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00102016 849
ARTIGO ARTICLE
com mais de 18 anos da cidade de Ipatinga, MG, Brasil
Abstract Several studies have identified miscon- Resumo Vários estudos têm identificado con-
ceptions about human papillomavirus (HPV), ceitos errôneos sobre o Papiloma Vírus Humano
which can lead to negligent behavior and risk to (HPV), o que pode propiciar comportamentos ne-
the health of the population. This article aims to gligentes e de risco para a saúde da população. O
assess the knowledge of men and women about objetivo deste artigo é avaliar o conhecimento de
HPV in the city of Ipatinga, Minas Gerais, and homens e mulheres acerca do HPV na população
evaluate socioeconomic factors and preventive do município de Ipatinga-MG, além de avaliar os
measures associated with such knowledge. It in- fatores socioeconômicos e as atitudes preventivas
volved a cross-sectional study with 591 subjects associadas a esse conhecimento. Estudo transver-
living in the city, by means of stratified sampling sal, com 591 indivíduos residentes na cidade de
by quotas proportional to the number of individ- Ipatinga, por meio de amostragem estratificada
uals by sex and age in each of the eight admin- por quotas, proporcional ao número de indivíduos
istrative regions of the city. Pearson’s chi-square por sexo e idade em cada uma das oito regionais
test or the t–Student test and the binary logistic administrativas da cidade. Para avaliar os fato-
regression model were used to assess the factors res associados ao conhecimento sobre HPV foram
associated with knowledge about HPV. Less than utilizados os testes qui-quadrado ou t-Student e
half (40.1%) of the respondents said they knew modelo de regressão logística binária. Menos da
what HPV was. Factors associated with having metade (40,1%) dos entrevistados afirmaram sa-
knowledge about HPV were being female, having ber o que é HPV. Os fatores associados ao relato de
secondary or tertiary education, using the private conhecimento sobre HPV foram: ser do sexo femi-
health service, having heard about or seen a cam- nino, ter nível de escolaridade médio ou superior,
1
Departamento de paign about HPV and knowing of the existence utilizar o serviço de saúde particular, ter ouvido
Enfermagem Aplicada, of a vaccine against HPV. There is a great deficit ou visto alguma campanha sobre HPV e saber da
Escola de Enfermagem,
Universidade Federal de of knowledge about HPV and vague information existência da vacina contra o HPV. Existe gran-
Minas Gerais. Av. Alfredo of what is known, favoring actions with a poten- de déficit de conhecimento sobre o HPV e pouca
Balena 190/336, Santa tial risk to personal health, including that of the qualificação do que se sabe, favorecendo ações com
Efigênia. 31130-100 Belo
Horizonte MG Brasil. partner. risco potencial à saúde, inclusive do parceiro.
merynatali@yahoo.com.br Key words HPV, STD, Knowledge Palavras-chave HPV, DST, Conhecimento
2
Curso de Medicina,
Instituto Metropolitano de
Ensino Superior. Ipatinga
MG Brasil.
850
Abreu MNS et al.
Tabela 1. Caracterização da percepção sobre HPV entre moradores da cidade de Ipatinga (2014).
Frequência Percentual (%)
Você sabe o que é HPV?(n = 591)
Não 354 59,9
Sim 237 40,1
Conhecimento Mínimo sobre HPV (n = 237)
Sim 221 93,25
Não 16 6,75
Por qual meio de comunicação você obteve a maioria das informações
sobre o HPV?(n = 237)
TV 112 47,3
Professores 60 25,3
Internet 57 24,1
Cartaz/folder/folheto 31 13,1
Profissionais de saúde 30 12,7
Amigos 28 11,8
Médicos 24 10,1
Jornal/Revista 22 9,3
Rádio 8 3,4
Outros meios * 25 10,5
Sabe qual a forma de transmissão do HPV? (n = 237)
Não 16 6,8
Sim 221 93,2
Quais? (n = 221)
Relação Sexual 215 97,3
Objetos 31 14,0
Transfusão Sanguínea 26 11,8
Contato com a lesão 22 10,0
Beijo 13 5,9
Materno-fetal 6 2,7
Ar 3 1,4
Outras formas 4 1,8
Quem pode pegar HPV? (n = 237)
Homens 194 81,9
Mulheres 229 96,6
Crianças 97 40,9
Não sabe 8 3,4
* Experiência própria, filho(a), esposa.
