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PEQUENOS CONTOS 
 
 
PARA  
 
 
PEQUENAS FADAS 

Letras:​ Fernanda Lyra I​ lustrações: ​Lua Machado 


 

1. Ode às Fadas Invisíveis 


 
Alil  caminhava  sozinha  pelo  jardim.  Nenhuma  alma  viva 
habitava  aquele  pequeno  paraíso  esquecido  pelas  sombras 
das  velhas  árvores,  mas  ao  lado  do  abacateiro  um  pequeno 
portal  entre  as  árvores  por  vezes  trazia  a  presença  de 
estranhos  amigos  “imaginários”,  quando  eles  não 
apareciam fazia dos animais seus amigos.  
 
A  amizade  estranha  e  distante  com  as  cobras  e  pássaros não 
era  no  entanto  como  a  presença  de  outras  crianças,  mesmo 
que  todas  as  outras  crianças  parecessem  apenas  rudes  e 
distantes. 
 
Ela  não  tinha  amigos,  vivia  isolada  com  seu  pai,  um  velho 
pintor  que  se  isolava  em  função  das  tintas  que  pudessem 
expressar  seu  silencioso  mundo,  vivia  isolada  na  estranha 
solidão  de  seu  atelier  de montanhas. As crianças no entanto 
sem  tintas  veem  as  coisas  esquecidas  que  um  dia  habitaram 
o  mundo,  sobre  o  abacateiro  deitado  ela  subia  fingindo 
montar  cavalos  imaginários  como  os  estranhos  cavaleiros 
das histórias dos livros de seu pai. 
 
Foi  quando  um  cavalo  estranho  e  aparentemente  real 
apareceu,  ele  parecia  maior  que  a  maioria  dos  cavalos  que 
ela  via  com  os  corredores  do  lago.  Algo  nele  era  distinto 
com  olhos  fundos  e  tristes,  principalmente  a  estranheza  de 
ser como o cavalo imaginado ao montar no abacateiro.  
 
Ele  relinchou  e  deu  as  costas, como criança curiosa foi atrás 
dele,  que  misteriosamente  desapareceu  entre  as  árvores. 
Hora  do  almoço, dizia sua velha avó de longe. Afastado dali 
um  garoto  guardava  cada um de seus dentes em um pote de 
vidro.  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. A Fada dos Dentes   
 
A  mãe  dele  dizia  que  a  fada  dos  dentes  lhe  daria  em  troco 
moedas  se  colocasse  os  dentes  debaixo  do  travesseiro.  O 
jovem  Vitor  embasbacado  com  a  ambição  das  fadas 
concluiu  que  seus  dentes  eram  do  mais  puro  e  valioso 
marfim a ponto de valer todo o ouro maldito das fadas.  
 
Guardava  seus  dentes  um  a  um  em  um  pote  de  vidro 
planejando  construir  para  si  um  castelo  quando  todos  os 
seus  dentes  caírem  e  seria  então  a  criança  banguela  mais 
plena de todas. 
 
Um  dia  sonhou  que  o  mais  valioso  deles  caía,  então  o 
vendia  para  ir  para  bem  longe  dali.  Algo  sobre  a 
permanência  doía  mais que os dentes. Quando acordou sua 
avó  a  muito  tempo  morta  chorava  na  beira  da  cama  e 
beijava  suavemente  sua  cabeça.  Esfregou  os olhos assustado 
e ela sumiu.  
 
Quando  desceu  as  escadas  seu  café  da  manhã não estava ali. 
Seu  pai  aparecia  quieto  na  sala, ele só surgia em aniversários 
desde  que  ele  podia  se  lembrar,  mas  Novembro  ainda 
levaria  nove  meses,  algo  parecia  errado  e  sentiu  que  devia 
chorar, mas apenas o encarou quieto. 
Sua  mãe  havia  morrido  na  madrugada  anterior  de  uma 
reação  alérgica  repentina  aos  frutos  do  mar.  Seu  pai  não 
soube  contar.  Disse  que  sua  mãe  foi  fazer  uma  longa 
viagem  e  que  eles  deveriam sair. Ele se trancou por horas no 
armário amaldiçoando cada um de seus dentes.  
 
