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Resumo
A vida nas metrópoles brasileiras tem sofrido alterações significativas nos últimos 30 anos,
produzindo novos padrões espaciais e sociodemográficos que incidem diretamente na
qualidade e no padrão de vida das pessoas. Dois traços desta nova forma metropolitana são
especialmente relevantes para compreender estas transformações e suas implicações: a
mobilidade e a vulnerabilidade. Nos dois casos, a problemática ambiental está no cerne de
toda a discussão. Tem aumentado a evidência de relação entre a mobilidade e a
vulnerabilidade, seja em termos espaciais (lugar-fora do lugar) seja em termos sociais
(comunidade-fora da comunidade). Os riscos aumentam à medida que aumenta a
mobilidade, diminuindo a segurança e potencializando a vulnerabilidade, tanto de pessoas e
grupos quanto de lugares e regiões. O cerne deste argumento está no esgarçamento do
espaço de vida e das relações sociais oriundo do aumento da mobilidade, fazendo com que
os mecanismos de proteção (lugar, família, comunidade), que têm alcance limitado,
diminuam gradativamente a sua eficácia. A distribuição espacial da população, ordenada a
partir de grandes corredores viários e da conexão por vias e meios de transporte, conecta por
um lado e isola por outro, dotando o tecido metropolitano de fragmentos conectados por
tênues fios. Investigar o desenho dos espaços de vida individuais e os riscos e perigos
enfrentados quotidianamente pelas pessoas, revela facetas da tensão ambiental vivida nas
metrópoles, bem como as implicações do padrão de distribuição espacial da população e as
formas desta de elevar sua segurança, diminuindo a incerteza. Por outro lado, o olhar para a
experiência cotidiana revela riscos insuspeitos, ao passo que outros, aparentemente tão
evidentes, são descartados. Esta pesquisa procura delinear este caminho, a partir de trabalho
de campo realizado na região Metropolitana de Campinas, metrópole do interior paulista
que congrega as características do período mais recente da metropolização brasileira.
∗
Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú - MG –
Brasil, de 18 a 22 de setembro de 2006.
♣
Geógrafo, Doutorando em Geografia pelo Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas
(IG/UNICAMP). Colaborador do Núcleo de Estudos de População (NEPO/UNICAMP). eduardom@ige.unicamp.br.
Mobilidade e Vulnerabilidade nos Espaços de Vida de Campinas
O debate ambiental no campo demográfico tem avançado rapidamente nos últimos anos.
Incorporando questões novas ou consolidando campos já tradicionais, os temas pertinentes à
relação população-ambiente têm trazido resultados promissores tanto para os estudos de
população quanto para as demais ciências (sociais, ambientais e de saúde) e para as políticas
públicas.
Refletindo sobre este campo de investigação, alguns autores têm enfatizado a necessidade
de abordagens em pequenas áreas e em diferentes escalas, visando a apreensão multidimensional
dos fenômenos. (Hogan, 2000; Torres, 2000) Estas interações ainda estão por serem melhor
delineadas, embora o conjunto dos trabalhos estejam avançando nesta direção. Por outro lado,
tem-se apontado a necessidade de avançar epistemologicamente, abordando a relação população-
recursos para além de uma relação causal simples, lembrando que o impacto da população
humana “está mediado por la cultura y la tecnología, por patrones de producción y de consumo.”
(Leff, 2000, p.252) Neste sentido também há avanços, principalmente ao se compreender a
dimensão social e política da degradação ambiental e dos riscos vividos pelas populações.
1
destes fenômenos resulta num quadro particular de vulnerabilidade, diante de perigos específicos
decorrentes deste comportamento populacional.
Campinas é uma metrópole que surge na emergência desta nova forma de metropolização,
com a prevalência dos fluxos na organização regional, resultando na elevada fragmentação do
tecido metropolitano e da importância dos corredores viários para a conexão entre os pedaços da
região metropolitana. A expansão, ao invés de ocorrer a partir de um núcleo central, se
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desenvolve a partir destes eixos viários, formando uma mancha urbana metropolitana. (Pires e
Santos, 2002; Pires, 2005)
3
aumentando com isso sua vulnerabilidade diante de diferentes riscos. Em vista disso, os ritos
sociais desempenham papel de fronteiras, ajudando a delimitar e ajudar a permanência de um
território. “Disto se depreende que as comunidades conscientes da fragilidade do território
realizam constantes ritualizações, diuturnamente, para não se perderem nos fluxos
desterritorializantes que convergem para o lugar.” (Clemente, 2005, p.03)
Por outro lado, nos trajetos entre os lugares, cresce o efeito “túnel” nas viagens diárias.