A maioria da amostra (52,5%) possuía par- De acordo com a Tabela 3, menos da metade
ceiro, sendo observado dentro deste grupo que dos entrevistados declarou saber da existência de
44,2% possuíam conhecimento sobre o assunto vacina contra o HPV (49,7%). Entretanto, dentre
(valor-p = 0,033). eles, a maioria (56,5%) conhecia sobre o HPV,
Os indivíduos que utilizavam o serviço de enquanto dos que não sabiam a respeito da va-
saúde pública (57,5%) eram a maioria, mas hou- cina, apenas 23,9% relataram conhecer sobre o
ve menor proporção dos que conheciam a respei- vírus (valor-p < 0,001).
to do vírus (31,8%) (valor-p < 0,001). A maior parte dos indivíduos questionados
As médias de idade e número de filhos foram (54,8%) desconhecia campanhas de HPV, mas os
mais elevadas entre os entrevistados que não re- resultados demonstraram que o conhecimento
lataram conhecer sobre HPV, enquanto a média sobre o tema foi maior dentre aqueles que já ha-
da renda foi maior entre aqueles que declararam viam visto ou ouvido alguma campanha relacio-
ter conhecimento sobre o vírus. Essas diferenças nada ao assunto (64,8%) (valor-p < 0,001).
também foram estatisticamente significativas Campanhas sobre DSTs já tinham sido vis-
(valor-p < 0,001). tas ou ouvidas pela maioria das pessoas entre-
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Abreu MNS et al.
Tabela 3. Caracterização dos dados sobre prevenção na amostra total e comparados ao conhecimento relatado
sobre o HPV entre moradores da cidade de Ipatinga no ano de 2014.
Frequência Você sabe o que é HPV?
Valor-p
(%) Não Sim
Existe vacina contra o HPV? < 0,001*
Sim 294(49,7%) 128(43,5%) 166(56,5%)
Não Sabe 297(50,3%) 226(76,1%) 71(23,9%)
Já viu ou ouviu sobre alguma campanha de
< 0,001*
HPV?
Não 324(54,8%) 260(80,2%) 64(19,8%)
Sim 267(45,2%) 94(35,2%) 173(64,8%)
Já viu ou ouviu sobre alguma campanha de
< 0,001*
DST (Doença Sexualmente Transmissível)?
Não 132(22,3%) 101(76,5%) 31(23,5%)
Sim 459(77,7%) 253(55,1%) 206(44,9%)
Usa camisinha nas relações sexuais? 0,698*
Não 302(51,1%) 178(58,9%) 124(41,1%)
Às Vezes 81(13,7%) 48(59,3%) 33(40,7%)
Sempre 121(20,5%) 74(61,2%) 47(38,8%)
Não tem vida sexual. Mas usaria. 64(10,8%) 37(57,8%) 27(42,2%)
Não tem vida sexual. Mas não usaria. 23(3,9%) 17(73,9%) 6(26,1%)
Já fez exame preventivo? (Apenas mulheres) 0,002*
Não 49(15,9%) 36(73,5%) 13(26,5%)
Sim 260(84,1%) 128(49,2%) 132(50,8%)
*Teste qui-quadrado.
vistadas (77,7%). Este grupo apresentou maior A chance de ter esse conhecimento é 1,61 vezes
proporção dos que relataram ter conhecimento maior se a pessoa frequenta um serviço de saú-
sobre o HPV (valor-p < 0,001). de particular comparado com quem frequenta o
Mais da metade (51,1%) dos que responde- serviço público. Ter nível de escolaridade elevado
ram ao questionário declararam não fazer uso interfere significativamente (valor-p < 0,001) no
de preservativos nas relações sexuais, sendo que conhecimento, já que quem tem o ensino superior
o usar ou não o preservativo nas relações sexu- possui 3,59 vezes mais chance comparado a quem
ais não interferiu significativamente no conhe- possui apenas o ensino fundamental. Quem já viu
cimento sobre HPV, já que esse conhecimento ou ouviu alguma campanha sobre HPV demostra
variou entre 38,8% para aqueles que usam a ca- uma probabilidade 4,5 maior de conhecer sobre
misinha sempre e 41,1% para os que não usam o HPV comparado com quem nunca viu, e saber
(valor-p = 0,698). sobre a existência da vacina também aumenta em
Com relação ao exame preventivo, grande 2,19 vezes a chance de saber sobre o vírus.
