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Instituto Superior de Ciências Biológicas, Médicas e da Saúde

Disciplina: Fisioterapia Preventiva e Primeiros Socorros

Prof. Me. João Alfredo P. Neto


jneto@prof.unipar.br
FISIOTERAPIA PREVENTIVA
NOS DISTÚRBIOS
OSTEOMUSCULARES
RELACIONADOS AO TRABALHO
DORT

O primeiro termo a surgir no Brasil, na tentativa de definir as afecções musculoesqueléticas


decorrentes do trabalho, foi LER (Lesões por Esforços Repetitivos), baseado na tradução da
sigla australiana RSI (Repetitive Strain Injury). Através de estudos e verificações
constatou-se que esse termo estava sendo insuficiente para designar as formas clínicas que
começaram a aparecer por consequência de atividades ocupacionais, por traduzir um
mecanismo de lesão único e abrangente. Adotou-se então, a partir da década de 90, o termo
DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho) que permitiu ampliar os
mecanismos de lesões, não só restritos aos movimentos repetitivos.
Dados 2021

“Os afastamentos previdenciários acidentários por lesões graves, como fraturas, amputações,
ferimentos, traumatismos e luxações passaram de 40.117 em 2020 para 93.820 em 2021, um
aumento de 234%”.

“Quanto ao adoecimento no trabalho, o número de afastamentos causados por doenças


osteomusculares e do tecido conjuntivo, inclusive LER-DORT, sofreu um aumento de 192% (de
16.211 para 31.167 casos)”.

“Já o total de auxílios-doença concedidos por depressão, ansiedade, estresse e outros


transtornos mentais e comportamentais (acidentários e não-acidentários) se mantiveram em
níveis elevados, na média de concessões dos últimos cinco anos anteriores à pandemia da
COVID-19 (com cerca de 200 mil concessões)”
Notícias | 20 de Abril de 2022

Nos anos de 2012 à 2021, 22.954 pessoas morreram em acidentes de trabalho no


Brasil, de acordo com dados atualizados do Observatório de Segurança e Saúde no
Trabalho.

Entre 2012 e 2021, foram registradas 6,2 milhões de Comunicações de Acidentes


de Trabalho (CATs) e o INSS concedeu 2,5 milhões de benefícios previdenciários
acidentários, incluindo auxílios-doença, aposentadorias por invalidez, pensões por
morte e auxílios-acidente.

Apenas em 2021, foram comunicados 571,8 mil acidentes e 2.487 óbitos


associados ao trabalho, com aumento de 30% em relação a 2020, segundo dados
atualizados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho
O Ministério da Saúde, no estudo Saúde Brasil 2018 – Uma análise da situação
de saúde e das doenças e agravos crônicos: desafios e perspectivas, não
considera que a LER/Dort são causadas apenas pelo trabalho. Elas seriam um
fator de risco ou aquilo que provoca um distúrbio latente ou agrava uma condição
preexistente. Nesse cenário, elas surgem quando há uma predisposição do
próprio corpo, somada a fatores organizacionais:

• Más condições do local de trabalho (piso, iluminação, angulações,


distanciamento etc);
• Posturas inapropriadas para execução das atividades;
• Técnicas incorretas para realizar as tarefas;
• Jornadas de trabalho excessivas;
• Desrespeito aos limites corporais dos trabalhadores.
As doenças ocupacionais ocorrem devido ao uso inadequado e repetido das
estruturas, atrelado a uma postura inadequada e ambiente de trabalho impróprio.

Alguns fatores de risco podem ser citados como:

● trabalho muscular estático,


● invariabilidade da tarefa,
● choques e impactos,
● pressão mecânica,
● vibração, frio e calor,
● fatores organizacionais, estresse emocional e exigência de produtividade.
Os sintomas e sinais clínicos mais comumente encontrados são:
❖ sensação de desconforto e peso no membro afetado,
❖ dor,
❖ sensação de formigamento e calor,
❖ presença de nódulos na bainha muscular,
❖ perda da força muscular,
❖ edema freqüente e recorrente,
❖ perda do controle de movimento,
❖ atrofia por desuso,
❖ depressão, ansiedade e angústia.
“A faixa etária das pessoas acometidas apresenta-se cada vez mais baixa, em virtude das
pessoas iniciarem suas atividades profissionais mais cedo” (PRZYSIEZNY, ? ). Num
estudo realizado em 1998, MIRANDA constatou que 80,4% dos trabalhadores
entrevistados com DORT tinham entre 30 e 46 anos e segundo DIMBERG (1989),
mulheres que executam trabalhos em funções altamente repetitivas ou que exigem
esforço estático têm o dobro de risco de apresentarem problemas osteomusculares
quando comparadas a homens nas mesmas condições.

