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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

Disciplina: Fundamentos da Economia

Unidade 3

AS QUATRO QUESTÕES-CHAVE DA
ECONOMIA:
Eficiência Produtiva, Eficácia Alocativa,
Justiça Distributiva e Ordenamento
Institucional
Capítulos 04, 05 e 06
Professor Me. Fernando Nunes Filho
1. OS FUNDAMENTOS DA EFICIÊNCIA PRODUTIVA E
DA EFICÁCIA ALOCATIVA
1.1. Escassez dos recursos

• Os recursos são limitados e finitos.


• O emprego de qualquer recurso é oneroso.
• O processo de gestão dos recursos empregados é
também oneroso.
• Por maiores que sejam as economias de escala, a
capacidade de geração de bens e serviços é limitada.
• Em conflito com as exigências de maior eficiência e de
melhoria de seus padrões de desempenho, as unidades
de processamento possuem restrições orçamentárias.
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1. OS FUNDAMENTOS DA EFICIÊNCIA PRODUTIVA E
DA EFICÁCIA ALOCATIVA
1.2. Necessidades ilimitáveis

• O desenvolvimento socioeconômico acrescenta novas


necessidades às preexistentes.
• O processo de crescimento social individual é uma fonte
geradora de insatisfação.
• Os padrões de bem-estar alcançados por uns são por
eles próprios superados, mas almejados por outros.
• Em conflito com as aspirações ilimitáveis, os agentes
econômicos têm restrições orçamentárias.

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2. A EFICIÊNCIA PRODUTIVA

2.1. As possibilidades de produção e os custos de


oportunidade

• Eficiência produtiva significa operar a pleno emprego,


trazendo para zero as taxas de subemprego e de
desemprego involuntário.
• A expressão pleno emprego, abrange todos os fatores de
produção, não apenas o fator trabalho.
• O limite máximo de eficiência é alcançado quando, já
operando a pleno emprego, não há mais qualquer
ociosidade a ser aproveitada. Alcançando esse limite,
qualquer acréscimo na produção de determinado bem ou
serviço implicará reduções na produção de outro.
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2. A EFICIÊNCIA PRODUTIVA

2.1. As possibilidades de produção e os custos de


oportunidade

• A expansão das fronteiras de produção é função de


acréscimos na dotação dos fatores de produção, que
permitam produzir mais com os mesmos recursos
disponíveis.
• As possibilidades de produção existentes podem ser
destinadas a uma multiplicidade de combinações de
diferentes categorias de bens e serviços decididas pelos
governantes ou resultantes da livre atuação das
empresas e unidades familiares.
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2. A EFICIÊNCIA PRODUTIVA

2.1. As possibilidades de produção e os custos de


oportunidade

• O limite máximo de eficiência é alcançado quando, já


operando a pleno emprego, não há mais qualquer
ociosidade a ser aproveitada. Alcançando esse limite,
qualquer acréscimo na produção de maiores
quantidades de um bem qualquer implica desistência
total ou parcial da produção de outros bens. A
ocorrência de custos de oportunidade, quaisquer que
sejam as alternativas adotadas, é inevitável.

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2. A EFICIÊNCIA PRODUTIVA

2.2. Os quatro pontos notáveis das curvas de


possibilidades de produção

FIGURA 4.4. Os quatro pontos notáveis das fronteiras de possibilidades de produção: pleno
desemprego (O), capacidade ociosa (Q), pleno-emprego (P) e nível impossível de produção
(R), dados os recursos correntes disponíveis. 7
2. A EFICIÊNCIA PRODUTIVA

2.3. Os deslocamentos das fronteiras de produção

FIGURA 4.6. Deslocamentos das fronteiras de produção: aumentos ou reduções dependem


da dotação e qualificação dos recursos de produção.
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3. A EFICÁCIA ALOCATIVA: OS DILEMAS
FUNDAMENTAIS
Dadas as possibilidades sempre limitadas de produção,
todas as nações, em todas as épocas e lugares, sempre se
defrontaram com a definição de prioridades para a
destinação dos recursos. E, entre as grandes prioridades,
há duas que se destacam por sua relevância e pelas
consequências econômicas, sociais e políticas das
escolhas feitas. São, na realidade, dois dilemas
fundamentais:

• Das espadas e dos arados: segurança ou bem-estar; e


• Do consumo e do investimento: o presente e o futuro.

