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“ESCOLA SEM PARTIDO” E DIREITOS DAS MULHERES: O OBSCURANTISMO

PROCURANDO VAGA NA ESCOLA

Mariana Silva Jardim Reis1

Resumo: Avanços na garantia de direitos para oprimidos da sociedade são inegáveis. O reconhecimento das opressões e
da necessidade de políticas e legislações que visam à redução das desigualdades é importante passo – ainda que aquém
das soluções. São conquistas de movimentos sociais que trazem em seu rastro a reação dos setores conservadores. A
educação se insere nesse contexto. A ampliação de direitos provoca acirramento, com polarização das posições
divergentes. Parece haver relação entre o avanço da legalização do aborto em diversos países e a apresentação de
projeto de lei no Brasil, em 2015, que prevê penas mais severas para o aborto ilegal e dificultava o acesso ao aborto
legal. O contra ataque dos setores conservadores se dá em diversas áreas. No Brasil, o movimento “Escola sem partido”
tem se apresentado como uma dessas facetas. A adoção do termo “ideologia de gênero”, o resgate do discurso do medo
de uma possível “doutrinação marxista" nas escolas e a tentativa de aprovar legislações que cerceiam os debates sobre
gênero e diversidade nos currículos escolares, evidenciam que os setores conservadores entenderam a importância da
escola para a construção de hegemonia e resolveram disputar o seu sentido. O artigo discute, sob uma perspectiva
dialética, materialista-histórica, como o "Escola sem partido" se insere na tentativa de avanço do obscurantismo na
sociedade.

Palavras-chave: Gênero. Educação. "Escola sem partido".

O feminismo, ou outros movimentos políticos que contam com a participação ativa e de


maioria feminina e assumem com centralidade questões sobre a mulher, não são novidades. Para
algumas pesquisadoras, o marco fundador do movimento feminista, chamado de “primeira onda do
feminismo”, data das últimas décadas do século XIX. Nesse período as mobilizações se deram em
torno da ampliação dos direitos femininos, como o voto. O movimento teve início na Inglaterra e as
ativistas envolvidas nesse processo ficaram conhecidas como “as sufragistas” – que conquistaram,
em 1918, o direito ao voto no Reino Unido (Pinto, 2010).
Garcia (2015) indica o início da “primeira onda” nos fins do século XVIII, quando há
registros sobre participação ativa de mulheres na Revolução Francesa. As reivindicações, já nesse
período, pautavam a igualdade de direitos em relação aos homens: o sufrágio universal feminino e
que as mulheres fossem incluídas explicitamente na “Declaração dos Direitos dos Homens e
Cidadãos” – o que, mesmo com a organização e formulação de documentos, não aconteceu.
Documentos divulgados nesse período como “A Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”
(1791)2 , de Olympes de Gouge, e “A reivindicação dos Direitos da Mulher” (1792), de Mary
Wollstonecraft evidenciam tais mobilizações3.

1
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense – Niterói/RJ/Brasil.
2
Disponível em: http://csbh.fpabramo.org.br/artigos-e-boletins/arquivo/socialismo-em-
discussao/%E2%80%9Cdeclaracao-dos-direitos-da-mulher-e-da-cidada%E2%80%9D. Acesso em: 17/12/2016.
3
No entanto, é importante considerarmos que os acontecimentos apontados partem de uma perspectiva de mulheres
brancas, ocidentais e, mais especificamente, européias. Pretende-se aprofundar reflexões a cerca da condição e
resistências das mulheres no Brasil.

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Independente do que o registro historiográfico marque como o início das lutas das mulheres
por seus direitos, desde os escritos feitos durante o século XVIII, houve transformações
significativas nas condições de vida das mulheres. O acesso à educação formal no Brasil, por
exemplo, foi concedido aos poucos: a primeira lei que garante a possibilidade de frequentar escolas
elementares data de 18274; apenas em 1879, as mulheres passaram a ter autorização do governo
para cursar nível superior5 – Rita Lobato Velho Lopes foi a primeira mulher a receber um diploma
superior e a segunda da América Latina ao formar-se na Faculdade de Medicina da Bahia em 18876.
O direito ao voto feminino no Brasil foi instituído em 1932 (Pinto, 2010), alçando a
população feminina à maioria entre o eleitorado. No entanto, a sub representação nos espaços de
política institucional persiste até hoje, o que levou a promulgação de uma lei, em 1996, que incluiu
sistema de cotas na legislação eleitoral. Só em 1962 se conquistou autonomia para o trabalho no
Brasil: até esse ano, mulheres casadas necessitavam de autorização dos respectivos maridos para
trabalhar fora de casa7. E, apenas em 2010, o país elegeu a sua primeira presidente mulher.
Numa perspectiva gramsciana, pode-se dizer que legislações que dão conta da necessidade
de debates sobre violência contra as mulheres, machismo, diversidade e LGBTfobia, bem como
políticas públicas que atendam tais demandas, são conquistas que a sociedade civil8 impõe ao
Estado estrito9 na garantia de direitos para os grupos oprimidos.
No entanto, apenas a criação de leis é insuficiente. Os índices referentes à violência contra a
mulher seguem altos. A noção de inferioridade e a violência contra a mulher são culturais e, como
afirma Beauvoir (2009), construídas socialmente, assim, a equidade entre os gêneros só será
possível com uma transformação radical da nossa sociedade. Desse modo, a construção de uma
nova hegemonia10 despatriarcalizada passa também por políticas educacionais.

