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DESORDENS CRANIOMANDIBULARES

Anatomia funcional e biomecânica da ATM


● Articulação complexa, capaz de uma combinação de movimentos deslizantes e de dobradiça.
● Duas articulações independentes, mas funcionalmente relacionadas formando uma articulação bilateral entre a
mandíbula e o crânio → articulação craniomandibular.
● Controlada por um complexo sistema neuromuscular.
● Articulação composta sinovial: uma articulação composta é aquela formada por 3 ossos. Nesse caso, a ATM é
considerada composta levando em conta o disco articular, que na verdade é cartilaginoso.
● Duas articulações que funcionam como unidade funcional única.
● Superfícies articulares recobertas por denso tecido conectivo fibroso avascular e não inervado, com capacidade
de reparos e regeneração.
● Possui ponto de fechamento rígido: quando ocorre a oclusão.
Disco articular
● Ausência de vasos e nervos na porção central.
● Paciente não sente dor em caso de ruptura ou perfuração, só sentirá dor quando a desordem estiver muito mais
avançada, atingindo outras estruturas.
● Estabilização dos movimentos funcionais.
● Amortecedor de choques, área de suporte de pressão durante atividades funcionais e/ou parafuncionais.
● Divisão da ATM em:
- Articulação inferior: superfície inferior do disco articular e superior do côndilo → Rotação.
- Articulação superior: superfície superior do disco articular e eminência articular → Translação.
Ligamentos discais
● Curtos, não elásticos, unem firmemente os bordos lateral e medial do disco articular aos polos do côndilo,
vascularizados e inervados.
● Restringe movimento de rotação na articulação inferior, permite movimento passivo do disco articular junto ao
côndilo na direção ântero-posterior durante a translação, limita movimentos laterais.
Ligamento posterior
● Também conhecido como tecido retrodiscal ou zona bilaminar.
● Ocupa espaço entre o disco e a parede posterior da cápsula articular.
● Lâmina retrodiscal superior: fibras elásticas → exerce tração posterior do disco.
● Lâmina retrodiscal inferior: fibras colágenas → limita rotação anterior do disco sobre o côndilo.
● Altamente vascularizado.
Cápsula articular
● Tecido conectivo fino e fibroso, altamente vascularizado.
● Define os limites anatômicos e funcionais da ATM.
● Confina a membrana e o líquido sinovial.
- Fornece as exigências metabólicas das superfícies articulares avasculares;
- Lubrifica e protege as superfícies articulares;
- Auxilia na dissipação de tensões.
Ligamentos Temporomandibulares
● Fixação do complexo disco-côndilo no osso temporal.
● Composto por duas porções:
- Parte externa oblíqua: previne deslocamento inferior do côndilo.
- Parte interna horizontal: previne movimento posterior do côndilo.

● Vascularização e inervação:​ carótida externa e divisão mandibular do N. trigêmeo.


