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Módulo 01.

Filosofia do Direito I – Pensadores Clássicos

08.04

Unidade 4 - Aristóteles e o zoon politikon

1. A Filosofia do Direito de Aristóteles como um saber prático (justiça como um saber


prático)

Entre Sócrates, Platão e Aristóteles há diferenças, mas em Aristóteles essa


diferenciação fica muito marcada.

Em Platão fica claro o perfil filosófico metafisico idealista, o mundo das ideias como um
absoluto, mas ao mesmo tempo um universo paralelo em que não se tem o controle
de como adentrar, o que faz com que a sua filosofia do direito acabe trazendo um
respaldo aristocrático hierarquizante.

Com Aristóteles é preciso matizar a sua postura, que pelo menos no que tange a
filosofia do direito, foi um pensador complexo. E no que que diz a filosofia do direito o
que mais se deve destacar é a sua reflexão ética (Ética à Nicômaco – bases da sua
filosofia).

O que se percebe na filosofia do direito aristotélica é a ênfase à ética, às ações e a


razão pratica. A filosofia aristotélica decorre de um saber prático, das ações humanas,
do sujeito que vive em sociedade. O direito para ele é um reflexo das ações humanas,
ao mesmo tempo em que essa ações refletem o direito, ou ao menos deferiam refletir.

OBS: Platão projeta o direito como um absoluto que existe plenamente no direito das
ideias.

A justiça é um virtude que decore de uma ação humana, e o mais interessante é que
qualquer sujeito pode aprender, desenvolver essa virtude.

OBS: Enquanto para Platão a justiça é colocada em um universo paralelo, inacessível,


que acaba sendo presentada de uma forma aleatória para o filosofo rei; para
Aristóteles a justiça decorre das próprias ações, e cada um de nós é responsável por
isso, ele traz a justiça para o chão da vida, e isso é extremamente arrojado numa
estrutura de pensamento tão impactada pela mitologia, por metafisicas que vão se
alterando.

A justiça, assim como qualquer virtude, representa um ponto de equilíbrio, um meio


termo entre duas ações extremas (uma carência e um excesso), mas curiosamente a
justiça, enquanto virtude, tem sempre em um dos seus polos a injustiça.
OBS: outro exemplo de uma virtude aristotélica é a coragem, ela é o meio termo entre
a covardia (carência, falta) e a temeridade (excesso).

Aristóteles tem um estilo de escrita totalmente diferente de Platão. Aristóteles é


analista e zela pelas construções racionais, é uma escrita mais intrincada, enquanto
Platão faz muita propaganda, pois não tem compromisso com o rigor.

Aristóteles vai identificara virtude do justo com a ideia e igualde, só que


analiticamente isso fica abstrato e é por isso que ele identifica a justiça com igualdade,
mas mostrando os desdobramentos dessa justiça ou dessa igualdade. Para isso se fia
na matemática, falando, portanto, da igualdade aritmética e da igualdade geométrica

A igualdade aritmética vai redundar na justiça corretiva ou comutativa, quanto a


geométrica vai redundar na justiça distributiva.

Quando falamos da aritmética falamos dos cálculos básica, já a geometria são


operações que demandam mais complexidade. No âmbito da geometria o elemento
de proporção não é tão rígido, há uma complexidade ali.

2. Igualdade e equidade

2.1. Igualdade aritmética

Quando tratarmos da relações humanas entre particulares os sujeitos estão no mesmo


patamar, portanto há uma igualdade aritmética, um justiça corretiva ou comutativa.

Ex: compra e venda de um celular – o aparelho vale R$ 100,00 reais, há uma


identificação aritmética na relação. Da mesma forma, se o sujeito quer comprar o
celular, mas somente pode pagar em 30 dias e, tendo passado este prazo, ainda não
fez, é possível acionar um justiça para que se corrija essa situação de igualdade,
voltando os dois sujeitos a ficarem no mesmo patamar de igualdade.

OBS: Quando falamos em justiça corretiva ou comutativa, está relacionada a ideia de


relações privado, em que todos os sujeitos estão em pé igualdade.

2.2. Igualdade geométrica

A igualdade geométrica, por sua vez, tem como consequência a justiça distributiva.
Enfatiza-se, aqui, a polis distribuindo a justiça, zelando e organizando a sociedade por
meio de uma distribuição – é a ideia de suum cuique tribuere (dar a cada um aquilo
que lhe é devido, necessário).

Ex: relações no direito tributário – o sujeito é obrigado a pagar os tributos, desde que
existente a relação, desde que ocorra a situação tributável, o fato gerador. O Estado
distribui por meio de politicas publicas acesso a educação, por exemplo.
Ocorre que há uma certa insuficiência do pensamento aristotélico, pois ele afirma que
o mérito do cidadão, no que tange a esta justiça distributiva, é um mérito previamente
determinado. É dizer - no contexto em que vivia, defender que o mérito é
previamente determinado remete a reprodução do elemento aristocrático
hierarquizante já visto em Platão. Se o panorama da igualdade geométrica é de
hierarquizada, a justiça, por consequência, também vai alimentar as hierarquias
sociais.

Ex: um arquiteto merece mais que um sapateiro, pois enquanto o arquiteto faz casas,
o sapateiro apenas faz sapatos.

2.3. Equidade e justiça

O que há de mais interessante em Aristóteles é o conceito de equidade.

O perfil social de Aristóteles é diferente do de Platão. Platão pertencia à sociedade


tradicional ateniense, uma família de proprietário e que se identificava com a
hierarquização aristocrática; mas em relação à Aristóteles, que é um estrangeiro em
Atenas, que tem acesso a diversos locais, mas ainda assim um estrangeiro.

Então a todo momento ele tem que ser muito cuidadoso, jogando o jogo da
aristocracia tradicional ateniense.

O ser humano pleno para Aristóteles é aquele que consegue exercer a política em sua
plenitude (cidadão), entretanto para que um sujeito possa se dedicar à politica o
homem tem que ter dinheiro, pessoas trabalhando para ele e geralmente essas
pessoas tem dinheiro, são, portanto, da aristocracia (homem apenas).

Mas Aristóteles aponta uma forma de ser flexibilizar esse parâmetro de justiça, que
tem o compromisso fundamental com o funcionamento estável da polis e não com as
pessoas – é ai que falamos do conceito de equidade. Equidade para ele é a aplicação
da justiça no caso concreto, é a concretização da justiça.

Equidade é uma expressão muito interessante, pois ele usa uma metáfora, a régua de
lesbos: os engenheiros atenienses usavam de um instrumento de medida para resolver
o problema do desnível da terra, de modo a facilitar a construção das casas, esse
material se adaptava a irregularidade dos terrenos e não comprometia os cálculos e a
construções ficavam solidas. Aristóteles se vale desse instrumento para análise da
situação, a justiça em abstrato não há defeito algum, só que muitas vezes aquelas
justiça em abstrata materializada na lei, que é aplicada no caso concreto pode causar
uma injustiça - é uma situação paradoxal, pois a justiça acaba gerando a injustiça.

Quando ele fala de equidade, tem-se um mecanismo que deve ser aplicado nos casos
concretos de modo a flexibilizar a lei para se manter a justiça, ou seja, ele vislumbra
uma dissociação entre o direito e a justiça, no sentido de que o direito materializado
na lei, em sendo aplicado de forma inflexível pode gerar injustiças.

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