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3. A EFICÁCIA ALOCATIVA: OS DILEMAS
FUNDAMENTAIS
3.1. O Dilema das espadas e dos arados: segurança ou
bem-estar

• O dilema das espadas e arados ou segurança e bem-estar


decorre, como quaisquer outras escolhas, da escassez de
recursos. Mais espadas tem como custo de
oportunidade menos arados.
• O poder de guerra, tendo como manifestação direta a
força, implica acumulação de capital não reprodutivo,
ao passo que a riqueza civil se assenta na acumulação
de capital reprodutivo.

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3. A EFICÁCIA ALOCATIVA: OS DILEMAS
FUNDAMENTAIS
3.1. O Dilema das espadas e dos arados: segurança ou
bem-estar

• A ideologia do desenvolvimento e a ideologia da


segurança não se excluem por completo, apesar dos
enormes custos dos instrumentos de guerra modernos e
das maciças doses de capital exigidas para o
crescimento econômico.
• Esta alternativa é tanto mais séria quanto menos
desenvolvido o país e menor o estoque de capital já
acumulado.

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3. A EFICÁCIA ALOCATIVA: OS DILEMAS
FUNDAMENTAIS
3.2. O Dilema do consumo e do investimento: o presente
e o futuro

• Este dilema envolve as duas principais categorias de


produtos finais: os bens e os serviços destinados ao
consumo e os destinados à formação de capital. Este
segundo aspecto da eficácia alocativa é fortemente
relacionado com os deslocamentos das fronteiras de
produção.
• Não há exemplos históricos de economias de rápido
desenvolvimento que não tenham reduzido suas taxas de
consumo. As que sucumbiram a sedução do consumo
enfraqueceram seus potenciais de acumulação.
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3. A EFICÁCIA ALOCATIVA: OS DILEMAS
FUNDAMENTAIS
3.2. O Dilema do consumo e do investimento: o presente
e o futuro

FIGURA 4.13. O dilema do investimento e do consumo e o processo de crescimento


econômico: o deslocamento das fronteiras de produção é fortemente dependente da
formação bruta de capital fixo. 13
3. A EFICÁCIA ALOCATIVA: OS DILEMAS
FUNDAMENTAIS
3.2. O Dilema do consumo e do investimento: o presente
e o futuro

• As economias em estágios avançados de desenvolvimento


têm recursos, apesar de sempre escassos, para sustentar as
duas grandes categorias de produtos: os destinados ao
consumo e os destinados ao investimento. Após longo
período de maturação do processo de desenvolvimento,
estabelecem-se círculos virtuosos.

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3. A EFICÁCIA ALOCATIVA: OS DILEMAS
FUNDAMENTAIS
3.2. O Dilema do consumo e do investimento: o presente
e o futuro

• Mas nas economias em estágios iniciais, podem-se instalar


círculos viciosos:
 as pressões por mais consumo dificultam a formação de
capital;
 com baixas taxas de investimento, as fronteiras de
produção não se deslocam para mais; e
 com baixos deslocamentos das fronteiras de produção
torna-se cada vez mais difícil a superação do atraso
econômico e a expansão do bem-estar social.
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4. A JUSTIÇA DISTRIBUTIVA

Trata da repartição dos resultados do esforço social de


produção. Esta é uma questão complexa em virtude de:

• Correlação contribuições-participação: avaliar as


contribuições em relação ao valor agregado do produto
social. Reconhecimento, renda, poder, prestígio e riqueza
não são correlacionáveis exclusivamente com fatores
econômicos.

• Juízos de valor envolvidos: a repartição deve ser


igualitária ou deve prestigiar os talentos e os esforços?

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4. A JUSTIÇA DISTRIBUTIVA

• Efeitos colaterais: as questões-chave da economia são


inter-relacionadas. A eficiência produtiva fundamenta-se
também na justiça distributiva. Pastore afirma: “uma
sociedade sem mobilidade é uma sociedade estagnada”;

• Desdobramentos político-institucionais: as diferentes


formas de organização da vida econômica, suas
justificações ideológicas e implicações político-
institucionais têm estreitas relações com diferentes
propostas para a questão da justiça distributiva. A
contraposição entre a economia de mercado e a de
comando central se estabelece a partir desta questão-
chave. 17
4.1. Os instrumentos de aferição das desigualdades

4.1.1. A Curva de Lorenz

A curva de Lorenz é geralmente comparada com uma reta


de equidistribuição, que corresponde a uma situação
teórica em que a renda seria igualitariamente distribuída
entre a população. Entre a curva de Lorenz e a reta de
distribuição igualitária, define-se uma área de
desigualdade. Quanto maior for esta área, maior a
concentração na distribuição da renda.

