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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA PARAÍBA


TÉCNICO EM INSTRUMENTO MUSICAL

RENATA RIBEIRO CIPRIANO DOS SANTOS

EDUCAÇÃO MUSICAL NO ENSINO FUNDAMENTAL

JOÃO PESSOA – PB
2020
2

RENATA RIBEIRO CIPRIANO DOS SANTOS

EDUCAÇÃO MUSICAL NO ENSINO FUNDAMENTAL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso Técnico em
Instrumento Musical Integrado ao
Ensino Médio, do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia da
Paraíba, Campus João Pessoa, como
requisito parcial à obtenção do título
de técnico.

Orientadora: Prof.ª. Dra. Teresa


Cristina Rodrigues Silva

JOÃO PESSOA – PB
2020
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Trabalho de Conclusão de Curso defendido e aprovado, em 11/08/2020, pela banca


examinadora:

Profª. Dra. Teresa Cristina Rodrigues Silva


Orientadora

pR

Prof. Ms. Cristóvam Augusto de Carvalho Sobrinho


Avaliador

Profª.Ericka Anulina Cunha de Oliveira


Avaliadora
4

Dedico este trabalho a Deus, que


sempre foi o autor da minha vida e do
meu destino. O meio maior apoio nos
momentos difíceis. Que esse projeto
venha inspirar outras pessoas
investirem na área da Educação
Musical no Ensino Fundamental, bem
como suas aplicações.
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus e a Nossa Senhora, que me ajudou em cada etapa deste trabalho,
dando-me forças para terminá-lo. Em especial, A minha mãe Rosa Ribeiro, pelo amor,
compreensão e incentivo. Você é o meu porto seguro. Às minhas irmãs, Joseane, Raquel e
Roberta, que me impulsionaram todos os dias com palavras de apoio. Eu amo vocês. Aos meus
amigos por toda amizade, amor e carinho. Aos demais colegas que conheci durante o curso
pelos bons e maus momentos que compartilhamos ao longo desses anos de estudo.
A minha orientadora Teresa Cristina, que me conduziu nesta busca de conhecimento.
Reconheço que sua contribuição foi fundamental para o desenvolvimento deste estudo, ao me
orientar com atenção, empenho e carinho. Aos professores Cristovam Augusto e Éricka por
toda sua dedicação, atenção e incentivo em aceitar compor a minha banca. Ao Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB), especialmente ao
Departamento de Ensino Técnico Profissionalizante e a Coordenação do Curso Técnico
Integrado em Instrumento Musical. A todos e todos os professores e professoras do Curso
Técnico em Instrumento Musical, por me ensinar com paciência e amor essa arte que irei levar
para sempre em minha vida. Agradeço a todos que de maneira direta ou indireta contribuíram
e compartilharam comigo mais esta conquista.
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“A grandeza da vida não consiste em


não cair nunca, mas em nos
levantarmos cada vez que caímos”

Nelson Mandela
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RESUMO

Esse trabalho tem como objetivo estudar a Educação Musical no Ensino Fundamental.
No estudo foram utilizadas pesquisas biográficas e pesquisa em campo, através do projeto “A
música e a consciência ambiental tornando a escola um lugar mais alegre e receptivo”. Este
foi um projeto de Musicalização desenvolvido na Escola M. E. F. Professor Afonso Pereira da
Silva, no bairro de Mangabeira VIII (Cidade verde) em João Pessoa - PB. Durante o estudo
foi perceptível como a música pode ser trabalhada através da construção de instrumentos
musicais feitos por matérias recicláveis discutindo tanto questões musicais, como também
ambientais. Conclui-se, portanto, que é grandiosa a importância do ensino da música nas
escolas e a reflexão em torno da interdisciplinaridade da mesma com as demais áreas do
conhecimento.