● Músculos da mastigação:​ masseter, temporal, pterigoide medial e pterigoide lateral.
● Movimentos mandibulares:
- Abertura e fechamento: mesmo ciclo nas 2 ATMs.
- Protrusão: mesmo ciclo nas 2 ATMs.
- Retrusão: mesmo ciclo nas 2 ATMs.
- Lateralidade: complexo disco-côndilo rotaciona no mesmo lado do movimento (lado de trabalho) e translada no
lado oposto (lado de balanceio).
● Estabilidade da ATM:
- Posição do disco articular sobre o côndilo:​ capacidade de auto assentamento sobre o côndilo e movimento
ântero-posterior do disco.
- Pressão interarticular entre côndilo e eminência articular:
→ Ativa: resulta da contração dos músculos durante a função.
→ Passiva: devido ao tônus muscular - modificado pela gravidade, tensão emocional, fadiga, idade.
● Papel da oclusão:
- Desde que a maioria dos movimentos mandibulares não envolvem contato dentário, a oclusão não influencia
diretamente a ATM.
- A oclusão também não é importante quando a mandíbula está em repouso, porque os dentes não estão em
contato.
- Estabilidade ótima da ATM: quando em relação cêntrica.
- A oclusão cêntrica pode coincidir com a relação cêntrica. Quando a OC não coincide coma RC, é fator
significante para as DTMs.
- Oclusão tem papel secundário na DTM, não causa mas pode exacerbar sintomas.
- A ATM se adapta à demanda funcional devido à capacidade adaptativa da mesma.
- Qualquer dano das estruturas articulares pode interferir com a função normal e causar disfunção.
- Pequenos ruídos podem ser considerados normais se dor e disfunção não estiverem presentes.
- Quando existe dor e disfunção, o paciente tem uma desordem articular verdadeira.
● DTM:
- É um grupo heterogêneo de condições que afetam as ATMs, a musculatura e estruturas associadas.
- Caracterizada por dor na região da face e área pré-auricular, limitação dos movimentos mandibulares e presença
de ruídos na articulação.
- Maior causa de dor orofacial de origem não dental.
- Etiologia multifatorial.
- Sofrimento emocional, trauma agudo na articulação.
- Trauma de hiperextensão.
- Pobre saúde geral e/ou estilos de vida não saudáveis.
- Não existe relação entre os fatores oclusais e a DTM.
- Ajustes oclusais e/ou tratamento ortodôntico não são efetivos.
- Hábitos parafuncionais: fatores contribuintes.
● Sucesso do tratamento:​ depende do diagnóstico correto.
- Cura x Tratamento x Management
- Não prometer cura ao paciente.
- Se etiologia é multifatorial, abordagem deve ser multidisciplinar.
● Ruídos da ATM:
- Click: som distinto de curta duração que ocorre em qualquer ponto do movimento mandibular. Representa a
passagem do côndilo sob o bordo posterior do disco articular.
- Popping (estalido): ruído alto e surdo, causado quando o complexo disco-côndilo translada passando a
eminência articular.
- Crepitação: ruído grave, causado por doenças degenerativas na superfície articular.
● RDC/TMD:​ classificação das DTMs. Fatores biopsicológicos de dor, dividido em 3 eixos - desordens musculares,
articulares e artralgias.

Fatores contribuintes:​ que podem influenciar no resultado do tratamento.


● Predisponentes:​ aumentam o risco de desenvolvimento da desordem.
- Fatores genéticos ou psicológicos que aumentam a chance do desenvolvimento de sintomas.
- Condições sistêmicas: desordens reumáticas, hormonais, infecciosas, nutricionais e metabólicas que afetam a
mastigação.
- Fatores biomecânicos: lesões do passado, esqueléticas, desequilíbrio postural, oclusão.
● Iniciantes:​ causam o começo da desordem.
- Macrotrauma: resultado de um único evento. Pode ser:
→ Extrínseco: fonte externa. Lesão por impacto direto, acidente automobilístico, esportes de contato.
→ Intrínseco: dentro do sistema mastigatório. Mastigação de alimentos duros, bocejar, manter a boca aberta por
longo período, intubação para anestesia geral.
- Microtrauma: cargas adversas repetidas sobre o sistema mastigatório.
→ Hábitos parafuncionais, como o bruxismo.
→ Bruxismo: atividade repetitiva e involuntária dos músculos mastigatórios, que se caracteriza pelo apertar e/ou
ranger dos dentes. Mínimas alterações em alguns pacientes, sensibilidade e/ou mobilidade dental, fratura dos
dentes e/ou restaurações, desgaste dental, dor na ATM, dor nos músculos da mastigação, dor de cabeça.
● Perpetuantes:​ interferem e complicam o tratamento.
- Fatores de personalidade;
- Fatores sociais;
- Fatores emocionais e cognitivos: dificuldade de lidar com atividades normais, estresse da vida moderna,
ansiedade (aumenta tensão muscular), pensamentos negativos, abusos sexuais, físicos e emocionais;
- Distúrbios do sono.