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4.1.1. A Curva de Lorenz

FIGURA 5.7. Seis diferentes estruturas teóricas de repartição de renda: do


extremo da plena igualdade (A), ao extremo da plena desigualdade (F).
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4.1. Os instrumentos de aferição das desigualdades

4.1.2. Coeficiente de Gini

A partir das curvas de Lorenz, podemos calcular um


coeficiente de concentração de renda, definido a partir
da área que se estabelece entre a curva de desigualdade
e a reta de perfeita igualdade. Trata-se do coeficiente de
Gini.

O coeficiente de Gini indica, assim, graus de desigualdade


comparados, referentes a diferentes economias. Indica
também a evolução das estruturas de distribuição de
renda em uma mesma economia ao longo do tempo.

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TABELA 5.10.
Coeficiente
Gini de
distribuição
da renda em
países de
maior e
menor
desigualdade,
em 2013.

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4.1. Os instrumentos de aferição das desigualdades

4.1.3. Desigualdade e pobreza: diferenças conceituais e


implicações

Os indicadores convencionais de desigualdade, não


obstante revelem e comparem entre si os padrões de
repartição que se observam em diferentes grupos sociais
ou em diferentes economias nacionais vistas como um
todo, escondem um dos aspectos cruciais da questão-
chave da justiça distributiva: a existência da pobreza.

• Pobreza relativa; e
• Pobreza absoluta.

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4.2. Desigualdade, pobreza e justiça distributiva

4.2.1. As causas prováveis das desigualdades

• Heranças históricas;
• Macrocondicionantes;
• Retorno do capital humano;
• Talento e habilidades inatas;
• Curva da experiência;
• Estoques de riqueza acumulados;
• Poder de mercado;
• Heterogeneidade ocupacional;
• Discriminação;
• Estrutura dos orçamentos públicos.
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4.2. Desigualdade, pobreza e justiça distributiva

4.2.2. O que significa Justiça Distributiva

Em síntese, a justiça distributiva não significa pleno


igualitarismo. Significa, antes, equitatividade, no sentido
de que a estrutura de repartição da renda e da riqueza
reflete de alguma forma as causas “justas” e
coletivamente aceitas da desigualdade, de que são
exemplos o capital humano acumulado, os talentos
socialmente sancionados e a curva da experiência.

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4.2. Desigualdade, pobreza e justiça distributiva

4.2.2. O que significa Justiça Distributiva

Embora não seja um consenso, há pelo menos três


pontos a partir dos quais se podem definir estruturas de
repartição que preenchem minimamente as condições da
justiça distributiva. Em síntese são:

• Equitatividade;
• Zero de pobreza, extrema ou absoluta;
• Princípio da diferença: estrutura de repartição não
plenamente igualitária, cujos resultados maximizam o
bem-estar permanente de toda a sociedade.
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5. ORDENAMENTO INSTITUCIONAL

O ordenamento institucional trata de definir que princípios,


bases estruturais e características da ordem econômica
melhor compatibilizam os objetivos de pleno emprego,
máximo aproveitamento dos fatores empregados, expansão
das fronteiras de produção, redução dos custos sociais de
oportunidade a níveis mínimos, equitatividade e incidência
zero de pobreza.

Não há uma única forma de ordenamento institucional. As


duas formas básicas são a economia de mercado e a
economia de comando central. Entre esses dois polos,
diametralmente opostos, podem-se estabelecer inúmeras
variantes, genericamente denominadas de sistemas mistos.
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QUADRO 3.2. Três formas possíveis de ordenamento institucional do processo econômico: os
principais critérios diferenciadores.
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5.1. O modelo liberal: o ordenamento pelas forças de
mercado
A partir da segunda metade do século XVIII surgem os
novos conceitos sobre os quais se edificaria uma nova
ordem institucional:

• Ordem natural, que governa todos os aspectos da vida


humana;
• Laissez-faire, expressão que implica a não-interferência
do governo na vida econômica da sociedade; e
• Mão invisível do mercado.

