Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
Este estudo objetivou comparar e realizar a validação cruzada da predição da massa corporal
magra (MCM) proveniente de equações antropométricas e da impedância bioelétrica, utilizando a MCM
obtida após a densidade corporal, MCMDEN, de alunos do Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva
(NPOR), como variável critério. A amostra foi composta por 18 alunos ( x idade = 18,5 ± 0,4 anos) e as
variáveis analisadas foram: massa corporal (MC), estatura (E), perímetro abdominal umbilical (pabu), dobra
cutânea abdominal horizontal (dcabh) e densidade corporal pelo peso hidrostático. O aparelho Valhalla 1990B
gerou a MCMVALH, a resistência e reatância. A estatística constou da correlação de Pearson, coeficiente de
determinação, regressão linear simples e teste t dependente. As equações antropométricas de Wilmore &
Behnke (1969) (WB1 e WB2) e a de Slaughter & Lohman (1980) (SLA), as equações de impedância
bioelétrica de Lohman (1992) (LOH), de Segal et alii (1988) (SEG) e a MCMVALH informada pelo Valhalla
1990B, foram utilizadas como variáveis preditoras. Somente a equação antropométrica WB2 (MCM = 44,636
+ 1,0817*MC – 0,7396*pabu) apresentou validação cruzada em relação a MCMDEN. As equações WB1, LOH,
SEG e MCMVALH não foram validadas por apresentarem diferenças significativas com a MCMDEN ,e a de SLA
por elevado erro padrão de estimativa.
INTRODUÇÃO
*
Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria - RS.
Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 12(2): 193-201, jul./dez. 1998
194 SOUZA, O.F. et alii
Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 12(2): 193-201, jul./dez. 1998
Comparação e validação cruzada de equações antropométricas 195
Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 12(2): 193-201, jul./dez. 1998
196 SOUZA, O.F. et alii
Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 12(2): 193-201, jul./dez. 1998
Comparação e validação cruzada de equações antropométricas 197
O erro padrão de estimativa (EPE), WB1, WB2, SLA, LOH, SEG e MCMVALH, para a
que representa o afastamento dos escores amostra do presente estudo (TABELA 3),
individuais da linha de regressão, quando mostraram-se menores do que os EPE encontrados
classificado nos padrões propostos por Lohman nos estudos originais (QUADRO 1), sendo 2,97;
(1992) para o sexo masculino (classificações: 2,81; 6,3; 2,9 e 2,47 kg, respectivamente. O EPE
excelente = 2,0 kg; ótimo = 2,5 kg; muito bom = da equação SLA foi o mais elevado tanto no estudo
3,0 kg; bom = 3,5 kg) na avaliação dos erros de atual (3,88 kg) como no original (6,3 kg).
predição, com exceção da equação de SLA, O pressuposto matemático infere que
verificou-se que as demais equações e a gerada para existir uma excelente relação entre as
MCMVALH apresentaram valores excelentes de variáveis critério e preditoras, é necessário que a
EPE, abaixo de 2,0 kg, com exceção da equação de inclinação da reta de regressão seja
SLA que apresentou um valor elevado, acima de significativamente diferente de zero. Neste estudo,
3,5 kg. Os EPE provenientes das equações de a inclinação da reta de regressão de todas as
Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 12(2): 193-201, jul./dez. 1998
198 SOUZA, O.F. et alii
equações preditivas da MCMVALH apresentaram o valor da MCM obtida através do aparelho RJL de
diferenças significativas de zero e, ainda, indicaram impedância diferenciou-se estatisticamente em
um relacionamento concomitantemente positivo e relação a MCMDEN. Quando analisaram 50
significativo entre as variáveis critério e preditoras. militares da Força Aérea americana, com idades
Os valores preditos da MCM pelas entre 19 e 47 anos, Kremer et alii (1998), relataram
equações WB2 e SLA não apresentaram diferenças uma correlação de r = 0,84 e um EPE relativo de
significativas (p > 0,05) em relação à MCMDEN. As 3,25%, e sugeriram cautela na tomada de decisões
equações WB1, LOH, SEG e a gerada MCMVALH sobre a carreira desses militares baseado nos
apresentaram diferenças significativas (p < 0,05). resultados desse método, apesar do grupo ser
Quantitativamente (TABELA 3), as equações formado por sujeitos com diferentes faixas etárias e
WB2, SLA e MCMVALH mostraram as menores de aptidão física.