parte das mulheres entrevistadas (84,1%) disse já
ter realizado o exame e, entre elas, 50,8% conhe-
ciam sobre o vírus, enquanto entre as que nunca Discussão
realizaram o exame, esse percentual foi de apenas
26,5% (valor-p = 0,002). A maior parte dos entrevistados relatou não sa-
De acordo com a análise multivariada (Tabela ber o que é o HPV, sendo que esse conhecimento
4), os fatores associados ao relato de conhecimen- foi ainda menor entre homens, pessoas que uti-
to sobre HPV foram ser do gênero feminino, ter lizavam o serviço de saúde pública, com baixa
escolaridade média ou superior, ter ouvido falar escolaridade, que nunca ouviram falar de campa-
de campanha sobre HPV e saber da existência da nha sobre o vírus e que não sabem da existência
vacina para HPV. Pode-se afirmar que quem é da vacina contra HPV.
do gênero feminino tem 1,69 vezes mais chance Mensurar o grau de conhecimento da popu-
de conhecer sobre o HPV que o gênero oposto. lação sobre o HPV é importante, uma vez que
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permite, via resultados obtidos, avaliar e sele- A maioria das mulheres afirmou positiva-
cionar as estratégias adequadas para que sejam mente quando questionada sobre conhecer o
construídos planejamentos eficazes com medidas HPV, em comparação aos homens. Resultados
de promoção, prevenção e diagnóstico precoce semelhantes foram encontrados por Osis et al.19
das alterações provocadas pelo vírus. A relevân- que evidenciaram que 45% das mulheres por eles
cia do assunto possibilitou que diversos estudos estudadas já tinham ouvido falar sobre o tema;
fossem realizados no mundo, com o objetivo de e Gomez e Lince12 verificaram um percentual
verificar esse conhecimento nas populações em maior de mulheres que conheciam sobre o vírus,
geral. Os achados deste estudo corroboram os quando entrevistaram um grupo de universitá-
descritos na literatura, como, por exemplo, Fran- rios na Colômbia. Comparando o conhecimento
cis et al.20, que avaliaram o conhecimento acerca apenas entre as mulheres, observou-se que mais
do HPV em um grupo de mulheres na cidade de da metade relatou não possuir conhecimento
Johanesburgo, África do Sul, e verificaram que acerca do tema, evidenciando que, apesar de o
a maioria delas não estava familiarizada com o grupo feminino ter percentual superior ao mas-
HPV; e Ramada e Medeiros21, que, pesquisando culino, ainda se percebe baixa proporção de indi-
estudantes da Universidade do Porto, Portugal, víduos com informação.
observou que 55,4% deles já ouviram falar so- Escolaridade foi uma variável que também
bre HPV, ressaltando que esse número pode ter se relacionou de forma significativa com o co-
ultrapassado a metade da amostra pelo fato de nhecimento sobre o HPV, porque foi observado
que esta, em sua maior parte, era composta por que os entrevistados com nível superior de en-
universitários da área da saúde. No Brasil, Osis sino relataram conhecer sobre o tema, enquanto
et al.19 evidenciaram que menos da metade da dentre aqueles com nível médio de ensino, ape-
população estudada (40%) relatou já ter ouvido nas um quinto revelou saber do que se tratava.
sobre o HPV, e ainda que pouco mais de 1/4 dos Outras publicações reforçam esse achado, como,
entrevistados possuía “conhecimento adequado” por exemplo, Santos et al.22, que demonstraram
sobre o vírus. Em nosso estudo, após validação, que as maiores informações a respeito do HPV
encontramos que grande parte (93,25%) possuía pertenciam às mulheres com ensino superior; e
conhecimento mínimo, considerando apenas o de Pimenta et al.23 que afirmaram que 51% das
os entrevistados que afirmaram saber o que era mulheres que não sabiam o que era HPV apre-
HPV. sentavam apenas 5 a 8 anos de estudo, e dos que
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Abreu MNS et al.