Deixou  o  último  deles  sobre  o  travesseiro  e  finalmente 
chorou  sobre  a  cama.  Vitor nunca mais acreditou em fadas. 
Enterrou  seu  pote  de  vidro  no  jardim da velha casa antes de 
se mudar as pressas para a capital com o pai. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. Leanan Sidhe 
 
Era  dita  pelos  tolos  como  a mais bela entre as flores e a mais 
afinada  entre  as  vozes.  Quando  os  homens  ouviam  sua  voz 
automaticamente  sucumbiam  ao  miasma  de seu canto, mas 
desejavam  escondê-la  do  mundo.  Tomar  a  voz  de  seus 
lábios com beijos e promessas para si.  
 
Jamais  a  tomariam  por  esposa,  mas  sonhavam  com  suas 
curvas,  com  seu  olhar  cético,  rindo  do  egocentrismo  e 
pequeneza  de  suas  próprias  artes egoístas. Ela jamais mentia 
para  engrandecer  seus  egos,  mas  jamais  os  feriu  com 
palavras cruéis.  
 
Um  olhar  bastava  e  assim  cresciam  as  canções  através  de 
seus  olhos  sinceros  e  se  contorcia  de  prazer  ao  ouvir  uma 
boa  canção.  Leanan  Sidhe  era  o  que  se  pensava.  Sexo  é 
sobre  poder  e  tudo  mais  era  sobre  sexo  dizia  algum  bebum 
irlandês no livro sobre a prateleira de Lena.  
 
Era  uma  moça  doce  e  cheia  de  sonhos.  Conhecia  todos  os 
grandes  e  todos  os  novos  talvez  promissores,  quase  sempre 
homens.  
 
Achava  que  iriam  ajudá-la  a  aprender  a  brilhar.  A  também 
ser  uma  voz  doce  a  ser  ouvida,  a  trazer  vida,  mas  sedentos 
por  musas  davam  contas  de  pérolas  a  ela,  seduzidos  pelas 
formas  do  que  pensavam  serem  as  musas  ou  as  leanan 
sidhe.  
 
Eventualmente  o  desejo  maníaco  por  Helenas  de  Tróia  os 
levavam  a  destruição  pela  gloriosa  disputa.  Ela  ia  ainda 
cantando  aos  próximos  por  uns  anos  enquanto  ela  não 
apodrecia  ou  o  sono  leve  permitisse  voltar  para  casa  onde 
todos cantam e dançam por dias sem o tempo passar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4. Glaistig 
 
Gregório  não  sabia  se  acreditava  nas  fadas.  Seus  tios 
escoceses  contavam  sobre  elas  desde  pequeno,  mas  ele 
nunca  conseguia  vê-las.  Tentou  de  tudo,  sonhava  noite 
adentro com a canção que delas vinha.  
 
Ganhou  de  seu  avô  um  velho  bandolim,  o  velho  lhe 
contava  sobre  o  mar  e  das  canções  de  marinheiros  para 
sobreviver  às  sereias  e  iaras  traiçoeiras.  Canções  escoteiras  e 
choros antigos para se tocar em roda e atrair seres mágicos. 
 
Cresceu  e  não  ouvia  mais  a  canção das fadas em sua cabeça. 
Um  dia  lembrou  subitamente  seu  tio  escocês  dizendo  que 
um  dia  ele  aprenderia  a  canção  das  fadas,  mas  o  alertou: 
“Don’t trust the fairies and beware with the red hair”.1  
 
Ele  então  jovem  se  embebedou  mais  uma  vez  até  ouvir  de 
novo  a  canção  das  fadas.  Um  dia  sentiu perder tudo. Já não 
ouvia  mais  cantos  feéricos,  tão  pouco  conseguia  tocar  seu 
bandolim.  Decidiu  então  fazer  de  uma  só  vez  tudo  aquilo 
que lhe era dito para evitar.  
 
1
“Não acredite nas fadas e cuidado com cabelos vermelhos.”
Roubou  uma  garrafa  e  bebeu  do  último  uísque  de  ano 
novo,  fugiu  para  as  montanhas  com  seus  últimos  trocados 
onde  seu  avô  contava  habitarem  fadas  escondidas.  Subiu 
então  sozinho  uma  montanha  e  viu  uma  mulher  estranha 
de cabelos vermelhos pelada no topo dela.  
 
Esfregou  os  olhos  por  instantes  e  se  sentiu  confuso,  pois ao 
vê-lo  ela  ria  desesperadamente,  mas  ele  só  podia  ouvir  os 
sons dos gaviões que rodeavam a montanha.  
 