(Ascher, 1998) As pessoas trafegam por grandes distâncias sem estabelecer nenhum contato com
o longo espaço metropolitano que fica entre os dois pontos. Às vezes, nem mesmo o contato
visual, pois cansados por acordar cedo ou por ter trabalhado o dia todo, viajam cochilando
cabisbaixos até o ponto de parada. Todo este espaço indiscriminado que não faz parte da
experiência das pessoas é potencialmente perigoso, pois ali o homem não goza dos mecanismos de
proteção ligados ao lugar e à comunidade. Ali o homem está “solto no mundo” (contraposição ao
enraizamento do lugar e da comunidade), potencialmente mais vulnerável. (Marandola Jr., 2005a)
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socioespaciais e demográficos terão situações específicas em relação aos riscos e perigos.
(Marandola Jr. e Hogan, 2005b; Hogan e Marandola Jr., 2005)
A noção de espaço de vida foi trazida à Demografia por Daniel Courgeau, em seu
empenho de ultrapassar o lugar comum nas investigações sobre mobilidade. (Courgeau, 1988,
1990) Courgeau intentava modificar as formas de mensuração dos movimentos, incorporando aos
dados temporais os dados espaciais. Assim ele teria lugares e itinerários conectados por
movimentos com duração, distância e fluxos populacionais. Para permitir tal mensuração, o autor
teve de abrir mão da informação qualitativa, encarando todos os lugares da mesma forma, sem
considerar a hierarquização que cada pessoa estabelece entre os lugares de seu espaço de vida,
seja pela função, pelo envolvimento ou pelo subjetivo. (Frémont, 1980)
Antes de Courgeau dar este tratamento, espaço de vida foi utilizado enquanto componente
subjetivo do espaço social por Lewin (1951, apud Buttimer, 1980) e aplicado posteriormente de
forma mais ampla na geografia do espaço vivido de Armand Frémont, na década de 1970. Frémont
(1980) relaciona o espaço de vida à biografia da pessoa, como conseqüência de um inventário dos
lugares freqüentados por um homem no decorrer de sua vida, restituindo os valores que ele atribuiu
a cada um deles. A partir deste levantamento, procura (1) a hierarquização e as estruturas do
território freqüentado, assim como (2) as imagens, motivações, alienações e impulsos. O primeiro é
o espaço de vida, que descreve o conjunto de lugares e itinerários do homem, enquanto o espaço
vivido é a dimensão subjetiva (qualitativa) da existência.
Utilizamos espaço de vida no mesmo sentido: “o espaço da vida da pessoa, por onde ela
desenvolve seu cotidiano.” (Marandola Jr., 2005a, p.08) Ela é uma noção chave que tem servido
de ensejo para uma aproximação profícua entre Geografia e Demografia, tanto na discussão sobre
o planejamento e a participação (Marandola Jr. e Mello, 2005) quanto no contexto da mobilidade
metropolitana. (Marandola Jr., 2005c; Mello e Marandola Jr., 2005) Esta investigação tem se
desenvolvido no sentido de, por um lado, manter a noção de espaço de vida estritamente objetiva
enquanto incorporamos, por outro lado, uma dimensão qualitativa, procurando hierarquizar os
lugares a partir da experiência do próprio indivíduo. Para isso nos utilizamos de metodologias
qualitativas como a história de vida e a entrevista não-diretiva, além da arqueologia
fenomenológica (método de busca das essências), enquanto pressuposto teórico-metodológico
para leitura e análise das biografias. (Marandola Jr., 2004; 2005b)
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Esta proposta está alicerçada na tradição dos estudos humanistas e culturais em Geografia,
que se inspira numa abordagem fenomenológico-existencialista de pesquisa, partindo das
experiências pessoais, do espaço vivido, em direção ao significado do relacionamento do homem
com o espaço. Esta tradição incorpora a existência humana às análises acadêmicas, procurando
complexificar a realidade em foco com a perspectiva oblíqua da realidade. (Buttimer, 1976;
Marandola Jr., 2005d; Bellavance, 1999)
3. Umwelt: utilizamos esta noção a partir da leitura de Giddens (2002, p.120) que aplica
o conceito de Goffman ao contexto da Sociedade de Risco. Este seria “um núcleo de
normalidade (realizada) com que os indivíduos e os grupos se cercam.” O Umwelt tem
portanto uma função de proteção, proveniente do hábito e do costume estabelecidos
por porções indeterminadas do tempo e do espaço. Agrega-se ao casulo protetor
formado pelas relações sociais e espaciais mais elementares, proporcionando
segurança e identidade.
