Alil caminhava sozinha pelo jardim. Nenhuma alma viva habitava aquele pequeno paraíso esquecido pelas sombras das velhas árvores, mas ao lado do abacateiro um pequeno portal entre as árvores por vezes trazia a presença de estranhos amigos “imaginários”, quando eles não apareciam fazia dos animais seus amigos.
A amizade estranha e distante com as cobras e pássaros não era no entanto como a presença de outras crianças, mesmo que todas as outras crianças parecessem apenas rudes e distantes.
Ela não tinha amigos, vivia isolada com seu pai, um velho pintor que se isolava em função das tintas que pudessem expressar seu silencioso mundo, vivia isolada na estranha solidão de seu atelier de montanhas. As crianças no entanto sem tintas veem as coisas esquecidas que um dia habitaram o mundo, sobre o abacateiro deitado ela subia fingindo montar cavalos imaginários como os estranhos cavaleiros das histórias dos livros de seu pai.
Foi quando um cavalo estranho e aparentemente real apareceu, ele parecia maior que a maioria dos cavalos que ela via com os corredores do lago. Algo nele era distinto com olhos fundos e tristes, principalmente a estranheza de ser como o cavalo imaginado ao montar no abacateiro.
Ele relinchou e deu as costas, como criança curiosa foi atrás dele, que misteriosamente desapareceu entre as árvores. Hora do almoço, dizia sua velha avó de longe. Afastado dali um garoto guardava cada um de seus dentes em um pote de vidro.
2. A Fada dos Dentes
A mãe dele dizia que a fada dos dentes lhe daria em troco moedas se colocasse os dentes debaixo do travesseiro. O jovem Vitor embasbacado com a ambição das fadas concluiu que seus dentes eram do mais puro e valioso marfim a ponto de valer todo o ouro maldito das fadas.
Guardava seus dentes um a um em um pote de vidro planejando construir para si um castelo quando todos os seus dentes caírem e seria então a criança banguela mais plena de todas.
Um dia sonhou que o mais valioso deles caía, então o vendia para ir para bem longe dali. Algo sobre a permanência doía mais que os dentes. Quando acordou sua avó a muito tempo morta chorava na beira da cama e beijava suavemente sua cabeça. Esfregou os olhos assustado e ela sumiu.
Quando desceu as escadas seu café da manhã não estava ali. Seu pai aparecia quieto na sala, ele só surgia em aniversários desde que ele podia se lembrar, mas Novembro ainda levaria nove meses, algo parecia errado e sentiu que devia chorar, mas apenas o encarou quieto. Sua mãe havia morrido na madrugada anterior de uma reação alérgica repentina aos frutos do mar. Seu pai não soube contar. Disse que sua mãe foi fazer uma longa viagem e que eles deveriam sair. Ele se trancou por horas no armário amaldiçoando cada um de seus dentes.
Deixou o último deles sobre o travesseiro e finalmente chorou sobre a cama. Vitor nunca mais acreditou em fadas. Enterrou seu pote de vidro no jardim da velha casa antes de se mudar as pressas para a capital com o pai.
3. Leanan Sidhe
Era dita pelos tolos como a mais bela entre as flores e a mais afinada entre as vozes. Quando os homens ouviam sua voz automaticamente sucumbiam ao miasma de seu canto, mas desejavam escondê-la do mundo. Tomar a voz de seus lábios com beijos e promessas para si.
Jamais a tomariam por esposa, mas sonhavam com suas curvas, com seu olhar cético, rindo do egocentrismo e pequeneza de suas próprias artes egoístas. Ela jamais mentia para engrandecer seus egos, mas jamais os feriu com palavras cruéis.
Um olhar bastava e assim cresciam as canções através de seus olhos sinceros e se contorcia de prazer ao ouvir uma boa canção. Leanan Sidhe era o que se pensava. Sexo é sobre poder e tudo mais era sobre sexo dizia algum bebum irlandês no livro sobre a prateleira de Lena.
Era uma moça doce e cheia de sonhos. Conhecia todos os grandes e todos os novos talvez promissores, quase sempre homens.
Achava que iriam ajudá-la a aprender a brilhar. A também ser uma voz doce a ser ouvida, a trazer vida, mas sedentos por musas davam contas de pérolas a ela, seduzidos pelas formas do que pensavam serem as musas ou as leanan sidhe.
Eventualmente o desejo maníaco por Helenas de Tróia os levavam a destruição pela gloriosa disputa. Ela ia ainda cantando aos próximos por uns anos enquanto ela não apodrecia ou o sono leve permitisse voltar para casa onde todos cantam e dançam por dias sem o tempo passar.