ABSTRAT

This work aims to study Music Education in Elementary School. In the study,
biographical research and field research were used, through the project “Music and
environmental awareness are creating a school in a happier and more welcoming place”. This
was a musical project developed at the School M.F. Professor Afonso Pereira da Silva, in the
district of Mangabeira VIII (Cidade Verde) in João Pessoa - PB. During the study, it was
possible to see how music can be performed through the construction of musical instruments
made from recyclable materials, involving both musical and environmental issues. He
concluded, therefore, that the importance of teaching music in schools is great and the
reflection around its interdisciplinary with other areas of knowledge.
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SÚMARIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................................................................9
1. Educação Musical no Ensino Fundamental................................................................................10
1.1 Importância da Música..................................................................................................................10

1.2 Ensino da Música..........................................................................................................................11

1.3 O projeto.......................................................................................................................................12

2. COLOCANDO EM PRÁTICA......................................................................................................12

3. ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA.....................................................................................................14

4. INTERDISCIPLINARIDADE.......................................................................................................17

5. CONCLUSÃO................................................................................................................................18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS................................................................................................20
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INTRODUÇÃO

Os temas relacionados à Educação Musical têm me fascinado desde que ingressei no


Curso Técnico de Instrumento Musical no IFPB. Mais especificamente, a maneira de ensinar e
como envolver os alunos em atividades musicais se tornaram objeto de reflexão depois que
participei do projeto “A música e a consciência ambiental tornando a escola um lugar mais
alegre e receptivo”. Este foi o nome escolhido para o projeto de Musicalização que foi
desenvolvido na Escola M. E. F. Professor Afonso Pereira da Silva, no bairro de Mangabeira
VIII (Cidade verde) em João Pessoa - PB, entre os meses de junho a setembro do ano de 201811.
No presente trabalho de conclusão de curso, apresento um relato da minha inserção no
projeto citado acima, com foco nos desdobramentos decorrentes da experiência vivida naquele
período. Os objetivos eram muito simples e, a nosso ver, despretensiosos: partimos de uma
experiência pessoal negativa que tivemos com o aprendizado de música durante o ensino
Fundamental e decidimos, intuitivamente, buscar formas de ensinar música de uma maneira
mais atrativa para os alunos. A experiência tornou-se riquíssima e surpreendente para toda a
equipe. Aprendemos muito ao ensinar e vimos as reais dificuldades que os professores
enfrentam com uma classe de trinta de alunos.
Após um determinado tempo de reflexão, desejei pesquisar sobre as maneiras criativas
de ensinar e sobre as possibilidades de interdisciplinaridade - que foi um tema que surgiu com
grande força durante o projeto. Foram realizadas, atividades de apreciação musical, com
reconhecimento de estilos e posteriormente, de percepção musical com execução de ritmos.
No decorrer do processo, foram produzidos instrumentos musicais com materiais plásticos
que tornaram possível a execução dos ritmos aprendidos. Como consequência outros temas
foram abordados. que tornaram possível a execução dos ritmos aprendidos. Como
consequência outros temas foram abordados.

1Este projeto concorreu ao edital 01/2018 do IFPB – Campus João Pessoa e foi desenvolvido com a coordenação
do professor Daniel Luna de Menezes do Curso Técnico de Instrumento Musical. Fizeram parte da equipe, além
de mim, as alunas Ana Maria Barbosa Neves do Curso de Técnico Instrumento musical e Nathália Flôres Lima e
Fernanda Raquel da Costa Angra Amaral do Curso Técnico de Controle Ambiental.
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1. Educação Musical no Ensino Fundamental

A importância da música

A primeira reflexão foi sobre a importância da música para os seres humanos - não
vivemos sem música. Ela está presente em toda parte - desde os sons da natureza até as canções
ouvidas no dia-dia. Diante disso, nos perguntamos qual o papel que a música pode exercer na
vida das pessoas. Sabemos que ela nos ajuda a expressar emoções e também a estimular a
cognição. Pesquisas atuais demonstram que a atividade musical se mostra eficaz em auxiliar o
desenvolvimento do cérebro das crianças e beneficia os sistemas do neurodesenvolvimento
como um todo.

A educação de crianças em um ambiente sensorialmente


enriquecedor desde a mais tenra idade pode ter um impacto sobre
suas capacidades cognitivas e de memória futuras. A presença de
cor, música, sensações (tais como a massagem do bebê), variedade
de interação com colegas e parentes das mais variadas idades,
exercícios corporais e mentais podem ser benéficos (desde que não
sejam excessivos). (Cardoso; Sabbatini, 2000). ILARI, Beatriz.A
música e o cérebro: algumas implicações do
neurodesenvolvimento para a educação musical. Revista da
abem, setembro 2003.