Classificação das DTMs: ​AAOP - anatômica


1. Desordens articulares:
● Defeitos na Superfície Articular:
- Causas: trauma na mandíbula ou inflamação, ocorrem na articulação superior.
- Sinais e sintomas: pode ter click na abertura/fechamento, ausência de dor, desvio de abertura de boca.
- Tratamento: redução da força de mastigação, eliminação de hábitos abusivos, uso de placa estabilizadora,
cirurgia (se dor for intolerável).
● Afinamento e Perfuração do Disco Articular:
- Causas: sobrecarga na articulação, desgaste devido à idade.
- Difícil diagnóstico: artrografia.
- Sinais e sintomas: presença de crepitação (perfuração), dor à palpação dos músculos da mastigação (estágio
inicial), alteração da oclusão (ruptura).
- Tratamento: uso de placa estabilizadora, cirurgia (se dor for intolerável).
● Deslocamento do Disco Articular:
- Relação anormal entre o disco articular, côndilo e eminência articular.
- Deslocamento pode ser anterior, posterior, medial ou lateral.
- Causas: alongamento dos ligamentos do disco, deformação ou afinamento do bordo posterior do disco, pressão
excessiva na articulação (apertamento, trauma) que leva a áreas de resistência ou adesão.
- Diagnóstico: achados clínicos + MRI/artrografia.
- Tipo: com redução (presença de click) ou sem redução (travamento mandibular).
● Deslocamento do Disco Com Redução:
- Disco é deslocado para anterior durante o movimento de fechamento e retorna à sua posição normal durante a
abertura mandibular.
- Causas: perda da elasticidade da zona bilaminar, hipertonicidade do pterigoide lateral (causa ou efeito),
enfraquecimento dos ligamentos discais.
- Sinais e sintomas:
→ Presença de click/popping durante abertura e fechamento. Click recíproco representa o deslocamento do
disco no fechamento e redução na abertura.
→ Desvio da linha média mandibular para o lado afetado durante abertura.
→ Possível presença de dor: estiramento dos ligamentos discais.
→ Abertura de boca normal.
- Tratamento:
→ Ausência de dor: não há indicação de tratamento, monitoramento dos ruídos.
→ Presença de dor: restabelecer suporte dental posterior, placa estabilizadora durante a noite, estabelecimento
de critérios para o sucesso clínico.
● Deslocamento do Disco Sem Redução:
- Disco é deslocado para anterior durante movimento de fechamento, seguido de falha na redução ou recaptura do
disco durante a abertura mandibular.
- Estágio agudo:
→ Sinais e sintomas: severa restrição de abertura bucal, deflexão da linha média para o lado afetado, protrusão
limitada, restrição de lateralidade para o lado contralateral, lateralidade normal para o lado afetado, presença de
dor, aumento da atividade muscular, ausência de ruídos articulares.
→ Diagnóstico: achados clínicos + MRI.
→ Tratamento: redução do disco por mobilização manual, instalação de placa reposicionadora imediata,
conversão em placa estabilizadora em 2 meses, cirurgia no caso de insucesso na mobilização manual.
- Estágio crônico:
→ Sinais e sintomas: disco permanentemente deslocado, abertura bucal "normal", presença ou ausência de dor,
presença de criptação, necessidade de evidência radiográfica*.
*Só solicitar exames de imagem se o resultado for alterar sua conduta clínica.
→ Controle: tratamento cirúrgico, tentativa de mobilização manual (placa reposicionadora), placa estabilizadora,
aplicação de calor úmido, dieta macia, farmacoterapia, fisioterapia, não tratamento*.
*Região bilaminar superior pode estar atuando como pseudo-disco. Na ausência de dor, não tratar, apenas monitorar.
*Placa reposicionadora pode não funcionar pois mesmo restabelecendo espaço articular, a região bilaminar pode não
conseguir tracionar o disco de volta para sua posição, pois está estirada.
*Placa estabilizadora + compressa de água quente em caso de dor.
● Deslocamento do Complexo Disco-Côndilo:
- Subluxação/Hipermobilidade:
→ Causas: ocorre quando paciente abre muito a boca, geralmente as duas ATMs estão envolvidas.
→ Sinais e sintomas: pausa momentânea nos movimentos dos côndilos durante abertura bucal, movimento
grosseiro para frente, presença de click, ausência de dor.
→ Controle: limitação de abertura bucal, exercícios físicos. Terapia não indicada em crianças.
→ Em adultos, pode levar a condição mais séria.
- Anquilose Fibrosa:​ restrição de movimento devido a tecido fibroso que pode se unir ao côndilo, disco e/ou tecido
retrodiscal, fossa ou eminência articular.
→ Causas: hematoma secundário à trauma na ATM, após cirurgia ou resultado de sinovite, adesões devido à
sobrecarga prolongada (apertamento) ou esgotamento do líquido sinovial.
→ Ocorre principalmente entre disco e eminência.
→ Detectada por artroscopia.
→ Sinais e sintomas: restrição de movimento de translação, limitação de abertura bucal, presença ou ausência
de dor.
→ Tratamento: depende da dor e do grau de disfunção. Se houver pouco desconforto, a terapia é
contra-indicada. Se a dor for intolerável, artroscopia e fisioterapia.
- Anquilose Óssea:​ consolidação óssea.
→ Proliferação de células ósseas causando união das estruturas duras da ATM, resultando em imobilidade
completa.
→ Causas: resultado de infecção, fratura ou inflamação crônica.
→ Sinais e sintomas: ausência de dor, limitação dos movimentos mandibulares, deflexão para o lado afetado,
restrição de movimento no lado oposto.
→ Tratamento: depende da extensão da lesão. Pode ser cirúrgico.
● Desordens Degenerativas:
- Osteoartrose:​ desordem degenerativa não inflamatória que afeta o tecido articular e osso subcondral.
→ Causas: carga leve leva à remodelação óssea, mas sobrecarga resulta em degeneração das fibras articulares
que cobrem o côndilo. Secundária, após deslocamento do disco articular, devido à perda do efeito de
amortecimento do disco.
→ Tratamento: morfologia do osso é alterada. Em caso de ausência de dor, terapia é contra-indicada. Se houver
alteração da oclusão, fazer tratamento dental.
→ Osteoartrose representa a fase de burn out da osteoartrite.
- Osteoartrite:​ inflamação secundária do sinovium da ATM que causa dor.
→ Causas: resposta inflamatória à sobrecarga na ATM, por motivos desconhecidos.
→ Começo gradual e autolimitante.
→ Processo degenerativo queima (burn out) durante período e depois estabiliza, mas a alteração óssea no
côndilo ou fossa permanece.
→ Condição estabilizada pode ser referida como osteoartrose, porque não há mais inflamação e dor.
→ Sinais e sintomas: presença de dor constante e localizada principalmente durante função, frio e tempo úmido
exacerbam a dor, presença de crepitação (estágio avançado), abertura de boca limitada, presença de dor a
palpação ou pressão, instabilidade oclusal (se houve alterações estruturais na ATM), alterações radiográficas
evidentes no estágio avançado (achatamento do côndilo, diminuição do espaço articular).
→ Tratamento: informação ao paciente quanto à fase burn out e autolimitação; dieta macia; farmacoterapia
(aspirina e anti-inflamatórios); em caso de dor severa, corticosteroide injetável; instalação de placa
estabilizadora.
2. Desordens musculares:
● Dor difusa, contínua, profunda e depressiva.
● Dor facilmente localizada pelo paciente.
● Local da dor pode ser diferente de sua fonte (dor referida).
● Influenciada por demanda funcional ou mastigação.
● Classificação:
- Segundo a duração:
→ Dor crônica: persiste mais de 3 meses, associada com trigger points.
→ Dor aguda: mioespasmo, miosite.
● Mioespasmo:​ desordem aguda de um músculo manifestada como contrações repetidas involuntárias, causando
dor e limitação de movimentos.
- Causas: uso intenso ou estiramento de músculos já enfraquecidos, trigger point miofacial.
- Duração varia de minutos a dias.
- Sinais e sintomas: rigidez e encurtamento muscular, presença de dor e maloclusão aguda dependendo do
músculo, diminuição drástica da abertura bucal.
- Tratamento: se não tratado, o espasmo e a dor desaparecem.
→ Limitação de movimentos, aplicação de calor e massagem, aplicação de gelo na fase aguda (mas intensifica
contração).
→ Placa estabilizadora para minimizar fatores contribuintes.
→ Repouso e analgésicos, controle de fatores perpetuantes.
● Miosite:​ inflamação aguda do músculo que resulta de uma causa local e o paciente sempre relaciona o problema
à causa.
- Causas: trauma externo (esportes de contato), estiramento muscular, infecção (abscesso dental).
- Sinais e sintomas: presença de dor contínua que aumenta com mastigação, edema e febre, dor muscular à
palpação.
- Controle: limitação do movimento do músculo envolvido, uso de anti-inflamatórios, uso de antibióticos (em caso
de infecção), controle de fatores contribuintes.
● Dor miofacial:​ desordem muscular crônica caracterizada por dor persistente na cabeça, pescoço e região
orofacial, com origem em um trigger point.
- Trigger point: dor localizada no fuso muscular com capacidade de causar dor referida numa distribuição
anatômica definida (zona de referência).
→ 1-2mm de diâmetro, ativos ou latentes (ambos hipersensitivos à palpação).
→ Ativo causa dor em zonas de referência.
→ Identificados por palpação do músculo suspeito com pressão de 2-4kg, durante 6-10 segundos, que causa
alteração da dor na zona de referência.
→ Reação do paciente: jump sign é característico de dor miofacial.
→ Na dúvida: tratamento do trigger point (pulverização e alongamento, ou injeção de anestésico).
- Causas:
→ Lesão muscular: trauma, excesso de abertura bucal, qualquer movimento durante prática de esportes.
→ Contração muscular: apertamento, tensão, hábitos posturais.
- Sinais e sintomas: presença de trigger points palpáveis, presença de áreas de dor referida, presença de fatores
contribuintes, fadiga, enfraquecimento, dor ao estiramento de músculos afetados, sintomas neurológicos
(formigamento, dormência, visão manchada), sintomas otológicos, hiperestesia cutânea, sensibilidade dental.
→ Complicação de diagnóstico associada com infecções locais ou sistêmicas, lúpus eritematoso, artrite
reumatóide.
- Tratamento:
→ Abordagem multidisciplinar
→ Curto prazo: exercícios musculares - restaurar o músculo, melhorar movimentos.
→ Longo prazo: programa regular de alongamento.
→ Tratamento de trigger points.
→ TENS: estimulação elétrica transcutânea.
→ Biofeedback
→ Controle de fatores perpetuantes.
- Técnica de pulverização e alongamento:​ direcionar fino jato de spray de fluorometano sobre a pele, atingindo
região do trigger point num ângulo de 30-50º e realiza-se o exercício muscular.
- Técnica de injeção no trigger point:​ localizar o trigger point ativo, antissepsia da pele, aplicar spray de
fluorometano na região, inserir agulha (causará aumento de dor e contração), movimentar agulha e injetar a
solução. Fazer hemostasia com compressão da gaze.
→ Contra-indicações: alergia ao anestésico, tendência anormal ao sangramento, celulite na área da injeção,
doença aguda sistêmica.
3. Desordens congênitas e de desenvolvimento.