A maior incidência no sexo feminino é justificada por questões hormonais, pela dupla
jornada de trabalho, pela falta de preparo muscular para determinadas tarefas e também
pelo aumento significativo do número de mulheres no mercado de trabalho.
Etiologia
● Não há uma causa única para a ocorrência de LER/DORT.
● Inicialmente as LER/DORT eram reconhecidas como decorrentes preponderantemente
das condições de trabalho.
● Com o aumento explosivo da incidência entre várias categorias profissionais, surgiram
novas correntes explicativas.
● O debate atual tende para o reconhecimento da multideterminação dessa afecção
(Sato et al., 1993)
● Lima (1998; 2000), apresentando a concepção das LER/ DORT, distribuídas em três
grupos: o viés psicológico, o sociológico e o biológico.
● Decreto 3048, de 6 de maio de 1999. Lista das doenças consideradas Ler/Dort.
Classificação e graus de acometimento.

GRAU I: sensação de peso e desconforto com pontadas ocasionais, havendo melhora com repouso; embora
a dor seja leve e fugaz, toda mobilização deve ocorrer para uma boa expectativa de recuperação.

GRAU II: dor mais intensa com sensação de formigamento e calor, manifestação de dor inclusive nas
tarefas domésticas com leve atenuação no repouso; sente-se nesta fase um decréscimo produtivo com riscos
de permanência no emprego, visto que a produtividade é um dos fatores preponerantes na avaliação do
desempenho de digitação. A expectativa de recuperação ainda é razoável.

GRAU III: dor forte persistindo ainda no repouso; perda da força muscular, com tarefas domésticas
executadas ao mínimo. Neste estágio a eletromiografia pode estar alterada. Reservas quanto à recuperação.

GRAU IV: dor às vezes insuportável, perda da força e dos controles musculares; invalidez para qualquer
tarefa produtiva, depressão, angústia e perda de produtividade. Expectativa sombria quando não for até
negativa de recuperação.
PATOLOGIAS E SUA RELAÇÃO COM ALGUMAS ATIVIDADES DE TRABALHO

Bursite do cotovelo (olecraniana)

Ela ocorre por meio de mecanismo direto através de traumas ou mecanismos


indiretos através de compressão do cotovelo contra superfícies duras como apoiar o
cotovelo em mesas.
PATOLOGIAS E SUA RELAÇÃO COM ALGUMAS ATIVIDADES DE TRABALHO

Dedo em Gatilho

Compressão palmar, flexão das falanges associada à realização de força. Causam


o dedo de gatilho Ex: apertar alicates e tesouras.
PATOLOGIAS E SUA RELAÇÃO COM ALGUMAS ATIVIDADES DE TRABALHO

Epicondilites do Cotovelo

Movimentos com esforços estáticos e preensão prolongada de objetos,


principalmente com o punho estabilizado em flexão dorsal e nas prono-supinações
com utilização de força. Ex: apertar parafusos, desencapar fios, tricotar, operar
motosserra
PATOLOGIAS E SUA RELAÇÃO COM ALGUMAS ATIVIDADES DE TRABALHO

Síndrome do Canal de Guyon

Síndrome do Canal de Guyon ocorre por meio de traumas diretos, compressão da


borda ulnar (nervo ulnar).do punho. Ex: carimbar, escrever, manusear o mouse. A
causa mais comum e cisto sinovial, trauma e artrite reumática.

Sinais e sintomas:
- dor, dormência, formigamento ou queimação irradiando para o quarto e quinto
dedos da mão
- fraqueza e atrofia da musculatura intrínseca da mão
PATOLOGIAS E SUA RELAÇÃO COM ALGUMAS ATIVIDADES DE TRABALHO

Tenossinovite dos extensores dos dedos

Fixação antigravitacional do punho, a qual ocorre por meio de movimentos


repetitivos de flexão e extensão dos dedos. Acarreta a tenossinovite
Ex: digitar,operar mouse, costureiras.

De Quervain

Dor no bordo externo do punho, a


dor irradia em direção ao polegar ou
ao antebraço, sendo por vezes difícil
para o doente localizar um ponto
específico de dor.
PATOLOGIAS E SUA RELAÇÃO COM ALGUMAS ATIVIDADES DE TRABALHO

Síndrome do Desfiladeiro Torácico

A síndrome do desfiladeiro torácico ocorre por meio da compressão sobre o


ombro, flexão lateral do pescoço, elevação do braço. Ex: fazer trabalho manual
sobre veículos, trocar lâmpadas, pintar paredes, lavar vidraças, trabalhos em geral
na qual ocorra a elevação dos ombros acima de 90°, apoiar telefones entre o ombro
e a cabeça.

