sinais ou sintomas de patologia estrutural importante, que incluem (mas
não estão limitados a) fratura, luxação vertebral, lesão na medula espinhal,
infecção, neoplasia ou doença sistêmica, incluindo artropatias inflamatórias
Historicamente, os pacientes com dor cervical relacionada a trauma
(anteriormente chamada de lesão cervical ou distúrbio associado à lesão cervical)
são considerados um subgrupo de pacientes com dor cervical. A característica
distintiva é que eles sofreram um trauma (muitas vezes um acidente de carro).
Maior intensidade de dor no início ou na consulta está associada a um pior
prognóstico.17,18
Pacientes com dor cervical relacionada ao trabalho (ou seja, dor cervical devido ao
trabalho que diminui no fim de semana durante os períodos de folga) também são
considerados um subgrupo de pacientes com dor cervical, pois parecem ter um pior
prognóstico.17,19Há uma grande variedade de fatores prognósticos relacionados ao
trabalho que demonstraram estar relacionados a esse pior prognóstico.
Até o momento, não está claro se os pacientes com cefaleia cervicogênica (ou
seja, cefaléia que normalmente se desenvolve após dor cervical e é
frequentemente exacerbada por movimentos do pescoço) são um subgrupo de
pacientes com dor de cabeça ou de pacientes com dor cervical.20–22Infelizmente,
faltam dados sobre prognóstico e fatores prognósticos para este subgrupo.
Na literatura não há consenso quanto à classificação dos pacientes com
ou sem radiculopatia cervical com base nos sintomas e na investigação
neurológica, exceto que os pacientes apresentam dor com irradiação para o
braço, muitas vezes seguindo um padrão radicular.6,7De acordo com a
definição da Task Force on Neck Pain, estes pacientes apresentam sintomas
neurológicos ou défices sensoriais (como perda sensorial ou reflexos
alterados).3Um pequeno estudo mostrou que a perda de sensibilidade e a
dor irradiada para o cotovelo têm alta especificidade e podem, portanto, ser
usadas para diagnosticar (ou descartar) uma radiculopatia cervical (alta SP
eficiencia e umaP regras de teste ositivasEm o diagnóstico; SpPIn).23Ter
sintomas irradiados sem esses sintomas neurológicos e déficits sensoriais é
considerado dor cervical de Grau II. O prognóstico dos pacientes com
radiculopatia cervical é favorável; a maioria dos pacientes se recupera
dentro de 4 a 6 meses.24As categorias discutidas acima (por exemplo, dor
cervical relacionada a trauma, dor de cabeça cervicogênica, dor cervical com
radiculopatia e dor cervical relacionada ao trabalho) são semelhantes às
categorias da diretriz de prática clínica de Blanpied et al (dor cervical com
distúrbios de controle de movimento (incluindo chicotada). -distúrbios
associados), dor cervical com dores de cabeça, dor cervical com dor
irradiada e dor cervical com déficit de mobilidade).22
Exame físico
O exame físico pode consistir em inspeção da postura, palpação,
medição da amplitude de movimento, medição da força muscular,
teste de reflexos, teste de sensação e testes específicos. A escolha de
qual desses procedimentos de exame físico será realizado depende dos
achados da anamnese e de qualquer diagnóstico ou diagnóstico que
esses achados sugiram. O objetivo do exame físico é confirmar ou
descartar esse diagnóstico inicial.
Infelizmente, pouco se sabe sobre o valor diagnóstico do exame
físico geral em pacientes com dor cervical. Há