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5.1. O modelo liberal: o ordenamento pelas forças de
mercado
5.1.1. Uma primeira aproximação: A “mão invisível” do
Mercado

As proposições da ortodoxia liberal fundamenta-se em 4


princípios:

• A racionalidade do homem econômico;


• As virtudes do individualismo;
• O automatismo das forças do mercado;
• Os ajustamentos pela concorrência.

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5.1.1. Uma primeira aproximação: A “mão invisível” do
Mercado

Fundamentado nesse conjunto de princípios, o


pensamento liberal do século XVIII propôs o fim das
práticas intervencionistas historicamente praticadas. Os
traços dominantes da ordem econômica, segundo essa
perspectiva, seriam:

• Estado minimalista (justiça, defesa e produção de bens e


serviços fora da esfera de interesse da iniciativa privada);
• Propriedade privada dos meios de produção;
• Livre iniciativa empresarial;
• Mercado como centro de coordenação da economia.
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5.1.2. Os Vícios e as Imperfeições da Economia de
Mercado
As deficiências, os vícios e as imperfeições da economia
de mercado resultaram, assim, de desvios entre suas
bases conceituais e a realidade da vida econômica. E
muitas delas se acentuaram ao longo dos anos, em
decorrência de mudanças de alto impacto ocorridas nas
condições sociais e político-institucionais da maior parte
das nações.

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5.1.2. Os Vícios e as Imperfeições da Economia de
Mercado
São geralmente destacadas as seguintes deficiências:

• Estruturas de mercado afastadas do protótipo da


concorrência perfeita;
• Geração de externalidades negativas;
• Incapacidade para avaliação do mérito de bens e
serviços;
• Instabilidade conjuntural;
• Ineficiências distributivas;
• Incapacidade para produzir bens públicos e semipúblicos
de alto interesse social; e
• Ineficácia alocativa.
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5.2. O modelo coletivista: o ordenamento por comandos
centrais
5.2.1 O Quadro Institucional e os Modelos de
Planificação

O quadro institucional fundamentava-se nos seguintes


pontos:

• A posse e o controle, pelo governo, da totalidade dos


meios de produção da economia;
• A justaposição dos poderes político e econômico;
• A soberania do planejador; e
• A supremacia de medidas compulsórias de gestão,
comparativamente a sistemas de incentivo
fundamentados na busca do interesse próprio. 33
5.2.1. O Quadro Institucional e os Modelos de
Planificação

Em decorrência desse quadro institucional, o governo


assume a posição de agente econômico central. É dele a
responsabilidade pelo equacionamento das três
questões –chave da economia: a eficiência, a eficácia e a
justiça social. Ele é a peça principal das engrenagens que
realizam o produto social e repartem os seus benefícios.

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5.2.2. Os vícios e as imperfeições dos Sistemas
Centralizados

Uma avaliação da trajetória histórica das economias de


comando central evidencia uma característica comum a
todas elas: a passagem de modelos centralistas para
formas mais flexíveis de condução da economia.

As mudanças observadas nessas economias têm muito a


ver com os vícios, as imperfeições e as deficiências do
modelo centralista extremado. Entre as de maior
relevância, são geralmente destacadas as seguintes:

• Burocratização excessiva imposta ao processo


econômico;
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5.2.2. Os vícios e as imperfeições dos Sistemas
Centralizados

• Insubmissão de atividades primárias e terciárias ao


rigorismo dos comandos centrais;
• Congelamento de padrões tecnológicos definidos;
• Vulnerabilidade à propagação de erros estratégicos ou
operacionais;
• Desalinhamento das escolhas em relação às aspirações
sociais;
• Dificuldades para reconhecer e corrigir externalidades
negativas;
• Perda progressiva de eficiência produtiva, comprometendo
a longo prazo o objetivo dominante da justiça distributiva.

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5.3. O processo de desradicalização: a tendência
centrípeta
Os movimentos observados durante o século XX em cada
uma das duas formas de ordenamento institucional – nas
economias de mercado, de um lado; e, de outro lado, nas
economias de comando central – sugerem que daqui para
a frente não deverão prevalecer os fundamentos das
ortodoxias praticadas, em suas formas extremadas.

Decorrentes da correção das imperfeições e das


deficiências dos ordenamentos institucionais extremados,
as mudanças introduzidas no dois polos parecem
caminhar em direção centrípeta – dos extremos para o
centro.
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