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Direito Constitucional - Parte 3 PDF
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DIREITO CONSTITUCIONAL I
AULAS PRÁTICAS
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PARTE III.1
CONCRETIZAÇÕES:
DIREITO CONSTITUCIONAL PORTUGUÊS
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o Unitextual: não há mais documentos com valor constitucional e não existem leis
de revisão fora da Constituição.
o Rígida: As normas constitucionais têm uma especial resistência à derrogação, não
valendo o princípio de que a lei posterior derroga lei anterior; a revisão pressupõe
a observância de um procedimento específico e exigente; só as leis de revisão
constitucional derrogam as normas constitucionais.
o Hoje fala-se de uma rigidez relativa, imposta pela interpretação atualista da
Constituição no seio de uma “sociedade aberta de intérpretes” (P. Häberle).
o Longa: A nossa Constituição é longa e tem 296 artigos. Opõe-se ao conceito de
Constituição breve.
o Programática: Está ligada a normas-fim ou normas-tarefa que incumbem o Estado
de um determinado programa.
o Compromissória: Traduz um compromisso entre o princípio liberal de direitos
individuais e o princípio socialista de direitos económicos e sociais; a forma de
governo parlamentar e presidencial; o princípio da unidade do Estado e da
autonomia regional; o sistema de fiscalização da constitucionalidade difusa e
concentrada.
O poder constituinte derivado assenta em três linhas de força: (1) desideologização; (2)
adaptação ao direito internacional; (3) autonomia política e administrativa de entes
públicos territoriais.
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Revisões Constitucionais
1982 Ordinária • Eliminação das “fórmulas linguísticas típicas das narrativas emancipatórias
da legitimidade revolucionária”.
• Atenuação da componente ideológica ao nível da organização económica
e agrária.
• Desmilitarização do projeto constitucional.
• Criação do Tribunal Constitucional.
Revisões Constitucionais
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o Nas revisões ordinárias, as alterações à Constituição têm de ser aprovadas por maioria de 2/3
dos deputados em efetividade de funções (art. 286.º/1 CRP).
o Nas revisões extraordinárias, aplica-se um processo agravado: exigência de uma maioria de 4/5
dos deputados em efetividade de funções para que a AR possa assumir poderes de revisão; as
alterações devem, depois, ser aprovadas por uma maioria de 2/3 dos deputados em
efetividade de funções (art. 284.º/2 e 286.º/1 CRP).
Limites circunstanciais
E ainda:
o A revisão deve ser feita de modo expresso (proibição das revisões tácitas).
o Forma: Lei Constitucional (art. 161.º/a e 166.º/1 CRP)
o Promulgação: o Presidente da República não pode recusar a promulgação da lei de revisão (art.
286.º/3 CRP).
o Publicação: Quer se trate de supressão de normas, quer se trate de uma substituição do texto
constitucional, quer de aditamentos, todas estas alterações devem ser inseridas no lugar próprio da
Constituição, publicando-se conjuntamente a Constituição, no seu novo texto, e a lei de revisão
constitucional (art. 287.º CRP).
Emendas Constitucionais
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o No que respeita aos limites inferiores, coloca-se a questão de saber se uma lei de revisão
poderá inserir na Constituição qualquer matéria. A resposta parece ser positiva, inexistindo
uma qualquer “reserva de matéria constitucional”. Não se aceitam, pois, limites inferiores de
revisão.
o No que respeita aos limites superiores, coloca-se a questão de saber se há normas da
Constituição que não podem ser objeto de revisão. A resposta parece ser positiva,
remetendo-nos para a temática dos limites expressos e tácitos.
o Os limites expressos são aqueles limites ao poder de revisão que estão expressamente
consagrados no próprio texto constitucional (Art. 288.º CRP). Correspondem ao núcleo
essencial da Constituição. Também designados de limites imanentes de revisão.
o Os limites tácitos são aqueles que não estão expressamente consagrados na Constituição.
Alguns podem deduzir-se do próprio texto constitucional (limites textuais implícitos) e outros
são imanentes a uma ordem de valores não positivados (limites tácitos propriamente ditos).