Programa de Tratamento
● O objetivo principal é a redução ou eliminação da dor e a recuperação de função mandibular aceitável.
● A resolução completa dos sinais e sintomas pode ser impossível.
● Tratamentos incluem:
1. Terapia de Emergência:
- Dor de origem muscular, dor de origem articular, trauma.
- Informar e educar o paciente.
- Prescrição de medicamentos para aliviar a dor.
- Injeção de anestésicos em trigger points ativos.
- Instalação de placa interoclusal para aliviar a pressão interarticular.
2. Terapia Inicial:
- Deve ser reversível, visando a resolução do problema.
- Informação ao paciente, instruções para cuidados domésticos, instalação de aparelhos interoclusais, fisioterapia,
farmacoterapia, terapia comportamental.
- Placa estabilizadora: posição de MIH.
- Placa reposicionadora: altera relacionamento entre disco-côndilo e eminência articular. Placa reposicionadora
melhora sintomas subjetivos e objetivos.
- As placas não mantém disco reposicionado a longo prazo. Tratamento temporário, não existe necessidade de
tratamento irreversível posterior.
- Farmacoterapia: utilizada em conjunto com outras formas de terapia, analgésicos/AINES, relaxantes musculares,
antidepressivos, ansiolíticos, toxina botulínica.
- Terapia comportamental: métodos de controle da dor e relaxamento, tratamento associado.
- Fisioterapia:​ tratamento adjunto a outras modalidades terapêuticas, tem o objetivo de aliviar dores musculares.
Principalmente para desordens musculares crônicas.
→ Aplicação de calor: para desordem crônica. Reduz a dor e causa vasodilatação aumentando a circulação
local.
*Calor úmido e lâmpadas: aquecimento superficial. Bom aquecimento e bom resultado. Indicar lâmpada quando
a dor é tão intensa que o paciente não consegue encostar a toalha na face.
*Calor úmido: 3x por dia, durante 20 minutos.
*Ultrassom: aquecimento profundo. Bom para estruturas com colágeno, como a cápsula articular e músculos.
→ Aplicação de gelo: para desordem aguda. Reduz edema, inflamação e espasmo muscular. Causa
vasoconstrição arterial e venosa diminuindo circulação local.
3. Terapia a Longo Prazo:
- Reavaliação da terapia inicial. Avaliar necessidade da continuação do uso de aparelho intraoral.
- Avaliar esquema oclusal do paciente.
- Papel dos fatores perpetuantes.