4
Disponível em: http://www.historiadigital.org/curiosidades/25-conquistas-historicas-das-mulheres-no-brasil/. Acesso
em: 02/07/2017.
5
Idem 4.
6
Disponível em: https://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/direitos-femininos-uma-luta-por-
igualdade-e-direitos-civis.htm. Acesso em: 02/07/2017.
7
Disponível em: http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2014/03/mulheres-conquistam-direitos-nos-ultimos-100-
anos. Acesso em: 02/07/2017.
8
“para Gramsci, diversamente, “sociedade civil” designa o conjunto das organizações responsáveis pela elaboração
e/ou difusão das ideologias, compreendendo o sistema escolar, os parlamentos, as Igrejas, os partidos políticos, as
organizações profissionais, os sindicatos, os meios de comunicação, as instituições de caráter científico e artístico etc.
Ao contrário do que fazem hoje muitos pensadores liberais e social-democratas, Gramsci não trata a sociedade civil
como uma zona neutra situada “para além do Estado e do mercado”. Ao contrário, ele considera como parte do Estado,
como uma decisiva arena da luta de classes, na qual os diferentes grupos sociais lutam para conservar ou conquistar
hegemonia.” (COUTINHO, 2001, p. 25).
9
Ou Estado coerção, que é representada nos aparelhos executivos – militares e civis. (Ibidem, 2001).
10
“conceito de hegemonia em sua peculiar acepção gramsciana, ou seja, a de direção político-ideológica fundada no
consenso, enquanto diversa (mas complementar) da dominação fundada na coerção” (Ibidem, p. 19)

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As diferenças entre homens e mulheres são sentidas, de forma subjetiva, cotidianamente, na
ocupação dos espaços públicos, no trato nos locais de trabalho, nas violências sofridas, entre outras
situações. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam
que as mulheres constituem a maioria na população brasileira – a Pesquisa Nacional por Amostras
de Domicílios (PNAD) realizada em 2015 apontou que são 51,5% (105,5 milhões) da população, e
os homens 48,5% (99,4 milhões). E, mesmo contabilizando mais tempo de estudo formal – uma
média de 8 anos, enquanto os homens possuem 7,6 –, as mulheres compõem hoje a maior parte do
contingente considerado “desocupado” (53,6%) e, mesmo quando empregadas, recebem o
equivalente a 76,1% do rendimento masculino11.
A realidade vivida pelas mulheres brasileiras é alarmante: um estupro acontece a cada 11
minutos e, a cada 90 minutos, uma mulher é assassinada12. O Brasil, de acordo com a Organização
Mundial de Saúde (OMS), é o quinto país do mundo com maior taxa de feminicídio 13. Diferença
salarial e demora na possibilidade de exercer direitos sociais também podem ser consideradas
formas de violência e evidenciam como há um respaldo na sociedade para que as mulheres sejam
tratadas de forma inferior em relação aos homens. De acordo com pesquisa realizada pela Fundação
Perseu Abramo em 2010, uma a cada cinco mulheres brasileiras considera já ter sofrido “algum tipo
de violência de parte de algum homem, conhecido ou desconhecido”14.
Hoje, a violência exercida contra a mulher em razão da condição do sexo feminino deixou
de ser considerada “defesa da honra” ou algo de foro doméstico e íntimo, e passou a ser legalmente
reconhecida: a aprovação da Lei Maria da Penha15 (2006) e a tipificação do crime de “feminicídio”
(2015)16 . Outras tantas leis, como as do campo da educação que versam sobre a equidade de
gênero, e espaços promovidos pelo Poder Público para formulação de políticas públicas nesse
sentido, como as Conferências de Políticas para as Mulheres, evidenciam a relevância dada ao tema.

