São Paulo
2013
2
Projeto de Formatura
apresentado à Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, no âmbito
do Curso de Engenharia Ambiental
São Paulo
2013
3
FICHA CATALOGRÁFICA
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Doutor Ronan Cleber Contrera pelo seu apoio como orientador
durante toda a realização do projeto.
À Profa. Doutora Dione Mari Morita pelos conselhos, apoio, materiais
fornecidos e pela indicação de Margareth Makdisse, que possibilitou o
desenvolvimento do estudo de caso do projeto.
À Margareth Makdisse pela sua atenção e carinho em nos receber em seu
empreendimento e fornecer os dados tão fundamentais para a realização do estudo
de caso.
5
ÍNDICE
8.1
Dimensionamento
dos
componentes
do
sistema
de
biodigestão
.............................................
83
8.1.1
Biodigestor
Anaeróbio
......................................................................................................
83
8.1.2
Tambor
Flutuante
.............................................................................................................
86
8.1.3
Caixa
de
Carga
...................................................................................................................
89
8.1.4
Caixa
de
Descarga
.............................................................................................................
91
8.1.5
Tubulação
de
Transporte
de
Gás
......................................................................................
92
RESUMO EXECUTIVO
LISTA DE FIGURAS
Figura
1
-‐
Estimativa
da
composição
gravimétrica
dos
resíduos
sólidos
urbanos
coletados
no
Brasil
em
2008.
(fonte:
PNRS,
2011)
...............................................................................................................................................
15
Figura
2
-‐
Esquema
das
fases
microbiológicas
da
digestão
anaeróbia
(fonte:
SPEECE,
1983).
.............................
18
Figura
3
–
Processos
integrados
de
bioconversão
anaeróbia
para
recuperação
de
recursos
a
partir
de
resíduos
(
Fonte:
Khanal,
2008).
............................................................................................................................................
19
Figura
4
-‐
Taxa
de
crescimento
relativa
de
atividade
psicrofílica,
mesofílica
e
termofílica
(Fonte:
adaptado
de
Khanal,
2008).
..................................................................................................................................
22
Figura
5-‐
Tempo
de
detenção
em
função
da
temperatura
para
microrganismo
meso
e
termofílico
(Fonte:
Beli
apud.
Contrera,
2013).
..........................................................................................................................................
26
Figura
6-‐
Produção
de
biogás
em
função
da
temperatura
de
operação
e
do
tempo
de
detenção
(Fonte:
Beli
apud.
Contreta,
2013).
..........................................................................................................................................
26
Figura
7
–
Biodigestor
de
batelada
de
Alto
Teor
de
Sólidos
de
escala
industrial,
com
sistema
de
umidificação
e
recirculação
de
lixiviado
para
aumentar
o
tempo
de
retenção
celular
(Fonte:
Björsson,
2012).
..........................
27
Figura
8
-‐
Biodigestor
de
alimentação
contínua
com
sistema
de
recirculação
da
matéria
orgânica
em
digestão
misturada
com
novo
substrato
(Fonte:
Björsson,
2012).
.......................................................................................
28
Figura
9
–
Biodigestor
com
domo
flutuante
(Fonte:
Müller,
2007).
......................................................................
30
Figura
10
–
a)
um
reator
de
tratamento
de
resíduos
sólidos
orgânico
em
escala
institucional
b)
um
reator
para
tratamento
de
resíduos
sólidos
orgânicos
em
escala
domestica.
.........................................................................
30
Figura
11
–
Biodigestor
compacto
desenvolvido
pela
Appropriete
Rural
Technology
Institute
(ARTI).
................
31
Figura
12
-‐
Os
sistemas
de
digestão
anaeróbia
termofílico
e
mesofílico
utilizados,
apresentando
o
tanque
de
alimentação
e
mistura,
digestor
e
tanques
de
coleta
(Fonte:
The
University
of
Southampton
and
Greenfinch,
2004).