HANS NEF
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E será que podemos dizer que os limites ao poder de revisão são para sempre? Será
que os mesmos vinculam o próprio poder constituinte derivado?
o Limites absolutos são aqueles que não podem ser superados pelo exercício do
poder de revisão.
o Limites relativos são aqueles que visam apenas condicionar o poder de revisão,
mas que não impedem a modificação das normas constitucionais, desde que se
cumpram as condições agravadas estabelecidas por esses limites.
Segundo o curso, terão os limites expressos uma natureza absoluta? Sim, são “normas
superconstitucionais” colocadas no texto pelo poder constituinte originário.
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Limites
Limites Materiais
Conjunturalmente
Genuínos
Justificados
(Absolutos)
(Relativos)
As alíneas d), e), n), o) do art. 288.º são matérias de Já no caso das alíneas j) e l) do art. 288.º da CRP,
importância superior e fulcral, sendo limites que estamos ante limites que surgem como garantia de
funcionam como garantia dos princípios fundamentais cada princípio na expressão concreta que têm na
da Constituição. Por conseguinte, não pode o regime Constituição.
jurídico dessas matérias ser tocado.
Assim, não se impede a alteração do seu regime
A revisão constitucional tem de respeitar o seu regime constitucional, podendo tais matérias ser tocadas,
constitucional como limite absoluto. mas com limites (não é possível a sua eliminação ou
substancial modificação).
P.e. Al. d): a revisão constitucional só poderá acrescentar
outros direitos fundamentais, mas nunca eliminar os P.e. Al. j): a revisão constitucional pode alterar o
atualmente reconhecidos. sistema de governo, mas não eliminar a separação,
nem a interdependência entre os órgãos de
soberania.
Deve, porém, rejeitar-se a chamada técnica de dupla revisão (Jorge Miranda / Galvão
Telles).
Segundo uma tal posição, qualquer norma da Constituição pode ser modificada desde
que se respeitem os limites materiais da Constituição. Assim, as normas constitucionais
protegidas pelos limites não são alteráveis, mas os limites em si mesmos já o são. Desta
forma, é possível que se alterem os limites e, depois, as normas constitucionais à luz da
lei constitucional que aprova a alteração dos limites de revisão.
A doutrina tem, porém, entendido que tal conduz a uma verdadeira situação de fraude
constitucional. Além disso, as normas constitucionais que estabelecem os limites de
revisão são “superconstitucionais”, já que resultam do exercício do poder constituinte
originário, sendo com base nelas que se controlam as alterações à Constituição, i.e. o
poder constituinte derivado.
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A não observância, pela lei de revisão, dos limites (formais, circunstanciais e materiais)
estabelecidos na Constituição acarreta a desconformidade constitucional da lei de revisão.
Segundo J. J. Gomes Canotilho:
(1) Casos de falta de competência absoluta do órgão que Inexistência (da lei de revisão
emanou a lei de revisão (p.e. aprovação pelo Governo);
(2) Leis de revisão aprovadas pela AR, mas fora dos casos
constitucional)
em que esta, nos termos constitucionais, tem poderes de
revisão (v. art. 284.º/2 e 289.º CRP);
(3) Leis de revisão votadas pela AR no uso de poderes de
revisão, mas não aprovadas pela maioria qualificada
constitucional exigida (v. art. 286.º/1 CRP).
Não indicação taxativa e expressa das alterações a Inexistência (da lei de revisão)
introduzir no texto constitucional (art. 287.º CRP)
Desrespeito do processo próprio previsto no art. 285.º/1 Inconstitucionalidade Formal
CRP (p.e. aprovadas mediante proposta do Governo)
Infração dos limites materiais de revisão (art. 288.º CRP) Inconstitucionalidade Material
A inconstitucionalidade material e formal das leis de revisão pode e deve ser apreciada pelos
tribunais (art. 204.º CRP) e pelo Tribunal Constitucional nos termos dos arts. 280.º e 281.º da
CRP – processo de fiscalização sucessiva (há dúvidas quanto à possibilidade de controlo
preventivo).
Exercícios de Exame
a) A primeira revisão da Constituição de 1976, que ocorreu em 1982, foi uma revisão
extraordinária.
b) A terceira revisão à Constituição de 1976 resultou de exigências relativas à adesão, por
Portugal, do Tratado de Maastricht.
c) Foi com a segunda revisão à Constituição de 1976, que ocorreu em 1989, que se criou
o Tribunal Constitucional.