BRUXISMO

● Definição:​ apertar ou ranger de dentes, ou ainda uma combinação de ambos, considerado como uma desordem
que requer tratamento.
● Atividades orofaciais:
- Funcionais: atividades normais de mastigação, deglutição e fala.
- Parafuncionais: atividades oromandibulares ou línguas não usuais.
→ Apertamento mandibular; bruxismo; mordedura/sucção de bocheas, língua e lábios; onicofagia; pressão da
língua contra os dentes; protrusão da língua; mascar chicletes; mordedura de objetos; postura anterior, posterior
ou lateral da mandíbula ou cabeça.

● Etiologia:
1. Neurológica:​ induzido pelo sistema nervoso central e está associado com os fenômenos de microdespertares
durante o sono.
- Por que existem os micro despertares?​ Micro despertares são aumentos cíclicos da frequência cardíaca e da
atividade cerebral durante o sono. Sensor para manter a homeostase, guarda protetora.
- RMMA:​ atividade muscular mastigatória rítmica.
→ Ocorre durante os micro despertares e causa contração do masseter e ranger de dentes.
2. Estímulos periféricos:​ oclusão.
- Não há evidências que confirmam essa hipótese. Oclusão ou interferências oclusais não estão associadas ao
aumento da EMG (eletromiografia) dos masseteres.
3. Psicogênica:​ estresse e ansiedade.
- Elevados níveis de catecolamina na urina sugerem link com estresse e ansiedade.
- Problemas familiares.
- Aumentada carga ocupacional.
4. Genética
5. Medicamentos:​ L-dopa, propanolol.

● Classificação:
1. Quanto à origem:
- Bruxismo primário ou idiopático:​ indivíduos saudáveis, sem causa médica ou dentária conhecida. Exacerbado por
fatores psicossociais.
- Bruxismo secundário:​ associado à condição médica/psiquiátrica.
- Bruxismo iatrogênico:​ após terapia medicamentosa ou interrupção desta.
*Substâncias químicas e medicamentos: álcool, nicotina, cafeína, cocaína, ecstasy, anfetaminas, drogas
antidopaminérgicas, antipsicóticos, antidepressivos, cardioativos.
2. Quanto ao estado de consciência:
- Bruxismo da Vigília:​ hábito neurótico e consciente de apertamento mandibular quando o indivíduo está acordado.
Comportamento adquirido associado a tiques ou outras parafunções relacionadas ao estresse da vida moderna
ou carga ocupacional.
→ Composto basicamente de apertamento dental, o rangido é raramente observado.
→ Prevalência de 20% da população adulta, maioria do gênero feminino.
→ Etiologia desconhecida.
→ Substâncias químicas estimulantes.
→ Tensão, estresse e ansiedade.
→ Esportes: levantamento de peso, motociclismo.
→ Dor no final da tarde e a noite.
- Bruxismo do sono:​ composto basicamente de rangido dentário.
→ Sem predileção por gênero.
→ Sem relação com estresse.
→ Dor pela manhã.
→ Relacionado a mecanismos do sono.
3. Quanto à intensidade:
- Leve:​ episódios não acontecem todos as noites e pode não haver evidência de desgaste dentário ou dano
psicossocial.
- Moderado:​ episódios diários com leve evidência de dano psicossocial.
- Severo:​ episódios diários, evidência de desgaste dentário, possível presença de DTM, dano psicossocial
moderado ou severo.

● Prevalência:​ relatada como sendo de 6-95% da população.