....................................................................................................................................................................
32
Figura
13
-‐
Diagrama
esquemático
do
sistema
de
digestão
anaeróbia.
...............................................................
32
Figura
14-‐
Digrama
simplificado
de
diferentes
processos
de
digestão
anaeróbia.
(A)
Kompogas,
(B)
Valorga,
(C)
Linde-‐
BRV,
(D)
Dranco,
(E)
Biocel
(Fonte:
Adaptado
de
Nayono,
2009).
..............................................................
35
Figura
15
-‐
Destino
dos
resíduos
sólidos
na
área
rural
(Fonte:
IBGE/PNAD
–
2008).
............................................
37
Figura
16
-‐
Esquema
de
fossa
séptica
(Fonte:
Chernicharo
2000).
........................................................................
38
Figura
17
–
Logo
da
empresa.
...............................................................................................................................
48
Figura
18
–
Foto
aérea
do
sítio.
.............................................................................................................................
49
Figura
19
-‐
Fogão
industrial
principal.
...................................................................................................................
49
Figura
20
–
Refrigerador
industrial
para
armazenamento
de
produtos
prontos.
.................................................
50
Figura
21
–
Fogão
especial
para
preparo
de
berinjelas.
........................................................................................
50
Figura
22
–
Horta
orgânica.
..................................................................................................................................
51
Figura
23
-‐
Geração
de
resíduo
dos
três
restaurantes
por
tipo
ao
longo
do
ano
de
2012.
...................................
53
Figura
24
-‐
Amostra
do
resíduo
coletado
e
resíduo
triturado.
..............................................................................
55
10
Figura
25
-‐
Na
primeira
imagem
está
apresentada
a
amostra
no
início
e
na
segunda
figura
está
apresentada
a
amostra
após
a
mufla.
..........................................................................................................................................
55
Figura
26
-‐
Lixeira
de
240
litros
para
resíduos
orgânicos.
.....................................................................................
57
Figura
27
–
Resíduo
misturado
e
coberto
com
capim
podado
como
pré-‐tratamento
para
a
compostagem.
.......
58
Figura
28
–
Composteira.
......................................................................................................................................
58
Figura
29
-‐
Escopo
do
projeto
(Fonte:
Adaptado
de
Khanal,
2008).
......................................................................
59
Figura
30
-‐
Representação
da
escolha
do
tipo
de
digestor
(Fonte:
adaptado
de
Reith,
2003)
..............................
62
Figura
31-‐
Exemplo
simplificado
do
funcionamento
do
digestor
de
domo
fixo
e
seus
principais
componentes.
1
Tanque
de
Mistura;
2
Digestor;
3
Armazenador
de
gás;
4
Tanque
de
deslocamento;
5
Tubulação
de
gás
(fonte:
OEKOTOP,
apud.
Werner
1989).
............................................................................................................................
67
Figura
32-‐
Digestor
de
domo
fixo:
1.
Tanque
de
mistura,
2.
Digestor,
3.
Compensação
e
tanque
de
descarga,
4.
Acumulador
de
gás,
5.
Tubulação
de
gás,
6.
Tampo
do
digestor
com
vedação,
7.
Acumulação
de
lodo,
8.
Tubulação
de
saída,
9.
Nível
de
referência,
10.
Escuma
sobrenadante,
quebrada
pelo
nível
variável
(Fonte:
Werner,
1989).
......................................................................................................................................................
69
Figura
33
–
Digestor
de
tambor
flutuante
com
estrutura
guia
interna.
1-‐Tanque
de
mistura,
11-‐Tubo
de
alimentação,
2-‐Digestor,
3-‐Tambor,
31-‐Estrutura
guia,
4-‐Tanque
de
armazenamento
de
efluente,
41-‐Tubo
de
saída,
5-‐Tubo
de
gás,
51-‐Water
trap
(Fonte:
Werner
et
al.,
1989
apud.