A “onda conservadora”17

11
Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv98887.pdf. Acesso em: 17/12/2016.
12
Disponível em:http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossie/violencias/cultura-e-raizes-da-violencia/. Acesso em:
16/12/2016.
13
Disponível em: https://nacoesunidas.org/onu-feminicidio-brasil-quinto-maior-mundo-diretrizes-nacionais-buscam-
solucao/. Acesso em: 16/12/2016.
14
Disponível em: http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossie/pesquisas/pesquisa-mulheres-brasileiras-nos-espacos-
publico-e-privado-fundacao-perseu-abramosesc-2010/. Acesso em: 16/12/2016.
15
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm. Acesso em: 18/12/2016.
16
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13104.htm#art. Acesso em:
18/12/2016.
17
Livro “A onda conservadora: ensaios sobre os atuais tempos sombrios no Brasil”, citado nas referências.

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A conjuntura brasileira tem sido marcada por retrocessos no que tange aos direitos políticos
e democráticos. No final de 2016, o país passou pelo impeachment da presidente eleita respaldado
por um processo com bases legais inconsistentes e evidentemente conduzido por interesses. Mas,
mesmo antes disso, o avanço de ideias obscurantistas já era perceptível.
Segundo levantamento realizado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar
(Diap), o Congresso Nacional que se conformou após as eleições de 2014 foi avaliado como o mais
conservador desde o processo de redemocratização que encerrou a ditatura civil-militar18, com a
ampliação da chamada bancada da “bala” (parlamentares policiais, militares ou próximos a esses
setores) e da bancada da “bíblia” (setores religiosos, evangélicos conservadores em sua maioria).
Iniciativas como o Projeto de Lei (PL) 5069/2015, de autoria do à época Presidente da
Câmara Eduardo Cunha, que tinha como objetivo alterar os ditames para o atendimento de vítimas
de abuso sexual19 – o que, na prática, dificultaria o acesso ao aborto legal e à pílula do dia seguinte
– corroboram a avaliação sobre o conservadorismo. Tal proposição segue na contra mão do que
vem sendo feito em diversos países do mundo – como nosso vizinho Uruguai, que legalizou o
aborto em 2012 e, desde então, não só registrou queda na realização, como também não houve
nenhuma morte em decorrência do procedimento20 – e gerou grande mobilização das mulheres, que
ocuparam as ruas no movimento chamado de “Primavera das Mulheres”21.
“São tempos difíceis para os sonhadores”, afirmara a protagonista do filme “O Fabuloso
destino de Amelie Poulain”. Esses tempos têm sido caracterizados por alguns pesquisadores como
uma “onda conservadora” que se articula com interesses do grande capital e organizações liberais
internacionais (Hoeveler, 2016). Tal “onda” cresce e ganha adeptos a partir de uma agenda de
defesa da moral e da família, além do combate à corrupção – que, para os partidos de direita e
setores religiosos que compõem esse campo, tem como principal responsável o Partido dos
Trabalhadores. A atuação de tais setores se consolida na proposição de legislação e políticas
públicas que afetam diretamente a educação.
É o caso do movimento “Escola sem Partido” (ESP), que acusa a escola de ser um espaço de
“doutrinação marxista” e de partidos políticos de esquerda. Segundo Hoeveler (2016), a crença em
tais teorias conspiracionistas é uma marca do que chama de “nova direita”: “não é de hoje que

18
Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2014-10/mais-conservador-congresso-eleito-pode-
limitar-avancos-em-direitos-humanos. Acesso em 02/07/2017.
19
Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/12/politica/1447357721_656693.html. Acesso em:
06/07/2017.
20
Disponível em: http://www.revistaforum.com.br/2015/03/30/apos-legalizacao-desistencia-de-abortos-cresce-30-no-
uruguai/. Acesso em: 06/07/2017.
21
Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/node/33815/. Acesso em: 06/07/2017.

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conspiracionismo é uma ideologia tipicamente da direita, já que, por excelência, nega ou obscurece
o conflito social. A política, nesse pensamento, é apresentada como mera manipulação orquestrada
por ‘forças subterrâneas’ de ‘subversivos’, ‘comunistas’, ‘terroristas’, etc.” (Hoeveler, 2016, p. 80).
A autora afirma ainda que a construção da “nova direita” norte-americana durante os anos de 1970
– que culminou na eleição de Ronald Regan a presidência – passou não só pela união entre a
“direita cristã” e a “direta neoliberal”, como também foi fortemente marcada pelo conspiracionismo
de teor antissemita, anticomunista e antimarxismo.
É possível compreender essa reação antecipada, que trabalha a partir da desinformação e do
obscurantismo, como uma tentativa das classes dominantes de impedir a construção de uma nova
hegemonia que supere aos ideais conservadores e liberais e assegurar, assim, a hegemonia dos
setores conversadores e a sua perpetuação no poder.