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lugar, o território, o Umwelt e a comunidade) em uma só, expressando uma forma
própria de ser e estar na metrópole.
Como as histórias de vida estão vinculadas ao próprio espaço de vida (Pinçon e Pinçon-
Charlot, 1988), procuramos através de entrevistas com pessoas que moram em diferentes
situações na região metropolitana (diferentes formas de habitar), reconstituir sua história de vida
mapeando numa base cartográfica regional o seu espaço de vida, nas diferentes faixas etárias. A
reconstituição envolve a pontuação de todos os lugares e trajetos componentes do espaço de vida.
Adicionalmente, procuramos qualificar esta informação cartografada, através da revelação da
própria pessoa do seu envolvimento com os lugares, os hábitos e os costumes, bem como os
medos, insegurança e angústia referentes a certos lugares ou situações. Os “comos” são
enfatizados em relação aos “por quês” (Turra Neto, 2004), priorizando a descrição do espaço e da
história de vida enquanto portadores de significado.
O que segue é um ensaio preliminar dos resultados obtidos nas pesquisas-piloto operadas
com o objetivo de testar a abordagem. Os resultados apontam para a possibilidade de ampliação
da pesquisa, baseada no aumento da amostragem e do universo analisado.
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O primeiro modelo de espaço de vida metropolitano foi elaborado no contexto do trabalho
Life spaces, mobility and the metropolis: dialogue with Geography, apresentado em Tous, no
encontro da IUSSP (International Union for the Scientific Study of Population). (Mello e
Marandola Jr., 2005) Contudo, aquele modelo se aplicava melhor a uma metrópole industrial,
como São Paulo, onde a centralidade da cidade sede é preponderante, sendo comum
(principalmente nos anos de consolidação da região metropolitana) a migração de pessoas das
cidades vizinhas para o polo da região.
Na Figura 01, observamos este primeiro modelo, que retrata o espaço de vida da
metrópole industrial. A faixa etária foi mantida, partindo-se das definições de Courgeau (1988),
que utiliza estes quatro estágios (infância, juventude, idade adulta e terceira idade) em suas
análises dos espaços de vida.
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Figura 01 – Espaço de vida da metrópole industrial
INFÂNCIA JUVENTUDE
Legenda
Na idade adulta, Courgeau (1988, p.18) aponta que “Dans le second type, l’espace de vie
gagne de nouvelles positions, en perd d’anciennes, tout en gardant certaines. On peut alors parler
de glissement dans l’espace.“ O nível de complexidade do espaço de vida chega a seu ápice, com
relações diversas entre os municípios, envolvendo a nova residência após o casamento, os lugares
que envolvem a vida dos filhos, a casa de familiares do cônjuge, lugares relacionados ao trabalho,
novos lugares relacionados ao lazer e aos serviços demandados pela família e assim por diante. O
habitar é caracterizado pelas constantes viagens, pela centralidade do local de trabalho e de
residência enquanto proteção e referência identitária, ao passo que a casa dos pais e dos sogros
dividem de certa forma a atenção enquanto portadores de tais referências.
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Se por um lado aumenta a proteção pela constituição de numerosos lugares, por outro a
vulnerabilidade pode manifestar-se a partir de quadros específicos, como a ansiedade em relação
à educação dos filhos, a busca de segurança no local de moradia, para si, o cônjuge e os filhos,
longos trajetos para ter acesso a serviços e ao mercado de trabalho ou mesmo para obter lazer e
cultivar os laços comunitários elementares.
Na terceira idade, vemos o espaço de vida involuir, quase voltando a ter as dimensões da
infância. Muitos lugares ficam no passado, estando presentes apenas na memória da pessoa,
fazendo parte de sua experiência, mas não mais de seu espaço de vida. A comunidade retrai-se
fortemente, voltando a compreender apenas poucos lugares na vizinhança e alguns parentes.