Sasse,
1988).
........................................
70
Figura
34
-‐
Digestor
de
tambor
flutuante
com
envoltória
de
água.
1-‐Tanque
de
mistura,
11-‐Tubo
de
alimentação,
2-‐Digestor,
3-‐Tambor,
31-‐Envoltória
de
água
como
estrutura
guia,
4-‐Tanque
de
armazenamento
de
efluente,
5-‐Tubo
de
gás
(Fonte:
Werner
et
al.,
1989
apud.
Sasse,
1984).
.......................................................
71
Figura
35-‐
Esquema
simplificado
de
um
digestor
plug
flow
(Fonte:
Rajendran,
2012)
.........................................
72
Figura
36
–
Planta
e
perfil
do
conjunto
digestor
tambor
flutuante
(medidas
em
centímetros).
...........................
85
Figura
37
–
Tanque
de
inox
Sander
AC
1500
que
será
usado
como
tanque
de
armazenamento
de
gás,
ou
tambor
flutuante.
...............................................................................................................................................................
87
Figura
38
-‐
Geração,
consumo
e
armazenamento
esperado
do
biogás
semanalmente.
......................................
88
Figura
39
–
Ilustração
esquemática
do
anel
de
suporte
para
a
brita
de
lastro
do
tambor
flutuante.
..................
89
Figura
40
-‐
Planta
e
perfil
da
caixa
de
carga
(medidas
em
centímetros).
.............................................................
90
Figura
41
–
Planta
e
perfil
da
carga
de
descarga
(medidas
em
centímetros).
......................................................
92
Figura
42
–
Til
Radial
Rede,
que
será
utilizado
para
o
sistema
de
drenagem.
......................................................
93
Figura
43
-‐
Desenho
esquemático
do
sistema
de
transporte
de
gás:
1)Biodigestor;
2)Válvula
de
segurança;
3)Registro
de
esfera;
4)Mangueira
Flexível;
5)Sistema
de
purificação
do
gás;
6)Drenos;
7)Caixa
de
controle
de
propagação
de
faíscas;
8)Mangueira
flexível
para
conexão
com
o
fogão;
9)refeitório.
.......................................
94
Figura
44
-‐
Planta
do
digestor
com
indicação
da
posição
do
painel
de
controle
(medidas
em
centímetro).
........
95
Figura
45
-‐
Fluxograma
para
controle
da
taxa
alimentação
do
digestor
com
base
no
monitoramento
de
pH
(Lettinga,
2010).
....................................................................................................................................................
96
Figura
46
-‐
Desenho
esquemático
da
localização
do
biodigestor
(em
destaque).
................................................
97
11
LISTA DE TABELAS
Tabela
1
–
Índice
de
produção
de
RSU
por
grande
região
do
Brasil.
.....................................................................
16
Tabela
2
-‐
Faixas
de
pH
ótimo
por
tipo
de
reator
de
acordo
com
diferentes
autores.
..........................................
22
Tabela
3
-‐
Concentrações
ótimas
de
macro
e
micronutrientes
para
os
microrganismos
metanogênicos.
...........
24
Tabela
4
-‐
Concentrações
inibidoras
ou
estimulantes
para
alguns
compostos
em
relação
à
digestão
anaeróbia.
..............................................................................................................................................................................
25
Tabela
5
-‐
Desempenho
dos
processos
de
via
seca
(Fonte:
Flor,
2006).
................................................................
36
Tabela
6-‐
Desempenho
de
processos
mesofílicos
por
via
úmida
(Fonte:
Flor,
2006).
...........................................
36
Tabela
7
–
Composição
típica
do
biogás
produzido
pela
digestão
anaeróbia
de
resíduos
orgânicos
(Fonte:
Bermann,
2013).
....................................................................................................................................................
41
Tabela
8
–
Propriedades
físicas
e
químicas
do
Metano
.........................................................................................