Mulheres: opressão, exploração e a “onda conservadora”.


Ao menos desde o século XIX, têm sido desenvolvidos estudos sobre das particularidades
do sistema capitalista. Um aspecto relevante sobre essa forma de organização social – apesar de ter
bases econômicas, também se organiza em bases políticas, sociais e ideológicas – que mereceu
destaque de teóricos importantes é como as diferentes formas de opressão e preconceitos
naturalizados em nossa sociedade são fundamentais para a manutenção da estrutura existente,
baseada na exploração do ser humano pelo ser humano.
Para crescimento nos ganhos, o sistema precisa ampliar a sua capacidade de exploração: seja
através de expansão territorial, como no período de corrida imperialista e colonização de diversos
povos; seja tirando mais vantagem das forças produtivas disponíveis. Assim, as ideias de
inferioridade das mulheres e de que possuem habilidades naturais para tarefas domésticas, de
cuidado e de servidão construídas pela cultura do patriarcado, cumprem tal função quando as
colocam numa condição de trabalho não remunerado, sendo fundamental para a manutenção da
engrenagem das forças produtivas do capitalismo.
Engels (2002) formulou a tese de que o antagonismo de classe mais antigo seria entre
homens e mulheres, com o advento da propriedade privada e da família de núcleo monogâmico, tal
como conhecemos hoje. Para o autor, a primeira opressão de classe teria sido a do sexo feminino
pelo masculino. Beauvoir (2009) contesta Engels, afirmando que as mulheres não podem ser
compreendidas como uma “classe” – referência ao termo marxista “classe trabalhadora” –, já que a

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opressão direcionada a elas não tem origem exclusiva em aspectos econômicos e varia de acordo
com o contexto social em que se dá essa relação.
A categoria “mulher” não tem definições tão rígidas. Há mulheres, por exemplo, que fazem
parte da “classe trabalhadora” e outras não. Ambas serão oprimidas por serem mulheres, mas as
diferenças interferem na forma como essa violência incidirá sobre elas. Por isso, os estudos de
gênero e o movimento feminista discutem os demais aspectos da opressão sofrida pelas mulheres.
São todas mulheres, vivendo sob a égide da cultura patriarcal e sofrem diversas formas de
violência por isso. Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
evidencia que – se as mulheres recebem cerca de 76% da renda masculina, como já mostrado
anteriormente em pesquisa do IBGE –, as mulheres negras são hoje a base da pirâmide e ainda não
alcançaram 40% da renda dos homens brancos22. Assim, podemos inferir que o patriarcado não
necessita do capitalismo para existir, mas o capitalismo utiliza o sistema patriarcal para ampliar a
sua capacidade de exploração do capital humano disponível: ao colocar a mão de obra feminina na
condição de mais barata do que a masculina, e, mais ainda, quando utiliza outras opressões – como
o racismo – para aumentar a margem de exploração e, consequentemente, o lucro.
Com a mundialização do capitalismo, esses elementos que são tão fundamentais para a sua
sustentação também extrapolaram barreiras e foram disseminados para todo o mundo. Pelas suas
características e grau de inserção na sociedade, podem ser considerados, atualmente, aspectos
estruturais e culturais: as mulheres já conquistaram muitos dos direitos que lhes foram
historicamente negados – voto, direitos trabalhistas, políticas públicas de assistência social,
divórcio, entre outros –, mas continuam em situação de vulnerabilidade, já que as diversas formas
de violência das quais são vítimas são naturalizadas.
Por considerar o aspecto cultural no qual a opressão às mulheres se constitui, é que
Fernandes (2016) reconhece a existência de uma crescente “onda conservadora” no país, que traz
em seu rastro uma piora da vida das mulheres – visto que a combinação do conservadorismo, do
liberalismo econômico, da redução de investimentos sociais e do machismo agudizam as
desigualdades entre os gêneros. Porém, a autora afirma que o machismo no Brasil não pode ser
considerado uma “onda”.
[...] se é possível reconhecer uma escalada do discurso conservador no Brasil nos últimos
anos, é também inegável que o machismo no Brasil não é uma onda recente, mas um
fenômeno estrutural que se enreda inextricavelmente ao racismo e ao colonialismo,
sedimentando no plano concreto (material, físico) e simbólico uma série de práticas