- Depende da metodologia utilizada para o diagnóstico.
● Consequências do bruxismo:
- Desgaste ou destruição dentária.
- Desgaste de materiais restauradores.
- Fraturas de dentes posteriores.
- Falhas de implantes.
- Complicações com próteses fixas sobre implantes.
- Dor na ATM e músculos da mastigação.
- Dor de cabeça.
- Mordeduras.
● Diagnóstico: ​pensar que o desgaste dental é um indicativo de bruxismo é um pensamento ultrapassado, desde
que a causa do bruxismo e seu efeito (desgaste dental) podem ter ocorrido meses ou anos antes da consulta
odontológica.
1. Observação clínica:
- Questionários e auto-relatos;
→ Bruxismo do sono: relato do parceiro ou membros da família.
→ Alguém já ouviu você ranger os dentes durante a noite? Você já sentiu a sua mandíbula dolorida ou fatigada
pela manhã? E seus dentes e gengiva? Já teve dor de cabeça pela manhã? Você já rangeu os dentes durante o
dia? Já apertou?
- Achados clínicos: desgaste dental, hipertrofia muscular (masseter), desconforto, fadiga, enrijecimento muscular,
ruídos ou travamento mandibular, sensibilidade dentária, dores de cabeça, edentação da língua e bochechas.
- Escala ordinal de desgaste dentário:
→ 0: sem desgaste/facetas
→ 1: desgaste visível restrito ao esmalte
→ 2: perda menor ou igual a ⅓ da coroa clínica
→ 3: perda maior que ⅓ mas menor que ⅔ da coroa clínica
→ 4: perda maior ou igual que ⅔ da coroa clínica
2. Aparelhos intraorais:
- Desgaste de aparelhos intraorais
- Detecção da força de mordida nos aparelhos
→ BBMD: bruxcore bruxism monitoring device. Contagem do número de abrasões na superfície.
3. Atividade elétrica do masseter:​ diagnóstico ambulatorial.
- Difícil diferenciação das características EMG dos eventos que ocorrem durante o sono, como tosse, fala e
deglutição.
- Vantagens: pode ser realizado em ambiente caseiro, baixo custo.
- Bitestrip EMG Portátil: registra o número de atividade elétrica do masseter acima de um limite estabelecido (40%
da contração do masseter). Utilizado para bruxismo moderado e severo.
→ Vantagens: ambiente doméstico, simplicidade e baixo custo.
- Bruxoff EMG Portátil: registra a atividade elétrica do masseter combinada com o registro dos sinais da frequência
cardíaca.
→ Vantagens: ambiente doméstico, simplicidade, baixo custo, maior reprodutibilidade, confiança.
4. Polissonografia:​ realizado em laboratório do sono e registra os episódios de bruxismo do sono.
- EEG: eletroencéfalograma.
- EMG: eletromiograma.
- ECG: eletrocardiograma.
- OCC: oculogramas direito e esquerdo.
- Respiração: fluxo aéreo nasal e esforço respiratório.
- Gravação de ruídos em áudio e vídeo.

● Tratamento:
- Abordagens oclusais:​ intervenção oclusal propriamente dita, aparelhos oclusais.
→ Ajuste oclusal: não indicado.
→ Aparelhos oclusais: tratamento para prevenção ou limitação do desgaste dental que a desordem provoca.
- Abordagens comportamentais:
→ Biofeedback: bruxismo do sono - estímulos elétricos, vibratórios e táteis; bruxismo da vigília - estímulo visual
ou sonoro.
→ Psicoanálise
→ Hipnose
→ Relaxamento e meditação: sentimento de auto-estima e controle do corpo.
→ Auto monitoramento: para bruxismo diurno.
→ Higiene do sono: evitar estimulantes e manter padrão regular de sono.
→ Ausência de evidências científicas fortes.
- Abordagens farmacológicas:
→ Relaxantes musculares: clonidina e clonazepam.
→ Dopaminérgicose serotonérgicos: controvérsias.
→ Anticonvulsivantes: gabapentin.
→ Antidepressivos: citalopram.
→ Antihistamínicos: hydroxizine.
→ Toxina botulínica: inibição da liberação de acetilcolina na junção neuromuscular que causa efeito paralisante.
- Abordagens diversas

● Bruxismo x DTM:
- Consequências do bruxismo:​ dor na ATM e músculos da mastigação, dores de cabeça, destruição dentária,
travamento articular, mordeduras.
- A presença de uma associação significativa não prova que existe uma relação de causa/efeito.

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