41
3
Tabela
9
–
Equivalentes
energéticos
de
1
Nm
de
biogás
com
outros
combustíveis
em
suas
unidades
de
comercialização
unidades
(Fonte:
Bermann,
2013).
.............................................................................................
41
Tabela
10
-‐
Emissões
de
compostos
voláteis
durante
compostagem
e
durante
maturação
após
digestão
anaeróbia
(Fonte:
De
Baere,
1999).
......................................................................................................................
46
Tabela
11
-‐
Fatores
de
emissão
para
diferentes
tecnologias
de
tratamento
e
disposição
final
de
resíduos
sólidos
urbanos
(Fonte:
Baldasano
e
Soriano,
1999).
.......................................................................................................
47
Tabela
12
-‐
Critérios
comparativos
entre
incinerador
e
biodigestor
anaeróbio
(Fonte:
EPE,
2008).
.....................
47
Tabela
1
-‐
Monitoramento
do
peso
de
resíduo
gerado
.........................................................................................
52
Tabela
2
–
Dados
gerais
sobre
a
geração
de
resíduos
...........................................................................................
52
Tabela
14
–
Resultados
dos
ensaios
realizados
para
determinação
das
concentrações
de
ST
e
SVT.
...................
54
Tabela
15
-‐
Produção
de
gás
segundo
diversos
autores.
.......................................................................................
64
Tabela
16
-‐
Critérios
utilizados
na
definição
dos
pesos
de
cada
um
dos
grupos
de
indicadores(adaptado
de
Gomes
et.
al,
2012).
..............................................................................................................................................
75
Tabela
18
-‐
Critérios
e
notas
para
as
diferentes
tecnologias.
................................................................................
81
Tabela
19
-‐
Desempenho
das
tecnologias
em
cada
um
dos
grupos
de
indicadores.
.............................................
82
Tabela
20
-‐
Lista
de
atividades
de
operação
e
manutenção
para
treinamento
dos
usuários.
(Fonte:
adaptado
de
Werner,
1989).
....................................................................................................................................................
101
Tabela
21
-‐
Tabela
de
custos
e
quantidades
dos
materiais
e
serviços
usados
para
a
construção
do
digestor
...
104
12
LISTA DE SÍMBOLOS
Ab – Benefícios Anuais
Ac - Custos operacionais
ADMC – Análise de Decisão com Múltiplos Critérios
ATS – Alto Teor de Sólidos
Bc – Incremento anual financeiro pelo uso do efluente como condicionador de solo
P0: Peso do recipiente
Bg – Incremento anual financeiro pelo uso do biogás
BTS – Baixo Teor de Sólidos
C – Custos operacionais
CNTP – Condições Normais de Temperatura e Pressão
CO – Carga Orgânica
DA – Digestão Anaeróbia
DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio
DQO – Demanda Química de Oxigênio
CQO – Carência Química de Oxigênio
FORSU – Fração Orgânica dos Resíduos Sólidos Urbanos
GLP – Gás Liquefeito de Petróleo
i – Taxa de juros real
P1: Peso do recipiente com a amostra
P2: Peso após a passagem pelo dessecador
P3: Peso após a passagem pela mufla
PEAD – Polietlino de Alta Densidade
PEM – Produção Específica de Metano
PVM – Produção Volumétrica de Metano
pH – Potencial Hidrogeniônico
PNRS- Política Nacional dos Resíduos Sólidos
PVC – Cloreto de Polivinila
PVM – Produção Volumétrica de Metano
RSU – Resíduos Sólidos Urbanos
ST – Sólidos Totais
STV – Sólidos Totais Voláteis
t – Tempo de vida útil da planta
TRH – Tempo de Retenção Hidráulico
UV – Ultra Violeta
VPL – Valor Presente Líquido
13
1. INTRODUÇÃO
Rejeitos
17%
Aço
2%
Vidro
2%
Matéria
Orgânica
52%
Papéis
13%
Pláshco
Total
14%
Rejeitos
17%
Aço
2%
Vidro
2%
Matéria
Orgânica
52%
Papéis
13%
Pláshco
Total
14%
.