22
Disponível em: http://trabalho.gov.br/images/Documentos/Noticias/Mulher_e_trabalho_marco_2016.pdf. Acesso em:
04/02/2017

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violentas, já bastante naturalizadas aos olhos da sociedade brasileira. (FERNANDES, 2016,
p. 192)

O movimento “Escola sem Partido” (ESP) surfa na “onda conservadora”


Os avanços na área da educação têm sido alvo das ações movidas pelos setores
conservadores no Brasil. A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) que orienta a educação no país, afirma
que a educação escolar deve vincular-se à prática social e tem como “finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania” (Brasil, 1996/2015, p. 8).
O ESP, ao criar uma falsa dicotomia com uma “escola com partido”, apregoa uma escola
destituída de seu caráter de formação integral. Sob o “sem partido” e com o objetivo de tirar o
caráter político da educação, o que tal movimento propõe é um projeto profundamente ideológico
na medida em que considera os saberes transmitidos pela escola passíveis de “neutralidade” e
condicionados a valores éticos, morais e religiosos da família do aluno.
Para acabar com o chamam de “doutrinação” nas salas de aula uma das principais apostas do
movimento tem sido a mobilização de parlamentares para que se protocolem Projetos de Lei (PL)
ESP nas diferentes esferas Legislativas. Os PL’s reproduzem modelos disponíveis em site
específico para a sua divulgação23 e apontam uma série de recuos em direitos já garantidos pela lei
para o campo da educação escolar e atuação profissional dos professores.
O perfil dos parlamentares que tem assumido a autoria dos PL’s indica que de “sem partido”
o movimento tem muito pouco ou quase nada. Um levantamento sobre as iniciativas evidencia um
predomínio de partidos de direita e de centro, além da forte vinculação religiosa: o Partido Social
Cristão (PSC), com grande representação da bancada evangélica, é o campeão entre os proponentes
no país (Ratier, 2016). Inclusive, o primeiro parlamentar a propor PL desse teor foi o Deputado
Estadual do Rio de Janeiro Flavio Bolsonaro em 2014.24
Além de leis locais, há outras movimentações para inserir o ESP e textos análogos nas
legislações que organizam a educação no Brasil. É o caso dos PL 7180/2014 e 867/2015, que
propõem a inclusão do ESP na LDB; do PL 1859/2015 que pretende acrescentar à LDB a proibição
da “ideologia de gênero” ou “orientação sexual na educação”; ou ainda o PL 7181/2015, que

23
Disponível em www.programaescolasempartido.org Acesso em: 01/02/2017.
24
Disponível em
http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/scpro1115.nsf/e4bb858a5b3d42e383256cee006ab66a/45741a7e2ccdc50a83257c980062a2c
2?OpenDocument. Acesso em: 02/07/2017.

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tenciona a inclusão do ESP nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)25. Há ainda o PL
1411/2015, que, caso aprovado, tipificaria o crime de “assédio ideológico”26.
O primeiro PL, com esse teor, aprovado no país foi no estado de Alagoas. Intitulado “Escola
Livre”27 foi aprovado por unanimidade na Assembleia Legislativa de Alagoas no dia 17 de
novembro de 2015. Após a sua aprovação, uma Ação Direta de Inconstitucionalidade foi
apresentada ao Supremo Tribunal Federal. Em julho de 2016, a Advocacia Geral da União (AGU)
apresentou parecer que alega a inconstitucionalidade 28.
O Ministério Público Federal (MPF)29, o Superior Tribunal Federal (STF)30 e a Procuradoria
Geral da República (PGR)31 também já publicizaram posicionamento no mesmo sentido que a AGU
e reafirmaram o caráter inconstitucional das demandas apresentadas pelo movimento.
Outra movimentação que tem ocorrido em todo o país é a de retirar os pontos considerados
doutrinadores dos Planos Municipais e Estaduais de Educação – muitos dos quais já aprovados com
essas alterações. O Vereador Carlos Bolsonaro do Partido Social Cristão (PSC), autor da versão
carioca do ESP anunciou, durante uma Audiência Pública na Câmara Municipal do Rio de Janeiro
no dia 28 de junho de 2016, a intenção de incluir o ESP no Plano Municipal de Educação da
cidade32 – que ainda não foi aprovado e tem sido palco de disputas em torno do que os setores
conservadores chamam de “ideologia de gênero”.
Cabe destacar o termo “ideologia de gênero”. O conceito reivindicado por esses setores, de
acordo com o site do Instituto Liberal é que tal ideologia é:
(...) a negação de que existem sexos ao nascimento, com a afirmação que a sexualidade é
uma construção social, onde a pessoa escolheria o que deseja ser. É também implantada na
linguagem, com a negação de gênero nas palavras, com a substituição das letras o e a pela
letra x; para dar um exemplo, a palavra menino, ou a sua variação no feminino, que seria a
palavra menina, transformam-se em meninx, visando à neutralidade.
A ideologia de gênero, na verdade, tem suas origens nas ideias dos pais do comunismo,
Karl Marx e Friedrich Engels.33

