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TEMA DA SEMANA

16 de Junho de 2016

PROPOSTA  
A  partir  da  leitura  dos  textos  motivadores  seguintes  e  com  base  nos  
conhecimentos  construídos  ao  longo  de  sua  formação,  redija  texto  
dissertativo-­‐argumentativo  em  norma  padrão  da  língua  portuguesa  sobre  o  
tema:"A  cultura  de  estupro  no  Brasil".  Apresente  
proposta  de  intervenção,  que  respeite  os  direitos  humanos.  Selecione,  
organize  e  relacione,  de  forma  coerente  e  coesa,  argumentos  e  fatos  para  
defesa  de  seu  ponto  de  vista.

A cultura de estupro no Brasil

Texto 1

O estupro coletivo sofrido por uma adolescente de 16 anos no Rio levantou uma questão: vivemos
uma cultura do estupro? Para responder, o jornal “O Estado de S.Paulo” falou com a professora de
Antropologia da USP Heloisa Buarque de Almeida, que coordenou o programa USP Diversidade
quando vieram a público os casos de estupro na Faculdade de Medicina. Hoje ela participa da rede
Não Cala.

— – Nós vivemos numa cultura de estupro? O que isso significa?

Para entender o que isso tem a ver com o Brasil, é preciso pensar no tipo de produção cultural que
a gente tem, que por um lado naturaliza a desigualdade entre homens e mulheres e por outro
torna as mulheres objetos e traz a ideia de que o homem não consegue se conter. Como se o
homem fosse uma espécie de bicho descontrolado. O que não é verdade porque, se fosse assim,
todos os homens seriam predadores sexuais. Um caso clássico é o de uma propaganda de cerveja
do carnaval do ano passado que dizia “deixei o não em casa”, que sugere que a mulher diz ‘não’,
mas no fundo quer dizer ‘sim’.
As pesquisas com violência contra as mulheres mostram que o estupro é muito mais comum do
que a gente imagina, acontece de modo muito mais corriqueiro. Estudo recente do Ipea calculou
que 10% a no máximo 30% dos casos são de fato denunciados. Isso porque vivemos numa
sociedade que nutre a ideia que se uma menina denuncia um estupro, a primeira coisa que
acontece é cair a culpa sobre ela. Sabem que vão perguntar: mas você estava bêbada ou de
minissaia. Isso é naturalizado em várias produções culturais. Temos músicas que descrevem cenas
que parecem estupros e tocam como se fosse normal.
TEMA DA SEMANA
16 de Junho de 2016

— – Muita gente tem dito: em vez de ensinar a menina a não ser estuprada, tem de ensinar os
meninos a não estuprar. É só uma questão de educação?

A primeira coisa que tem de acontecer é punir os agressores. Hoje pune-se muito pouco esse tipo
de caso. Muitos dos BOs que fizemos de casos na Universidade de São Paulo nem sequer foram
investigados. Mas não basta punir. Educação é fundamental. É urgente falar de gênero na escola.
Quando um menino pequeno está na escola, chora, e o pai fala: ‘homem não chora, bata no
menino que bateu em você’, ele aprende que não pode expressar seu sentimento a não ser pela
agressão. É ainda dominante uma cultura que os meninos têm de saber se defender. A gente
ensina a se expressar pela violência. Tem de educar os meninos a ser amigos das meninas.(…).
fonte: http://www.geledes.org.br/sociedade-naturaliza-cultura-do-estupro-diz-antropologa/, data
29/05/16, acesso em 29/05/16

Texto 2

Pesquisa divulgada pela organização internacional de combate à pobreza ActionAid nesta sexta-
feira (20) mostra que 86% das mulheres brasileiras ouvidas sofreram assédio em público em suas
cidades. O levantamento mostra que o assédio em espaços públicos é um problema global, já que,
na Tailândia, também 86% das mulheres entrevistadas, 79% na Índia, e 75% na Inglaterra já
vivenciaram o mesmo problema.(…)
Em relação às formas de assédio sofridas em público pelas brasileiras, o assobio é o mais comum
(77%), seguido por olhares insistentes (74%), comentários de cunho sexual (57%) e xingamentos
(39%). Metade das mulheres entrevistadas no Brasil disse que já foi seguida nas ruas, 44% tiveram
seus corpos tocados, 37% disseram que homens se exibiram para elas e 8% foram estupradas em
espaços públicos. “É quase uma exceção raríssima que uma mulher não tenha sofrido assédio em
um espaço público. É muito preocupante. A experiência de medo, de ser assediada, de sofrer
xingamento, olhares, serem seguidas, até estupro e assassinato. Os dados são impressionantes se
pensarmos que a metade das mulheres diz que foi seguida nas ruas, metade diz que teve o corpo
tocado”, diz a representante da ONU Mulheres, Nadine Gasman.(…).
Para a representante da ONU Mulheres no Brasil, os dados refletem a desigualdade entre homens
e mulheres na sociedade. “É uma questão de gênero, de entender que na sociedade, qualquer que
seja, as mulheres não são consideradas iguais aos homens. A ideia é que a mulher está
subordinada no lar, em casa, no trabalho. Dados [da Organização Mundial da Saúde] apontam que
uma a cada três mulheres sofre violência doméstica. Para os homens, os corpos e as vidas das
mulheres são uma propriedade, está para ser olhada, tocada, estuprada”, disse.
TEMA DA SEMANA
16 de Junho de 2016

fonte: http://www.brasilpost.com.br/2016/05/20/mulheres-brasileiras-assedio-pesquisa-
_n_10069316.html , data 20/05/16, acesso em 29/05/16