Dor de pescoço
Fatores prognósticos/diagnósticos
Trauma Trabalhar
Trauma-
Relacionado ao trabalho
relacionado
Figura 2.Fluxograma do processo de diagnóstico.
também não há informações sobre o valor diagnóstico de testes específicos para
diferenciar entre pacientes com dor cervical e pacientes com dor cervical
relacionada a trauma, dor cervical relacionada ao trabalho ou dor de cabeça
cervicogênica. Para confirmar ou descartar o diagnóstico inicial de radiculopatia
cervical, as diretrizes aconselham exames específicos.25Os testes específicos mais
conhecidos são: teste de Spurling, teste de tração, teste de tensão de membros
superiores e teste de abdução de ombro. Vários estudos mostram que o teste de
Spurling e o teste de tração apresentam especificidade relativamente alta. A
especificidade varia de 89 a 100% para o teste de Spurling e de 90 a 97% para o
teste de tração.26,27Portanto, ambos os testes parecem úteis para confirmar a
hipótese inicial (SpPIn). Por outro lado, o Teste de Tensão de Membros Superiores
pode ser utilizado para descartar radiculopatia cervical devido a uma alta
sensibilidade variando de 87 a 93% (SnNOut).26A reprodutibilidade dos testes
específicos (relatada como valor kappa) varia de 13 a 93%.27Embora o teste
neurológico de dermátomos e miótomos seja recomendado, sua validade
diagnóstica não foi avaliada.
Regras de previsão clínica
Existem muitas regras de predição clínica, embora a maioria delas tenha sido
desenvolvida usando métodos insatisfatórios ou não tenha sido validada.28Uma revisão
sistemática encontrou um total de 99 modelos de predição para dor cervical ou dor
cervical relacionada a trauma, dos quais três eram suficientemente promissores para uso
em fisioterapia e outros ambientes de cuidados primários.28Um dos modelos
promissores foi desenvolvido para pessoas com dores no pescoço e dois especificamente
para pessoas com dores no pescoço relacionadas com traumas.29–31Um fator consistente
relacionado à alta probabilidade de recuperação incluído nos três modelos foi a idade (,
35 anos). A baixa pontuação inicial de incapacidade (≥ 32%, avaliada com o Índice de
Incapacidade do Pescoço) pareceu relevante apenas para os modelos de dor cervical
relacionados ao trauma.28
A ferramenta de triagem de costas Keele Subgroup Targeted Treatment
(STarT) foi desenvolvida inicialmente para pessoas com dor lombar aguda, mas foi
recentemente modificada e validada para pessoas com dor cervical.32Tem como
objetivo estratificar as pessoas com dor cervical em baixo, médio e alto risco para
queixas crônicas, combinado com um tratamento direcionado para cada
categoria, mas a validade preditiva é baixa.
Diagnóstico por imagem
Várias diretrizes recomendam não encaminhar pessoas com dor cervical para
exames de imagem. Apesar disso, o diagnóstico por imagem é por vezes utilizado
para confirmar ou descartar uma patologia específica – na maioria das vezes uma
radiculopatia cervical (hérnia de disco cervical). A sensibilidade e especificidade de
diversas técnicas de imagem variam de 27 a 96%.33A melhor maneira de descartar
uma fratura é por meio de uma tomografia computadorizada (TC), que tem
sensibilidade de 96 a 99%.34Técnicas específicas de ressonância magnética (RM)
parecem ser válidas para o diagnóstico de hérnia de disco cervical, com
sensibilidade e especificidade entre 95 e 97%.35
Revisão Tópica Convidada 7
Bandeiras vermelhas? Referência
Sim
Não
Dor de cabeça Perda sensorial
Irradiando abaixo do cotovelo
Cervicogênico Cervical
Dor de pescoço
dor de cabeça radiculopatia
No entanto, os exames de imagem geralmente são desencorajados, a menos que haja
trauma grave,36principalmente porque o diagnóstico por imagem também produz um
grande número de falsos positivos. Em um estudo com 1.211 participantes relativamente
saudáveis e assintomáticos que receberam diagnóstico por imagem por ressonância
magnética, mais de 87% dos participantes apresentaram um “disco protuberante” e 5,3%
com compressão da medula espinhal.37
Prognóstico e curso
Em 2008, a Task Force on Neck Pain estimou que 50 a 85% das pessoas
com dor cervical não recuperam totalmente, indicando que a dor cervical
tem um carácter episódico e recorrente.8Além disso, uma revisão
sistemática descobriu que, em pessoas com dor cervical aguda, a pontuação
média agrupada da dor diminuiu 45% durante as primeiras 6,5 semanas,
mas depois disso não foi encontrada nenhuma redução adicional na dor.38
Neste estudo, o prognóstico foi calculado com base nas taxas de
recuperação de estudos de coorte e de participantes randomizados para um
braço de controle que não recebeu nenhum tratamento. O prognóstico para
pacientes com radiculopatia cervical é mais favorável do que para pacientes
com dor cervical sem radiculopatia.24
Em geral, vários fatores foram identificados na literatura que provavelmente
estão relacionados a um pior prognóstico: episódios anteriores de dor cervical,