-  Você  é  um  bardo  que  ficou  cego.  Vou  ajudá-lo  a  tocar  se 
me ajudar a ser mais humana. -  
 
Ela  disse  sem  dizer  seu  nome  ou  mover  os  lábios.Ele  então 
ouviu  sua  voz  e  hipnotizado  convencido  de  ser  um  delírio 
causado  pelo  uísque  decidiu  tomar  a  voz  bebendo  dos 
lábios dela.  
 
Lena  parecia  gigante,  mas  a  cada  gole  que  bebia  dela 
entornado  de  uísque  fazia  com  que  suas  cordas  brilhassem, 
mas  a  cada  dia  ela  ia  diminuindo.  O  fogo  vermelho  ía 
incendiando  as  cordas  e  se  apagando  aos  poucos,  achava 
que  viraria  humana,  mas  de  repente  se  via  como  uma 
pequena  fada  familiar  e  muda  a  guiar  de  novo  e  as  cordas 
brilhantes de seu bandolim produziam canções mágicas. 
Meses  depois  ainda  o  acompanhava  como  uma  fada 
minúscula  a  voar,  mas  ele  não  podia  enxergá-la,  então  ela 
lhe  ensinou  a  colher  um  cipó  mágico  enquanto  ela 
separadamente colhia folhas sagradas com a mulher bode.  
 
Beberam  todos  da  bebida  sagrada,  ainda  assim  ele  não 
podia  ver  as  fadas  das  canções  que  ouvia  em  seus  sonhos. 
Precisou  novamente  se  perder  a  tentar  vê-las,  subitamente 
fugiram  tempos depois a uma grande pedra na beira do mar 
onde monstros marinhos cantam.  
 
Uma  estranha  dama  gigante  com  cabelos  que  reluziam  os 
raios  do  sol  apareceu,  ele  a  enxergava  como  a  mais  bela  das 
mulheres,  mas  a  pequena  fada  via  as  patas  de  bode  por 
debaixo  de  seu  longo  vestido  verde,  lembrava  de  seus  olhos 
hipnóticos  quando  ensinou  a  mulher  bode  a  colher  folhas 
sagradas.  
 
Convencido  de  poder  brilhar  ainda  mais  se  entorpeceu  e 
tomou  a  mulher  bode  nos  braços ali mesmo, cego e sem ver 
as  patas  de  bode  não  viu  também  que  das  sombras  do  mar 
um estranho tritão arrancava as últimas águas de Lena.  
 
 
Não chorou, mas dormiu um longo sono.  
 
- Agora suas cordas estão prontas. Agora posso desaparecer  
  
Quando  acordou  não  encontro  nem  Lena,  tão  pouco  a 
dama  com  patas  de  bode.  Estava  sozinho.  Sua  música  o 
levaria  a  qualquer  lugar  de  novo.  Ela  acordou  no  dia 
seguinte  que  em  tempos  humanos  eram  como  anos,  viu  as 
fadas  de  sempre  mais  uma  última  vez  no  sonho,  agora  era 
humana. Tão pouco gigante, tão pouco minúscula. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5. A Noite Mais Longa do Ano 
 
Ele  olhou  para  ela  no  escuro,  mas  cada  um  deitava  em  sua 
própria cama. Algo fez com que as fadas encontrassem eles.  
Queriam  ajudar  na  fogueira  não  feita,  ou  na  fogueira  que 
no escuro se fez.  
 
Era  como  ver  um  filme  em suas mentes sobre todos aqueles 
ancestrais  estranhos  e  breves  momentos,  mas  as  mentes 
adultas  focadas  no  fogo  da  carne  se  perdiam  até  que  enfim 
amigos riram um do outro, no escuro e sem dizer nada.  
 
Ela  queria  contar  tudo  sobre  as  fadas,  mas  eram  adultos 
demais.  Levou  ele  até  o  jardim  para  mostrar  o  que 
importava,  mas  corria  espevitada  de  um  lado  a  outro  onde 
tudo  era  novidade  das  crianças. Os corpos transmutados na 
primeira infância.  
 
Venha  montar  no  cavalo  gigante  -  ela  disse  -  mas  é  só  um 
abacateiro  -  ele  disse.  -  É  porque  as  fadas  mostram  as  coisas 
como  elas  realmente  são  -  ela  disse.  Montaram  no  cavalo 
gigante.  Depois  ela  ensinou  a  ele  a  luta  de  espadas  de 
gravetos  e  a  casa  das  fadas,  agora  venha,  eles  tem um jardim 
no meio da sala.  
Os  bancos  do  bar  são  gigantes  porque  crianças  não 
conseguem  subir  neles.  Ía  falando  rápido  como  quem 
mostra  tudo  correndo  com  deslumbramento  feérico  e 
infantil, subindo e descendo das coisas.  
 