25
Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/22/politica/1466631380_123983.html Acesso em: 06/02/2017.
26
Disponível em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=1229808. Acesso em:
02/07/2017.
27
Disponível em: http://www.al.al.leg.br/comunicacao/noticias/aprovado-projeto-que-institui-o-programa-escola-livre.
Acesso em: 16/12/2016.
28
Disponível em: www.agu.gov.br/page/content/detail/id_conteudo/431399. Acesso em 16/12/2016.
29
Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2016-07/mpf-diz-que-escola-sem-partido-e-
insconstitucional-e-impede-o-pluralismo. Acesso em: 02/07/2017.
30
Disponível em: http://justificando.cartacapital.com.br/2017/03/22/barroso-decide-pela-suspensao-de-lei-alagoana-
baseada-no-escola-sem-partido/. Acesso em: 02/07/2017.
31
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2016/10/1824785-para-pgr-escola-sem-partido-e-
inconstitucional-e-subestima-alunos.shtml. Acesso em: 02/07/2017.
32
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=YwYwLkC49VE Acesso em: 06/02/2017.
33
Disponível em:https://www.institutoliberal.org.br/blog/o-perigo-da-ideologia-de-genero-nas-escolas/. Acesso em:
02/07/2017.

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A partir dessa definição, os agrupamentos contrários à “ideologia de gênero” – constituído
principalmente de religiosos da igreja protestante e católica – acusam a discussão sobre gênero nas
escolas de terem como consequência a “erotização infantil”34, a “sexualização precoce” e a
“legitimação da pedofilia”35. É interessante observar que, para fins acadêmicos, o termo tem outro
sentido. Em busca36 nas plataformas Scielo e Google Acadêmico é possível ter acesso a 379
resultados: dentre os 30 artigos mais relevantes, “ideologia de gênero” aparece sempre como
sinônimo de machismo ou da cultura patriarcal, como a ideologia que corrobora com a ideia de
supremacia masculina que, ainda hoje, oprime as mulheres.
É importante que se avalie essa iniciativa em todos os seus aspectos e desdobramentos. O
Deputado Federal Jair Bolsonaro, do Partido Social Cristão, por exemplo, nos oferece elementos
para refletir sobre essa questão. Bolsonaro, que é um dos apoiadores do ESP, é reconhecido por
suas posições polêmicas e já deu declarações em que afirmou que a ditadura civil-militar brasileira
foi uma “intervenção democrática”37 e que “o erro da Ditadura foi torturar e não matar”38.
O Vereador Carlos Bolsonaro, expõe opiniões que acompanham as posições do pai Jair
Bolsonaro. Em entrevista sobre o PL, disse se preocupar que os alunos com posicionamentos
ideológicos diferentes sejam hostilizados e, por isso, defende que as provas devam ter gabaritos
múltiplos com mais de uma resposta correta para dar conta das diferentes posições: “Quem cassou o
presidente em 1964 foram os deputados, não foram os militares, por exemplo. Isso é uma resposta
válida”39. Afirmou que outro vereador propôs emendas que tornam o PL que protocolou “menos
inconstitucional”40 e justificou alegando que o “movimento é muito mais emocional que racional”41.
O clamor por uma educação sem ideologia justapõe uma ideologia pautada por argumentos
frágeis. Como justificativas, em sua página virtual, os articuladores do ESP citam pesquisa
encomendada e divulgada em 2008 pela revista Veja. A matéria, que não detalha a metodologia
adotada, afirma que “estudantes mencionam citações predominantemente favoráveis em sala a

34
Disponível em: http://pulpitocristao.com/2016/07/ideologia-de-genero-e-erotizacao.html. Acesso em: 07/07/2017.
35
Disponível em: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,educacao-e--questao-de-genero,1705540. Acesso em:
07/07/2017.
36
Pesquisa realizada no mês de junho de 2017.
37
Disponível em: http://noticias.r7.com/brasil/bolsonaro-chama-ditadura-militar-brasileira-de-intervencao-democratica-
31032015 Acesso em: 06/02/2017.
38
Disponível em: http://jovempanfm.uol.com.br/panico/defensor-da-ditadura-jair-bolsonaro-reforca-frase-polemica-o-
erro-foi-torturar-e-nao-matar.html Acesso em: 06/02/2017.
39
Disponível em: http://odia.ig.com.br/noticia/brasil/2015-09-06/escola-sem-partido-quer-fim-da-doutrinacao-de-
esquerda.html Acesso em: 06/02/2017.
40
Idem.
41
Idem.