dor lombar concomitante, dores de cabeça concomitantes, problemas de saúde,
fatores psicológicos (como ansiedade, preocupação, frustração e depressão) e
sintomas relacionados com o trabalho (tais como baixa satisfação no trabalho,
elevadas exigências físicas no trabalho e pouca influência na situação de trabalho).
17,19,39Em contraste, a idade mais jovem, um estilo de coping ativo e uma
perspetiva otimista parecem estar relacionados com um prognóstico favorável.17
Tratamento de fisioterapia
A maioria das diretrizes para dor cervical no diagnóstico e tratamento de
pacientes com dor cervical recomenda uma combinação de terapia manual,
exercício e educação como os tratamentos fisioterapêuticos preferidos
baseados em evidências.25,40A massagem pode ser benéfica (evidência
inconsistente) e o tratamento psicológico (comportamental) e o tratamento
multidisciplinar são eficazes em alguns subgrupos de pacientes. Todas as
outras intervenções carecem de uma base de evidências clara.
Educação
A educação é definida como um processo que permite aos indivíduos tomar decisões
informadas sobre o seu comportamento pessoal relacionado com a saúde.41
De acordo com uma revisão Cochrane, a educação do paciente (ou o fornecimento
de informações) é considerada uma parte essencial da comunicação entre o
fisioterapeuta e o paciente.42Infelizmente, essa revisão não conseguiu mostrar
evidências de que a educação seja benéfica no tratamento de pacientes com dor
cervical. Uma revisão sistemática mais recente
8 Verhagen: Tratamento fisioterapêutico da dor no pescoço
concluíram que a educação estruturada do paciente por si só é igualmente
benéfica em comparação com outras intervenções conservadoras para pacientes
com dor cervical com ou sem origem traumática.41As intervenções educativas aos
pacientes avaliadas e recomendadas pelas diretrizes são: tranquilizar os pacientes
de que a dor não é uma condição grave; fornecer informações sobre dor e
prognóstico, incluindo informações de que exames de imagem não são
recomendados; aconselhar para permanecer ativo; e educar sobre autocuidado,
exercícios e habilidades de enfrentamento (do estresse).36,41,42
Exercício
Os exercícios físicos variam amplamente, desde exercícios gerais terrestres ou
aquáticos até exercícios específicos de resistência, força, alongamento ou
McKenzie para o pescoço. A revisão mais recente da Cochrane sobre exercícios
para distúrbios mecânicos do pescoço descobriu que uma ampla variedade de
exercícios foi avaliada, variando de exercícios respiratórios a exercícios de força e
resistência.43,44Nesta revisão, a qualidade da evidência foi categorizada como
muito baixa, baixa, moderada ou boa, de acordo com o sistema Grading of
Recommendations, Assessment, Development and Evaluations (GRADE).45A
revisão concluiu que quando o exercício foi comparado com nenhum tratamento
ou placebo, ou avaliado como um tratamento adicional: exercícios de força,
resistência e estabilização foram benéficos na dor cervical crônica (evidência de
qualidade moderada); apenas exercícios de força e resistência foram benéficos em
cefaleias cervicogênicas crônicas (evidência de qualidade moderada); e houve um
pequeno benefício dos exercícios de alongamento, fortalecimento e estabilização
na radiculopatia cervical aguda (evidência de baixa qualidade). Os tamanhos de
efeito padronizados variaram de 0,3 a 0,7 (IC 95% 0,1 a 1,3), que podem ser
considerados efeitos pequenos a moderados. Não houve estudos que avaliaram
exercícios em pacientes com cervicalgia aguda. Uma recente meta-análise de rede
mostrou que nenhum exercício específico foi considerado superior em pessoas
com dor cervical crônica inespecífica.46
Vários pesquisadores presumiram que alterações no controle motor dos
músculos cervicais profundos contribuem para a origem ou persistência da dor
cervical.47Uma revisão sistemática recente teve como objetivo investigar esta
hipótese e avaliou se os exercícios de controle motor (isto é, exercícios de flexão
craniocervical) são mais eficazes do que nenhuma intervenção para pessoas com
dor cervical crônica. Os autores encontraram benefícios clinicamente relevantes
(tamanhos de efeito padronizados entre 0,33 e 0,58) na dor e na incapacidade.47
Mobilização e manipulação
Os fisioterapeutas costumam oferecer 'terapia manual', com o objetivo de
melhorar o movimento da articulação espinhal e restaurar a amplitude de
movimento. A terapia manual consiste em diversas técnicas, incluindo
mobilizações e manipulações. As mobilizações são definidas como o uso de
técnicas de movimento passivo de baixo grau/velocidade, pequena amplitude ou
grande amplitude dentro da amplitude de movimento do paciente e sob seu
controle. A manipulação é definida como uma força localizada de alta velocidade e
baixa amplitude direcionada a segmentos específicos da coluna cervical ou
torácica próximos ao final da amplitude de movimento do paciente e sem seu
controle.
Uma revisão Cochrane e outra revisão sistemática descobriram que