4. Glaistig
Gregório não sabia se acreditava nas fadas. Seus tios escoceses contavam sobre elas desde pequeno, mas ele nunca conseguia vê-las. Tentou de tudo, sonhava noite adentro com a canção que delas vinha.
Ganhou de seu avô um velho bandolim, o velho lhe contava sobre o mar e das canções de marinheiros para sobreviver às sereias e iaras traiçoeiras. Canções escoteiras e choros antigos para se tocar em roda e atrair seres mágicos.
Cresceu e não ouvia mais a canção das fadas em sua cabeça. Um dia lembrou subitamente seu tio escocês dizendo que um dia ele aprenderia a canção das fadas, mas o alertou: “Don’t trust the fairies and beware with the red hair”.1
Ele então jovem se embebedou mais uma vez até ouvir de novo a canção das fadas. Um dia sentiu perder tudo. Já não ouvia mais cantos feéricos, tão pouco conseguia tocar seu bandolim. Decidiu então fazer de uma só vez tudo aquilo que lhe era dito para evitar.
1 “Não acredite nas fadas e cuidado com cabelos vermelhos.” Roubou uma garrafa e bebeu do último uísque de ano novo, fugiu para as montanhas com seus últimos trocados onde seu avô contava habitarem fadas escondidas. Subiu então sozinho uma montanha e viu uma mulher estranha de cabelos vermelhos pelada no topo dela.
Esfregou os olhos por instantes e se sentiu confuso, pois ao vê-lo ela ria desesperadamente, mas ele só podia ouvir os sons dos gaviões que rodeavam a montanha.
- Você é um bardo que ficou cego. Vou ajudá-lo a tocar se me ajudar a ser mais humana. -
Ela disse sem dizer seu nome ou mover os lábios.Ele então ouviu sua voz e hipnotizado convencido de ser um delírio causado pelo uísque decidiu tomar a voz bebendo dos lábios dela.
Lena parecia gigante, mas a cada gole que bebia dela entornado de uísque fazia com que suas cordas brilhassem, mas a cada dia ela ia diminuindo. O fogo vermelho ía incendiando as cordas e se apagando aos poucos, achava que viraria humana, mas de repente se via como uma pequena fada familiar e muda a guiar de novo e as cordas brilhantes de seu bandolim produziam canções mágicas. Meses depois ainda o acompanhava como uma fada minúscula a voar, mas ele não podia enxergá-la, então ela lhe ensinou a colher um cipó mágico enquanto ela separadamente colhia folhas sagradas com a mulher bode.
Beberam todos da bebida sagrada, ainda assim ele não podia ver as fadas das canções que ouvia em seus sonhos. Precisou novamente se perder a tentar vê-las, subitamente fugiram tempos depois a uma grande pedra na beira do mar onde monstros marinhos cantam.
Uma estranha dama gigante com cabelos que reluziam os raios do sol apareceu, ele a enxergava como a mais bela das mulheres, mas a pequena fada via as patas de bode por debaixo de seu longo vestido verde, lembrava de seus olhos hipnóticos quando ensinou a mulher bode a colher folhas sagradas.
Convencido de poder brilhar ainda mais se entorpeceu e tomou a mulher bode nos braços ali mesmo, cego e sem ver as patas de bode não viu também que das sombras do mar um estranho tritão arrancava as últimas águas de Lena.
Não chorou, mas dormiu um longo sono.
- Agora suas cordas estão prontas. Agora posso desaparecer
Quando acordou não encontro nem Lena, tão pouco a dama com patas de bode. Estava sozinho. Sua música o levaria a qualquer lugar de novo. Ela acordou no dia seguinte que em tempos humanos eram como anos, viu as fadas de sempre mais uma última vez no sonho, agora era humana. Tão pouco gigante, tão pouco minúscula.
5. A Noite Mais Longa do Ano
Ele olhou para ela no escuro, mas cada um deitava em sua própria cama. Algo fez com que as fadas encontrassem eles. Queriam ajudar na fogueira não feita, ou na fogueira que no escuro se fez.
Era como ver um filme em suas mentes sobre todos aqueles ancestrais estranhos e breves momentos, mas as mentes adultas focadas no fogo da carne se perdiam até que enfim amigos riram um do outro, no escuro e sem dizer nada.
Ela queria contar tudo sobre as fadas, mas eram adultos demais. Levou ele até o jardim para mostrar o que importava, mas corria espevitada de um lado a outro onde tudo era novidade das crianças. Os corpos transmutados na primeira infância.
Venha montar no cavalo gigante - ela disse - mas é só um abacateiro - ele disse. - É porque as fadas mostram as coisas como elas realmente são - ela disse. Montaram no cavalo gigante. Depois ela ensinou a ele a luta de espadas de gravetos e a casa das fadas, agora venha, eles tem um jardim no meio da sala. Os bancos do bar são gigantes porque crianças não conseguem subir neles. Ía falando rápido como quem mostra tudo correndo com deslumbramento feérico e infantil, subindo e descendo das coisas.