Novos lugares podem ser adicionados, principalmente ligados a atividades e serviços antes não
necessários. Segundo Courgeau (1988, p.18), “[...] L’espace de vie peut connaître une contraction
ou un repli dans l’espace, en perdant des implantations antérieures. C’est souvent ce qui se
produit lorsqu’un individu prend sa retraite et s’éloigne de son milieu de travail antérieur, tout en
gardant ses autres positions.”
Além da vulnerabilidade óbvia que se desenvolve nesta faixa etária (relacionada à saúde),
é significativa a dificuldade de locomoção e de acessibilidade aos lugares. Esta dificuldade às
vezes pode contribuir para a fragilização de vínculos solidários, dispersos no espaço
metropolitano. Por outro lado, a fixidez favorece o fortalecimento de relações mais próximas,
principalmente relacionadas à vizinhança e a círculos elementares locais.
Embora muitos elementos discutidos a partir deste espaço de vida possam ser válidos para
o habitar na RMC, o que não corresponde à dinâmica regional de forma mais significativa é a
migração entre as cidades ao longo da história de vida. De fato, na RMC, com a importância
relativa que todas as cidades da região possuem e a acessibilidade entre elas, este fenômeno é a
exceção na região. As pessoas nascidas e criadas em uma cidade, mesmo que não trabalhem nem
estudem nela, dificilmente mudam-se para Campinas ou Americana, os dois maiores centros da
região. O que observamos é o uso da mobilidade pendular para estabelecer estes nexos, muito
mais do que a mudança de residência. Esta é muito mais comum entre os migrantes, que chegam
na região, em grande parte em Campinas, e nos anos seguintes mudam-se em definitivo para
outra cidade. (Baeninger, 2002)
2
Utilizamos os Lares como uma metáfora, a partir da descrição de uma das cidades invisíveis de Italo Calvino. Estes
simbolizam os moradores mais antigos, que já estão enraizados com profundo envolvimento com o lugar e a região.
(Calvino, 1990)
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região, com suas relações elementares distantes, tendo um habitar des-enraizado. Chamaremos
a estes de Penates.3 (Marandola Jr., 2006)
Na idade adulta, os Lares da metrópole também têm o ápice de seu espaço de vida, com o
estabelecimento de novas relações elementares (família do cônjuge) e a mudança de comunidade
(casar em geral resulta em mudar seu espaço de vida). As relações de proteção estabelecidas na
infância e juventude são acrescentadas àquelas que o adulto irá desenvolver no novo local de
moradia, fornecendo aos filhos o casulo protetor e o Umwelt necessário, tal qual ele teve em sua
própria infância, na casa dos pais. As relações com outros municípios permanecem apenas
funcionais e esporádicas, como visitas a trabalho ou a algum ponto de turismo ou lazer. O espaço
de vida, embora amplo e diversificado, está fortemente concentrado em Campinas, na própria
metrópole.
Por fim, tal qual no primeiro modelo, a terceira idade traz a redução do espaço de vida à
comunidade e aos laços elementares em torno dos lugares primários. Morando na metrópole,
ainda pode-se gozar de certas acessibilidades a serviços e comércio, talvez até mantendo certos
níveis de mobilidade. No entanto, a maior parte dos lugares que configuraram o espaço de vida
ao longo da história de vida da pessoa, agora fazem parte apenas de sua memória.
3
Para Calvino (1990), os Penates representam os novos moradores, os migrantes, aqueles des-enraizados que
procuram as mudanças, o desenvolvimento e o novo, não raro entrando em conflito com os Lares por causa desta
diferença de perspectiva.
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Figura 02 – Habitar de-morado: Lares da metrópole
p
INFÂNCIA JUVENTUDE
Legenda
Algumas formas de habitar de-morado na região metropolitana têm mais relações entre as
cidades da região do que expresso na Figura 03. Os próprios dados de pendularidade e da
pesquisa Origem-Destino, realizada em 2003, apontam para estas relações significativas entre as
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cidades da região. (Jacob e Sobreira, 2005) Estes possuem seus lugares e referências culturais e
históricas bem estabelecidas, até mesmo em cidades pequenas como Jaguariúna, Holambra e
Pedreira. Cidades maiores como Valinhos, Sumaré e Indaiatuba, apesar de apresentar números
significativos de pendularidade (em especial Sumaré), possuem serviços e mercado de trabalho
amplo que absorve boa parte de sua mão de obra. Em vista disso, estes Lares de-moram-se em
sua própria cidade, mantendo relações específicas e funcionais com o município sede.