mobilizações e manipulações cervicais foram igualmente benéficas (evidência de
qualidade moderada) em pacientes com dor cervical inespecífica.48,49De acordo
com a revisão Cochrane, as manipulações cervicais mostram um pequeno efeito
benéfico (evidência de baixa qualidade), mas as manipulações torácicas mostram
um efeito benéfico maior quando comparadas a um tratamento inativo (evidência
de qualidade moderada), indicando que as manipulações torácicas foram mais
benéficas do que as cervicais manipulações.48Uma revisão sistemática mais
recente avaliando a eficácia das manipulações torácicas não pôde confirmar esse
achado com base em dois estudos que compararam diretamente as manipulações
cervicais com as torácicas.50Essa revisão, por outro lado, descobriu que as
manipulações torácicas foram mais benéficas do que as mobilizações e os
cuidados padrão (evidência de qualidade muito baixa), com diferenças médias na
dor em uma escala visual analógica de 100 mm de 14 mm (IC 95% 6 a 22 ) e 13
mm (IC 95% 4 a 22), respectivamente (Figura 3, com um gráfico florestal detalhado
disponível no Apêndice 1 do eAddenda).
Mobilização, manipulação, aconselhamento e exercício
As mobilizações e manipulações raramente são utilizadas como intervenção
unimodal; mais frequentemente são administrados em combinação com
conselhos e/ou exercícios.51–53O tratamento combinado de exercícios e
manipulações parece ser mais eficaz (evidência de qualidade moderada) do que
exercícios isolados para dor imediata, mas não em todos os outros resultados
para pessoas com dor cervical (Figura 4, com um gráfico florestal detalhado
disponível no Apêndice 2 do eAddenda).52Infelizmente, o tamanho do efeito é
pequeno (SMD 0,15, IC 95% 0,00 a 0,30) e provavelmente não há um benefício
clinicamente relevante em adicionar mobilizações ou manipulações aos exercícios.
Massagem
A massoterapia é uma das estratégias de tratamento mais antigas para
dores musculoesqueléticas. Envolve mobilização e manipulação dos tecidos
moles do corpo através do toque.54Existe um amplo espectro de técnicas
que se enquadram no termo genérico de massoterapia. As diferentes
técnicas variam na maneira como o toque é aplicado, bem como na
quantidade de pressão aplicada.54As técnicas de massagem comumente
usadas por fisioterapeutas são conhecidas como massagem ocidental
convencional e foram consideradas benéficas (em um pequeno estudo) no
tratamento de pacientes com dor no pescoço, em comparação com nenhum
tratamento ou placebo.49
Manejo não fisioterapêutico
Medicamento
Pessoas com dor no pescoço podem tomar medicamentos de venda
livre, como paracetamol ou antiinflamatórios não esteróides (AINEs).
Embora os fisioterapeutas não possam prescrever analgésicos, é
importante que eles conheçam as evidências sobre os medicamentos
relevantes para ajudar os pacientes em suas dúvidas.
Uma revisão sistemática recente avaliou a eficácia do paracetamol em
pacientes com distúrbios musculoesqueléticos, mas não identificou nenhum
ensaio avaliando o paracetamol em pacientes com dor cervical.55Existem
alguns ensaios randomizados avaliando AINEs para pacientes com dor
cervical; eles mostraram que os AINEs são melhores que o placebo,56
igualmente eficaz como relaxantes musculares ou acupuntura,57,58mas menos
benéfico do que a manipulação e exercícios da coluna vertebral.59O único estudo
de alta qualidade sobre AINEs em pacientes com dor cervical (sub)aguda (72
pacientes) concluiu que o gel de diclofenaco (um AINE tópico) é mais eficaz que o
placebo na redução da dor.60Esta evidência é apoiada por uma visão geral das
revisões Cochrane em pacientes com dor crônica em uso de AINEs tópicos.60Esta
visão geral concluiu que o diclofenaco tópico foi eficaz com um número necessário
para tratar de 9,8, com base em dados de seis ensaios com 2.343 participantes
(evidência de qualidade moderada). Os AINEs orais também parecem ser eficazes
em pacientes com dor na coluna em comparação com o placebo (MD 16 mm em
uma escala visual analógica de 100 mm, IC 95% 12 a 21), que estava acima do
limite definido a priori de 10 mm para relevância clínica .61
Cirurgia
Pacientes com dor cervical contínua que não responde aos cuidados
conservadores são frequentemente encaminhados para cuidados secundários
para avaliação adicional, com chance de receber injeções de corticosteroides ou
cirurgia.
Nenhuma revisão sistemática avaliou injeções de corticosteroides para
dor cervical, mas existem alguns ensaios randomizados.62–65Todos esses
ensaios avaliaram injeções de corticosteroides em pacientes com
radiculopatia cervical. Apenas um dos estudos comparou a injeção com
intervenções fisioterapêuticas (educação, agentes eletrofísicos, massagem e
exercício).64Neste estudo de três braços, não houve diferenças importantes
no resultado primário (dor no braço) entre injeções isoladas, intervenções
fisioterapêuticas isoladas ou injeções combinadas e fisioterapia.
 Revisão Tópica Convidada 9