diferenças médias em kg, entre as médias da MCM As amostras que deram origem às
predita e MCMDEN, sendo - 0,05 kg; 0,14 kg e 0,69 equações de SEG e LOH foram heterogêneas, com
kg, respectivamente. idades de 17 a 62 anos e de 18 a 30 anos,
De acordo com as recomendações de respectivamente, sendo provenientes de várias
Heyward & Stolarczyk (1996) para a validação regiões dos Estados Unidos. Alguns autores (Aloia,
cruzada - ser a correlação ≥ 0,80, não haver Cohn, Babu, Abesamis, Kalici & Ellis, 1978;
diferença significativa (p > 0,05) entre os valores Nilsson & Westlin, 1971) observaram que sujeitos
preditos e os valores critério, o EPE ser menor do fisicamente ativos e atletas possuem grande
que 3,5 kg - a única equação que atende esses quantidade de conteúdo mineral, massa muscular e
requisitos e, portanto, alcançou a validação, foi a elevada densidade corporal, onde, provavelmente,
WB2, sendo esta uma equação antropométrica esses valores são mais elevados do que aqueles
proveniente de universitários americanos. Apesar encontrados na população sedentária. Wilmore
das equações WB1 e WB2 serem provenientes da (1983) relata que a atividade física moderada
mesma amostra, a equação WB1 não atingiu os provoca perda de peso e leve ganho de MCM.
critérios para validação por diferenciar-se Assim, pelo fato de a amostra do presente estudo
estatisticamente (p < 0,05) da MCMDEN. O melhor ser constituída por sujeitos homogêneos quanto à
potencial de estimativa da equação WB2 pode ter idade e à atividade física diária, poderá ter
ocorrido pela mesma utilizar como variável conduzido à ocorrência da sistemática e
preditora a medida do perímetro abdominal, que significativa diferença na MCM estimada pelas
apresentou correlação significativa (p < 0,05) de equações generalizadas de LOH e SEG
0,596 com a MCM; enquanto a dobra cutânea (provenientes de amostras constituídas por
abdominal usada na equação WB1 mostrou baixa e diferentes etnias, idades, níveis de gordura corporal
não significativa associação (r = 0,191, p > 0,05) e de atividade física) quando comparado pela
com a MCM, conforme relatam Wilmore & MCMDEN.
Behnke (1969). Devido à amostra do presente A equação de SLA, derivada de
estudo ser constituída por jovens fisicamente vários estudos de amostras de universitários norte-
ativos, a validação da equação WB2 pode estar americanos, apresentou características mais
associada aos achados de Wilmore (1974), onde as homogêneas do que as equações de SEG e LOH.
alterações nos perímetros estão relacionadas aos Esse fato pode ter levado à não ocorrência de
incrementos da MCM - nesse caso, correspondendo diferença significativa (p > 0,05) da equação de
ao componente massa muscular - provocada pela SLA em relação à MCMDEN. Todavia, o valor do
atividade física. EPE da equação de SLA (TABELA 3) indicou uma
A MCM estimada pelas equações dispersão elevada em relação ao valor obtido pela
WB1, LOH, SEG e MCMVALH (TABELA 3) MCMDEN, resultando em baixa potencialidade de
apresentaram significativos valores de correlação, predição daquela equação para a amostra do
coeficiente de determinação e excelentes EPE, presente estudo.
conforme classificação de Lohman (1992), porém, A validação da equação
os valores médios dessas equações foram antropométrica WB2, em detrimento de nenhuma
diferenciados estatisticamente (p < 0,05), quando outra equação de impedância bioelétrica, é
comparados com a MCMDEN. De maneira coincidente aos achados de Clark, Kuta & Sullivan
semelhante, Eckerson et alii (1992) verificaram que (1994) na validação cruzada do percentual de
gordura em universitários atletas de futebol
Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 12(2): 193-201, jul./dez. 1998
Comparação e validação cruzada de equações antropométricas 199
ABSTRACT
The objective of this study was to compare and validate the estimation of lean body mass
(LBM) in students from the Centre for Training of Reserve Officers by means of a body impedance device,
anthropometric and body impedance regression equations. Eighteen men aged 18-19 years took part in the
study. Anthropometric measurements consisted of weight (kg), height (cm), abdominal girth (abg, cm),
horizontal abdominal skinfold (mm) and body density (BD) by means of hydrostatic weighting. Resistance,
reactance and MCMVALH values were obtained from a Valhalla 1990B equipment. Pearson correlation,
coefficient of determination, linear simple regression, standard error of estimate and, Student paired t-test
were used for data analysis. LBMDEN was obtained after BD and was used as criteria and the anthropometric
equations of Wilmore and Behnke (1969), Slaughter and Lohman (1980) and BIA equations for LBM
developed by Lohman (1992), Segal et alii (1988) and LBMVALH were the predictor. It was found that only
the equation of Wilmore and Behnke, WB1, where, LBM = 44.636 + 1.0817*weight – 0.7396*abg, was
validated for the estimation of the LBMDENS of the present sample.
