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28/08/2020 Indesejáveis na Metrópole, necessários na Colônia - Revista de História

Indesejáveis na Metrópole, necessários na Colônia


De cadeia em Lisboa vem a relação de 102 presos destinados a degredo no Grão-Pará
Simei Maria de Souza Torres
1/10/2015  

Datada de 24 de julho de 1766, a “Relaçãodos Prezos que se achão no Lazareto, e


vão por Ordem de S. Mag.de para Recrutar as Tropas do Estado do Gram Pará, donde
não poderão voltar sem expressa Ordem do mesmo Senhor”é uma extensa lista de
102 nomes de homens presos na cadeia do Lazareto, em Lisboa, todos condenados ao
degredo e aproveitados para compor o corpo militar no Estado do Grão-Pará.

A parte aqui analisada é o primeiro fólio desta relação, integrante do “Livro de


Colonos e Degredados” que pertence ao acervo do Arquivo Público do Estado do
Pará.

Trata-se de manuscrito original e ideógrafo. A escrita utilizada é a humanística


cursiva, com traçado (ductus) regular e harmônico, sutilmente inclinado à direita,
salvo as letras “a” e “d”, que possuem as hastes curvadas à esquerda como na
escrita gótica. Apresenta boa proporção e distribuição das letras, o que confere
elegância ao texto. Clique sobre a
imagem para ampliar
O peso da escrita é uniforme e percebe-se o apuro do autor quanto ao capricho no
desenho das letras que iniciam os nomes próprios. Com exceção da forma de tratamento “S. Mag.de”, o
texto não apresenta abreviaturas, atenuando sensivelmente o nível de dificuldade da leitura e da
compreensão mesmo para os leitores não habituados a este tipo de escrita. Quanto às características
ortográficas, verifica-se o uso do “m” ao final da palavra como marca de nasalidade (Gram para Grão), de
“z” por “s” entre vogais (Jozé, prezo, cazado), de consoante dobrada (Joanna) e do y no sobrenome
Sampayo.

O documento foi escrito em papel de trapo (fibras de tecido), com dimensão de 21,7cm por 15,7cm, e a
tinta ferrogálica negra foi aplicada por meio de pena de ave. Encontra-se em bom estado de conservação,
apesar de ser perceptível a ação da acidez da tinta, especialmente quando observamos a ocorrência de
descoloração acastanhada, início de corrosão no suporte da escrita, especificamente no número 5, e as
sombras impressas no verso pela escrita do fólio subsequente.

Simei Maria de Souza Torres é autora da tese “Onde os impérios se encontram – Demarcando fronteiras
coloniais nos confins da América (1777-1791)”, (PUC-SP, 2011).

Degredar é preciso

Povoar cidades e suprir remotas guarnições de praças de um Império representava um pesado fardo para
recursos demográficos tão modestos como os de Portugal. Tais exigências impunham respostas flexíveis e
inventivas à política expansionista portuguesa, que aproveitava desclassificados sociais ou indesejáveis
como agentes colonizadores e mantenedores dos domínios no ultramar.

Durante a segunda metade do século XVIII, em várias ocasiões ocorreram comutações de penas de degredo
de caráter coletivo para a Amazônia portuguesa. Este mecanismo revelou-se capaz de prover a defesa, a
consolidação do povoamento e da propriedade da terra. Para os interesses da Coroa portuguesa,degredar,
assim como navegar, também era preciso.

Solução do “Decifre”

Transcrição:

Relação dos Prezos

que se achão no Lazareto, e vão por

Ordem de S. Mag.de para Recru

https://web.archive.org/web/20160413005234/http://rhbn.com.br/secao/decifre/indesejaveis-na-metropole-necessarios-na-colonia 1/3
28/08/2020 Indesejáveis na Metrópole, necessários na Colônia - Revista de História

tar as Tropas do Estado do Gram

Pará, donde não poderão voltar

sem expressa Ordem do mesmo

Senhor

1 –Jozé Madeira, cazado com

      Maria Thereza, vindo em Leva

      de Beja.

2 – Joaquim Antonio, filho de Do

      mingos Duarte, e de Maria Jo

      zefa, vindo em Leva de Santarem.

3 – Jozé Luiz, filho de outro, e de

      Maria da Silva, vindo em Leva

      do Porto

4 – Francisco da Silva, filho de

      outro, e de Maria de Sampayo vin

      do em Leva do Porto.

5 – Jacinto da Silva, filho de

      Antonio, e de Joanna de Oli=

      veira vindo em Leva do Porto.

6 – Manoel Jozé, filho de Jozé

      Moreira de Souza, e de Joze

      fa Maria vindo em Leva do Porto.

https://web.archive.org/web/20160413005234/http://rhbn.com.br/secao/decifre/indesejaveis-na-metropole-necessarios-na-colonia 2/3

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