possuíam entre 9 a 11 anos de estudo, 25,9% falar sobre o HPV, enquanto apenas 33,1% das
desconheciam sobre o HPV. Segundo Miranda et classes C e D relataram possuir conhecimento so-
al.24, pessoas com um maior grau de estudo, apre- bre esse assunto. Conti et al.27, quando avaliaram
sentam também uma maior preocupação quanto alunos de colégios particular e público, acerca do
a não se infectarem com alguma DST, quando conhecimento que possuíam sobre o HPV, con-
comparados com um grupo de nível educacional cluíram que os estudantes do colégio particular
inferior. Baseados nessa afirmação, uma hipótese demonstraram maior conhecimento sobre o HPV
que justifica os resultados encontrados é a de que quando comparados aos do colégio público. Uma
indivíduos com mais tempo de estudo possuem hipótese que possa justificar esses resultados se
um interesse maior em obter novos conhecimen- deve, dentre outros fatores, ao fato de classes eco-
tos e têm mais acesso a fontes confiáveis de in- nomicamente desfavorecidas terem menor acesso
formação, como literatura científica, professores aos serviços de saúde, além de ser também essa
ou médicos. Outra explicação pode ser o fato de classe a que enfrenta maiores dificuldades finan-
que esse grupo pode compreender de forma mais ceiras para dar seguimento ao tratamento, quan-
adequada os conteúdos que lhes são apresenta- do necessário, associado ao desconhecimento das
dos, por meio de televisão ou campanhas. medidas de promoção da saúde e prevenção da
Dentre os meios de comunicação utilizados doença, como relatado por Eduardo et al.28.
para a obtenção de informações sobre o vírus, De acordo com o serviço de saúde utilizado
a TV apresentou maior frequência de respostas, pelo entrevistado, verificou-se que mais da me-
seguida pelos professores e internet, enquanto tade dos usuários do setor privado relataram co-
médicos e profissionais de saúde foram pouco nhecer sobre o HPV, enquanto dentre as pessoas
citados:10,1% e 12,7%, respectivamente. Resul- utilizadoras do serviço público esse relato foi me-
tados diferentes foram relatados por Panobian- nor que 1/3. Corroborando esse resultado, Osis et
co et al.25 e Pimenta et al.23, sendo que, no pri- al.19 afirmaram que menos de 2/5 dos usuários do
meiro, 42,9% das entrevistadas que afirmaram SUS entrevistados em seu trabalho responderam
ter conhecimento sobre o HPV o atribuíram ao já terem ouvido falar sobre o HPV. De acordo
médico ginecologista e, no segundo, esse per- com a pesquisa de Ribeiro et al.29, as característi-
centual foi de 45%. Ressalta-se, entretanto, que cas da clientela atendida pelo SUS era de indiví-
no trabalho Panobianco et al.25 a sua amostra duos adultos de 15 a 49 anos, de ambos os sexos,
consistia de adolescentes do gênero feminino do de cor preta ou parda, com escolaridade inferior
curso de enfermagem e no de Pimenta et al.23, as a 11 anos e renda familiar per capita inferior a
entrevistadas que receberam informações por R$ 440,00 mensais. Diante disso, os resultados
médico, quase em sua totalidade, já haviam sido obtidos podem ser justificados, já que esse perfil
diagnosticadas com algum tipo de DST. Uma te- corrobora os resultados das variáveis escolarida-
oria para essa divergência nos resultados pode ser de e renda já analisadas anteriormente e, ainda,
justificada pela campanha de vacinação contra o segundo Prado e Santos30, existe elevado grau de
HPV, veiculada na televisão nos meses que ante- desigualdade social entre os diferentes segmentos
cederam a coleta de dados, e também durante o da população com relação ao acesso aos serviços
período da entrevista. de saúde.
O fator econômico interferiu significativa- Na análise univariada, observou-se, signifi-
mente no conhecimento da população, já que foi cativamente, que a média de idade da população
possível observar, por meio de análise univaria- que referiu conhecimento acerca do HPV era
da, que os indivíduos com maior renda demons- mais elevada do que aquela encontrada entre a
traram possuir mais informações a respeito do população que referiu não conhecer. De acordo
vírus. Diversos autores descreveram resultados com Pimenta et al.23, proporções mais altas de co-
semelhantes, como, por exemplo, Oliveira et al.26, nhecimentos e atitudes mais adequadas parecem
o que ressaltou a relação entre a baixa condição estar associadas a idade maior ou igual a 35 anos,
socioeconômica e a infecção pelo HPV, atribuin- sendo que a média foi de 31,3 anos. Em outro es-
do esse achado ao fato de que a baixa renda fa- tudo, que avaliou estudantes de universidade pú-
miliar dificulta o acesso ao conhecimento sobre blica de Manizales, 31% daqueles com idades en-
esse tema. Um estudo realizado com usuários de tre 28 e 35 anos apresentaram alto conhecimento
unidades básicas de saúde (UBS) e duas policlí- sobre o HPV, contudo, 65% da amostra possuíam
nicas do SUS de Campinas-SP, em 2011, 46% das entre 17 a 20 anos12.