Texto 3
 
 

Segundo o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, todos os anos cerca de 50 mil
pessoas são estupradas no Brasil. Esses são os números oficiais, obtidos a partir da papelada
formal. Mas eles não correspondem à realidade. O estupro é um dos crimes mais subnotificados
que existem e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada estima que os dados oficiais
representem apenas 10% dos casos ocorridos. Ou seja, o verdadeiro número de pessoas
estupradas todos os anos no Brasil é mais de meio milhão.(…) Os casos registrados são baixos
porque existe um comportamento persistente que cerca o estupro: o silêncio. Vítimas não
denunciam seus agressores, policiais não investigam as acusações, famílias ignoram os pedidos de
ajuda, instituições não entregam seus criminosos – esses mecanismos invisíveis fazem com que
90% da violência sexual jamais seja conhecida por ninguém. E isso, sim, é um crime ainda maior do
que a soma de cada caso.
Apesar de entendermos o estupro como um dos piores crimes que podem acontecer a alguém –
segundo pesquisas sobre percepção de crueldade, ele só perde para o assassinato -, somos
estranhamente incrédulos para acreditar que ele realmente acontece. O estupro é o único crime
no qual a vítima é julgada junto com o criminoso. Imagine que roubaram o seu celular e você
decide fazer um B.O. Agora imagine que o delegado que pegou o seu caso resolve perguntar
onde você foi assaltado, que horas eram e se você era conhecido por trocar de aparelho o tempo
todo. Depois ele pergunta se você tem certeza de que o assalto realmente aconteceu ou se você
não deu o celular ao bandido por vontade própria. Se você então explica que o roubo foi de
madrugada e depois de você ter tomado umas cervejas, o delegado decide – por conta própria –
que não houve crime algum: você estava na rua e bêbado, quem pode garantir que você está
falando a verdade? Ou então, pior, quem disse que você não queria ter sido assaltado? (….)

O que aconteceu no último mês [a reportagem é de julho/2015] em Castelo do Piauí, a 180 km de


Teresina, – um dos mais assustadores casos de estupro do noticiário recente – é o tipo de crime
que aterroriza o imaginário das pessoas. É o tipo de crime também que costuma receber mais
atenção: meninas muito novas atacadas por desconhecidos armados obviamente muito cruéis. São
casos horríveis, que todo mundo condena com veemência: os ataques ganham destaque nos
jornais, delegados e juízes ficam indignados e especialmente empenhados em punir os criminosos,
que, quando chegam à cadeia, precisam até mesmo ser afastados dos outros presos para não
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16 de Junho de 2016

serem mortos. A punição é exemplar. Mas, ao contrário do que parece, esse tipo de estupro é
também a minoria dos casos. Primeiro, pelo desenrolar no sistema de justiça. No Brasil não há
estimativas exatas, mas nos EUA apenas 0,2% a 2,8% dos casos de estupro terminam com
condenações. Graças aos mecanismos que já vimos – a vergonha das vítimas, os procedimentos
burocráticos lentos e punitivos para a mulher, o medo de ser julgada e a humilhação nas cortes -,
isso quer dizer que 99% dos homens que estupram seguem tranquilamente com suas vidas, sem
nenhuma consequência. Dá para imaginar que as estatísticas sejam mais desanimadoras aqui no
Brasil. O crime de Castelo também foge à regra porque na maior parte os casos não são tão
extremos: os criminosos não são tão maldosos, as vítimas não são tão indefesas, a violência é mais
sutil. De fato, existe um mito de que estupros apenas acontecem de noite, em vielas escuras, por
parte de malfeitores armados e encapuzados que atacam donzelas virginais. A verdade não é bem
assim.
Provavelmente o dado mais triste sobre estupros no Brasil diz respeito ao perfil das vítimas:
segundo o Ministério da Saúde, 70% das estupradas são crianças e adolescentes de até 17 anos
(dá umas 350 mil pessoas ao ano, uma Zurique inteira) e a maior parte delas foi violentada dentro
de casa por pessoas de confiança, como padrastos ou amigos da família. Mas, mesmo entre
adultos, o mito do estuprador maligno desconhecido não passa disso: mito. Na vida real, boa
parte dos casos de violência sexual acontece dentro de casas e casamentos, depois de festas ou
encontros, no meio de relações sexuais que começaram consensuais, entre pessoas que já se
conheciam e com agressores que nem de longe têm o perfil de estupradores. No Brasil, por
exemplo, entre 10% a 14% de todas as mulheres vão sofrer violência sexual por parte de seus
parceiros.
fonte: http://super.abril.com.br/comportamento/como-silenciamos-o-estupro, edição 349,
julho/2015, acesso em 29/05/16

 
 
 
 
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