Comparação
ADM (IC 95%)
Estudar Aleatório

Manipulação torácica versus qualquer mobilização

Clelândia 2007

Masaracchio 2013

Salom-Moreno 2014

Suvarnato 2013

Agrupados

Manipulação torácica versus mobilização torácica

Clelândia 2007

Salom-Moreno 2014

Suvarnato 2013

Agrupados

– 50 – 25 0 25 50

Favorece o tórax (0 a 100 mm) Favores

manipulação mobilização

Figura 3.Diferença média ponderada no efeito imediato/de curto prazo da manipulação da coluna torácica versus mobilização na intensidade da dor cervical, medida em uma escala visual analógica de
100 mm. A comparação superior agrupa todos os estudos onde a manipulação torácica foi comparada com qualquer mobilização, e a comparação inferior é o subgrupo de três estudos onde a
manipulação torácica foi comparada com a mobilização torácica. Modificado de Masaracchio et al.50

SMD (IC 95%) Uma revisão sistemática incluindo nove estudos controlados não encontrou
Estudar Aleatório diferenças importantes entre cirurgia ou tratamento conservador em pacientes
com dor cervical (evidência de qualidade muito baixa).66Além disso, foram
Ano de 2014 encontradas diferenças muito pequenas nos benefícios e danos entre as diversas
técnicas cirúrgicas, e nenhum benefício adicional foi encontrado ao adicionar
Celenay 2015 fusão às técnicas de descompressão anterior.67,68