Textos escritos desde a antiguidade clássica comprovam a importância dessa reflexão:

Na realidade, desde sua origem, a música é conjugada a outros


campos do conhecimento humano, devido à sua complexidade.
Na Antiguidade, por exemplo, Pitágoras (571/0-497/6 a.C.) já
buscava estabelecer as bases matemáticas nas quais a produção
musical se fundava. Platão (429-348 a.C.) entendia a música como
arte, técnica e ciência prática (téchne), atividade racional voltada a
um fim produtivo, mas também como conhecimento, saber (sophía)
ou ciência teórica (episthéme), como mostra Nascimento (2003).
Aquele filósofo concebia a educação musical como um elemento
11

político e uma pedagogia moral e social, a partir dos matizes


étnicos ínsitos à música, fenômeno de profunda repercussão
subjetiva, capaz de consequências práticas da realização da virtude
(PLATÃO, 1973a; 1973b). Seu discípulo Aristóteles (384-322
a.C.) também acreditava que deveria ser estudada “a influência que
ela [a música] pode exercer sobre o caráter e a alma”
(ARISTÓTELES, 1988: 276). Já santo Agostinho de Hipona (354-
430 d.C.) via na música – que ele definiu como uma ciência
(scientia) – um fenômeno a ser estudado não só filosófica, mas
teologicamente, já que provindo da fonte das harmonias eternas, a
Beleza Suprema e Criadora (AGOSTINHO, 1988, apud, AMATO,
2010: p.10).

Percebemos, portanto, que desde a Antiguidade clássica a música era vista como um
dos principais campos do saber humano. Nós convimos, portanto, ressaltar, que a presença da
música na vida dos seres humanos acompanha a história da humanidade, e por isso, deve ser
compreendida e apreciada. Está presente tanto na cultura oriental quanto ocidental, em todas
as épocas, e de várias formas, exercendo várias funções dentro da sociedade.

Ensino da música

No Brasil, apesar da riqueza cultural incontestável, ainda lutamos por um ensino de


música nas escolas públicas de ensino fundamental. Que apresenta momentos com altos e
baixos, desde os anos 30 do século 20, pois legislação vem sendo modificada.
A inserção do ensino de Música na Educação Básica brasileira ocorreu em 2008. Foi
nesse período, que houve uma efervescência de debates em torno do ensino de música nas
escolas. Isso ocorreu com a promulgação da Lei 11.769, que tornou a música conteúdo
obrigatório em todas as escolas brasileiras, desde a Educação Infantil até o Ensino médio,
publicada no Diário Oficial, chamada de Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). O art.
26 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que passa a vigorar acrescido do seguinte
parágrafo único:

§ 6o A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo,


do componente curricular de que trata o § 2o deste artigo. (Incluído
pela Lei nº 11.769, de 2008). [Lei nº 9.394, de 20 de Dezembro de
12

(1996)] Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.


Brasília, DF: Presidência da República, 2008.

Desta maneira, compondo o corpo discente da primeira geração na qual essa lei entrou
em vigor, muito poderia dizer, de maneira crítica e construtiva a respeito da Educação Musical
que eu vivenciei. As ponderações e críticas inevitáveis se tornaram ainda mais intensas após
estudar música de maneira mais séria no curso Técnico de Instrumento Musical do IFPB. Era
nítido o desejo de repensar as maneiras de aprender e ensinar Música.

O Projeto

Tendo em vista o projeto em questão, o desafio maior seria proporcionar um ensino


mais dinâmico e prático, que visasse um melhor aproveitamento dos alunos. Após algumas
reuniões com a equipe, decidimos abordar a musicalização através de atividades lúdicas.

O projeto foi desenvolvido com as turmas do 5º ano A e B. Cada turma era composta
de trinta alunos, entre nove a treze anos de idade, no período da tarde, durante as aulas normais.
As aulas começaram com atividades de percepção musical, através da audição de diferentes
estilos musicais. As músicas eram tocadas e os estudantes identificavam quais eram os estilos
escutados.