pessoas entrevistadas que pertenciam aos estratos Em se tratando do número de filhos, a média
socioeconômicos A e B responderam ter ouvido foi mais elevada entre os entrevistados que rela-
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para a necessidade de realização do exame pre- ção possui limitação, já que o entrevistado pode-
ventivo, a fim de se ter um diagnóstico precoce ria ter confundido, por sonoridade, com o HIV
de um provável câncer, sem, no entanto, divulgar (Vírus da Imunodeficiência Humana). Em adi-
informações sobre qual seria o agente causal e as ção, trata-se de um estudo transversal que impos-
características dessa infecção. sibilita a utilização da temporalidade como cri-
Saber o modo de transmissão do HPV pode- tério causal, uma vez que fatores e desfechos são
ria estabelecer novos comportamentos tanto pre- vistos em um mesmo momento. Por outro lado,
ventivos quanto terapêuticos. Observou-se que reforça-se a importância dessa investigação por
a grande maioria dos entrevistados respondeu se tratar de um inquérito com base populacional,
conhecer como ocorre a transmissão do vírus tendo em vista que se objetivou a representativi-
(93,2%), sendo que quase sua totalidade (97,3%), dade da cidade de Ipatinga e que, até o momento,
relatou ser sexualmente transmissível. Outras identificamos poucos estudos brasileiros com esse
formas possíveis de propagação também foram nível de representatividade38.
citadas, entretanto, com uma baixa frequência.
Também foram relatadas formas inadequadas
de transmissão, que fogem ao espectro do HPV. Conclusão
Pimenta et al.23, abordando apenas mulheres,
destacaram que cerca de 81,5% sabiam da trans- Sugere-se, por meio desta pesquisa, que há um
missão sexual do HPV, corroborando ser o fator grande déficit no conhecimento a respeito do
feminino como determinante no conhecimento. HPV e que, muitas vezes, há pouca qualificação
A respeito dos alvos possíveis de contrair a infec- do que se sabe, favorecendo, assim, muito além
ção (homem, mulher, criança), observou-se que dessas percepções errôneas, ações com risco po-
houve leve predominância das respostas como tencial à saúde, inclusive a do parceiro. Ter co-
sendo as mulheres, entretanto houve discrepân- nhecimento de que HPV é um vírus transmitido,
cia significativa quanto às crianças. Esse achado principalmente, por via sexual, com potencial
pode ser devido ao fato de que quase a totalidade cancerígeno, que pode ser evitado através da va-
das respostas da via de infecção foi relação sexual, cina e de medidas protetivas nas relações sexuais,
havendo desconhecimento das outras vias. Bretas e que, por meio do exame do Papanicolau, é feito
et al.37 relataram que a transmissão materno-fetal o rastreio das alterações virais e do câncer de colo
foi relatada por 1% dos adolescentes. uterino, seria um patamar mínimo de conheci-
Uma limitação deste estudo é o fato de o des- mento para a população.
fecho ter sido avaliado por meio das respostas ob- Dessa forma, o desenvolvimento de estra-
tidas em um formulário não padronizado cien- tégias voltadas para a saúde pública, com enfo-
tificamente, com a avaliação do conhecimento a que na prevenção e limitação de agravos, como
partir da identificação do que o entrevistado já ti- a inclusão de ações visando qualificar o grau de
nha ouvido falar. Isso poderia estar superestiman- conhecimento sobre HPV, pode ser a chave para
do ou subestimando o conhecimento, o que tor- estase do ciclo da doença. É importante ressaltar
naria ainda mais grave o problema. No entanto, o papel fundamental do marketing na elaboração
observou-se que a maioria dos entrevistados que de políticas públicas, utilizando táticas que des-
relatou saber o que é o HPV conhecia pelo menos pertem tanto o interesse pelo tema quanto atin-
uma das assertivas que indicava um conhecimen- jam direta ou indiretamente um público amplo,
to mínimo necessário sobre o vírus, o que poderia principalmente a população destacada neste arti-
garantir que a afirmação “saber o que é o HPV” go com menor conhecimento sobre o tema, isto
está de fato demonstrando algum conhecimento é, homens, indivíduos com baixa escolaridade e
sobre o tema. Entretanto, essa tentativa de valida- baixo nível socioeconômico.
859
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