20
2.2 BIODIGESTORES
.
21
2.2.1 PRÉ-TRATAMENTO
2.2.2.1 Temperatura
Os tratamentos por digestão anaeróbia costumam funcionar em três faixas de
temperatura: psicrofílica, mesofílica e termofílica. O sistema psicrofílico está
associado à temperaturas abaixo de 20°C, o mesofílico funciona na faixa entre 20°C
e 40°C (faixa ótima entre 30-35°C) e o termofílico entre 50°C e 60°C (Figura 4).
A temperatura influencia diretamente a velocidade do metabolismo
bacteriano, de modo que biodigestores operando na faixa termofílica produzem
maior quantidade de biogás em comparação com aqueles operando nas faixas
psicro e mesofílica. Isso resulta em menores tempos de detenção hidráulica, menor
volume para o tratamento e, consequentemente, em menor custo de implantação. A
redução no custo, porém, é compensada pelo gasto para aquecer o digestor. (FLOR,
2006)
23
2.2.2.2 pH
Cada grupo de bactérias envolvido no tratamento anaeróbio tem faixas de pH
ótimo específicas, sendo significativamente afetadas por pequenas mudanças no pH
ideal. Para a acidogênese o valor de pH ótimo está em torno de 6, enquanto que
para a acetogênese e a metanogênese o valor ótimo está em torno de 7, variando
de acordo com a literatura (Tabela 2). A atividade metanogênica cai drasticamente
para pHs menores que 6,5. O pH em um tratamento anaeróbio deve ser mantido
próximo ao neutro, uma vez que a acidogênese também se desenvolve bem em pHs
próximos a 7, sendo a metanogênese a fase limitante do processo. As preocupações
relativas ao pH são principalmente para garantir uma operação bem sucedida e o
controle do sistema anaeróbio . Quando as bactérias acidogênicas produzem mais
ácido do que as metanogênicas conseguem consumir o pH cai e o reator entra em
desequilíbrio (BJÖRSSON, 2012).
Tabela 2 - Faixas de pH ótimo por tipo de reator de acordo com diferentes autores.
2.2.2.4 Nutrientes
Como em todos os processos biológicos, o carbono, o nitrogênio e o fósforo
são essenciais para a digestão anaeróbia, entre outros nutrientes já presentes na
Fração Orgânica dos Resíduos Sólidos Urbanos (FORSU). Alguns autores apontam
a relação C:N ótima entre 20 e 30 e C:N:P em torno de 126:7:1 (FLOR, 2006). Um
excesso de carbono leva a um rápido consumo de nitrogênio pelas bactérias
metanogênicas e um excesso de nitrogênio leva a amônia a liberar-se para o meio,
causando um efeito tóxico. O balanceamento dos nutrientes pode ser feito pela
inclusão no substrato de produtos mais ricos em carbono, como papel ou resíduos
verdes, ou em nitrogênio, como estrumes animais e compostos ricos em proteínas
(FLOR, 2006). A inibição do processo de digestão por altas concentrações de
amônia é ainda intensificada na faixa termofílica, dado o aumento na sua
concentração com a elevação da temperatura, requerendo atenção especial neste
tipo de tratamento.
Além dos macronutrientes, apresentados na Tabela 3, é fundamental que
sejam fornecidos para os microrganismos os micronutrientes, que são em geral
substancias necessárias em baixíssimas quantidades, mas que são fundamentais
para o bom crescimento dos microrganismos no reator. Na Tabela 3 são
apresentadas as concentrações ótimas de macro e micronutrientes para os
microrganismos metanogênicos.