INFÂNCIA JUVENTUDE
Legenda
Como não possuem lugares do passado em sua memória, têm de estabelecer relações de
confiança e cumplicidade a partir da própria relação, o que Giddens (2002) chama de relações
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puras. Não há parâmetros para confiar ou não em alguém, pois não há relações elementares
envolvidas. Os únicos parâmetros são os expostos na própria relação. Estas são, evidentemente,
mais arriscadas, expondo os Penates, em especial na metrópole contemporânea, a perigos
variados, aumentando sua vulnerabilidade.
Legenda
A terceira idade para os Penates continuará marcada pelas constantes idas e vindas para a
cidade natal. No entanto, dificilmente estes voltarão para lá. Nesta fase do ciclo vital, seus
próprios filhos e netos já estarão vivendo na metrópole (capaz de absorver população) e seu
habitar já se tornou de-morado. Estes, no entanto, nunca serão Lares. Talvez seus filhos o sejam,
dependendo da natureza do envolvimento da família com o lugar de origem.
Com esta alta mobilidade espraiada em várias cidades e longos trajetos, estes Penates
assumem riscos altos ao mover-se e ao dirigir-se a lugares que mantém relações efêmeras. Só no
seu local de moradia é que possuem fixidez. Mesmo assim, esta é relativa e devido à mobilidade
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e ao esgarçamento do espaço de vida, é frágil em estabelecimento de Umwelt e comunidade.
Contudo, beneficiam-se da proximidade maior entre os moradores das cidades da região, que
apresentam quadros de coesão social mais expressivos que a metrópole. Na terceira idade, a
exemplo dos Penates da metrópole, vivem o dilema de voltar à terra natal ou acompanhar os
filhos, provavelmente genitores de uma nova geração de Lares.
Legenda
Por fim, a Figura 06 representa o espaço de vida de M.M., 26, morador do distrito de
Nova Veneza, em Sumaré, localizado na Rodovia Anhanguera, principal eixo rodoviário da
RMC, a 20 minutos do centro de Campinas. Bem integrado à dinâmica metropolitana, M.M. não
passou de algumas idas ao centro de Sumaré em sua infância. Na Juventude, estudou em
Americana e Campinas, estabelecendo relações pontuais nas duas cidades. Com familiares em
São Paulo e São Bernardo do Campo, sempre viajou para lá, em busca da complementação do
Umwelt.
Na Idade Adulta, vemos a complexidade que, apenas com esta idade, M.M. já alcançou na
região. Note-se que o aumento de lugares se concentra em Sumaré, com a casa da namorada
tornando-se um novo “ponto zero” de onde partem deslocamentos. A partir desta relação, seu
espaço de vida incorporou ainda a casa da sogra, o trabalho da namorada, além da casa de
parentes dela, também localizados fora da RMC.
Este espaço de vida mostra que, quando traçamos a biografia da pessoa no espaço a
complexidade das relações é muito maior do que aquelas que vimos nos modelos anteriores. É
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por este motivo que é tão importante realizar esta descrição em várias situações, que são muito
mais numerosas do que as expostas aqui. Há uma multiplicidade de formas de habitar que
repercutem no espaço de formas diversas, produzindo rebatimentos no ambiente e na mobilidade.
Em outra palavras, cada biografia e seu respectivo espaço de vida pode revelar aspectos
importantes da vulnerabilidade que precisam ser trazidos à tona e analisado em conjunto com
diferentes fontes de dados e informações.
INFÂNCIA JUVENTUDE
Legenda
IDADE ADULTA
Considerações Finais
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vida, apontam para questões pertinentes no contexto da distribuição espacial da população e sua
dimensão ambiental.
Por fim, o espaço de vida é uma noção que permite operacionalizar o habitar,
potencializando a descrição da mobilidade ao longo da biografia da pessoa. Permite associar
dados quantitativos e qualitativos, ao mesmo tempo que possibilita aprofundar no conhecimento
dos mecanismos e elementos que interferem no desenho das diferentes vulnerabilidades.
Aproximar-se destes mecanismos é um passo importante para poder auxiliar no gerenciamento
dos riscos e na diminuição da vulnerabilidade oriundas da relação população-ambiente.
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