Na segunda ação que realizamos com os alunos, foi feita uma conversa sobre como
eram as aulas de música na escola. Eles relataram que não se envolviam muito com as
atividades dessa disciplina, assim sendo, planejamos atividades envolventes para conquistá-
los. Resolvemos iniciar atividades mais práticas, trabalhando ritmos.

2. Colocando em prática

Tomamos como base a primeira e a segunda série do método Pozzoli - Guia Teórico
Prático Volume I. Apesar de este ser um método bem tradicional e nada lúdico, procuramos
desenvolver atividades extras e abordar a questão rítmica de maneira não tão árida. Utilizamos
a prosódia para associar palavras como o ritmo. Por exemplo, a palavra “pão” para indicar a
mínima, “café” para indicar duas colcheias juntas e “chocolate” para indicar quatro
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semicolcheias juntas. Depois de um tempo, fizemos ditados rítmicos para avaliar se eles
estavam realmente conseguindo desenvolver a percepção rítmica.

Posto isso, com o decorrer das aulas, estimulamos os alunos a construírem instrumentos
simples para colocarem em prática os ritmos aprendidos. Nesse estágio entraram as ações das
integrantes da equipe que são do Curso Técnico de Controle Ambiental. Elas propuseram a
utilização de materiais recicláveis como: jornal, revistas, papelão, tampas de garrafas pet e
garrafas pet - começamos a fazer os instrumentos no final de cada aula. Construímos
instrumentos semelhantes a castanholas, chocalhos e outros.

Com as atividades de construção dos instrumentos o espaço da aula se ampliou e


enriqueceu-se consideravelmente. Experiências como essa, se mostram muito importantes no
decorrer do processo de aprendizagem musical, assim como está descrito nas palavras da
educadora musical e pesquisadora Beatriz Ilari:

Além de divertidos, os projetos de construção de instrumentos


musicais podem constituir experiências ricas de aprendizado, como
sugere o currículo da escola Projeto Zero (Koetszch, 1997). Ao
construir um instrumento, as crianças experimentam com os sons
produzidos por diferentes tipos de materiais, aprendem “na prática”
sobre os diversos tipos de instrumentos, discutem algumas questões
de física (proporções de tamanho de instrumentos e alturas das
notas musicais, materiais e timbres, entre outras). Tudo indica que
a construção de instrumentos musicais é benéfica para o
desenvolvimento dos sistemas do pensamento superior, de
ordenação sequencial, motor e de controle da atenção. A
construção de instrumentos musicais, entre outras, é mais um
exemplo de atividade musical prazerosa e enriquecedora. ILARI,
Beatriz. A música e o cérebro: algumas implicações do
neurodesenvolvimento para a educação musical. Revista da
ABEM, setembro 2003.

Paralelamente ao trabalho de percepção rítmica, criamos uma verdadeira oficina de


construção dos instrumentos. Os alunos tinham autonomia para criar e construir, nós
permanecemos como mediadoras e orientadoras nesse processo. Na finalização da construção
eles também pintaram e decoraram os instrumentos. No último mês quando a percepção estava
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razoavelmente trabalhada e já tínhamos uma boa quantidade de instrumentos prontos,


começamos a aplicar a leitura rítmica com os instrumentos.

Os alunos tiravam dúvidas em todas as aulas caso precisasse e ao aluno que não
estivesse seguro com as atividades, dedicávamos um tempo só com ele, ensinando, para que
não se sentisse excluído do restante da turma. Procurávamos compreender as dificuldades em
primeiro lugar observando a evolução de cada aluno. Eram perceptíveis que se alegravam
com a dinâmica feita em aula, eles podiam interagir entre si e podiam se expressar através da
arte.

No ditado rítmico podemos perceber que foi um pouco mais difícil, mas a interação era
sempre a mesma ou maior. Foram ministradas, durante um mês, aulas que mantiveram essa
dinâmica. No final percebemos que, houve melhorias e desenvolvimento no aprendizado. Foi
relatado pelos próprios alunos a nós que essas atividades facilitavam o aprendizado,
diferentemente dos métodos adotados nas aulas normais de música desta escola.