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Exercícios de Exame
II.
O decreto foi enviado ao Presidente da República, que o promulgou, tendo a lei de revisão
constitucional sido publicada, juntamente com a Constituição com as alterações inseridas em
lugar próprio.
A revisão constitucional é válida? Justifique.
Exercícios de Exame
III.
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Tópicos de Resolução
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Juridicidade
A juridicidade sempre implica a proteção dos indivíduos, não só contra o Estado, mas
também contra os outros indivíduos.
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Constitucionalidade
Todos os poderes públicos estão vinculados à Constituição, a uma ordem jurídica fundamental à
Supremacia da Constituição.
Desde logo, podemos afirmar que existe uma vinculação do legislador à Constituição:
o As leis têm de ser feitas pelo órgão definido pela Constituição, através procedimento e
com a forma por ela fixados.
o Proíbem-se as leis de alteração da Constituição que não sejam leis de revisão (art.
161.º/a, 284.º a 289.º da CRP)
o Todos as leis devem ser conformes à Constituição.
Além disso, existe uma clara vinculação de todos os atos do Estado à Constituição:
o Todos os atos dos poderes públicos, incluindo atos políticos, têm de respeitar a
Constituição.
o Todos os atos dos poderes públicos não podem violar a Constituição através do não
cumprimento de deveres jurídicos de legislar.
Fala-se ainda de uma reserva de Constituição, na medida em que determinadas matérias só podem
ser reguladas pela Constituição e não por lei ordinária.
o Princípio da tipicidade constitucional de competências (art. 111.º/2 da CRP);
o Princípio da constitucionalidade das restrições aos direitos, liberdades e garantias (art.
18.º/2 da CRP)
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o Este princípio não implica uma rigorosa separação orgânica dos poderes. Por
exemplo, o Governo também exerce a função legislativa. Basta, portanto, que
estas partilhas de poder não ponham em causa o núcleo essencial da ordenação
de poderes feita pela Constituição. Neste sentido, ele é um princípio normativo-
autónomo.
o A distribuição das diferentes funções pelos diferentes órgãos tem de ser feita
com base em critérios. Cada função deve ser atribuída ao órgão que pela sua
estrutura, titularidade e modo de trabalho, possa exercer de forma mais eficaz
uma determinada função. O exercício de cada função deve ser funcionalmente
adequado.
o AR: arts. 147.º, 148.º, 171.º a 181.º da CRP;
o Governo: arts. 183.º e 184.º da CRP;
o Tribunais: art. 202.º da CRP.
o Para que o poder seja limitado e moderado, não basta que haja uma distribuição
de cada um deles por diferentes órgãos (arts. 2.º e 111.º CRP). O próprio poder
tem de se controlar reciprocamente (checks and balances).
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Sustentabilidade Ambiental
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Subprincípios concretizadores
Surge com as Revoluções Liberais, iniciadas nos finais do séc. XVIII, à medida que o
Estado se vai subordinando ao Direito: pretendem-se regras que defendam os cidadãos
da Administração.
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Com a passagem da época liberal para a época do Estado de Direito Social (transição do
séc. XIX para o séc. XX), altera-se o conceito de lei. Agora, para além de se protegerem os
cidadãos, também se visa a prossecução do interesse público.
Como são muitos os domínios onde o Estado passa a intervir, a Administração está não
só subordinada à lei, mas a todo o Direito (Constituição, Direito Internacional, etc.) à
Fala-se de um princípio de juridicidade (art. 266.º/2 da CRP).
Existem ainda:
à Matérias de competência concorrente (art. 198.º/1/a da CRP)
à Matérias da exclusiva competência legislativa do Governo (art. 198.º/2 da CRP)
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Exercícios de Exame
a) No quadro da CRP, o princípio da separação de poderes implica que cada poder seja
atribuído exclusivamente a um único órgão.
b) O princípio da separação dos poderes é uma forma de limitar o poder.
c) Nas matérias de reserva relativa de competência legislativa, o Governo pode intervir
desde que a AR o autorize através da emanação de um decreto-lei de autorização.