Ele não falava muito e fazia caretas escondendo o rosto, parecia não gostar da visão de si mesmo criança, mas você é uma criança das fadas - ela disse - e mostrou a piscina de azulejos, mas isto não importa, pois ali atrás tem um portãozinho que leva até onde as outras fadas moram.
Você sabia que eu aprendi butterfly porque é onde estão as borboletas. Vem. As borboletas na parede. Elas também se parecem e são fadas.
6. Magical Mistery Trip ou Que é Espiritualidade
Havia uma velha troll habitando as cavernas com seus dois chifres para baixo e uma presa somada a seus longos e espessos cabelos grisalhos. Davam um semblante sábio e sombrio às suas rugas rabugentas na mão esquerda.
Uma coruja marrom sussurrava segredos do tempo e avistava os andarilhos. Na floresta escura em torno dos domínios da anciã havia também a beleza jovial e perfumada das flores. Miata, a ninfa de longos cabelos loiros e finas asas de libélula era responsável pela polarização dos néctares das flores naquele domínio das borboletas.
Nezca, um pequeno ser zombeteiro de asas de flores pincelava o orvalho das folhas, enquanto Wypelskie, o espírito do orvalho aquoso dançava com seu rabo de cavalo marinho junto a Pitáfila com seu rabo de crustáceo.
Tais seres invisíveis as vezes apareciam nos semblantes dos camponeses. Tozyma cuidava das lascas de pedra, um pequeno ser robusto que servia às pequenas construções e minerais para a velha anciã junto a Plaskato, o espírito do álcool. Faziam a festa a gargalhar sob a relva, cada flor possuía um espírito que brilhava nas cores das pétalas visões e odores de outros planos. Eles serviam nas pequenas tarefas domésticas onde o fluído da alma se manifestava.
Alí cosendo, limpando e cozinhando ao lado dos pequenos afazeres humanos como o eco de todos os nomes e crenças. Aos pés da floresta seis damas polonesas e uma anciã cantavam uma velha canção ucraniana enquanto rolavam uma maçã.
A maçã era o Éden, e também era Ehris, ou apenas a vermelhidão de todos os sangues femininos. A essência de todas as florestas do mundo respirava sob as raízes ao anoitecer e a ventania sussurrava o murmúrio fantasmagórico da bétula como o grito espectral e agudo de uma velha, e do olhar cadavérico.
Vinha jovem a dama da noite. Seu cheiro e sua pele cálida e gelada de maciez, volupta e seus longos cabelos negros eram o céu escuro coberto das milhares de estrelas pulsando o brilho entre madeixas. Seu odor e olhos fechados eram o prazer de mil flores abrindo-se.
Era logo após a hora do prazer da dama da noite que a pequena dourada surgia, uma luz dourada em forma de mulher dançando na ventania escura retratada por mil povos e também o zombeteiro espírito masculino da sombra com seu chapéu de castanhas.
Uma pequena menina humana vestia um elmo de chifres, seminua sentava em um trono de pedra na floresta que era apenas um banquinho. Mesmo perdida seu olhar era vazio de temor e certeiro, sobre seus pés pendia no fogo da forja o símbolo de thurizas e ao seu lado foi a noite pousar a coruja marrom que presidia pela anciã e pelas almas perdidas.
A floresta era o eco de todas as batalhas, onde os humanos ouvem os espíritos no fogo para afastá-los das casas. Ela sonhava com um corpo lânguido e nu de uma dama de cabelos de fogo que saía no odor da pequena flor branca. Fazia da flor seu sabonete e o toque suave da moça escorria como o desejo pela pele a rir de seus pensamentos.
Todos os espíritos dos guerreiros nos troncos e galhos estalavam com o fogo. Lá uma tribo ensinou aos perdidos o segredo de um cipó, dele se podia abraçar a maravilha perigosa dos segredos da vida e da morte. Por ele era possível sair do corpo e ver tudo que há no outro mundo. A infinidade dos espíritos de todas as coisas mortas e vivas. Uma estrada de ouro falso era construída além da floresta até a cidade luminosa onde a sede de sangue dominava sob o brilho fosco. Um espírito perdido ajudou a reunir o vidro da cidade até às ervas do campo, em comunhão de trazer a floresta até às caixas de concreto.
O cipó era bruto e as mulheres da mata lavavam uma folha sagrada a sua união alquímica. Dentro de um caldeirão via-se todas as ervas e almas do mundo. Um menino perdido levado por piratas salvo por uma pequena luz da mata perdida, uma mulher nua jogada na fogueira a mordiscar ervas e fugir voando com o farfalhar de cem pássaros, piratas perdidos em luxúria se afogando com doze sereias.
