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1. Locke, assim como Hobbes é um autor contratualista.

A partir da leitura do
texto, John Locke e o individualismo liberal e responder: Como se caracterizava
o estado natural de Locke e por que este se transformou em um estado de
guerra, ou porque perdeu a harmonia de início?
O estado natural de Locke foi concebido no segundo livro da obra Dois Tratados sobre
o Governo [Civil] (Two Treatises of Government), publicado de forma anônima em
1689, um ano após a queda do rei inglês de cunho católico e absolutista Jaime II. Este
segundo tratado, que continua seu primeiro volume, em que são refutadas as
concepções de Robert Filmer, fundador do patriarcalismo, trata sobre a extensão, a
origem e o objetivo do governo civil. Ao abordar a teoria política dessa sociedade
baseada no contrato social e no direito social, Locke entende que a força do poder
político provém do consentimento daqueles que são governados. Na obra em voga é
evocada a concepção de Estado Natural (ou de Natureza) em que, discordando de
Aristóteles, o inglês entende que a existência do indivíduo precede a da sociedade e do
Estado. Antes de serem instituídos o Estado e a sociedade, os homens, diz Locke,
viviam em perfeita concórdia, liberdade, harmonia e igualdade. Neste “estágio”, que
concretamente existiu e que foi presenciado pela maior parte da humanidade até então,
inclusive por alguns grupos, atualmente, os homens possuíam plena liberdade,
propriedade (que, para o pensador, não pode ser violada pelo Estado dado ser anterior
à ele) e uso da razão. Eis os direitos naturais para Locke: a liberdade, a vida e os
bens, tanto móveis quanto imóveis.
Mas no contexto perturbado em que se encontrava Locke (basta lembrar da
Restauração e das Revoluções Gloriosa e Puritana inglesas) não se verificava a
harmonia, atributo do Estado Natural. Como ocorreu, então, a passagem deste estado
para o estado de guerra? Para Locke, os homens, que vivem em sociedade por meio
do estabelecimento de um Contrato Social, respaldado no consentimento de todos,
elegem uma forma de governo, constituindo Sociedade Política ou Civil. Entretanto,
esse governo, ainda que instituído pelo povo, pode, eventualmente, violar contra os
Direitos Naturais, como a propriedade, por exemplo; quando isso ocorre (o que o inglês
entende como “exercício do poder para além do direito, visando o interesse próprio e
não o bem público ou comum”¹), somado com o uso de força sem legalidade por parte
do Estado, este se encontra em guerra contra os governados e os governados em
guerra contra os governantes, em que o uso de força é indispensável para conseguir
resistir. Mas isso é ilegítimo para Locke? Não, é inclusive um direito dos governados,
denominado Direito de Resistência, em que os submissos ao Estado devem usar de
força para depor o governo tirânico de então.
1= Leonel Itassu Almeida MELLO, John Locke e o Individualismo Liberal, in Francisco
WEFFORT (org), Os clássicos da política: Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu,
Rousseau, “O Federalista”, 2001, p. 87.

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