Como consequência dessa atividade, percebemos que poderíamos explorar ainda mais
a questão da reciclagem e da consciência em relação aos cuidados com o meio ambiente. Nessa
fase final notamos grande envolvimento por parte dos alunos. Observamos, inclusive, que
foram dissolvidas algumas barreiras de ordem pessoal entre grupos de alunos denotando uma
interação social muito positiva, que facilitou também a participação de um aluno deficiente.
No final de todas as aulas era realizada uma roda de conversa na quais todos expressavam suas
opiniões. Foi muito gratificante ouvir os relatos de como eles se sentiam envolvidos, felizes
com seu aprendizado musical e também em relação à questão social pelo fato de desenvolverem
laços de amizades proporcionados pelas atividades musicais em grupo.

3. ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA

Revivendo o projeto e revisitando as memórias do mesmo, percebo que o melhor jeito


de aprender é ensinando. Por experiência própria posso dizer que ensinar não é uma tarefa tão
fácil, mas também não é algo impossível. A ideia de um ensino mais dinâmico é melhor para
o aprendizado do aluno. É algo que precisa ser lembrado em todas as aulas pelo professor.
Partimos de um princípio que aprender percepção musical não é algo fácil e pela nossa
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experiência pessoal de aprendizado o conteúdo era imposto, muito metódico e não


conseguíamos absorver.

Dessa forma, procuramos meios diferentes de ensinar o conteúdo, de maneira mais


simples, procurando fazer com que o aproveitamento fosse mais alto, usando ações do dia-dia
para as explicações em sala de aula. Logo, a intenção era ensinar de uma maneira mais efetiva
para que a má experiência que tivermos não se repetisse. Notamos também que, ensinando,
melhoramos nosso aprendizado e proporcionamos experiências diferentes com o objetivo de
gerar uma vontade do aluno em adquirir conhecimento.

O fato de utilizar a criatividade dos alunos para a confecção dos instrumentos foi
fundamental. Notamos que eles se envolveram mais profundamente porque a atividade ficou
mais dinâmica. Assim como os alunos, nós precisarvamos desenvolver algo mais criativo para
podermos ensinar. Começamos então, por aplicar aulas mais práticas o que provocou grande
interação entre todos.

Os aspectos da interação entre os alunos foram mediados por nós. Como instrutores,
durante o processo, percebemos que foram importantíssimos para o sucesso da proposta.
Experiência semelhante à nossa está descrita nas palavras de GOHN:

Passa por um processo de ação grupal, é vivida como práxis


concreta de um grupo, ainda que o resultado do que se aprende seja
absorvido individualmente. O processo ocorre a partir de relações
sociais, mediadas por agentes assessores, e é profundamente
marcado por elementos de intersubjetividade à medida que os
mediadores desempenham o papel de comunicadores. (GOHN,
2001, p. 104)

Desta maneira, observamos que os alunos interagiam mais entre si, alguns, que no começo do
projeto demonstraram bastante timidez, começaram a socializar com os outros colegas, mas o
que mais chamou atenção foi o fato de que antes as crianças não davam muita importância à
reutilização dos materiais plásticos até que mostramos essas possibilidades. Essa “descoberta”
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e um novo olhar para os materiais reutilizáveis, ou seja, resíduos2 enriqueceram


consideravelmente as atividades.
Nas discussões sobre essas atividades, assistimos ao despertar de uma consciência em
relação ao meio ambiente – muito foi falado sobre a riqueza dos materiais e seu
reaproveitamento, impedindo que sejam descartados precocemente. Esse momento do projeto
foi marcante pois o trabalho da música associado à consciência ambiental era um ponto
essencial da nossa proposta.

Falar em uma consciência ambiental implica na busca e na


consolidação de novos valores na forma de ver e viver no mundo, a
partir da complexidade ambiental, que possibilita a construção de
novos padrões cognitivos na relação homem/natureza, ou seja, na
produção de processos cognitivos que reconheçam a
interdependência e o inacabamento de qualquer ação,
de(des)construir e (re)construir o pensamento a partir da ciência, da
cultura e da tecnologia, a fim de mover o processo criativo humano
para gerir novas possibilidades diante dos fenômenos da vida e da
sobrevivência a partir da sinergia existente no tecido social,
ambiental e tecnológico. (Leff, 2001)