Ele  não  falava  muito  e  fazia  caretas  escondendo  o  rosto, 
parecia  não  gostar  da  visão  de  si  mesmo  criança,  mas você é 
uma  criança  das  fadas  -  ela  disse  -  e  mostrou  a  piscina  de 
azulejos,  mas  isto  não  importa,  pois  ali  atrás  tem  um 
portãozinho que leva até onde as outras fadas moram.  
 
Você  sabia  que  eu  aprendi  butterfly  porque  é  onde estão as 
borboletas.  Vem.  As  borboletas  na  parede.  Elas  também  se 
parecem e são fadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6. Magical Mistery Trip ou Que é Espiritualidade 
 
Havia  uma  velha  troll  habitando  as  cavernas  com  seus  dois 
chifres  para  baixo  e  uma  presa  somada  a  seus  longos  e 
espessos  cabelos  grisalhos.  Davam  um  semblante  sábio  e 
sombrio às suas rugas rabugentas na mão esquerda.  
 
Uma  coruja  marrom  sussurrava  segredos  do  tempo  e 
avistava  os  andarilhos.  Na  floresta  escura  em  torno  dos 
domínios  da  anciã  havia  também  a  beleza  jovial  e 
perfumada  das  flores.  Miata,  a  ninfa  de  longos  cabelos 
loiros  e  finas  asas  de  libélula  era  responsável  pela 
polarização  dos  néctares  das  flores  naquele  domínio  das 
borboletas.  
 
Nezca,  um  pequeno  ser  zombeteiro  de  asas  de  flores 
pincelava  o  orvalho  das  folhas,  enquanto  Wypelskie,  o 
espírito  do  orvalho  aquoso  dançava  com seu rabo de cavalo 
marinho junto a Pitáfila com seu rabo de crustáceo. 
 
Tais  seres  invisíveis  as  vezes  apareciam  nos  semblantes  dos 
camponeses.  Tozyma  cuidava  das  lascas  de  pedra,  um 
pequeno  ser  robusto  que  servia  às  pequenas  construções  e 
minerais  para  a  velha  anciã  junto  a  Plaskato,  o  espírito  do 
álcool.  
Faziam  a  festa  a  gargalhar  sob  a  relva,  cada  flor  possuía  um 
espírito  que  brilhava  nas cores das pétalas visões e odores de 
outros planos. Eles serviam nas pequenas tarefas domésticas 
onde o fluído da alma se manifestava.  
 
Alí  cosendo,  limpando  e  cozinhando  ao  lado  dos pequenos 
afazeres humanos como o eco de todos os nomes e crenças. 
Aos  pés  da  floresta  seis  damas  polonesas  e  uma  anciã 
cantavam  uma  velha  canção  ucraniana  enquanto  rolavam 
uma maçã.  
 
A  maçã  era  o  Éden,  e  também  era  Ehris,  ou  apenas  a 
vermelhidão  de  todos  os  sangues  femininos.  A  essência  de 
todas  as  florestas  do  mundo  respirava  sob  as  raízes  ao 
anoitecer  e  a  ventania  sussurrava  o  murmúrio 
fantasmagórico  da  bétula  como  o grito espectral e agudo de 
uma velha, e do olhar cadavérico.  
 
Vinha  jovem  a  dama  da  noite.  Seu  cheiro  e  sua pele cálida e 
gelada  de  maciez, volupta e seus longos cabelos negros eram 
o  céu  escuro  coberto  das  milhares  de  estrelas  pulsando  o 
brilho  entre  madeixas.  Seu  odor  e  olhos  fechados  eram  o 
prazer de mil flores abrindo-se.  
 
Era  logo  após  a  hora  do  prazer  da  dama  da  noite  que  a 
pequena  dourada  surgia,  uma  luz  dourada  em  forma  de 
mulher  dançando  na  ventania  escura  retratada  por  mil 
povos  e  também  o  zombeteiro  espírito  masculino  da 
sombra com seu chapéu de castanhas.  
 