No tocar da manhã um homem de barba espessa erguia-se da morte. Com o nascer de frutos do chão que revitalizaram seu corpo pútrefe. O Deus Pan via em sua cara como o júbilo breve da vida concedido e retirado como uma engrenagem. O soar de sua flauta era o assobio do vento sibilando.
Duas meninas perdidas dentro do espelho se encontravam como reflexos pelo intermédio de seus gatos, gatos que pulam do espelho com a facilidade felina. Caminham em fuga até a beira de um lago, onde o corpo nu do espírito feminino da água vibra como uma pedra perturbando a superfície. A nudez dela coberta de peixes acorda o sexo das meninas que se prostram em cauda.
Um chá de camomila chama a pequena dourada com o júbilo da infância. No entardecer um enorme pássaro de fogo renasce ao pôr do sol alaranjado, ele rodeia no cume da mata a casa ave de Baba Yaga. Uma pequena garota foge com um crânio lanterna de seus domínios nas penas do pássaro de fogo que renasce da morte.
Na escuridão quando cessa o fogo um veado albino de chifres brancos como troncos reluz a luz fria da noite e um velho bogart ri em frenesi, mas sob o medo da menina aponta para ela apenas a estrada onde laços de flores fazem uma arcada entre as árvores avistando a chegada de Maio.
Lá pende um livro de segredos deixados pela anciã para as meninas que fogem do espelho. Um pequeno demônio persegue uma mulher nua, ambas dançam com a própria sombra. Finalmente na estrada um poste pisca três vezes e um vendedor de insetos indica um caminho luminoso de eletricidade. No fim dele um homem e uma mulher se seguram ternamente a beira do abismo do mundo. Uma mulher renasce do chão como um broto.
Uma pequena criança selkie canta com as focas do abismo do rochedo. Então finalmente o homem montado a cavalo faz diplomacia com um ancião anão decrépito. Passam anos, a pequena menina desnuda dos pés em thurizas torna-se uma mulher nua.
Aslaug Sigurdsdotter veste sua nudez e um lobo a salva da morte, a menina da estrada tira uma carta e a coruja branca protege um bebê sob o seio de uma anciã com um cinco de espadas.
A velha de olhos amarelos tem seu corpo jovem. Uma mulher humana acorda em um forjado leito real em um pequeno teatro, o diabo revela a saída da prisão em forma de castelos, na dança das bruxas ela voa com gatos e vassouras em um galope alucinante enquanto uma ninfa azul com chifres toca uma flauta de osso.
Uma cabana é erguida na velha floresta. Mandrágoras aquecem o frio e protegem a semente da vida. Um monge folheia velhas iluminuras, uma sereia e um centauro arqueiro ornam a letra R. O esqueleto da morte cavalga um espectro obscuro e o silêncio mutus contínuo paira sob o medo do fim.
Uma tríade nua se funde ao toque da madeira tocando seu corpo, a seiva da vida sobe sobre uma atmosfera de pestilência. Tudo isso ao se perder da floresta, devotos temem o juízo final, mas em uma árvore três ovos chocam.
Cinco fadas visitam o nascimento de uma criança feérica em outro mundo, no templo Sarawasti toca sua cítara aos nascimentos sonoros com a canção das lágrimas. Uma criança carrega um fantasma violento em seu balão e Blodewedd chora uma canção com mil flores e um coro de Hulders.
Lucrécia tenta enfiar novamente uma espada em seu coração, mas o calor do dia e o chocar dos ovos traz o calento e a esperança. Um diabo é pintado em um livro sagrado, a multitude de planos tecem o segredo da esperança do paraíso. Rusalka foge, encontra um sono tranquilo no abraço de uma árvore. Mannanan mac Lir chora ao mar seu amor perdido, amores perdidos renascem no fogo da forja do sentir dos ofícios talhados no oito de ouros por uma coruja. Dois corpos se fundem na sombra e quatro planetas se alinham querendo se tocar.
As três norns cantam um repente e uma valsa no deserto de um velho Cordel. Santo Antônio abençoou mil formas de amor, mas uma mulher só senta em um banco olhando a lua abraçada a seu violino.
Um duende toca um violino em miniatura e o pássaro vermelho pousa sobre as lágrimas de uma mulher careca. Odin encontra as runas no pé de uma árvore e o zodíaco caminha atrasado. Uma árvore nasce da fenda da hulder e corpos se fundem em correntes magnéticas.
VI O Gato quase Humano ACHAR
VII Festa de Crianças Monstros no Woodstock ACHAR
VIII 7 Fadas quase Humanas:
IX - Os Três Trolls ACHAR <caderno preto. última esperança duas pontes>