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figuras como Lênin, Che Guevara e Hugo Chávez.” (Ratier, 2016, 31). Além disso, apesar de
afirmarem o recebimento de diversas denúncias que dão conta de que a “doutrinação” é uma
realidade nas escolas e universidades do Brasil, o site conta com apenas 60 publicações42 na parte
dedicada a “depoimentos” – sendo que, alguns deles, são reproduções de artigos de opinião, como
um de autoria do Rodrigo Constantino, e comentários extraídos de blogs, como o do Reinaldo
Azevedo. Em um universo de mais de 45 milhões de estudantes, esses números não se conformam
em dados sólidos que apontem uma tendência (Ratier, 2016, 31). A pesquisa realizada em fevereiro
de 2017 pelo Ibope, não corrobora essa posição. De acordo com a sondagem, 84% dos brasileiros
acredita ser importante discutir sobre igualdade entre os gêneros nas escolas, e 88% foram
favoráveis que aulas de educação sexual sejam ofertadas aos alunos da rede pública de ensino43.
O movimento mostra-se articulado com uma política conservadora e liberal internacional.
Segundo Miguel Nagib – procurador do estado de São Paulo, coordenador e um dos fundadores do
movimento – o ESP tem por modelo bem sucedidas experiências realizadas nos EUA –
44
especialmente o www.studentsforacademicfreedom.org e o www.noindoctrination.org” . O No
Indoctrination (Sem Doutrição, em tradução nossa)45, de acordo com a seção “Quem somos” do site
do ESP, foi “um grupo de pais e estudantes, nos EUA, movido por idêntica preocupação, (que) já
havia percorrido nosso caminho e atingido nossa meta”46. Nagib, aliás, a despeito do esforço de
negar suas motivações ideológicas, aparece como um especialista47 vinculado ao Instituto
Millenium que, segundo consta na descrição do site da organização:
(...) é uma entidade sem fins lucrativos e sem vinculação político-partidária com sede no
Rio de Janeiro. Formado por intelectuais e empresários, o think tank48 promove valores e
princípios que garantem uma sociedade livre, como liberdade individual, direito de
propriedade, economia de mercado, democracia representativa, Estado de Direito e limites
institucionais à ação do governo.49 (grifo nosso)
Logo, pode-se aferir, que o ESP é animado por pessoas alinhadas com uma política liberal e
defensora de uma implementação cada vez mais radical dos preceitos capitalistas. É, por sua vez,

42
Disponível em: http://www.escolasempartido.org/depoimentos. Acesso em: 02/02/2017.
43
Disponível em: http://agenciapatriciagalvao.org.br/mulheres-de-olho-2/84-dos-brasileiros-apoiam-discutir-genero-
nas-escolas/. Acesso em: 02/02/2017.
44
Disponível: http://www.escolasempartido.org/artigos-top/192-por-uma-escola-sem-partido Acesso em: 01/02/2017.
45
Movimento norte americano que inspirou o “Escola sem Partido”, pois se organizou reivindicando a neutralidade do
ensino e o fim da doutrinação em sala de aula.
46
Disponível em: http://www.escolasempartido.org/sobre/quem-somos Acesso em: 01/02/2017
47
Disponível em: http://www.institutomillenium.org.br/?attachment_id=34081. Acesso em 02/07/2017.
48
São instituições internacionais responsáveis por difundir conhecimentos e, como afirma Hoeveler (2016, p. 86), desde
1970 possuem ideário marcadamente neoliberal. Assim, são comprometidas com a difusão do ideário neoliberal e
neoconservador.
49
Disponível em: http://www.institutomillenium.org.br/institucional/quem-somos/. Acesso em 06/07/2017.