Uma  pequena  menina  humana  vestia  um  elmo  de  chifres, 
seminua  sentava  em  um  trono  de  pedra  na  floresta  que  era 
apenas  um  banquinho.  Mesmo  perdida  seu  olhar  era vazio 
de  temor e certeiro, sobre seus pés pendia no fogo da forja o 
símbolo  de  thurizas  e  ao seu lado foi a noite pousar a coruja 
marrom que presidia pela anciã e pelas almas perdidas.  
 
A  floresta  era  o  eco  de  todas  as  batalhas,  onde  os  humanos 
ouvem  os  espíritos  no  fogo  para  afastá-los  das  casas.  Ela 
sonhava  com  um  corpo  lânguido  e  nu  de  uma  dama  de 
cabelos  de  fogo  que  saía  no  odor  da  pequena  flor  branca. 
Fazia  da  flor  seu  sabonete  e  o  toque  suave  da  moça  escorria 
como o desejo pela pele a rir de seus pensamentos.  
 
Todos  os  espíritos  dos  guerreiros  nos  troncos  e  galhos 
estalavam  com  o fogo. Lá uma tribo ensinou aos perdidos o 
segredo  de  um  cipó,  dele  se  podia  abraçar  a  maravilha 
perigosa  dos  segredos  da  vida  e  da  morte.  Por  ele  era 
possível sair do corpo e ver tudo que há no outro mundo. 
A  infinidade  dos  espíritos  de  todas  as  coisas  mortas  e  vivas. 
Uma  estrada  de  ouro  falso  era  construída  além  da  floresta 
até  a  cidade  luminosa  onde  a  sede  de  sangue  dominava  sob 
o  brilho  fosco.  Um espírito perdido ajudou a reunir o vidro 
da  cidade  até  às  ervas  do  campo,  em  comunhão  de  trazer  a 
floresta até às caixas de concreto.  
 
O  cipó  era  bruto  e  as  mulheres  da  mata  lavavam  uma  folha 
sagrada  a  sua  união  alquímica.  Dentro  de  um  caldeirão 
via-se  todas  as  ervas  e  almas  do  mundo.  Um  menino 
perdido  levado  por  piratas  salvo  por  uma  pequena  luz  da 
mata  perdida,  uma  mulher  nua  jogada  na  fogueira  a 
mordiscar  ervas  e  fugir  voando  com  o  farfalhar  de  cem 
pássaros,  piratas  perdidos  em  luxúria se afogando com doze 
sereias.  
 
No  tocar  da  manhã  um  homem  de  barba  espessa  erguia-se 
da  morte.  Com  o  nascer  de  frutos  do  chão  que 
revitalizaram  seu  corpo  pútrefe.  O  Deus  Pan  via  em  sua 
cara  como  o  júbilo  breve  da  vida  concedido  e  retirado 
como  uma  engrenagem.  O  soar  de  sua  flauta  era  o  assobio 
do vento sibilando.  
 
 
Duas  meninas  perdidas  dentro  do  espelho  se  encontravam 
como  reflexos  pelo  intermédio  de  seus  gatos,  gatos  que 
pulam  do  espelho  com  a  facilidade  felina.  Caminham  em 
fuga  até  a  beira  de  um  lago,  onde  o  corpo  nu  do  espírito 
feminino  da  água  vibra  como  uma  pedra  perturbando  a 
superfície.  A  nudez  dela coberta de peixes acorda o sexo das 
meninas que se prostram em cauda.  
 
Um  chá  de  camomila  chama  a  pequena  dourada  com  o 
júbilo  da  infância.  No  entardecer  um  enorme  pássaro  de 
fogo  renasce  ao  pôr  do  sol  alaranjado,  ele  rodeia  no  cume 
da  mata  a  casa  ave  de  Baba  Yaga.  Uma  pequena  garota foge 
com  um  crânio  lanterna  de  seus  domínios  nas  penas  do 
pássaro de fogo que renasce da morte.  
 
Na  escuridão  quando  cessa  o  fogo  um  veado  albino  de 
chifres  brancos  como  troncos  reluz  a  luz  fria  da  noite  e  um 
velho  bogart  ri  em  frenesi,  mas  sob  o  medo  da  menina 
aponta  para  ela  apenas  a  estrada  onde  laços  de  flores  fazem 
uma arcada entre as árvores avistando a chegada de Maio.  
 
Lá  pende  um  livro  de  segredos  deixados  pela  anciã  para  as 
meninas  que  fogem  do  espelho.  Um  pequeno  demônio 
persegue  uma  mulher  nua,  ambas  dançam  com  a  própria 
sombra.  
Finalmente  na  estrada  um  poste  pisca  três  vezes  e  um 
vendedor  de  insetos  indica  um  caminho  luminoso  de 
eletricidade.  No  fim  dele  um  homem  e  uma  mulher  se 
seguram  ternamente  a  beira  do  abismo  do  mundo.  Uma 
mulher renasce do chão como um broto.  
 