UNITERMS: Lean body mass; Anthropometric impedance; Bioelectrical impedance; Equations; Cross-
validation.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 12(2): 193-201, jul./dez. 1998
200 SOUZA, O.F. et alii
AINSWORTH, B.; MULSSUMAN, L.; BROWN, M.; DEURENBERG, P; van der KOOG, K. Bioelectrical
IRWIN, M.; BERRY, C. Prediction of fat free mass impedance or anthropometric? European Journal of
using bioelectrical impedance analysis, Clinical Nutrition, v.43, p.503-4, 1989.
anthropometry, and physical activity data in African DIAZ, E.; IMMINK, M.; GONZALES, T.
American women. Research Quarterly for Exercise Bioimpedance or anthropometric? European
and Sport, v.67, p.A-29, 1996. Supplement. Journal of Clinical Nutrition, v.43, p.129-37, 1989.
ALOIA, J.; COHN, S.; BABU, T.; ABESAMIS, C.; ECKERSON, J.; HOUSH, T.; JOHNSON, G. Validity
KALICI, N.; ELLIS, K. Skeletal mass and body of bioelectrical impedance equations for estimating
composition in marathon runners. Metabolism, v.27, fat-free weight in lean males. Medicine and Science
p.1793-6, 1978. in Sports and Exercise, v.24, p.1298-302, 1992.
BAUMGARTNER, J.A. Electrical impedance and total GOLDMAN, H.; BECKLAKE, M. Respiratory function
body electrical conductivity. In: ROCHE, A.F.; tests. American Review of Respiratory Disease,
HEYMSFIELG, S.B.; LOHMAN, T.G. Human body v.79, p.457-67, 1959.
composition. Champaign, Human Kinetics, 1996. GORDON, C.; CAMERON CHUMLEA, W.; ROCHE,
p.79-107. A. Stature, recumbent length, and weight. In:
BAUMGARTNER, R.; CAMERON CHUMLEA, W.; LOHMAN, T.; ROCHE, A.; MARTORELL, R.
ROCHE, A. Bioelectric impedance for body Anthropometric standardization reference manual.
composition. Exercise and Sport Sciences Reviews, Champaign, Human Kinetics, 1988. p.3-8.
v.18, p.193-224, 1990. GUIMARÃES, F.; SOUZA, O.F.; PIRES NETO, C.S.
BAUMGARTNER, T.; JACKSON, A. Measurement Comparação entre duas técnicas de avaliação da
for evaluation in physical education and exercise composição corporal em homens jovens. In:
science. 3.ed. Iowa, Wm.C.Brown, 1987. CONGRESSO LATINO-AMERICANO: esporte,
BEHNKE, A.; WILMORE, J. Evaluation and educação e saúde no movimento humano, 3., Foz do
regulation of body build and composition. Iguaçu, 1996. Coletânea. Campinas, UNICAMP,
Englewood Cliffs, Prentice-Hall, 1974. 1996. p.683.
BROZEK, J.; GRANDE, F.; ANDERSON, J.; KEYS, A. HEYWARD, V.; STOLARCZYK, L. Applied body
Densitometric analysis of body composition: revision composition assessment. Champaign, Human
of some quantitative assumptions. Annals of the Kinetics, 1996.
New York Academy of Sciences, v.110, p.113-40, KREMER, M.M.; LATIN, R.W.; BERG, K.E.;
1963. STANEK, K. Validity of bioelectrical impedance
CAREY, D.; SERFASS, R. Comparison of the validity analysis to measure body fat in Air Force member.
of three methods for assessing body composition in Military Medicine, v.163, p.781-5, 1998.
college football. Medicine and Science in Sports LOHMAN, T. Advances in body composition
and Exercise, v.27, p.S120, 1996. Supplement. assessment. Champaign, Human Kinetics, 1992.