Celenay 2016
Pesquisa futura
Dziedzic 2005
A maioria das revisões sistemáticas discutidas acima encontrou: um número
Evans 2012 limitado de estudos sobre a intervenção alvo, estudos com amostras globais
(muito) pequenas, uma elevada proporção de estudos com elevado risco de viés e
Ganesha 2015a marcada heterogeneidade clínica entre os estudos. Estas descobertas dificultam a
obtenção de conclusões firmes e indicam que pesquisas futuras provavelmente
Ganesha 2015b alterarão as conclusões e recomendações atuais.
Em comparação com a dor lombar, com uma carga de doença mais ou menos
Yang 2015
semelhante, a dor cervical é uma condição relativamente pouco estudada e,
portanto, são necessárias mais pesquisas.2Um recente estudo de consenso Delphi
Agrupados
sobre as prioridades de investigação na investigação da dor cervical concluiu que
a principal prioridade de investigação era avaliar a eficácia e a relação custo-
eficácia de todas as principais intervenções.69A segunda prioridade de
investigação mais importante foi avaliar a melhor forma de traduzir os resultados
–2 –1 0 1 2
da investigação na prática clínica. A investigação sobre avaliações diagnósticas foi

Favorece o exercício e Favorece o exercício a prioridade 11 das 15 prioridades.

A pesquisa sobre estratificação de risco poderia ser conduzida usando modelos/
terapia manual terapia
regras de predição clínica, incluindo a avaliação do impacto de tais regras em ensaios de

Figura 4.Diferença média padronizada no efeito imediato da terapia combinada com exercícios e dor cervical com estratificação de risco. Estes estudos aumentam o conhecimento sobre
terapia manual versus terapia com exercícios isoladamente na gravidade da dor cervical. a validade da avaliação diagnóstica e, por exemplo, centram-se em quais pacientes
Modificado de Fredlin et al.52 podem beneficiar de quais estratégias de tratamento.70
10 Verhagen: Tratamento fisioterapêutico da dor no pescoço
Mais pesquisas poderiam avaliar as características ideais e a dose
das intervenções utilizadas com mais frequência. Isso pode ajudar a
reduzir a heterogeneidade entre os estudos.71
O estudo Global Burden of Disease sobre dor no pescoço conclui que:
aumentar a conscientização da população sobre a dor cervical e seus fatores
de risco, bem como a importância da detecção e tratamento precoces, é
necessário para reduzir o fardo futuro desta condição.2
Isto indica uma educação global do paciente/população ou uma campanha nos meios de
comunicação de massa. Uma revisão sistemática recente sobre campanhas nos meios de
comunicação de massa sobre dor lombar sugeriu que essas campanhas poderiam ser eficazes
para mudar as crenças sobre saúde.72
Conclusão
Os fisioterapeutas freqüentemente atendem pacientes com dor cervical na
prática clínica; é um dos quatro distúrbios músculo-esqueléticos que representam
um grande fardo para a sociedade. Estratificar os pacientes em subgrupos ou com
base no seu prognóstico (previsão de recuperação) pode ser útil para orientar as
decisões de manejo da fisioterapia. Terapia manual, exercício e educação –
geralmente em combinação – parecem ser os tratamentos de fisioterapia
baseados em evidências preferidos para a maioria dos pacientes com dor cervical.
No entanto, a maioria das intervenções e estratégias de gestão não se baseiam
em evidências sólidas e as dimensões dos efeitos são pequenas. Os médicos
precisam estar cientes disso e manter-se atualizados sobre as novas descobertas
nas muitas áreas de pesquisa sobre o tratamento da dor cervical.
eAdendos:Os Apêndices 1 e 2 podem ser encontrados online emhttps://doi.
org/10.1016/j.jphys.2020.12.005.
Aprovação ética:Nada.
Interesses competitivos:Nada.
Fonte(s) de apoio:Nada.
Reconhecimentos:Nada.
Proveniência:Convidamos. Revisado por pares.
Correspondência:Arianne P Verhagen, Disciplina de Fisioterapia, Escola
de Pós-Graduação em Saúde, Universidade de Tecnologia de Sydney,
Sydney, Austrália. E-mail:arianne.verhagen@uts.edu.au
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