Uma  pequena  criança  selkie  canta  com  as  focas  do  abismo 
do  rochedo.  Então  finalmente  o  homem  montado  a  cavalo 
faz  diplomacia  com  um  ancião  anão  decrépito.  Passam 
anos,  a  pequena  menina  desnuda  dos  pés  em  thurizas 
torna-se uma mulher nua.  
 
Aslaug  Sigurdsdotter  veste  sua  nudez  e  um  lobo  a  salva  da 
morte,  a  menina  da  estrada  tira  uma  carta  e  a  coruja branca 
protege  um  bebê  sob  o  seio  de  uma  anciã  com um cinco de 
espadas.  
 
A  velha  de  olhos  amarelos  tem  seu  corpo  jovem.  Uma 
mulher  humana  acorda  em  um  forjado  leito  real  em  um 
pequeno  teatro,  o  diabo  revela  a  saída  da  prisão  em  forma 
de  castelos,  na  dança  das  bruxas  ela  voa  com  gatos  e 
vassouras  em  um  galope  alucinante  enquanto  uma  ninfa 
azul com chifres toca uma flauta de osso.  
 
Uma  cabana  é  erguida  na  velha  floresta.  Mandrágoras 
aquecem  o  frio  e  protegem  a  semente  da  vida.  Um  monge 
folheia  velhas  iluminuras,  uma  sereia  e  um  centauro 
arqueiro  ornam  a  letra  R. O esqueleto da morte cavalga um 
espectro  obscuro  e  o  silêncio  mutus  contínuo  paira  sob  o 
medo do fim.  
 
Uma  tríade  nua  se  funde  ao  toque  da  madeira  tocando  seu 
corpo,  a  seiva  da  vida  sobe  sobre  uma  atmosfera  de 
pestilência.  Tudo  isso  ao  se  perder  da  floresta,  devotos 
temem o juízo final, mas em uma árvore três ovos chocam.  
 
Cinco  fadas  visitam  o  nascimento  de  uma  criança  feérica 
em  outro  mundo,  no  templo  Sarawasti  toca  sua  cítara  aos 
nascimentos  sonoros  com  a  canção  das  lágrimas.  Uma 
criança  carrega  um  fantasma  violento  em  seu  balão  e 
Blodewedd  chora  uma  canção  com  mil  flores  e  um  coro  de 
Hulders.  
 
Lucrécia  tenta  enfiar  novamente  uma  espada  em  seu 
coração,  mas  o  calor  do  dia  e  o  chocar  dos  ovos  traz  o 
calento  e  a  esperança.  Um  diabo  é  pintado  em  um  livro 
sagrado,  a  multitude  de  planos  tecem  o  segredo  da 
esperança  do  paraíso.  Rusalka  foge,  encontra  um  sono 
tranquilo no abraço de uma árvore.  
Mannanan  mac Lir chora ao mar seu amor perdido, amores 
perdidos  renascem  no  fogo  da  forja  do  sentir  dos  ofícios 
talhados  no  oito  de  ouros  por  uma  coruja.  Dois  corpos  se 
fundem  na  sombra  e  quatro  planetas  se  alinham  querendo 
se tocar.  
 
As  três  norns  cantam  um  repente  e uma valsa no deserto de 
um  velho  Cordel.  Santo  Antônio  abençoou  mil  formas  de 
amor,  mas  uma  mulher  só  senta  em  um  banco  olhando  a 
lua abraçada a seu violino.  
 
Um  duende  toca  um  violino  em  miniatura  e  o  pássaro 
vermelho  pousa  sobre  as  lágrimas  de  uma  mulher  careca. 
Odin  encontra  as  runas  no  pé  de  uma  árvore  e  o  zodíaco 
caminha  atrasado.  Uma  árvore  nasce  da  fenda  da  hulder  e 
corpos se fundem em correntes magnéticas.   
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VI O Gato quase Humano ACHAR 
 
VII Festa de Crianças Monstros no Woodstock ACHAR 
 
VIII 7 Fadas quase Humanas: 
 
IX - Os Três Trolls ACHAR <caderno preto. última 
esperança duas pontes> 
 
 
 
 
 

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