Compressão das
estruturas entre à
clavícula e a 1ª
costela.
PATOLOGIAS E SUA RELAÇÃO COM ALGUMAS ATIVIDADES DE TRABALHO

Cervicobraquialgia

A Cervicobraquialgia ocorre por meio de movimentos repetitivos de extensão


cervical, cuja postura é mantida em rotação ou inclinação cervical, como
carregamento de cargas em cima da cabeça.

Distribuição dos dermátomos cervicais.


Diagnóstico de L.E.R./D.O.R.T.

● Quem faz o diagnóstico?

O médico assistente; (particular)


O médico perito da Previdência Social (INSS);
O médico perito da justiça;
O médico de empresa.
Causas da L.E.R./D.O.R.T

● Diminuição do aporte sanguíneo à região


● Repetitividade e/ou força dos movimentos quanto na atividade
estática das estruturas envolvidas
● Trauma ou microtrauma-formação de processos inflamatórios
locais.
Fatores agravantes

● Falta de apoio de níveis superiores para uma atuação


adequada
● Diagnóstico impreciso e acompanhamento inadequado
durante o tratamento médico
● Readaptação ao trabalho deficiente
● Posto de trabalho inadequado
Prevenção da DORT
O objetivo de um programa de prevenção consiste na eliminação ou redução objetiva
da exposição do trabalhador aos fatores de risco predisponentes a esse conjunto de
disfunções.

Os programas de prevenção visam modificações nas condições:

1. Físicas: Posto de trabalho, dimensionamento, posicionamento e qualidade do


mobiliário e equipamentos;
2. Biomecânicas: Alterações posturais e planejamento de métodos de trabalho
empregados;
3. Ambientais: Conforto térmico, visual e auditivo.
Proposta de atuação da Fisioterapia Preventiva
Ergonomia (NR 17)
A intervenção ergonômica é dividida em fases:

Fase I: Fase exploratória, que tem por finalidade recolher e registrar dados relativos à tarefa como
objeto de estudo.
Fase II: Analisa-se o desenvolver de atividades pelo trabalhador, aplica-se questionários, faz-se
avaliação postural e confirma-se pontos de prioridade investigados na fase de apreciação
ergonômica.
Fase III: Adapta-se as estações de trabalho, equipamentos e ferramentas às características físicas,
psíquicas e cognitivas dos trabalhadores.
Fase IV: Revisão do projeto, sugestões de melhoria, priorização dos pontos que serão
diagnosticados e modificados.
Proposta de atuação da Fisioterapia Preventiva
Escola de Postura

● Método desenvolvido por Marianne Zachrison, com o objetivo de capacitar os


indivíduos para que assumissem atitudes de auto- cuidado com a coluna, por meio
de orientações sobre a anatomia, biomecânica e patologias que podem atingir a
coluna vertebral.
● Os programas são aplicados em grupos ou sessões individuais, as aulas têm
duração variável de 40 a 60 minutos e o número total de sessões varia entre 3 e 4
encontros.
● É uma adaptação do método sueco “The Back School”
Proposta de atuação da Fisioterapia Preventiva
Ginástica Laboral

Os trabalhadores realizam durante alguns minutos exercícios de alongamento,


coordenação motora e fortalecimento muscular.
Proposta de atuação da Fisioterapia Preventiva
Outras formas de atuação preventiva:

● RPG e massoterapia,
● Medicina Tradicional Chinesa, como Acupuntura,
● Do-In, Shiatsu,
● Massagens orientais.

O emprego da Acupuntura e massagens orientais no tratamento e prevenção de DORT


pode ser um importante instrumento na promoção e preservação da saúde dos
trabalhadores.
Referências
*COURY, H.J.C.;RODGEHER,S. Treinamentos para o controle de Disfunções Músculo-Esqueléticas
Ocupacionais: Um instrumento eficaz para a Fisioterapia Preventiva? Revista Brasileira de
Fisioterapia, v.2, n.1, 1997.

* MIRANDA, R. C. LER – Lesões por Esforços Repetitivos uma Proposta de Ação Preventiva.
Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 1998. Salvador-BA.

* MIYAMOTO, S.T. et al. Fisioterapia preventiva atuando na ergonomia e no stress no trabalho.


Revista Fisioterapia Univers. São Paulo, v.6, n.1, p.80- 131, jan/jun 1999.

* NIVALDA, M.N.; ROBERTA,A.S.M. Fisioterapia nas empresas. Editora Taba Cultural

* PRZYSIEZNY, W. L. Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho: Enfoque Ergonômico.


Santa Catarina. Programa de Pós Graduação em Eng. de Prod. e Sistemas. UFSC.

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