O Homem necessita de segurança para conduzir e planificar a sua vida. Exige-se, pois,
que qualquer ato de qualquer poder (legislativo, executivo ou judicial) seja fiável,
racional, transparente, claro, de forma a que o cidadão possa, com segurança, dispor da
sua vida, planeá-la e conhecer os efeitos jurídicos dos seus próprios atos. No fundo, cada
um de nós há-de saber qual o quadro legal em que nos inserimos para planificar as
nossas vidas. Protege-se, pois, a confiança que os cidadãos depositam na continuidade
do quadro legal existente.
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Retroatividade exigida: leis penais de conteúdo mais favorável ao arguido (art. 29.º/4
CRP)
Nos demais casos, uma lei só será inconstitucional se violar de forma ostensiva/excessiva
certas normas ou princípios jurídico-constitucionais, mormente o princípio geral da
segurança jurídica.
1.º - Há que verificar se houve uma afetação das legítimas expetativas dos cidadãos. A
mesma existirá quando estivermos ante uma alteração na ordem jurídica com que
razoavelmente os destinatários da nova norma não podiam contar (não basta uma mera
convicção psicológica).
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No que respeita a atos jurisdicionais, este princípio remete-nos para o instituto do caso
julgado, traduzido na estabilidade definitiva das decisões judiciais, quer devido à
impossibilidade de recurso ou reapreciação de decisões já tomadas (caso julgado
formal), quer porque a relação material controvertida é decidida em termos definitivos,
impondo-se a todas as autoridades (caso julgado material). Este princípio não está
expressamente consagrado na CRP, mas decorre de vários preceitos do texto
constitucional (art. 29.º/4 e 282.º/3 CRP). Este é fundamental para garantir a estabilidade
da jurisprudência, obrigando os juízes a tomar medidas com convicção e
responsabilidade.
No que respeita a atos da administração, fala-se em força de caso decidido dos atos
administrativos, já que o mesmo goza de uma tendencial imutabilidade traduzida na (1)
auto-vinculação da administração na qualidade de autora do ato e como consequência
da obrigatoriedade do mesmo e na (2) tendencial irrevogabilidade do ato normativo a
fim de salvaguardar os interesses dos particulares destinatários do ato.
à Apesar disso, na atual sociedade de risco (U. Beck), cresce a necessidade de se
tomarem atos provisórios e atos precários para que a administração possa reagir à
alteração de situações fáticas, prosseguindo o interesse público e salvaguardando outros
princípios constitucionais.
Casos Práticos
1.
Em janeiro de 2019, o Governo aprova um decreto-lei que aumenta a taxa de IRS,
devendo o diploma legal produzir efeitos desde fevereiro de 2018. Aprecie a validade
deste decreto-lei do ponto de vista jurídico-constitucional.
2.
Em setembro de 2019, é aprovada a Lei Y, a qual determina que o cargo de deputado
europeu passa a ser incompatível com o cargo de Presidente da Câmara. Manuel,
Presidente da Câmara de X e deputado europeu desde 2016, vê a sua situação presente
afetada. Consulta-o para que emita um parecer quanto à validade de uma tal lei do
ponto de vista jurídico-constitucional. O que lhe diria?
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Vincula todos os poderes públicos (legislativo, executivo e judicial). O mesmo nasce com
vista a limitar principalmente o poder executivo (estando ligado ao princípio da
legalidade da administração, tal como entendido no séc. XVIII). Pretende garantir-se que
o Estado não afete a pessoa humana de forma desnecessária, fútil ou
desproporcionadamente.
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Caso Prático
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Andrew, jogador de futebol reconhecido internacionalmente, é informado de que uma
fotografia sua em vestes comprometedoras tirada durante as suas férias nas Maldivas
está prestes a ser publicada pela revista X. No entanto, alertado a tempo, Andrew
consegue obter junto do tribunal uma ordem de proibição de publicação da fotografia
mencionada.
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O art. 20.º da CRP consagra ainda um princípio do acesso ao direito ou garantia da via
judiciária:
o Abertura da via judiciária enquanto imposição diretamente dirigida ao
legislador para dar operatividade prática à defesa dos direitos;
o Controlo judicial enquanto “contra-peso” clássico em relação ao exercício
dos poderes executivo e legislativo;
o Garantia da tutela jurisdicional efetiva;
o Garantia do patrocínio judiciário (art. 20.º/2 e 208.º CRP)
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Exercícios de Exame
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