Trabalhamos a questão da reciclagem reutilizando materiais que os alunos tinham em


suas casas. Esses materiais, que seriam descartados, passaram a ser vistos como matéria prima
para outros fins. Essa conscientização da reutilização suscitou, não somente a criatividade, mas
também a consciência ambiental.
A constatação mais surpreendente desta experiência foi em relação a facilidade de unir
a música com outras disciplinas. Seria extremamente enriquecedor, em uma outra

2 Resíduo é o termo correto no lugar do termo “lixo” como todos dizem. A definição de lixo tem a ver com tudo
aquilo que não apresenta nenhuma serventia para quem o descarta. Por outro lado, o que não serve para você pode
se tornar para o outro, matéria-prima de um novo produto ou processo, ou seja, resíduo sólido. Resíduo então é
tudo aquilo que pode ser reutilizado e reciclado e, para isto, este material precisa ser separado por tipo, o que
permite a sua destinação para outros fins. Podem ser encontrados nas formas sólida (resíduos sólidos), líquida
(efluentes) e gasosa (gases e vapores).
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oportunidade, adicionar outras disciplinas ao projeto promovendo, mais fortemente, a


interdisciplinaridade.
Como proposta de um projeto que desse continuidade à essa experiência, imaginamos
que poderia ocorrer interação entre outras disciplinas como ciências, geografia. Essa interação
deveria ocorrer entre os professores, trabalhando em conjunto, buscando formas mais práticas
e dinâmicas de abordar temas complexos. Posteriormente, haveria a aplicação com os alunos
através de meios mais acessíveis e mais próximos à realidade dos alunos para o melhor
desenvolvimento do aprendizado dos mesmos.

4. INTERDISCIPLINARIDADE

Refletindo sobre o processo percebo que, inesperadamente, trabalhamos com outras


matérias, além da música. Construir instrumentos com materiais que seriam descartados, trouxe
diversas questões sobre sustentabilidade – um tema tão importante no nosso tempo. Todos os
envolvidos perceberam o valor desse material. A melhor maneira de aprofundar e unir os dois
temas seria por meio da interdisciplinaridade. Isto é, um trabalho conjunto com professores de
duas ou mais áreas; no caso, Música, Artes, Ciências e Geografia.
Partindo da Música para o ensino dos ritmos, utilizamos elementos de Artes no
manuseio da matéria, na criatividade, na criação de formas instrumentos, na pintura e na
decoração dos instrumentos criados. Chegamos à Ciência e Geografia na reflexão da
importância da reutilização dos materiais, evitando que sejam devolvidos a natureza
prematuramente causando danos ambientais. Nesse aspecto, seria muito bom ter a interação
entre os professores dessas disciplinas. Certamente experiências como essas já foram realizadas
em outras instituições.
Percebemos que, os instrumentos que criamos, materializam e proporcionam uma
visualização que facilita no processo de aprendizado da música, que a princípio é uma matéria
bastante subjetiva. Esse encontro da emoção com a razão é observado no texto de Gonçalves
2019, no qual ela expõe:

Essa maneira de abordar o conhecimento - experiências que


nascem no interior do ser e se manifestam em um agir consciente e
responsável diante de si mesmo e da natureza - pretende trazer,
para o campo educacional, experiências que revelam a
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cumplicidade existente na dualidade representativa do ser humano.


O ser físico e o ser espiritual, apartados pela força do conhecimento
racional herdado da cultura europeia, são interdependentes e
interativos. GONÇALVES, Maria Inês Diniz. Música e
Interdisciplinaridade: sentidos e consonâncias. Brasília: Editora
Casa da Mão, 2019.

À vista disso, observamos que a música é um campo que consegue dialogar com diversas
áreas da educação escolar. Logo, os professores de música e os demais professores poderiam
buscar pontos em comuns para um desenvolvimento de um trabalho significativo no
desenvolvimento social, cultural e emocional dos estudantes. O desenvolvimento do currículo
musical acompanhando a evolução das demais áreas ajudaria o professor a organizar os
conteúdos de forma lógica e natural, trabalhando assim a interdisciplinaridade.
Pensando dessa forma, a percepção e a consciência ambiental poderiam se associar uma
a outra. Pois, são áreas que estão interligadas por diversos fatores, as quais unidas podem
desenvolver uma consciência mais dinâmica gerando uma forma de aprendizado melhor e mais
satisfatório.