25
Macronutrientes Micronutrientes
Elemento Conc. (g/kgSST) Elemento Conc. (mg/kgSST)
Nitrogênio 65 Ferro 1800
Fosforo 15 Níquel 100
Potássio 10 Cobalto 75
Enxofre 10 Molibdênio 60
Cálcio 4 Zinco 60
Magnésio 3 Manganês 20
Cobre 10
Fonte: Lettinga (1996) apud Chernicharo (1997)
METAIS
3+
Cr - 130 260
6+
Cr - 110 420
Cu - 40 70
Ni - 10 30
Cd - - >20
Pb - 340 >340
Zn - 400 600
Fonte: Beli apud. Contrera, 2013.
O TRH típico para um reator completar a digestão varia de acordo com seu
tipo, a composição do resíduo e a tecnologia utilizada. Para os tratamentos
mesofílicos o TRH varia de 10 a 40 dias. Na faixa termofílica o tempo necessário é
reduzido, em torno de 14 dias para reatores operando com alta taxa de sólidos
(REICHERT, 2012). As Figura 5 e Figura 6 ilustram algumas relações entre o TRH e
faixas de temperatura de operação e produção de biogás.
27
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Figura 7 – Biodigestor de batelada de Alto Teor de Sólidos de escala industrial, com sistema
de umidificação e recirculação de lixiviado para aumentar o tempo de retenção
celular (Fonte: Björsson, 2012).
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2-&3.,#&'
/"$-&0#1'
6"&0,1).#1'
2-&3.,#&'
/"$-1".#&'
Para tecnologia de via seca a produção de metano ficou entre 250 - 430
m (CH4).ton-1(SVT), superior à via seca. Porém, as produções volumétricas e as
3
Tabela 6- Desempenho de processos mesofílicos por via úmida (Fonte: Flor, 2006).
38
Figura 15 - Destino dos resíduos sólidos na área rural (Fonte: IBGE/PNAD – 2008).
escala domiciliar com capacidade de tratar tanto os resíduos sólidos orgânicos como
esterco e esgoto sanitário, a baixos custos.
Nessa sessão, o levantamento de dados será focado na eficiência do sistema
mais utilizado para o tratamento de esgoto sanitário no meio rural, as fossas sépticas
e rudimentares, e a possibilidade de co-digestão entre resíduos sólidos orgânicos e
esgoto sanitário.
Os tanques sépticos constituem uma das unidades mais antigas de
tratamento de esgoto, e ainda hoje são amplamente utilizados devido a sua
simplicidade construtiva e operacional. São unidades de forma cilíndrica ou
prismáticas retangulares de fluxo horizontal que desempenham função múltipla de
sedimentação e remoção de material flutuante, além de se comportar como digestor
de baixa carga sem mistura e aquecimento. Consistem no principal tratamento para
residências e pequenas áreas que não são servidas por redes coletoras. Um
esquema de uma fossa séptica é apresentado Figura 16.
Inspeção Inspeção
Entrada
Saída
2.3.1 BIOGÁS
0,61 L de gasolina
0,58 L de querosene
3
1,54 kg de lenha
1 m de Biogás
1,43 kWh de energia elétrica
20 kg de lixo urbano
empreendimento por gás para cozinha, a utilização do biogás para este fim foi
escolhida.
Os principais componentes de um sistema de uso do biogás para cozinha
são:
Medidor de gás: Deve ser posicionado em uma posição estratégica para
fornecer informações confiáveis sobre a produção de gás, permitindo avaliar o
rendimento do biodigestor e a quantidade de gás disponível para consumo.
Medidores precisos de gás podem ser custosos e seu benefício deve ser avaliado.
Remoção de Sulfeto de Hidrogênio: Fundamental para evitar corrosão dos
sistemas de queima e maus odores, a concentração de H2S deve ser inferior a 1000
ppm (de Mes et al., 2003). A concentração de sulfeto de hidrogênio pode ser
significativamente reduzida passando o biogás por um tanque selado preenchido
com lã de aço, ou através de um sistema no qual o gás é borbulhado por um tanque
com água de forma que as substâncias mais nocivas são diluídas.