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um projeto profundamente ideológico e reforça uma postura de reação dos setores conservadores a
qualquer possibilidade de construção de uma sociedade mais igualitária.
Segundo os defensores desse projeto, professor não é educador, mas apenas um instrutor que
deve se limitar a transmitir o conteúdo previsto para a disciplina. É interessante notar que diversas
discussões que não tratam exclusivamente da educação – como as feitas por Gramsci – acabam
tangenciando-a e trazem contribuições importantes para o campo. Gramsci acreditou que o avanço
da consciência dos setores oprimidos da sociedade vem de um processo de reflexão inteligente
sobre a realidade, e não da piora das condições objetivas de manutenção e reprodução da vida. Por
isso, defendia “que toda revolução foi precedida por um intenso e continuado trabalho de crítica, de
penetração cultural, de impregnação das ideias” (Coutinho, 2011, p. 55).
Creio que nunca precisou o professor progressista estar tão advertido quanto hoje em face
da esperteza com que a ideologia dominante insinua a neutralidade da educação. Desse
ponto de vista, que é reacionário, o espaço pedagógico, neutro por excelência, é aquele em
que se treinam os alunos para práticas apolíticas, como se a maneira humana de estar no
mundo fosse ou pudesse ser uma maneira neutra.
Minha presença de professor, que não pode passar despercebida dos alunos na classe e na
escola, é uma presença em si política. Enquanto presença não posso ser uma omissão mas
um sujeito de opções. Devo revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de
comparar, a avaliar, de decidir, de optar, de romper. Minha capacidade de fazer justiça, de
não falhar à verdade. Ético, por isso mesmo, tem que ser o meu testemunho. (FREIRE,
2015, p. 95)

Fica evidente que os setores conservadores identificaram a escola como um espaço de


disputa de hegemonia e saíram em uma ofensiva na disputa pelo seu sentido. Afinal, a quem
interessa a negação da política? A quem interessa uma escola incapaz de despertar a crítica social e
reflexões sobre a realidade nos estudantes?

Referências

BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação nacional: Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. – 11. ed. – Brasília: Câmara dos
Deputados, Edições Câmara, 2015. Disponível em: www2.camara.leg.br/documentos-e-
pesquisa/publicacoes/edicoes/paginas-individuais-dos-livros/lei-de-diretrizes-e-bases-da-educacao-
nacional. Acesso em: 21/05/2016.
COUTINHO, Carlos Nelson (Org.). O leitor de Gramsci: escritos escolhidos 1916-1935. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
ENGELS, Friederich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. São Paulo:
Centauro, 2002.

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FERNANDES, M. P. Mulheres que furam a onda: vozes dissonantes em um Brasil machista. Termo
In: Demier, Felipe; Hoeveler, Rejane (orgs.). A onda conservadora: ensaios sobre os atuais tempos
sombrios no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 2016. Páginas 189-197.
FREIRE, Paulo Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 2015.
HOEVELER, Rejane. A direita transnacional em perspectiva histórica: o sentido da “nova direita”
brasileira. Termo In: Demier, Felipe; Hoeveler, Rejane (orgs.). A onda conservadora: ensaios sobre
os atuais tempos sombrios no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 2016. Páginas 77-91.
PINTO, C. Feminismo, história e poder. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 18, n. 36, jun. 2010. P. 15-
23. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rsocp/v18n36/03.pdf. Acesso em: 17/12/2016.
RATIER, Rodrigo. 14 perguntas e respostas sobre o “Escola sem Partido”. Termo In: A ideologia
do movimento Escola sem Partido: 20 autores desmontam o discurso. São Paulo: Ação Educativa,
2016. Páginas 30-41.

“Escola sem Partido” ("School without [Political] party") and women's rights: obscurantism
looking for a place in the school.

Abstract: Progress in the field of the rights of oppressed is undeniable. The recognition of said
oppressions and the need for public policy and legislation that aims at reducing inequalities are
important steps – although still short of solutions. They represent victories of social movements that
bring in their trail the reaction of conservative groups. Education is in this context. The creation and
strengthening of rights cause incitement and divergent positions get polarized. There seems to be a
direct relation between the legalization of abortion in several countries and the bill proposed in
Brazil in 2015 that establishes even harsher penalties for illegal abortion and makes access to legal
abortion more difficult. The counter-attack of conservative sectors can be found in many areas. In
Brazil, the movement “Escola Sem Partido” (“School Without [Political] Party”) has presented
itself as one of these attacks. The adoption of the expression “gender ideology”, the revival of the
discourse of fear of possible “Marxist indoctrination” in schools and the attempt to approve
legislation that restricts the debate on gender and diversity in school curricula show that
conservative sectors of society have understood the importance of schools for the construction of
hegemony and have decided to challenge its meanings. The article discussed, under a dialectical
historical materialistic approach, how “Escola Sem Partido” inserts itself in the attempt of
obscurantist and reactionary sectors to advance and grow in society.
Keywords: Gender. Education. “School Without Party”.

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