CARVALHO, A.B.C.; PIRES NETO, C.S. LUKASKI, H.; JOHNSON, P.; BOLOCHUK, W.;
Desenvolvimento e validação de equações para a LYKKEN, G. Assessment of fat-tree mass using
estimativa da massa corporal magra através da bioelectrical impedance measurement of the human
impedância bioelétrica em mulheres. Revista body. American Journal of Clinical Nutrition,
Brasileira de Atividade Física & Saúde, v.3, n.1, v.41, p.810-7, 1985.
p.5-13, 1998a. NILSSON, B.; WESTLIN, N. Bone density in athletes.
_____. Desenvolvimento e validação de equações para a Clinics Orthopaedics, v.77, p.179-82, 1971.
estimativa da massa corporal magra através da PETROSKI, E.L.; PIRES NETO, C.S. Análise do peso
impedância bioelétrica em homens. Revista hidrostático nas posições sentada e grupada em
Brasileira de Atividade Física & Saúde, v.3, n.2, homens e mulheres. Kinesis, v.10, p.49-62, 1992.
p.5-12, 1998b. PIRES NETO, C.S.; SOUZA, O.F.; GUBIANI, G.L.
CLAESSENS, A.; PHILIPPAERTS, R.; LEFREVE, J.; Estimativa da composição corporal entre aparelhos de
GORIS, M. Estimating body composition in active impedância bioelétrica em volibolistas femininas. In:
young adults by means of bioelectrical impedance: a JORNADAS DE INVESTIGACIÓN EN
comparison between two types of apparatus. EDUCACION FÍSICA, Rio Cuarto, 1996. Anais.
Medicine and Science in Sports and Exercise, v.27, Rio Cuarto, 1996. p.11.
p.S119, 1996. Supplement. SEGAL, K.; van LOAN, M.; FITZGERALD, P.;
CLARK, R.; KUTA, J.; SULLIVAN, J. Cross- HODGDON, J.; van ITALIE, T. Lean body mass
validation of methods to predict body fat in African estimation by bioelectrical impedance analysis: a
and Caucasian collegiate football players. Research four-site cross-validation study. American Journal
Quarterly for Exercise and Sport, v.65, p.21-30, of Clinical Nutrition, v.47, p.7-14, 1988.
1994.
Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 12(2): 193-201, jul./dez. 1998
Comparação e validação cruzada de equações antropométricas 201
SHORE, P.; TAYLOR, W. The validity of bioelectric _____. Body composition in sport and exercise:
impedance analysis in body composition analysis in directions for future research. Medicine and Science
young adult males. Medicine and Science in Sports in Sports and Exercise, v.15, p.21-31, 1983.
and Exercise, v.12, p.S16, 1986. Supplement. WILMORE, J.; BEHNKE, A. Anthropometric
SINNING, W.E. Experiments and demonstrations in estimation of body density and lean weight in young
exercise physiology. Philadelphia, W.B.Saunders, men. Journal of Applied Physiology, v.27, p.25-31,
1975. 1969.
SIRI, W. Body composition from fluid spaces and
density: analysis of methods. In: BROZEK, J.;
HENSCHEL, A. Techniques for the measurement
of body composition. Washington, National AGRADECIMENTOS
Academy of Sciences, 1961. p.223-44.
SLAUGHTER, M.; LOHMAN, T. An objective method Os autores são gratos ao instrutor do
for measurement of muscle-skeletal size to Regimento Mallet e mestrando Milton Claivi Andrade
characterize body physique with application to the Neves por auxiliar e possibilitar o acesso aos alunos do
athletic population. Medicine and Science in Sports NPOR, bem como aos doutorandos Adair da Silva Lopes
and Exercise, v.12, p.170-4, 1980. e Renato Shoey Yonamine, aos mestrandos Anatole
SPSS. SPSS/PC+. Chicago, SPSS, 1988. Barreto Rodrigues de Carvalho, Beatriz Bolson,
VALHALLA SCIENTIFIC. Valhalla 1990B: bio- Valentina Cabada, Clarice Vaz dos Santos Arbelo, Gleci
resistance body composition analyzer operation Gubiani e Orion Pezzeta pelo auxílio na coleta dos
manual. San Diego, Valhalla Scientific, s/d. dados.
WILMORE, J. Alterations in strength, body
composition and anthropometric measurements
consequent to a 10-week weight training program.
Medicine and Science in Sports, v.6, p.133-8, 1974.
Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, 12(2): 193-201, jul./dez. 1998