5. CONCLUSÃO

Foi com minha inserção ao projeto que tive a experiência de ver como é rico unir o
aprendizado da música com as demais disciplinas. Descobri que a música possui um campo
extraordinariamente vasto e maravilhosamente interdisciplinar – no qual é perceptivo um
espaço para uma imensa troca de saberes num trabalho em equipe, incluindo diferentes
profissionais.

O curso técnico em Instrumento Musical foi fundamental por suscitar todas essas
reflexões sobre a interdisciplinaridade da música. Muito me alegra saber que a música, está
incluída em um campo tão profundo e tão importante. A interação da equipe promoveu uma
troca de saberes. As integrantes do projeto que eram do Curso Técnico Controle Ambiental
nos proporcionaram conhecimentos acerca dos cuidados com o meio ambiente, assim como,
através do convívio elas também obtiveram conhecimento de música.

Foi gratificante ver como os alunos se interessavam em aprender sobre o tema já que
era abordada de forma educativa, mais lúdica e dinâmica, os levando a reflexão em torno dos
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resíduos que os mesmos produziam e descartavam como se não servissem para nada. Uma vez
que trabalhamos a sustentabilidade passamos também a trabalhar o conceito de consciência
ambiental.

Concluo que, ensinando se aprende muito. Percebo que, durante esse tempo de ensino
eu consegui enxergar diversas formas de ensinar e aprender o assunto, transformando o que
talvez fosse algo complicado de ensinar e aprender em uma tarefa autêntica e dinâmica.
Trabalhar com uma equipe interdisciplinar foi muito rico. O ensino tradicional, muitas vezes,
não desperta o interesse dos alunos, já a interdisciplinaridade faz com que o ensino tenha mais
sentido, o que é muito importante no nosso dia-a-dia.

A construção de um aprendizado em junção com as demais áreas do


conhecimento, pode nos proporcionar mais experiência em torno de um mesmo tema.
Constatamos que a idéia de romper o limite entre as disciplinas tornar o ensino mais dinâmico,
com isso, o aluno vê o aprendizado como algo mais tangível à sua realidade.

A pretensão era ensinar música de uma maneira mais alegre e unir com o campo
da sustentabilidade, mas, no final, surgiu um fator maior do que tudo isso foi que, um
trato interpessoal e um ensino mais humanizado. Portanto, neste âmbito, percebemos a
felicidade das crianças e a vontade delas em querer aprender, a se unirem em uma dinâmica
de aprendizado e cooperação. Os alunos são os fatores mais importantes desse processo. Ver a
alegria neles e perceber que estão levando o conhecimento para além do campo da escola é
algo muito fantástico para nós.

São admiráveis como as relações pessoais e também dos alunos entre si foram
melhorando no processo. Alunos que eram dispersos na sala de aula foram criando laços de
amizades, além de interagir em grupos para obter conhecimento. É extraordinário fazer um
trabalho desses e observar que se obteve resultado.

Sinto-me radiante em poder dividir esse processo de aprendizado com outras pessoas,
quem ensina aprende ainda mais. Foi prazeroso todo esse desenvolvimento e encantador fazer
parte dele.
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Referências Bibliográficas

ALENCAR, M. F. S. et al. Práticas educativas na perspectiva da educação


popular: Fortalecimento, valorização e promoção do envelhecimento ativo em
espaços não escolares. Pesquisa em foco, São Luís, v. 23, n. 1, Jan/Jun 2018.

BRASIL. [Lei nº 9.394, de 20 de Dezembro de (1996)] Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional. Brasília, DF: Presidência da República, 2008.

FUCCI AMATO, Rita de Cássia.. Breve retrospectiva histórica e desafios do ensino


da música na educação básica brasileira. Revista opus, 2006.

FUCCI AMATO, Rita de Cássia. Interdisciplinaridade, música e educação musical.


Revista opus, Goiânia, 2010.

GONÇALVES, Maria Inês Diniz. Música e Interdisciplinaridade: sentidos e consonâncias.


Brasília: editora Casa da Mão, 2019.

ILARI, Beatriz. A música e o cérebro: algumas implicações do


neurodesenvolvimento para a educação musical. Revista da abem, setembro 2003.

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