Tanque de Armazenamento: Essa estrutura é necessária apenas para
tecnologia que produzam gás a um volume constante. Como normalmente o gás
produzido não é constantemente consumido, é fundamental a implantação de um
sistema de armazenamento para evitar desperdício de gás e atender às demandas
nos momentos de pico de consumo, e garantir que a pressão no reator não aumente
de forma excessiva. O dimensionamento do sistema de armazenamento deve ser
preferencialmente suficiente para contemplar a produção de gás de um ou dois dias.
Para biodigestores de pequena escala, o gás deve ser armazenado em baixa
pressão. É possível armazenar o gás metano em alta pressão, porém é necessário
um sistema caro e com muita atenção para segurança devido ao risco de explosão
(LeAF, 2009).
Sistema de apoio de alívio de pressão: O coletor principal de gás deve ser
equipado com um sistema de escape para liberar qualquer excesso de gás. Este
sistema deve contar com uma válvula ajustada para uma pressão ligeiramente
menor do que a pressão máxima suportada pelo tanque de armazenamento.
Tubulação de gás e limitadores de fluxo: Para evitar a corrosão da
tubulação do sistema de abastecimento de gás, este deve ser feito de aço
inoxidável, PEAD ou PVC caso o sistema seja enterrado, sendo a segunda opção
mais barata, porém a mais suscetível a danos. Além disso, a tubulação deve conter
um limitador de fluxo para evitar ondas de gás para os fogões. A tubulação entre o
44
2.4.1 VANTAGENS
técnica, ao evitar gastos energéticos, já que o metano pode ser usado para essa
função. Este é um ponto em que tratamentos anaeróbios prevalecem sobre
tratamentos aeróbios, que são normalmente grandes consumidores de energia.
Estes, além de não gerarem energia aproveitável no processo, necessitam de
constante aeração.
Outra vantagem bastante pronunciada da DA é a menor geração de lodo.
Processos aeróbios geram enormes quantidades de lodo, de 50% a 60% da matéria
orgânica total carregada, que devem passar por pós-tratamento e disposição,
representando de 30-60% dos custos totais da operação. No tratamento anaeróbio
apenas 10% da matéria orgânica é convertida em lodo, com os outros 90% sendo
aproveitados como biogás. (Khanal, 2008).
Visto pelo lado da recuperação de nutrientes, a DA também apresenta
vantagens. Enquanto nos processos aeróbios deve-se fornecer nutrientes para os
microrganismos, a DA recupera esses nutrientes, em especial o fósforo, que fica na
matéria orgânica em digestão e é essencial para a sua utilização como fertilizante
(ver seção 2.3.3).
O processo ocorre em compartimento lacrado para impedir a entrada de
oxigênio, tóxico às bactérias existentes, evitando o vazamento de gases. É
essencial, porém, que o sistema seja bem construído e operado, dada a presença
significativa de H2S e o forte odor que esse gás gera caso escape do sistema.
Destaca-se ainda a aplicabilidade de processos anaeróbios em grande e
pequena escala, tendo baixo custo de implantação, baixa demanda de área e alta
tolerância a cargas orgânicas elevadas (Chernicharo, 2000).
2.4.2 DESVANTAGENS
Relação
Maturação após
Compostos Aeróbio (g/tResíduos) aeróbio/anaeróbio
anaeróbio (g/tResíduos)
(g/tResíduos)
Alcoóis 283,6 0,033 8.593,9
Cetonas 150,4 0,466 322,7
Terpenos 82,4 2,2 37,5
Esteres 52,7 0,003 17.566,7
Sulfuretos orgânicos 9,3 0,202 46,0
Aldeídos 7,5 0,086 87,2
Éteres 2,6 0,027 96,3
Total COVs 588,5 3,017 195,1
NH3 158,9 97,6 1,6